sexta-feira, 23 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6775: Convívios (263): Encontro do pessoal da CCAÇ 4740 (Armando Faria)


1. O nosso Camarada e tertuliano Armando Faria (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74), enviou-nos uma mensagem, com data de 20 de Julho de 2010, com notícias da festa da sua Companhia:


Encontro da CCAÇ 4740 em 19 Junho 2010

Camaradas,

Depois da minha última mensagem a solicitar a divulgação do encontro da CCAÇ 4740 e o excelente trabalho por vós desenvolvido, fiquei a dever o relato de tal evento, da grande festa, do grande RONCO que a todos foi dado poder assistir.

Conforme o anunciado a ‘rapaziada’ foi chegando ao recinto de Fátima, trocando abraços e deixando mesmo cair alguma lágrima, aquele sumo que brota do coração quando espremido pela saudade, quando o homem deixa de ter medo de si, esquece o Mundo e se entrega á emoção sadia que purifica a alma, que alivia o coração e retempera o corpo com a força necessária para a jornada seguinte.
Já se vai tornando hábito entre nós, afinal em quatro anos este é o quatro encontro Nacional ao que se juntam os vários locais, Holanda, Norte Portugal, Açores e Canada, mas o melhor mesmo é ver a nossa página http://www.ccac4740.com  onde todos são relatados e apresentados com registo fotográfico, eu mesmo acabo de chegar de mais um nos Açores entre 2 e 10 de Julho 2010, Faial e Pico ao qual se seguirá ainda esta semana outro em S. Miguel, Terceira e S. Jorge com outros companheiros.
Tínhamos anunciado para o encontro de 19 Junho 2010 em Fátima algumas presenças vindas da diáspora, do Canada o Eduardo Barros,  e da Holanda o António Salvador, nosso companheiro da Tertúlia, fomos para grande satisfação nossa presenteados com mais uma visita vinda dos USA, o José dos Santos Medeiros Marques.
Esta é a ponte que a todos nos vai (re)unindo, é este o local eleito pela CCAÇ 4740 para o seu encontro Nacional, local que fica no meio caminho e tudo e no centro de todas as coisas, assim gosto de lhe chamar.
Deixo aqui a foto do grupo ‘militar’ nós e do grupo ‘paramilitar, as ‘nossas’, e algumas das palavras que então lhes dirigi, palavras que queria, se me é dada permissão, estender a todas as mulheres que ao longo das nossas vidas tão sabiamente nos sabem apoiar e amar com o enlevo que só elas, mulheres e mães, sabem e que por essa razão se tornaram as nossas heroínas, para vós mulheres a minha gratidão.
Por último, e os últimos são sempre os primeiros, neste caso as primeiras, uma palavra às nossas mulheres, obrigado pelo carinho com que nos tratam e que tantas vezes parece não sabermos agradecer, vós sois a nossa âncora e o nosso porto de abrigo, sois o nosso amparo e a companheira de todos os momentos, só vós sabeis lidar como ninguém com as nossas casmurrices, fruto de um tempo que nos deixou mossas, que deixou as suas marcas no coração e na mente de todos nós.

Obrigado pela vossa compreensão e por todo o amor com que nos tratais, vós, só por isso já ganhastes o Céu, por favor, não desistais de nós que já não sabemos viver sem a vossa presença, sem o vosso amor e o vosso carinho.
Que Deus vos guarde e recompense por tão nobre missão que é a vossa, a de ser companheira destes ‘velhos teimosos’ e a mãe dos nossos filhos.”
Nesta fase já me encontro a realizar outros eventos aos quais vou passar a chamar “encontros em linha”, é uma experiencia nova que as novas tecnologias permitem fazer, é só instalar o programa certo e podemos estabelecer contacto com vários dos nossos companheiros em simultâneo.
Neste fim-de-semana que findou falei em simultâneo com o Canada, os USA e os Açores.
Noutra ligação com a Holanda, o Norte e os Açores e ainda numa outra com dois companheiros no Faial e um em Lisboa.
Entretanto já se vai preparando o próximo encontro Nacional que será a 18 Junho 2011 em Fátima, mas a seu tempo falaremos melhor sobre o assunto, hoje apenas fica a data para registo na agenda de todos vós/nós.
Assim se vão passando os dias na ‘peluda’ deste ‘furriel’ que um dia teve a ventura de partilhar da vida e da sã alegria da vossa juventude.
A todos um abraço do tamanho do Cumbijã.
Armando Silva Faria
Fur Mil At Inf da CCAÇ 4740
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
21 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6771: Convívios (177): 2º Encontro do pessoal da CART 6254 (Manuel Castro)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6774: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (1): Pedido de colaboração da doutoranda alemã Tina Kramer

1.  Mensagem de Tina Kramer, jovem alemã, aluna de um programa de doutoramento por uma universidade alemã (Frankfurt, se não erro), com  data de 21 do corrente, e com quem já tive uma primeira entrevista exploratória:





Caro Luís, como está?


Escrevi um texto com o intento de explicar o meu tema. Peço a ajuda dos camaradas e amigos da Guiné. Você pode corrigir e, se necessário,  abreviar e modificar, e depois publicar o texto?


Mais além, eu falei com Eduardo Costa Dias [ do CEA / ISCTE]  e ele disse-me que talvez você possa dar-me os dados de contacto das pessoas seguintes:


Pedro Lauret
Carlos Matos Gomes
Mário Beja Santos


Muito obrigada de antemão!


Um abraço
Tina

2. Texto, dirigido ao pessoal do nosso blogue, e assinado por Tina Kramer:

Olá à todos!

Chamo-me Tina Kramer, sou uma dotouranda alemã e vou ficar em Lisboa por 3 meses.

Estou a elaborar a minha tese de doutoramento [, III Ciclo do Ensino Superior,] sobre a Guerra na Guiné-Bissau e como esta está na memória do povo em Portugal e na Guiné-Bissau. Tal significa que eu quero saber quais são os conteúdos da memória, de que maneira e através de que meios as pessoas se recordam dessa guerra. Este seu blogue  já é uma fonte rica de memórias e de história.

Além disso,  quero fazer entrevistas com pessoas que tenha participado na Guerra ou, mesmo que não tenham participado, desde que tenham ligações com este tema ou com a Guiné-Bissau em geral.

Ficaraia  muito contente se vocês conseguirem ter tempo para um encontro comigo.
O meu número de telefone é 917 091 484 e o meu e-mail é Tina-Kramer@gmx.de

Um abraço
Tina

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]


2. Comentário de L.G.:


Foi agradável o nosso primeiro encontro. Esta altura do ano não é a melhor, em Portugal, para encontrar pessoas, marcar encontros, fazer entrevistas. Meio mundo está de férias. O nosso próprio blogue ressente-se disso, reduzindo-se em um terço as visitas diárias... De qualquer modo, dar-lhe-emos toda a colaboração possível. Estou-lhe grato pelas elogiosas referências ao nosso blogue e ao interesse académico e científico que você lhe dedica. Convido os 430 membros do nosso blogue a colaborar consigo, no caso de virem a ser contactados. Poderão igualmente tomar a iniciativa de a contactar. Desejo-lhe boa sorte. Este fim de semana mando-lhe os contactos pedidos. Saudações académicas e bloguísticas. Luís Graça.

Guiné 63/74 - P6773: Tabanca Grande (232): António Marques Barbosa, gondomarense, benfiquista, bom gigante, membro da Tabanca de Matosinhos, ex-Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106 (Bula, 1966/68)















Guiné > Região de Cacheu >  Bula > Pel Rec Panhard 1106, Os Cavaleiros Blindados  (1966/68) > O Fur Mil Cav António Barbosa, natural de Gondomar, hoje reformado da Polícia Judiciária,  benfiquista assumido e destemido num mar de dragões, membro da Tabanca Pequena de Matosinhos, e a partir de agora membro da Tabanca Grande. É uma presença permanente, notada e notória, das famosas 4ªs feiras no Restaurante Milho Rei, por muitas razões e mais uma: com ele ninguém vai aos figos, nem lhe faz o ninho atrás da  orelha... 

