domingo, 16 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6407: Álbum fotográfico de Daniel Matos - I

1. Começamos hoje a publicar o Álbum fotográfico do nosso camarada Daniel Matos* (ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1971/74), autor do trabalho "Os Marados de Gadamael e os dias da Batalha de Guidaje".


Álbum fotográfico de Daniel Matos (1)

Foto 6 > 26 de Dezembro de 1971, o General António de Spínola passando revista ao 2.º Pelotão da CCaç 3518, no Cumeré.

Fotos 7, 7A, 7B, e 7C > No Posto Escolar Militar n.º 23 (PEM-23, Gadamael) frequentaram as aulas da instrução primária algumas dezenas de jovens alunos (também alguns adultos da população). Não era fácil dar aulas a muitos que não falavam português (nem em crioulo se exprimiam), mas registaram-se muitos casos de bom aproveitamento, concluindo a 4.ª classe.

Foto 8 > Imagem exterior do PEM n.º 23, Gadamael, que ficava ao lado da pista de aviação nova, junto à tabanca.

Foto 9 > Dois dos melhores soldados milícias que nos acompanharam em Gadamael. O da direita, Camisa Conté, viria a falecer em 1973 quando das batalhas de Guileje e Gadamael.

Foto 12 > O autor, junto às águas do Rio Sapo, afluente do Rio Cacine, que banhava Gadamael Porto.

Foto 12A > Iana Abú, mulher respeitada em Gadamael e que foi lavadeira de muitos de nós. Aqui, à porta da sua morança, acompanhada do filhote mais novo.

Foto 19 > Uma das muitas equipas de futebol que formámos ao longo da comissão. Esta representou a Companhia num torneio disputado em Bafatá, em Janeiro de 1974. Em cima (da esquerda para a diteita): 1.º Cabo Escriturário Alexandre Castro; Fur Mil Lopes Silva, Alf Mil José Cavaco, Fur Mil Enf.º Augusto Morais,
Fur Mil Ranger Hélder Calvão, 1.º Cabo Rodrigues, Fur Mil Hélder Novíssimo e o Fur Mil "treinador" António Guerreiro. Em baixo (pela mesma ordem): 1.º Cabo Américo, Fur Mil Daniel de Matos, Fur Mil Mec Auto José Alberto Durão, Alf Mil António Monteiro e Fur Mil TRMS Domingos Pinto.

Foto 23 > O autor, à entrada dos quartos de Sargentos em Gadamael; já quando lá chegámos se chamava "Cozinha Económica" ao edifício, e nós, com intensa actividade a condizer no átrio de entrada, soubemos conservar a tradição... O edifício seria completamente destruído nos primeiros dias de Junho de 1973.

Foto 26 > Jovens alunos hasteando a bandeira portuguesa.

(Continua)
__________

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

Guiné 63/74 - P6406: CCAÇ 3477, Gringos de Guileje: Op Muralha Quimérica, 27 de Março a 8 de Abril de 1972 (Amaro Samúdio)



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (1971/73) , Gringos de Guileje > Oráculo, com a imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres... Na imagem, o Amaro Munhoz Samúdio, ex-1º cabo enfermeiro, está a pegar ao colo um bébé chimpazé que ele comprou a um caçador local por 500 pesos...Na foto pode ler-se ainda a oração em verso: "Santo Cristo dos Milagres / Nesta capelinha oramos / Para sempre sorte dares / Aos Gringos Açorianos". 


Sabemos, através do Samúdio, que o monumento foi contruido pelos Gringos (que estiveram em Guileje entre Nov 71 e  Dez 72)  e inaugurado pelo então Ministro da Defesa Nacional, general Sá Rebelo e também pelo então governador, general Spínola, em 12 de Junho de 1972. 

Esta lápide assim como a estatueta e diversos outros objectos de uso corrente, foram encontrados por ocasião das escavações arqueológicas feitas pela AD - Acção para o Desenvolvimento, sob a orientação  do Domingos Fonseca, engenheiro técnico agrícola, membro da nossa Tabanca Grande...
 
Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.





1. Operação Muralha Quimérica (Guileje,  27 de Março a 8 Abril de 1972) 
por Amaro Samúdio

[Texto enviado em 15 de Junho de 2007 e que, por lapso, não chegou a ser publicado. Revisão / fixação de texto: L.G.]

No seguimento do transmitido, e bem, pelo nosso camarada Victor Tavares, 1º Cabo Pára-quedísta do BCP 12 sobre esta operação (*),  creio, também , ser útil transmiti-la pela parte das forças sitiadas nessa altura em Guileje, a CCAÇ 3477.

Em 28 de Março de1972 chegam a Guileje as Tropas Pára-quedistas afim de participarem na operação.

Pelas 7 horas da manhã desse dia vão para a mata dois grupos de combate da CCAÇ 3477 para emboscar e fazer protecção à coluna na estrada Gadamael Porto/Guileje que trazia as referidas tropas.

Não foi feita uma coluna mas duas pelo que nos fomos levar água e sandes de forma a estarmos 11.00 horas emboscados.

Em 29 de Março dois Grupos de Combate da CCAÇ 3477 efectuam uma patrulha de reconhecimento na zona de Sinchuro,  conjugada na Op Muralha Quimérica.

No dia seguinte outros dois Grupos de Combate da Companhia efectuam nova patrulha na mesma zona.

Chega nesse dia, 30 de Março, a Guileje a 2ª Companhia de Comandos Africanos para participar na operação.

