quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7125: Historiografia da presença portuguesa em África (39): António Silva Gouveia, fundador da Casa Gouveia, republicano, representante da colónia na Câmara dos Deputados, na 1ª legislatura (1911-1915) (Parte III) (Carlos Cordeiro)




Guiné > Bissau >  Fortaleza da Amura >  1908 > Expedição enviada pela metrópole em 1908 . Foto do Arquivo Histórico Militar, Lisboa.  Fonte: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (ed. lit.), Nova História Militar de Portugal, Vol. 3.  Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, p. 266

(Foto editada e reproduzida por L.G. , com a devida vénia... Digam lá se não parecem mesmo uns soldadinhos de chumbo, estes camaradas que combateram forte e feio no Oio, em 1908; estive em 7 de Março de 2008 na fortaleza da Amura, em Bissau,  e juro ter reconhecido o fabuloso poilão que aparece aqui na foto de 1908...).

Da cronologia constante da obra acima citada (e cuja leitura se recomenda), retira-se a seguinte informação: 

17 de Junho de 1913: "A campanha do Oio termina vitoriosa com a implantação de um posto militar em Mansabá e a captura de elevado número de armas!" (p.450)... 

Em relação ao ano de 1908, pode ler-se,  p. 490:  

(i) "O capitão José Carlos Botelho Moniz parte de Cacheu contra os felupes de Varela que se  negavam a pagar impostos, atacando e destruindo a povoação, quebrando o mito de os Brancos não entrarem em território felupe e desarmando os de Jufunco e Egim (10 a 16 de Março)";

(ii) "O governador Oliveira Muzanty, obtendo reforços da Metrópole, organiza a maior expedição efectuada na Guiné até 1963. vencendo a resistância biafada emcabeçada por Unfali Soncó em Cuor e Ganturé e restabelece as comunicações entre Bissau e Bafatá (5 a 24 de Abril)";

(iii) "A expedição enviada à Guiné no tempo do governo Muzanty regressa à metrópole (15 de Maio)".

Sobre o Arquivo Histórico Militar convirá dizer que é o fiel depositário do principal património documental do Exército, incluindo valiosos fundos e colecções, relativos às campanhas militares em Portugal, na Europa e nos territórios coloniais e ultramarinos, em especial dos séculos XVIII a XX. Para mais informações consultar Actividades/Serviço de Atendimento Público e também o Guia de Fundos. Horários: Seg a Sex: 10h30-18h (requisições até às 16h30h). Endereço: Largo dos Caminhos de Ferro, 2, 1100-105 Lisboa / Telefone: 218 842 563 / Fax: 218 842 514 / E-Mail: ahm@mail.exercito.pt. / Acessos: Autocarros: 9, 12, 28, 35, 39, 46, 90, 104, 107, 203, 206, 210. Metro: Santa Apolónia. (LG)
 














Lisboa > Câmara dos Deputados > Intervenção do deputado António Silva Gouveia, representante da Guiné  > Sessão de 19 de Junho de 1913  (Com a devida vénia... 

Fonte:  Direcção de Serviços de Documentação e Informação da Assembleia da República, a quem, na qualidade de ex-combatentes na Guiné,  estamos reconhecidos pelo trabalho de digitalização efectuado e pela sua divulgação na Net).


1. Continuação da publicação de excertos de intervenções do deputado António Silva Gouveia, empresário, fundador dsa Casa Gouveia, representante da Guiné na Câmara dos Deputados, na legislatura de 1911-1915.  Pesquisa de  Carlos Cordeiro, membro da nossa Tabanca Grande, Professor de História Contemporânea na Universidade dos Açores, São Miguel, Região Autónoma dos Açores  (foto à esquerda). 





Nota de CC

Nesta sua nova intervenção, também curta e directa como é timbre de um “prático”, como por vezes se autodefinia, o deputado Silva Gouveia trata de três assuntos. As dúvidas, que convosco partilho, dirigem-se sobretudo ao caso dos “grumetes”.

Os grumetes eram nativos mais ou menos cristianizados, de diversificadas origens étnicas. Como tinham familiares nas povoações, eram óptimos intermediários no comércio de Bissau e Bolama, além de servirem nas diversas tarefas ligadas ao comércio e à navegação. Viviam em Bissau, fora das muralhas, e em Bolama, misturados com a população local. Variavam de alianças conforme os interesses em jogo[1]

Em 1892, nas negociações para pôr termo a sangrentos combates entre as tropas fiéis a Portugal e os papéis auxiliados pelos grumetes, estes reconheceram­‑se súbditos de Portugal, devendo obediência aos administradores. A partir daí, os grumetes foram chamados a participar em campanhas de ocupação efectiva do território.

É possível que aquela “última guerra” de que falava o deputado se referisse aos combates contra os papéis para a conquista da ilha de Bissau. De facto, nessa campanha de 1908-1909, os grumetes afirmaram-se aliados dos portugueses, sendo pois natural que daí tivesse resultado a destruição, pelos papéis, das suas casas.

Compreende-se, assim, a posição do deputado relativamente aos grumetes: no fundo, além de serem essenciais à boa marcha dos negócios, demonstravam também fidelidade aos portugueses, partilhando com as nossas tropas as agruras e os dramas de campanhas bem violentas contra diversos régulos e suas tropas. Como homem de negócios, era natural que pretendesse a poupança nos gastos públicos, sobretudo os respeitantes à Guiné. Daí, talvez, o seu pedido para que não fossem enviadas tropas da metrópole, como tinha acontecido em 1908, com o desembarque de uma força metropolitana de cerca de três centenas e meia de oficiais e praças que se manteve na Guiné dois meses.

Só que… afinal nem António Silva Gouveia conseguiu antecipar o comportamento futuro dos grumetes, que tanto louvara. Em 1915, aliados aos papéis, os grumetes atacaram tropas portuguesas, comandadas por Teixeira Pinto. Com a vitória dos portugueses, dava-se por finda a “pacificação” da Guiné[2].
 


[1] Veja-se Wilson Trajano Filho, “O trabalho da Crioulização: as práticas de nomeação na Guiné colonial”, consultável em  www.scielo.oces.mctes.pt/pdf/etn/v12n1/v12n1a06.pdf

[2] As informações relativas às campanhas militares na Guiné nesses anos foram retiradas de: Manuel Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira (dir.), Nova História Militar de Portugal, III vol., Lisboa, Círculo de Leitores, 2004, pp. 264-270.


[Continua]

[ Revisão / fixação de texto / título / edição de imagens: L.G.]


__________

Nota de L.G.: 


Ainda sobre a figura dos grumetes, acima referida :

"Os grumetes eram africanos que, vivendo nas povoações luso-africanas e adoptando com grande liberdade os hábitos cristãos e os modos lusitanizados de ser, operavam como remadores, construtores e pilotos de barcos, carregadores e auxiliares no comércio.

"Como categoria sociológica, eles desempenhavam um papel chave no frágil compromisso em que a sociedade crioula se fundava, sendo os intermediários que faziam a delicada mediação nos relacionamentos entre a minoria de comerciantes europeus e luso-africanos e os régulos das sociedades tradicionais africanas que produziam bens para exportação".  (Wilson Trajano Filho, da Universidade de Brasília, in Outros Rumores de Identidade na Guiné-Bissau)".