Mobilizado pelo Regimento de Cavalaria nº 7, fez parte do primeiro pelotão de Panhards que foi para a Guiné... Bateu toda a região do Cacheu... Só não me explicou como é que um calmeirão, como ele, cabia naquelas latas de sardinha... Estive ontem, com ele, mais uma vez, na Tabanca dita Pequena de Matosinhos... Já era altura de o integrar, de pleno direito, na Tabanca Grande. Sê bem vindo, camarada! De outros camaradas como, por exemplo, o Manuel Carmelita, estou à espera que me mandem as fotos da praxe...


(i) Partiu de Lisboa em 31 de Maio de 1966;

(ii) Desembarcou  em Bissau em 6 de Junho de 1966;

(iii)  Em Bissau, esteve instalado provisoriamente no Forte de S. José da Amura durante o 1º mês;

(iv) Seguiu, em Julho, seguiram,  para o sector de Bula, tendo ali ficado primeiramente integrado no dispositivo e manobra do BCAV 790 e depois no BCAV 1915, com Secções estacionadas em Teixeira Pinto e noutros destacamentos do Sector;

(v) A sua actividade operacional foi esencialmente desenvolvida no apoio às colunas auto de reabastecimentos e operações militares;

(vi) Sofreu 16 emboscadas;

(vii) Locais onde esteve:  Bula, Có, Pelundo, Teixeira, Pinto, Bachile, Cacheum, Binar, Biissorâ, Biambe, Mata Jomete, Mansoa, Naga;

(viii) Regresso: Embarque em Bissau em 26 de Janeiro de 1968 e desembarque em Lisboa a 3 de Fevereiro de 1968;

(ix) Comandante: Alf Cav Bayan.






Guiné- Bissau > Região de Cacheu > Bula > Abril de 2010 > O regresso a Bula, 42 anos depois... O António Barbosa é o primeiro da esquerda... e na ponta direita está o nosso conhecido Xico Alen. A foto foi tirada pelo Manuel Carmelita, se não erro. Em Bula, António Barbosa e os seus amigos da visitaram a Clínica Pediátrica de S. José de Bor, instituição que está receber apoio da Tabanca de Matosinhos.

Fotos: © António Barbosa (2010). Direitos reservados

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Nota de L.G.:

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6772: Notas de leitura (132): Alguns Princípios do Partido, de Amílcar Cabral (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Julho de 2010:

Queridos amigos,
É uma mera referência histórica, permite tomar contacto com os dotes excepcionais desse comunicador que foi Amílcar Cabral.

Se há dado da sua personalidade que eu gostaria de aprofundar ou discutir com intelectuais portugueses e guineenses é o da divisa unidade em torno da Guiné e Cabo Verde que ele considerava um dado inquestionável.
Como se sabe, são hoje raríssimas as vozes que apoiam o sonho de Cabral. Mas o que se questiona, para além da legitimidade do sonho, é se o líder, bem como os demais líderes históricos, não tinham consciência da inviabilidade do percurso e do profundo nível de antagonismo existente entre os dois povos.

Um abraço do
Mário Beja Santos


Um exemplo da comunicação prodigiosa do dirigente Amílcar Cabral

por Beja Santos

Amílcar Cabral era extremamente meticuloso com as comunicações que proferia nos areópagos internacionais, caso das Nações Unidas ou Organização da Comunidade Africana. Igualmente cuidadoso com as suas intervenções como entrevistas ou documentos para distribuição pelos quadros do seu partido. Deixou centenas de páginas com documentos de tese e muitas outras com alocuções improvisadas. O PAIGC efectuou um seminário de quadros, em Conacri, de 19 a 24 de Novembro, durante o qual Amílcar Cabral pronunciou dois improvisos subordinados ao tema “Alguns princípios do partido”. Em Setembro de 1974, a editora Seara Nova publicou estas duas lições magistrais de um comunicador político impar, no 50.º aniversário do seu nascimento.

São alocuções que se lêem de um só fôlego, e quase se sente a vibração, a entoação, a sensibilidade do orador (não esquecer que tudo quanto se está a ler nem revisto foi pelo seu autor, foi pura e simplesmente transcrito de um gravador). É o prodígio de quem se quer fazer persuadir pela razão e pela força das convicções, pelo ardor dos combatentes que tem diante dele. Pelo uso da linguagem, clara e acessível; pelo recurso das imagens, pela consistência da língua, um português de primeira água. Sabendo que há causas que ele defende cuja argumentação era (e continua a ser) discutível, da base ao topo, é inquestionável que Amílcar Cabral sabia medir e captar as audiências. Logo na primeira alocução, o líder do PAIGC debruça-se sobre a “Unidade” e “Luta”, as divisas do partido. Explica como as pessoas são diferentes, fala numa equipa de futebol e na unidade que é necessário ter para obter resultados. E explica como a união faz a força, daqui saltando para uma divisa para ele obsessiva: a unidade da Guiné e Cabo Verde, condicionando a libertação de uma a outra. Passando para a luta, define o colonialismo, as contradições de quem apoia o colonialista, as vicissitudes de quem alinha com a libertação. Refere as bases de apoio de um lado e do outro, defende, justificando, a inexistência de um proletariado do tipo ocidental, apela a uma unidade de forças de diferentes classes, de diferentes elementos da sociedade. Empolgado e sempre a contrariar a história, considera que, por natureza, por história, por geografia, por tendência económica, até por sangue, a Guiné e Cabo Verde são um só. Resta perguntar, à distância destas décadas, o que levou um homem sagaz, de cultura superior, a dizer tais enormidades sobre uma união que nunca existiu. E que todos os líderes africanos, de qualquer proveniência, sabiam não existir. E acena a um espantalho: o imperialismo quer separar a Guiné de Cabo Verde exactamente para manter a submissão. E termina a alocução animando os quadros a perseguir a luta para a conquista da liberdade e a construção do seu progresso e felicidade na Guiné e Cabo Verde.

Na outra alocução, Amílcar Cabral apela ao conhecimento da realidade para que a luta da libertação triunfe rapidamente, na base da unidade. Essa realidade era a Guiné e Cabo Verde e argumenta: “Uma coisa muito importante numa luta de libertação nacional é que aqueles que dirigem a luta, nunca devem confundir aquilo que têm na cabeça com a realidade… Eu posso ter a minha opinião sobre vários assuntos, posso ter a minha opinião sobre a forma de organizar a luta, de organizar um partido. Mas eu não posso pretender organizar um partido, organizar uma luta de acordo com aquilo que tenho na cabeça. Tem de ser de acordo com a realidade concreta da terra. Não podemos pretender, por exemplo organizar o nosso partido de acordo com os partidos de qualquer país da Europa. No começo da nossa luta, nós estávamos convencidos de que se mobilizássemos os trabalhadores de Bissau, de Bolama, de Bafatá, para fazerem greves, para protestarem nas ruas, para reclamarem na administração, os tugas mudariam, nos dariam a independência. Mas isso não é verdade. Em primeiro lugar, na nossa terra, os trabalhadores não têm tanta força como noutras terras. No campo era quase impossível fazer guerras, dadas as condições da situação política do nosso povo e até de interesses imediatos do nosso povo. Assim, tínhamos que adaptar a nossa luta a condições diferentes à nossa terra, e não fazer como se fez noutras terras. Mesmo na questão da mobilização tivemos que considerar o problema na Guiné de uma maneira e em Cabo Verde de outra maneira”. Impetuoso, imaginativo, o líder regressa a 1962, quando o PAIGC ainda não tinha armas e cerca de 200 quadros estavam a ser preparados no exterior. Lembra a complexidade do mosaico étnico, a necessidade dos quadros se movimentarem de uma região para a outra para conhecer a realidade e recorda que não há sucessos militares sem um trabalho político adequado. Recorda ao auditório que o homem chegou à Lua e regozija-se porque a realidade dos outros têm grande importância para o evoluir da luta do partido. E passa para a descrição da realidade geográfica, económica, social, cultural da Guiné e Cabo Verde. É impossível não se ficar surpreendido, à distância destas décadas, pela sua capacidade em distinguir o que é dissemelhante e o que é controversamente complementar.