Em 1 e Abril a CCAÇ 3477 efectua uma patrulha de reconhecimento e protecção à coluna de reabastecimento Gadamael / Guileje, colocando um Grupo no Cruzamento e outro no Bendugo. Nesta patrulha, no Cruzamento, um camarada nosso cai numa armadilha montada pelo IN.

Como os rádios não funcionavam para pedir auxilio,  foram os açorianos, com o espírito de voluntarismo, normal neles, que vieram ao quartel buscar socorros.

Era o açoriano, um miúdo de 18 anos, Luís Alberto Carneiro Monte, não resistiu aos ferimentos,  sendo transportado pelo héli, como ferido, embora já estivesse morto.

Muito embora andar na mata fosse o nosso dia a dia, em 2 de Abril, integrados nesta operação, saímos para o mato com ração de combate para um dia, afim de nos emboscar no  Corredor de Guileje  (vulgo,  para nós,  Corredor da Morte).

Este Corredor, refiro, era a estrada que fazia fronteira com a República da Guiné. O IN circulava, a pé ou com viaturas, absolutamente à vontade. Em Guileje, ouvíamos, regularmente,  o ruído das viaturas.

Atingimos o Corredor cerca das 16,15 horas procedendo à montagem da emboscada. Começava a escurecer e não existiam indícios do IN. Sendo o local de emboscada uma zona de capim, montou-se no corredor uma armadilha artesanal improvisada com um cordão de dolman e uma granada de mão defensiva m/963, retirando cerca 40 metros e mantendo-nos à espera da passagem de elementos do IN que era certa.

Pelas 22,00 horas ouvem-se ruídos no Corredor, não se sabendo, pela escuridão da noite, se seria animal ou o IN. A armadilha rebentou, silêncio de segundos que pareciam horas, ouviram-se gritos e vozes e à ordem de fogo, com a surpresa com que foram apanhados num local onde habitualmente andavam á vontade, não conseguiram responder. Eram cerca de 15 elementos.

Alguns minutos depois,  outro grupo IN de Enora começou a bater zona no local onde estivemos. Recuámos cerca de 2 km para a mata do rio Machampo.

Durante toda a noite o IN bateu a zona. Os rebentamentos eram permanentes e próximos.

Com os rádios, como era habitual, avariados, não era possível contactar o quartel para as pças 11,4 responderem para Kandiafar e Simbeli. .Resultava sempre em paragem dos ataques porque eram duas Aldeias já na República da Guiné.

No dia seguinte, pela madrugada, voltámos ao local da emboscada onde foi encontrado um elemento do IN, fardado,  morto e mais três pares de botas. Foram montadas novas armadilhas e estivemos emboscados durante todo o dia sem que nada se passasse.

Para comer já nada havia mas o principal problema era a água,  pelo que  fomos buscá-la a uma bolanha, onde os animais bebiam, e filtrámo-la com gazes e ligaduras.

À noite voltamos a retirar para um rio tendo durante toda a noite, o IN, batido toda a zona.

No dia 4 de Abril pelas 10,30 chegamos ao quartel saindo, nesse mesmo dia outros 2 Grupos de Combate da CCAÇ 3477 para o Corredor afim de emboscar e montar armadilhas na zona de Babacambune.

Em 5 de Abril pelas 19.00 horas Guileje é atacado com morteiro 120 e canhão s/r.

Em 6 outros 2 Grupos saem para o Corredor para patrulhar e emboscar.

Em 7 Guileje é atacado da direcção da Fronteira com morteiros 120 e canhão s/r durante cerca de 50 minutos,  com cerca de 150 rebentamentos.

Em 8 de Abril de 1972 termina a Operação Muralha Quimérica.

A operação terminou mas nós continuámos em Guileje e,  passados dois dias, no dia 10,  fomos, pelas 19,15 horas, atacados de seis posições diferentes, nomeadamente das direcções de Simbali e Sibijá,  situados em território da República da Guiné, com canhão s/r,  vários morteiros 82 e 120, durante mais de uma hora,  com cerca de 400 rebentamentos.

Durante o ataque um avião sobrevoou Guileje na direcção Sudeste-Nordeste.

É dado como certo que, após a Operação Muralha Quimérica, o IN reforçou, na zona, os efectivos e sua actividade operacional efectuando sobre o aquartelamento várias e violentas flagelações até finais de Abril, diminuindo no mês de Maio devido ao início das chuvas.

A partir dai ia ser o isolamento durante três meses.

Reconheço a maçada que é ler isto mas o que se pode fazer. Foi assim. Por favor, Luís,. aproveita o que entenderes. Um abraço. Samúdio.

Fontes:

História da Companhia Independente CCAÇ 3477. Gringos de Guileje

 Caderno Diário, Exclusivo Casa Mendes, Guiné, Edição aprovadsa pelos Serviços Provinciais de Eduação ( A que eu pomposamente chamo "O MEU DIÁRIO DE GUILEJE” e que me custou 3.50 escudos).

 _____________________

(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).

"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972. (...)  A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.

"O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.

"Para esta operação, além das Companhias de Pára-quedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Pára-quedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Pára-quedista Nuno Mira Vaz" (...) 

Guiné 63/74 - P6405: Do meu álbum fotográfico (Arménio Estorninho) (1): Bissau - Um olhar de turista

1. Mensagem de Arménio Estorninho* (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70), com data de 15 de Abril de 2010:

Com cordiais saudações a Carlos Vinhal e a todos “Os Tertulianos Tabanqueiros.”
Dando um ar de lembranças pela minha passagem por Bissau, onde aliviei o meu stress e mais parecendo um turista na procura de souvenirs.

