quarta-feira, 15 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8424: Onde já vai o tempo das Rações de Combate tipo E? (José Martins)


1. Em mensagem do dia 11 de Junho de 2011, o nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), mandou-nos este curioso trabalho sobre as rações de combate actuais.


Onde já vai o tempo das Rações de Combate Tipo E?

Quem ainda se lembra, pode comparar!
Aproveitando a ida a Belém, adquiri uma Ração Individual de Combate – NATO APPROVED – e fabricada para a Força Aérea Portuguesa, por uma empresa espanhola, em Alicante.


A caixa deixou de ser castanha, tem novo visual.

Pequeno almoço:
Cacau com açúcar, 18 gramas; leite em pó, 15 gramas; bolacha doce, 125 gramas; geleia de fruta, 2 embalagens de 20 gramas cada.

Almoço:
Jardineira de feijão, 145 gramas; paté de fígado, 65 gramas; doce de maçã, 50 gramas.

Jantar:
Massa Bolonhesa, 400 gramas; sardinhas em óleo, 115 gramas.

Complementos alimentares:
Bolachas de água e sal, 2 embalagens de 120 gramas; sumo de fruta em pó, 2 carteiras de 20 gramas; açúcar, 2 pacotes de 10 gramas; sal, pacotes de um grama; chocolate, 2 barras de 25 gramas; chiclete, 2 unidades; caramelos, 4 rebuçados.

Complementos não alimentares:
Comprimidos purificadores de água, 4 unidades; pastilhas inflamáveis, 6 unidades; dispositivo de aquecimento, uma chapa moldável; carteira de fósforos; talheres de plástico; saco para lixo.

Instruções de montagem do dispositivo de aquecimento, disponível em francês e inglês.
Quem não dominar estas línguas não terá problemas, dado que o português é, por definição, desenrascado.

Curiosidades:

A “tenda” onde adquiri a ração de combate, já de que uma tenda de campanha se tratava, era supervisionada por uma Major. Como caixa tinha uma Capitão, e os/as assistentes, Soldados.

E, já agora, o preço de venda ao publico: 11,00 euros, que, traduzindo para escudos ao valor “cambial” de 1 € = 200$482, dará 2.205$30.

Recuemos ao dia 31 de Outubro de 2008, dia em que o blogue do Luís Graça e o UTW, publicaram um texto sobre os vencimentos dos militares, em campanha, baseado nos elementos recolhidos na página 211, com data de 24 de Julho de 1965, no livro do nosso camarada Inácio Maria Góis “O meu Diário” GUINE – 1964/1965, Soldado da Companhia de Caçadores nº 674.


Utilizando o mesmo coeficiente de desvalorização da moeda (para o ano em questão (1965) o coeficiente é de 60,93), e uma vez que a variação de 2008 para 2010 é irrelevante (0.95%), o custo da Ração de Combate à época, com base no valor actual, seria de € 6,83 € ou seja 1.369$29.

Se a alimentação fosse paga por cada um, tínhamos de pedir dinheiro para casa, para comer!

José Marcelino Martins
Texto e fotos
10 de Junho de 2011.




Capa do livro do nosso camarada Inácio Maria Góis,
O Meu Diário: Guiné 1964/66. Companhia de Caçadores 674.
Edição de autor.
Mineira, Aljustrel.
2006





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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Junho de 2011 > Guine 63/74 - P8404: Efemérides (51): No dia 10 de Abril de 2011, Loures homenageou os seus combatentes (José Martins)

Guiné 63/74 - P8423: Agenda cultural (135): Lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial, hoje, às 19h00, em Lisboa, Fórum Picoas Plaza





Agenda cultural: Lançamento da Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial,  hoje, às 19h00, em Lisboa, no Fórum Picoas Plaza.

Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial é hoje apresentada em Lisboa,  pelo jornalista Joaquim Furtado, no âmbito do colóquio/debate "Os Filhos da Guerra Colonial: pós memória e representações", organizado pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra (UC).


Segundo notícia da Agenda Lusa, de ontem, publicada nos jornais, a antologia,  organizada pelos investigadores Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, é constituída por 600 poemas, de 180 autores.

A obra junta autores consagrados, alguns  inesperados (como Jorge de Sena, Paulo Quintela e até Fernando Pessoa, com "O menino de sua mãe") que se inspiraram no temática da guerra colonial, ou que a viveram (Fernando Assis Pacheco e Manuel Alegre, por exemplo, que estiveram  em Angola, logo no início); e muitos outros, desconhecidos do grande público,  que têm poemas dispersos pela imprensa regional, revistas, publicações militares (como a da Liga dos Combatentes), blogues, etc., ou que os divulgaram nas quase sempre obscuras e limitadas edições de autor.


Na perspetiva da investigadora e co-organizadora da antologia,  Margarida Calafate Ribeiro, em declarações à Lusa, tratar-se-ia de "um grande documento da fragilidade humana", nele sendo “expressos sobretudo sentimentos de dor da guerra, mas também de impossibilidade de partilha, incompreensão, nas mais variadas formas poéticas”.

Editada pelas  Edições Afrontamento (Porto, 2011), a antologia  nasceu  no âmbito de um projecto de investigação do CES/UC.