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7124: Blogoterapia (160): É com orgulho que passo a vossa palavra, a vossa lição de vida (Cátia Félix)

1. Mensagem da nossa amiga Cátia Félix, com data de hoje, 13 de Outubro de 2010:

Amigo Luís
Venho por este meio agradecer por não se terem esquecido de mim. Acreditem que vocês estão sempre no meu coração.
Transcrevo o meu comentário, como agradecimento...

Agora é a minha vez amigos...
Todas as noites clico no link do nosso "cantinho" (blog) e delicio-me com as vossas histórias...
Como devem perceber, ontem não o fiz porque cheguei tarde a casa (ai a malandreca eheh)...

Mas, meus queridos amigos(as) se ontem tive uma tuna académica a cantar-me os parabéns, HOJE ao chegar aqui recebi o meu maior presente: a lembrança, a amizade, o carinho, o calor, o abraço de todos vocês. Tudo o que sempre recebi desde o 1.º dia.

Mas acreditem mesmo, que nunca me esqueço de vocês, de tudo o que significam para mim e deveriam significar para o nosso país, este Portugal que neste momento se encontra em "guerra" mas ninguém tem agora a vossa coragem para o defender.

É com todo o orgulho que sempre que posso, passo a vossa palavra, a vossa lição de vida. A minha mensagem não vai parar de ser transmitida, assim como vos prometi.

Um beijinhos enorme e um xiii coração apertadinho em todos vós
Cátia Félix


Beijinhos
Cátia Félix
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Notas de CV:

Vd. poste de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7114: Parabéns a você (164): Jovem tertuliana Cátia Félix (Miguel Pessoa / Tertúlia / Editores)

Vd. último poste da série de 6 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7090: Blogoterapia (159): Paradoxo e uma Orquídea (Torcato Mendonça)

Guiné 63/74 - P7123: (Ex)citações (98): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (Hélder Sousa / Belarmino Sardinha)

1. Incentivados pelo nosso camarada José Manuel Matos Dinis, alguns elementos do chamado Grupo do Cadaval propuseram-se a comentar o texto publicado no Poste 7117.

Vamos começar pelas contribuições dos camaradas Hélder Sousa e Belarmino Sardinha



2. Hélder Sousa

Caríssimo Zé Dinis
Enviaste-me um texto sob o título acima indicado e pedes colaboração pela leitura e apreciação do mesmo.

Não me recuso a fazê-lo, embora não alcance o que realmente pretendes.
O que escreves não tem oposição da minha parte.

No início, partes das tuas preocupações familiares para teorizares, e bem, sobre a 'formatação' das mentes, das opiniões, do sentir (ou até da ausência disso tudo), para concluíres sobre a 'perversão do conhecimento'. Nada a opor ao que dizes e te preocupa, a não ser o reforço da tua ideia referindo exemplos do dia-a-dia, até também no Blogue, o que é perfeitamente natural, pelo menos para mim, que teorizo ser o Blogue uma amostra relativamente representativa do universo nacional.

Segues depois com uma frase interessante, sendo até óbvia, e que é: Porque, na verdade, se não sabemos, não temos opinião própria. Apenas reproduzimos opinião, de sentido continuado, ou de sentido contrário. Isto depende de alguns pressupostos enquanto ouvintes, ou leitores, de opiniões. Isto leva-nos a considerar que a formação da opinião deve sempre ter por base uma sólida consistência, obtida por experiência própria ou por busca de conhecimento.

Aqui há um perigo.... que é "se não estavas lá, não podes falar, não tens conhecimento directo, não tens experiência disso que estás a falar", ou também um outro perigo que é o de se questionar sobre as "fontes" onde se vai adquirir o conhecimento 'não-directo'.

Quanto à primeira parte é muitas vezes um 'argumento' para 'calar' o interlocutor, mas é falácia. Então como se pode falar da viagem de Vasco da Gama? 'Não estavas lá'!. E da defenestração do Miguel de Vasconcelos? 'Também não estavas lá'! É claro que se pode 'falar' sobre esses assuntos, o que se tem é de ter a cautela de dizer 'segundo o meu ponto de vista', ou 'segundo a minha opinião', ou ainda 'de acordo com o que li sobre isso'. Torna-se de facto, dessa forma, uma opinião pessoalizada, mesmo tendo por base uma informação recolhida algures.

Quanto à escolha das 'fontes', pois isso é um outro problema. Uma atitude intelectualmente honesta é aquela que tenta fazer a prova do que lê, coloca a dúvida metódica e tem cautelas e reservas em 'enfileirar' desbragadamente na primeira corrente que aparece. Um pequeno exemplo: quantas vezes já lhes apareceu um pretenso (repararam? escrevi 'pretenso'!) documento 'oficial' do Rosa Coutinho a tornar 'público e notório' o seu comprometimento com o MPLA? E questionaram sobre a veracidade dele? Por um bocadinho que fosse? Pois, a tal dúvida metódica...

Calculo que os cuidados que atrás refiro podem ser aqueles que justificam a tua frase, que se segue: E como somos sociais, pode acontecer ocasiões em que, sem termos a sabedoria adquirida sobre certa matéria, apenas o conhecimento que resulta do contacto com ela, sem ocasião para reflectir interpretativamente, apesar disso, somos capazes de tomar posição, defendendo-a, ou atacando-a, com maior ou menor tenacidade. E o essencial, nessas alturas, não passará de uma treva. Mas pode-se formar correntes de opinião e conduzir as pessoas por caminhos errados, daí, que me pareça necessária alguma temperança antes de enfileirar em movimentos.

Segues depois referindo situações que frequentemente se encontram no nosso Blogue e parece-me que propões que nos documentemos o melhor e o mais possível para defender as posições que entendermos tomar.

Parece-me justo! Mas acho que, de um modo geral, é aquilo que fazemos.

Olha, há pelo menos uma questão que é bem notória e que acho se deve ter algum cuidado em abordar. Trata-se do velho 'cavalo de batalha' sobre a alegada tese da 'guerra perdida' e que tem sido sistemática e metodicamente colocado de modo a tentar ganhar cada vez mais adeptos para o combate a essa alegada teoria. Às vezes parece-me que se procura passar do combate à teoria da 'guerra perdida' para a tese da 'guerra praticamente ganha', captando as sensibilidades daqueles que conseguem convencer que estão a ser chamados de cobardes e depois....

Portanto, como vês, para comentar o teu texto acabei por me espraiar por diversas áreas pois não atinei com o teu objectivo concreto. Posso, em resumo, dizer que concordo com a sua substância, que comungo das tuas preocupações e que estou atento às tuas sugestões.

Um abraço
Hélder


3. Belarmino Sardinha

Meu caro Zé Dinis,
Respondo ao teu texto, começando por dizer que o vi já tarde e depois de ter lido a resposta que o Hélder enviou, estou assim beneficiado e mais rico na leitura que ambos me proporcionaram e mais ainda na reflexão a que fui obrigado. Ainda bem que existem amigos que nos levam a pensar, pela nossa cabeça evidentemente, caso contrário era uma vida muito menos interessante, digo eu.