Lendo as intervenções de um homem que será assassinado quatro anos depois, sabe-se lá se por alguns dos quadros que os estão a ouvir em 1969, em Conacri, é impossível contornar o magneto de um líder que estava absolutamente convicto que criara a coesão entre guineenses e cabo-verdianos. Termina lembrando aos seus camaradas as condições em que formara o PAIGC e o cepticismo na maior parte dos seus amigos que lhe disseram que tudo aquilo era uma doidice. Doidice ou não, Amílcar Cabral recorda aos presentes que a formação do PAIGC em tais condições adversas fora o ponto de partida para uma realidade nova.

Trata-se de um testemunho histórico de belas peças de oratória num português irrepreensível, o que não surpreende para quem conheça a sua obra política e científica, a partir dos anos 50.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6747: Notas de leitura (131): Cambança Guiné Morte e vida em maré baixa, de Alberto Braquinho (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P6771: Convívios (262): 2º Encontro do pessoal da CART 6254 (Manuel Castro)


1. O nosso Camarada Manuel Castro, que foi Fur Mil At Art da CART 6254/72, enviou-nos em 16 de Julho de 2010, o programa do almoço/Convívio da sua Companhia, cujo ressort assentou alicerces em Olossato e no Dugal, 1972/74:

Camaradas,
Os ex-Combatentes que fizeram parte da Companhia de Artilharia 6254/72 e esteve sediada no Olossato, e no Dugal, vão levar a cabo, no próximo dia 11 Setembro de 2010, o seu 2º Almoço/Convívio.
O programa da festa é o seguinte:

Um abraço
Manuel Castro
Fur Mil At Art da CART 6254)
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6752: Convívios (176): Encontro do pessoal da CART 6250 "UNIDOS" DE MAMPATÁ (Luís Marcelino)

Guiné 63/74 - P6770: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (3): De Agosto de 1971 a 19 de Março de 1972 (Carlos Vinhal)


FACTOS E FEITOS MAIS IMPORTANTES DA CART 2732 (3)

CAPÍTULO II

ACTIVIDADES MAIS SIGNIFICATIVAS NO TO DA GUINÉ


(Conclusão)


Em 08AGO71, 2 GCOMB reforçados com 1 SEC MIL.ª foram empenhados na operação XAROPE, em que tomou parte a 27.ª Companhia de Comandos. Foram capturadas 2 mulheres e 1 criança em Mantida. As NT foram flageladas com morteiro 60 e armas automáticas sem consequências.

Em 10AGO71, chegou a CART 3417 a fim de lhe ser dado o treino operacional. Foi escoltada desde Mansoa por forças da CART 2732.

Em 23AGO71, foi empenhado 1 GCOMB da CART na base de fogos à operação XISTO, na região de Mantida em que a 27.ª Companhia de Comandos e a CCAÇ 2753 foram helitransportadas. Foram destruídas várias tabancas com muitas moranças, tendo sido capturadas 5 mulheres, 1 criança, 4 canhangulos, 1 espingarda Mauser e documentos diversos. Um GCOMB recolheu com viaturas na bolanha de Manhau, as forças da operação XISTO.

Em 28AGO71, cerca das 13H30, o Comandante da CART 3417 ficou ferido por ter pisado 1 mina AP, durante o treino operacional que lhe era dado pela CART 2732 em acções de patrulhamento e emboscadas. O incidente ocorreu na bolanha de Manhau. Um dos Pelotões da CART 2732 deslocou-se ao local a fim de evacuar o Comandante da CART 3417. O Furriel de Minas e Armadilhas da CART 2732 procedeu ao rebentamento de mais 2 engenhos explosivos. Ao fim da tarde, porque o dia estava muito chuvoso e não fosse possível efectuar qualquer vôo em segurança, foi efectuada coluna auto a Bissau para evacuação do ferido para o HM 241.

Em Agosto de 1971 o Comandante da CART 2732, Domingos Alberto Pinto Catalão, foi evacuado para o HMP de Lisboa.

Em 17SET71, 2 GCOMB empenhados na operação XAVEGA com a 27.ª Companhia de Comandos e a CCAÇ 2753, actuando em conjunto, tiveram um contacto com 1 Bigrupo IN, durante 15 minutos. Reflectiu-se o contacto mais tarde. As NT tiveram 2 feridos, causando ao IN 9 mortos confirmados.

Em 29SET71, 2 GCOMB empenhados na operação XERETA com 27.ª Companhia de Comandos e Destacamento de Cutia, não tiveram contactos.

Em 16OUT71, 2 GCOMB empenhados na operação XIMBEQUE, levada a efeito na zona de Mantida e em que tomou parte a 27.ª Companhia de Comandos, sem consequências. No transporte das tropas para a ZA, uma Daimler accionou 1 mina AC, causando 1 ferido que foi evacuado.

Mansabá > Autometralhadora Daimler sinistrada junto ao Bar de Sargentos

Em Outubro de 1971 apresentou-se na CART 2732 o Cap Mil Armando Vieira dos Santos Caeiro destinado a substituir o Cap Art Domingos Alberto Pinto Catalão, evacuado para o HMP em Agosto.

Em 10NOV71, foram empenhados 2 GCOMB na operação BICHO BRAVO com a finalidade de fazer a ligação física entre Mansabá e Olossato. As NT partiram de Bironque até à bolanha de Bissagage. Seguiram para norte de Coli Sare onde foram detectados 2 trilhos muito batidos, muita população e lavras em BINTA-7 I 0-99. As NT efectuaram vários golpes de mão, capturando 5 mulheres e 5 crianças. Em 11 05 00, o IN bateu com morteiro 82 e armas ligeiras, a região acabada de percorrer, sem consequências.
Do Olossato para Mansabá as NT deslocaram-se rm meios auto em virtude do seu estado de  esgotamento, onde chegaram cerca das 19H30.
Operação comandada pelo Major Correia de Campos, Comandante do COP 6.

De 12 a 17NOV71, 2 GCOMB tomaram parte na interdição dos corredores Lamel e Sitató, regressando a Mansabá no dia 17 às 12h30.

Em 29NOV71, 1 GCOMB emboscou em Mansomine e detectou a aproximação de grupo IN com cerca de 40 elementos que se dirigia para Mansabá. As NT abriram fogo com todas as armas, tendo o IN ripostado com armas automáticas e RPG, pondo-se em fuga desordenada, com feridos confirmados.

Em 30NOV71, 1 GCOMB REF efectuou picagem e patrulhamento da estrada Mansabá-Bafatá, até Manhau.
Efectuou patrulha na região de Mansomine-Cocuto-Farim 4C5-4E5, tendo encontrado 1 granada de morteiro 82 abandonada pelo IN, no dia anterior na sua fuga, e vários locais de instalação e numerosos trilhos de fuga, na direcção de Manhau. O IN foi estimado em cerca de 200 elementos que provavelmente vinham atacar Mansabá.

Em 02DEZ71, 1 GCOMB efectuou coluna auto ao K3 para transportar material diverso e recolher lenha no regresso. Na região de Madina Fula foi emboscada por 1 grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, armas automáticas e CSR. As NT reagiram com toda a prontidão ao intenso fogo IN que tentou assaltar as viaturas, sendo repelidas. A Artilharia de Mansabá apoiou as NT que tiveram 4 feridos graves também evacuados, 6 feridos ligeiros, 4 elementos da população ligeiramente feridos e 2 viaturas Berliet danificadas. O IN sofreu baixas prováveis. Nesse mesmo dia pelas 18h30 Mansabá foi flagelada com morteiro 82, CSR e armas automáticas, durante 15 minutos, sem consequências.

Uma das duas viaturas Berliet da CART 2732 danificadas por fogo IN em 02DEZ71.

Em 03DEZ71, 1 GCOMB empenhado numa coluna auto de reabastecimento para Farim detectou 1 mina AC a 100 metros a sul do Bironque. A mesma foi levantada pelos furriéis de Minas e Armadilhas da CART 2732.