Página de rosto do Projecto Poesia da Guerra Colonial, CES/UC... Projecto com o qual, de resto, o nosso blogue deu a sua melhor e mais franca colaboração, colaborando nomeadamente com um das assistentes de investigação, a Cristina Néry Monteiro bem bem como na conferência de 30 de Março de 2009, realizada em Coimbra, em que participaram o Vasco da Gama e o Zé Manel Lopes.


Além de  outros poetas consagrados  como Casimiro de Brito (n. 1938) ou Gastão Cruz (n. 1941), é de destacar  ainda a existência de um número significativo de mulheres a escrever sobre um tema predominantemente masculino (e quase diríamos... falocrático), como é o caso das poetisas Fiama Hasse Pais Brandão, Sofia de Melo Breyner Andresen, Luíza Neto Jorge, Olga Gonçalves, Maria Teresa Horta e Rosa Lobato Faria, além de outras  desconhecidas do grande público.

A antologia, com c. 650 pp.,  está organizada por áreas temáticas:


Partidas e regressos (pp. 33-86)
Quotidianos (pp. 87-164)
Morte (pp. 165-222)
Guerra à guerra [poemas contra a guerra] (pp. 223-311)
O Dever da Guerra (pp. 313-337) (onde figuram poetas como António Manuel Couto Viana, Pedro Homem de Mello)
Pensar a  Guerra (pp. 339-378)
Memória da Guerra (pp. 379-424)
Cancioneiro [onde se incluem, por exemplo, as letras de alguns fados, como os do Cancionerio do Niassa, mas também o nosso conhecidíssimo Adeus, Guiné", de Mário Ferreira] (pp. 425-483)
Cancioneiro Popular (pp. 485-545)...

Antologia da Memória Poética da Guerra Colonial será apresentada hoje em Lisboa pelo jornalista Joaquim Furtado, no âmbito do colóquio/debate "Os Filhos da Guerra Colonial: pós memória e representações", organizado pelo CES/UC.

O nosso camarada José Brás comprometeu-se a fazer um apontamento do evento. Da nossa Tabanca é, segundo julgo saber, um dos quatro representantes, juntamente com o Manuel Bastos, autor de Cacimbados (2008), que também é membro da nossa Tabanca Grande, embora tenha feito a guerra no TO de Moçambique onde foi ferido. (Nasceu em Aguim, Anadia, 1950; é dirigente da ADFA, de Coimbra); o Nuno Dempster (que entrou para o nosso blogue em Fevereirossado; é autor do livro de poemas K3; nasceu em Ponta Delgada, 1944); e o Cristóvão de Aguiar (outro açoriano, nascido em 1940).


Também estão representados outros nomes nossos conhecidos como o Armor Pires Mota (que, embora convidado por mim,  não é ainda formalmente membro da nossa Tabanca Grande), o Carmo Vicente (ex-pára-quedista, do BCP 12), o Gustavo Pimenta, o Ruy Cinatti, e outros que reconheci de uma rápida leitura ao índice. Tenho pena que o nosso Joaquim Mexia Alves tenha declinado o convite dos organizadores para figurar na antologia com a letra do seu belíssimo Fado da Guiné...

A selecção (sempre discutível...) dos organizadores baseou-se numa recolha de muitos milhares (sic) de textos poéticos... Pela sua qualidade e autenticidade, alguns dos nossos blogpoetas, ex-combatentes,  como o Josema (José Manuel Lopes) ou o Manuel Maia, podiam e deviam figurar também na antologia... Mas haveremos de fazer... a nossa, a da Tabanca Grande, onde matéria-prima não falta. (LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8420: Agenda Cultural (134): Lançamento do livro Nha Bijagó, de António Júlio Estácio, dia 20 de Junho de 2011, pelas 18 horas no Palácio da Independência (António Estácio)

Guiné 63/74 - P8422: No dia 10 de Junho de 2011, Vila do Conde homenageou os seus ex-Combatentes da Guerra do Ultramar (Vasco Santos)

1. Mensagem do nosso camarada vilacondense Vasco Santos (ex-1º Cabo Op Cripto da CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73), com data de 14 de Junho de 2011:

Caro Carlos,
Caso não seja muito incómodo, gostaria que publicasses no blogue, algumas fotos que te anexo, referente à celebração do 10 de Junho em Vila do Conde.

Além da celebração do 10 de Junho, foi tambem comemorado o 1º. aniversário do nosso monumento aos Ex-combatentes de Vila do conde.

Foi aproveitada a oportunidade, para se proceder (tardiamente) à entrega das medalhas de comissâo no Ultramar, àqueles que a solicitaram.

Os meu agradecimentos e, um abraço cordial,
Vasco Santos
Ex-Op Cripto
Ccaç 6 - 1971/1973


Usando da palavra, na Missa presidida pelo Monsenhor Domingos, Pároco das Caxinas, o nosso Presidente, Manuel Nascimento

O Vereador Eng.º António Caetano, tecendo os merecidos elogios aos ex-Combatentes, em nome da Câmara Municipal de Vila do Conde.

O Presidente da Associação dos ex-Combatentes de Vila do Conde, Manuel Nascimento, a ser medalhado pelo Comandante da Capitania de Vila do Conde/Póvoa de Varzim.

O Presidente da Associação dos ex-Combatentes de Vila do Conde, Manuel Nascimento, proferindo o seu discurso.

Momento da deposição de uma coroa de flores no Monumento, levada pelo camarada, ex-Comando, Almeida, acompanhado pelo nosso Presidente Manuel Nascimento.