Fiquei um pouco como o Hélder, sem perceber concretamente a razão ou o objectivo, mas é um desafio interessante e beneficiando da análise soberba do Hélder, com a qual concordo, parece-me compreender o que dizes e pretendes. Levantas uma questão pertinente, quando alguém fala de coisas que desconhece e/ou faz afirmações sem qualquer base de suporte, mas como já respondeu o Hélder e eu concordei, não vou aqui procurar outras palavras para dizer o mesmo.

Fazendo um pouco a comparação com o teu início de texto, sem querer fazer comparação com o teu neto, maravilhoso estou certo, tenho um pássaro “amigo” (digo amigo porque não é meu e morde ao dono, a mim não), papagaio, que responde ao que ouve, por vezes com elevada certeza, contudo não tem conhecimento, digo eu sem que o possa afirmar, falta-me a base científica para o provar, apenas o digo por que não foi à escola e não aprendeu pela cartilha em que todos aprendemos, mas, também esta afirmação me levanta dúvidas, não sei se fomos todos, afirmação que não posso fazer nem comprovar, mesmo sendo habitual e comum dizer-se isto…

Ficaríamos eternamente com exemplos de afirmações, frases feitas e tudo o mais, “vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar” podemos tecer opiniões e formular juízos sem, contudo, podermos fazer prova, limitámo-nos a acreditar no que alguém escreveu ou disse e serve de ponto de partida para a intervenção que, dependendo da receptividade, variável com o estado emocional na altura, com a atenção/dedicação dispensada, com a própria capacidade de apreensão/compreensão etc. etc. etc.

Também concordo com o Hélder ao lembrar que esta necessidade de esclarecimento, a que chamo bate-papo escrito, tem como base o blogue, é nele que normalmente comentamos ou escrevemos e onde é susceptível aparecerem coisas difíceis de provar, mas parece-me ter sido mesmo essa a razão da criação do blogue, se não estou errado, cada um contar a sua história para não serem os que nada sabem a contá-la, deturpando ou moldando os factos consoante os interesses. Esse é um risco que se corre, tal como diz o ditado “no melhor pano cai a nódoa”.

Pela minha parte, subscrevendo na quase totalidade o que já havia sido escrito pelo Hélder admito não estar isento de falhas. Mas atenção, não defendo nem reconheço qualquer valor a quem diz ou escreve tudo o que lhe apetece ou vem à cabeça sem uma base mínima de conhecimento ou informação considerada fidedigna.

Finalizo lembrando que o debate de ideias é saudável e salutar, desde que feito com regras de educação, medidas que a idade e experiência de vida nos conferem, sem certezas absolutas ou decisões inalteráveis e respeitando as opiniões divergentes, se não obrigados a segui-las.

É tudo por agora,

Um abraço
BS
__________

Nota de CV:

Vd. poste de 12 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7117: (Ex)citações (97): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (José Manuel Matos Dinis)

Guiné 63/74 - P7122: Convívios (278): 40 anos depois... Pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70 (António Rodrigues)














Vila Nova de Famalicão > 9 de Outubro de 2010 > Convívio do pessoal do Comando de Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70... Legenda da foto de grupo: Saavedra (1) e esposa (2), Manuel Rodrigues (3), Aristeu Tichas (4), Belmiro Moreira (5), Carlos Gomes (6), Carlos Cocho (7) e esposa (8), Esposa do António Rodrigues (9), Fernando Gouveia (10), Belmiro Santos (11), Avelino Resende (12) e António Rodrigues (13).


Foto: © António Rodrigues (2010). Todos os direitos reservados



1. Mensagem do nosso camarada António Rodrigues (ex-1º Cabo, Agrupamento nº 2957, Bafatá, 1968/70):


Amigo Luis Graça e camaradas do blogue, boa tarde a todos. É com enorme satisfação que volto a este lugar para dar conta de que, felizmente, e depois de 40 anos de pesquisa em pesquisa, sempre consegui reunir um punhado de bravos camaradas do CAGRUP 2957, como o meu amigo Hélio Felgas gostava de o tratar o Agrupamento como tal.

Como disse, depois dum aturado trabalho, de papéis para aqui, telefonemas para ali, eis que consegui reunir os amigos que as fotos juntas documentam. Peço desculpa desde já por este grande interregno, mas andei, ando, numa roda viva para encontrar todos, pois parte deles para meu desgosto, mesmo já depois de confirmada a sua vinda ao encontro, acabaram por inesperadamente falecer, e alguns mais, dado ainda os seus afazeres profissionais e ou familiares e saúde - como foi o caso do Major General Manuel Duarte Pedrosa, dada a idade avançada (89 anos) -   não se puderam juntar a nós.

Mas ficou prometido que quando um novo encontro se realizar mais ao centro, estará presente o ex-Sargento Heitor Varela, ausente desta vez também pelas mesmos motivos  -78 anos, muito debilitado das pernas, e dado se ter de deslocar do Algarve até V.N.Famalicão. Há o Miguel, sim o Miguel também se encontra debilitado,  foi-lhe amputada uma perna!!!... Bem fico-me por aqui...

Luis Graça, aproveito para junto enviar umas fotos do convívio [, realizado no dia 9 do corrente], das quais fazem parte o Fernando Gouveia, de quem sou amigo, me tornei, já que no CAgrup estivemos a trabalhar juntos... Agradeço a sua publicação e, se possivel for, faz referencia ao link em que as fotos todas e os videos vão estar disponiveis.

Aproveito para enviar também a minha foto à militar que nunca mais enviei, porque de todo não tinha mais passado por aqui. Vou fazer um novo percurso a partir de agora, espero ser mais pontual no aparecimento por aqui para ver se encontro o resto do pessoal em falta e obrigar os já encontrados a aderir a este nosso grande meio de nos encontrarmos. 

O meu muito obrigado pela atenção que, estou certo, me vais dispensar...
Desculpa toda esta ladainha, mas eu não sou capaz de parar depois de começar a escrever ou z falar. Se achares este escrito muito grande, por favor CORTA, o que entenderes estar a mais, uma boa reprimenda aos alunos mal comportados faz bem. E eu gosto de ser avisado que estou a exagerar, daí pedir me digas como, onde e como me devo portar na escrita, para não te ocupar tempo e espaço. Não quero estar a encher o blogue com coisas que não podem nem devem ser escritas para evitar problemas. O meu obrigado e as desculpas pelo exagero da minha parte... 




Guiné < Zona Leste > Bafatá > Comando de Agrupamento nº 2957 (1968/70) > O 1º Cabo António Rodrigues.




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Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 28 de Junho de 2008 > 
Guiné 63/74 - P2993: Tabanca Grande (77): António Rodrigues, ex-1.º Cabo do Agrupamento 2957 (Bafatá, 1968/70)
(...) Estive em Bafatá, Guiné, desde Outubro de 1968 a Abril de 1970 e como até esta data ainda não tive o prazer de encontrar nenhum camarada do meu tempo, nessa missão, e como já se passaram 40 anos, ou melhor, faz este ano os 40 anos da nossa partida para a Guiné, gostaria de encontrar os meus e outros camaradas de armas desse tempo, pois convivi com o pessoal do Agrupamento 2957.

Como estava na parte de Operações e Informaçoes, privei de perto com o Gen Spinola, Cap/Gen Almeida Bruno, Maj Carlos Saraiva/Lamego, Cor Teixeira da Silva e o meu grande amigo Cor/General Hélio Felgas.
Com ele tive a felicidade de no ano passado ter uma conversa ao telefone e hoje lembrei-me dele, mas como não sei da sua saúde, até tenho receio de voltar a ligar e já não o encontrar.

