terça-feira, 4 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10325: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (37): Guerra de titãs, o Almeida Comando contra o Vilar Pára

1. Mensagem do nosso amigo e irmão Cherno Baldé, com data de 29 de agosto último:
  

Caros amigos Luís e Carlos Vinhal,
Junto envio uma crónica na linha do habitual, algumas imagens e poemas da minha colecção da juventude que podem utilizar de acordo com os habituais critérios de utilidade e bom gosto bloguistico.

Um grande abraço,

Cherno Baldé



2. Guerra de Titãs > Almeida contra Vilar / Comando contra Pára

por Cherno Baldé (*)

Hoje vou contar uma pequena estória sobre uma disputa física entre dois militares muito especiais e que, não fosse o ambiente tenso da guerra subversiva que transformava misteriosamente o destino das pessoas envolvidas, poderiam ter cumprido a sua missão normalmente, regressar a sua terra natal, casar-se e ter um destino feliz, como aconteceu com a maioria dos seus companheiros de armas que passaram no TO da Guiné, dita portuguesa.

Estou a referir-me ao duelo entre o Almeida-Comando e o Pára-Villar que ficou gravado na memória de todos os que se sentiam, de uma forma ou outra, atraidos ou ligados à vida dos soldados do quartel local.

Como habitualmente acontecia na época, havia pouca gente que estava informada das suas verdadeiras identidades, nao pertenciam ao corpo original da companhia, tinham vindo de parte incerta para integrar e conviver no meio de soldados milicianos numa localidade meio esquecida do nordeste guineense de Fajonquito, que o soldado Inácio M. Gois tão bem descreveu no seu Diário da Guiné (1964/66).

Dos dois contendores, o Almeida-Comando tinha sido o primeiro a chegar à Fajonquito na coluna que todas as semanas ia à cidade de Bafatá, sede do Batalhão, com a sua G3 numa mão e uma bolsa contendo os seus pertences, noutra. Soldado robusto, estatura media e boca de lâmina (lábios miudinhos), olhar decidido, europeu típico da raça dos Victor Tavares, José Dinis, Antonio Dâmaso ou Silvio Abrantes, cedo mostrou a sua preferência pela solitude, não tinha amigos e os companheiros de caserna não tardaram a desertar, procurando locais mais seguros. Nas suas costas falavam que era maluco ou que estava apanhado, mas ninguém se atrevia a repeti-lo a sua frente. 

Militarmente aguerrido, oferecia-se para todas as saídas ao mato e quando havia ataques nas localidades mais próximas, enquanto os outros ficavam a espera de ordens superiores, ele seguia correndo, sozinho. Era sempre o primeiro a chegar ao local do ataque e, quando os outros chegavam, já ele estava de regresso ao quartel, exausto.

O boato que circulava a seu respeito era que ele teria cometido violações graves que tinham provocado a sua expulsão de uma companhia de comandos para o cumprimento de um castigo que o condenava a ficar na Guiné durante muito tempo. De qualquer modo o que era certo e sabido é que não apreciava muito os seus companheiros brancos, preferindo a companhia das crianças nativas e que não estava programado o seu regresso com aquela companhia de metropolitanos. Quanto tempo teria da Guiné? Ninguém sabia ao certo.

O Pára, Villar,  chegaria mais tarde e, ao contário do primeiro, ele era alto e direito como uma palmeira das bolanhas, mãos largas e fortes, olhar insolente e brincalhão, mas também ele marcado pelo destino e pela carreira que escolhera como militar, pois quando abria a boca viam-se alguns espaços vazios entre os seus dentes da frente e no maxilar esquerdo.

No meio da soldadesca macaca, minado por intrigas e pequenas quezílias de rancho do quartel, não tardou a circular de boca em boca entre criancas e auxiliares nativos da messe e do refeitório que entre os Páras havia uma norma ou lei que se designava "regra da dentadura",  segundo a qual os candidatos à  entrada para a mais exigente de todas as especialidades militares deviam possuir uma dentadura completa e bem saudável e ainda ter que mantê-la durante o periodo de serviço militar sob pena de serem expulsos deste corpo de elite.

Verdadeiro ou falso, para os miúdos que faziam do quartel a sua primeira escola de vida, não era muito importante, o certo-certo mesmo era que dai em diante o ambiente habitual do quartel seria necessariamente alterado com a presença de duas espécies raras da paisagem militar portuguesa com garras bem afiadas. Um soldado comando corajoso e psicologicamente desequilibrado, que no seu estilo de lobo solitário, qual cowboy saído de um Western americano e que fazia das crianças nativas seus instruendos e um Paraquedista durão e provocador, aparentemente normal, amigo da farra, das bajudas e do jogo de cartas.

A chegada do Villar também trazia de volta um debate muito frequente, no começo dos anos 70, no seio da miudagem dos aquartelamentos, que era a questão de saber quem,  entre Comandos e Páras,  é que tinha a melhor preparação militar. Cada um argumentava com as suas armas sem que tivessem, na realidade, noção clara sobre o que os distinguia na prática, suas forças e fraquezas. O facto de os Páras fazerem-se ejectar de um avião em pleno voo, embrulhados num simples pedaço de tecido, parecia conferir-lhes uma nitida vantagem, mas os adeptos dos comandos levavam sempre melhor, pelo menos a luz dos acontecimentos no terreno e o respeito que impunham no mato e, também, nas ruas de Bissau, claro.

O Almeida tinha como "hobby" preferido a caça às pombas na orla da bolanha. Homem de poucas palavras, quando estava de acordo em que o seguissemos,  não dizia nada e ia a nossa frente. Quando não estava no seu melhor dia, com o cano da G3 apontada ao chão, mostrava a direcção da porta de armas com a mão livre, não a descendo enquanto os "djubis" não tivessem transposto o limite dos arames farpados, depois seguia cabisbaixo no seu trote rápido de homem que sabia ter o destino nas suas próprias mãos. 

Inocentes e impertinentes, sempre que as crianças tinham a sorte de o poder acompanhar, não se cansavam de admirar o fisico compacto deste homem, os seus reflexos rápidos e o tiro certeiro da G3. Nunca se precipitava nem perdia muito tempo em pontarias de inclinar cabeça e fechar olhos como faziam os outros, era "tau-rau", isto é, por cada tiro dado era uma ave que caia com uma mancha negra à volta do buraco da morte. Custava acreditar, por atrás dele, movendo-se ligeiros, num silêncio de arrepiar, esperávamos pelo sinal da mão para ir buscar o animal que se esbatia com o corpinho ainda quente. 

Todavia, acompanhar o Almeida era entrar num jogo atractivo, mas sem fim a vista, pois as suas mudanças de humor eram frequentes e imprevisiveis e,  quando isso acontecia, o divertimento inicial podia ultrapassar os limites do suportável, transformando-se num calvário para adultos. Os sinais de tal mudança manifestavam-se no súbito desinteresse pela caça habitual, na raridade dos tiros e na aceleração da marcha. 