Recordando com saudade, com um bloco de imagens de referências sobre a cidade de Bissau que achei interessantes, obtidas de Janeiro a Março/70.

Bissau, como a conheci, era uma cidade pequena, em que a parte urbana (casario de alvenaria) seria idêntica à da minha Lagoa (hoje tembém cidade). Era suficientemente perceptível que a grande maioria dos que se apresentavam como civis eram militares “camuflados à paisana” e/ou seus familiares e parecendo uma cidade cheia de movimento.

Aquando do aproximar do regresso à Metrópole dos militares em fim de comissão de serviço, era ver um movimento inusitado nos estabelecimentos comerciais. Pela minha parte e bem informado, fui comprando muito antes da chegada do navio para o embarque, regateando aqui e além, o que me favorecia obter preços mais acessíveis.

Na baixa de Bissau, tanto de noite como de dia, era ver em grupos os “camuflados à paisana” nos diversos estabelecimentos similares e de restauração, de uma forma geral tudo se movimentava com os militares. Lembrando entre outros: O Noé (dos pombos verdes e ostras), O Solar dos 10 (Restaurante), O Pelicano (na cave, as francesinhas e as inglesinhas), Cervejaria Império, Cervejaria Sol Mar e Esplanada do Bento (locais onde não faltavam as cervejas e os mariscos)

Do meu álbum fotográfico, recordando com um olhar sobre Bissau (1)

Foto 1> Bissau> Bandim> Sacor> (Av. Unidade da Guiné e Cabo Verde)> 1970> Local de paragem de viaturas militares e públicas, para transportes de passageiros.

Foto 2> Bissau> Zona de Brá> Estrada do Aeroporto> 1970> Mulheres grandes “Mindjeres garandis,” levando à cabeça grandes feixes de lenha.

Foto 3> Bissau> Parque Teixeira Pinto> Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Parque infantil, as crianças divertiam-se sob a vigilância das mães e/ou amas.

Foto 4> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Trecho do Parque e Estátua Teixeira Pinto (à esquerda estrada para Alto Crim e à direita para Bandim-Brá).

Foto 5> Bissau> Praça Teixeira Pinto> (Praça Combatentes da Liberdade> 1970> Árvore exótica em floração e fazendo um belo quadro.

Foto 6> Bissau> Av. Teixeira Pinto> (Av. Francisco J. Mendes)> 1970> Avenida urbanizada e tendo ao fundo o monumento na Praça do Império.

Foto 7> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> Mercado de rua> 1970> Vendedoras de farinha de mandioca (fuba) e outros.

Foto 8> Bissau> Pilão (Cupelon de Cima> 1970> Bando de jagudis (abutres) aguardando alguma rapinagem e/ou equilíbrio ambiental.

(Continua)
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6373: De Empada a Bissau (Arménio Estorninho) (2): Algumas aventuras em Bissau

Guiné 63/74 - P6404: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (9): Páscoa de 1968

1. Do nosso Camarada Torcato Mendonça, ex-Alf Mil AT Art da CART 2339, Mansambo, 1968/69, mais um Ao correr da bolha, desta feita lembrando a Páscoa de 1968:


AO CORRER DA BOLHA - IX

PÁSCOA de 1968

Abril, Domingo de Páscoa de 68


Ao certo a data não sei. A agenda diz catorze de Abril como a data do Domingo de Páscoa. Irrelevante para nós pois lá não haviam dias de semana.

Na melhor das hipóteses seria celebrado entre quinta-feira e domingo ou segunda-feira.

Recordo, isso sim, o que aconteceu.

Estávamos em Fá de Cima. Havia messe de oficiais e sargentos. Os soldados tinham refeitório e comida diferente. Em Mansambo a comida era igual para todos e, como vivíamos em abrigos, todo o resto era semelhante. Foi assim que nos ensinaram, à maioria dos graduados, que tiraram a especialidade em Vendas Novas.

Estávamos pois em tempo de Páscoa, tempo importante para a maioria dos militares da Companhia, tempo onde a família é mais fortemente recordada, tempo a ter cuidado com a quebra psicológica de muitos.

A maioria, mesmo os pouco ou nada dados à religião católica, gostaria de comemorar aquele dia.

Assim, mesmo na Guiné, resolveram comemorar e eu estava de acordo.

Só que isso viria a trazer-me mais um aborrecimento com o Comandante da Companhia (o segundo, dos seis que tivemos - quatro capitães – dois do QP felizmente - e dois alferes).

Não comento mais:

- O 1.º Sargento já faleceu;

- Esse capitão só lá esteve mais uns dois ou três meses.

Os militares do meu Grupo, com a conivência dos furriéis, compraram para a festa dois ou três cabritos. Disseram-me e, por mim, tudo bem.

Havia o espírito do Grupo de Combate mas, logicamente neste caso o espírito de união da Companhia prevalecia. A comemoração iria ser conjunta certamente. Penso eu pois era um dia festivo, dia de estar com a família e amigos. Ali, naquela terra distante, local de perigo, essa necessidade seria maior. Acresce ainda a vontade de esquecer, por breves momentos a guerra.

A Companhia era de intervenção ao BART 1904, logo fazia Operações, patrulhamentos, rusgas, montava emboscadas, seguranças a Mato de Cão e toda a actividade operacional do Batalhão.