Bironque, 03DEZ71 > Mina AC TM46 detectada pelos picadores e levantada pelos dois furriéis da CART 2732

Em 06DEZ71, pelas 11h15, 1 GCOMB (+) e 1 SEC MIL.ª 253 efectuou coluna auto a Mansoa a fim de transportar militares. No regresso, em MAMBONCÓ-3 F2 56 foi emboscado por grupo IN estimado em 50 elementos armados de RPG, granadas de mão, armas automáticas e morteiro 82, durante 20 minutos. O IN instalado a 2 metros da estrada atacou as viaturas com RPG e granadas de mão tendo vários elementos IN chegado ao alcatrão no intervalo das viaturas. As NT reagiram pelo fogo com todas as armas obrigando o IN a recuar. De Cutia, assim como de Mansabá sairam GCOMBs em socorro das tropas emboscadas. A Artilharia de Mansabá e a FAP também deram o seu apoio às forças emboscadas. As NT sofreram 1 morto imediato (Soldado Vieira do 3.º Pelotão da CART 2732), 11 feridos graves evacuados para o HM 241 de Bissau, dos quais 2 morreram, 9 feridos também evacuados e 8 feridos ligeiros, 1 Unimog 404 e 1 Unimog 411 destruídos. Um dos militares falecidos no HM 241 foi o Soldado Barbosa do 3.º Pelotão da CART 2732.

O Unimog 404 atingido por fogo IN no dia 06DEZ71, durante a emboscada à coluna auto em Mamboncó

Em 10DEZ71, Mansabá é novamente flagelada com CSR, morteiro 82 e armas automáticas ligeiras, durante 25 minutos, causando 1 ferido ligeiro e estragos diversos. As NT reagiram com morteiro 81 e obus 8,8 sobre as possíveis bases de fogo do IN e possíveis locais de retirada.

Em 30DEZ71, pelas 18h20, Mansabá é flagelada com CSR durante 15 minutos sem consequências. As NT reagiram prontamente com obús 8,8 e morteiro 81 sobre as possíveis bases de fogo.

Em 31DEZ71, um acidente com granada de mão defensiva, entre militares da 27.ª CComandos, causou 5 feridos graves.

Manhau, 11JAN72 > Os Furriéis de Minas e Armadilhas da CART 2732, Vinhal e Sousa (segundo e quarto, de pé, a partir da esquerda) acompanhados por escolta de luxo, a 27.ª CComandos

Em 17JAN72, a CART 2732 completou 21 meses de comissão na Guiné.

Em 21JAN72, a CART 2732 completou 21 meses de permanência em Mansabá.

Em 08FEV72, começou a rendição da CART 2732. Apresentaram-se em Mansabá 2 GCOMB da CCAÇ 2753, pelo que 2 primeiros GCOMB da CART partiram para Bissau.

Em 22FEV71, a CCAÇ 2753 assume a responsabilidade do Sector de Mansabá.

Em 23FEV72, os 2 últimos GCOMB da CART 2732 deixaram Mansabá com destino a Bissau.
Nesta data fica a CART 2732 atribuída ao COMBIS.
É empregue em patrulhamentos e emboscadas nocturnas nas áreas suburbanas de Bissau e rusgas nos bairros periféricos da cidade.
Cessou a sua atribuição em 13MAR72.

Em 11MAR72 vai efectuar-se a cerimónia de despedida que será presidida por Sua Excelência o General e Comandante-Chefe das Forças Armadas - General António de Spínola.

Em 19MAR72, cerca das 18h00, 1 Boeing da FAP levantou do aeroporto de Bissalanca levando a bordo o pessoal da CART 2732 com destino a Lisboa.
Os militares naturais da Ilha da Madeira, seguiram no dia seguinte para o Funchal.
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Notas de CV:

O trabalho apresentado foi baseado no Relatório:
"GUINÉ 70 71 72 - FACTOS E FEITOS DA CART 2732"

Vd. postes de:

17 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6754: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (1): De Abril a Dezembro de 1970 (Carlos Vinhal)
e
19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6760: Factos e Feitos mais importantes da CART 2732 (2): De Janeiro a Julho de 1971 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P6769: Estórias cabralianas (61): Os Poderes do Professor Wanatú... (Jorge Cabral)


Guiné-Bissau > Região de Bolama / Bijagós > Bubaque > 13 de Dezembro de 2009 > Máscara bijagó

Foto: © João Graça (2009). Direitos reservados



Monte Real > Palace Hotel > V Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > 26 de Junho de 2010 > O heterodoxo Jorge Cabral, de punho erguido (e dedo descaído) como nos heróico-operáticos dos tempos da guerra do Cuor,  entre o Jorge Picado (o bravo capitão miliciano ilhavense que, além dos 4 filhos legítimos, arranjou mais uma centena e meia de adoptivos,  aos 32 anos) e o Hélder de Sousa (o homem da TSF no CTIG, que tinha um poster do Che Guevara no quarto em Bissau, longe do Vietname)... Não foi possível identificar a misteriosa bajuda, que está do lado direito, escondendo o rosto... (LG)

Foto: © Luís Graça (2010). Direitos reservados


1. Texto, com data de ontem, enviado pelo  Jorge Cabral, com "votos de boas férias" (descodificando: dias e dias de (in)actividade  retemperadora,  para todo o mundo, os que trabalham, os que já trabalharam, os que ainda não trabalham, e até os que nunca trabalharam... (LG)

Histórias cabralianas > Os poderes do Professor Wanadú um quasi macaréu na Reboleira
por Jorge Cabral


 Bruxarias, espiritismos, magias sempre me atraíram.

Ainda na Guiné, aconselhado a um jejum de um mês, para poder comunicar com os mortos…, quase morri de fome.

Claro que não acredito em tudo, mas admiro o poder de sugestão dos profissionais, embora às vezes me desiludam, como a vidente Zinha, que quando estava a entrar na minha vida passada de monge austríaco, se lembrou do almoço do Pai e interrompendo a sessão, começou a gritar para a filha:
- Maria, vai ver o lume! Não deixes queimar a tomatada do avô!

Lá se foi a regressão…

Por isso quando, um primo de um primo do Idrissa, antigo aluno, me pediu para defender o Professor Wanatú, nem hesitei. Segundo a publicidade inserida no matutino, tratava-se de "um Mago Senegalês, transpsicólogo, perito em magia branca e negra, que resolve todos os problemas, amor, amarração, negócios, mau-olhado, inveja e maus vícios… com honestidade".

Acusado de trinta e dois crimes de burla, encontrava-se em casa com pulseira electrónica. Obtida a morada do Professor na Reboleira, logo no dia seguinte, fardei-me de Advogado e,  depois de muitas voltas, consegui dar com a casa, um pequeníssimo apartamento, no qual fui recebido pelo Mago, a Mulher e duas «cunhadas».

Consultada a acusação, descobri sem espanto que o Wanatú se chamava Mamadú, e nascera na Guiné-Bissau.  Após a Independência vivera no Senegal, vindo depois para Portugal.

Logo que entrei,  ele começou a protestar a sua inocência e eu nem o ouvia…

Não sei o que me deu mas regressara quarenta anos atrás e de novo Alfero, só tinha olhos para uma das «cunhadas» - Binta - alta, bela, elegante, futa-fula sem dúvida. Cheirava ao Geba… e eu já me imaginava um Macaréu avançando naquele rio. Mas que fazer?

O Professor Wanatú não podia sair de casa. Era preciso aguardar o Julgamento, esperar que se safasse para retomar o trabalho no seu consultório, na Travessa das Gaivotas.

Então talvez a cunhada ficasse só… e Macaréu!...

Chegou o dia da Audiência. Fui tão brilhante na Defesa que as vítimas é que iam sendo condenadas…

O Professor Wanatú foi absolvido. Voltou a dar consultas. Está próspero. Já tem quatro «cunhadas». Por mim tentei oito vezes, visitar a bela Binta e nunca consegui. Quando estou prestes a chegar à Reboleira, o carro avaria. Tenho receio de ir de comboio, não vá haver um descarrilamento…

É que o Professor Wanatú possui mesmo grandes poderes…
Jorge Cabral
________________

Nota de L.G.:



terça-feira, 20 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6768: Ser solidário (81): A água já corre em Amindara (José Teixeira)

A ÁGUA JÁ CORRE EM AMINDARA


OBRIGADO a todos que colaboraram neste projecto.