Os menores, como eu, não podiam passar dos limites da bolanha de Sunkudjuma e, depois desta, começava a grande floresta de Oio e Cola-Caresse, região povoada de "Djinnés", prenhe de perigos vários e dominada pela guerrilha. O segundo grupo de temerários continuava a marcha, com o Almeida sempre à frente. Percorriam uma zona remota, semeada de centenárias Baga-bagas gigantes, habitat dos lendários "Kankurans" mandingas que coloriam o imaginário da nossa infância mestiça e, quando começavam a escassear os sinais da presença humana, as crianças, impelidas por um instinto natural de defesa, começavam a desertar, uma a uma, deixando o Almeida-comando no meio de intrincados trilhos de gazelas e de porco-espinhos, entregue a si mesmo, a sua inseparável G3 e a granada expansivel na cintura. E, estafados de tanto caminhar, quando voltavam à aldeia e iam ao quartel, encontravam o homem tranquilamente sentado à porta da sua caserna, limpando a sua arma. 

Num certo dia em que vínhamos de uma jornada de caça normal, dei uma fugida rápida e imprevista entrando de rompante numa das moranças da aldeia com a intenção de impressionar os aldeões com as dezenas de pombas que trazia em cima dos ombros. O resultado foi receber uma valente reprimenda também ela inesperada. Os mais velhos não teriam gostado de ver tantos animais mortos com arma de fogo numa só tarde. Descobri assim que o africano,  mesmo levando uma vida miserável,  é, por princípio, avesso ao desperdício de vidas e de recursos. Era muito pouca, de facto, a carne que se aproveitava nos pássaros com o estoiro dos projécteis.

O Almeida, no interior do seu silêncio, parece que fazia tudo para provocar a ira das hierarquias militares e estes, por sua vez, armados de bom senso e instinto de conservação, parece que faziam tudo para não entrar em rota de colisão com um subordinado de modos estranhos e psicologicamente instável. Esta postura oficial, mais tarde, revelar-se-á muito negativa e com consequências bem drásticas e que afectará toda a companhia, a escassos meses de fim de comissão.

Tanto assim que, uma vez por semana, o Almeida ao comando do seu pequeno e barulhento pelotão de "djubis", crianças caídas na órbita do quartel, dirigia os treinos físicos e de preparação militar, seguidos de uma faxina no interior do aquartelamento, tal como apanhar o lixo, capinar e limpar os sanitários. Após estas tarefas que habitualmente terminavam à hora do almoço, todo o grupo se dirigia ao refeitório-geral para servir-se dos restos do almoço do dia, servido em cima das mesas pelos cozinheiros nativos, utilizando os pratos e talheres disponiveis na cozinha da companhia e ainda com direito a sobremesa.  Enquanto isso, o Almeida-comando punha-se a passear de um canto a outro do refeitório, ao som das batidas ritmadas do chicote na parte mais alta das suas botas de cabedal reluzente, peito inchado e olhos vermelhos no rosto inexpressivo de ferra indomada.

Os "djubis", indiferentes ao ambiente tenso que reinava devido a contrariedade que provocava a sua presença indesejada no refeitório, comiam com a sua habitual gula e, ao mesmo tempo, estavam atentos aos movimentos de vaivém do seu Comandante-chefe. Quando este se afastava um pouco e os talheres começavam a atrapalhar, metiam rapidamente as mãos dentro das terrinas metálicas para dai retirar pedaços de carne ou restos de comida. Se a refeição era feita com pedaços de batatas ou arroz, tudo bem, mas às vezes era massa de esparguetes compridos e delgadinhos, que nem com as mãos se seguravam e constituíam tarefa complicada metê-los dentro da boca. Nestes casos a melhor solução era absorvê-los directamente com a boca, "tchúúph". Os brancos não gostavam desta forma muito prática de comer animal, o Almeida também. A ameaça do chicote era real.

Foi o Vilar que acabou com o nosso reinado no refeitório. Para todos os efeitos, era uma situação anormal e que não podia perdurar, pois não agradava a ala mais conservadora da tropa e não era muito apreciado pelos miúdos que, habituados à liberdade natural de comer à mão, sentiam-se bastante constrangidos com o espectáculo de comer com facas e garfos em cima de uma mesa e diante de olhares curiosos, coisas de brancos.

No dia em que se deu a briga, estávamos na cozinha do refeitório a preparar, em fogo brando, as pombas que o Almeida tinha trazido na tarde do dia anterior. O refeitório ainda estava quase vazio, estando numa das mesas o Vilar, sozinho, a entreter-se com a sua faca de mato, de cara para a porta do quarto onde residia o Almeida, facto que, pela sua ousadia, não augurava nada de bom. De vez em quando mandava uns palavrões ao ar, sem se dirigir a ninguém em especial. Caso estivesse a tentar provocar a fera, decerto que não perdia nada por esperar, pensávamos com os nossos botões.

Ninguém viu como  nem quando aconteceu, mas parece que o Almeida teria saído do seu quarto a vomitar impropérios e num salto teria voado em cima do Vilar com os pés em riste. Da violência do choque dos dois corpos, a faca do Villar tinha caído das suas mãos e os dois, entrelaçados, tinham rolado ao chão num grande estrondo, derrubando mesas e cadeiras. Durante alguns segundos, que pareceu um longo espaço de tempo, lutaram no chão cada um tentando dominar o outro e, de repente puseram-se de pé. Ofegantes e punhos cerrados, mediram-se novamente com os olhos e, quando se preparavam para um novo embate,  ouviu-se uma potente voz de comando que gritava "alto ai!!!". Era a voz do Capitão da companhia, Carlos Borges de Figueiredo, também ele com volume e estatura respeitável.

Não ficamos para saber como terminou a briga e, na confusão do momento, aproveitamos para sair dos arames farpados e regressar as nossas casas, na certeza, porém, de que se tratava apenas do começo de uma história que, qualquer dia, poderia terminar muito mal.

Depois, para a posteridade, de aldeia em aldeia, de bantabá em bantabá, como a notícia não pesa nem tem custos de transporte, cada um encarregar-se-ia de descrever o sucedido à sua maneira, acrescentando alguns pormenores ou dando vantagem ao herói da sua preferência. Comando contra Pára, Almeida contra Vilar e, de tanto tocar e retocar no assunto tornou-se dificil distinguir, ao certo, quem conta do que assistiu e viu com os seus olhos de quem conta do que ouviu alguém contar. 

Nasceu assim esta crónica que se inspira da vivência de um imaginário real, de tal modo que qualquer semelhança com a vida real de alguém só pode ser uma coincidencia fortuita e irreal.

Com abraços amigos de

Cherno Baldé (Chico de Fajonquito)
Bissau, 27 de Agosto de 2012.


Na imagem: os meus dois filhos Luís e Domingos numa esplanada da Praça do Império rebaptizada Praça dos Heróis Nacionais em Bissau, 2011. Teria eu a mesma idade quando acompanhava o Almeida-Comando nas aventuras da Bolanha de Sunkudjuma, em Fajonquito, nos anos de 1971/72. Sinais dos tempos.

Cherno Baldé (direita) e o seu colega de infância Saido Candé (esquerda), conhecidos no quartel com os nomes de Chico e Barbosa, antigos alunos e adeptos do Almeida-Comando. O Barbosa realizou o seu sonho de infância e é hoje um graduado do Ministério do interior.

Bissau, Setembro de 2011. Cherno Baldé com os filhos Domingos Ali e Luís Bubacar.


O Duelo entre Almeida-Comando e o Para-Villar, visto por um cartoonista/ humorista da época. Imagem de um desenho mural no bar de um Bairro da periferia de Bissau (Antula, Agosto de 2012)


Sunkudjuma - Eu nasci aqui, / É Sunkudjuma, / É rio dormindo, / É bolanha, fossas e lianas, / São leitos secando, / Peixes escuros e lama, / Aqui lavramos o arroz e / A tristeza dos olhos

Extrato de um poema da minha colecção de juventude com data de 1985.