Antes da Páscoa, fizemos um patrulhamento e emboscada. Segue-se uma segurança a Mato de Cão. Chegamos já tarde a Fá e disse para os militares descansarem até mais tarde no dia seguinte.

Desconhecia que o Comandante da Companhia tinha regressado de uma das suas saídas. Esta a Bissau creio eu.

A meio da manhã do dia seguinte, talvez por volta das nove ou mesmo dez horas, um dos furriéis veio falar comigo.

- O Capitão suspendeu tudo o que a Companhia tinha preparado para o dia de Páscoa. Os nossos chegaram atrasados à formatura e há problema.

Respondi que ia tratar do assunto.

Falei com o Capitão, disse o que se havia passado e o porquê do atraso. Do resto nada disse. Ele é que comandava e o assunto era com ele.

Tudo resolvido. Fui falar com o Grupo e trocamos breves palavras. As suficientes. Tudo esclarecido e cada um foi à sua vida.

O almoço no refeitório dos soldados era normal.

Na messe havia comida diferente a querer dizer: - É Dia de Páscoa.

Recusei-me a almoçar. Troca de palavras menos próprias e abandonei a mesa.

Passado um pouco, um dos alferes veio falar comigo ao quarto. Estava triste. Homem casado sofria certamente mais do que eu. Mostrei-lhe “ O Meu Diário”.

Folheou e disse:

- Não escrevas. Destrói isto. Na porta tens “I’m free” e com isto ainda tens problemas. Hoje sinto-me deprimido e desabafou um pouco…

Segui o conselho de uma pessoa mais calma, menos sanguínea. Ficou a recordação e os cabritos que nos acompanharam para Mansambo. Um deles, não comprado, a levantar problemas… coisas de bodes.
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6388: Ao correr da bolha (Torcato Mendonça) (8): Promessas

Guiné 63/74 - P6403: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (29): Do Inferno ao Paraíso

1. Mensagem de Luís Faria (ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 10 de Maio de 2010:

Caro Vinhal
Mais um pouco da “Viagem…” da 2791 por terras da Guiné, assumindo um dever a que foi chamada e cumprido com dedicação e orgulho por todos os que dela fizeram parte.

Um abraço
Luís Faria


Viagem à volta das minhas memórias (29)

Do Inferno ao Paraíso


À conta e força de vários, variados e sofridos “passeios ecológicos” (dir-se-ia hoje?!) pela Natureza e natureza das matas “Balangreanas”, começámos a conhecê-las minimamente e aos seus meandros imprevisíveis.

Diga-se em abono da verdade que havia zonas de Paraíso e de Inferno, onde numas e noutras, se “passeavam” gentes diabólicas”. Quando a linha dos “azimutes” calhava de se interceptar, … suavam as “trombas” e soavam as trompas. As espadas e os tridentes enfrentavam-se com fogo, em nome e defesa de uma “verdade”(?) comum a ambos os contendores: aquela terra era considerada ser de sua pertença! Estávamos a ter tempos complicados.

A trinta de Julho a CCAÇ 2791, FORÇA, a 3 GCOMB sai de Teixeira Pinto com “guia de marcha” para Bissau, onde vai tomar parte e ajudar na segurança de proximidade das chamadas “gentes do ar condicionado”, das suas “comodidades civilizacionais” e não só, já que corria à boca pequena que o Amílcar Cabral estaria disposto “sentar-se” na cadeira do Governador Spínola ?!?!

Já não tenho a certeza, mas creio que com o mesmo objectivo de segurança, também se deslocaram para lá efectivos dos Comandos,Páras e Fuzos à mesma estacionados em Teixeira - Pinto.

Devo confessar que sentimos um certo orgulho por nos ter sido atribuída essa missão, que julgámos ser sinal de reconhecimento meritório do nosso passado de intervenção activa.

A par de sentirmos esse orgulho, ficámos contentes e aliviados por nos terem dado esse ”trabalho”, já que em princípio ele seria sinónimo de “não porrada” naquelas matas meias lixadas em que por dá cá aquela palha se “apanhava nos cornos” (salvo seja!). Um gajo nem uma “mijadela” descansado atrás de uma árvore podia dar sem estar sujeito a que nos mandassem uns tiraços aos “tomates”!! Para fazer uma “evacuação fisiológica” era precisa a presença de um “bi- grupo de assistentes”…!! Que o diga quem por lá andou!

Esse orgulho ficou patente aquando da apresentação do Pessoal. A disciplina, o porte e o garbo traduziu-se espectacularmente nos batimentos e movimentos às ordens em Parada, não deixando os créditos por mãos alheias e pouco ou nada ficando a dever à Tropa Especial, comparativamente e nessa matéria, salvaguardando claro, a diferença de estilos.

Para além do mais, todo aquele armamento que usávamos dava na vista por sermos tropa “macaca”, tendo para mim que despertámos a curiosidade em muito boa gente que nos observou. O nosso Capitão Mamede, ”Miliciano de gema”, ficou ufano, ao que recordo! A sua Rapaziada da 2791 - FORÇA era assim e sei que ele se orgulhava e confiava nela e na sua homogeneidade de comando.

Aqui na cidade Capital, tudo seria na certa muito melhor! Umas “férias” sem contar eram um belo prémio. Tínha-nos saído a sorte grande!

A base da CCAÇ 2791 passa a ser o AGRBIS e os seus objectivos serão os patrulhamentos, escoltas, vigilância, emboscadas… assim como assumir posição de destaque em serviços de Bissau, como policiamento, segurança e guarda de instalações consideradas objectivos estratégicos.