 

Foram bastantes, os camaradas que corresponderam ao apelo – SEMENTES E ÁGUA POTÁVEL PARA A GUINÉ-BISSAU.

Num tempo em que o mundo e, particularmente o nosso País atravessam uma terrível crise económico-financeira, o apelo foi ouvido. Ecoou bem fundo nos corações dos combatentes da Guiné nos anos sessenta e setenta, não esquecendo outros amigos da Guiné-Bissau que quiseram contribuir.

Em apenas alguns meses conseguimos o capital necessário para abrir o poço e montar todo o equipamento necessário para que a água subisse à superfície da profundeza de 18 metros para o bem-estar dos habitantes da tabanca de Amindara.

Creio que devemos sentirmo-nos em festa tal como a população de Amindara.
Aqueles que contribuíram, sentem com certeza que com a sua pequena ou grande oferta (dependendo da capacidade financeira de cada um) contribuíram para a construção de um mundo melhor, naquela pequenina parcela de terra na Guiné-Bissau.

O melhor agradecimento que a Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, ONG, pode sentir à distância de mais de cinco mil quilómetros, foi a expressão de alegria e felicidade dos habitantes de Amindara.

Certos de que estamos a expressar os sentimentos da população Amindarense, queremos expressar a todos quantos contribuíram o nosso MUITO OBRIGADO.

Queremos expressar também os nossos agradecimentos à AD- Acção para o Desenvolvimento na pessoa do querido amigo Carlos Schwarz (Pepito) e a todos quantos colaboraram na obra sobre a sua orientação técnica.

José Teixeira
20JUL2010

A alegria das mulheres
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Nota de CV:

Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6729: Ser solidário (80): Região de Tombali, sector de Bedanda, Cantanhez: Amindara em Festa, com a inauguração do 1º poço comunitário (Pepito / José Teixeira)

Guiné 63/74 - P6767: Controvérsias (98): O QP não desapareceu (e eu não fui lorpa), apenas reduziu o seu contributo, porque... não há omeletas sem ovos (Morais da Silva, ex-Cap Art, CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)


Paisagem, pintura de Augusto Trigo (n. 1938). Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor (que vive actualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD - Acção para o Desenvolvimento (que detém os direitos da imagem no seu site Guiné-Bissau). Parafraseando o título do poste do nosso blogue, de 6 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos), o nosso leitor (e camarada de armas) Morais da Silva diz que não é nem quer passar por... lorpa. (LG)


1. Mensagem do Cor Art Ref Morais da Silva:

Caro Luís Graça

Confesso-me farto de ser considerado lorpa pois continua a haver quem julgue que a malta do QP não andava de olho em cima das escalas de mobilização para evitar ou, no mínimo, dissuadir os chicos espertos que sempre existem.

Jorge Canhão concluiu agora que, afinal, só a partir de 1971/72 o QP se baldou embora acrescente que esta "reviravolta" coincide com o agravamento da guerra (opinião dele que não minha). É pena que em tempo útil não o tenha dito mas, paciência.

Resolvi ver os números outra vez e rebater o que diz Jorge Canhão.

Se soubesse o e-mail deste, endereçava-lhe o artigo e solicitava-lhe uma resposta (**). Mas como não o encontro,  anexo o que escrevinhei para publicar, se o entender conveniente.

Abraço do artilheiro

MS

2.  A propósito do poste P6374, de Jorge Canhão (**)
por Morais da Silva

Esta é a segunda vez que entro no blogue, acolhimento que agradeço, para esclarecer o que julguei já estar esclarecido.

Levar a cabo o estudo sobre o "Comando de Companhias de Combate em África" (***)  foi uma obrigação que me impus quando deparei com a afirmação de que "os oficiais do QP tinham fugido da guerra". Como já confessei, fiquei atónito, porque tal teria acontecido nas minhas barbas e eu, distraído, tinha andado a dar o corpo ao manifesto enquanto na minha "confraria" vigorava a regra da balda. Em resumo, teria sido um lorpa. Reagi, decidi ir à procura de números fiáveis e recuperei a paz de espírito. Afinal, como sempre pensei, eu não fui excepção antes fui a regra.

Regressado ao estudo e ao remanso do meu site eis que Jorge Canhão me informa:

"Globalmente o QP não fugiu das Companhias Operacionais mas quando a guerra se agravou em 1971/72 o QP DESAPARECEU QUASE POR COMPLETO".

Valha-me Santa Bárbara apesar de, agora, só trovejar na ponta final da guerra mas com a agravante do anátema do "cagaço". Imaginem o meu desassossego. Será que fiz o trabalho direitinho até 71/72 e depois o raio do software que fiz me induziu em erro e afinal fui mesmo um lorpa? Jorge Canhão só diz "Quase por completo". Qual será o valor que atribui a "Quase"? Porquê 71/72? A guerra agravou-se? Mas antes tinha sido uma pêra doce?!

Vamos aos números.

Jorge Canhão resolve tratar a base de dados de que dispõe (e que suponho ser a que foi publicada pelo Correio da Manhã nos Cadernos da Guerra Colonial) no momento da mobilização das companhias operacionais ou seja, em cada ano identifica as companhias que foram mobilizadas e agrega-lhes todos os capitães que as comandaram ao longo da comissão (Cap QP ou Mil).

No meu trabalho digo que, companhias com comando único (mesmo capitão durante toda a comissão), foram 83% em Angola e Moçambique e apenas 66% na Guiné. Face a estes números melhor seria tratar apenas companhias com comando único dada a dimensão da amostra. Mas, adiante.

No conjunto dos 3 TO Jorge Canhão conclui que, em 1971, 53% dos capitães "mobilizados com as companhias" são capitães QP e que tal percentagem desce para 19% em 1972 e para 12% em 1973, subindo para 20% em 1974. Aqui chegado Jorge Canhão conclui: "No entanto, quando a guerra se agravou (precisamente a partir dos anos 1971/72), os Capitães do Quadro Permanente "DESAPARECERAM QUASE POR COMPLETO" dos cenários das Companhias de Combate".

Ora só se pode dar como desaparecido aquilo que existe mas nestas "coisas" se algo desaparece é preciso encontrá-lo para que sirva de contraprova. Lá parti eu em busca detalhada e olhando para os meus números constatei o seguinte:

"Desaparecimento" do QP em 1972" - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 277 capitães do QP (46% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 31% do stock existente de capitães QP (885 Cap. QP); era de 34% em 1971 havendo pois a registar uma quebra de 3% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1971, para alimentar o stock, como este baixou 149 capitães (1034 em 1971; 885 em 1972). A quebra de 149 capitães nos 1034 representa 14%. Compare-se esta quebra de stock do QP com a quebra de 3% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1973- O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 178 capitães do QP (30% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 23% do stock existente de capitães QP (779 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 8% no empenhamento do stock

- não só não houve promoções a capitão em 1972, para alimentar o stock, como este baixou 106 capitães (885 em 1972; 779 em 1973). A quebra de 106 capitães nos 885 representa 12%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 8% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

"Desaparecimento" do QP em 1974 - O que eu sei sobre este ano

- estão em combate 119 capitães do QP (21% do total de capitães em combate)

- este efectivo em combate representa 21% do stock existente de capitães QP (580 Cap. QP) ou seja há uma quebra de 2% no empenhamento do stock

- houve promoções a capitão em 1973 para alimentar o stock mas, apesar disso, este ainda baixou 99 capitães (779 em 1973; 580 em 1974). A quebra de 99 capitães nos 779 representa 13%. Compare-se esta quebra de stock com a quebra de 2% do parágrafo anterior e digam-me lá onde está o desaparecimento

Fica demonstrado, mais uma vez, que o QP não desapareceu (e eu não fui lorpa) mas que apenas reduziu o seu contributo porque não há "omeletas sem ovos".

Repito o que já disse mas pelos vistos sem sucesso.