Os medalhados. Falta o camarada Domingos que se tinha ausentado. Que me perdoem os restantes camaradas, mas só identifico, à direita o nosso Presidente, Manuel Nascimento, e à esquerda eu próprio.

A medalha entregue


[Fotos e legendas de Vasco Santos]
[Revisão e fixação do texto - Carlos Vinhal]

Guiné 63/74 - P8421: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro, manga de ronco (9): Os apanhados pela objectiva do Manuel Resende (Parte II)


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande (*)  > O Senhor Dom Leitão, serviço à hora do lanche, não direi que foi o rei da festa, mas que lá roncou, roncou...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > 22 quilos desapareceram num ápice, sinal de que o Dom Leitão teve as devidas honras à nossa mesa... (Terá sido golpe de mão ?,  perguntaram os retardatáris)...Felizmente, o fotógrafo estava lá para comprovar a existência e a presença do Dom Leitão (a cabeça e o resto, aos pedacinhos...).

 

Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  >Em primeiro plano, três camaradas do Xitole, Joaquim Mexia Alves (jogava em casa), Francisco Silva (hoje ilustre cirurguião ortopedista no Hospital Amadora Sintra) e António Barroso (Valadares, Vila Nova de Gaia... Vim a saber que é meu vizinho, quando fico na Madalena...). Estes três camaradas pertenceram originalmente à  CART 3492...



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Aspecto parcial do grupo de comensais (que este ano chegaram aos 125), na hora dos aperitivos (que, disseram os mais excelentes gourmets, estavam cinco estrelas)...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Aspecto parcial do nosso convívio no terraço da Sala Dom Diniz



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca   > Grande  > Da esquerda para a direita, Jorge Picado (Ílhavo), Ernestino Caniço (hoje médico, em Tomar),  Semião Ferreira (médico das Termas de Monte Real, e que não há meio de entrar para o blogue, apesar das nossas insistências, que são sempre amáveis convites; esteve na Guiné como operacional) e António Estácio (Mem Martins / Sinrtra)... Os trêss primeiros conheceram-se na região do Oio (Mansoa, Cutia, Mansabá...).


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  >  Da direita para a esquerda Carlos Pinheiro (Torres Novas), Zé Martins (Odivelas) e o António Manuel Sucena Rodrigues, que mora em Oliveira do Bairro, ex-Ful Mil Inf na CCAÇ 12, no período final da guerra (1972/74), tendo estado no Xime e regressado em Agosto...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Da direita para a esquerda, dois periquitos da CCAÇA 12, o António Manuel Sucena Rodrigues e o António  Duarte; na ponta, o Manuel Domingos Santos (Leiria)...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > a Graciela Santos (Caneças / Odivelas) e Manela  Martins (Odivelas), esposas respectivamente do António Santos e do Zé Martins.



Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > O Alcídio Marinho (Porto) que vai ser apresentado em breve, formalmente, á Tabanca Grande... É o porta-estandarte da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65)


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande  > Felismina Costa (Agualva-Cacém / Sintra), Jaime Machado e Manuela (Senhora da Hora / Matosinhos)...


Fotos: © Manuel Resende  (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 

[ Selecção, edição e legendagem das fotos: L.G.] (**)

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Nota do editor

(*) Vd. poste de 9 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8392: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro,manga de ronco (6): Os apanhados pela objectiva do Manuel Resende (Parte I)

(**) Último poste da série > 13 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8415: Monte Real, 4 de Junho: O nosso VI Encontro, manga de ronco (8): Visto pela especial sensibilidade da nossa amiga Margarida Peixoto, esposa do Joaquim Peixoto (CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)

Guiné 63/74 - P8420: Agenda Cultural (134): Lançamento do livro Nha Bijagó, de António Júlio Estácio, dia 20 de Junho de 2011, pelas 18 horas no Palácio da Independência (António Estácio)

1. Mensagem do nosso tertuliano António Estácio com data de 15 de Junho de 2011:

Caro Luís Graça
Continuação de boa saúde, votos extensivos a todos os tabanqueiros.

A 20 do corrente, pelas 18H00 e no Palácio da Independência, no Largo de S. Domingos, em Lisboa, procederei ao lançamento do meu recente trabalho intitulado:

"Nha Bijagó". Respeitada Personalidade da Sociedade Guineense (1871 - 1959).

Trata-se de uma evocação (à semelhança da que fiz ano passado sobre a "Nha Carlota de Nhacra") e nele evoco a maior figura da sociedade guineense da 1ª metade do séc. XX.

De seu nome Leopoldina Ferreira Pontes, natural (1871) e falecida (1959) em Bissau, ficou imortalizada pelo nominho de "Nha Bijagó".

Dado o manifesto e generalizado interesse dos bloquistas da Tabanca Grande por tudo quan-to se relacione com a Guiné;
Considerando a minha limitação em termos de acesso ao Tabanqueiros;
Peço e agradeço o o teu apoio na divulgação do meu próximo livro, estando certo que, tal como sucedeu no ano transacto, não deixarás de inserir a informação pretendida no blogue.

E, por forma a habilitar-te a difundir alguma informação, segue em anexo:

- o Convite;
- a Capa do livro e;
- o Prefácio de autoria do analista de política africana, Dr. Eduardo Fernandes.