Gostava de poder fazer parte desta tertúlia, pois só agora disporei de algum tempo e gostava de falar convosco, se isso me for permitido, pois também tenho algumas boas/más recordações da Guiné, como por exemplo a Operação Lança Afiada, que foi por mim escrita e reescrita não sei quantas vezes, mas isso fica para mais tarde.

Vi o Spínola a chorar em Bafatá com a barba por cortar de cinco dias e o Hélio Felgas abraçado ao Teixeira da Silva, também a chorar. (...

 Pertenci ao COM AGRUP 2957, Bafatá-Guiné 1968/1970.

Estou a viver, como sempre, em Vila Nova de Famalicão e gostava de deixar o meu contacto, pois estou reformado e estou sempre disponível, até mesmo para os e-mails que possam aparecer, já que aprendi a lidar com estas coisas novas (...)

Antonio Azevedo Rodrigues (...)

Guiné 63/74 - P7121: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (22): Fotograma do Honório com o Cap Neto (Jorge Félix)



1. Mensagem do Jorge Félix, com data de 13 de Maio p.p.:

Assunto: Foto/frame do Honório

Caro Luís,

Sempre atento e leitor dos "nossos" postes, diariamente lá vou espreitando, pondo assim o tratamento das maleitas africanas no seu devido lugar.

Tenho na lembrança que pedias uma foto do Honório, figura lendária da "Guerra" da Guiné.

Não é uma foto, são uns fotogramas de um video que "rola" por aí. Não te envio uma lenda mas sim duas. Junto está o Cap Neto, que o pessoal de Nova Lamego, Bafatá, Bambadinca,  dos idos de 68/69, devem recordar.

Uma foto que cheira a Gin, mesmo sem tónica.

Abraço

Jorge Félix [, foto à esquerda].

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Nota de L.G.:

Último poste da série > 29 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6276: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (21): Fotografias de pilotos em Cufar, Dezembro 73/Janeiro 1974 (António Graça de Abreu)

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Guiné 63/74 - P7120: Ser solidário (91): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira)

1. No passado dia 25 de Setembro de 2010, a Tabanca Pequena levou a efeito, na Senhora da Hora, Concelho de Matosinhos, um Sarau Cultural* cujo fim era a angariação de fundos para os seus projectos de angariação de Sementes e abertura de poços de água potável na Guiné-Bissau.
Desse acontecimento damos notícia, publicando o Poste 492 da Tabanca de Matosinhos, de autoria do nosso camarada José Teixeira.



SARAU CULTURAL

Com o objectivo de angariar fundos para o nosso projecto “Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau", tendo em vista o pagamento das despesas contraídas com a abertura de um poço de água potável em Medjo no Sul da Guiné, o qual já se encontra construído, a Tabanca Pequena promoveu no passado dia vinte e cinco de Setembro um almoço seguido de Sarau Cultural em parceria com o Club Lions da Senhora da Hora e do CIVAS – Centro de Infância, Velhice e Acção Social da Senhora da Hora.

Esta Associação teve a amabilidade de nos ceder graciosamente as excelentes instalações que possui na Senhora da Hora.

O empenho das Associações intervenientes foi de tal modo elevado, que a participação no evento excedeu todas as nossas expectativas, tendo havido necessidade de encerrar as inscrições por falta de espaço para acolher todos aqueles (as) que mostraram vontade de estar connosco nesta Festa de angariação de fundos. Agradavelmente, muitos dos participantes não são ex-combatentes o que nos alegra profundamente.

Salientamos a presença de todo o executivo da Junta de Freguesia da Senhora da Hora, da Direcção do CIVAS, da Associação Serpa Pinto com Sede em Cinfães do Douro, e membros dos Clubes Lions da Senhora da Hora e da Trofa, liderados pelo nosso camarada “tabanqueiro” Jaime Machado, Presidente do Clube Lions da Senhora da Hora.
Registe-se ainda a agradável presença de duas senhoras “Lionistas”que se deslocaram do Algarve propositadamente para participar na festa, bem como dois ex-combatentes que se deslocaram de Cascais a Matosinhos. Outros vieram de Famalicão pela primeira vez, todos para dar mais força ao nosso projecto.

Depois do almoço, seguiu-se uma tarde cultural animada com fado, poesia e fado de Coimbra.
A jovem Francisca Silva deleitou-nos com a sua excelente voz de fadista, acompanhada à guitarra por Joaquim Martins e à viola por David Guimarães nossos camaradas e ex-combatentes da Guiné.
A primorosa guitarra do Prof. Pedro Pinto e a viola do nosso camarada Álvaro Basto, deliciaram os presentes com algumas belíssimas guitarradas de Carlos Paredes, Pedro Caldeira Cabral e Francisco Filipe Martins
O Conjunto ” Do Choupal até à Lapa”, que teve à guitarra o Almeida Ulisses e o Joaquim Martins e à viola o David Guimarães, para além de magníficas guitarradas que sabiamente souberam tirar dos seus instrumentos, acompanharam a voz do Carlos Costa, nosso camarada de tertúlia de velha data no fado de Coimbra que ele tão bem sabe interpretar com a sua excelente voz de tenor.
Na poesia, o Fernando Santos, deliciou-nos com alguns poemas do seu reportório acompanhado pelo djambé que seu filho tocou primorosamente.
O Zé Teixeira interpretou alguns dos seus poemas escritos durante Guerra Colonial.

Já era quase noite quando os participantes se dispuseram a seguir para suas casas, contentes e felizes por um dia bem passado.

Feitas as contas, verificamos com satisfação que os donativos recolhidos ultrapassaram os 1.300 €, o que quase garante o pagamento das obras do poço de Medjo.

A toda a equipa da organização, a todos os que quiseram participar e contribuir para a causa e sobretudo aos que nos deliciaram com a sua arte e engenho os nossos mais profundos agradecimentos.

Seguem-se algumas fotografias bem elucidativas da forma como a FESTA aconteceu.

Zé Teixeira

A Sede do CIVAS na Senhora da Hora, que nos acolheu amavelmente

Um pormenor da sala de jantar

Outro pormenor da sala

O Presidente da Tabanca Pequena na sua saudação inicial aos participantes

O Álvaro Basto no acolhimento das participantes oriundas do Algarve

Outro aspecto da Sala, vendo-se em primeiro plano o Presidente do CIVAS

O Salão Nobre do CIVAS, onde se realizou o SARAU CULTURAL

A fadista Francisca Silva acompanhada à guitarra pelo Joaquim Martins e à viola pelo David Guimarães

O Fernando Santos acompanhado pelo seu filho e outro amigo recitando poesias da sua autoria

Uma bela guitarrada do Prof. Pedro Pinto acompanhado à viola pelo Àlvaro Basto

O Conjunto " Do Choupal até à Lapa" e os seus fados de Coimbra
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6939: Ser solidário (84): Sarau cultural para angariação de fundos a favor da Guiné-Bissau (José Teixeira / José Rodrigues)

Vd. último poste da série de 9 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7104: Ser solidário (90): Missão a Dulombi. Vila do Conde > Guiné-Bissau, Outubro de 2010 (Fernando Barata)

Guiné 63/74 - P7119: História de vida (31): Monte Novo das Flores e a minha paixão pela natureza (Felismina Costa)

1. Mensagem da nossa tertuliana Felismina Costa* com data de 11 de Outubro de 2010:

Amigo Carlos vinhal
Espero que a história que tenho para vos contar valha a pena ser lida.
Para mim, ela é a realidade da minha adolescência, num espaço calmo e tranquilo, rodeada pelos meus pais e irmãos. Claro que a limitarei ao estritamente necessário, para que seja entendida a minha vivência, pacata e feliz, naquele espaço Alentejano onde nasci e cresci. Toda ela é real.