O Kankuran é um elemento cultural da etnia mandinga, hoje largamente adoptado por muitos grupos de confissão muçulmana na Guiné, associado ao ritual de iniciação e de mudança de estatuto social entre os homens (sexo masculino). O mito fundador quer que as pessoas acreditem que o Kankuran tem poderes mágicos de desmistificar e neutralizar os maus espíritos, proteger, unificar e reforçar a coesão social da comunidade (ver Nhinte Camatchol entre os nalus). Portanto, é um instrumento unificador e propiciador da harmonia social, especialmente direcionado contra o malefício da divisão social associado aos excessos do poder feminino no seio das comunidades. O kankuran emerge das baga-bagas gigantes de onde tira a sua cor vermelha como o próprio chão da Guiné. 

Na imagem, Kankurans da nova geração nas ruas de Bissau (Bairro Militar, 2011).  
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Nota do editor:

Último poste da série > 12 de julho de 2012 >  Guiné 63/74 - P10146: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (36): Recordando o inesquecível amigo João, ex-1.º Cabo Mecânico da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4514/72

Guiné 63/74 - P10324: Parabéns a você (468): José Câmara, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 (Guiné, 1971/73) e Torcato Mendonça, ex-Alf Mil da CART 2339 (Guiné, 1968/69)


Para aceder aos postes dos nossos camaradas José Câmara e Torcato Mendonça, clicar nos seus nomes
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 1 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10312: Parabéns a você (467): Manuel Joaquim, ex-Fur Mil da CCAÇ 1419 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10323: Convívios (468): Almoço de confraternização do pessoal da 2ª CCAÇ do BCAÇ 4612/72 - 29 de Setembro de 2012 -, Lagoa (Jorge Canhão)



1. O nosso Camarada Jorge Canhão, (ex-Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, Mansoa e Gadamael, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com pedido de divulgação do programa da festa da 2ª CCAÇ do seu BCAÇ 4612/72.

Camaradas, 

Recebi o convite da 2ª Companhia (Jugudul, Uaque, Rossum e Bindoro), do nosso BCAÇ 4612/72, para mais um belo encontro entre camaradas de armas.

Desta vez é em Lagoa-Algarve.

Seguem-se o programa e a indicação para as marcações. 

(Em principio lá estarei)






Abraços 
Jorge Canhão
Fur Mil At Inf da 3ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72

Mini-guião e emblema de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em: 


Guiné 63/74 - P10322: Em busca de ... (201): Luís Filipe Anacoreta Soares, ex-cap mil art, CCAÇ 1498 (Có, Binar, Bissau, 1966/67), que me trouxe de Có, e me pôs na Casa do Gaiato em 14 de janeiro de 1968... Vivo em França há mais de 20 anos (Paulo Mendonça)


1. Mensagem do nosso leitor Paulo Mendonça, natural da Guiné, atualmente a viver em França, e antigo aluno da Casa do Gaiato, Paço de Sousa, Penafiel [, à esquerda, foto da entrada principal do estabelecimento]:

De: jason39 wash [ pmendonca@hotmail.fr]

Data: 2 de Setembro de 2012 22:27


Bonjour!

Estou à procura desta pessoa, Luís Filipe de Anacoreta Soares, Capitão Miliciano da Companhia de Caçadores 1498.

Chamo-me Paulo Mendonça, nasci em Có, Bula, Cacheu, fui criado na Casa do Gaiato de Paço de Sousa onde este Capitão me levou, em 14 de janeiro de 1968.

Saí da Casa do Gaiato aos 14 anos,  e vivo aqui em França há mais de 20 anos... 

Queria saber alguma coisa desta pessoa ou sua família

Obrigado pela sua ajuda

À bientôt

Paulo Mendonça


Guiné > Região de Tombali > Gadamael Porto > CCAÇ 798 (1965/67) >  Em baixo, da esquerda para a direita, em segundo lugar o Cap mil  Anacoreta Soares, seguida do Alf mil  Assunção e e do alf mil Manuel Vaz.

Foto (e legenda) Manuel Vaz (2012). Todos os direitos reservados.

2. Comentário de L.G.:


O Paulo Mendonça teve a gentileza de me telefonar, tinha eu acabado de chegar de férias. Pedi-lhe que passasse o seu pedido a escrito e que me mandasse um mail. Eis a minha resposta, de ontem:

OK, PaulO. Cá recebi a mensagem.. Amanhã vou publicar no blogue... Para já não tenho ninguém da CCAÇ 1498, registado no blogue... Mas tenho notícias do batalhão a que pertencia a CCAÇ 1498, o BCAÇ 1876 (Bissau e Bula, 1966/67)...

Não sei se a tua história é parecida com a do menino Adilan... Mas lê aqui:

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search?q=Adilan



Acrescento agora mais o seguinte:

Segundo os dados de que dispomos, a CCAÇ 1498 foi mobilizada pelo Regimento de Infantaria nº  2,  em Abrantes, embarcou para o TO da Guiné em 20/1/1966 e regressou à metrópole em 4/11/1967. Esteve em Có, Binar e Bissau. 

A CCAÇ 1498 teve 3 comandantes: (i) Ten inf Manuel Joaquim Fernandes Vaz; (ii) Cap cav Miguel António Carvalho Santos Melo e Castro; e (iii) Cap mil art Luis Filipe Anacoreta Soares.

Sabemos que o cap mil Anacoreta Soares também comandou, temporariamente, a CCAÇ 798 (Gadamel Porto, 1965/67), segundo relato alf mil Manuel Vaz (vd. foto acima):

(...) A Companhia estava condenada a não ter Capitão. Passado algum tempo, depois do Cap Vieira dos Santos sair, foi nomeado Comandante, o Cap Mil Anacoreta Soares que não se manteve até ao fim, acabando por ser transferido para o Norte. Quando faltavam três meses para a Companhia regressar à metrópole foi atribuído o Comando da mesma ao Cap Vilas Boas a quem faltava sensivelmente o mesmo tempo para ser promovido a Major. A situação diminuiu a capacidade operacional da Companhia que só actuava como tal, quando tinha Comandante efectivo" (...)
Paulo, aqui fica registado o teu pedido. Se for vivo, como esperamos, o teu "padrinho" deve ter mais de 75 anos: sendo capitão miliciano em 1966, devia já ter perto dos 30 anos quando te conheceu.

 Pode ser que algum camarada da CCAÇ 1498 leia esta mensagem, e entre em contacto contigo ( pmendonca@hotmail.fr) ou com o nosso blogue (luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com) e nos traga as notícias (boas) que tu desejas ouvir (e nós também).

Sobre Casa do Gaiato, tens o respetivo sítio na Internet. Um dos nossos camaradas, membros da nossa Tabanca Grande, Joaquim Peixoto, de Penafiel, foi lá professor durante alguns anos. Pode ser que ele te possa ajudar também a localizar o paradeiro do teu benfeitor.

Um abraço. Bonne nuit! Luís Graça

PS - Estás à vontade para escrever, ao nosso blogue,  a contar a tua história de vida, as circunstâncias em que vieste para Portugal, a tua idade, a terra do teu benfeitor, etc. Essas pistas podem ajudar-nos a chegar mais depressa ao nosso camarada Luís Filipe Anacoreta Soares ou alguém da sua família.