De 1970 a 1974 o stock de capitães do QP passou para quase metade (52%). Se os encargos fixos se mantiveram (unidades, estabelecimentos e órgãos da metrópole; unidades de guarnição e centros de instrução em África) e os de combate também, como não esperar as quebras verificadas?

Por que carga de água se recorreu à formação laboratorial de capitães milicianos e se deu à luz o célebre decreto de 1973 sobre o acesso à AM [, Academia Militar] ? Diversão da tutela ou tutela entalada perante uma Guiné e Moçambique a pedirem mais meios e uma AM a dar conta da sua impotência?

Uma nota derradeira.

Estou pronto a colaborar com Jorge Canhão, se este o desejar, para afinar a listagem das companhias presentes a partir de 1971 e clarificar a razão da pesada discrepância (145 companhias) que aponta: eu contabilizo um efectivo anual presente nos 3 TO na ordem das 475 e Jorge Canhão indica 330.

Discordo completamente dos resultados da pg. 1. Por exemplo, no grupo A, parte dos capitães avançou ainda em finais de 1968, princípio de 1969; a outra parte avançou em finais de 1969. A 1ª fatia regressou no final de 1970 e a segunda nos fins de 1971 tendo sido mobilizados novamente na segunda metade de 1972 (1ª fatia) e início de 1973 (2ª fatia).

Assim sendo o grupo A está mal definido não podendo ser rodado em conjunto e muito menos com o grupo C que é mobilizado em meados de 1971.

A organização dos conjuntos e a sua inserção na fita do tempo está errada pois parte do pressuposto da rotação contínua (mas o pessoal tinha que descansar e preparar nova etapa o que consumia, em regra, 1.5 a 2.5 anos ao longo da campanha).

Definitivamente, tenho dito.

António Carlos Morais da Silva

 antoniocmsilva@netcabo.pt
http://www.moraissilva.com/

[ Fixação / revisão de texto / bold a cor / título: L.G.] (****)

_______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6734: Controvérisas (96): No período de 1972/75, a proporção de capitães milicianos, comandantes de companhias combatenntes em África, era de 83 em cada 100 (Jorge Canhão, ex-Fur Mil At Inf Op Esp, 3ª C/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

(**) Foi dado, ao Jorge, conhecimento prévio do teor do mail do Morais da Silva. Não foi possível obter um comentário seu em tempo útil. Presume-se que esteja de férias ou ainda não tenha visto a caixa de correio. Recorde-se que o nosso camarada e mui querido amigo Jorge Canhão também conheceu Gadamael, a ferro e fogo, em Junho de 1973.

(***) Vd. poste de 15 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)

(****) Último poste desta série > 18 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6759: Controvérsias (97): Ainda... muito a tempo (José Belo)

Guiné 63/74 - P6766: (Ex)citações (86): Casei com uma rapariga de Quelimane, por acaso branca (eu acho que nós, portugueses, somos todos mestiços) (Alpoim Calvão)

1. Comentário ao poste P6640 (*), assinado pelo comandante Guilherme de Alpoim Calvão (aqui na na foto à esquerda, entre dois membros da nossa Tabanca Grande, o João Parreira, de costas, e o Mário Dias, de perfil; local e data: Museu Militar, 15 de Abril de 2010, sessão de lançamento do livro do Amadu Djaló):

Caros camaradas de armas, só pó falar do meu caso pessoal mas casei com uma rapariga de Quelimane [, capital da Zambézia, Moçambique], por acaso branca (eu acho que nós, portugueses,  somos todos mestiços) em Março de 1958, tendo eu o posto de segundo tenente. Continuo casado com ela.

As legislações representam por vezes modas de épocas. O que interessa é que se aperfeiçoem.Ou então continuaríamos com os preceitos de tempos idos em que o sargento da companhia devia saber ler e escrever porque o oficial, por ser nobre, podia não saber.

De Bissau vos mando "muito saudar" e mantenhas, Alpoim Calvão (O teclado he para ingles. As minhas desculpas

[Fixação / revisão de texto / título: L.G.] (**)

__________

Notas de L.G.:

(*) 20 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6440: Da Suécia com saudade (23): O estatuto dos Oficiais do Exército há 60 anos, que não podiam casar com mulheres brancas, nascidas nas colónias, mesmo que filhas de casais brancos (José Belo)

(**) Último poste desta série:  15 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6744: (Ex)citações (68): Fomos muito mais bandos de pardais à solta do que colónias de abutres e aves de rapina (António Graça de Abreu)

Guiné 63/74 - P6765: (In)citações (3): A lavadeira de Guileje: 'Já passei a roupa a ferro, já lavei o meu vestido, amanhã vou-me casar e o Manuel é meu marido' (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973.  


 


Guiné-Bissau >  Região de Tombali >  Guileje > Uma  antiga lavadeira, bajuda, fula, ao tempo do abandono do aquartelamento pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.  Fragmentos da memória musical deixada pela tropa portuguesa (*)... 

Nesta versão há pelo menos duas conhecidíssimas canções populares portuguesas (de que se reproduz a seguir a letra completa)... Esta mulher, que não terá 50 anos, era uma bajuda, quando as NT retiraram, com toda a população, de Guileje para Gadamael... (LG)...

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009).
 Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

Letra e música:  Popular

Ó malhão, malhão,
que vida é a tua?
Comer e beber, ó tirim-tim-tim,
passear na rua.

Ó malhão, malhão,
Malhão de Lisboa,
Sempre a passear, ó tirim-tim-tim,
A vida é boa.

Ó malhão, malhão,
Ó malhão do Porto,
Andaste a beber, ó tirim-tim-tim,
E ficaste torto.

Ó malhão, malhão,
Quem te não dançou?
Por causa de ti, ó tirim-tim-tim,
O meu pai casou.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as meias?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas feias.

Ó malhão, malhão,
Quem te deu as botas?
Foi o caixeirinho, foi o caixeirinho
Das pernas tortas.

Ó malhão, malhão,
Ó Margaridinha,
Quem te pôs a mão, quem te pôs a mão,
Sabendo que és minha?

Eras do teu pai, eras do teu pai,
Mas agora és minha.

Letra e música:  Popular

Já passei a roupa a ferro,
já passei o meu vestido,
Amanhã vou-me casar
e o Manel é meu marido.

(Refrão)

Todos me querem,
eu quero algum,
quero o meu amor,
não quero mais nenhum.

(Bis)

O Manel é meu marido,
O Manel é quem me adora,
O Manel é que me leva,
da minha casa p'ra fora.

Da minha casa p'ra fora,
da minha casa p'ra dentro,
O Manel é quem me leva,
no dia do casamento.

(Refrão)


 

Guiné-Bissau >  Região de  Tombali > Guileje >  Dança de duas jovens em homenagem (?) à tropa portuguesa que passou pelo aquartelamento de Guileje, abandonado pelo Exército Português, em 22 de Maio de 1973. Local: Museu de Guileje (em construção), finais da época das chuvas, 2009.

Vídeo (''24): Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). 

Alojado em You Tube > Nhabijoes (Em alternativa, clicar aqui para ver e ouvir o vídeo)

_____________
 
Nota do editor LG:
 
(*) Vd. postes anteriores desta série:
 
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6751: (In)citações (1): O tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
19 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6761: (in)citações (2): Mais duas músicas do tocador de harmónica de Guileje (Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento)
 
Comentários de alguns camaradas nossos a estes dois postes:
 
(i) Alberto Branquinho:
 
Impressionante! Fiquei comovido. 40 anos depois...

(ii) Hélder Valério:
 
Sem dúvida que aqui está uma demonstração plena de como as pessoas se podem entender e de como a música é um poderoso veículo para tal. Como comentou o A. Branquinho, é impressionante e comovente. Podemos pensar que isto se revela no interior profundo, longe da capital e dos seus problemas mas não deixa de ser verdade que é onde as coisas e as pessoas são mais genuínas (...)

(iii) José Corceiro: 

Para o meu sentir é emocionante ouvir, esta melodia popular portuguesa ao som do 'realejo', por duas razões: Ser tocada com sensibilidade por um nativo da Guiné, que a sentiu e captou outrora no seio das nossas tropas e que passados estes anos todos a toca com carga nostálgica.