Monte Novo das Flores

Desde Menina que sou uma apaixonada pela Natureza.
Penso que deve ser uma herança dos quatro costados, como soi dizer-se, por aquelas bandas.

Nasci, e vivi, junto de meus avós maternos em Santa Luzia, no Concelho de Ourique, até aos onze anos.
Meu avô Carlos, pequeno agricultor, cultivava uma cerca, de uns cinco hectares, junto à casa onde vivia, e era igualmente um apaixonado pela terra. Desde muito pequena, que me encantavam aquelas lides. O cheiro da terra, o cheiro da erva, o orvalho matinal, e o expoente máximo daquele espaço, as flores campestres, que sempre aceitei como uma oferta Divinal, e que a Primavera me oferecia sem usura, cobrindo aquele chão moreno, a perder de vista.

Os tempos eram difíceis, o trabalho rareava, e meu pai achou por bem arrendar uma pequena quinta, de uns cinco hectares, (dividida por um pequeno ribeiro, que corria todo o ano), e que a troco de muito trabalho, nos proporcionava o sustento necessário.

Esse espaço, situa-se junto à estrada Nacional 263, que liga Beja a Odemira, insere-se num pequeno vale, num lugar de nome Vale Coelho, e o Monte, (porque cada casa tem o seu nome próprio), para além do pequeno aglomerado em que se insere, chamava-se, Monte Novo das Flores, e saindo de Santa Luzia, no sentido para Odemira, fica 2,5km a seguir.

Acho que foi das melhores prendas que a vida me deu!

Tinha onze anos quando os meus pais arrendaram esse espaço, e vivemos lá até aos meus 19 anos.
Era uma casa grande, e o Sol acordava dentro dela, espalhando os seus raios doirados, por todo o espaço circundante.

Tive a sorte de nascer no seio de uma família de grande sensibilidade, e de outros valores, que me fizeram crescer segura e feliz, valorizando a vida, no mais ínfimo pormenor.

Quando Março chegava, tudo floria.

As árvores nuas, cobriam-se de milhares de flores brancas e rosa, desenhando os meus livros de poesia.

A terra era preparada para as sementeiras de verão, e, dos braços do pai, saía a força e o saber, que transformavam aquele espaço inculto durante o Inverno, num tapete moreno e fofo, pronto a receber a semente, que em pouco tempo se transformava em alimento, em abundância, em prazer.

Terei que vos dizer que a nossa prol era formada por seis elementos: o pai, a mãe, e nós os quatro, eu sou a mais velha, a seguir dois rapazes e por fim outra rapariga, que teve o privilegio de nascer ali.

Os pais, já partiram há muito, mas permanecem, permanecem em nós, na nossa saudade, na nossa recordação, no nosso agradecimento, na nossa alegria, porque foram os nossos mestres, os professores da vida, da nossa vida: a seu lado, aprendemos a terra, os ciclos da vida, o prazer de semear e colher, saber que o esforço era recompensado, que à nossa volta tudo tinha o efeito das nossas mãos, moldava-se cada pé plantado, assistíamos ao seu crescimento, à sua floração, à sua fecundação, ao seu desenvolvimento, qual filho que ajudamos a crescer.

E, eu crescia encantada, saboreando o prazer do conhecimento daquelas lides em que participava activamente.

Para além disso, o ambiente era fantástico! A mãe educava-nos com poesias, a sua moral elevada, variava entre a atenção dada ao trabalho que não tinha fim, e à nossa formação que não descurava, quer pelo exemplo, quer falando connosco, testando as nossas capacidades, esclarecendo dúvidas, ensinando, formando. O pai, era como nós, um admirador da mãe e um ser extremamente sensível e ao mesmo tempo alegre e bem disposto, amigo!

A terra, dava tudo.

O trigo, as batatas, as favas as ervilhas, os frutos, uma imensa variedade de frutos, os vegetais, o azeite, enfim. O fim de cada dia, tinha o cheiro da Natureza pura e viva, os aromas misturavam-se e aspiravam-se a plenos pulmões, saudavelmente absorvidos. Chegávamos a casa cansados, mas felizes.

E as noites de Verão, magníficas, eram um encantamento para a minha alma simples e sonhadora de adolescente.

Em Julho, as cantigas das cigarras e dos grilos entoavam na noite, como caixas de música, cujo som recordo nitidamente.

O luar, claro e luminoso, iluminava a terra inteira, num céu de encanto, onde as estrelas brilhavam, onde a via-láctea se mostrava, qual estrada deserta, numa ascensão e queda, deixando-me a pensar, que por ela quantos milhões de anos teriam já passado.

Felismina Costa
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6881: Blogoterapia (154): Encontrei no Blogue seres humanos extraordinários, que admiro, preso e considero amigos, apesar de só os conhecer virtualmente (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 13 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6590: História de vida (30): O dever militar chamou-me: Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010),ex- 1º Cabo At Inf, CCAÇ 5, Canjadude, 1971/73) (José Corceiro)

Guiné 63/74 - P7118: Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (J. L. Mendes Gomes) (2): Oficial e cavalheiro: De trânsito por Tomar a caminho da Madeira



Tomar > Regimento de Infantaria 15 > Fachada do quartel > "O Regimento de Infantaria 15, no período de 1961 a 1975, torna-se uma das maiores unidades mobilizadoras de tropas que combatem na Guerra do Ultramar"...   Foto (e legenda) de Vitor Pessa, ex-Fur Mil, CCS/BCAÇ 3843 (Moçambique, 1971/73)... (Foto editada por L.G.)


Fonte: Blogue Batalhão de Caçadores 3843 (2009) (Com a devida vénia...)


1. Continuação da série Cartas, para os netos, de um futuro Palmeirim de Catió (*).  Autor: Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, repartindo actualmente o seu tempo entre Lisboa, Aveiro e Berlim e, por fim, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins, (Como, CachilCatió, 1964/66).




OFICIAL E CAVALHEIRO: Passagem por Tomar




Após breves dias, não de férias, como era costume, naquele ambiente de Pedra Maria, mas de descanso e espera pela designação da Unidade Militar onde iria ser colocado, se o resultado do curso em Mafra (COM) tivesse sido positivo, a carta com insígnias militares chegou. Surpresa. Aprovado ou não? Quando e para onde iria. Ia vê-lo, de seguida, mal o carteiro, chegasse à sua beira, depois do toque de corneta habitual, lá ao fundo da estrada.


Regimento de Infantaria nº 15, em Tomar, como Aspirante a oficial.


Óptimo. Uma sensação de segurança o invadiu, à mistura com a satisfação natural do resultado.