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10290: Em busca de... (200): Camaradas da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (K3 e Lamel, 1969/71) (Ricardo Almeida)

Guiné 63/74 - P10321: Memórias de Joaquim Cruz (2): Chegada à Guiné, deslocação para Farim e os dias trágicos vividos em Guidaje

1. Continuação da publicação das Memórias do nosso camarada Joaquim Cruz* (ex-Soldado Condutor Auto-Rodas da CCS/BCAÇ 4512, Farim, 1972/74), desta feita lembrando os acontecimentos de 1973 em Guidaje que ele também viveu de perto:


MEMÓRIAS QUE O TEMPO NÃO CONSEGUE APAGAR (2)

Foi durante a viagem no Uíge que o nosso Alferes do Pelotão Auto começou a distribuir por cada um de nós as viaturas que já sabia existirem em Farim, local para onde seguimos, depois da passagem pelo Cumeré e ai nos terem ministrado um pequeno estágio no que à condução e versatilidade das Berliet dizia respeito. Tínhamos portanto à nossa espera em Farim cinco Berliet e eu fui um dos cinco elementos escolhidos para a condução das mesmas.

Os restantes camaradas e bons amigos foram o Ribeiro, o Bombeiro, o Pontes (que veio a ser evacuado para o continente na sequência dos ferimentos que sofreu em Guidaje) e o malogrado Ludgero que aí viria a perder a vida como adiante explicarei; além destas viaturas tínhamos ainda destinadas ao serviço exterior ao quartel três Unimog que nos acompanhavam nas constantes colunas e que eram conduzidos pelos camaradas Milheiro, Vieira e Carrasqueira. Esta era a composição da equipa que no primeiro ano circulou pelas picadas do setor de Farim, no interior do quartel com outras atribuições tínhamos os restantes elementos que faziam parte do Pelotão Auto.

Aqui nesta foto com os camaradas Milheiro ao centro, e o Ribeiro.

Nesta foto dando a minha ajuda aos camaradas mecânicos. Reconhecem-se ao meu lado o estofador, no chão à direita: o Milheiro, Piedade e o Carrasqueira, à esquerda o Oliveira e o nosso camarada guineense de quem não recordo o nome.

O trabalho a que estávamos sujeitos nunca tinha fim, todos os dias estávamos em movimento, eram o transporte do Pelotão de Sapadores, ou dos grupos de combate para patrulhamentos, colunas de reabastecimento de víveres e munições, ao K3 (onde havia que atravessar na antiga jangada onde era preciso ter alguma perícia para não cair ao rio, que mais tarde, durante a nossa comissão veio a ser substituída por outra mais moderna e essa sim não havia que manobrar entrava-se por um lado e saía-se pelo outro)

Esta foi a velha jangada que encontramos em Farim 

Imagem daquela que foi a segunda jangada 

Colunas a Binta, Jumbembém ou Cuntima, estas quase sempre premiadas no regresso com o transporte de vacas para Farim com o inconveniente da sempre obrigatória lavagem da viatura no final da viagens, quase sempre compensadas com cinquenta pesos dados pelo proprietário das vacas e que sempre ajudavam a refrescar a garganta.

Fazíamos ainda o transporte de cibes da mata para o cais junto ao rio, para depois seguirem nos batelões para outros destinos, (a psícola como lhes chamávamos), onde com a segurança de um pequeno grupo de milícias nos embrenhávamos pelas matas onde creio que o PAIGC só não nos apanhava porque simplesmente não estavam interessados em tal.

Depois de mais um transporte de cibes uma pequena pausa 

Antes da partida para mais uma coluna. Um camarada Alf Mil que não estava previsto ficar na foto, cujo nome não consigo lembrar.

Isto para além da prevenção para transporte de reforços aos postos avançados na periferia do quartel de Farim, serviço esse que fazíamos sempre que o mesmo era flagelado com foguetões e não havia que hesitar, quem estava de serviço avançava com a sua viatura em plena chuva dos ditos, conduzindo e olhando para o céu pensando que talvez não nos acertassem, era tudo uma questão de sorte e lá procedíamos à distribuição dos camaradas pelos sucessivos postos.

A propósito desses postos avançados, acrescento aqui que apenas me tocou em todo o tempo de tropa fazer dois reforços de arma na mão, uma vez que aos condutores estavam confiadas outras missões e foi logo na primeira ou segunda semana de sobreposição com a camaradagem que fomos render, foram os dois no posto conhecido pelo da bolanha do lado da saída para Binta, tinha junto a ele uma árvore de grande porte, que estava infestada de morcegos e durante a noite era um chilrear que incomodava bastante quem não estava habituado a tal festim.

O posto era considerado o mais perigoso, onde de vez em quando lá suavam umas rajadas, mas normalmente o que lá surgia não era o IN já que este flagelava-nos sempre à distancia com os célebres foguetões que sentíamos o som logo que eram disparados para de seguida voltar a infiltrar-se no Senegal, eram antes as vacas que a população levava a pastorear durante o dia para fora do arame farpado e depois ao recolher ficava uma ou outra para trás e em plena noite quando tocavam nos arames não havia que perguntar quem vinha lá, e nos dias seguintes sempre havia uns estilhaços para misturar ao arroz que nos era servido diariamente meses a fio, com exceção das messes de oficiais e sargentos onde o tratamento era normalmente diferente para melhor.

Fui despejado no dito posto e tocou-me fazer a vigilância com dois camaradas em fim de comissão, os chamados velhinhos que trataram de me colocar nas piores horas avisando-me dos perigos que poderíamos correr, eu como podem imaginar passei ali um mau bocado, mas quando foi a vez de eles estarem de vigília eu continuei sem pregar olho e apercebi-me que pela sua descontração e até pelo seu ressonar não deveria haver ali tanto perigo como me quiseram fazer crer, enfim eram as partidas que de boa-fé pregávamos uns aos outros.

Desde o início que sempre ouve um excelente relacionamento entre nós condutores, estabelecemos com a anuência dos nossos superiores desde o início, que faríamos uma rotação em todas as circunstâncias, nas colunas da nossa Companhia, cada vez tocava a um de nós ir e regressar na frente, em Farim não utilizávamos rebenta minas ou seja o estrado da cabine da viatura repleta de sacos de areia, se a coluna era de uma das outras Companhias do Batalhão e se na mesma era incorporada uma nossa viatura para reforço desta, como o regresso só se fazia quando houvesse nova coluna, o processo era idêntico de cada vez tocava a um a permanência nesses destacamentos.

Passei alguns desses períodos em Jumbembém sede da 2.ª Companhia onde fiz algumas colunas a Canjambari integrado nas colunas dessa Unidade, guardo até na memória um pequeno episódio que se passou na pequena caserna dos condutores onde eu estava hospedado, a camaradagem e a boa amizade arranjavam sempre espaço para mais um amigo.

Com a porta aberta aparece-nos por ali um solitário cabrito, depois de darmos as boas vindas ao intruso, nas quais eu também colaborei, os preparativos para o banquete correram bem, o petisco ainda melhor, o problema surgiu quando pelo facto de a terra estar muito dura, alguém teve a ideia de pedir ao padeiro que de madrugada ao acender o forno queimasse o que sobrava do bicharoco e entre os despojos estavam uns chifres já bem grandotes, devem imaginar o cheiro que ficou a pairar por todo o destacamento e o receio com que ficamos que se viesse a descobrir a origem deste, mas felizmente tudo acabou em bem.