Sempre ao dispor, reitero o meu agradecimento no tocante à divulgação do meu livro.
António J. Estácio


CONVITE



CAPA DO LIVRO

(Clicar nas imagens para as ampliar)



PREFÁCIO

Mais um trabalho que António Júlio Estácio dá à estampa, tendo como objecto uma figura marcante da sociedade guineense, desta feita “Nha Bijagó”, nome pelo qual ficou conhecida Leopoldina Ferreira.

Quem foi esta senhora e o que fez ela para merecer figurar em obra impressa? Isso é o que o leitor irá descobrir ao longo de mais de centena e meia de páginas deste livro que o autor intitulou “Nha Bijagó” – Respeitada Personalidade da Sociedade Guineense (1871-1959). A própria escolha do título já é em si reveladora da razão que motivou António Júlio Estácio a biografá-la! “Nha Bijagó” foi de facto, uma respeitada personalidade do seu tempo socialmente bastante influente e uma verdadeira matriarca. Abastada, mas sóbria, mulher de rígidos princípios éticos, foi, de certo modo, um modelo para os seus concidadãos.

Ao ler este livro não podemos deixar de pensar nas grandes figuras femininas, que foram as “sinharas” e que tanta influência tiveram na costa ocidental afri-cana, em particular nos Rios da Guiné, entre o século XVI e finais do século XIX. Essas mulheres que eram na sua maioria crioulas, geriam com enorme maestria os negócios dos seus maridos europeus ou eurodescendentes, resolvendo conflitos, realizando pactos com as autoridades locais, de modo a que as actividades comerciais decorressem sem delongas e fossem coroadas de êxito. A sua condição de crioula, dava à “sinhara” uma capacidade negocial ím-par, pois sendo detentora de uma dupla identidade cultural, era com facilidade que fazia a ponte entre as populações locais e os alógenos, nomeadamente os europeus. Ficaram famosas na Guiné algumas dessas “sinharas”, como a Bibiana Vaz, a Aurélia Correia conhecida por “mamé Aurélia”, a Júlia Silva Cardoso também conhecida como “mamé Júlia” e a Rosa Carvalho Alvarenga, mãe de Honório Pereira Barreto, entre muitas outras. Leopoldina Ferreira, vulgo “Nha Bijagó”, é em meu entender uma das últimas grandes “sinharas” da Guiné, pois o seu perfil enquadra-se na perfeição no papel desempenhado por essas influentes mulheres africanas, referenciadas por diversos autores como foi o caso de André Álvares d’ Almada na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde” de 1594 ou de George E. Brooks com “Eurafricans in Western Africa” publicado em 2004 ou ainda Philip J. Havik com “Trade in the Guinea-Bissau Region: the role of african and luso-african women in the trade networks from early 16th to the mid 19th century” publicado em 1994, para apenas citar alguns.

“Nha Bijagó” – Respeitada Personalidade da Sociedade Guineense (1871-1959), é o resultado de um longo trabalho de pesquisa que António Júlio Estácio desenvolveu ao longo de vários anos, com uma enorme dedicação e até paixão, mas sempre com rigor e respeito pela verdade dos factos, a que já nos habituou. Compulsou milhares de documentos, não apenas relacionadas com Leopoldina Ferreira, mas também relativos aos principais acontecimentos que tiveram lugar no período coevo da biografada. Registou dezenas de depoimentos e deslocou-se propositadamente à Guiné-Bissau, para “in loco” recolher mais informações, de modo a poder complementar, confirmar ou infirmar os elementos já recolhidos. E o resultado de todo esse esforço, é este livro!

Não estamos perante uma biografia no sentido clássico do termo, isto é, um género literário em que o autor narra a história da vida de uma pessoa ou de várias pessoas de forma mais ou menos objectiva, e muitas vezes romanceada. António Júlio Estácio, preferiu manter-se “neutro” interferindo o mínimo possível na narrativa dos depoentes, limitando-se a clarificar aqui e acolá alguns aspectos contraditórios ou menos precisos e desse modo fornecer ao leitor um retrato tão fiel quanto possível dessa grande senhora que foi a “Nha Bijagó” feito através dos testemunhos daqueles que a conheceram e que com ela privaram, e ainda de documentos oficiais que atestam aspectos relevantes da sua vida.

Um aspecto particularmente interessante nesta obra de A. J. Estácio, é a ligação cronológica que o mesmo faz, entre importantes acontecimentos políticos, adminis-trativos e militares, que tiveram lugar na então Guiné Portuguesa, e as diversas fases etárias da biografada, ainda que esses factos não tenham qualquer ligação directa com a personagem tratada neste livro! O autor quis desse modo, dar-nos a conhecer alguns factos da história da então colonia/província da Guiné, que tiveram lugar entre 1870 e 1959, período que abarca a vida de “Nha Bijagó”. Por esse motivo, este trabalho biográfico, para além de nos dar a conhecer a vida de uma grande mulher guineense que foi a “Nha Bijagó”, fornece-nos importantes informações do mundo em que ela viveu! Através dos diversos depoimentos sobre a “Nha Bijagó” recolhidos pelo autor, ficamos a conhecer não apenas os aspectos essenciais da sua vida, mas também um pouco da vida social na então colónia da Guiné e muito particularmente em Bissau, na primeira metade do século XX.