Para concretizar estas directivas, os três GCOMB actuaram ao nível de GR ou de secção, conforme a necessidade. Ao meu 2.º GRUPO coube basicamente a segurança e defesa das instalações dos serviços de distribuição de água, na “Mãe de água”; “Central Eléctrica”; ”Emissora de Rádio”, para além de policiamento de Bissau. Para tal fraccionou-se em secções que alternavam creio com as do 4.º GCOMB. O meu Comando fixou-se, ao que recordo, na esquadra (?)da “Mãe de Agua” onde a Polícia, se a memória me não atraiçoa, me ficou subordinada. Daí fazia as inspecções às instalações onde a segurança era feita pelo meu Pessoal, uns patrulhamentos em viatura pela cidade permitindo-me conhecê-la um pouco melhor.

Nas “folgas”, que também as tínhamos, aproveitava-se para mergulhar mais fundo no “banho de civilização” inesperado e as capelinhas em lugares mais ou menos “esquisitos”, com maior ou menor chamamento à sensatez, não eram evitadas,…pelo menos em grupo, não tendo havido ao que sei, quaisquer tipos de incidentes “carnais” à conta de venais “criaturas” insinuantes, de diversas belezas e colorações!!

Na esplanada do “Bento” descansava-se a vista à fresca de umas loirinhas com “camarão - tremoço” observando o bambolear corporal feminino passeante que, coisa estranha, naquelas coordenadas e para mim, tinha outro “sabor”, vá-se lá saber porquê!!

“Pira” que aparecesse por lá era quase de imediato detectado e posto à prova com conversas vizinhas não directas mas audíveis, sobre acontecimentos bélicos terríveis e desastrosos que punham na certa o “desgraçado” com vontade de dar corda aos braços e nadar de volta a casa!! Depois vinha a intromissão:

- Donde és?

- …

- Para onde vais?

- …

É pá, calhou-te um dos piores sítios. É uma zona f…, estão sempre a “embrulhar”!Tiveste um azar do car… pá! F… pá nem queiras saber… ainda ontem…!!!”

As “conversas” do fiz e aconteci narrando feitos guerreiros dignos de filme também eram por vezes audíveis, emanadas por bocas em rostos não tisnados, prendendo a atenção de recém-chegados e não só!

Enfim, ditos “moralizadores” deste estilo “ajudavam à adaptação“ e punham um “Pira” a ver “turras“ em tudo o que era sítio!!!

No entretanto, as “loirinhas”… iam-se acumulando em cima da mesa!! Era uma parte da vida no dia-a-dia de uma cidade em que as fardas eram omnipresentes, fazendo pressentir uma guerra que se passava lá mais para longe. Para mim(nós) era o Paraíso!

Um abraço para todos

Luís Faria

Bissau > Esplanada do Bento

Bissau > Av da República

Fotos: © Luís Faria (2010). Direitos reservados.

__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6231: O 6º aniversário do nosso blogue (26): Parabéns Luís Graça por este Espaço de Memória Futura (Luís Faria)

Vd. último poste da série de 14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6156: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (28): Teixeira Pinto - O Bolo

Guiné 63/74 - P6402: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (20): O Nosso Veterano... do Rugby, Paulo Santiago, a jogar em casa, no dia 12 de Junho próximo


Inserido do programa da 7ª edição da Feira da Vinha e do Vinho de Anadia, vai realizar-se no dia 12 de Junho próximo, em Moita, Anadia, o 6º Torneio Internacional de Veteranos, para comemoração do 35º aniversário do Moita Rugby Clube da Bairrada (1975-2010)...


1. Quem havia de dar a cara ao cartaz (promocional) e à iniciativa ? O nosso mui querido camarada Paulo Santiago, que é natural do concelho ao lado (os de Anadia e de Águeda são bons vizinhos, melhores amigos mas também terríveis rivais, eles mais os da Mealhada, em matéria de... leitão da Bairrada!... Em contrapartida têm em comum o rugby, a paixão pelo rugby)...

Parabéns ao Paulo não só pela veterania como sobretudo pela invejável juventude que ele respira (e transpira) por todos os poros. E a propósito deixem-me dizer-vos que o blogue do Moita Rugby da Bairrada transcreveu, em 14 de Janeiro, último o hilariante texto, da autoria do Miguéis, publicado no nosso blogue no dia de anos do Paulo (*). À guisa de introdução, faz-se uma pequena homenagem ao Paulo, jogador veterano e dirigente desta modalidade

"O blog do nosso clube é essencialmente um espaço para divulgação do rugby. Privilegiamos, como é natural, temas relacionados com o clube da Moita e de tudo o que, de uma ou de outra forma, esteja relacionado.

"Por isso mesmo, não podiamos deixar de publicar neste nosso espaço, um maravilhoso texto que encontramos num blog de antigos combatentes portugueses na Guiné, http://www.blogueforanadaevaotres.blogspot.co/ , que virtua um nosso antigo atleta (hoje veterano e ex-presidente do clube) Paulo Santiago, personagem muito querida para todos nós, sempre disponível para o que quer que o clube necessite. É inclusíve o actual Presidente da Assembleia Geral da nossa colectividade.


"Foi escrito por um colega seu de armas e presta também uma homenagem interessante ao rugby, tendo em conta a época a que se refere (anos 60)"...