Um momento de descontração com os camaradas Condutores. Ao meu lado o Vieira, Simão e o Espite.

A viatura pesada Berliet

Do mesmo modo passei algumas semanas intercaladas em Cuntima sede da 3.ª Companhia, é numa dessas estadias que me encontro quando rebenta o conflito de Guidaje.

Não posso precisar a data certa mas terá sido nos últimos dias de Abril de 73 que ao chegar a Farim com mais uma carga de cibes, estava nesse dia uma coluna da 3.ª Companhia quase pronta para partir e nela uma Berliet da CCS que era nada menos que a do nosso amigo Bombeiro, só que acontece que por rotação era eu que devia seguir nessa coluna e assim foi, trocamos de viatura e eu segui para Cuntima com a viatura dele e o amigo Bombeiro, ficou com a minha.

Em Farim no transporte de um GComb da CCaç 14 

Farim com um exemplar que se deixou apanhar

Tenho que aqui reconhecer que ele estava sempre pronto para seguir no lugar de um de nós, facto que eu nunca aceitei, é a minha vez sou eu que vou, da mesma forma que também nunca pretendi ir no lugar de ninguém.

No dia 8 de Maio é formada a 1ª coluna com destino a Guidaje e nesta vão duas Berliet da CCS conduzidas uma pelo Ribeiro e a outra pelo Bombeiro esta a que me estava distribuída, a terceira Berliet assim como o Unimog que compunham a coluna pertenciam à 1.ª CCAÇ Nema/Binta (estas foram as viaturas que acabaram destruídas pela nossa força aérea) os acontecimentos vividos nessa coluna tem sido aqui variadíssimas vezes descritos e eu não estive lá portanto apenas acrescento que os meus camaradas Ribeiro e o Bombeiro ficaram bastante afetados, o Bombeiro chegou mesmo a ser evacuado para Bissau, mas felizmente não tinha nada de grave, ambos na sequência dessa emboscada, do que ai sofreram estiveram vários dias sem voltar à atividade.

No dia 9 estava eu em Cuntima como já tinha referido e mesmo à distância que estávamos em relação ao local onde se deu a emboscada conseguimos ouvir o imenso estrondo que foi o bombardeamento das viaturas feito pela nossa aviação, não sabíamos o que se passava mas umas horas depois somos informados que íamos seguir de imediato para Nema.

Partimos de Cuntima, já escurecia, até Jumbembem não ouve picagem o então capitão da 3.ª CCAÇ deve ter pensado que o melhor seria preservar a sua viatura e então fui colocado na frente da pequena coluna que era composta apenas por duas Berliet, a que eu conduzia e uma pertencente à 3.ª CCAÇ cujo nome do condutor que a conduziu já não consigo recordar. Como não houve picagens avisei o pessoal para se segurarem e prego a fundo, haja sorte, eu já tinha alguma experiência de circular nas picadas não me fiz rogado sempre que possível os rodados não iam dentro das rodeiras, iam por fora o que se conseguia fazer na época seca com alguma facilidade, passamos por Jumbembém sem paragem dai já tinham seguido também reforços com o mesmo destino, Ponte Lamel, uns minutos em Farim que deu para receber o correio que o meu amigo Simão me guardava nas minhas ausências e fomos pernoitar a Nema. No dia 10 quinta-feira ainda era madrugada dirigimo-nos para Binta e ai demos inicio aquela que viria a ser a 2.ª coluna de apoio a Guidaje e a primeira a romper o cerco.

Na cabeça da coluna ia a Berliet conduzida pelo malogrado Ludgero um pouco mais atrás seguia o Pontes e salvo erro em 5-º ou 6-º ia eu conduzindo a Berliet na qual ia instalada a Secção do Pelotão de Morteiros 4274, já tenho lido alguns excertos de camaradas que pertenceram a esta Unidade, pois para que se recordem fui eu que conduzi a viatura que os transportou naquela difícil viagem ao inferno de Guidaje e que felizmente para mim e para eles teve regresso, o que desafortunadamente não sucedeu com outros nossos camaradas. A descrição do que vivemos durante a viagem também já tem sido vastas vezes relatada daí que apenas foco algumas passagens tais como a nossa passagem muito próxima do que restava das viaturas semidestruídas da 1.ª coluna, os corpos dos camaradas que ali perderam a vida, os abatizes atravessados na picada, o saltarmos constantemente para o chão para que os Fiat procedessem ao bombardeamento na nossa frente.

O infortunado 1.º Cabo Comando que saltou do Unimog para o chão, acionando a mina que lhe decepou o pé, o que sucedeu na minha frente e que infelizmente presenciei, é mais um dos tristes episódios que nunca mais esquecerei, o malogrado camarada da 3.ª Companhia que aciona a mina já no Cufeu e que perde ali a vida, o matraquear dos confrontos entre as CCAÇ 3 e CCAÇ 19 com os elementos do PAIGC, o passarmos junto aos vários corpos tombados junto à picada e finalmente a chegada a Guidaje.

Na minha primeira noite sem me aperceber do perigo que corria não me lembrei de outro local para tentar descansar que não fosse o estrado da Berliet, nessa noite fomos bombardeados e entre o rebentamento das granadas do IN e o som das nossa respostas quer pelos obuses quer pelos morteiros que se confundiam, eu lá sobrevivi sem pregar olho mas sem me aperceber do verdadeiro perigo a que tinha estado exposto, o que vim aperceber-me na manhã seguinte as granadas tinha caído perto, havia até algumas viaturas com estragos, uma delas com o radiador furado pelos estilhaços, durante o dia sexta-feira 11 e depois de sabermos que não podíamos regressar sem que chegassem reforços para assegurar que a população não abandonava a povoação, havia que procurar outro local para passar a noite.

Então juntei-me ao pessoal dos morteiros e por ali fiquei. Mais fogachal durante a noite com a nossa resposta sempre pronta e lá chegamos a sábado. Nos dias em que lá permanecemos não comi qualquer alimento confecionado no interior do quartel, penso até que a cozinha nem funcionou, mas se lá cozinharam algo nesse período a mim não me tocou nada, enfim fomos mordiscando alguma coisa das rações que tínhamos levado, o desânimo era tal, nuns mais que noutros, que muitos de nós comentavam que não sairíamos dali vivos e um deles eu nunca mais vou esquecer, foram talvez das últimas palavras que ouvi prenunciar ao nosso infeliz camarada Ludgero, que teve a fatalidade de encontrar ali a morte, recordo-me de lhe ter dito para não pensar nisso e que haveria de aparecer uma solução, e finalmente ela surgiu, quando vimos aparecer no sábado à tarde uma coluna com duas viaturas, uma Berliet da 1.ª Companhia conduzida pelo camarada Chaves e um Unimog da CCS pelo camarada Milheiro, ladeadas pelos Fuzileiros que conseguiram fazer essa coluna sem terem qualquer contacto com o IN.

