sexta-feira, 18 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9920: Agenda Cultural (202): No Dia Internacional dos Museus, inauguração e animação do Museu da Guerra Colonial, V. N. Famalicão





Página do portal do Município de Vila Nova de Famalicão




1. Segundo informação que nos mandou o camarada Carlos Pinheiro, através de notícia da Agência Lusa, o concelho de Vila Nova de Famalicão vai inaugurar hoje - Dia Internacional dos Museus -  os museus do Automóvel e da Guerra Colonial.


(...) "O Museu do Automóvel, resultado da parceria entre a Câmara de Famalicão, o Clube do Automóvel Antigo e Clássico daquele concelho e o Lago Discount, contará com cerca de meia centena de veículos, entre clássicos e modernos.  Alguns modelos, como o Fiat 500 e o Carocha, serão apresentados nas suas versões mais antiga e mais recente, com o objetivo de mostrar a evolução do design na indústria automóvel". (...)

Quanto ao  Museu da Guerra Colonial, "com uma área de 1.500 metros quadrados, contará com um auditório e três módulos principais.  Numa primeira fase, apenas abrirão ao público 500 metros quadrados com uma exposição de painéis que relatam a história da Guerra do Ultramar, abordando a cronologia, as operações militares, os horrores e ferimentos de guerra e a correspondência, entre outros temas (...). Numa fase inicial, o centro museológico abrirá mediante marcação prévia para receber visitas de grupo de escolas e outras associações. Posteriormente, abrirá em dias específicos, sempre com entrada livre.(VCP / Lusa)...



2. No portal da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, pode ler-se o seguinte:

"A história do Museu da Guerra Colonial começou a desenhar-se durante o ano lectivo de 1989/90, quando trinta alunos oriundos de várias freguesias dos concelhos de Vila Nova de Famalicão, Barcelos e Braga participaram num projecto pedagógico-didático conjunto a que chamaram 'Guerra Colonial, uma história por contar'.


"Através da metodologia da história contada oralmente, os alunos recolheram o espólio dos combatentes das suas áreas de residência. Surgiram então vários documentos como processos de morte e de ferido, correspondência, diários de companhia, diários pessoais, diários de acção social e psicológica, relatos e processos confidenciais, objectos de arte, fotografias, bibliografias, objectos religiosos, fardamento e armamento, enfim um manancial de fontes que permitiu, entre outras coisas, organizar uma exposição e nela reconstruir o "itinerário" do combatente português na guerra colonial.



"Em 1992, iniciou-se um trabalho de colaboração com a Delegação da Associação dos Deficientes das Forças Armadas de Vila Nova de Famalicão, em que foram efectuados novos estudos regionais com base nos arquivos e membros desta instituição, bem como foi ampliada a exposição com a integração de novos estudos e materiais. Como resultado desta colaboração, a exposição percorreu vários eventos culturais e várias localidades.


"Finalmente, em Maio de 1998, foi celebrado um protocolo de colaboração entre a Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Delegação da ADFA de Famalicão e Externato D. Henrique de Ruilhe de Braga, que serviu de acto solene e formal para a criação do Museu da Guerra Colonial.


"O Museu rege-se pela recolha, preservação e divulgação de fontes e estudos, reformulação técnica da exposição permanente, constituição de um centro documental e o alargamento de novos estudos na região".


Fonte: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão > Museu da Guerra Colonial


Contactos > Centro Coordenador de Transportes, Sala 1
Rua Henriques Nogueira
4760-038 Vila Nova de Famalicão

Espaço Museológico > Parque Lago Discount
Rua do Xisto
4760-727 Ribeirão

Telefone: 252 322 848 / 252 376 323 | Fax: 252376324
E-mail: info@adfa-famalicao.rcts.pt

Horário > Segunda a Sexta-feira: 09h30 - 12h00 e 14h00 - 19h00
Sábados: com marcação prévia.

Ingresso > Entrada Livre

Entidade Gestora >  Associação do Museu da Guerra Colonial



3. Programa do Dia Internacional dos Museus > Museu da Guerra Colonial, V.N. Famalicão


Museu da Guerra Colonial

Dia 18 Maio:

Início da Campanha - “Memória Viva de um Passado Recente”- Recolha de espólio relativo à Guerra Colonial para exposição no museu
Destinatários: Público em geral
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita

Dia 20 Maio:
38º Aniversário Delegação da ADFA de Vila Nova de Famalicão
- Encontro Nacional de Ex-Combatentes e Deficientes das Forças Armadas

Abertura do Museu ao público 
Destinatários: Público em geral
Hora: 10h30
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita

Visita ao Museu e homenagem aos ex- combatentes falecidos
Destinatários: Público em geral
Hora: 11h00
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita
.
Debate sobre o tema “O papel do Museu da Guerra Colonial e as suas perspetivas de futuro.”
Destinatários: Público em geral
Hora: 11h30
Local: Museu da Guerra Colonial
Entrada gratuita
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Nota do editor:

Último poste da série > 17 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9916: Agenda cultural (201): Conversas com Veteranos da Guerra Colonial. Sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" (Museu Militar do Porto)

Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)





Guiné > Região de Tombali >  Picada de Gadamael / Guileje >  1969 > Foto do álbum fotográfico de João Martins, Guiné 1967/69, disponível na sua página do Facebook >  Foto nº 188/199 >  "Na picada a caminho de Guileje onde os contactos eram frequentes e muito pesados"...


 [Depois de ter estado em Piche, desde setembro de 1968 (com férias em agosto, na Metrópole, na sua amada praia de São Martinho do Porto), e de ter regressado a Bissau, para dar instrução, no BAC 1, o nosso camarada João Martins é colocado no sul, na região de Tombali, passando sucessivamente por Bedanda, Gadamael e Guileje, antes de ir de novo de férias a Portugal, em agosto de 1969... Esta foto, uma coluna de Gadamael até Guileje, deve ter sido tirada nos primeiros meses de 1960, na época seca... Parte das legendas foram recuperadas da página do Facebook.]



Guiné > Região do Oio >  Farim > 1969 (?) > Foto º 79/199 > "Uma Dornier e um T6 na pista de Farim" [, Quando o João Martins regressou, de Piche a Bissau, de Dakota, em finais de 1968 ou princípios de 1969]



Guiné > Região de Tombali >  Catió > 1969 (?) >  Foto do álbum do João Martins > Foto º 119/199 >"Quartel de Catió" [, De passagem para Bedanda, na época seca, princípios de 1969] 



Guiné > Região de Tombali >  Catió (?) > 1969 (?) > Foto nº 16/199> [O autor diz que esta foto é de Catió, quando por lá passou a caminho de Bedanda... A mim, parece ser o campo de futebol de Mansoa, por onde o João Martins andou quando voltou de Piche, para dar instrução do GA 7, em Bissau]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa> 1969 (?) > Foto º 54/199 > "Habitações tradicionais"...



Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 48/199 > [Vivenda colonial]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 52/199 > [Rua com candeeiros de iluminação pública]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 53/199 > [Rua, com vivenda e mulheres a caminho da pesca (?)...]


Guiné > Região do Oio >  Mansoa (?) > 1969 (?) > Foto º 49/199 > [Rua,  edifício público (?) e agente da polícia administrativa]




Guiné > Região do Oio >  Mansoa> 1969 (?) > Foto º 47/199 >  " Monumento Nacional e escola primária atrás" [de 1951?].



Guiné > Bissau ou Mansoa > 1969 (?) > Foto nº 18/199 > "Mercado"


Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Fotos editadas e parcialmente legendadas por L.G.; no que diz respeito às legendas, o editor  correu deliberadamente o risco de ter cometido algum erro grosseiro, pelo que todas as ajudas serão bem vindas para posteriores correções]



ÍNDICE

1. Curso de Oficiais Milicianos
1.1. Mafra – Escola Prática de Infantaria
1.2. Vendas Novas – Escola Prática de Artilharia – Especialidade: PCT (Posto de Controlo de Tiro)
2. Figueira da Foz – RAP 3 - Instrução a recrutas do CICA 2
3. Viagem para a Guiné (10 de Dezembro de 1967)
4. Chegada à Bateria de Artilharia de Campanha Nº. 1 (BAC 1) e partida para Bissum
5. Bissum-Naga
6. Regresso a Bissau para gozar férias na Metrópole (Julho de 1968)
7. Piche
8.  Bissau, BAC 1
9. Bedanda
10. Gadamael-Porto
11. Guilege
12. Bigene e Ingoré
13. Em anexo, artigos do jornal Defesa da Beira de Esmeralda Antas e de Pinheiro Salvado




Memórias da minha comissão na Província Ultramarina da Guiné - Parte V (*)

por João Martins (ex-Alf Mil Art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69)

(Continuação)




8. Bissau, BAC 1


[Depois uma temporada em Piche, para onde fui em setembro de 1968, recebi ] uma guia de marcha para me apresentar em Bissau. Lembro-me de ter regressado [, por Farim,]  num Dakota, que parecia ser da última grande guerra tal era a vibração da fuselagem e o barulho que fazia o motor.

Chegado a Bissau, nova tarefa me esperava, dar instrução de manuseamento de obuses a duas secções de instruendos. Depois de umas explicações sobre as partes constituintes, expus o seu funcionamento, e entrámos na parte prática com base no manual de instruções.

Não me foi difícil perceber que o que estava no manual não era o mais eficaz, pelo que alterei a manobra de alguns dos instruendos de modo que passaram a executá-las com mais rapidez como se veio a verificar nas marchas finais, em Mansoa, onde fizemos tiro e pude tirar algumas fotografias.

Dei-me muito bem com estes instruendos, de tal modo que, se ao princípio os obrigava a fazer muitas flexões porque não estavam habituados a estar com atenção ao que se lhes dizia porque não tinham treinado a concentração; para o fim, isso já não acontecia. Estavam de tal modo à vontade comigo que me perguntaram se podiam falar abertamente sem risco de quaisquer represálias, é claro que lhes disse que sim, e expliquei-lhes o meu ponto de vista sobre as causas desta guerra de terrorismo que os nossos “inimigos”, dentro e fora do país, chamavam de “libertação”.

Alguns não sabiam de que lado se haviam de colocar, não tanto por razões do passado, até porque viam nos portugueses da Metrópole pessoas amigas, que lhes queriam bem, mas porque, no futuro, se os portugueses se retirassem, ficariam à mercê do inimigo que provavelmente não lhes “perdoaria”.


Guiné > Zona leste > Piche (?) > s/d > Foto nº 120/199 > [Criancinha, mulata, com a mãe...] "Suponho que era filho de um capitão que por lá passou"…


Expliquei-lhes que o que eles sofriam era idêntico ao que os portugueses da Metrópole também sentiam, um fraco desenvolvimento económico em consequência de uma apropriação de rendimentos do trabalho exagerada por parte do Estado em termos de impostos, e também, regra geral, por parte das empresas que prosseguiam políticas de baixos salários, e ainda pelo facto dos custos energéticos e financeiros serem demasiado elevados. Em consequência, criavam-se poucos postos de trabalho.  

Expliquei-lhes que era frequente as empresas enfrentarem tribunais pouco céleres pelo que, em caso de conflito com clientes com dívidas de cobrança duvidosa, podiam correr o risco de ir à falência; também os intermediários apostados em importar bens sucedâneos e em praticar margens de comercialização elevadas contribuíam para a asfixia económica e financeira dos seus fornecedores nacionais, o que os impedia de aumentar os vencimentos, e, desse modo, contribuir para um poder de compra mais elevado, o que, se tal acontecesse, permitiria um desenvolvimento económico em que todos ganhariam.


 Guiné > Zona leste > Piche > 1968 >  Foto nº 107/199 > [ Gazela, a prisioneira....]  


Dei então o exemplo dos USA, em que a realidade era a inversa, e tendo como consequência um significativo desenvolvimento económico. Expliquei-lhes que Henry Ford II dizia que era um industrial do ramo automóvel que tinha consciência de que, para poder produzir e comercializar os seus automóveis, tinha que ter clientes com poder de compra suficiente para os adquirir, pelo que, em consequência, era importante aumentar os ordenados da generalidade dos trabalhadores; pelo contrário, em Portugal, como nos países do Leste Europeu, a filosofia era a oposta, daí a elevada emigração para países que praticavam políticas salariais mais favoráveis e em que era evidente a preocupação do aumento do poder de compra das populações.

Relativamente à Guiné, disseram-me que, uma das razões que a propaganda do IN apontava.  para justificar a retirada dos portugueses da Metrópole, era que se tal acontecesse as suas casas ficariam para eles.

Expliquei-lhes que não haveria casas para todos, mas só para os “políticos” afetos ao PAIGC, e que, mesmo que ficassem com alguma,  não teriam comida para alimentar mulheres e filhos pelo que teriam que arranjar trabalho, e para isso os portugueses da Metrópole tinham mais conhecimentos e capacidade para criarem empresas que lhes proporcionassem empregos. Caso contrário, teriam que cultivar os campos e voltar à agricultura tradicional ou dedicarem-se à pesca, tarefas a que já não estavam propriamente habituados.

No último dia da instrução, perguntaram-me se não lhes dava mais castigos, que eram por norma dez flexões por distração ou por mau comportamento, respondi-lhes que os castigos que lhes dava eram uma consequência do comportamento deles e que, por isso, eram eles que dariam a resposta, perguntaram-me mais uma vez se podiam falar abertamente, disse-lhes que sempre o tinham podido fazer, perguntaram-me se podiam emitir uma qualquer opinião ou um qualquer pedido, disse-lhes que sim e que o atenderia se me fosse possível.


Para espanto meu o pedido consistia em que eu fizesse dez flexões. Não estava à espera de tal pedido, pensei duas vezes, e rapidamente tomei a decisão de as fazer, recordando “a cena do lava-pés de Jesus Cristo afirmando que tinha vindo à terra para servir e não para ser servido”.  

 Esta minha ação comoveu uns tantos que resolveram também fazer dez flexões. No final da instrução, vieram-me abraçar com o sentimento de amizade que, de facto, nos unia, nos bons e nos maus momentos.

Terminada esta instrução fui colocado em Bedanda onde já se encontrava um pelotão com três obuses 14 cm. Tive que fazer novamente as malas e apanhar uma Dornier (DO) que,  passando por Catió,  onde tirei algumas fotografias que já não sei identificar, acabou por aterrar em Bedanda.


Bedanda foi, sem dúvida um dos locais da Guiné que me deixou mais saudades. Fazia a sua defesa a Companhia de Caçadores 6, do recrutamento da Província, uma milícia, e o pelotão de artilharia. A população era particularmente simpática e notava-se que tinha tido muito contacto com portugueses da metrópole. Aliás, a casa colonial existente era imponente.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9918: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (53): Acácio Conde, ex-combatente em Angola, encontra no nosso Blogue os amigos Manuel Reis, Paulo Santiago e Vasco Pires

1. Comentário do dia 14 de Maio do nosso camarada, e leitor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Acácio Conde, que cumpriu serviço militar em Angola, deixado no Poste 9461:

Malhas que o acaso tece...

Viajando pelas páginas da internete um pouco ao Deus dará, acabo de descobrir contactos de três amigos contemporâneos de juventude que a vida se encarregou de separar. A marca comum que nos juntou no Colégio Nacional em Anadia e vos juntou na guerra colonial da Guiné-Bissau sem saberem uns dos outros, a mim mandou-me para Angola...

Tenho-vos encontrado esporadicamente mas desconhecendo no concreto esse elo de ligação das vossas vidas. Afinal o mundo continua pequeno e redondo: o Vasco Pires, o Paulo Santiago e o Manuel Reis são os amigos a que me refiro e de quem guardo memórias de juventude.

Este blog que por vezes tenho visitado pela sua qualidade e capacidade de mobilização que consegue junto de muitos dos ex-militares que nas décadas de 60 e 70 estiveram em África e que continuam a partilhar entre si memórias e momentos de vida em comum...

A estes amigos em particular envio um forte abraço, com desejo de boa saúde, esperando que nos possamos juntar um dia aqui por Aveiro, onde vivo vai para 40 anos.
Seria uma grande alegria que se concretizasse esse encontro.

Cordialmente
Acácio Conde


2. Comentários de CV:

- Tudo começa no poste de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9461: Camaradas da diáspora (10): Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72): saiu de Portugal em 1972 onde os nossos camaradas Paulo Santiago (em 9 de Fevereiro) e o Manuel Reis (em 10 de Fevereiro) deixaram os seus comentários por reconhecerem, pelo seu nome, o velho companheiro de escola, Colégio Nacional de Anadia, o Vasco Pires, a viver no Brasil, também ele ex-combatente na Guiné.

- Por sua vez, o comentário do Paulo deu origem ao poste de 10 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9469: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (51): Dois amigos, Paulo Santiago, aguedense, e Vasco Pires, anadiense​, reencontra​m-se, no blogue, ao fim de 50 anos!

- Finalmente, no dia 14 do corrente mês aparece um amigo dos três, o camarada Acácio Conde, ex-combatente em Angola, que deixou também no P9461 o comentário que ora se publica.

- Não há dúvida que "O Mundo é Pequeno... ...e a Nossa Tabanca é Grande!

- Vd. último poste da série de 14 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9897: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (52): Encontro o Leopoldo Amado na Feira do Livro de Lisboa, 4 anos depois de Bissau: está agora no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, como investigador no programa de pós-doutoramento (Luís Graça)

Guiné 63/74 – P9917: Convívios (437): Almoço/Convívio do Batalhão de Cavalaria 8323, dia 2 de Junho de 2012, em Coimbra (António Rodrigues)


1.     O nosso Camarada António Rodrigues, ex-Soldado Condutor Auto do BCAV 8323, Copá, 1973/74, solicita-nos a divulgação da próxima festa da sua companhia. 


Almoço/Convívio do Batalhão de Cavalaria 8323

2 de Junho de 2012

Ançã - Coimbra 




Camaradas, 

Agradeço a publicação, no nosso Blogue, da notícia do almoço/convívio do Batalhão de Cavalaria 8323, que prestou serviço na Guiné 1973-1974, em Pirada, Bajocunda, Copá, Paunca, Sissaucunda e Buruntuma. 

Realiza-se no próximo dia 2 de Junho no Restaurante Quinta do Pingão junto à estrada Nacional, em Ançã - Coimbra. 

Para mais informações, os interessados (que espero sejam muitos ) devem contactar o nosso Camarada e Amigo: 

José Tomás Fernandes 
Telefones: 253 672 374 (das 09h00 às 18h00 horas) 
Telemóvel: 964 241 854 
Ou, 
Paula: 253 673 929 (a partir das 21h00 horas) 

As inscrições devem ser feitas até ao próximo dia 25 deste mês de Maio. 

Um abraço, 
António Rodrigues 
Sold Cond Auto da 1ª CCAV do BCAV 8323. 


Mini-guião: © Colecção de Carlos Coutinho (2012). Direitos reservados. 
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

16 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9912: Convívios (254): Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 31 de Maio de 2012 em Alcabideche (José Manuel M. Dinis) 


Guiné 63/74 - P9916: Agenda cultural (201): No Dia Internacio​nal dos Museus. Conversas com Veteranos da Guerra Colonial. Sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" (Museu Militar do Porto)



1. Camaradas a Dra. Alexandra Anjos, do Museu Militar do Porto, enviou-me o convite infra-anexo, extensível a todos os que de vós possam estar interessados.

No Dia Internacio​nal dos Museus 
Conversas com Veteranos da Guerra Colonial 
"Um objeto, um testemunho" 
Museu Militar do Porto 


Caro Eduardo, 


Este fim-de-semana (18, 19 e 20 de maio) o Museu Militar do Porto vai participar numa série de atividades, a par de cerca de 30 museus da cidade do Porto, no âmbito do Dia Internacional dos Museus e Noite dos Museus (para mais informações: http://dim.portodigital.pt/)

Em particular no dia 19 (sábado) o Museu Militar do Porto tem programadas 2 sessões com conversas com Veteranos da Guerra Colonial, pois julgamos de todo interesse, cumpridos já 50 anos do seu início, conhecer o testemunho de quem, não sendo militar de carreira, cumpriu o seu dever e seguiu depois a sua vida assumindo um papel diferente na sociedade. Estas sessões com o tema "Um objeto, um testemunho" terão lugar às 15h30 e às 17h30. 

Teríamos todo o gosto em que aparecesse e agradeço, se puder, fazer a divulgação junto dos seus contatos, ou entre quem possa ter interesse, pelo que anexo o cartaz em pdf que pode ser enviado via mail. 

Obrigada.
Um abraço
Alexandra Anjos
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

10 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 - P9878: Agenda cultural (200): O António Batista, o nosso "morto-vivo do Quirafo", e os projetos solidários da Tabanca de Matosinhos, hoje, 5ª feira, dia 10, às 10h, no programa Praça da Alegria, RTP1 


Guiné 63/74 - P9915: Lições de artilharia para os infantes (5): Quando o oficial de dia fez um levantamento de rancho... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)


[Foto à esquerda, de Lázaro Ferreira, nosso próximo grã-tabanqueiro: malta de Gadamael, 1974].


1.  O C. Martins - nosso leitor e camarada, mais conhecido por ter sido o "último artilheiro de Gadamael" , comandante do Pel Art 23, que acabará por (con)fundir-se com o 15, mas também médico, hoje, no Portugal profundo, -  não faz parte formalmente da nossa Tabanca Grande (TG), por razões alegadamente deontológicas, éticas  e profissionais que eu entendo e respeito. Isto quer dizer que: (i) nunca pediu para aderir à TG; (ii) nunca aceitou o meu convite para ingressar na TG; (iii) nunca se apresentou ao "pessoal da caserna", como mandam as NEP do blogue; (iv) nem nunca enviou as duas fotos da praxe... 

Em contrapartida, é leitor assíduo, fã do nosso blogue, comentador diário dos nossos postes, frequentador dos nossos encontros nacionais, e profundo conhecer da Guiné, amigo das suas gentes... Tem, além disso - e excecionalmente - uma série feita com os seus comentários neste blogue... Ele é um bom contador de histórias, tem sentido de humor, e muitas memórias da tropa, da guerra e da paz, por partilhar... Seria uma pena que esta, que a seguir (re)publicamos, ficasse  escondida (e perdida) na montra traseira (que é a caixa de comentários) do nosso blogue... 

Sem sequer lhe pedir autorização (já foi dada tacitamente), aproveitei esta história, que considero exemplar, para mais um poste da série Lições de artilharia para os infantes... Pode perguntar-se: Foi a tropa uma escola de virtudes ? Quero eu dizer, a tropa do nosso tempo... Aprendia-se lá só coisas de artilharia, infantaria, cavalaria, transmissões ? Mas também valores ?... 

A pergunta não tem uma resposta dicotómica: como de resto tudo na vida, nada  pode ser visto a preto e branco... Depois da história do J.L. Mendes Gomes, a do C. Martins: são duas histórias que têm direito a "mural ao fundo"... Não confundir com "moral"... São histórias que se prestam a que a gente, os grã-tabanqueiros e demais leitores deste blogue, escrevem os seus grafitos na parede (mural), ao fundo... Eu diria que são "contos morais"... Mas ao leitor é que é reservada a última palavra. 

O C. Martins que me perdoe a partida, mas achei que este seu comentário era um pequeno diamante em bruto, que merecia ser lapidado... Podia tentar adivinhar quando e com quem se passou... Seguramente, gente da artilharia, mas para o caso não interessa. Os "contos morais" não têm historicidade, isto é, a espessura e a ganga do tempo e do espaço... (Quanto a mim, limitei-me a fazer o papel do escriba de serviço, neste turno, que foi o de fazer a fixação do texto; os méritos vão inteirinhos para o C. Martins).

Para o J.L. Mendes Gomes vai também o meu apreço pela coragem e frontalidade com que ele partilha, connosco (e com os netos...), uma história que alguns poderiam/poderão achar "politicamente pouco correta"... (LG).


 2. Lições de artilharia para os infantes > Quando o oficial de dia fez uma levantamento de rancho...


por C. Martins

Este tema é muito interessante: Relação entre comandantes e comandados e vice-versa (*).

Atitudes, justiça, injustiça, abuso de poder, capacidade de liderança ou não, coesão ou espírito de corpo.
Todos nós tivemos casos, independentemente da categoria ou posto hierárquico.

A propósito de rancho... Lembro-me de um caso passado num regimento de uma cidade alentejana. O oficial de dia fez um levantamento de rancho !!!!.

Este tinha por hábito não se limitar a provar a comidinha da bandeja, mas verificar as pesagens dos géneros segundo as NEP. Era vitela à jardineira: tanto de ervilhas, cenouras, batatas e a carne da dita.


Iniciado o repasto, que a bem da verdade o pessoal comia com sofreguidão, o dito oficial, olhando de soslaio para pratos e travessas repara que havia ervilhas, cenouras, grande quantidade de batatas e, surpresa,  a carne praticamente tinha-se evaporado!. 
-  NINGUÉM COME MAIS, CAR...!!! - berra o gajo com um galãozito transversal no ombro, e enceta uma corrida frenética até à cozinha onde se depara com grandes nacos de carne sobre a bancada.

Transtornado, enfia uma cabeçada no 1º sargento vago-mestre ou lá o que era:
- Você está preso,  seu f... da p...!. E estão todos presos, seus cabr...f...das p..., bandidos, gatunos! ...

Mais calmo, tenta contactar o comandante que não estava, o 2.º também não... Bem, a alternativa era o contacto com o QG da região militar. Atende o oficial de dia da respectiva:
- ... Fez o quê ?!! Você já desgraçou a sua vida!

Nesse dia almoçou-se só às cinco da tarde. 

O sorja f... da p... tinha por hábito gamar a carne e outros géneros que vendia a talhos e estabelecimentos civis,  com a conivência dum cabo RD... Os outros elementos da cozinha eram ameaçados para se calarem. A justiça militar atuou com penas exemplares... O aspiranteco teve um elogio verbal e foi mobilizado para o CTIG.

Qualquer coincidência com a realidade não foi mera ficção.

C.Martins (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66).



(**) Último poste da série > 4 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9852: Lições de artilharia para os infantes (4): O que era uma bateria (ou bataria)... (C. Martins, Cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

Guiné 63/74 - P9914: História da CCAÇ 2679 (50): Uma motivação imprevista (José Manuel M. Dinis)

1. Em mensagem do dia 13 de Maio de 2012, o nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), enviou-nos mais uma memória da história da sua Unidade.


HISTÓRIA DA CCAÇ 2679 (50)

Uma motivação imprevista

Lá longe, depois de cruzado o Geba e o Gabu, na direcção do Senegal e das brisas do deserto, cirandava uma companhia que, desde Piche, praticava muita operacionalidade, e todos os dias mantinha, a par da actividade militar propriamente dita, com picagens, patrulhas, colunas e emboscadas, ainda a actividade interna, normal de cada aquartelamento.

O pessoal, por vezes, manifestava cansaço, até revolta. Sobretudo, quando as horas do rancho suscitavam algum género de contestação. De facto, por ali comia-se mal e porcamente. O "tacho" consistia quase exclusivamente em "bianda com estilhaços", num guisado que sugeria cimento, ou massa com estilhaços.

Quando alguém se lembrava de reclamar, logo degenerava um coro de protestos, no geral inconsequentes. Mas quando, ainda revoltados e estimulados para reclamar, encontravam o capitão, um ou outro mais afoito, dirigia-se-lhe a apresentar protestos, enquanto os restantes paravam à escuta, ou largavam frases acusatórias de que havia quem enriquecesse à custa do pessoal, ou que na messe os senhores comiam bifinhos, enquanto no refeitório a alimentação era quase intragável. E havia quem, mais ou menos encoberto, como quem queria a coisa, referisse que o rebentamento de umas granadas poderia resolver o problema dos ilícitos.

Um dia a localidade foi sobrevoada por um NordAtlas, que do seu bojo soltou uma caixa de frescos. Vieram de pára-quedas, mas com tal força bateram no chão, que o caixote desconjuntou-se, o peixe espalhou-se no solo arenoso numa gemada de ovos, e nada se aproveitou.

Pata que os pôs, gritava-se entre impropérios. Parecia que estavam a gozar. Quem havia de comer aquilo? Porque é que não se fez uma coluna a buscar os géneros?

À porta da secretaria o capitão parecia ouvir os protestos. Por trás, cofiando o bigode, como quem avalia o evoluir da situação, o Primeiro mantinha-se calmo e encorajador do capitão.  

Que um dia haveria ali uma festa com mais puns-puns que a passagem de ano no Funchal, que os "xicos" é que deviam ir para o mato, e outras, directas e indirectas, mobilizavam a rapaziada na curiosidade contestatária.

Alguns dias depois aterrou um DO que trazia o Comandante Operacional. Algum tempo depois mandava-se formar o pessoal da Companhia, um pelotão de operacionais, e uma parte dos especialistas.

Houve um arremedo de formação para o senhor Comandante. O pessoal olhava para os pés, compunha o quico para evitar o sol, diziam-se dixotes baixinho a provocar graças, que talvez não chegassem ao degrau onde estava o orador, outros davam-se empurrões de surpresa a provocar desequilíbrios, enfim, passava-se o tempo, enquanto Sua Excelência discorria sobre o moral, e a capacidade do exército.

A certa altura, a propósito das reclamações sobre a alimentação e o consequente cansaço, teve a seguinte tirada: Eu também ando pela Guiné toda, e não estou cansado. Não foi preciso esperar reacção, porque um espontâneo logo replicou altissonante: de avião!... assim também eu.

Seguiu-se uma precipitação de risos, de início a conterem-se, mas logo em avalanche de bom humor. O pessoal inclinava-se, aproximavam-se alguns para comentar, de onde brotavam mais risos. A formação, deformava-se. Alargava-se. Descompactava-se. Sem ordem, que não se revelou necessária, destroçava-se.

O senhor Major considerou que já tinha falado, e também se retirou com o capitão a segui-lo. Foi uma festa, e durante dias quase não se falou de outra coisa. Mal imaginaria aquele oficial, como um simples "lapsu-linguae" poderia transformar uma tropa apática e mal disposta, num grupo de militares orgulhosos e alegres, capazes de resistirem por mais algum tempo às provações que lhes eram impostas.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9756: História da CCAÇ 2679 (49): A maneira mais prática de fazer prova de aptidão para conduzir viaturas auto (José Manuel M. Dinis)

Guiné 63/74 - P9913: Estórias avulsas (59): Uma ida à lenha que ia estragando o almoço (Manuel Carvalho Passos)

1. Texto e fotos do nosso camarada Manuel Carvalho Passos* (ex-Soldado do Pel Rec / CCS / BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/73), chegado até nós através do nosso camarada Juvenal Amado:


UMA IDA À LENHA QUE NOS IA ESTRAGANDO O ALMOÇO

Camaradas, são já passados alguns meses após a minha apresentação à Tabanca Grande.
Resolvi relatar um acontecimento e assim contribuir com esta memória para o grande colectivo que é o nosso Blogue.

Em Galomaro passei alguns bons momentos de amizade, camaradagem e também alguns dos piores da minha vida. Mas hoje vou falar dos bons.

Ao ver uma foto da malta que ia à lenha, lembrei-me de uma das muitas peripécias por que lá passei. O Furriel Castro mandou chamar alguns elementos do meu pelotão onde pontuavam o Silva dos Carvalhos e o Ferreira, rapaz de Viseu com quase 2 metros de altura.

Ora eu tinha recebido 1000 pesos de uma tia que estava na África do Sul, sim porque aqui na Metrópole não era fácil alguém me mandar assim mil palhaços. O tempo já era de vacas magras!!

Esposa e neta do senhor Regala

Quando me vi com esse dinheiro todo, tratei de convidar os dois para almoçar no Regala. Não me lembro se foi frango ou bife com batata frita, mas verdade é que a D. Maria Regala cozinhava como ninguém. O almoço foi bem regado com um vinho branco muito fresquinho, para aliviar o calor do piri-piri e rematámos com um o dois whisky cada um, pois nunca nos fazíamos rogados e o treino era muito.

Mas a coisa não ficou por aí e quando nos foram chamar para o trabalho, já nós estávamos de barriga encostada ao balcão da cantina, com uma bazuca de litro bem fresquinha. Chega o Sertã e diz-nos que o Furriel Castro andava à nossa procura e que estivéssemos à porta de armas dentro de dez minutos, coisa que não entrava nos nossos planos naquele momento.

O Ferreira escondeu-se na padaria, e eu e o Silva fomos para o posto junto do qual os hélis poisavam. Instruímos o Sertã para dizer que não nos viu.

Como não nos podíamos tornar invisíveis, o Lopes que também estava escalado, foi dizer ao furriel que se nós não fossemos ele também não ia. Andaram à nossa procura, mas não deram connosco e assim tiveram que ir sem nós.

O Lopes não se livrou de ir, com os resultados que se verão.

Vimos a coluna a sair e voltamos para a cantina acabar com a cerveja, quando somos surpreendidos pelo furriel. Passou-nos um raspanete de todo o tamanho. Contamos-lhe o que tinha acontecido e onde nos escondemos, ele muito pronto e com ar de gozo diz-nos: “para a próxima levais uma porrada se não me convidarem para do almoço”.

Só que o Lopes ficou tão bravo, que andou uns dias a perguntar ao furriel se ele tinha participado de nós e claro o furriel disse que sim, mas que o Comandante ia pôr a participação no lixo, porque o Passos tinha uma cunha e estava recomendado. Na verdade a cunha era uma realidade, a ponto de me terem oferecido o lugar na cantina de Galomaro e assim ser retirado do serviço no mato.

Quando chegamos Galomaro o Comandante mandou-me chamar, fez-me a proposta para a cantina e disse-me que não podia fazer melhor. Eu recusei o lugar pois preferia estar no pelotão, com os meus amigos mesmo tendo que ir para o mato.

Nunca me arrependi e só tive que assinar uma carta onde ele escreveria ao Comandante do Tribunal Militar de Bissau a dar conta pois era a pessoa que por mim intercedera.

Esta é assim uma pequena estória na minha passagem por Galomaro. Podia ter passado melhor, poderia não ter visto o vi, mas hoje teria alguma dificuldade em encarar os meus antigos camaradas de armas, se naquela altura tenho escolhido a segurança da cantina.

Coluna para o Saltinho > Capitão Rolin Duarte, Cabo Ferreira, Silvestre e Márcio

A partir da esquerda: Silva, Passos, Ivo e Ferreira

Do lado esquerdo: Passos, Ferreira Silvestre, Sertã e Caramba. Do lado direito: Félix, Furriel Santos, Castro e Sacristão

Fotos (e legendas): Juvenal Amado © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012). Todos os direitos reservados

Um abraço a todos
Manuel Passos
Pel Rec 3872
Galomaro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6958: Algumas fotos de camaradas do BCAÇ 3872 (Manuel Carvalho Passos)

Vd. último poste da série de 24 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9792: Estórias avulsas (58): Fotos de Bedanda (Luís Gonçalves Vaz/Mário de Azevedo)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9912: Convívios (436): Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 31 de Maio de 2012 em Alcabideche (José Manuel M. Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71:

Carlos, boa tarde,
Mais uma vez a dar trabalho. Oxalá sejas compensado.
Neste caso, se apareceres, a organização compensar-te-á, a custas próprias, pois o O.E. esqueceu-se da rúbrica da Linha.
Assim, peço-te o anúncio do próximo encontro, que vai ser um trinta e um.
Um abraço.
JMMD


ENCONTRO DA MAGNÍFICA TABANCA DA LINHA

DIA 31 DE MAIO - (5.ª feira) - PELAS 13H00

NO SÍTIO DO COSTUME: ADEGA CAMPONESA, CABREIRO, ALCABIDECHE, NAS TRASEIRAS DO NOVO HOSPITAL DE CASCAIS

Por 15,50 euros, convidam-se os amigos da MAGNÍFICA, a confraternizar, com a seguinte ordem de trabalhos: 

Couvert: pãpo, manteiga, azeitonas; 
Entradas: paté de marisco, salgados;
Bebidas: vinhos branco e tinto da casa, sumos, águas, cerveja, sangria; 
Sopa: creme de legumes; 
Peixe: filetes de peixe (cherne) com arroz de feijão; 
Carne: lombo de porco assado c/farinheira, c/batata à padeiro e esparregado; 
Sobremesa: buffet de sobremesas; 
Café 

O traje deve ser de gala, mas aceitam-se excepções, excepto, para os mal dispostos. 
Contamos com a condescendência daqueles muitos, que andam ansiosos por dois dedos de conversa. 
Pede-se, ainda, a divulgação do evento por todos os frequentadores habituais, esquimós e extra-terrestres. 

Abraços fraternos 
JD 

Solicitamos a confirmação até ao próximo dia 29 de Maio. 

Contactos: 
Rosales - 914 421 882; 
Dinis - 913 673 067
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9908: Convívios (253): Almoço de homenagem aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, a realizar no próximo dia 10 de Junho em Fão, promovido pela Junta de Freguesia local

Guiné 63/74 - P9911: Os nossos seres, saberes e lazeres (44): Saltar de pára-quedas, um sonho realizado depois dos sessenta... agora sozinho (Paulo Santiago)

VOANDO... AGORA SOZINHO

Ficou o "bichinho" do Paraquedismo após o salto tandem, efectuado há dois meses, e aqui relatado*.
Hoje concluí, com quatro saltos, o Curso de Paraquedismo (abertura automática).
Senti-me bem... algo rejuvenescido.

Paulo Santiago


O Sargento Pára Avelino Cruz dá as instruções

A caminho da aeronave

Instalado no avião

Voando

Aproxima-se a aterragem

Aterragem




Comentário de CV:
Comentário para quê?
Qual o limite do nosso camarada Paulo Santiago?

Fotos: Victor Tavares © 
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9599: Os nossos seres, saberes e lazeres (41): Saltar de pára-quedas, um sonho realizado depois dos sessenta (Paulo Santiago)

Vd. último poste da série de 16 de Março de 2012 > Guiné 63/74 - P9616: Os nossos seres, saberes e lazeres (43): João Crisóstomo, um português das Américas..., mas também de Torres Vedras, de Porto Gole e do Enxalé... (Eurico Mendes, Portuguese Times, 9 de fevereiro de 2011)

Guiné 63/74 - P9910: Cartas do meu avô (4): Segunda Carta: Em Catió (Parte III) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)

Foto à direita: Alemanha, Berlim > Páscoa, 2012 > O J.L. Mendes Gomes com os netos.

Foto: © J. L. Mendes Gomes (2012). Todos os direitos reservados.

1. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigoJoaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66, vivendo presentemente em Berlim.

SEGUNDA CARTA – EM CATIÓ (PARTE III) (*)

Lichtenrade, Berlim, 14 de Março de 2012


5- Inesperada evocação esquecida




Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 6 > Porta de Armas  e  ao fundo o edifício da cozinha das praças.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Quartel > Foto 31  >  Cerimónia militar em Fevereiro de 1968, por ocasião da imposição à CART  1689,  da Flâmula de Honra (ouro) do CTIG, atribuída em julho de 1967.  Com a presença das entidades civis e população. Vista parcial do quartel com as tropas em parada


Fotos (e legendas): Victor Condeço (1943/2010) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados

   
Tornaram-se prática generalizada, sobretudo nos últimos anos, os encontros anuais de convívio fraterno dos ex-combatentes, por esse país fora. Uma prática cada vez mais frequente que se afigura, desde logo, muito sadia e consoladora.

O reverem-se em cada encontro e as recordações cruzadas que se trocam, sobre tudo o que se passou, lá atrás, naqueles tempos conturbados, sobretudo durante o almoço, o apresentar dos novos familiares de cada, esposas, filhos e netos, propiciam sublimes alegrias que, para a esmagadora maioria, têm mesmo de repetir-se. Tornou-se uma obrigação e uma necessidade.

Eu fui e sou excepção. Apresentei as minhas razões e desculpas, mas só apareci uma vez. Foi no ano em que o promotor era o comandante da companhia. Nas instalações do Regimento de Évora. Para revisitar o quartel onde tudo começou, e se preparou a companhia e donde partíramos para a Guiné.

As razões eram e são estritamente do meu foro pessoal. Há feitios e feitios…Sentia e sinto uma natural resistência a voltar aos sítios onde fui infeliz, onde sofri. Não tem para mim, o efeito reparador e consolador que a maioria sente. Prefiro manter tudo em suspenso, bem guardado dentro de mim e só lá vou quando é preciso. Foi uma vivência que passou.

Estávamos todos no mesmo barco. A jogar o mesmo jogo. Em equipa que o destino reuniu. É preferível deixá-la onde está. Não a inquinar com novos desafios. Aquele acabou, cada um foi à sua vida.

Esta é a base onde assento a minha atitude. Discutível ou censurável. Mas é assim que sinto. Não me arrisco a agravar feridas que nunca sararam. E foi o que aconteceu, nesse encontro de Évora.

Apareci sozinho. A concentração deu-se no largo à frente do quartel. Abeirei-me dos imediatamente reconhecidos: o Gonçalves e o Arlindo. Uma grande festa. O que era de esperar e me agradou. A rapaziada já era muita, em alegre cavaqueira. Penso que não reconheci ninguém, assim como vi e senti que me olhavam de olhar inquiridor:
- Quem é aquele gorducho de barbas brancas ?- confessaram-no depois, durante o almoço.

Eu estava mais gordo e tinha alargado em todas as direcções. Excepto na altura. Não havia nem há grandes semelhanças com o que então era. Mas isso era a regra geral Só que, as duas dezenas de anos decorridos, sem qualquer contacto, deu para que tudo se modificasse e ficássemos irreconhecíveis.

Entretanto chegou o capitão acompanhado da esposa. A mesma festa recíproca. Sempre tive muita admiração e amizade por aquele superior. Sereno e vertical. Seguiram-se umas palavras vibrantes dele para connosco, de exaltação pelo que fomos e de lamentação pelo abandono e ignorância geral da pátria, sobretudo da gente da política, que entretanto se seguiram, relativamente aos ex-combatentes. - “ A pátria que nos mandou para a guerra, não foi nem é a mesma que nos acolheu…”

Seguiu-se um passeio pelo interior. Guiado pel o comandante da altura, do quartel. A revolução estranha, interior, que se desencadeou dentro de mim, de forma incontrolável, confirmava-me a razão de nunca ter aparecido. Foi uma lufada de de memórias em ccortejo que me fizeram reviver, sobretudo, as horas más do passado.

Pensei mesmo em apresentar minhas desculpas, retirar-me e não ir ao almoço. Mas o Gonçalves convenceu-me a ficar.
- O pessoal pergunta sempre e gosta de ti. – dizia-me ele sinceramente.

Durante o almoço, num monte alentejano, dos arredores, já se tinha desanuviado mais estas nuvens carregadas que me toldavam. Alguns dos meus soldados e sargentos manifestaram o gosto de me ver. Vieram falar-me.

No final dá-se o inesperado. Começa aquele esperado número- soube-o depois- o da leitura de quadras pelos mais habilidosos, trazidos já de casa, como já era habitual. A dada altura, pareceu de propósito. Sou eu que entro na berlinda.

O ex-cabo de transmissões, de que me lembrava muito bem, e por quem não sentia grande simpatia, diga-se- e, ele por mim…, começa a desbobinar em versos de pé-quebrado a descrição dum episódio, passado em Catió, numa manhã, em que eu era o oficial de dia.

Confesso que me sentia ainda mais atónito à medida em que ele avançava. Sinceramente, não me lembrava nada de ter feito o que ele, jocosamente, desenvolveu…acompanhado da hilaridade geral e olhar de soslaio da assembleia para ver como eu reagia. 

Penso que a sinceridade da surpresa que manifestei sentir terá dado para os convencer… Então que é que tinha acontecido?

Eu sempre fui exigente com todo o pessoal. Em todas as situações. Desde Évora até ao regresso da Guiné. Sempre impus respeito e disciplina, cá e lá. Era incapaz de desapertar as amarras e deixar passar toda a bicharada. Tratamentos por tu, com os meus sargentos, muito menos os soldados, nem pensar. Era contra essa prática. Visceralmente.

Então aconteceu, naquela manhã em que iria deixar de ser oficial de dia, tocou a corneta para o pequeno almoço, na forma habitual. Passou-se um pedaço de tempo exagerado para a comparência deles. Apenas uns gatos pingados desalinhados e de olhos mais fechados de sono que abertos. Pegaram no seu caneco de café com leite e no pedaço de casqueiro e retiraram-se. Ninguém aparecia.

Eu estava ali ao pé da cozinha.
- Ai é?!...
- Ó nosso cabo, faça o favor de despejar esse caldeiro de café com leite pelo esgoto abaixo.

O cabo olhou-me arregalado, hesitante, sem saber o que fazer.
- Faça o favor.

E aí foi tudo para o lixo… 
Retirei-me danado. Fiz bem?...Fiz mal?... Ainda hoje, continua a parecer-me discutível. O certo foi que, não perguntem como, esqueci completamente este episódio que me perturbou. E a eles também…

Varreu-se-me da memória… até àquele momento. Voltei a sentir o mesmo. Relembrei tudo. Fora verdade. Não sorri muito como esperariam, certamente.

O certo foi que nunca mais apareci a qualquer convívio.