Com esta publicação, António Júlio Estácio, revela-nos mais uma vez, o seu grande apego e dedicação às coisas e às gentes da terra que o viu nascer!

Eduardo J. R. Fernandes
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Notas de CV:

(*) Vd poste de 19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6432: Tabanca Grande (220): António Estácio, nascido em Bissau, no chão papel, escritor, amigo do Pepito, do Zé Neto, do Mário Dias e do Graça de Abreu, autor de Nha Carlota

Vd. último poste da série de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8417: Agenda Cultural (133): Esquecidos pela Pátria, documentário a exibir na RTP1, dia 15 de Junho pelas 21 horas (Manuel Lema Santos)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8419: Cancioneiro de Mampatá (3): Estrada da morte [ Buba-Aldeia Formosa] ( António Samarra / Mário Pinto)

1. Mensagem do nosso camarigo Mário Gualter Rodrigues Pinto (ou tão só Mário Pinto), inserida como comentário ao poste P8414 (*):

Como diz quem sabe e por lá passou,  Mampatá inspirava os 'Poetas',  talvez por isso vários foram escritos por quem tinha arte e jeito. O Zé Manuel [Lopes],  além de arte e engenho para tal,  teve o condão de nos despertar para as rimas contadas das vivências por todos os que passaram por Mampatá... Aos que naquela estrada Buba-Aldeia Formosa lutaram. Mário Pinto



Cancioneiro de Mampatá (3) (**)

ESTRADA DA MORTE

Naquela maldita estrada,
A morte nos espreita;
Se o IN nos metralha,
A malta logo se deita.

Há minas e fornilhos 
Que fazem muitas mazelas,
As picas vão a caminho
Com a malta à procura delas.

De repente a emboscada,
Na curva de Sare Usso
A malta responde à metralha
Com tudo o que tem a uso.

Chamem os bombardeiros
Para os turras desalojar,
Bombas, roquetes e tiroteios,
Tudo para o IN matar.

Na puta da confusão
Abrimos fogo, ao desnorte,
Os turras fugiram em turbilhão
E nós tivemos manga de sorte.

Buba, estamos chegando,
Vindos de Mampatá, 
Com' esta 'strada d'embrulhanço,
De má memória, não há.

Escrito por: 


António Samarra
Sold At Cart 2519 
(Os Morcegos de Mampatá, Mampatá, 1969/71)  

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8416: Blogpoesia (151): Gostava de vos falar dos esquecidos... (Josema)

Guiné 63/74 - P8418: Notas de leitura (247): O Império Colonial Português, Secretariado da Propaganda Nacional (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Maio de 2011:

Queridos amigos,
Reputo do maior interesse ler/conhecer os conceitos ideológicos que o regime de Salazar subscrevia em 1942.

Quem escreveu o documento teve a preocupação de conotar o regime com a restauração do engrandecimento imperial. Há muitas coisas que se podem ler com a frieza que a investigação exige. Outras, temos que reprimir a gargalhada como a Guiné ser encarada como a porta aberta frente ao Brasil (devia ser por causa dos clippers que atravessavam o Atlântico Sul e amaravam na Baía da Bolama).

O mesmo autor que exalta a ocupação que legitimou o Império diz sem rebuço que a ocupação da Guiné era bem recente. Como se sabe, há fendas e interstícios na couraça ideológica que depois se pagam bem caro. A Guiné não foi excepção.

Um abraço do
Mário


O Império Colonial Português e a Guiné, em 1942

Beja Santos

Vários historiadores que têm apreciado a evolução da política colonial portuguesa entre os séculos XIX e XX centram-se, regra geral, nas políticas de ocupação e pacificação, no esforço diplomático e nas diferentes vicissitudes porque passou o conceito de Império Colonial, chegando, nas vésperas da eclosão das diferentes manifestações de independência, à consideração de que o regime presidido por Salazar perdera totalmente a noção dos “ventos da mudança” que passaram a soprar no termo da II Guerra Mundial.

Contudo, o mesmo regime que irá teimosamente fechar todas as portas a qualquer tipo de solução política para as parcelas do Império montara uma arquitectura ideológica que muitas vezes é descurada nas análises contemporâneas. Ora, o regime de Salazar não se coibiu a fazer publicidade institucional do que pretendia com a noção imperial, para uso doméstico. Para a sua compreensão, utiliza-se um documento de propaganda oficial, editado em 1942.

Em primeiro lugar, a publicação critica a postura dos portugueses que acerca da grandeza do passado histórico rebaixam e lamentam o presente. O Império não era encarado como o resto que se salvara da herança imensa do apogeu da expansão, era, isso sim uma continuidade absoluta do que melhor os portugueses tinham criado no passado, era o Império que ditava o destino de Portugal, a Nação não era inteligível enquanto ser vivo sem o seu Império.

Em segundo lugar, a expansão portuguesa não se caracterizava por uma ocupação recente, como era propalada pelos seus críticos. As suas etapas sucessivas marcavam essa continuidade colonizadora, a saber: da Madeira com o Infante D. Henrique; dos Açores com D. Afonso V; das Ilhas dos Atlântico central com D. João II e D. Manuel; do Brasil com D. João III; de Angola com D. Sebastião. O domínio marítimo foi criando os pontos o bases permanentes para uma progressiva ocupação colonizadora, com destaque para as Ilhas Atlânticas, o Brasil, Angola, Moçambique e Goa. Aquilo que se chamava decadência ou declínio imperial ocorrera quando Portugal vivera em União Ibérica e fora arrastado para conflitos que em nada se prendiam com o seu destino histórico, os conflitos europeus dos Áustrias.