Durante os próximos anos, haveria rendimentos certos, para si e para sustentar o irmão mais pequeno. Era preciso  puxar por este, já que, andava arredio da escola primária. Onze anos e apenas na 3ª classe!… A guerra de África, essa, até podia  livrar-se de lá cair…quem sabe.


A guia de marcha, em 1ª classe de comboio até Tomar, para um dos dias primeiros de Janeiro, próximo, ali estava. Cama e mesa e um ordenado limpo de 1.500$00 ao fim do mês… uma  independência que nunca tinha sentido, até aí.


O futuro estava a começar… Mais cedo do que pensara. O curso superior tão desejado, ver-se-ia como, depois da tropa.


A notícia espalhou-se depressa por toda a família e lugar. Com alegria. A meia dúzia de ex-colegas seminaristas das bandas de Felgueiras estava em férias de Natal. Já não era seu colega, mas a ligação era muito forte. Não sabia girar ali sem eles. Havia que lhes dar conhecimento. Fariam muito gosto em saber.


Uma merenda em casa do Lemos, de Moure, ficou logo agendada como despedida. O Sebastião Hernâni, os 2 irmãos Simões e o Lemos. O vinho verde da adega dos pais do Lemos era uma maravilha. Estava ao dispor, como sempre. O presunto e o salpicão com broa, também…


Daquela vez, porém, era diferente. Além da alegria geral acompanhada das habituais cantilenas mais atrevidas, na escala seminarística…(a da caserna, essa, eles, não conheciam nem faziam ideia) só se lembra de ser tirado, para casa, ao colo, a partir do Morris Mini do Hernâni…


O resto ficou para eles contarem. Era a  primeira bebedeira da sua vida, a valer…


Chegou o dia da marcha. Vestido com farda cinzenta de cadete, de fino recorte, pôs os galões de aspirante nos ombros, que comprara, pelo sim, pelo não, em Mafra…. Uma fita dourada oblíqua sobre o fundo preto. Nem queria acreditar que já era um oficial como os seus instrutores de Mafra. Que iria fazer o mesmo que estes faziam, com os soldados recrutas. Vaidade e um sentimento de receio o invadia.


A mesma camioneta das 5 e meia da manhã para o comboio, em Paredes, até ao Porto. Daí até Santarém e depois no ramal de Abrantes.




QUARTEL DE TOMAR


Pela tarde desse dia, chegou pela 1ª vez a Tomar. Outros colegas conhecidos e desconhecidos de Mafra seguiam e desceram em Tomar. Uma camioneta militar aguardava-os, para transporte das malas.


Era o 1º quartel em que entrava, por direito próprio  e com um estatuto superior. A sentinela da porta de armas pôs-se e permaneceu em sentido enquanto os novos oficiais entravam.


Os aposentos dos oficiais e os corredores com um certo fausto abriam-se-lhes. A sala de oficiais, a biblioteca e o refeitório, tudo ficou ao dispor.


O  sentimento de dignidade que o envolvia recompensava todo o esforço que fizera nos 4 longos e duros meses de Mafra. Sentia-se bem. Sem esperar, atingira, enfim, um ambiente condigno como desejara nos tempos de seminário. Aqui, só ao cabo de mais uns 4 anos viria a encontrá-lo, se encontrasse…


Além disso, o mundo militar, embora diferente e despido de moralidades, era mais transparente e… são. Pão... pão..., queijo..., queijo… As beatices e hipocrisias do seminário surgiam-lhe, agora, mais ridículas que nunca… 


No entanto, este continuava a exercer uma influência perturbadora e permanente sobre ele. Como desejava  não ser reconhecido como ex-seminarista. E conseguiu-o, durante muito tempo, perante os colegas de pelotão em Mafra.


Só o Mendonça o sabia, porque era natural de Airães,  uma das muitas freguesias de Felgueiras. O seu pai era um conceituado médico da região…Os seus últimos anos de Coimbra foram de total quebra de relações com o rigoroso e preconceituoso pai, a censura parda das suas travessuras académicas e coimbrãs. Para sobreviver, teve de ir vender alfinetes e carrinhos de linha, nas feiras em redor de Coimbra, durante as férias.


Depressa reconheceu que a sua irreverência era só aparente. No fundo era um rapaz como outro qualquer. Com uma vantagem. Um óptimo colega, fixe e felgueirense. Com uma habilidade excepcional para lidar com os duros militares…sem os enfrentar, mas dando-lhe sempre a volta, com êxito. Apesar de ser o protóptipo do que um militar não devia ser.


No dia seguinte à chegada, seguiu-se a cerimónia da recepção aos novos oficiais, pelo corpo de oficiais superiores, general à frente.


Sentia-se um senhor. Os breves dias seguintes foram de organização e distribuição de tarefas, pelas várias companhias que iriam formar-se com os recrutas que haveriam de chegar.


Segunda companhia. Comandante do terceiro pelotão. Instrução de recruta. Ordem unida, preparação física, armamento e ética militar. Tudo constava de um programa perfeitamente definido e apoiado.


Dar instrução metia um certo medo. A primeira manhã começou com a preparação física, depois da apresentação própria ao pelotão. No fundo, estaria a repetir o que lhe fizeram em Mafra, numa escala de exigência muito maior.


Instrução física foi a 1ª aula que teve de dar naquela manhã gelada, como são as manhãs de Janeiro, em Tomar. Com o pelotão, em passo de corrida, em círculo, iniciava-se a sequência de exercícios que constavam do programa estabelecido e que tinha de ser cumprido.


Primeiro, exercícios de pernas, depois de tronco e a seguir de braços. A falta de experiência, porém, provocou o grande fiasco, de que nunca mais se haveria de esquecer.
Ao cabo de 20 minutos, estava esgotado todo o programa… Repetir, nem pensar.


Tomado do embaraço que lhe parecia espelhado na cara, teve de dar ordem de destroçar ao pelotão e correr para a casa de banho, no bar de oficiais, quase em pânico. Afinal, sentia a responsabilidade a pesar-lhe e, ainda estava no começo…


Apetecia-lhe desaparecer. Num esforço supremo de auto-controle, conseguido, não sabe como, pensou de si para si:
-Se os outros conseguem, também hei-de conseguir… 


Levantou-se e veio ter com os camaradas que já tinham chegado à sala de oficiais, com a aula dada. A semana passou-se a correr. Veio o 1º fim de semana. Deu para conhecer a cidade, pacata, de interior:


O centro, onde se encontrava todo o comércio e cafés; o rio Nabão, ainda com águas cristalinas; o largo e frondoso açude, onde laborava, em pleno, um moínho, aproveitando o escorrer das águas, em cataratas de espuma, para o leito fundo do estreito rio que, a seguir, se despedia da cidade, fluindo bucólico, rumo ao gordo Mondego; a igreja do convento de Cristo, lá no alto, a tal jóia do manuelino, com a sua rosácea enorme e a janela floreada, tudo ficou visto naquele fim de semana pelo grupo de novos oficiais, que se passeou à vista das gentes que os olhavam com visível veneração. As moças espreitavam, tímidas, atrás das cortinas.


Em Tomar, sem o quartel militar, morrer-se-ia de tédio…


Ao fim de duas semanas, com os passeios nocturnos, depois do jantar, já se começavam a sentir em casa. Estavam traçadas as perspectivas. Com o combóio, à porta, Abrantes e Coimbra ficavam ao pé.