2. Comentário do Paulo, com data de 14 de Janeiro, ao referido poste:

Esta história do meu camarada e amigo Mário Miguéis foi uma agradável surpresa que ele e o blogueforanadaevaotres, resolveram fazer-me no dia 6 de Janeiro, dia em que fiz 62 anos.

Esta história é ficção, mas existe alguma verdade... da primeira vez que vim de férias, passados nove meses de mato, já bastante apanhado pelo clima, comprei em Coimbra uma bola, ADIDAS, o melhor que havia na altura, e transportei-a para a Guiné.

Esclareço, os meus soldados eram negros guineenses, jamais tinham ouvido falar num desporto chamado Rugby, a única bola que conheciam era redonda, e no futebol tinha uns craques, agora imaginem os tipos a olharem para uma bola que parecia uma papaia... não havia melões na Guiné.

Após uma palestra explicativa, houve um treino... o Saltinho, grande azar, seria dos poucos locais na colónia onde existiam bastantes afloramentos de rocha, não existia um campo pelado, existia um campo pedrado.

Ninguém partiu nada, mas houve umas escoriações e uns encontrões mais ou menos violentos... o Alferes Médico, o tal Dr. Faria, aconselhou-me a meter a bola no saco...

Abraço aos amigos do Moita,

Paulo Santiago
_____________



Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 6 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5598: Parabéns a você (63): Paulo Santiago, ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 53 (Mário Migueis / Editores)

Guiné 63/74 - P6401: Blogoterapia (149): Com os Gringos de Guileje, e com o nosso blogue, mantendo viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, combatentes (Amaro Samúdio, CCAÇ 3477)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11, 4 cm . Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. E, em primeiro plano, "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.


1. Mensagem, de hoje, do Amaro Samúdio, a propósito do 4º Encontro da CCAÇ 3477 e de uma mensagem de Junho de 2007 que andava para aí "perdida" (enviada para a minha caixa de correio pessoal), relativa à Op Muralha Quimérica (Guileje, 27 de Março a 8 de Abril de 1972), em que participaram forças do BCP 12, do Batalão de Comandos Africanos e da CCAÇ 3477).

Luís: Mas o que interessa isso... É mais uma estória ou história no TO da Guiné de uma Companhia, neste caso de Açorianos, que tem, como todos os anos em que nos encontramos, situações que só é possível contar por quem lá passou.

Luís Graça, eu sempre fui um anti-regime. Os Gringos sabem-no. Hoje, depois do 25 de Abril, como Ex-Combatente, com letra grande, sou-o também.

Não posso admitir, e permanente tento fazer ouvir a minha revolta, que quem perdeu anos de vida, anos de juventude, anos de convivências com os seus filhos, como foi o meu caso, não tenha direito à paz e à medalha que lhe é devida. À Reforma e ao Louvor, por ter sido ANTIGO COMBATENTE, que lhe são devidos.

Fico-me por aquí.

Um Grande Abraço e um sincero agradecimento por manteres viva a chama de uns velhos, ontem miúdos, Antigos Combatentes.

Amaro Samúdio (**)


2. Comentário de L.G.:



Amaro: Ficou feliz por saber que vocês continuam a encontrar-se todos os anos, desde 2007, ano em que, em parte devido ao nosso blogue, e sobretudo graças aos teus esforços, do Fernandes Mendes e do Amândio Pires, foi possível juntar os Gringos de Guileje, pela primeira vez, depois do regresso da Guiné, em 1973...


Fico feliz por saber que continuas a visitar o nosso blogue. Espero voltar a reencontrar-te em Matosinhos, um dia destes. 


Entendo a tua revolta e frustração, como antigo combatente. Conto contigo e com os demais Gringos para manter, activo e produtivo, este espaço de diálogo e de convívio que é o nosso blogue. Irei publicar, em breve, o teu texto sobre a Op Muralha Quimérica.

Um Alfa Bravo. Luís


________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio).

(...) Em 19 de Maio do corrente ano Os Gringos, como se intitularam, encontraram-se em Montemor-O-Velho. Já lá vão 33 anos que não sabíamos de ninguém. Hoje cerca de 50 já sabem que não morremos. Dos diversos Distritos da Metrópole e dos Açores, de França, da Alemanha,dos EUA, estamos ligados.

Naturalmente temos tido algumas más notícias. São 33 anos. Sentí que devia falar desta estória. Dois camaradas no mesmo dia foram feridos. Com um estive a almoçar. Outro morreu.

Imaginas, certamente, quanto difícil foi escrever estes acontecimentos mas há alturas em que contar, transmitir, falar, faz bem.

Isto de falar, e ouvir falar, da Guiné está a mexer com quem por lá passou e também com a ideia de, passados 35 anos, encontrar amigos que connosco estiveram nas longínquas terras da Guiné, nomeadamente em Guileje. Tm as partes boas mas também as más. (...)

(** ) Amaro Munhoz Samúdio, que vive em Matosinhos,  foi 1º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 3477 (Nov 1971/ Dez 73) , a companhia de açorianos que ficou conhecida como Os Gringos de Guileje: estiveram em Guileje entre Novembro de 1971 e Dezembro de 1972); foram a penúltima unidade de quadrícula de Guileje, sendo rendidos pela CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 1973) - Piratas de Guileje.