Em terceiro lugar, a prova de grandeza imperial podia ser vista ao longo da dinastia de Aviz, um verdadeiro Império de ocupação e não de carácter mercantil. Até no nefasto período liberal, todas as gerações ao longo do século XIX, estiveram conscientes da nossa continuidade histórica e apoiaram-na: Sá da Bandeira e Garrett, Andrade Corvo e António Enes, D. Carlos e Ayres de Ornelas, entre outros. Foi a separação do Brasil que veio pôr em toda a sua magnitude o problema da nossa continuidade histórica através da nossa expansão em África. E tirando o lamentável incidente do Mapa Cor-de-rosa (1890), a obra de expansão colonizadora portuguesa não conheceu qualquer interrupção até ao presente. E assim se releva a grande mensagem: “A Nação que alguns diziam decadente e fraca, a Pátria destinada a findar em catástrofe ou deliquescente abandono, reafirmou-se, como sempre no passado, além do mar e desprezando os erros da sua vida política construiu um vasto Império Colonial. E dessa obra veio afinal o anseio de uma recuperação política nacional que se realizou”.

Em quarto lugar, a geografia do Império não era obra do acaso, todas as parcelas foram alavancas e faróis desse Império marítimo. Uma a uma dessas razões vão sendo enunciadas. Por exemplo, “O arquipélago de Cabo Verde prolonga para o Sul, e na rota do Brasil e de Angola, a posição geográfica, essencial, das Ilhas Atlânticas (…) De não menor importância é, a colónia da Guiné. Base essencial como Cabo Verde das rotas aéreas do Atlântico Sul, é em particular a Guiné a garantia de uma defesa da própria costa brasileira colocado aquém do Atlântico como sentinela vigilante na costa ocidental da África. A sua superfície, embora pequena e bem menor do que deveria ser naquela região do globo descoberta e secularmente explorada por Portugal, é, no entanto, suficiente para permitir o seu desenvolvimento em inteira independência dos territórios que com ela confrontam no continente africano".

Em quinto lugar, no contexto das informações geográficas e da cooperação racial e dalguns indicadores da vida económica e social, a propaganda do regime dá conta de como se via a Guiné pela lupa ideológica. No tocante a informações práticas, fica-se a saber que a Guiné tinha 4 portos principais (Bissau, Bolama, Bubaque e Cacheu), alguns portos fluviais (Bafatá, Farim, Buba, Cacine, S. Domingos, Xitole, Cachungo, Bula e Bissorã; o coconote, a mancarra e o arroz eram os produtos agrícolas mais cultivados, havendo ainda a registar a cana do açúcar para o fabrico da aguardente; nem uma só palavra sobre os recursos piscatórios.

Falando da cooperação racial, e  recordando a acção missionária destinada a propagar a fé católica, fica-se a saber que a população portuguesa absorve outras massas humanas: “Um português difícil e raramente se deixa absorver. E posto em contacto com um núcleo, às vezes bem pequeno, de população portuguesa, qualquer elemento estranho, de raça branca ou de cor, de um grande ou de um pequeno país, será por ele absorvido, as mais das vezes na primeira geração. Os exemplos do Brasil e Cabo Verde vêm à cabeça. Após a exaltação da administração e economias civilizadoras, o autor diz que sobre a Guiné, de ocupação muito recente, ainda não se podem tirar conclusões. O que estava comprovado é que a administração colonial portuguesa não se destinava à exploração das colónias para enriquecimento exclusivo e unilateral da metrópole. E são apresentados dados sobre a Guiné: em ligação com a metrópole através de carreiras da Companhia Colonial de Navegação; os cargueiros da Sociedade Geral de Comércio, Indústria e Transportes Lda. também ligavam Lisboa com Bissau e Bolama. O mais surpreendente vem depois, a propósito das estradas: “Segundo os dados oficiais, em 1937, havia já na Guiné uma rede de estradas com um desenvolvimento de 3.341 quilómetros”. Quanto a indústrias, a Guiné tinha uma fábrica de tijolos e três fábricas de descasque de arroz, sendo ainda de referir uma fábrica de extracção de óleo de palma no arquipélago dos Bijagós. Ao tempo, a Guiné tinha 5 missões religiosas, todas católicas: Missão Central de Santo António de Bula (Bissau), compreendo dois internatos (um masculino outro feminino); Missão Central de Bolama; Missão Sucursal de N.ª S.ª da Natividade de Cacheu; Missão Sucursal de N.ª S.ª da Candelária de Bissau; Missão de N.ª S.ª da Graça de Geba”.

E o livro termina assim: “O Império Colonial Português, com raízes no passado e na epopeia de conquista e ocupação, é já hoje, pela obra do Estado Novo, efectivamente um Império”.