Transporta-me à minha meninice, à primeira vez que a ouvi tocar, com 10 ou 11 anos de idade, tal como agora ao som da gaita-de-beiços, por um dos grupos de trabalhadores da minha aldeia, que a ensaiou, como novidade, ao regressar da apanha da azeitona nas propriedades em Espanha, onde alguns naturais da minha terra tinham oliveiras, como tinha o meu avô. Era comum, nestes grupos de trabalhadores, isolados um grupo do outro, cada um na sua propriedade, formados por homens e mulheres, na sua maioria jovens, que viviam cerca dum mês fora da aldeia, enquanto durava a apanha da azeitona. Durante os serões, das longas noites de Inverno, ensaiavam melodias, acompanhadas ao som do 'realejo' ou concertina, para apresentar ao povo quando regressassem da faina e competir, um grupo com o outro, para aferir qual o que cativava e entusiasmava mais o povo.

Lembro desses tempos, em que não havia televisão e escasseavam os aparelhos de rádio, melodias tais como: 'Oliveirinha da serra', 'A saia da Carolina', 'Era ainda eu pequenino, 'Já passei a roupa a ferro', 'Ó Rosa arredonda a saia' … e tantas outras. Outras vezes faziam-se adaptações por curiosos anónimos do Povo.

Parabéns e muita saúde para o Guinéu que proporcionou este momento grato. 

(iv) José Corceiro:


Fantástico, tem que se ter sensibilidade e dote artístico, para poder tocar com realejo, passados 40 anos, as melodias que outrora se ouviu trautear aos militares Portugueses, que estavam na Guiné, que eram interpretadas, sabe-se lá com que sentimento de dor e nostalgia, misturados com saudades das nossas terras.

São melodias genuinamente populares da música Portuguesa, que são tocadas no realejo por um Guinéu, com alma lusa. Ouvi na minha meninice, na minha aldeia, cada uma destas notas também saídas do som do realejo.

A primeira, não me recordo bem do nome e do intérprete, mas creio que começa assim: 'Ainda agora aqui cheguei/ já me estou a ir embora'... Que creio que foi o grupo folclórico de Manhouce que a popularizou.

A segunda, o título creio que é 'Santa Luzia',  popularizada pelo 'Conjunto Típico de Maria Albertina'.

Parabéns ao Pepito, por ter feito o registo e tê-lo dado a conhecer e parabéns e felicidades ao intérprete, que nos possa brindar com mais.
 
(v) Amílcar Ventura:
 
É fabuloso, não tenho palavras paera descrever a alegria que me vai na alma ao ouvir este amigo africano tocar harmónica,  músicas do nosso Cancioneiro Nacional. É mesmo bom. Pepito, obrigado por este momento musical. (...)
 
(vi)  Luís Graça:

Num sítio, muito interessante, sobre instrumentos tradicionais portugueses (criado pelo Agrupamento de Escolas Padre Vitor Milícias, do concelho de Torres Vedras, Disciplina de Música, 7º e 8º anos), pode ler-se:


"A gaita de beiços, harmónica, ou harmónica de boca (também conhecida como realejo) é um instrumento musical de sopro cujos sons são produzidos por um conjunto de palhetas livres em vibração.

"A gaita possui na sua embocadura um conjunto de furos por onde o instrumentista sopra ou suga o ar. Devido ao seu pequeno tamanho, a gaita não possui caixa de ressonância. O tocador usa as mãos em concha para amplificar o som do instrumento e também para produzir efeitos, como variações de afinação e intensidade ou vibrato. Quando executada em conjunto com outros instrumentos, é comum que ela seja amplificada eletronicamente. A gaita é bastante usada no blues, rock and roll, jazz e música clássica. Também são muito comuns os conjuntos compostos apenas de gaitas, as chamadas Orquestras de Harmónicas, que normalmente tocam músicas tradicionais ou folclóricas.

"A harmónica, também conhecida por flaita, gaita de beiços, gaita das vozes, realejo e piano da cavalariça. era o instrumento mais frequentemente usado para acompanhar os bailadores de fandango ribatejano.

"O realejo é um instrumento de sopro portátil, cabendo tipicamente num bolso.

"A harmónica/gaita de beiços foi inventada na Alemanha". (...)


Guiné 63/74 - P6764: Memória dos lugares (93): Mais postais ilustrados (Parte II): Bafatá (Agostinho Gaspar)









Guiné > Zona Leste > Bafatá > s/d (c. 1966) > Postais ilustrados, Colecção Guiné Portuguesa, Edição Foto Serra, nº 136... De cima para baixo, edifício da administração de Bafatá (circunscrição) (as duas primeiras imagens); o mercado (3ª); a mesquita (4ª); a catedral (católica) (5ª); vista aérea (6ª); postal ilustrado nº 136, da edição Foto Serra.


Digitalização: © Luís Graça (2010). Direitos reservados.




Mapa da Guiné-Bissau > As oito regiões do país + o sector autónomo de Bissau: Biombo (3 sectores: Prabis, Quinhamel e Safim); Cacheu (7 sectores: Bigene, Bula, Cacheu, Caio, Calequisse, Canchungo e São Domingos); Oio (5 sectores: Bissorã, Farim, Mansabá, Mansoa e Nhacra); Gabu (5 sectores: Boé, Gabú, Pirada, Piche e Sonaco); Quínara (4 sectores: Buba, Empada, Fulacunda e Tite); Tombali (4 sectores: Bedanda, Catió, Komo e Quebo); Bolama / Bijagós (4 sectores: Bolama, Bubaque, Caravela e Uno).
A Região de Bafatá é composta pelos seguintes sectores: Bambadinca, Contuboel, Galomaro/Cossé,  Ganadu e Xitole. Sede: Bafatá.
 
A Região de Bafatá fica situada no Leste da Guiné-Bissau, fazendo fronteira com as Regiões de Gabú, Oio, Quínara e Tombali. Tem uma superfície de 5.981 Km2, e uma população de cerca de 225 mil habitantes (2008).
 
Bafatá, a segunda cidade do país na época colonial (com cerca de 4 mil habitantes no início da década de 1960),  tem vindo a perder importância face ao Gabu, verdadeira capital do chão fula. Terra natal de Amílcar Cabral, estima-se que Bafatá tenha cerca de 22 500 habitantes (2008). (LG)


1. Continuação da publicação de uma selecção de postais ilustrados da Guiné (*), da colecção do nosso camarada Agostinho Gaspar (ex-1.º Cabo Mec Auto Rodas, 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74), natural do concelho de Leiria.

Estas imagens foram obtidas a partir de um único postal ilustrado, igualmente aqui reproduzido, da famosa colecção "Guiné Portuguesa", edição Foto Serra, nº 136... 

Sobre Bafatá, temos 114  referências no nosso blogue,  mesmo assim muito abaixo de Bambadinca (c. 300)
 Não se pode falar de Bafatá, sem evocar o nome do nosso camarada Fernando Gouveia que fez lá a sua comissão, entre 1968 e 1970 e cuja série A Guerra Vista de Bafatá teve muito sucesso no nosso blogue. (LG)

_______________

Nota de L.G.:

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6763: Blogpoesia (76): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (3) (Manuel Maia)

QUISERA EU... (3)

por Manuel Maia*

Quisera um tempo breve em permanência,
viver de novo agora a experiência
que a guerra me impediu de "enriquecer"...
Ouvir as gentes, conhecer saberes,
fruir dos gastronómicos prazeres
das étnias várias conhecer...


Com horizontes muito limitados,
apenas com balantas vivenciados,
mau grado "mil locais de permanência"...
A sede, de saber de outras gentes,
de povos, de culturas tão diferentes,
impele-me à viagem com urgência...


Quisera ver o sonho realidade,
vivido com a força, intensidade,
dos tempos d`outro tempo, aqui vos digo...
Quisera um nome dar a esta ideia
de achar para a Guiné a panaceia,
p`rós males de que enferma, qual castigo.


Quisera eu ver sentir naquele povo,
a fé no seu porvir, surgir de novo,
a vida é uma constância de esperança...
Se o acreditar fenece um breve instante,
p`ra dar lugar à prece, doravante,
o mundo está carente de mudança...