Aproximou-se a noite e começamos cada um a instalar-se para passar mais uma noite de tormento agora um pouco mais animados porque no dia seguinte partiríamos de regresso. O quartel estava circundado por valas em ziguezague, o pessoal instalou-se por ali como pôde, mas eu já havia detectado que por trás do edifício salvo erro do refeitório, havia uma pequena trincheira que não teria mais que uns 50 a 60 centímetros de largura que deu em tempos acesso a um abrigo já desativado, a vala estava repleta de ervas, houve que amassá-las com as botas e ao mesmo tempo também eliminar algumas das muitas formigas que ali estavam instaladas. Chamei para junto de mim o camarada recém-chegado, o amigo Milheiro, que de início pensou em juntar-se na vala principal aos nossos camaradas condutores Pontes e Ludgero que tinham a seu lado o Soldado Comando José Raimundo e o Soldado Condutor do CAOP, David Viegas, que infelizmente ali viriam a encontrar a morte e muitos outros de outras Unidades já que a densidade era tal que pouco espaço sobrava.

O local onde os camaradas estavam não distava em linha reta do nosso mais que uns 3 a 4 metros, depois de já estarmos instalados ainda com a ajuda do meu companheiro de quarto, fomos buscar um capô de uma GMC que por ali estava abandonado e que nos iria proteger do cacimbo da noite.

Foi quando já todos estávamos quase em silêncio, por volta das nove da noite, que o IN inicia mais um bombardeamento, por fatalidade a primeira granada de morteiro acerta no bordo da vala, precisamente onde estavam os nossos camaradas condutores, após o primeiro rebentamento ouvem-se gemidos de dor, de imediato salto da vala e vou em auxilio dos feridos juntamente com o Milheiro logo seguido por outros camaradas, o primeiro que ajudo a retirar é o Pontes que chora e geme com as dores provocadas pela quantidade de estilhaços que lhe penetraram no corpo e que infelizmente viverá com alguns deles o resto da vida, de seguida tento levantar o Ludgero mas este já não tem reação, o mesmo se passa com os outros dois camaradas o José Raimundo e o David Viegas que tiveram morte imediata.

Ajudei a transportar o Pontes para a enfermaria, outros camaradas transportaram os restantes feridos, incluindo o Ludgero que vim a saber depois que chegou à enfermaria ainda com vida mas veio a falecer na madrugada do dia 13, domingo, dia do nosso regresso.

Finalmente havia condições para sairmos dali para fora, ao organizarmos a coluna para a partida surgiu um problema a viatura da cabeça da coluna, não tinha condutor pois infelizmente o mesmo tinha falecido

A ânsia de sair dali para fora era enorme havia que resolver o problema da viatura que não tinha condutor, fui eu que tomei a iniciativa uma vez que o condutor pertencia à CCS portanto à minha Companhia, fui falar com o nosso Oficial de Operações, o Capitão Beato, e a pergunta foi: Quem é que vês que pode conduzir essa viatura? Então lembrei-me que na coluna de Cuntima tinha vindo connosco um Mecânico da 3.ª Companhia e dei essa informação ao Capitão e este incumbiu-me de transmitir essa ordem, o que fiz.

Fui procurar esse camarada que não me recordo o nome e transmiti-lhe a ordem: Levas a viatura do falecido Ludgero. Foi um choque tremendo para alguém que não estava habituado, e logo na frente da coluna. O tempo passava e eu insistia com o improvisado condutor para que alinhasse a viatura para que se formasse a coluna seguindo as ordens do Capitão Beato, mas o nosso camarada nunca mais se dispunha a alinhar a viatura junto a porta de saída.

É então que eu tomo uma decisão, salto para cima da viatura e arranco com ela em direção à saída, ao mesmo tempo sem me aperceber começamos a receber mais umas morteiradas. Vi de facto gente a correr por todo o lado mas não parei, a pressa de sair daquele inferno para fora era mais forte que tudo o mais, confesso que não o fiz por valentia ou com alguma ideia de heroísmo, tal como por espontaneidade socorri os camaradas nas véspera em pleno ataque sem me lembrar de mais nada, assim o fiz só com uma ideia vamos tentar sair daqui para fora, ato esse que acabou por ser reconhecido pelo Capitão Beato e pelo Comandante do Batalhão como consta na Ordem de Serviço n.º 257 de 23 de Novembro de 1973.

Finalmente lá saímos, mais um dia penoso debaixo de um sol ardente sem alimentos nem água, a viatura que seguia na frente parava frequentemente e para arrancar era a que a precedia que a empurrava, tal era o nervosismo do nosso camarada que a conduzia. Novamente a passagem juntos aos corpos ali tombados no dia 10 e mais à frente o que restava dos caídos no dia 9 com as imagens dos abutres que quem presenciou nunca mais consegue esquecer, e mais não acrescento pois a descrição da viagem de regresso também já aqui tem sido vastas vezes retratada e não me quero que tornar repetitivo.

Não consigo esquecer o quanto sofreram para além de nós os que vínhamos ativos, os camaradas que feridos suportaram essa viagem deitados nos estrados das Berliet, alguns deles ao lado dos companheiros já mortos, debaixo de um sol abrasador sem água para beber. Ao chegar a Binta, saltei da viatura e corri junto a uma das viaturas que transportavam os feridos e ao perguntar ao Pontes como é que ele estava, este bastante desidratado apenas prenunciava a palavra água, algo que eu também não tinha, são tristes passagens que nunca mais se esquecem.

Depois de três noites sem dormir e praticamente sem comer tenho por fim uma noite de descanso, dia 14, segunda-feira, pela meia tarde o nosso 1.º Sarg Carvalho do Pelotão Auto informa-me que no dia seguinte vou partir novamente para Guidaje. Nunca mais esquecerei as palavras que lhe dirigi, assim como lhe fiquei eternamente grato por ter compreendido a minha mais que justa razão para as ter proferido. Ao receber a notícia que voltava novamente para Guidaje eu pronunciei as seguintes palavras: Meu sargento, será possível não existir aqui em Farim mais ninguém que consiga conduzir uma Berliet a não ser eu? E o bom homem olhou para mim, compreendeu e disse-me: Vou ver o que posso fazer. Verdade é que no meu lugar foi um condutor africano pertencente à CCAÇ 14 que felizmente regressou são e salvo.

E foi com este pequeno episódio que durante 1973 eu não voltei a Guidaje, é verdade que trabalhei imenso nesse período porque a azáfama no sector era grande, ainda me tocou transportar elementos da 38.ª CComandos para Mansoa onde pernoitei uma ou duas noites. Não houve descanso, foi um período terrível para todos os que ali estivemos envolvidos, pois dos cinco Condutores das Berliet da CCS, durante o conflito de Guidaje cheguei a estar operacional apenas eu, o trabalho redobrou mas eu nunca virei a cara à luta e assim prossegui até aos princípios de Dezembro quando me acontece algo de inesperado.