Tratava-se de uma propaganda de engrandecimento do regime, isto quando está inequivocamente demonstrado que o mesmo regime não teve dinheiro para engrandecer o Império, modernizando-o, até ao fim da II Guerra Mundial. E quando começou a modernizá-lo, o regime não teve entendimento para os “ventos da história”. Daí a profunda reflexão que esta obra do Secretariado da Propaganda Nacional pode oferecer aos estudiosos, aos curiosos e àqueles que combateram na Guiné, em particular.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 10 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8399: Notas de leitura (246): Dias de Coragem e de Amizade, Angola, Guiné, Moçambique: 50 Anos de Guerra Colonial, de Nuno Tiago Pinto (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P8417: Agenda Cultural (133): Esquecidos pela Pátria, documentário a exibir na RTP1, dia 15 de Junho pelas 21 horas (Manuel Lema Santos)

1. Em mensagem do nosso tertuliano Manuel Lemas Santos, com data de 13 de Junho de 2011, recebemos a informação que reproduzimos sobre a apresentação da reportagem "Esquecidos pela Pátria" a ter lugar no dia 15 de Junho, pelas 21 horas, integrado no programa "Linha da Frente" na RTP1:

De novo na programação:


ESQUECIDOS PELA PÁTRIA

Quarenta anos depois do fim da guerra do Ultramar, ainda existem ex-militares africanos a viver em quartéis portugueses. Alguns estão ilegais, outros perderam a nacionalidade e todos esperam o momento de poder regressar aos seus países. Numa situação de pobreza extrema aguardam pela resolução do moroso processo para obter uma pensão como deficiente das Forças Armadas.

"Esquecidos pela Pátria" é uma Grande Reportagem da autoria do jornalista Jorge Almeida, imagem de Jaime Guilherme, edição de Luís Vilar, pós-produção áudio de Rui Soares e produção de Amélia Gomes Ferreira.

Com os melhores cumprimentos,
Jorge Almeida
Jornalista RTP

RTP
Radio e Televisão de Portugal
Av. Marechal Gomes da Costa, 37
1849-030 Lisboa
Portugal
www.rtp.pt

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8407: Agenda Cultural (132): Colóquio/Debate - Os Filhos da Guerra Colonial: pós-memória e representações, dias 14 e 15 de Junho de 2011, no Auditório do CIUL; CES-Lisboa (Forum Picoas-Plaza) (José Barros)

Guiné 63/74 - P8416: Blogpoesia (151): Gostava de vos falar dos esquecidos... (Josema)

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (1972/74) > O Zé Manel, ou o Josema (pseudónimo literário), que durante a sua comissão na Guiné escrevia todos os dias um poema...

Ei-lo aqui  "a reler o que havia escrito, numa pausa durante a protecção a uma coluna de Buba para Aldeia Formosa".


Foto: © José Manuel Lopes (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.




1. Relembrando a poesia simples, singela, espontânea, chã, naïve,  de um combatente que nunca quis ser poeta nem nunca frequentou workshops de escrita criativa nem teve  a veleidade, a pretensão ou a ambição de figurar no panteão nacional das letras nem sequer das eruditas antologias poéticas da(s) guerra(s)... Limitava-se a escrever uma poema (ou uns versos que não tinham obrigatoriamente que rimar com nada),  todos os dias, enquantro montava segurança aos trabalhos de construção da nova estrada Quebo - Mampatá - Salancaur, que ficou asfaltada antes do 25 de Abril... (Tratava-se de uma obra que ia ao encontro da estratégia desenhada por Spínola, a da contra-penetração nas regiões libertadas do PAIGC, nomeadamente no Cantanhez. A obra parou com o 25 de Abril... O novo troço deveria ter uns 30 quilómetros... Do alcatrão, pouco resta ou restava quando lá passei em 1 de Março de 2008, a caminho de Guileje)...

Do Poemário do Josema (*) também restaram umas escassas dezenas  versos. A maior parte da sua produção poética foi consumida pelo fogo, numa daquelas noites de dúvidas, insónias, pesadelos que podem assaltar qualquer um de nós que conheceu o TO da Guiné... De repente, apeteceu-me revisitar o nosso camarigo Josema, que agora se dedica a outras culturas, Turismo & Vinhos, numa das regiões mais belas do nosso querido Portugal: Vd. aqui a página no Facebook da Quinta da Senhora da Graça  (**) (LG)...



Gostava de vos falar
dos esquecidos,
dos heróis que a história
não narra,
que as viúvas choraram
mas já não recordam,
daqueles
que nem tempo tiveram
de ter filhos
que os amassem,
descendentes
que os lembrassem,
daqueles
que nunca tiveram
o dia do pai,
vítimas de guerras
que não inventaram,
em tempo que já lá vai.

Falar deles é prevenir,
se bem que de nada lhes valha,
guerras que possam vir,
geradas pela ambição
dos que nunca morrerão
num campo de batalha.

Josema

[Sem título, s/l, s/d] (*)
 
[Revisão / fixação de texto: L.G.]
 
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Notas do editor:
 
(*) Originalmente publicado em 19 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2665: Poemário do José Manuel (4): No carreiro de Uane... todos os sentidos / são poucos / escaparão com vida ? / não ficarão loucos ?

(**) Último poste da série > 1 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8352: Blogpoesia (150): A todas as crianças do mundo (Felismina Costa)

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8415: Monte Real, 4 de Junho: O nosso VI Encontro, manga de ronco (8): Visto pela especial sensibilidade da nossa amiga Margarida Peixoto, esposa do Joaquim Peixoto (CCAÇ 3414, Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca Grande > (*) Que bela paisagem!.. Que fariam os camarigos sem estas bajudas ?!!!.  [Da esquerda para a direita: Carminda Cancela, Margarida Peixoto, Maria Luís - filha do Paulo Santiago -, Lígia Guimarães e Gina Marques]


Aqui põem a escrita em dia, as amigas Alice e Margarida… enquanto a Carminda diz: Que têm tanto elas para dizer?