Nos centros de abastança e vida estável,
sorriso de criança é inigualável,
qual dom do céu, dos deuses um presente.
No mundo da africana condição,
da fome, da doença, sem ter pão,
dos rostos, essa imagem está ausente...


Quisera ter poderes p`ra libertar,
da malhas da miséria e do penar,
do jugo da ignorância, escuridão...
Quisera ser um deus, mesmo menor,
p`ra erradicar doença, fome, dor,
levar felicidade ao povo irmão...

__________

Notas de CV:

(*) Manuel Maia  foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74.  

Vd. postes da série de:

14 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6737: Blogopoesia (74): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (1) (Manuel Maia)
e
16 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6748: Blogpoesia (75): Saudades daquele tempo, ou Quisera eu... (2) (Manuel Maia)

Guiné 63/74 - P6762: Antropologia (19): Os muçulmanos face ao poder colonial português e ao PAIGC (Eduardo Costa Dias)










Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Festa do  Ramadã... Imagens (belíssimas) do nosso saudoso camarada Zé Neto (1929-2007), convertidas de slides, muito usados na época.

Fotos: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.


Simpósio Internacional de Guiledje (Guiné-Bissau, Bissau, 1-7 de Março de 2008)> Comunicação de Eduardo Costa Dias (ECD), novo membro da nossa Tabanca Grande (*)


Bissau > 4 de Março, 17h30/18h00 > Painel 1 > Guiledje e a Guerra Colonial/Guerra de Libertação. Moderador: João José Monteiro (Universidade Colinas de Boé)

Título da comunicação de ECD > Papel e influência das dinâmicas sócio-religiosas e políticas nos movimentos de libertação nacional na África Ocidental: o caso da Guiné-Bissau

Sinopse da comunicação

O assunto desta comunicação tem directamente a ver com as diferenças de peso, de dinâmica e de tempo de intervenção que muçulmanos (**) e seguidores das religiões ditas tradicionais tiveram no movimento de libertação nacional liderado pelo PAIGC na Guiné-Bissau.

Trata-se, do meu ponto de vista, de um tema de grande importância para a compreensão, por exemplo, das razões sócio-politicas e político-religiosas da, globalmente, menor presença dos muçulmanos durante todo o período da luta de libertação, nas fileiras da guerrilha.

Com efeito, embora muitos muçulmanos tivessem, a título individual, integrado a guerrilha e alguns nela desempenhado papéis político-militares de relevo, durante a luta de libertação, a larga maioria dos membros do establishment muçulmano guineense (dirigentes das vários ramos guineenses da confraria qadriyya e da tijâniyya, imãs, letrados, régulos, etc.) teve um papel pouco colaborante com o PAIGC e muitos mesmo de assumido colaboracionismo com o poder colonial.

Nesta comunicação procurarei, descrevendo o quadro sócio-religioso da Guiné-Bissau e enumerando alguns dos acontecimentos mais marcantes das relações tecidas, antes e durante a luta de libertação, pelos dignitários muçulmanos guineenses com o poder colonial, questionar globalmente o papel dos vários grupos religiosos não cristãos durante a luta de libertação nacional e, numa dimensão mais precisa, aduzir elementos para a compreensão das razões da manifesta hostilidade por parte da maioria do establishment muçulmano guineense para com a luta de libertação.

Na minha opinião, as razões desta hostilidade não se radicam, no fundamental, na eventual incompatibilidade entre o Islão e o ideário filosófico-político proclamado pelo PAIGC ou na simples discordância sobre os métodos seguidos por este movimento na luta pela independência da Guiné-Bissau, mas sim em questões fundadas na política de alianças com o Estado seguida pelos dignitários político-religiosos muçulmanos guineenses e de um modo geral pelos dos países vizinhos desde os anos 1880-1890. Entroncam, na política dita do muwalat (“acomodação sob reserva”/”coabitação” com o Estado) encetada pelos dignitários muçulmanos no 3º quartel do século XIX em toda a África Ocidental e que, como o atestam, no caso guineense, a antiga “tradição” de aliança com o Estado colonial, a oposição do establishment muçulmano à luta de libertação e a “reentrada” na área do poder de muitos dignitários passado pouco tempo sobre a independência da Guiné-Bissau, transitou, nos seus contornos fundamentais, da situação colonial para a pós-colonial.

Cabral, fino conhecedor do xadrez social e político-religioso da Guiné-Bissau (***), tinha, bem antes do início da luta de libertação, consciência da tendência “estrutural” do establishment muçulmano para acomodar-se ao “poder do momento”,  qualquer que ele seja! Disse-o nos seus escritos, teve-a em atenção no delinear da estratégia de mobilização das populações para a Luta. (****)

______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 18 de Julho de 2010 >  Guiné 63/74 - P6758: Tabanca Grande (231): Eduardo Costa Dias, antropólogo, CEA / ISCTE / IUL

(**) Alguns dos nossos marcadores/descritores, relacionados com esta problemática:

Animismo (2)
Antropologia (21)
Balantas (25)
Cherno Rachide (9)
Colaboracionismo (6)
Corão (2)
Fulas (45)
Historiografia da presença portuguesa (30)
Islamismo (17)
Islão (10)
Mandingas (38)
Mutilação Genital Feminina (13)
Ramadã (2)
Religião (14)
Tabaski (1)


(***) Vd., entre muitos outros, o poste de 30 de Junho de 2008  > Guiné 63/74 - P3000: Amílcar Cabral: nada mais prático do que uma boa teoria (Luís Graça)

 (...) Quanto aos fulas, o fundador, dirigente e teórico do PAIGC fala deles em termos de uma forte “estratificação social”. Em primeiro lugar, temos (i) os chefes, os nobres e os dignatários religiosos (por ex., o Cherno Rachid de Aldeia Formosa); vêm depois, (ii) os artesãos e os jilas ou comerciantes ambulantes (que circulam pela Guiné, Senegal e Guiné-Conacri); finalmente, e na base da pirâmide social , (iii) os camponeses.

Sobre o grupo dirigente, Amílcar Cabral diz o seguinte:

“Os chefes e a sua comitiva têm ainda, a despeito da conservação de certas tradições relativas à colectividade das terras, privilégios muitos importantes no quadro da propriedade da terra e da exploração do trabalho de outrem. Os camponeses que dependem dos chefes são obrigados a trabalhar para eles um certo período do ano”.

Daí chamar aos fulas, aliados históricos dos portugueses, um grupo semi-feudal.

Os artesãos desempenham um papel importante na sociedade fula, constituindo um núcleo embrionário de uma indústria de transformação da matéria-prima: do ferreiro, na base da escala, até ao artesão do couro. Os comerciantes ambulantes (jilas) são os que têm, na prática, a possibilidade de acumular dinheiro. Por fim, os camponeses: em geral desprovidos de direitos, seriam os “verdadeiros explorados da sociedade fula”.

A estratificação da sociedade fula também pode ser vista a partir da família, extensa, que é a sua célula: a família de um homem grande é constituída pela morança; um conjunto de moranças formam uma tabanca; um conjunto de tabancas um regulado; e por fim, os regulados fulas estão associados ao chão fula (Leste da Guiné, compreendendo hoje as regiões de Bafatá e de Gabu), uma entidade territorial e simbólica, ligada à conquista.

Aqui a mulher não goza de quaisquer direitos sociais: participa na produção sem quaisquer contrapartidas; por outro lado, a prática da poligamia significa que ela é, em grande parte, propriedade do marido.

Estranha-se, não haver aqui uma referência ao fanado feminino e sobretudo ao profundo significado sócio-antropológico que tinha (e tem) a Mutilação Genital Feminina entre os Fulas (mas também entre os Mandingas e os Biafadas). Será que Cabral tinha consciência das terríveis implicações, para a mulher, desta prática ancestral, e também aceitava tacitamente em nome do relativismo cultural, tal como os antropólogos colonialistas ? Não conheço nenhum texto em que o ideólogo do PAIGC tenha tomada posição sobre este delicado problema. (...)