(Continua)
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Nota de CV:

(*) Vd. primeiro poste da série de 15 DE AGOSTO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10267: Tabanca Grande (354): Joaquim Cruz, ex-Soldado Condutor-Auto da CCS/BCAÇ 4512 (Farim, 1972/74)

Guiné 63/74 - P10320: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (2): Cuntima





1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Humberto Nunes (ex-Alf Mil Art.ª, CMDT do 23.º Pel Art,  Gadamael Porto e Cuntima, 1972/74:



Cacine > Eu no meio dos obuses

Cacine > LDG a ser carregada

Junto à Ilha de Bubaque

Cuntima > A minha segunda suite

Cuntima > Fabrico de blocos para as casas dos Artilheiros

Cuntima > As casas dos artilheiros

Cuntima > Ibus à espera de acção

Cuntima > Vista parcial

Cuntima > Vista parcial

Cuntima > Aproximação de um helicóptero

Cuntima > Chegada do helicóptero do correio

Cuntima > Algures, a caminho de Bissau
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Nota de CV:

Vd. primeiro poste da série de 11 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10252: Álbum fotográfico do ex-Alf Mil Art Humberto Nunes (1): Gadamael

Guiné 63/74 - P10319: Notas de leitura (396): "Guiné-Bissau, 3 Anos de Independência" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 5 de Julho de 2012:

Queridos amigos,
Trata-se de uma pequena incursão pelas publicações que abordam os acontecimentos pós-independência, não se pode escamotear a sua importância para a compreensão das história da Guiné-Bissau. Os lideres do PAIGC supunham que o capital de credibilidade auferido durante a luta armada era inesgotável. Dirigentes como Aristides Pereira irão mais tarde recriminarem-se por não terem estado atentos a tanto entusiasmo com a cooperação internacional, parecia que a Guiné-Bissau tinha direitos especiais em receber ajudas sem prestar contas. A nova classe política passeava-se por Bissau e adotava os estilos de vida que tinham censurado durante a luta armada. Cedo a casa ficou sem pão e todos passaram a ralhar, a praticar golpes de Estado e a engendrar inventonas.

Um abraço do
Mário


Guiné-Bissau, três anos de independência

Beja Santos

Houve um embaixador português, Pinto da França, que lhe chamou tempo de inocência, é uma época de sonhos e promessas, ainda se acredita no trabalho das organizações de massas, na participação popular, mesmo em ziguezague as autoridades do novo Estado falam em grandes opções económico-sociais, idealizaram projetos para o sector agrícola, acreditam que o futuro está prenhe de sucessos na energia, na indústria, na educação e na saúde pública. A Guiné-Bissau tem uma política externa e anuncia-a ao mundo, baseada nos princípios da coexistência pacífica, do não alinhamento e anticolonialismo e anti-imperialismo. O CIDAC, em 1976, procede a uma reportagem a publica-a com o título “Guiné-Bissau, 3 anos de independência”. Está-se em vésperas do 3.º Congresso do PAIGC, aquele em que se detetaram profundas fissuras entre guineenses em cabo-verdianos e se fizeram críticas à deriva económica e financeira. Ao longo da reportagem afloram apreciações que já não disfarçam o emaranhado de contradições: os que vieram da luta instalam-se em Bissau e desfrutam o bem-estar, começam as incriminações à administração colonial como se não competisse ao partido revolucionário impor, por via do trabalho político, as novas linhas de rumo. Fala-se na camada social parasitária, na pequena burguesia citadina que seria obrigada a alterar os padrões de consumo e a reduzir os seus gastos supérfluos, mas irá descobrir-se, em 1976, que o novo poder adquiriu 8000 novos carros e metade do desequilíbrio das contas externas decorre da importação de alimentos destinados à velha e à nova burguesia citadina. Ao tempo, o PAIGC continua a recusar ser partido, insiste em apresentar-se como o movimento nacionalista de libertação. Nunca se fala em socialismo e muito menos em socialismo africano, fala-se em política para o povo com base na unidade nacional. E o PAIGC apresenta-se como a força dirigente da sociedade, a expressão suprema da vontade soberana do povo. A justiça baseia-se em tribunais que vieram do tempo da luta, fazem-se julgamentos populares mas reconhece-se a necessidade em mexer de cima a baixo no aparelho judicial. A unidade Guiné-Cabo Verde é dogma, está realizada no partido a seu tempo irá passar para as populações e diz-se repetidamente que a construção desta unidade é um inestimável contributo para a unidade africana.

Os novos políticos de Bissau mostram-se ambiciosos quando falam do futuro da agricultura, a terra tem boas condições para a produção agrícola e promete-se uma via progressista para a agricultura mas avultam outras medidas importantes, tudo ainda no campo das promessas: uma reforma fiscal que iria eliminar os impostos anteriores e veria surgir o imposto de reconstrução nacional; o controlo estatal dos principais circuitos do comércio interno através dos Armazéns do Povo; nacionalização do comércio externo. Na reportagem diz-se textualmente: “A Guiné-Bissau encaminha-se para um tipo de sociedade com as seguintes características: conquista da independência económica e rejeição do neocolonialismo, eliminação das distinções de classe e da divisão da cidade-campo, forte intervenção do Estado ao serviço de todo o povo, planificação da economia, nacionalização da terra, reforma fiscal, participação estatal nas empresas, descentralização regional”. Era assim que se pretendia a abolição da exploração do homem pelo homem.

O ministro do Plano, Vasco Cabral, refere as prioridades para o desenvolvimento: aumentar a produção agrícola, desenvolver o potencial energético do país e fomentar as comunicações, criar pequenas indústrias ligadas aos recursos locais, vencer o analfabetismo e melhorar as condições sanitárias da vida da população. Havia a promessa de investimentos estrangeiros. A Esso, empresa multinacional de petróleo, a quem tinha sido concedida a prospeção do petróleo, considerou que os estudos eram francamente desencorajadores e abandonou o país; o comissário da agricultura confiava nas novas formas de propriedade (granjas do Estado, cooperativas de produção agrícola) havia mesmo a intenção da concessão de crédito e distribuição de sementes, tinha sido decretado um substancial aumento dos preços dos produtos agrícolas; estava previsto o aproveito hidráulico do vale do Rio Geba; quanto à horticultura e fruticultura, falava-se com entusiasmo na mandioca, na batata e no feijão, nas leguminosas e no tomate e previa-se a plantação de árvores de fruto em todo o país; o mais ambicioso dos projetos agrícolas era o complexo açucareiro a instalar na zona do rio Gambiel, afluente do Geba (a Líbia seria o principal financiador) e essas grandes intenções estendiam-se à riqueza florestal, avicultura e pecuária e previa-se um grande surto da atividade pesqueira, a Argélia já tinha enviado 4 barcos e formara-se um grupo constituído pela Guiné-Bissau, a França e o Senegal destinado à pesca do camarão na região do Cacheu.

A industrialização era acalentada: complexo energético-industrial a instalar em Porto Gole, aproveitamento hidrelétrico do rio Corubal, havia uma infinidade de novas indústrias a instalar: fábricas de móveis de madeira, de sumos e conservas de fruta, de descasque e extração de óleo, um centro apícola, uma fábrica de tecidos de algodão, um serviço de eletrotecnia a frio, doadores estavam a apoiar os trabalhos de melhoramento do porto de Bissau e do aeroporto de Bissalanca, estava já em laboração uma fábrica de camisas, a Bambi.

A educação era outro desafio até porque durante a luta quem visitava as bases de guerrilha no interior do território admirava-se com a grande capacidade de instalar um ensino alternativo. Todas as declarações, ao longo da reportagem, apontam para uma educação nova, para um salto na alfabetização, previam-se jardins-de-infância e o método de Paulo Freire promete ser um sucesso. Também a saúde pública aparecia no topo das prioridades, o colonialismo português era acusado de ter concentrado em Bissau a quase totalidade das camas e mais de metade dos médicos, bem como o grosso do equipamento hospitalar. Os novos governantes queriam socorrer-se da experiência das regiões libertadas, as grandes orientações para a saúde iam nessa direção. E esperava-se muito da cooperação internacional para formar quadros com formação universitária e financiamento para muitos dos projetos com que se sonhava estar a abrir o desenvolvimento do novo Estado.