O voto de obediência forçada a que estavam sujeitos, porém, assim o não quis. No início da 3ª semana a notícia espalhou-se com grata surpresa. Uma dezena dos novos aspirantes iriam partir para a Madeira e Açores. Faltava saber quem e para onde.


Começava a saborear os imprevistos e a reparar nas possibilidades que a vida militar é capaz de abrir. Nada que se comparasse à carreira anterior, a clerical, embora um tanto semelhante. Por isso, não lhe fora difícil a adaptação, ao contrário dos seus camaradas.


No dia seguinte, teriam de tomar o paquete Funchal, em Lisboa. Para a Madeira, uns; para os Açores, outros. O B.I.19, no Funchal seria o seu próximo destino, soube-o em pleno jantar. Da boca do comandante da unidade.


Que sorte. Os Açores estavam a braços com o drama da erupção súbita do vulcão dos Capelinhos. Muito trabalho aguardava os camaradas destacados para lá.


Ilha da Madeira?! Nunca lhe passara pela cabeça aquela grata eventualidade. Duma penada, antes de ir para a guerra do ultramar, deixaria a terra firme e sulcaria as águas do oceano rumo a uma realidade desconhecida, embora nacional. Sabia apenas que era muito bonita. Mas, como se viveria lá, ou como seria a cidade do Funchal, não fazia a mais pequena ideia.


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Nota de L.G.:

Guiné 63/74 - P7117: (Ex)citações (97): Sensatez e rigor no Nosso Blogue (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 10 de Outubro de 2010:


SENSATEZ E RIGOR, FAZEM PARTE DA RECEITA

Tenho um neto que completou agora dois aninhos. É o Barbosa. De nome próprio chama-se Manuel Maria. Por mim, de mão beijada já lhe ofereço o Barbosa. Depois, se ele for apreciador de vinho, de mulheres e... poeta, guindar-se-á por direito ao epíteto de Bocage. Parece que trilha o bom caminho. No dia de aniversário foi um magnifico "entertainer". Quando lhe perguntavam quantos anos tem, abria um sorriso, compunha um movimento, e dizia com correcção: dois!

Ora, ele respondia pelo que ouviu dizer. Na verdade ele não sabe que tem dois anos, pois não tem qualquer noção do fraccionamento do tempo. Dessa essência, o tempo, ele não sabe nada. Mas é esperto, memoriza as coisas, e fala em conformidade.

No caso do meu neto, ele começa pelo fim: diz sobre o que ouviu dizer, e, pode ser que, com o tempo, ele venha a saber muita coisa, a interpretar e juntar conhecimentos para formação de uma sageza sistematizada e autêntica.

Tergiversei sobre o encanto do Barbosa no caminho da aprendizagem, para mais fácil exposição do que pretendo transmitir, por flashes de luz, em medidas comedidas e adequadas às diferentes inteligibilidades, seguindo o modelo de Jesus, que falava quase sempre por parábolas, narração alegórica que encerra algum preceito de moral ou verdade.

Pode acontecer, porém, que ele venha a desenvolver um interesse técnico, para desmontar e montar brinquedos, que o tornem destro no manuseamento de máquinas, por exemplo. Pode não desenvolver o espírito por aí além, pode não se interessar por filosofias, nem se preocupar com critérios sobre a interpretação histórica, mas pode vir a merecer a alcunha de Bocage, e ganhar a vida honestamente numa área técnica. Nota: associamos o Bocage à boémia, mas um bom profissional de qualquer área, pode viver alguns momentos de boémia, e outros de manifesta responsabilidade.

Pela nossa natureza, todos os homens são eminentemente sociais. Por isso convivem e exprimem-se. Aqui é que a porca torce o rabo: é sobre a qualidade da expressão. Porque, se é natural exprimir-mo-nos sobre o que sabemos, também há uma grande tendência para nos exprimirmos sobre o que não sabemos, mas sobre o que ouvimos dizer, sobre matérias induzidas que gravámos como autênticas, sem cuidar de apurar a autenticidade.

É a preversão do conhecimento.

Porque, na verdade, se não sabemos, não temos opinião própria. Apenas reproduzimos opinião, de sentido continuado, ou de sentido contrário relativamente à autenticidade do assunto. Isto depende de alguns pressupostos enquanto ouvintes, ou leitores, de opiniões.

E como somos sociais, pode acontecer ocasiões em que, sem termos a sabedoria adquirida sobre certa matéria, apenas o conhecimento que resulta do contacto com ela, sem ocasião para reflectir interpretativamente, apesar disso, somos capazes de tomar posição, defendendo-a, ou atacando-a, com maior ou menor tenacidade. E o essencial, nessas alturas, não passará de uma treva. Mas que poderá formar correntes de opinião e conduzir as pessoas por caminhos errados, daí, que me pareça necessária alguma temperança antes de enfileirar em movimentos.

Vem isto a propósito de duas situações que, com alguma frequência, encontro no Blogue.

A primeira refere-se a Camaradas que se queixam de alguma intelectualidade (recurso ao conjunto das faculdades intelectuais) imprimida em certos textos. Meus caros, eu não acho que a aversão incida na intelectualidade, antes, quando não temos um verdadeiro interesse sobre a matéria vertida, refugiamo-nos nesse argumento. O que quer dizer, que não sabemos ainda o suficiente para abordar a questão em presença e, provavelmente, não queremos aprender o caminho para chegar lá. O que, ainda assim, é melhor do que revelarmos a presunção de saber o que não sabemos.

A outra situação refere-se a casos de opinião e/ou tomada de posição, sem o necessário conhecimento intrínseco da coisa, da matéria, do alegado conhecimento. Esta situação é grave, pois pode induzir-nos por caminhos erradas e exige de nós, se nos interessarmos correctamente, que encetemos a via do esclarecimento do que nos chega ao conhecimento.

Foi assim, aliás, que encomendei o livro do Manuel Rebocho, cuja essência é bem diferente da crucificação do QP. É essa vontade de acerto (não digo preocupação) que por vezes me leva a alfarrabistas e a cotejos. Depois faço a minha interpretação, porque, como cada um, vejo o mundo pelos meus olhos, e confrontando às minhas experiências ou a outros conhecimentos adquiridos, formulo os meus juízos. Neste caso, conhecimento adquirido será aquele que foi comparado, confirmado ou testado. Conhecimento simples, será aquele que nos transmite a noção (a ideia) da existência de qualquer coisa, sem especial preocupação sobre ela e a sua essência, de que é fácil exemplo, as pessoas irem para o mar sem conhecer o Princípio de Arquimedes. O seu conhecimento não é essencial para o dia-a-dia, e as pessoas fazem a sua vida. Agora, se quiserem perceber porque não se afundam... têm que adquirir conhecimento.

Essa tendência de nos manifestarmos por impulso, ou por paixão, sem a ciência certa, encontrei-a entre nós, sem que daí resultem mais-valias, e a contrariar o que estabelece o regulamento do noveforanadaevãotres.