Guiné 63/74 - P6400: Convívios (240): 4º Encontro da CCAÇ 3477 “Os Gringos de Guileje”, Águeda, 8 de Maio de 2010 (Herlânder Simões / Amaro Samúdio)


1. Os nossos Camaradas Herlânder Simões (ex-Fur Mil At Inf) e Amaro Munhoz Samúdio (ex-1º Cabo Enfermeiro), da CCAÇ 3477, "Gringos de Guileje” - Guileje - 1971/73, enviaram-nos notícias e fotos da festa da sua Companhia:


4º Encontro da CAÇ 3477 “Gringos de Guileje”
Camaradas,
Realizou-se ontem 8 de Maio, o 4º Encontro dos “Gringos de Guileje”, em Sangalhos, nas Caves Aliança.
A organização do evento, que foi excelente, esteve a cargo do ex-Fur Mil Manuel Albano Abrantes da Costa.
Foi um encontro bastante emotivo onde estiveram presentes, pela primeira vez, alguns camaradas dos Gringos.
Esteve ainda presente o ex-Alf Mil Manuel Reis dos “Piratas de Guileje”, a Companhia que rendeu os Gringos, em Guileje.

Uma boa cabidela de leitão e um excelente leitão bem regado, para além de uma colectânea de excelentes slides de Guiléje, que nos foram trazidos pelo Abrantes Costa.

Ficou já marcado o próximo encontro, que será organizado pelo nosso comandante o ex-Cap Mil Abílio Delgado, com a preciosa colaboração do ex-Fur Mil Parreiras.
O Amaro com o seu neto nas Caves e na Exposição do Berardo e, ao fundo, o ex-Capitão dos Gringos Abílio Delgado
Um Abraço,
Herlander Simões
Fur Mil At Inf, e
Amaro Samúdio
1º Cabo Enf da CCAÇ 3477

P.S. - O Herlander aproveita esta oportunidade, para agradecer publicamente ao seu Amigo e Camarada Amaro Samúdio, por ser um dos principais responsáveis pelos reencontros dos Gringos.
Miniguão de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
_____________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6398: Convívios (154): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

Guiné 63/74 - P6399: Parabéns a você (114): Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAÇ 8351, Cumbijã, 1972/74 (Carlos Vinhal / Belarmino Sardinha / Giselda e Miguel Pessoa / JERO / Manuel Maia)

************

Figura notável da História de Portugal, Vasco da Gama,  o navegador, tem na actualidade um homónimo que não o desmerece.

Falamos do nosso, também temos um, Vasco da Gama, igualmente Capitão, mas de uma Companhia de Infantes do Séc XX.

Quis o rumo da História que fosse necessário que Vasco da Gama, o nosso, tivesse de servir Portugal, combatendo na Guiné, na vã tentativa de manter intacto o Império que Vasco da Gama, o outro, ajudou a construír.

Hoje, dia 16 de Maio de 2010, está de parabéns o ex-Capitão Miliciano, Vasco da Gama, Comandante da CCAV 8351, que andou por terras de Cumbijã nos idos anos de 1972/74.

A tertúlia, os editores e os camaradas intervenientes neste poste, vêm desejar ao nosso Capitão, que hoje seja um dos melhores dias de aniversário da sua vida, já que tem com ele mais de quatrocentos amigos a torcerem para que tenha uma longa vida, junto das pessoas que mais ama.


Mostramos agora duas fotos de Vasco da Gama distanciadas no tempo 36 anos:


Nesta foto (Aldeia Formosa, 1973), Vasco da Gama, com ar intrigado, pensando que não faz mesmo parte deste filme porque não está a entender a cena.

Nesta situação (Ortigosa, 2009, no IV Encontro Nacional do nosso blogue), como peixe na água, em conversa amena com um outro ilustre tertuliano, José Brás.


2. Vamos dar a palavra a três amigos do Vasco da Gama


Belarmino Sardinha

Aniversário do, não de, Vasco da Gama


Uma pequena diferença.

Comecei por ouvir falar de Vasco da Gama era ainda miúdo pequeno... Não pensei nunca vir a conhecê-lo pessoalmente...

Diziam-me que tinha feito uma descoberta… Desconhecia que era a de fazer amigos.

Pelo que sabemos hoje, terá conquistado os seus subordinados e as populações locais.

Com o seu bigodinho fino e porte altivo, este capitão miliciano só não tinha monóculo, talvez óculos escuros.

Hoje, com mais idade, bastante mais idade, não sei se o Vasco, ou o Vasquito, perdoem-me o abuso na familiaridade, tornou-se um amigo do peito, daqueles que sabemos serem-no,  mesmo quando tudo se desmorona à nossa volta.

Andámos por alguns dos mesmos locais. Nessa altura não tivemos o prazer ou a sorte de nos conhecermos, mas também não sei se teria sido bom, os tempos, a situação, o meio, as funções e a patente eram diferentes, poderiam ter sido um estorvo. Conheci-o através deste espaço muitos anos passados, mas não tenho dúvidas em afirmá-lo, hoje com mais experiência de vida do que na altura, que lhe confiaria o meu destino nas decisões que escolhesse.

Homem de princípios, por vezes com o sonho como meta de vida, torna-se intransigente, mas é essa a sua originalidade e a sua maneira de estar e obrigar os outros a partilharem com ele.

Honesto e dedicado,  tem dois estados que alternam na sua vida, a euforia e o desânimo.

Com todos estes predicados, mesmo subtraindo os aspectos menos positivos, é claro que encontramos um amigo.

Vale a pena ter amigos assim.