Os políticos de Bissau mostram-se ufanos com a sua política externa, depois de 11 anos de guerra só pensam na coexistência pacífica e na boa vizinhança, só não se entendem com a África do Sul e são aliados indefetíveis do MPLA. As relações com Portugal, no fim do PREC, não são muito boas, Lisboa deixara de ser o primeiro aliado. Em anexo, a reportagem pública os estatutos do PAIGC, a constituição da República da Guiné-Bissau, a composição do Conselho de Estado e as resoluções da Assembleia Nacional Popular.

Era o tempo de inocência, o desastre económico vai explodir em breve.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 24 de Agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10296: Notas de leitura (395): Guiné-Bissau, Um Estudo de Mobilização Política, de Lars Rudebeck (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P10318: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (8): Porto de Bissau: ponte-cais... (Luís Calafate, Faculdade de Ciências da Universidade do Porto)



Guiné > Bissau > 1907 > Vista do  porto e ponte cais (Imagem cedida por Luís Calafate)





Guiné > Bissau > Ponte cais > 1908  > Desembarque de tropas metropolitanas, no âmbito das 'campanhas de pacificaçao'. Fonte: desconhecida. Disponível em: Transpress nz: world transport history



1. Mensagem  de Luís Calafate [, foto à esquerda, retirada da sua página no Facebook], biólogo de formação de base, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. especialista em ecossistemas urbanos e sustentabilidade ("Interesso-me pela exploração das dimensões da sustentabilidade urbana. O estudo dos ecossistemas urbanos contribui para a compreensão do papel dos seres humanos como 'ecosystem engineers' ". Fonte: FC/UP)


De: Luís Calafate
Data: 31 de Agosto de 2012 18:08
Assunto: Porto de Bissau: ponte-cais

Estimado Luís Graça,

1- Quando procurava informação relacionada com a ponte-cais do porto de Bissau, encontrei uma imagem no vosso Blog, datada de 1969.

2- A imagem mais antiga que tenho do cais do porto de Bissau é datada de 1907 e parece tratar-se do mesmo cais (Anexo: Occ_N1041_1907).

3- Como estou a realizar uma investigação sobre a construção desse cais, venho perguntar se é possível obter mais fotografias.

Cumprimentos,
Luís Calafate
Faculdade de Ciências do Porto





Guiné > Bissau > 30 de maio de 1969 > Desembarque do pessoal da CCAÇ 2590/CCAÇ 12, transportado pelo T/T Niassa. Foto do álbum fotográfico de Arlindo Roda, ex-fur mil at inf (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71).

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados





Guiné > Bissau > Cais de Bissau >  Álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms  da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68).

Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados. 



Guiné > Bissau > 1974 > Ponte cais de Bissau com duas Lanchas de Fiscalização Pequenas (LFP) e uma de desembarque ( LDM ) ao fundo do lado direito, no mês de Setembro de 1974. Algumas destas lanchas foram deixadas na Guiné.  Fotografia do marinheiro radio-telegrafista, Manuel Beleza Ferraz, membro da nossa Tabanca Grande.

Foto  © Manuel Beleza Ferraz (2012). Todos os direitos reservados.  




Guiné > Bissau > Edifício da capitania dos portos, Anos 50. Foto do nosso camarada Mário Dias.


Foto:  © Mário Dias  (2006). Todos os direitos reservados.  




Guiné > Bissau > s/d  [Anos 60] > Vista aérea da Ponte Cais, Bissau. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 119" . (Edição Foto Serra, COP 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte -
 Publicações e Artes Gráficas, SARL).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados



Guiné > Bissau > s/d [ Anos 60] > Ponte-cais, Bissau. Em primeiro, vê-se o monumento a Diogo Cão. Bilhete Postal, colecção "Guiné Portuguesa, 110". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados


Guiné > Bissau > s/d  [ Anos 60] > Vista aérea parcial e Ilhéu do Rei. Bilhete Postal, Colecção "Guiné Portuguesa, 142". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal, Imprimarte - Publicações e Artes Gráficas, SARL). 

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalização: Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010) 

Foto: © Agostinho Gaspar /  Bogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010). Todos direitos reservados


 Guiné-Bissau > Bissau > 1984 > Porto: Projecto da TECNIL, de construção do novo cais...

Foto: © António Rosinha (2006). Todos os direitos reservados.
 .

2. Comentário de L.G.:

Meu caro colega,

Aí vão algumas das fotos que temos sobre Bissau, o seu porto e a sua ponte cais...  É apenas uma amostra. Foi um sítio que todos (ou quase todos) conhecemos, quando as nossas tropas aí desembarcavam, vindas da metrópole, e voltavam a embarcar, de regresso a casa... Temos inúmeras descrições desse primeiro contato com aquela terra "verde e vermelha"... No final da guerra, a partir de 1973, o transporte de pessoal era já feito pelos TAM -  Transportes Aéreos Militares.

Durante anos, o porto de Bissau não tinha infraestruturas modernas de modo a permitir o desembarque direto das NT em navios de grande calado... O leito do canal do Geba  tinha, de resto, como tem hoje, problemas de assoreamento, entre a cidade de Bissau e o Ilhéu do Rei.

Em 30 de Maio de 1969, eu (e os meus camaradas da CCAÇ 2590/CCAÇ 12)  já desembarquei diretamente no porto de Bissau, mas durante os primeiros anos da década de 60 (não sei exactamente até que ano, meados da década, segundo creio) tanto passageiros como mercadorias tinham que ser transportados para terra em batelões, ficando o navio ao largo da cidade de Bissau...  

Outros contributos dos amigos e camaradas da Guiné, reunidos neste blogue, serão bem vindos: fotos, outros documentos, história da construção do porto de Bissau... Desejo-lhe boa sorte para o seu trabalho de investigação. Disponha do nosso blogue como uma boa, plural, rica, diversificada fonte de informação e de conhecimento sobre a Guiné, ex-colónia portuguesa e hoje país da CPLP. Este é também um contribuinte que os ex-combatentes dão ao seu país, à lusofonia, à historiografia da guerra colonial, à historiografia da presença portuguesa em África, e ao estreitamente de relações entre os dois povos, o português e o guineense.

Pode utilizar os nossos materiais, dentro da observânciA dos nossos princípios que procuram: (i) respeitar (e fazer respeitar) os direitos de autor, e ao mesmo tempo (ii) promover o livre acesso à informação e ao conhecimento. Recorde-se aqui o essencial do que defendemos neste capítulo:

"Qualquer texto ou imagem publicada no nosso blogue pode ser reproduzida, desde que:  (i) não se destine a fins comerciais;  (ii) seja pedida a devida autorização por mail ao(s) editor(es) do blogue; e, por fim,  (iii) seja feita a citação expressa da fonte (blogue e autor do documento). Somos defensores da via verde da sociedade da informação e conhecimento... mas com respeito pelo trabalho intelectual de todos os produtores de conteúdos".
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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10187: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (7): Fotos do Marcelino da Mata, ten cor ref, precisam-se para projeto editorial da Oficina do Livro / Grupo Leya