Sensatez e rigor, fazem parte da receita.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7019: Convívios (191): Próximo convívio da Tabanca da Linha, dia 2 de Outubro de 2010, no Talho do Diamantino - Quinta do Cortador (José Manuel M. Dinis)

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6917: (Ex)citações (96): Camarada...não é bem irmão, não é bem amigo, não é bem companheiro, não é bem cúmplice, é uma mistura disto tudo com raiva e esperança e desespero e medo e alegria e revolta e coragem e indignação e espanto, é uma mistura disto tudo com lágrimas escondidas (António Lobo Antunes, escritor, 68 anos)

Guiné 63/74 - P7116: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (5): O Soldado Para-quedista Folhas

1. Texto do Sílvio Fagundes de Abrantes (foto à direita):


Data: 27 de Setembro de 2010 23:51


Assunto: O Soldado Para-quedista Folhas (*)




No dia 22 de Agosto levantei-me por volta das 10 horas da manhã o que não é muito habitual da minha parte. Levanto-me e vou tomar banho, a minha esposa queria que eu fosse fazer um serviço, mas eu não lhe dei ouvidos e disse
- Queres vir comigo, é sem destino ?!
- Não - foi a resposta.
- O.K.,  não fiques zangada. 

Equipei-me, pego no carro e aí vai ele sem destino. Ando uns 200 metros,  pára e ligo a um amigo que estava de férias da França e pergunto se quer vir comigo. ´
- É sem destino - digo eu.

A resposta foi afirmativa. Espero um pouco por ele e penso no meu amigo Folhas, é hoje que o vou procurar a Coimbra e lá fui com o meu amigo. Almoçamos pelo caminho e seguimos viagem. Em Coimbra procurei a direcção de S. Martinho do Bispo. Encontro um senhor dos seus sessenta e tantos anos, que me diz conhecer o pessoal dali e não existir nenhuma família Folhas, mas sim numa terra cujo nome me varreu, lá sim, há muitos Folhas. 

Lá fui em direcção a Taveiro, entro na povoação encravada na serra, atravesso-a de um lado ao outro e não vejo alma viva. Páro a conversar com o meu amigo e companheiro para delinear uma estratégia e eis que alguém se aproxima e pergunta se precisamos de alguma coisa. Digo ao que vou e o senhor manda-me para um café, lá fui. Mais uma vez conto ao que vou e diz uma dos presentes para o outro:
- Ó pá, de pára-quedistas é contigo. 

Estou com a minha gente,  pensei, e estava, era um ex-pára-quedista, amigo do Folhas e colega de trabalho durante muitos anos.


O senhor que em S. Martinho do Bispo me enviou para esta terra tinha razão, o pai do Folhas era daqui, onde há muitos Folhas, só que casou em Coimbra, melhor em S. Martinho do Bispo.


O nosso ex-pára-quedista indica-me onde mora o Folhas e lá vou. Encontro o meu amigo entretido a fazer um galinheiro para uma vizinha, vá lá, nada de maus pensamentos,  suas más línguas. Mostro uma foto onde estamos os dois e pergunto à senhora se conhecia aquele patife [, vd. foto a seguir: o Folhas e o Hoss com a MG 42].
- Não,  reponde a dita senhora.

É lógico. Não nos conhecemos. Ele está magro,  como sempre, mas muito acabado. Não quer ouvir falar da tropa. Lá conversámos umas horas, onde me contou que até na prisão o meteram, por não ter feito nada, ainda hoje não sabe bem a razão. Eu perguntei se não seria o resto do 16 de Junho de 1970? (**)... Nada de concreto, talvez sim talvez não. 

Está um homem revoltado que nunca mais foi a Tancos embora já tenho sido convidado por diversos colegas, inclusive um ex- Coronel Pára-quedista. Nem mesmo esse o consegue levar. Vejam a revolta que este homem tem para com os seus ex-superiores (**). É preciso relembrar a esses senhores que se hoje têm altas patentes, melhores mordomias, foi à nossa custa, à custa do Folhas e de muitos outros FOLHAS, que estão traumatizados com a guerra e com o comportamento menos digno de certos oficiais e sargentos, que só se importavam com a carreira militar e se esqueceram de que estavam a lidar com homens. 

O Folhas não sabia da nossa decisão de enviar o dito oficial para fora do reino dos viventes. Ficou muito admirado. Disse desconhecer isso por completo. 
- Se fosse comigo esse homem hoje não estava vivo - respondo eu - , não tenhas a menor dúvida.

Esse trauma que o Folhas tem, felizmente não o afectou na vida civil, tem uma vida boa,  graças a Deus. Não precisou da tropa para viver dignamente.


Será que esses senhores não têm vergonha do que fizeram? Será que não são capazes de pedir desculpa pela porcaria que fizeram? Pelo menos uma palavra. Já ouvi um Coronel pára-quedista na reforma, claro, dizer que se encontrasse o Folhas lhe pedia desculpa, pelo menos isso já é de louvar. Mas falta outro dizer o mesmo, esse é que eu queria ouvir aqui neste sítio publicamente. Será capaz? Vamos esperar para ver.


Hoss

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Notas de L.G.:


(*) Último poste desta série > 2 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6816: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (4): A cabra do PIDE de Nova Lamego


(**) Vd. poste de  6 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6681: Recordações do Hoss (sold Sílvio Abrantes, CCP 121 / BCP 12, 1969/71) (3): Conclusão


(...) Conforme mencionei na 1.ª parte, houve um oficial que na emboscada  [, perto do Pelundo, em 16 de Junho de 1970,] saltou da viatura sem a G3 e pediu ao Folhas que lhe desse a dele, ao que este rejeitou. O oficial fez a vida negra ao Folhas o resto da comissão.


Passados uns meses e já em plena época das chuvas, fomos para um aldeamento na fronteira com o Senegal onde só havia um pelotão de obus. (...) 


Um dia saímos de manhã fazer uma operação de reconhecimento, chegámos todos molhados. À noite fomos em auxílio dum quartel do exército que estava a ser atacado, chegámos todo molhados. Na manhã seguinte o dito oficial manda formar a companhia de camuflado. Camuflado significa botas. Nós só tínhamos dois pares de botas e dois camuflados que estavam todos molhados. Então resolvemos formar em fato de treino uns, e outros de calções, a única coisa que tínhamos enxuto para vestir. Ao ver tal situação o dito oficial manda o Folhas sair da formatura, entra em discussão com ele e deu-lhe cobardemente duas bofetadas.

O Folhas passa-se da cabeça, e não era para menos, vai buscar a G3 com um carregador enfiado, pronta a disparar, corre atrás do oficial que se refugia na escola. Então eu e outros colegas fomos acalmar o Folhas, o que não foi nada fácil e conseguimos que nos desse a G3.

Passados poucos minutos reuniram-se alguns velhinhos da companhia e de cabeça quente ditamos a sentença ao nosso oficial. Decidimos que, se o dito oficial participasse do Folhas, deixaria de contar a 100% no efectivo das tropas Pára-quedistas, ou seja hoje não estaria no reino dos viventes. Por sorte não houve participação. 



Mas, digo com toda a honestidade, se fosse comigo não lhe perdoava. Ainda hoje pergunto o que é que me segurou em não concretizar a sentença, algumas vezes o tive na mira. O meu pai nunca me bateu.

Seria mais um morto em combate.  Esse grupo era composto por 3 MG, 2 Hk, 1 Degtariev e várias G3. (...)