Os três Magníficos



A Margarida tentando aprender alguma coisa com a Felismina.






Que coincidência! Não é que se juntaram… só por acaso… os camarigos da  Tabanca Pequena de Matosinhos. São du Puôrto.



Finalmente o Brito e o Peixoto juntos! Ao longo de trinta e muitos anos…, sempre ouvi o meu marido a falar do Brito com carinho e amizade e a relembrar que no dia 9 de Julho comemoravam o aniversário dos dois. Que esta amizade dure para sempre!

Fotos: © Joaquim Peixoto  (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 

1. Texto e legendas das fotos: Margarida Peixoto, professora do ensino básico, aposentada, a viver em Penafiel; é esposa do nosso camarada e amigo, Joaquim Peixoto, também ele professor (ainda no activo), régulo da Tabanca de Guilhomil, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 3414 (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)   [, foto à esquerda, com a Margarida, tirada no V Encontro, 2010, pelo Manuel Carmelita]:

Monte Real – Palace Hotel – 4 de Junho de 2011

Parabéns, Tabanca Grande!
Parabéns, Luís Graça!
Parabéns, Joaquim Mexia!
Parabéns, Carlos Vinhal!
Parabéns,  Miguel Pessoa!


Parabéns a quantos trabalharam e se esforçaram para que este dia fosse tão rico! Não posso enumerar todos os elementos, pois ainda sou muito maçarica nestas andanças, mas a todos quero agradecer, do fundo do coração, os momentos inesquecíveis passados neste convívio. A alegria, camaradagem, espírito de solidariedade que vejo estampada no rosto de cada ex-combatente; a amizade retratada em cada gesto e atitude de cada um, até à camaradagem que envolve, mulheres e companheiras destes camarigos, é algo de extraordinário, de mágico, de comovente.Como pode, como é possível, depois de vos terem roubado parte da juventude, numa guerra que não era vossa, que fizeram perder alguns dos vossos sonhos de ainda meninos, hoje já sexagenários, se abraçam com uma alegria tal e um entusiasmo que emociona e arrepia? Foi com muito orgulho que assisti pelo terceiro ano consecutivo a este encontro e pretendo continuar a fazê-lo. Todos eles me trazem algo que me faz reviver o passado e querer reforçar o futuro.

No primeiro ano, conheci a Alice e o Luís Graça, que por motivos vários nos tornaram amigos. 

No segundo ano, pude relembrar a minha adolescência ao recordar uma grande amiga que passava as férias neste local. Também pude reforçar a minha amizade com a Carminda [, esposa do José Manuel Cancela, igualmente de Penafiel], uma vez que estivemos mais tempo juntas. 

Este ano, mais uma vez enriqueci a minha existência ao conhecer a Felismina [ Costa]. Pessoa tão simples, como simples é o Alentejo, tão alegre e tão rica em sabedoria. Bem haja a todos quantos fazem parte da Tabanca Grande e proporcionam estes encontros. Mas, em tom diferente, peço-vos que não esqueçam a Tabanca Pequena de Matosinhos, que é pequena no nome, mas grande em solidariedade. Sem desprimor para todos os outros, queria dar um abraço com muito carinho ao Sr. Rolando [Basto, pai do Álvaro Basto, régulo da Tabanca de Matosinhos], pois é um exemplo de simpatia,  camaradagem e educação.

Margarida Peixoto
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 Nota do editor:


Guiné 63/74 - P8414: Monte Real, 4 de Junho de 2011: O nosso VI Encontro, manga de ronco (7): Quando os netos acompanham os avós, neste caso o Benjamim Durães...


Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande (*) > Os netos... que já perguntaram ao avô, não sei quantas vezes, quando é que aparecem no blogue... Pois aqui estão eles, ou melhor, ele, Tiago, e ela, a Bruna...

Foto: © JERO  (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 




Monte Real  > Palace Hotel > 4 de Junho de 2011 > VI Encontro Nacional da Tabanca  Grande (*) > O nosso camarada Benjamim Durães trouxe consigo não as suas filhas mas os seus netos,  a Bruna e o Tiago. Não foi a primeira vez que tal acontece nos encontros da Tabanca Grande (estou-me a lembrar, por exemplo,  do Valentim Oliveira que, no IV Encontro, em 2009, levou com ele a sua neta Cyndia, de 16 anos), mas é sempre digno de registo e de apreço, é sobretudo um gesto de grande ternura, e uma forma de passagem de testemunho intergeracional... 


Os meus parabéns ao Benjamim, um xicoração para os seus netos que toda a gente achou uns miúdos amorosos (aqui muito bem apanhados pela objectiva do Jero, na primeira foto de cima).


Recorde-se que o Benjamimn Durães, que vive em Palmela, é o incansável organizador dos convívios anuais do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72).  Este ano, já em 5ª edição, o evento realiza-se no próximo sábado, 18 de Junho, em Montemor-O-Velho (**).




Foto: © Luis Graça  (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. 

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Notas do editor: