segunda-feira, 2 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10103: Patronos e Padroeiros (José Martins) (31): Patrono do Instituto de Odivelas - Infante D. Afonso de Bragança




1. Em mensagem do dia 27 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXXI

Patrono do Instituto de Odivelas


Busto de D. Afonso de Bragança, no Instituto de Odivelas
© Foto José Martins - 14 de Dezembro de 29011


Infante D. Afonso de Bragança

Filho de D. Luís I, 33.º monarca português, e de sua mulher D. Maria Pia de Sabóia, princesa da Sardenha, nasce na Ajuda, em Lisboa, a 31 de Julho de 1865, o Infante D. Afonso a quem, segundo a tradição, foram atribuídos vinte e um nomes próprios, seguidos dos nomes de família: Afonso Henriques Maria Luís Pedro de Alcântara Carlos Humberto Amadeu Fernando António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis João Augusto Júlio Valfando Inácio de Saxe-Coburgo-Gota e Bragança.

Como filho segundo do rei, seguia-se, na ordem de sucessão, ao príncipe herdeiro, pelo que tinha o tratamento de Alteza Real (S.A.R.) e direito aos uso dos títulos subsidiários de Duque de Bragança, Duque de Guimarães e Duque de Barcelos, Marquês de Vila Viçosa, Conde de Arraiolos, Conde de Ourém, Conde de Barcelos, Conde de Faria, Conde de Neiva e Conde de Guimarães.

Foi Condestável de Portugal, desde o nascimento até à queda da monarquia em Outubro de 1910: Duque do Porto, desde 1889 até à data da sua morte; Vice-Rei da Índia no final do ano de 1895, quando comandou o Corpo Expedicionário do Reino, onde em conjunto com as forças da guarnição da Índia e um contingente de marinheiros do cruzador Vasco da Gama, tendo comandado e dirigido várias operações para apaziguar aquele território, até ao regresso ao reino em finais de 1896.

Foi General de Divisão do Exército, Inspector-Geral da Arma de Artilharia e Comandante Honorário dos Bombeiros Voluntários da Ajuda.

Para poder proporcionar às filhas dos oficiais, que tivessem morrido em combate ou por doença, fundou, em 14 de Janeiro de 1900, no palácio do Conde de Sobral, à Luz, um colégio que foi inaugurado com a presença do rei e da família real, começando a funcionar com 17 alunas.

Com o regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, em que perderam a vida o Rei D. Carlos e o Príncipe D. Luís Filipe, a 6 de Maio de 1908, com a aclamação do novo rei D. Manuel II, é jurado, novamente herdeiro presuntivo da coroa portuguesa, que se manteve até ao exílio em Pisa (Itália), aquando da implantação da Republica.

Casou com Nevada Stoody Hayes, cidadã americana, em Madrid no ano de 1917, de cujo casamento não houve descendentes.

Faleceu a 21 de Fevereiro 1920, em Nápoles, Itália, tendo sido trasladado em 1921 para o Panteão dos Bragança em S. Vicente de Fora.


Instituto de Odivelas



Medalha de Ouro do Instituto de Odivelas
Foto: © http://www.institutodivelas.com/medalha-ouro.html

Fundado em 14 de Janeiro de 1900, dando corpo ao desejo de um grupo de elementos das Forças Armadas, com o nome de Instituto D. Afonso, foi inicialmente instalado no palácio de Conde de Sobral, à Luz.

Tendo por modelo as Escolas da “Légion d’Honneur” fundadas em 1806 por Napoleão, com o objectivo de proporcionar às filhas dos oficiais que tivessem morrido em combate, ou por doença, uma educação condigna.

Em 1902 é transferido para o Convento Cisterciense de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, privilegiando cursos cuja formação permitisse a entrada no mundo do trabalho, não descurando a cultura geral das alunas.

Tomando a designação de Instituto de Torre e Espada, em 6 de Novembro de 1910, vê, em 25 de Maio de 1911, o seu nome alterado para Instituto Feminino de Educação e Trabalho, assim como o seu plano de estudos.

Em 1942 passa a designar-se por Instituto de Odivelas e é tutelado pelo Ministério da Defesa Nacional.

Tem como divisa “DUC IN ALTUM” (Cada vez mais alto)

José Marcelino Martins
25 de Junho de 2012
josesmmartins@sapo.pt
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10089: Patronos e Padroeiros (José Martins) (30): Brigada de Intervenção - Infante D. Pedro, 1.º Duque de Coimbra

Guiné 63/774 - P10102: Ser solidário (131): Semana Cultural Guineense. na Escola Fontes Pereira de Melo, Porto, de 2 a 7 de julho de 2012 (Sofia Santos)




1. Mensagem da nossa amiga e leitora Sofia Santos:


Sofia Santos [ sofsrs@hotmail.com }
Data: 2 de Julho de 2012 15:16
Assunto: Hoje, Documentário "42.195km" - 21h30, Escola Fontes Pereira de Melo, Porto


No âmbito da semana cultural guineense que a ACGB [, Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau,]está a organizar, hoje haverá a visualização do documentário "42.195Km", seguido de debate. .


A projecção do documentário começa às 21h30,  na escola Fontes Pereira de Melo, no Porto.


Convite:


A Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau [ACGB] tem o prazer de convidá-lo(a) para a Semana Cultural Guineense, que decorrerá de 2 a 7 Julho na Escola Fontes Pereira de Melo [, Rua O Primeiro de Janeiro, Porto].


PROGRAMA
02.07, 2ª feira | 21h30 | Documentário “42.195Km”,  de Júlio Alves
Valor Entrada | 3.50€

04.07, 4ª feira | 21h00 | Tertúlia Literária e Prova Gastronómica, com a presença do Prof. José Luis [Carvalhido] da Ponte, Presidente da ACGB, e da Associação de Guineenses do Porto[, e membro de longa data da nossa Tabanca Grande].
Entrada Livre | Traga merenda e literatura guineense

06.07, 6ª feira | 21h30 | Peça de Teatro “ Mãe Guiné” AG-P
Valor Entrada | 3.50€

07.07, sábado| 9h00 | Torneio de Futebol
Valor Inscrição | 20€ por equipa (inscrição obrigatória até 29 de Junho)

O valor angariado durante a semana cultural reverte a favor dos projectos a implementar pela ACGB em Cacheu.

APOIOS
Escola Fontes Pereira de Melo
Associação de Guineenses do Porto

Mais informações
acgb.porto@gmail.com





2. No passado dia 15 de junho, tínhamos recebido o seguinte pedido de colaboração:


Caro Dr. Luis Graça


Sou aluna de doutoramento e amiga de Laura Fonseca, que me desafiou a contactá-lo no âmbito de um projecto que estou a desenvolver na Guiné-Bissau.Enquanto voluntária da Associação de Cooperação com a Guiné-Bissau, desenvolvi, juntamente com 2 colegas o projecto educativo EPPI que visa desenvolver formação com professores e área da saúde em determinadas áreas consideradas prioritárias na zona de Cacheu.


Sendo nós uma associação muito pequena com poucos recursos temos desenvolvido várias acções de angariação de fundos que suportem a deslocação da missão. Nesse âmbito, estamos a organizar uma semana cultural dedicada a Guiné-bissau (2 a 7 de Julho) com diversas actividades (teatro, tertulia, filme documentario, torneio de futebol) no sentido de abranger diversos públicos. Após conversa com a Laura Fonseca e pesquisar o seu blogue dos Camaradas de Guiné, gostaria de saber se seria possível contar com a sua presença ou que indicasse alguém também ligado a expêriencias na Guiné-Bissau que participasse ou no filme documentário ou na tertúlia que visa focar a literatura guineense. Como vi no blogue que estava ligado a poesia seria óptimo se pudesse participar na tertúlia.


Como sei que mora em Lisboa e toda esta semana se vai realizar no Porto, se puder pelo menos encaminhar-nos para alguém do seu blogue, ficariamos muitos gratas. Vou enviar um email com o cartaz da semana cultural.Desde já agradeço a atenção. (...)




3. Comentário de L.G.:


(...) Muito obrigado por me ter contactado. Estive em Angola, em trabalho, de 18 a 23 de junho p.p., e estou agora a responder aos mails atrasados. Louvo a sua iniciativa. Por razões profissionais, não poderei deslocar-me nessa data,  aí ao Porto. Mas terei todo o gosto em mandar-lhe (ou disponibilizar~lhe) alguns poemas meus, de temática guineense, para sua apreciação, com a autorização para serem divulgados e/ou ditos...


Temos, em Matosinhos, uma "delegação" do nosso blogue e da nossa Tabanca Grande: a Tabanca de Matosinhos [, cuja página está de momento com alguns problemas informáticos...]. O Álvaro Basto e o José Teixeira são dois camaradas meus que conhecem bem e amam por demais aquela terra e aquelas gentes. Vou dar-lhes conhecimento do seu pedido, bem como ao meu querido amigo e co-editor Carlos Vinhal. Eles irão por certo fazer o seu melhor para ajudá-la nesta louvável iniciativa. São, aliás, pessoas muito experientes na organização de eventos com objetivos de solidariedade para a Guiné. Os meus melhores cumprimentos para si e a Laura. A Laura conhece o Zé Teixeira de longa data. (...)

PS - Vai daqui também um afetuoso Alfa Bravo [ABraço] para o nosso camarada J. L. Carvalhido da Ponte, e votos de bom sucessos para os projetos solidários da ACGB.

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Último poste da série > 7 de junho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10011: Ser solidário (130): Mensagem do Pepito, em nome pessoal e do pessoal da AD: Temos o dever moral de não vos defraudar... e prometemos continuar a luta

Guiné 63/74 - P10101: Notas de leitura (376): "Aviltados e Traídos - Resposta a Costa Gomes", por Mello Machado (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 15 de Maio de 2012:

Queridos amigos,
Foi graças ao confrade Duarte Azevedo que tive acesso a este livro do coronel Mello Machado.
Trata-se de um libelo acusatório à descolonização, há que ponderar os seus argumentos e os factos históricos recentes que ele desconhecia quanto à situação da Guiné, a sua comissão foi entre Fevereiro de 1969 e Dezembro de 1970. O levantamento dos factos político-militares já se encontra bem caracterizado até 25 de Abril de 1974, como recentemente se tem visto no blogue ainda há muita coisa a cruzar entre os relatórios e a vivências das unidades militares durante todo o período de transição para a independência.
Mais uma iniciativa a que o blogue se pode afoitar.

Um abraço do
Mário


Aviltados e traídos 

Beja Santos

O coronel Mello Machado (1928 – 2012) que foi comandante do BART 2865 entre Fevereiro de 1969 e Dezembro de 1970, no sudoeste da Guiné, escreveu em 1977 o livro “Aviltados e Traídos – Resposta a Costa Gomes” (Literal, 1977). Trata-se de um libelo acusatório contra o antigo Presidente da República, destaca frases de Costa Gomes durante o período da guerra e vem a terreiro queixar-se da traição da descolonização. Alega a sua experiência nos teatros de guerra, conheceu as três frentes, como escreve: “Por destino e profissão, cruzei os sertões distantes, vivi no seio das gentes dos territórios africanos atingidos pela guerra. Por ordem cronológica, primeiro Moçambique, depois Guiné, finalmente Angola. Evacuado da frente de campanha em meados de 1973, é longa a minha experiência”.

Vem juntar a sua voz àqueles que “arrastam entre nós o desespero do labor perdido, do sonho destruído, da fazenda espoliada, dos bens que viram roubados”. E procede a uma incursão pelos diferentes territórios. Como aqui só se fala da Guiné, vejamos os seus argumentos, depois de descrever os elementos geográficos mais pertinentes: “A guerrilha raras vezes aceitou combate. Subtraindo-se a qualquer contacto, preferia atuar por ações maciças de fogo, com armas de longo alcance sobre as guarnições militares ou povoados nativos indefesos, sem qualquer discriminação. Furtou-se sempre ao combate a peito descoberto, e quando o fez sofreu desaire, apesar do melhor armamento que dispunha. Muitas das flagelações por meio de armas pesadas eram desferidas a partir de bases em território vizinho. As guarnições de fronteira foram, de longe, as mais sacrificadas. Compreende-se que a solução da guerra não se encontrasse dentro dos acanhados limites da pequena parcela nacional (…) Exerci comando sobre guarnições todas elas implantadas em zona libertada. Indique as guarnições: Catió, Cufar, Bedanda, Cabedú, Cacine, Cameconde, Gadamael, Guileje, Ganturé. Nesta porção de território havia povoações nativas isoladas que se organizaram em autodefesa: Ilhéu de Infanda, Mato-Farroba, mais tarde Cameconde e Caboxanque. Tropas regulares e milícias, irradiando desta dúzia de localidades, patrulhavam as matas e asseguravam a proteção dos povoados nativos”.

Confessa o seu pasmo quando em Lisboa lhe mostraram estes aquartelamentos dentro do chamado “território libertado”. Porque não houve sufrágio para decidir, depois de 25 de Abril de 1974, de que lado queria ficar toda aquela população guineense. A guerra não estaria ganha dados os condicionalismos que descreve, mas admite que houvesse revolução em Angola e Moçambique chegaria a paz à Guiné.

Faz um breve excurso sobre o mosaico étnico para também concluir nem de perto nem de longe o PAIGC representava as aspirações dos povos da Guiné. E termina com uma poderosa catilinária: “Perverteu-se a disciplina militar; louvou-se a cobardia; instalou-se a desordem nos quartéis; contestou-se a hierarquia; comandos dos mais qualificados foram afastados das tropas que lhes votavam obediência e lealdade… A capitulação iniciou-se com o abandono da Guiné. As populações nem sequer foram consultadas. É certo que não mostravam disposição para aderir ao movimento libertador. Razões tinham para isso, lembradas dos martírios e violências até então sofridas. Talvez por isso malogrou-se a conferência de paz que reuniu em Londres representantes da soberania portuguesa com delegados do PAIGC. Nas guarnições militares daquele território assistiu-se à substituição de comandos; as tropas foram industriadas numa nova missão para que não estavam habilitadas – não deveriam combater! A televisão ajudou, bem como a imprensa, fazendo a apologia do PAIGC como legitimo representante da vontade dos guinéus. Chefiado por cabo-verdianos, não estaria lá muito bem identificado com os guinéus”.

São estas, no essencial, as referências à descolonização da Guiné. É do senso comum que as recordações de guerra que retemos têm uma data, o coronel Mello Machado teve a sua comissão na Guiné nos anos 1969 e 1970. Não fala de tudo quanto aconteceu depois, nomeadamente dos episódios críticos de 1973. Não há, nem podia haver, pois não estava no domínio público, uma só referência à reunião de Londres, de Março de 1974, entre um emissário de Marcello Caetano e uma comitiva do PAIGC, as ordens do diplomata eram para negociar um cessar-fogo e depois encetarem-se negociações para a independência da Guiné. Não há, nem podia haver, só recentemente é que se procedeu à divulgação do que seria o dispositivo aprovado para a manobra, negociado por Costa Gomes e Spínola, como Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes escreveram: “A manobra proposta foi uma ação retardadora em profundidade para ganhar tempo e consolidar um reduto final que in extremis, ainda possa permitir a solução política do conflito. Para a constituição desse reduto eram considerados pontos-chave a manter a todo o custo: Aldeia Formosa, Cufar, Catió, Farim, Nova Lamego, Bafatá, a Ilha de Bissau associada às regiões de Bula e Mansoa. A situação aconselhava a um retraimento do dispositivo militar português que devia ficar com todas as unidades aquém da linha geral Rio Cacheu – Farim – Fajonquito – Paunca – Nova Lamego – Aldeia Formosa – Catió, para evitar o aniquilamento das guarnições de fronteira. Foi este novo dispositivo que Spínola e Costa Gomes acordaram em 8 de Junho de 1973. Esta solução de último recurso tem sido apresentada como prova de que no seu regresso a Lisboa Costa Gomes considerou a situação da Guiné como controlada e que o território era defensável quando era, como hoje se sabe, a única viável das três que lhe foram apresentadas por Spínola no memorando do comando-chefe: redução da área a defender; conservação do atual dispositivo sem qualquer reforço, à luz de um espírito de defesa a todo o custo; reforço do teatro de operações em ordem a manter a superioridade do inimigo. O general Costa Gomes emitiu a opinião de que, perante a impossibilidade de dotar a Província com os meios necessários à sua defesa, a única alternativa seria a de um retraimento do dispositivo com o abandono de largas áreas do território ao longo da fronteira. Esta solução é a clara admissão de que as forças portuguesas abdicavam da posse de boa parte do território da Guiné e das suas populações para concentrarem num reduto central. A soberania portuguesa seria assim apenas formal e enquanto pudesse sê-lo porque, a partir da declaração de independência que o PAIGC veio a fazer em Setembro, e logo reconhecida por 88 países, este reduto seria sujeito a ataques que poderiam contar com forças regulares de países africanos e que teriam justificação face ao direito internacional, pois Portugal já era considerado pelas Nações Unidas ocupante ilegal do território. O reduto central seria militarmente e politicamente cada vez mais indefensável. Com a adoção de uma estratégia deste tipo, o governo português sujeitava as Forças Armadas a uma derrota humilhante e o país a uma situação de vexame internacional”.

As queixas de traição, como é sabido, vêm de longa data e tendem a perpetuar-se, independentemente de hoje se saber que não havia volta a dar no caso específico da Guiné, pelo menos. Aqui fica a recensão de “Aviltados e Traídos” a juntar a outros documentos como “Vitória Traída” e “Em Defesa da Pátria”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10097: Notas de leitura (375): Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconvelos ao livro de Manuel Bernardo "Marcello e Spínola: a ruptura: as Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)" (Lisboa, 1ª ed,, 1994)

domingo, 1 de julho de 2012

Guiné 63/74 – P10100: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (19): A Serração de Joboiá - a destruição de um mito

1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 25 de Junho de 2012:

Caros Luís Graça e Vinhal, sem esquecer o meu grande amigo M. Ribeiro:
Recebam as maiores felicitações e mais uma folha “arrancada” das minhas memórias.

Rui Silva



Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.

Do meu livro de memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”

A SERRAÇÃO DE JOBOIÁ – A destruição de um mito

16 de Dezembro de 1965

Julgo que toda a Companhia ou Grupo militar operacional, tinha, em menor ou maior grau, o seu “calcanhar de Aquiles” na guerra, isto é, algo que a estigmatizou em dado momento, através de um grande revés ou infelicidade, (refiro-me principalmente de mortos em combate ou de fortemente estropiados) na estrada, no mato, no aquartelamento, ali ou acolá, e que a marcou. A 816 não era exceção. Passar depois por esse mesmo sítio havia sempre um nervoso miudinho na malta.

A 643 dos Águias Negras (grande Companhia operacional) em Bissorã e a 566 (não menos grande Companhia) no Olossato, para falar das Companhias com que tivemos o privilégio de atuar, muitas vezes em conjunto, pareciam também ter o seu.

A 643 falava muito na “carreira de tiro”, um percurso em balcada com uma centena de metros, na estrada de Bissorã para Olossato antes de Maqué e do grande poilão.

A 566, no dizer de alguns dos seus operacionais, preferia uma operação a Morés do que entrar na estrada (então interdita) que ligava Olossato a Farim.

No entanto, não esqueço aquele Cabo da 566 que de Dryse na mão, em cima do capot do motor de uma GMC, a peito descoberto, ajudou a resolver uma grande e violenta emboscada feita a toda a Companhia 816, naquela estrada, que entretanto tinha pedido ajuda no Olossato, pois as munições estavam a acabar à coluna da 816 no célebre e traumatizante dia 1 de Agosto de 1965. Começamos aos tiros de manhã cedo e até ao princípio da noite e já depois de os dois T6 nos deixarem, por razões óbvias (obscuridade e já falta de bombas), de operar.

A serração de que falo ficava a poucos quilómetros de Olossato na estrada para Farim (e K3) mais propriamente em Joboiá, metida um pouco dentro no mato e do lado esquerdo.

Era um dos santuários do inimigo ali no Oio. A 566 tivera ali um revés que os marcou.

Até que um dia chegou a ordem de alinharmos para destruirmos a famigerada Serração de Joboiá, a célebre serração, ou melhor, o que restava do que outrora foi uma serração e isto não passava apenas das paredes ao alto (o que bastava para o IN se emboscar e era tido como um ponto de encontro) e dos caibros da armação que outrora sustentava o telhado. A serração de Joboiá distava do Olossato cerca de 4 a 5 quilómetros na estrada para Farim. Ficava isolada e longe de qualquer meio povoado. Olossato era o mais próximo, porventura. A “casa-de-mato” de Cansambo não muito longe dali também.

Chamo-lhe de célebre pois muito cedo começamos a ouvir falar dela. Logo que se falava de Olossato falava-se fatalmente da serração e de uma maneira temível e então esta tinha as suas histórias de guerra para contar. Ao que se sabia, os terroristas aproveitavam-se das suas ruínas, ou melhor das paredes, para fazerem emboscadas, assim bem abrigados e num ponto bem estratégico. Ali, naquele sítio, uma emboscada era uma constante sempre que a tropa passasse na estrada de Farim, estrada que distava da serração aí a uns 40 metros.

Lembro que esta estrada no meu tempo era dada como interdita a colunas auto.

O acesso a Farim era feito pela estrada que vinha de Mansabá até ao K3 onde entroncava com a estrada Olossato-Farim e, principalmente, pela via fluvial, através do Cacheu.

Assim, sempre que passávamos ao lado da serração havia o receio de eles estarem por ali.

Então o Capitão resolveu acabar com aquilo, o que, e no dizer dele, era mais um mito que outra coisa, o que nós concordamos.

O dispositivo para tal operação foi, prévia e obviamente, muito bem concebido pelo Cap. Riquito.

A foto na Serração (houve tempo para uma foto de circunstância): Pessoal da 816 que colaborou na destruição da serração de Joboiá – Veem-se em pé: o Alferes Costa (com a G3 à caçador), Furriéis Rui (eu com a mão no cinto) e Coelho; Flores, Alferes Esteves (de capacete) e o “Pelé”; e em baixo o Clarimundo simulando carregar o morteiro e o “Chaves” com a sua “bazooka” a “fazer foto” da estrada Farim-Olossato. Do lado direito pode-se ver ainda parte da estrutura da serração.

Cerca das 3 horas da madrugada sai então do aquartelamento o 1.º Grupo de combate comandado pelo Alferes Costa, na ausência do Alferes Barros o titular daquele Grupo. A missão deste Grupo é fazer um reconhecimento e instalar-se em redor da serração, em dispositivo de segurança, de forma que, já pelo alvorecer, a chegada do meu Grupo de combate àquele sítio e mais tarde o grupo das viaturas seja feito a coberto de qualquer surpresa, pois, uma vez já ali instalado o 1.º Grupo, não seríamos surpreendidos pelo inimigo, que podia muito bem já estar ali acoitado. Portanto, quer dizer, o 1.º Grupo assegurava a não presença inimiga ali na altura que nós chegássemos pela alvorada, e mantinha a segurança ao 3.º GC (o meu Grupo) que com o material adequado procedia à completa destruição do que ainda então restava da antiga serração. Mas, logo no começo da operação, traçou o destino, ia haver contacto com o inimigo. Assisti ao partir do 1.º Grupo de Combate, que, silenciosa e cuidadosamente, saiu em fila indiana, e como já se disse, à volta da 3 da madrugada, rumo ao objetivo. Primeiro eles iam por a estrada até à ponte do rio Olossato - o costume - que ficava a cerca de um quilómetro do Quartel, e, ultrapassada a ponte, meter-se-iam então pelo mato, para melhor segurança na progressão e evitarem serem detetados.

Quando os últimos homens da coluna estavam a sair do aquartelamento contornando o cavalo-de-frisa na saída para a estrada para Farim, e como já era um pouco tarde e eu tinha que me levantar cedo, fui-me deitar. Quando me aprestava para adormecer, e já todos nós deitados, eis que ecoa um metralhar contínuo e forte que mais forte parecia no silêncio da noite. Uma rajada breve. Parecia fogo de uma metralhadora pesada. “É nosso?” “É deles?” - interrogamo-nos, surpresos. Era eles com certeza; naquela altura já tínhamos o ouvido bem sintonizado para o tipo de estampido e a sua cor. Era ali perto, pelo nítido ouvir da metralhadora e a julgar por só terem passados breves minutos após a saída do Grupo. Como que impelidos pela mesma mola logo saltamos da cama e procuramos saber o que se passava. Tinha sido ali pertinho, precisamente logo ao sair da ponte e à entrada para o mato. “Foram eles, e parece que há feridos” - alguém disse apavoradamente. Estranhamos como aconteceu já ali perto e para mais saídos de surpresa (?) como era habitual. Logo o Capitão e dois soldados armados se introduziram num ”jeep” e para lá se deslocaram ao saber-se pelo rádio do local exato e de que haviam feridos. Pouco tempo depois regressa o “Jeep” rumo à Enfermaria e então constatou-se ter sido o Andrade atingido com um tiro numa coxa. O preto Seidi tinha levado também um tiro que lhe esfacelou um dedo dum pé. Os feridos, claro, ficaram no quartel, mas o Grupo continuou para o objetivo: Garantir a segurança em redor da serração, para o outro Grupo, que iria chegar pelo alvorecer, para proceder ao seu desmantelamento.

Viemos a saber que os tiros de metralhadora e ao que parecia ser pesada, tinham sido feitos por presumíveis sentinelas que o inimigo tinha ali instalado em permanente vigilância à tropa do Olossato. Porém, estes sentinelas, com certeza que só à noite ali estavam, pois era também sempre de noite que nós saíamos para operações de “Golpes-de-mão” e não só. As sentinelas descarregaram então o que puderam e logo fugiram através do emaranhado do mato e a coberto da escuridão. Acontecia muitas vezes isto: sentinela detetado, despejar a arma e fugir. O alarido dos tiros avisava o seu grupo e podia ainda sobrar alguma coisa. Não seriam mais que dois, como alguém bem perto da cena calculou. Do pelotão nem chegou a haver reação. Apanhados de surpresa, em plena escuridão da noite e praticamente à porta de casa, limitaram-se a deitarem-se para o chão e como ficaram aos magotes, ninguém respondeu ao fogo inimigo até com o receio de se ferirem uns aos outros. A coisa foi também muito rápida pois eles fizeram a rajada e debandaram logo. “Só se via a chama à boca da metralhadora” -  alguém acrescentou depois. “Eles estavam atrás de uma árvore muito grossa” - alguém ajuntou também.

Como se nada tivesse acontecido, ou por outra, como o que aconteceu não era de modo a abortar a operação, esta prosseguiu como se impunha.

Pelo alvorecer já estava o meu Grupo a caminho da serração e de encontro ao 1.º Grupo. Uma vez ali chegados, logo se começou a trabalhar na destruição do esqueleto daquilo que outrora fora uma serração. Começou-se pela remoção dos caibros que sustinham o telhado que provavelmente teria existido, e depois, à picareta, as paredes também foram postas abaixo. Com o barulho das moto-serras, o bater das tábuas ao caírem, e outros inevitáveis barulhos, receávamos pela chegada do inimigo a qualquer momento, embora o dispositivo de segurança entretanto montado pelo 1.º Grupo desse tranquilidade aos que trabalhavam. Assim, havia um grupo empenhado na completa destruição da serração e outro metido no mato formando um anel em volta daquela e a olhar pela segurança do primeiro. Entretanto alguém aproveitou para bater um instantâneo para a posteridade, cuja foto se pode ver atrás. É isso (!), havia sempre quem andasse de máquina fotográfica no seio da guerra; quem não se lembra do saudoso camaradão do Sarrico?

Foram também chegando as viaturas e respetivas guarnições. As viaturas serviriam assim ao transporte da grande quantidade de tábuas resultante da destruição da serração.

As tábuas grandes e espessas fariam bastante jeito em diversas construções no quartel.

As viaturas ficaram na estrada, portanto a cerca de 40 metros da serração, distância esta já referenciada atrás. A serração que ficava do lado esquerdo da estrada de quem ia para o K3 e mais à frente Farim, estava bem metida no mato e apenas havia um carreiro a ligar a dita serração à estrada, o que não permitia o acesso às viaturas. O transporte das tábuas e caibros para as viaturas foi assim muito moroso, pois para além de serem muitas, eram pesadas também.

Houve depois também um vai-e-vem de viaturas para o quartel, até que tudo que tivesse préstimo fosse transportado. Depois, a Companhia, naquela altura já praticamente toda, rumou de regresso ao aquartelamento, metade apeada e outra metade aproveitando as viaturas. Tempos andados teríamos então uma surpresa, ou talvez não… o inimigo! Como tempo para isso não lhes faltou. Montaram uma emboscada a meio caminho Serração-Olossato.

Emboscada forte mas a que a 816 respondeu com a maior determinação.

Na altura a Companhia já denotava muita maturidade e muito calo e então a reação foi espontânea e em potência. O inimigo pôs-se em debandada e o regresso continuou sem mais problemas.

Interrogamo-nos só, como ali tinham passado tantas vezes viaturas isoladas, algumas só o condutor e com um ou outro atirador, aquando do vai-e-vem do transporte da madeira para o quartel, e eles não terem atuado. Imaginamos então que, inclusivamente, eles até com um simples tronco de árvore atravessado na estrada apanhavam à unha o condutor e o seu eventual acompanhante e depois também destruírem a viatura. Mas, ou não acreditavam em tamanha descontração, ou preferiram esperar pelo grosso da coluna, ou seja pelos 2 Grupos de combate, agora já reforçados e assim teriam “caça grossa”. Os condutores que por ali tinham passado um pouco antes até tremiam quando se lembravam do tal.

Mas, isso é o que poderia ter acontecido, mas que de facto não aconteceu. Assim era a filosofia do “segue em frente e não olhes para trás” que melhor se coadunava com quem convivia com a guerra. A Companhia regressou ao Olossato e o mito da Serração deixou de existir, pois esta foi completamente arrasada, e quando por lá passávamos depois, já ninguém se lembrava da Serração, que afinal deu muito que contar sobretudo aos homens da 566.

Houve momentos de satisfação por mais um obstáculo desimpedido: E o mito da serração de Joboiá foi destruído,… de todo.

Segue o extrato do relatório da operação em questão:


"Estrela": local aproximado da Serração (4 a 5Km do Olossato, na estrada para Farim, passando pelo K3)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 – P9887: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (18): O primeiro "ataque" a Bissorã

Guiné 63/74 - P10099: Blogpoesia (191): De Lisboa a Luanda, ou o puro azul do desejo (Luís Graça)

De Lisboa a Luanda: o puro azul do desejo  



Estavam lindos os jacarandás
quando deixei Lisboa
e o Tejo,
ao fundo.
Eram o puro azul do desejo,
o azul mais inebriante do mundo.
Para trás,
ficava o sulco de uma canoa
e o cheiro a alfazema de Alfama.
No teu quarto, de hotel barato, 

o sofá-cama desfeito
era um certo jeito de dizer adeus.
Um jeito tão português,
tão nosso,
o nosso fado, 
dirás.
Não posso falar da saudade 

de quem fica,
nem devo dizer do desejo de quem parte,
que o amor, na cidade,  

é ciência e é arte.
Subo aos céus,
em avião a jacto
que corta o planeta
em duas metades laranja
ao pôr do sol.
Nem sei se é amor,
de jure e de facto,
ou apenas sorte
o arco-iris da tua paleta
com que pinto Lisboa de jacarandás.
Mas que pode a imaginação do poeta,
quando o coração, mais forte,
pensa que manda ?
Eram os teus lábios
que em vão eu procurava
nas folhas das acácias vermelhas
com que imaginava,
coberta,
a ilha de Luanda…

Luís Graça

Junho de 2012: Portugal, Lisboa, Parque Eduardo VII:

Angola, Luanda, Ilha de Luanda, Clínica da Sagrada Esperança.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P10098: Blogues da nossa blogosfera (51): "Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel", in Swedish Lapland to Key West (José Belo)

1. Mensagem do nosso camarada José Belo com data de hoje: 

Caríssimo. 
A http://swedishlaplandtokeywest.blogspot.com/ acaba de publicar um poste dedicado ao nosso Amigo "recuperante", Miguel Pessoa.
Um pouco de humor inocente ajuda sempre os... pacientes. 

Um grande abraço,
José Belo


2. Assim, não resistimos à tentação de reproduzir, com a devida vénia, este humorístico poste publicado no Blogue Swedish Lapland to Key West dedicado ao nosso sinistrado Coronel Pilav Miguel Pessoa que, num voo rasante, danificou um braço.

Não deixem de visitar a página que é bem bonita.

Uma boa e rápida recuperação Meu Coronel! 


O nosso Amigo (Jaktpilot-Överste M.P.) confortavelmente deitado, obrigando uma Camarada Militar, muito especial, a aguentar o peso do seu displicente banho de sol, enquanto fotografado para "Revistas de Sociedade". (Felizmente que, naqueles tempos *tão felizes*, o peso seria outro!)

É também claro na foto que, ao contrário dos "palmípedes" de outros Ramos, não bebia água da bolhanha, mas sim garrafas de champagne!... E isto por "dá cá aquela palha"... como um inofensivo foguete de romaria Balanta chamado Strella!...

É para evitar cenas destas que a Svenska Flygvapnet (Forca Aérea Sueca) se passeia nos seus JAS-39/Gripen procurando convencer a rapaziada Balanta a não usar novo foguetório nos festejos do regresso do NOSSO ÖVERSTE.



3. Notícias de Miguel Pessoa
Por CV 

Aproveito para dizer que falei "telemovelmente" na passada sexta-feira com o Miguel Pessoa que me disse estar bem, dentro dos condicionalismos impostos, e que provavelmente terá alta na próxima segunda-feira.

Desejamos-lhe um bom regresso a casa e uma total recuperação.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10090: Blogues da nossa blogosfera (50): A página do camarada Carlos Silva, "Guerra na Guiné 63/74" está de novo operacional

Guiné 63/74 - P10097: Notas de leitura (375): Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconvelos ao livro de Manuel Bernardo "Marcello e Spínola: a ruptura: as Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)" (Lisboa, 1ª ed,, 1994)


"Marcello e Spínola: A ruptura", de Manuel A. Bernardo, 1ª ed., Lisboa, Editora Margem, 1994, 456 pp. Prefácio de † Joaquim Evónio de Vasconcelos, ex-cap Inf da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69).

Reproduzido, com a devida vénia, da página pessoal do Joaquim Evónio (1938-2012), Varanda das Estrelícias:


O desconhecimento do passado, recente ou remoto, nunca será bom conselheiro para quem pretenda compreender o presente e trilhar com segurança os caminhos do futuro.

Este livro, ao desvendar alguns eventos que ainda se podem considerar próximos no tempo, vem proporcionar elementos de informação significativos para a compreensão da conjuntura em que vivemos.

Só o contributo de muitas histórias, todavia, permitirá a explicação da verdadeira História, caracterizadora do espaço-tempo em apreciação, identificadora daquilo que é estável e permanente e não apenas passageiro ou efémero.

Do autor, Manuel Bernardo, poderá dizer-se que nunca conviveu directamente com o poder, embora tivesse estado bem posicionado para lhe avaliar as forças e as fraquezas.

Sempre Maquiavel e nunca Príncipe, quase vítima da voragem totalitária em 1974 e 75, desempenhou corajosamente a missão que se atribuiu de esclarecer a comunidade a que sente pertencer e assim publicou, em 1977, Os "Comandos" no Eixo da Revolução - Crise permanente do PREC.

O facto de estar em consciência seguro da sua verdade não impediria que se visse confrontado, entre outros dissabores, com uma acção no Tribunal e um processo disciplinar do foro militar.

A partir de fins de 1974 quando, atrabiliariamente mas sem sucesso, o quiseram estigmatizar, nunca mais descansou e, fazendo apelo ao seu dever para com todos nós, desencadeou uma notória acção pedagógica, veiculada por diversos periódicos e baseada na essência permanente e profunda das coisas, sublinhando com destemor as contradições emergentes de interesses marginais.

Campeão da perseverança, no desenvolvimento dum trabalho profícuo e rigoroso decidiu frequentar na Universidade Católica Portuguesa o Curso de Ciências da Informação, no âmbito do qual, como dissertação final, acaba de presentear-nos com esta lúcida peça informativa a que chamou "Marcello e Spínola: a Ruptura - As Forças Armadas e a Imprensa na queda do Estado Novo (1973-74)".

Para isso elegeu o período de dezasseis meses que antecedeu a queda do anterior regime perante o Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974.

Embora se acredite que a História é linear e não cíclica, difícil é, todavia, resistir à tentação de estabelecer uma analogia entre o referido período e o que actualmente vivemos.

De acordo com a vox populi, o clientelismo e o nepotismo encontram-se agora tão instalados entre nós como estariam no fim do regime marcelista, configurando um modelo a que poderá aplicar-se, sem grande margem de erro, o epíteto de ditadura administrativa. A grande diferença reside, obviamente, na natureza democrática do regime de hoje e, por inerência, na liberdade de expressão, fomentadora e propiciadora de correntes de opinião.

E este livro pode ser considerado um autêntico elogio da liberdade de expressão.

Manuel Bernardo é dotado duma honestidade intelectual bem patente nesta obra. Por isso não se espere encontrar nem especulação nem apressados juízos de valor.

Temos perante nós o resultado duma pesquisa elaborada por um bom profissional, um repositório de factos a todos os títulos interessante.

A notícia é em si mesma um facto e tende a ser cada vez mais importante que o próprio facto que lhe esteve na origem.

O autor fez reflectir no seu trabalho os enquadramentos então vigentes, tanto a nível nacional como internacional.

Colocou em evidência os silêncios do poder e abordou a patologia da comunicação como autêntica doença de que padecia então o tecido social.

Para os que viveram aquela época (1973-74) trata-se duma saudável recordação, hoje mais esclarecida pelos acontecimentos posteriores; para os mais novos, o testemunho da importância da comunicação, que ora não lhes está vedada, como elemento fundamental para o posicionamento perante os factos e para o fortalecimento da capacidade de opção.

Múltiplas referências são feitas neste livro ao Ultramar, tema de fundo de muitos analistas, e às diversas formas de o conservar ou alienar.

Os militares sabiam, desde 1961, que a Guerra do Ultramar não se ganhava pela força das armas, mas também não ignoravam que se poderia perder de armas na mão.

Por outro lado, por mais que tenha sido conveniente, de modo diferencial conforme o sector considerado, que existia apenas uma guerra, facilita bastante a compreensão não escamotear que havia duas: uma subversiva e outra revolucionária.

E se uma fazia apelo ao romantismo da liberdade por via da libertação, encontrando ecos de legitimidade no espírito dos combatentes que se lhe contrapunham, a outra não passava duma componente da estratégia global e totalitária de luta entre os grandes blocos, sendo ainda de referir que um deles, inibido por tácticas de aparente defesa de valores, vai precisamente permitir a vitória do seu adversário e, por consequência, a destruição irreversível dos próprios valores a que dizia prestar homenagem.

A nível nacional, no campo da oposição, verificava-se uma diferença fundamental entre a plataforma da Ala Liberal, que pugnava pelo estabelecimento das liberdades democráticas como condição prévia para a resolução de todos os problemas do País, incluindo os ultramarinos, e a que viria a ser consagrada no III Congresso da Oposição Democrática, em 1973, em que a primeira prioridade era o fim da guerra, seguida da luta contra o capital monopolista e da conquista das liberdades democráticas.

Que modelo de democracia poderia emergir de uma e de outra era fácil de prever, especialmente à luz do conturbado advento das "independências" africanas.

Voltando às soluções que então se perfilavam, no período de 1973-74 que é objecto deste trabalho, sublinhe-se apenas que não é possível negociar sem dispor de graus de liberdade como sustentáculo da capacidade negocial.

Ao precipitarem-se os acontecimentos, acelerados pela má fé de uns e consentidos pela ingenuidade de outros, não só se inviabilizou a negociação como se criaram situações que ainda hoje perduram e têm, na base, o facto inegável de que foi traída a confiança dos povos ultramarinos que confiaram em nós.

Ao servir-nos factos até agora inéditos ou ao apresentar-nos um pacote informativo bem delineado, Manuel Bernardo vem contribuir para a compreensão de fenómenos até hoje inexplicáveis, ou mal explicados.

Este livro evidencia de forma clara e categórica a importância das ideias e da sua circulação na sociedade, designadamente numa altura em que as pessoas mais carentes delas se encontravam.

O autor perseguiu a verdade com denodo e sem obediências, sistematizou os resultados da sua pesquisa e disso nos dá conta.

Vamos ler.

Lisboa, 12 de Abril de 1994

Joaquim Evónio de Vasconcelos 
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10088: Notas de leitura (374): Obra Escolhidas de Amílcar Cabral (2) (Mário Beja Santos)


Guiné 63/74 - P10096: Parabéns a você (444): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto da CCS/BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)


Nota de CV:

Vd. último poste da série de 30 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10091: Parabéns a você (440): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)

sábado, 30 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10095: Os nossos seres, saberes e lazeres (46): Não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné (António Melo)

1. Mensagem do nosso camarada António Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf, BCAÇ 2930, Catió e QG, Bissau, (1972/74), com data de 24 de Junho de 2012:

Caro amigo Carlos Vinhal
Um abraço

Aqui estou de novo para responder ao email em que me perguntas por onde ando, e na verdade nem eu sei bem onde vivo pois há muitos anos, mais propriamente desde 1980, que tenho a minha residência em Espanha.

Com a crise que Espanha está a atravessar e pela dificuldade em arranjar trabalho, em 2009 resolvi vir para França porque me faltavam cinco anos para me reformar. Assim posso reformar-me com a pensão completa.

Por isso mesmo, agora e até meados de 2015, estou a viver nos Alpes franceses, mais propriamente em Chambery, mas logo que me reforme vou regressar a Espanha, Badajoz, onde tenho a minha casa.
[...]
Se entretanto a vida me permitir tentarei ir a algum dos convívios que o blogue organiza, porque tenho muita vontade de estar com pessoas que como eu sabem o que foram para nós aqueles anos de juventude, de incerteza, de angústia, de sofrimento e de camaradagem. Contudo, passados todos estes anos e depois de ter visto o que vi e passado o que passei, não trocaria por nada aquele tempo de comissão na Guiné, porque posso dizer que foram enriquecedores para a minha vida.

Conhecer novas gentes, novas culturas, novos mundos, novas formas de viver, melhores ou piores, não está em causa, para mim foi uma mais valia; conhecer o diferente e hoje saber dar valor àquilo que tenho, por muito pouco que seja, e que para aquela gente seria o paraíso terrestre, embora eu ainda me lamente, mas enfim deixemos isso para outro momento.

Quanto ao que me perguntas, se depois do arranjo que tens que dar aos meus textos eles traduzem o que eu quero expressar, digo-te que fielmente transmites aquilo que eu quero dizer, sem mudar uma virgula.
Obrigado pelo teu tempo e paciência.

De momento ficarei por aqui e prometo para a próxima uma dessas historias, não tão agradáveis como o que já escrevi até agora, passadas em Catió mas que graças à sorte que sempre me acompanhou tiveram sempre um final feliz, e por isso posso contá-las.

Para todos os que integram o blogue um abraço forte e para ti especialmente
António Melo


2. Nota de CV:

Esta mensagem do nosso camarada António Melo é resposta a uma que lhe enviei perguntando se estava emigrado, e onde em caso afirmativo. Deduzi que o nosso camarada estaria na diáspora pelo seu português sem acentos, teclado não adaptado à língua portuguesa, e pelo modo como se expressa, onde se adivinha a influência do castelhano. A minha curiosidade mais se acentuou porque o seu endereço está no Hotmail.fr, logo em França.

Pelo exposto, estamos perante um camarada que como muitos da nossa geração se aventuraram por esse mundo fora, no caso do António Melo, praticamente porta-com-porta com Portugal. Curioso o seu percurso em Espanha e recurso a França onde está a completar o tempo necessário para ter direito a uma pensão de reforma completa, que desejamos seja compensatória após tantos anos de labuta.

Curioso o facto de apesar de ter a sua residência permanente paredes-meias com o nosso rectângulo, Badajoz, por lá preferir ficar, ao que se supõe, até ao fim dos seus dias.

Caro António, dar-nos-ias uma alegria muito grande se um dia conseguisses comparecer num dos nossos convívios anuais. Quem sabe, um dia o farás a partir de Badajoz.

Conta com a nossa disponibilidade para, como fazemos com outros camaradas, acentuar o teus textos e dar um jeito ao teu castelhano.

Desejamos que até 2015 tudo te corra pelo melhor e completes o tempo que te falta para teres direito ao merecido descanso.

Recebe um grande abraço em nome da tertúlia.
Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)

Vd. último poste da série de 15 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10037: Os nossos seres, saberes e lazeres (45): Para breve o lançamento do livro "Palavras de um defunto... antes de o ser", por Mário Tito (Mário Serra de Oliveira)

Guiné 63/74 - P10094: A minha CCAÇ 12 (25): Setembro de 1970: Levando 50 toneladas de arroz às populações da área do Xitole/Saltinho, e aguardando o macaréu no Rio Xaianga (Luís Graça)



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, no espaldão do Mort 81... Nessa época, Bambadinca não tinha artilharia (só no Xime).








Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Pessoal do Pel Rec Inf (?), CCS/BART 2917, algures a atravessar uma bolanha (ou uma lala).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Fur Mil Op Esp, do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, de costas, algures, numa coluna logística (?).





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma tabanca fula, algures no setor, não identificada, mas presumivelmente do regulado de Badora.




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Estrada Bambadinca -Mansambo - Xitole - Saltinho (?)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquinas da TECNIL na abertura da estrada Bambadinca- Xime.






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Máquina da TECNIL abrindo clareiras na mata...





Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Abertura da estrada Bambadinca- Xime, nas imediações de Bambadinca (ou, melhor, do reordenamento de Bambadincazinha)




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > O Rio Geba ou Xaianga...




Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > CCS/BART 2917 ( 1970/72) > Uma das raras fotos do fenómeno do macaréu, no delta do Rio Geba...





Imagens de diapositivos digitalizados. Álbum do Benjamim Durães, ex-fur mil op es, Pel Rec Info, CCS / BART 2917 (1970/72). Edição e legendagem: L.G.


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.






A. Continuação da série A Minha CCAÇ 12 (*), por Luís Graça [, foto acima, Bambadinca, 1970] 



...








Fonte: Excertos de CCAÇ 12: história da unidade. Bambadinca, 1971, 
mimeog., pp. 39-40



Sobre este mês (em que a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 perfazia 16 meses de comissão), pode ainda ler-se o seguinte na história do BART 2917 (p. 62, do ficheiro da autoria do Benjamim Durães, num total de 182 pp., em formato  pdf):



03.SETEMBRO.70:


Um grupo IN estimado em cerca de 50 elementos abriu fogo; pelas 08H15, de Mort 82, LGFog e armas automáticas, contra o aquartelamento do Xime durante cerca de 15 minutos.


As NT sofreram um ferido muito ligeiro. Houve um outro ferido ligeiro na população.


09.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2716 [, Xitole], que fazia a segurança a uma coluna de reabastecimento vinda de Bambadinca, detectou e levantou uma mina anti-pessoal reforçada com 7 kg de trotil, entre a Ponte do Rio Jagarajá e a Ponte do Rio Pulon em [XIME 7B1-63].


14.SETEMBRO.70:


Efetuou-se o 2º reabastecimento de arroz para as populações da área do Xitole – Saltinho, sem qualquer incidente.


15.SETEMBRO.70:


Um Grupo de Combate da CART 2714 [, Mansambo], quando se deslocava afim de fazer a segurança a uma coluna vinda de Bambadinca (3º reabastecimento de arroz num total de 50 toneladas), seria emboscado por um grupo IN, simultaneamente ao acionamento de uma mina A/P reforçada na Estrada entre Mansambo e Ponte do Rio Timinco em [XIME 8B2-74], escassos minutos antes da coluna Bambadinca – Xitole passar. O accionamento da mina causou a morte a um picador (Mussa Baldé) e feriu gravemente outro.
___________
Mortos do Ultramara > TO da Guiné > 15 de setembro de 1970


Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo
BALDÉ MUSSÁ BALDÉ Sold Exército Guiné 15/09/1970 Combate
Apelido Nome Posto Ramo Teatro de operações Data Motivo



Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
___________


Um Gr Comb da CCAÇ 12 que seguia na testa da coluna procedeu depois ao reconhecimento da área, tendo detectado 30 abrigos individuais e a posição dum Mort 82, a 1 Km de estrada.


18.SETEMBRO.70:


Grupo IN de efectivo não estimado abriu fogo, pelas 16H30, de Mort 82, LGFog e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime sem consequência para as NT e população.


Um grupo IN estimado em cerca de 10 elementos abriu fogo da PONTA VARELA, de PM, LROCK e MORT 82 sobre os barcos Badora e Manuel Barbosa, de [XIME 3D4-52], tendo causado um morto (mulher) e 2 feridos muito ligeiros, todos da população.


21.SETEMBRO.70:


Quando uma Secção do Grupo de Combate destacado no Enxalé [, CART 2715,] se dirigia de Porto Velho para o aquartelamento, pelas 19H00, e a cerca de 50 metros deste, a viatura avariou-se tendo então o pessoal que nela seguia começado a empurrá-la nos poucos metros que faltavam, acionando então uma mina conjugada com uma emboscada da qual as NT tiveram 3 feridos graves e a perda de diverso material.


Simultaneamente um outro grupo IN com 200 homens vindos da base de Madina, começou a flagelar o aquartelamento com Mort 82, LGFog e armas automáticas sem consequências para as NT, que reagindo com Mort 81 e artilharia do Xime [, CART 2715 + 20º PEL ART / GAC 7, 10,5 cm, ] puseram o IN em fuga com vários mortos e feridos confirmados pelos numerosos rastos de sangue, ligaduras, algodão e frascos de soro vazios abandonados.


Notícias posteriores de diversas origens admitiam ter morrido nessa acção o Comissário Político António do grupo de André e pertencente ao acampamento Ide Sará.


24.SETEMBRO.70


Grupo IN de efetivo não estimado abriu fogo de Can s/r, Mort 82, LGF e armas automáticas sobre o aquartelamento do Xime. A flagelação inimiga não causou quaisquer espécies de danos, nem materiais pessoais.


29.SETEMBRO.70


Inicia-se a Acção Gruta com 2 Grupos de Combate da CCAÇ 12 que consiste de uma patrulha de reconhecimento entre Finete e São Belchior. Foram reconhecidos entre Saliquinhé e São Belchior vestígios deixados pelo IN após a última ação contra as NT aquarteladas em Enxalé.




Guiné > Zona Leste > Croquis do Sector L1 (Bambadinca) > 1969/71 (vd.
Sinais e legendas).
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Nota do editor:


Último poste da série > 21 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9930: A minha CCAÇ 12 (24): Agosto de 1970: em socorro da tabanca em autodefesa de Amedalai, terra do nosso hoje grã-tabanqueiro J. C. Suleimane Baldé (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P10093: In Memoriam (120): Cor inf ref e escritor Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938 - Lisboa, 2012), comandante das CCAÇ 727 (1964/66) e CCAÇ 2316 (1968/69) (António Costa / Carlos Vinhal)


1. O nosso camarada António José Pereira da Costa mandou-nos, ontem, a seguinte necrológica:

Recebi, através da Ordem Nacional dos Escritores, do Brasil, a notícia que passo a resumir:

Faleceu, em 23 Junho de 2012, em Lisboa, o coronel de Infantaria reformado Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos [, imagem à esquerda, por cortesia da página Joaquim Evónio].

Comandou a CCaç 727 (Canquelifá) (Out 64 / Ago 66) e, em 1968, quando comandava a CCaç 2316, foi gravemente ferido em combate na área de Mejo/Guileje.

Militar, ginasta e desportista, após o seu ferimento, dedicou-se à poesia, à escrita.

Nascido em 1938, no Funchal, era director do núcleo da Ordem Nacional de Escritores, em Portugal, desenvolvendo um trabalho muito meritório na recolha de obras de poetas, artistas e escritores locais.

Grande cultor da língua, profundo conhecedor do nosso vernáculo, era um exigente revisor de provas de poesia e literatura em geral. Um verdadeiro intelectual e um talentos diseur de poesia.

Creio que poderá ter interesse a notícia para o pessoal das duas CCaç que comandou.

Um Abraço do
António J. P. Costa





Página pessoal do escritor e nosso camarada Joaquim Evónio (1938-2012), Varandas das Estrelícias.


2. O nosso co-editor Carlos Vinhal fez um resumo do seu CV como escritor:

Nasceu no Funchal, Madeira, Portugal, 1938.

Obras mais recentes: publicou "Sombra em Clave de Sol" (contos) (Universitária Ed. Lisboa, 1999, esgostado) e "Esboços Pessoanos" (poemas sobre desenhos de José Jorge Soares) (Ceres Editora, Lda., Ponte de Lima, 1994).

Foi membro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), da Associação Portuguesa de Poetas (APP), do Instituto Açoriano de Cultura (IAC), da União Lusófona das Letras e das Artes (ULLA) e eera sócio honorário da Ordem Nacional dos Escritores do Brasil (ONE). Comendador da Ordem Heráldica da Paz Universal. Agraciado pelo Parlamento para a Segurança e Paz Mundial com a Medalha de Ouro d' O Pacificador da ONU Sérgio Vieira de Melo.

Geriu, desde Fevereiro de 2004, a página pessoal na Net Varanda das Estrelícias - Uma Ponte sobre os Oceanos, onde promoveu a difusão da língua e cultura lusófonas, recebendo colaboração de diversos artistas, poetas e escritores.


Notas sobre:

(i) CCaç 727 (1964/66): Foi mobiliza pelo RI 16. Partiu para o TO da Guiné em 6/10/1964e regressou em 7/8/66. Passou por Bissau, Nova Lamego. Canquelifá, Piche (. Só teve um comandante, o Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos

(ii) CCaç 2316 / BCAÇ 2835 (Bissau, Nova Lamego, 1968/69). Unidade de mobilização: RI 15. Partida: 17/1/68. Regresso: 4/12/69. Localização: Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael, Bissau.


Teve vários comandantes: cap inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos; cap Inf António Jacques Favre Castelo Branco Ferreira: cap art Octávio Manuel Barbosa Henriques; cap cav José Maria Félix de Morais.

Guiné 63/74 - P10092: No passado dia 28 de Maio os Estados Unidos comemoraram o Memorial Day, honrando assim os seus heróis

1. Embora um pouco desfasado no tempo, por sugestão da nossa amiga tertuliana Filomena Sampaio, deixamos aqui, para ler com calma no fim de semana, este artigo de autoria do jornalista Eurico Mendes.



Memorial Day

Esta segunda-feira, 28 de maio, os EUA comemoraram o Memorial Day (Dia da Memória), honrando os seus militares mortos na guerra. Assinalado a primeira vez em 1860 com o nome de Decoration Day e honrando os soldados da União mortos na Guerra Civil, o Memorial Day é dedicado hoje aos mortos de todas as guerras e feriado nacional desde 1971, numa espécie do Dia dos Fiéis Defuntos em Portugal, que pouco se preocupa com os seus veteranos vivos, quanto mais mortos e não tem nenhum feriado semelhante.

Da Guerra da Independência à atual Guerra do Afeganistão, muitos portugueses ou seus descendentes pegaram em armas pelos EUA e alguns figuram na lista dos 1.529.230 mortos que os EUA sofreram até hoje na guerra. Na Murtosa, distrito de Aveiro, estão por exemplo sepultados três filhos da terra mortos em guerras dos EUA: Manuel Evaristo, II Guerra Mundial; Manuel Branco, Guerra da Coreia e Jack Rebelo, Vietname.

Logo na primeira guerra, a Guerra da Independência também conhecida como Revolução Americana (1775-1783), morreram portugueses.

Da tripulação do primeiro navio da Continental Navy precursora da US Navy, o Bonhome Richard que o rei Louis XIV de França ofereceu aos nacionalistas, faziam parte 28 portugueses recrutados por John Paul Jones no porto francês de L’Orient e onze morreram no histórico combate com o navio inglês Serapis. A história guarda também o nome de Joseph Diaz (José Dias), baleeiro que se fixou em 1770 na localidade de Tisbury, ilha de Martha’s Vineyard, vindo provavelmente dos Açores. Casou em 1780 com uma rapariga da terra e aderiu à causa revolucionária. Capturado pelos ingleses em 1780, foi mandado para Inglaterra, mas foi libertado e regressou à ilha em dezembro desse ano; voltou a cair prisioneiro em 1781 e desta vez morreu a bordo do navio inglês Jersey. Uma das primeiras baixas da Guerra da Independência foi Francis Salvador ou Francisco Salvador, nascido em 1747 em Londres, numa rica família judaica portuguesa oriunda de Tomar e que escapara à Inquisição fugindo para a Holanda e depois para Inglaterra.

O bisavô de Francisco, José Salvador, foi diretor da Companhia das Indias e adquiriu por duas mil libras 405 km2 de terras na Carolina do Sul, que o bisneto veio ocupar em 1773. A mulher de Francis, Sarah Salvador era também uma das herdeiras dos 810 km2 de terras da família Mendes da Costa. O jovem luso-descendente foi eleito deputado pelo distrito 96 ao Congresso Provincial (independentista) e morreu em 31 de julho de 1776 em combate com os índios Cherokees, que os ingleses tinham armado para fazerem frente aos colonos.

Salvador cavalgou a Carolina do Sul a alertar os colonos dos ataques dos índios e ficaria por isso conhecido como o Paul Revere do sul. Em Charleston foi descerrada há anos uma placa a lembrar que Francis Salvador foi o primeiro judeu a exercer um cargo político no território que viria a tornar-se os EUA e o primeiro luso-descendente, acrescente-se.

Na Guerra Civil (1861-1865), quando 11 estados do sul tentaram separar-se dos Estados Unidos da América e formar a sua própria união com o nome de Estados Confederados da América e cujo ministro da Defesa, Judah Benjamin, descendia de portugueses. Ao tempo, viviam nos EUA mais de 4.000 portugueses e um número maior de descendentes e muitos combateram dos dois lados.

A União sofreu 140.414 mortes e os Confederados 72.524 e alguns foram portugueses. Nesse tempo viviam na Louisiana algumas centenas de açorianos contratados para trabalhar nas plantações de açúcar e muitos combateram pelos Confederados. Em New York e do lado da União, seguindo o exemplo dos irlandeses, que formaram a Brigada Irlandesa, dos polacos com a Legião Polaca e dos italianos com a Legião Garibaldi, espanhóis e portugueses formaram a companhia Caçadores Espanhóis.

A Medalha de Honra do Congresso, o maior reconhecimento que um militar pode receber por feitos em combate, foi atribuída a um luso-descendente combatente da Guerra Civil, o cabo Joseph H. de Castro, do 19º Regimento de Massachusetts e natural de Boston, onde viviam ao tempo 500 portugueses. Distinguiu-se na batalha de Gettysburg, Pensilvânia, a 3 de julho de 1863. O soldado Frances Silva, nascido a 8 de Maio de 1876 em Hayward, CA, é outro luso-descendente Medalha de Honra. Era tripulante do USS Newark e teve comportamento heróico entre 28 de junho e 18 de agosto de 1900, durante a célebre Revolução Boxer, em Pequim.

Na I Guerra Mundial (1914-1918), perderam a vida 20.000 americanos e a primeira morte foi o luso-americano Walter Goulart, de New Bedford, onde existe um pequeno monumento em sua memória.

Na II Guerra Mundial (1939-1946), que provocou a morte de 292.000 americanos, perderam a vida dezenas de luso-americanos, um dos quais Charles Braga, a 7 de Dezembro de 1941, no ataque japonês a Pearl Harbor. Foi o primeiro residente de Fall River morto na guerra e dá hoje o nome à Ponte Braga sobre o rio Taunton.

Dois luso-descendentes mereceram a Medalha de Honra durante a II Guerra Mundial: o soldado Harold Gonsalves, da Califórnia, morto em combate a 15 de abril de 1945, em Okinawa e o paraquedista George Peters, de Cranston, Rhode Island.

Caso curioso o do sargento Harry B. Queen, de Onset, MA, cuja mãe, Mae Ávila, era filha de imigrantes açorianos. A 25 de janeiro de 1944, um bombardeiro B-24 pilotado por Queen desapareceu quando voava da China para a Índia e os oito tripulantes foram considerados desaparecidos em combate. Contudo, em 2007, decorridos 63 anos, os destroços do avião e os restos mortais dos tripulantes foram encontrados.

Na Guerra da Coreia (1953-1957), morreram 50.000 americanos, um dos quais o sargento Leroy A. Mendonça, natural de Honolulu e de ascendência portuguesa e filipina. Morreu a 4 de julho de 1951. Ficou a proteger a retirada de um pelotão e, até chegar a sua hora, abateu 37 inimigos.

Na Guerra do Vietname (ou Guerra Americana, segundo os vietnamitas), morreram mais de 58.000 americanos e só de Massachusetts e Rhode Island há 53 nomes portugueses no Vietnam Veterans Memorial existente em Washington. Um é o soldado Ralph Ellis Dias, nascido em 1950, em Shelocta, PA e detentor da Medalha de Honra do Congresso e várias Purple Heart. Alistou-se nos Marines em 1967, seguiu para o Vietname em 1969 e morreu em combate a 12 de novembro desse ano, na província de Quang Nam.

Nas modernas guerrras dos EUA no Médio Oriente tivemos a Operation Freedom 2001, com uma baixa portuguesa, Miguel Rosa; e Operation Freedom 2003, com quatro: Arlindo Almeida, David Botelho, Andrew Cunha e Diane N. Lopes. Os EUA estão presentemente empenhados em conflitos no Iraque (onde sofreram 4.474 mortes) e no Afeganistão (2.853 mortes). No Afeganistão morreram os seguintes luso-descendentes: Christopher Luis Mendonça, Jorge Oliveira, Carlos A. Aparício, Rafael P. Arruda, Anthony J. Rosa, Ethan Gonçalo, Francisco Jackson, Joaquim Vaz Rebelo, Scott Andrews, Robert Barrett e Chad Gonsalves. No Iraque, morreram Michael Arruda, Michael Andrade, Joseph M. Câmara, Charles Caldwell, Peter Gerald Enos, Todd Nunes, Brian Oliveira, Scott C. Rose, Humberto Timóteo e David Marques Vicente.

O cabo marine David Marques Vicente, 25 anos, integrava o 2º Batalhão da 1º Divisão de Marines. Foi morto em 2003 e está sepultado em Methuen, MA, onde nasceu e residem os pais, naturais de Lisboa. Dias antes do funeral, um familiar do malogrado jovem deslocou-se a New Bedford e pediu ao então cônsul de Portugal, Fernando Teles Fazendeiro, uma bandeira portuguesa para Vicente a levar no caixão. Embora tenha dado a vida pelos EUA, David Vicente levou a bandeira portuguesa no caixão.

Com a devida vénia ao jornalista Eurico Mendes do jornal de língua portuguesa dos Estados Unidos Portuguese Times

Guiné 63/74 - P10091: Parabéns a você (443): Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74)

Para aceder aos postes e belos poemas em sextilhas do nosso camarada Manuel Maia, clicar aqui
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 29 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10086: Parabéns a você (439): José Firmino, ex-Soldado da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884 (Guiné, 1969/71) e Santos Oliveira, ex-Fur Mil do Pel Mort 912 (Guiné, 1964/66)

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10090: Blogues da nossa blogosfera (50): A página do camarada Carlos Silva, "Guerra na Guiné 63/74" está de novo operacional


Depois de ultrapassados os problemas técnicos que davam como perigoso o sítio do nosso camarada Carlos Silva, o mesmo pode desde já ser acedido sem receio de contaminar os respectivos equipamentos informáticos.

Podem entrar em www.carlosilva-guine.com e sem medo navegar na extensa informação ali alojada. É que para além da História do BCAÇ 2879 (Farim, 1969/1971) encontrarão textos e fotos referentes a outras Unidades e localidades do TO da Guiné.

Ao Carlos Silva desejamos as maiores felicidades e que nunca mais passe por uma situação semelhante porque causa sempre alguma descredibilidade e receio a quem quer aceder.

Aqui fica a nossa colaboração e solidariedade bloguista.

Pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9470: Blogues da nossa blogosfera (49): CCAÇ 4641 (Mansoa e Ilondé, 1973/74)

Guiné 63/74 - P10089: Patronos e Padroeiros (José Martins) (30): Brigada de Intervenção - Infante D. Pedro, 1.º Duque de Coimbra




1. Em mensagem do dia 24 de Junho de 2012, o nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviou-nos mais um trabalho para a série Patronos e Padroeiros.






Patronos e Padroeiros XXX

Patrono da Brigada de Intervenção

Infante D. Pedro, 1.º Duque de Coimbra

O Painel dos Cavaleiros, no políptico de S. Vicente, que se pensa representar os quatro filhos mais novos de D. João I. D. Pedro, com o cinto da Jarreteira cruzado no peito (à direita da foto). 
© Foto Wikipédia, com a devida vénia.


Infante D. Pedro

Filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre, nasceu em 1392, sendo o quarto de nove filhos, dos quais apenas seis chegaram à idade adulta, ficando na história como “Ínclita Geração”. Recebeu esmerada educação, tendo em conta que na altura, os nobres eram pouco mais que analfabetos, se não o fossem na maior parte.

O Infante D. Pedro, assim como os irmãos Duarte e Henrique, acompanharam o pai e rei, na expedição e conquista de Ceuta, tendo a praça moura sido tomada no dia 22 de Agosto de 1415. No dia seguinte, e após a sagração da Mesquita à Fé Católica, foram armados cavaleiros os três príncipes e, outorgado os títulos de duque, sendo D. Pedro o 1.º Duque de Coimbra e D. Henrique o 1.º Duque de Viseu.

Devido às muitas viagens que fez ao estrangeiro, também ficou conhecido como o Príncipe das Sete Partidas, tendo recebido, por vontade do imperador Segismundo da Hungria, o feudo de Treviso, assim como o integrou na “Ordem do Dragão” conhecida pela sigla D.E.S.I.R. (Draconis Equitas Societas Imperatur et Regis). Foi investido, também como cavaleiro, por Henrique IV de Inglaterra, seu tio, na Ordem da Jarreteira.

Em 1429 casa com D. Isabel de Aragão, condessa de Urgel, de cujo casamento nasceram seis filhos.

Quando D. Duarte morre, em 9 de Setembro de 1438, o príncipe D. Afonso, seu filho e herdeiro da coroa, ainda é menor, tendo deixado a indicação de que a regência seria exercida por D. Leonor, Infanta de Aragão e rainha-mãe. Tal decisão não obteve consenso, pelo que, de imediato, os seus opositores se manifestaram por serem de opinião que qualquer um dos tios, irmãos do falecido D. Duarte, seriam mais capazes.

Foram convocadas Cortes, que se iniciaram em 20 de Dezembro de 1439, que veio a declarar o Infante D. Pedro “Regedor e Defensor do Reino” assim como tutor e curador do futuro rei.

A decisão é bem aceite pela burguesia e pelos mercadores, mas contestada pela aristocracia, encabeçada pelo conde de Barcelos, meio-irmão de D. Pedro que, insinuando-se junto do futuro rei, com o beneplácito da rainha viúva, conseguindo que o jovem o considerasse o seu tio preferido.

O Infante D. Pedro, indiferente a estas intrigas, dedica-se aos negócios do reino tornando o país mais próspero, dando importância aos assuntos do mar, concedendo subsídios, para fomentar o estudo e exploração do oceano. Numa atitude conciliatória, D. Pedro constitui o ducado de Bragança, tornando seu meio-irmão D. Afonso, o seu primeiro Duque.

A 9 de Junho de 1448, ao atingir a maioridade, D. Pedro entrega a governação ao seu sobrinho D. Afonso V. É nesta altura que se nota a influência que D. Afonso, 1.º Duque de Bragança tem sobre o rei. Em 15 de Setembro, o rei anula todos os éditos do antigo regente D. Pedro, que se retira para Coimbra.

No ano seguinte, 1449, o Infante D. Pedro, duque de Coimbra, é declarado rebelde pelo rei, com base em factos que se viriam a provar serem falsos.

A instabilidade instalada no reino, dá origem a uma guerra civil entre os dois partidos. D. Pedro resolve avançar sobre Lisboa, tendo parte do seu exército deixado Coimbra em 5 de Maio de 1449, vindo a reforçar as suas forças nas imediações da actual vila da Batalha, chegando à Castanheira em 17, acampando junto ao ribeiro de Alfarrobeira, em Vialonga, a 18 desse mês. Sabedor de que o povo de Lisboa não estava a seu favor, resolve não continuar a marcha sobre Lisboa.

Entretanto, D. Afonso, no dia 16, parte de Santarém para travar o avanço das forças do seu tio e ex-regente. O recontro entre os dois exércitos dá-se em Vialonga no dia 20 de Maio de 1449, no que ficou conhecido como a Batalha de Alfarrobeira. É nesta batalha que D. Pedro encontra a morte em combate, mas, a hipótese de ter sido assassinado nunca foi descartada.

Pelo que fez pelo país, Luís Vaz de Camões refere-se a D. Pedro na estrofe XXXVII do canto VIII dos Lusíadas:

"Olha cá dois infantes, Pedro e Henrique, 
Progénie generosa de Joane: 
Aquele faz que fama ilustre fique 
Dele em Germânia, com que a morte engane; 
Este, que ela nos mares o publique 
Por seu descobridor, e desengane 
De Ceita a Maura túmida vaidade, 
Primeiro entrando as portas da cidade.”

donde foi retirada a Divisa da Brigada de Intervenção, de cuja unidade o Infante D. Pedro é o Patrono.


Brigada de Intervenção

Criada pelo Decreto-Lei n.º 61/2006 de 21 de Março, no âmbito da organização prevista na Lei Orgânica do Exército, sendo uma unidade da Força Operacional Permanente do Exército Português.

Na génese desta unidade está a Brigada de Forças Especiais, tendo o Comando e Estado Maior sediado no Forte do Bom Sucesso, em Lisboa, e transformada em Brigada Ligeira em 1 de Junho de 1992, sendo transferida para o Forte do Alto do Duque em 1 de Setembro de 1992 até 1 de Julho de 1993, data em que foi transferida para Coimbra, para as actuais instalações, onde esteve o Convento das Eremitas de Santo Agostinho de Sant’Ana e, mais recentemente, o Quartel General da Região Militar Centro.

Desde 1998, com a denominação de Brigada Ligeira de Intervenção e, mais tarde, como Brigada de Intervenção, aprontou militares para diversas Missões de Paz em diversos países em que Portugal participou.

Herdeira da história e tradições das suas antecessoras, por despacho do Presidente da Republica de 3 de Junho de 2005, o seu Estandarte Nacional ostenta a Medalha de Serviço distintos, Grau Ouro.

Tem como Divisa “Que fama ilustre fique” e o Infante D. Pedro, como Patrono.

José Marcelino Martins
24 de Junho de 2012
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P10082: Patronos e Padroeiros (José Martins) (29): D. Fernando de Portugal - O Infante Santo