Obrigado, Vasco, por seres meu amigo.
BSardinha
16Mai2010

************

José Eduardo Oliveira

Meu Caro Capitão Vasco da Gama


Como é que se pode sentir tanta proximidade por uma pessoa que, em passado recente, eu não sabia que existia!!?E como é que esse “desconhecido” do ano passado passou a ser tão importante na minha vida?

Não sei mas… ia jurar que esse é um dos “milagres” do blog do nosso Luís Graça.

Depois de tantos anos a falar sozinho – que era quebrado uma vez por ano nas reuniões da minha CCaç 675 – encontrei mais “irmãos” que me entendem e com quem posso falar a mesma língua de ex-militar.

O Vasco da Gama é um dos “pilares” nesta nova fase da minha.

E faz anos…  O que é que eu lhe hei-de oferecer que ele não já não tem?

Por uma destas coincidências que acontecem uma vez na vida estive recentemente uma conversa com o Presidente Cavaco Silva que visitou Alcobaça, e… falei-lhe no Vasco.

Vou resumir o diálogo com o PR.

Pedi para o Vasco da Gama uma comenda. E dei-lhe as minhas razões. E fui ouvido.

Vamos ter o nosso Vasco da Gama,  Comendador.

E com direito a uma Rua com o seu nome em Buarcos.

A placa está pronta e vai seguir pelo SPM.

Parabéns,  Grande Vasco. E não me agradeças.  Tu mereces tudo.

Um grande abraço cisterciense do teu amigo dedicado,
JERO

************

Manuel Maia

Caro Vasco,


Nesta fase derradeira, neste ocaso das nossas vidas, somos confrontados, amiúde, com dias menos bons em que nos chamam velhos, cotas, eu sei lá que mais, umas vezes em tom de chalaça, outras nem por isso, se hipoteticamente "salta a tampa" em chatice da bola ou do trânsito, ou porque os olhos são desviados para uma silhueta de mulher à moda antiga com curvas em "su sítio", e há alguém que não gosta do ar misto de admiração e fome que nessas alturas, sem nos apercebermos, espelhamos no rosto...

Noutras situações somos nós próprios, por esta ou aquela razão, quantas vezes relacionadas com saúde nossa ou de familiares muito próximos, e, momentâneamente, deixámo-nos ir abaixo...

Foi pois neste sentido de contrariar essas situações por que todos passamos, às vezes, que optei por duas sextilhas algo satíricas, para darem alento, e outras duas mais sérias.

Quero finalmente desejar-te um domingo de aniversário prenhe de saúde e alegria extensivo aos teus, que te "aturam" nos bons e maus momentos e enviar-te um grande abraço de parabéns por esses 64 na corrida para os 100.

Do amigo reconhecido

Manuel Maia


Deixemo-los "gozar com a velhice"
dizendo que as barrigas são "chatice",
não ligues às bicadas dessas vozes...
Que interessa que o cabelo vá cair,
se sentes ser capaz d`inda partir
co`a dita, à martelada, muitas nozes?

Que importa que te chamem velho, cota,
que o peso desta idade já se nota,
porquê te incomodares sem razão?
A idade está na tola, sabes bem,
se a gatilhada vem e se mantém,
que interesse tem aquela afirmação?

Se um Gama, Vasco, foi navegador
das Índias, via mar, descobridor,
catando especiarias e riqueza...
um outro, capitão de igual valia,
as terras da Guiné demanda um dia,
em quadro de alta guerra e de pobreza.

Em ombros de esperança e fé, não nega,
responsabilidade em si carrega,
das vidas de que foi então tutor...
fiável, culto, dado, "camarigo",
maralha que levou, trouxe consigo,
proeza que engrandece o seu autor.


Manuel Maia
____________

Notas de CV:

Vd. postes no marcador Vasco da Gama e CCAV 8351

Vd. último poste da série de 10 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6358: Parabéns a você (113): Henrique José de Matos Francisco, ex-Alf Mil, 1.º CMDT do Pel Caç Nat 52, 1966/68 (Os Editores)

sábado, 15 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6398: Convívios (239): 1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos” (José M. Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins (ex-Fur Mil, Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 8 de Maio de 2010:
1º Encontro/Convívio das 3ª CCAÇ e CCAÇ 5 “Gatos Pretos”

Em 24 de Abril do ano corrente, à hora aprazada reuniu-se uma centena de antigos militares e familiares da companhia dos Gatos Pretos.

Foi possível reunir com a presença de quase todos os Comandantes da Companhia, à excepção do Capitão Oliveira (que nos deixou em Março de 2007) e do Capitão Pacifico dos Reis (retido no Reino Unido, por motivos vulcânicos), proporcionando fazer a ponte entre a 3ª CCaç e a CCaç 5, provocando o convívio de várias “ninhadas de Gatos”.

Durante o almoço foi possível visionar várias imagens de elementos da companhia, uma produção José Corceiro, subdividida em vários temos: “Os que já partiram”, “Os que não puderam estar presentes”, “ A vida no Aquartelamento”, “A população da Tabanca”, etc.

Foram necessários 36 anos para que fosse possível este encontro, muitos dos presentes já não se reconheciam, outros não se encontravam há muitos anos, mas o “Cancioneiro de Canjadude” uniu todos, fazendo-nos voltar ao passado, que, apesar de ser de guerra, foi um passado de amizade e entreajuda.

Não será necessário passarem, nem 36 anos nem 36 meses, para nos voltarmos a encontrar.


Com um abraço,
José MartinsFur
Mil Trms da CCAÇ 5
___________

Nota de M.R.: