segunda-feira, 23 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13320: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (41): Passos à volta da mesa nº 15 (Piche), com reflexões sobre a vida e a morte: findo o IX, viva o X Encontro Nacional, já marcado para o dia 18/4/2015 (Hélder Sousa, ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72)


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche) > Dois homnens que passaram por Piche;: João Moura (que mora em São Martinho do Porto, Alcobaça) e Hélder Sousa (Setúbal). Fica desde já aqui o convite para se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Ao centro, o Hélder Sousa; à esquerda,o Delfim Rodrigues, nosso grã-tabanqueiro de Coimbra (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem, CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73); e à direita, o Fernando Roque (que veio de Sesimbra: é um homem das transmissões que esteve em Bissau com o Hélder, e a quem convidamos para integra a nossa Tabanca Grande).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche):  Francisco Palma, João Moura e Hélder Sousa.  O Francisco Palma , à esquerda,foi Soldado Condutor Auto Rodas da CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá, 1970/72, e é DFA (deficiente das forças armadas).

Foto: © Francisco Palma  (2014). Todos os direitos reservados.



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche): Hélder Sousa, Fernando Roque e José Manuel Matos Diniz,  ex-fur mil il da CCAÇ 2679 (Bajocunda, 1970/71)

Foto: © Miguel Pessoa  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Ainda a mesa nº 15 (Piche): os nossos grã-tabanqueiros Manuel Joaquim  (à esquerda) e Pedro Lomba (à direita). 

nosso camarada Manuel Luís Lomba era um especial destaque por que: (i) foi fur mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66; (ii) é autor de "Guerra da Guiné: A batalha de Cufar Nalu" (Terras de Faria Lda: Faria, Barcelos, 2012, 341 pp.); e (iii) veio ao nosso convívio, pela 2ª vez, se não erro e regressou a Barcelos ainda tempo de ir à festa de anos de uma filha.

Foto: © Miguel Pessoa  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Francisco Palma e J. Casimiro Carvalho.

Foto: © Francisco Palma  (2014). Todos os direitos reservados,


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O Hélder, nos aperitivos,conversando com a esposa do Francisco Baptista, Fátima Anjos. O casal que vive Aldoar, Porto, veio pela primeira vez ao nosso ecnontro.  


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >   > Quatro grã-tabanqueiros de longa data e de épocas diferentes no TO da Guiné: Jorge Rosales, Virgínio Briote, Vasco da Gama e Hélder Sousa


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche): da esquerda para a direita, Hélder, Roque, Zé Dinis e Armando Pires


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche): da esquerda para a direita, Zé Dinis e Armando Pires


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche): da esquerda para a direita,   Armando Pires, Manuel Joaquim e Manuel Luís Lomba



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mesa nº 15 (Piche): da esquerda para a direita,   Manuel Joaquim e Manuel Luís Lomba


Fotos: © Manuel Resende  (2014). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem do nosso colaborador permanente Hélder Sousa:


Data: 22 de Junho de 2014 às 22:31
Assunto: Ainda o IX Encontro da Tabanca Grande - Reflexões


Caros Editores

Em anexo junto um texto sobre o qual julgarão da sua oportunidade e da sua eventual publicação.

Inicialmente tinha pensado, logo no regresso do nosso IX Encontro, na viagem de volta, conversando com os parceiros de viagem, o Jorge Rosales, o Rogé Guerreiro e o Armando Pires, e ouvindo as suas opiniões e emoções sobre o que se viveu, elaborar um texto que pudesse servir para realçar tudo o que de bom tinha sucedido e apontar pistas para a melhor forma de aproveitar o tempo e as companhias.

Entretanto fui surpreendido pelo falecimento súbito de um amigo de juventude e a vontade ficou perturbada.

Contudo, como continuo a considerar que o IX Encontro foi um êxito, pelas razões que no texto adianto e porque, no plano pessoal, tive a alegria de, para além de rever e conversar com amigos já firmados que contacto menos, e que correndo o risco de cometer o pecado de omissão (de que antecipadamente peço desculpa), posso citar o Vinhal, o Mexia, o Luís Graça, o Juvenal, o António Santos, o C. Martins, o Delfim, o Eduardo Campos, o Ernestino Caniço, o Fernando Súcio, o Xico Allen, o Humberto Reis, o Idálio, o João Martins, o Peixoto, o "Alfero" Cabral, o Jorge Picado, o Barros Rocha, o Zé Carvalho, o Cancela, o "Josema", o Zé Saúde, o Reis, o Lima Santos, o Traquina, o Raul Albino, o Rui "Salpicos" Silva, o Simeão, o Briote e o Vítor Caseiro, valorizo bastante todo o Encontro.

E ainda, para além dos companheiros de mesa, também desenvolvi, com gosto, interessantes novos conhecimentos e conversas com o António Faneco, o Joaquim Luís Fernandes, o Francisco Baptista e o Mário Gaspar que, afinal, embora com mais idade que eu, andou antes por sítios pelos quais também caminhei.

Tudo isto me levou então a escrever o texto que anexo para o qual apenas envio uma foto do meu amigo falecido, sendo que já vi uma foto de grupo da "Mesa 15 - Piche", mas que não consegui localizar.

Saudações e um forte abraço para todos os camaradas.


Hélder Sousa

2. IX Encontro Nacional da Tabanca Grande  > Reflexões sobre a Vida e a Morte 

por Hélder Sousa


Caros camaradas, amigos e outros

Na sequência das emoções vividas no nosso IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, altamente motivador e enriquecedor, as quais me estavam a fervilhar na mente para as exteriorizar, eis que fui confrontado com (mais) uma triste notícia que me refreou as intenções.

Foi o caso de, pela hora do almoço de 2ª feira 16 de Abril,
Tito Baptista Pereira
 ter recebido um telefonema a comunicar-me o falecimento de um colega e amigo, vítima de um problema de coração. Esse amigo de infância foi meu colega em várias Turmas da Escola Industrial e Comercial de Vial Franca de Xira e fomos finalistas do Curso de Montador Electricista em 1964. Fomos também colegas na Machado de Castro, em Lisboa, em 64/65 e 65/66. Fomos depois novamente colegas, embora em cursos diferentes, no velhinho Instituto Industrial de Lisboa. E fomos, finalmente, incorporados ao mesmo tempo em Santarém. 

A partir daqui, com especialidades diferentes, as nossas vivências divergiram. No tempo, no espaço e até, também, no ‘entendimento’ sobre a resolução para os problemas do País e do Mundo. Manteve-se a amizade e a estima mas já não a ‘proximidade’. E foi preciso acontecer o “irremediável” para interiorizar o que, embora já sabendo, se tornou evidente e com sabor amargo: não se deve nunca deixar que as pequenas coisas se agigantem e venham tolher as vontades e se tornem mais importantes que os grandes valores da vida!

Esse amigo chamava-se Tito Baptista Pereira e, para quem é mais avançado na idade e se lembra da sua juventude, perceberá facilmente que era o filho mais novo desse incomparável nadador português, de Alhandra, Baptista Pereira [, 1921-1984], que fez e ganhou a travessia a nado do Canal da Mancha. O Baptista Pereira, pai, está também imortalizado na figura do “Gineto”, um miúdo crescido nos esteiros do Tejo, que Soeiro Pereira Gomes [1909-1949] retratou num  dos seus livros dedicado “aos filhos dos Homens que nunca foram meninos”.

A morte deste meu amigo deixou-me triste e pensativo mas também, agora que já ‘aceitei’ a nova realidade, me avivou a necessidade de dar vida à amizade, de insistir em privilegiar as coisas boas e ultrapassar, resolvendo ou ignorando, as coisas que geram inimizades.

Deste modo, posso voltar a referir o nosso Encontro.

Foi, quanto a mim, e pelo menos para mim, um grande evento. Grande porque, contra todas as expectativas, foi muito significativo o número de pessoas [, 145,] que se reuniram a pretexto dele. Grande também, porque tudo correu bastante bem. Grande ainda porque, mais uma vez, foi possível gerar encontros, conhecimentos e simpatias entre pessoas muito distintas nas suas origens e/ou vivências.

Dum modo geral, aqueles que de alguma maneira estiveram presentes no TO do CTIG, reúnem-se nos Encontros das suas Unidades, Companhias, Pelotões, Batalhões, etc. Nessas ocasiões revivem as suas comuns experiências, as suas recordações, as aventuras, os pesadelos, os risos, as lágrimas. O seu horizonte é o das suas próprias vivências. Vão para esses Encontros sabendo exactamente o que vai acontecer, os camaradas que conhecem e reconhecem e que vão reencontrar, vão reviver as histórias já conhecidas. E isso não tem nada de mal, é até uma forma de ‘contabilizar’ os que vão morrendo e fazer ‘prova de vida’. 

Sabe-se até que, por vezes, é difícil fazer Encontros do Batalhão, pois é frequente as diversas Companhias desse Batalhão terem tido apenas em comum o facto de se terem formado e constituído e, nalguns casos, as viagens de ida e de regresso. A minha experiência com o pessoal do BCAV 2922 mostrou-me que nem numa data “redonda”, os 40 anos da partida comum, foi possível juntar todas as suas Companhias (a CCS e as três operacionais) no mesmo evento. E, compreende-se, pois tirando o período de constituição do Batalhão não houve mais nada em comum.

Estes nossos Encontros são totalmente diferentes.

O que nos move, o que nos impele a estar presentes é apenas a nossa vontade de conhecer e conviver, confraternizar, interagir, com outros camaradas que, sabemos, estiveram naquelas paragens que conhecemos. Em tempos diferentes, em locais diferentes mas que ouvimos falar. Podemos trocar impressões com quem esteve nos mesmos locais que nós, antes, depois e até, por vezes com surpresa, ao mesmo tempo. Camaradas de Unidades e especialidades diversas, ver e falar ‘ao vivo’ com pessoas que tiveram desempenhos relevantes.

E tudo isto por nossa iniciativa. Aliás, será a nossa capacidade de quebrar a timidez que pode tornar o Encontro mais ou menos enriquecedor. Na minha “Mesa 15” tive a companhia do Francisco Palma, condutor vítima de mina e DFA. Já está ambientado a este tipo de ‘grupos’ pois já frequentou a Tabanca da Linha e há muito que é membro do Blogue mas sei que ficou encantado por ter estado à conversa com o José Casimiro Carvalho. Também quem é que consegue não ficar…

Estava também o João Moura, com quem estive em Piche, iniciado nestas ‘lides, com alguma timidez inicial mas que teve oportunidade de falar longamente, entre outros, com o Eduardo Campos e a Giselda Pessoa, sabendo eu que tais conversas ‘lhe encheram a alma’.

Revi também o meu amigo Fernando Roque, das Transmissões mas não TSF, claro, porque nem todos podiam ter tal distinção… vá lá, vá lá, reparar e manter centrais telefónicas e já está bem! Falámos das nossas experiências comuns, do que se passou durante os tempos em que as nossas comissões tiveram sobreposição, das viagens de moto que fizemos a Nhacra para visitar e conviver com outro amigo, do sucedido aquando da inauguração das instalações do Agrupamento de Transmissões, das visitas ao Cupilão, etc., enfim foi um recordar de coisas cheias de momentos notáveis.

Na minha “Mesa 15” estavam também o Manuel Luís Lomba, o Manuel Joaquim e o Zé Dinis que são já habituais e por isso não terão tido dificuldade em ambientar-se. Resta o meu conterrâneo (em termos de Distrito) Armando Pires que espero tenha conseguido obter mais elementos para futuros ‘posts’, pese embora a sua preocupação pela saúde de familiar que o estava a incomodar.

Tal como já foi referido, seriam necessárias várias horas para conversar 5 minutos com cada um dos outros participantes, pelo que tal não é prático nem sequer possível. Mas isso é o mesmo que se passa nos Encontros das Unidades funcionais e até de outra índole, como os encontros da malta da escola, do emprego, etc., pelo que, mais uma vez reafirmo, teremos que tomar a iniciativa, chegar junto de um camarada e perguntar “Onde estiveste? Por onde andaste? Quando foi?” (o nome está no crachá) e depois logo se vê o rumo que a conversa toma. Assim, desse modo, teremos garantidamente um ‘dia ganho’, em conhecimentos, em informação, em amizade.

Esta é a minha “receita” para todos aqueles que tenham a coragem de vir ao próximo, e já marcado para 18 de Abril de 2015, “X Encontro Nacional da Tabanca Grande”.

E agora perguntarão: “e o que é que isto tem a ver com Vida e Morte”, conforme puseste no subtítulo”?

Ora bem, a Vida é o que vivemos e ainda projectamos viver. É, também, a memória vivenciada que, no que diz respeito às nossas experiências militares, recordamos e partilhamos nestes nossos Encontros. A Morte é apenas quando nos resta a recordação, como sucede no caso do meu amigo Tito. Por isso, caros camaradas, abram alas à amizade, não incentivem divergências, resolvam-nas, alimentem este nosso espaço e tenham a coragem de aparecer no próximo ano, em 18 de Abril.

Isso, é Vida!

Um abraço para toda a Tabanca!

Hélder Sousa
Fur Mil. Transmissões TSF (Piche e Bissau, 1970/72)

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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13318: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (40): Tanto eu como o meu filho Richard e os meus cunhados Mateus e Florinda Oliveira que vieram da América, adorámos este convívio (Júlio da Costa Abreu, Amsterdão, Holanda)

Guiné 63/74 - P13319: O nosso livro de visitas (178): Estudando a história da Guiné, descobri o blogue dos senhores e estou absolutamente encantada (Fábia Vitiello de Azevedo Cardoso, S.Paulo, Brasil)

1. Mensagem de uma leitora nossa, do Brasil:


De: Fal Vitiello de Azevedo
Data: 22 de Junho de 2014 às 02:25
Assunto: Amigos

Meu nome é Fabia e sou brasileira.

Estudando a história da Guiné, descobri o blog dos senhores e estou absolutamente encantada.
É maravilhoso, tenho lido muito, muito e aprendido tanto. 

Demorei para escrever, porque não sei muito bem o que dizer. Só queria contar que leio todos os textos, e que as histórias contadas são incríveis e alcançam mesmo alguém como eu, que mora longe, que não participou do movimento, que não passou pelas mesmas experiência do que os senhores.
Muito obrigada a todos pela generosidade em dividi-la assim, com quem sequer conhecem.

Carinho aqui de São Paulo, Brasil

Fabia Vitiello de Azevedo Cardoso.
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Nota do editor:

Último poste da série > 19 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13165: O nosso livro de visitas (177): Francisco Monteiro Galveia, que vive em Fronteira, Alto Alentejo... Foi 1º cabo cripto na CCAÇ 616 (Empada, 1964/66) e pede para integrar a Tabanca Grande

Guiné 63/74 - P13318: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (40): Tanto eu como o meu filho Richard e os meus cunhados Mateus e Florinda Oliveira que vieram da América, adorámos este convívio (Júlio da Costa Abreu, Amsterdão, Holanda)


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Era a mesa n.º 1, se não me engano, Bissau / Brá / Bissalanca / Cumeré... E talvez a mais internacional... Da direita para a esquerda, o Júlio da Costa Abreu (Amsterdão, Holanda), o filho Richard (Amsterdão, Holanda), e o Alcídio Marinho (Miragaia, Porto).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O Júlio e o Richard


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O  Alcídio Marinho e a esposa Rosa... Este casal veio, pela primeira, ao  convívio anual da Tabanca Grande em 2011, mais exatamente a 4 de Junho de 2011, a data em que se realizou aqui o VI Encontro Nacional, O Alcídio Marinho foi fur mil na CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65). O casal mora em Miragaia, Porto.


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Do lado esquerdo da mesa n.º 1 (Bissau / Brá / Cumeré), sentaram-se: a Alice Carneiro (Alfragide / Amadora), esposa do fundador, administrador e editor do Blogue, Luís Graça, mais o Humberto Reis  (Alfragide / Amadora) e a sua companheira Joana (que vive na Praia  da Areia Branca, Lourinhã). O Humberto Reis foi meu camarada na CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71). Era fur mil op esp. do 2.º Gr Comb. Tem vindo a quase todos os nossos encontros, desde o primeiro, em 2006, na Ameira, Montemor-O-Novo.



IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > O Mateus e a Florinda Oliveira, naturais da Lourinhã, emigrados nos EUA desde 1977. Segundo percebi, eles vivem no estado de Rhode Island, o mais pequeno dos EUA em superfície. Tem um 1 milhão de habitantes, cerca de 9% dos quais são portugueses. O Mateus foi paraquedista, na CCP 122, comandada pelo cap paraquedista  José Manuel Terras Marques (CCP 122 / BCP 12, Bissalanca, BA 12, 1972/74).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 19 do corrente, do nosso camarada da diáspora  Júlio da Costa Abreu, técnico de manutenção da KLM; reformado, a viver em Amsterdão, Holanda, há mais de 40 anos;:

Amigo Luís Graça,

Em resposta ao teu e-mail já falei com o meu cunhado e junto o endereço de correio eletrónico dele, que é o da mulher, Florinda Oliveira, ela vai todos os dias ao computador. 

Na realidade tanto ele e a mulher assim como eu e o meu filho ficamos maravilhados com a reunião dos velhos camaradas da Guiné. a organização foi realmente fantástica.

Sem mais de momento e agradecendo a tua colaboração, despeço-me até à  próxima,

Júlio Abreu
Grupo de Comandos Centuriões
CCmds /CTIG, Brá 1964/66

2. Resposta de L.G., com data de 20 do corrente:

Obrigado, Júlio, gostei muito de me sentar na tua mesa e de vos conhecer, a ti, ao teu filho, e aos teus cunhados, Mateus e Florinda Oliveira. Como pudeste constatar, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (pelo menos de nome...).

Espero que nos continuemos a manter em contacto. Vou convidar o teu cunhado para entrar para a Tabanca Grande e contribuir com as suas memórias para o nosso repositório de informação e conhecimento sobre a Guiné e a nossa presença, em especial durante a guerra colonial. 

A Florinda que tem uma experiência interessante como madrinha de guerra, também fica convidada... Do Mateus só preciso de 1 foto, do tempo de paraquedista do CCP 122/BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74)... Mas ele pode mandar também um foto atual tipo passe... Se ele tiver jeito para a escrita, que nos mande histórias da CCP 122... Ou pelo menos fotos digitalizadas e com legendas...

Fiquei feliz por saber da nossa origem comum e da feliz coincidência de nos sentarmos à mesma mesa... Além de portugueses, somos da Estremadura, vizinhos e conterrâneos... Tu, de Alenquer, eu, o Mateus e a Florinda, da Lourinhã, só com a serra de Montejunto a separar-nos. Tenho casa na Lourinhã, na Rua da Misericórdia (, numa rua do séc. XVI, a que vai para a Igreja do Castelo, do Séc. XIV)... Passo lá fins de semana e parte das férias. Tenho também amigos na tua terra, Alenquer. 

Um abraço (Alfabravo, como a gente diz no blogue) para ti e para o Richard. Um abraço também para o Mateus e a Florinda.

Luís Graça

PS - A Lourinhã é um concelho relativamente pequeno, em que a malta ainda se conhece uns aos outros: tem 146 km2 e menos de 25 mil habitantes.  O Mateus Oliveira é do Casal Novo, a 3 km da Loruinhã, a caminho de Ribamar (onde a Florinda e eu também temos parentes).

Temos uma série de gente conhecida, amigos comuns, como o João Picão, o José Picão, o pai deles (que já morreu e era o dono "adega do povo", a adega que tinha sempre a chave na porta, e matou a sede a muitos amigos e conhecidos que por lá passavam)... A esposa do João Picão, por sua vez, é irmã do nosso camarada, também ex-paraquedista, do BCP 21 (Angola, 1970/72), o Jaime Bonifácio Marques da Silva, natural do Seixal. 

Por sua vez, o pai da Florinda, do Toxofal, o ti Xico (Francisco) carteiro, ainda hojé é lembrado pelas pessoas da minha geração ou mais velhas. Estive este fim de semana a falar com antigos colegas de trabalho dele, carpinteiros como ele  na Serração do Vale do Medo (, na altura, antes do 25 de abril, um dos pirncipais empregadores do concelho da Lourinhã).
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domingo, 22 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13317: Tabanca Grande (439): José Martins Rosado Piça, 1º srgt inf ref (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso grã-tabanqueiro nº 660

1. A CCAÇ 2590 (mais tarde, a partir de janeiro de 1970, CCAÇ 12, formada por soldados do recrutamento local) tinha dois 2ºs sargentos, o Piça e o Videira que, em princípio, deveriam ser comandantes de secção...

O José Martins  Rosado Piça, o mais velho (terá hoje oitentas e picos anos), acabou por ficar a fazer as vezes do 1º sargento, o 1º srgt cav Fernando Aires Fragata, que foi para Águeda, fazer o curso de serviço geral do exército (que permitia a passagem a oficial, o mesmo curso que irá, depois da guerra, frequentar o nosso saudoso 1º sargento Fernando Brito, da CSS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).

O 2º Srgt Inf Alberto Martins Videira por sua vez e por ser mais adoentado, ficou também com funções de apoio. Nenhum deles foi operacional. No entanto, ao Piça, o mais bacano, quisemos pregar-lhe uma partida e convencêmo-lo a alinhar, com os "piras", na Op Rato Traquinas (*), no dia 28 de fevereiro, já com 21 meses de Guiné!...

O camarada Piça deixou-se "praxar", alinhou, teve o seu batismo de fogo, na mítica Ponta do Inglês (!), regressou connosco no T/T Uíge (**) e ainda fez mais uma comissão, em Angola (se não me engano).

Está vivo, recomenda-se, nunca perdeu o seu sentido do humor e eu faço questão de apresentá-lo hoje à Tabanca Grande. Foi o xico mais porreiro que eu alguma vez encontrei na tropa. Pedi ao nosso comum amigo e camarada Tony Levezinho que, em nome da Tabanca Grande, fizesse o discurso de boas vindas

[Foto acima, do Humberto Reis: O nosso 2º srgt inf Piça, Bambadinca, Natal de 1969. Editada por L.G.]

2. Em 16 de maio passado, mandei ao  Tony Levezinho que vive em Sagres,  com a sua querida Isabel, a seguinte mensagem:

Olá, Tony, como vais? E a tua Isabel? ... Eu cá vou recuperando e andando...

Estou a contactar-te pelo seguinte: o que é tu sabes desta história? Alinhaste nesta operação com os nossos "piras" (só os furriéis)? Op Rato Traquinas: Ponta Varela, Poindon... Ponta do Inglês.... Houve contacto, sem baixas... O Piça alinhou... 

Julgo que em vez da porrada disciplinar (com a história do jipe e dos putos...), foi "aconselhado" por nós a aceitar esta "sugestão" do capitão... para não estragar a sua folha de serviços... Pensávamos que era um passeio, mas para ele foi o batismo de fogo... Recordo-me de ele vir muito alvoraçado, a contar as peripécias do dia (28/2/1971)...

Outra coisa: gostava que fosses tu a escrever duas linhas para eu/nós apresentar/mos o Piça à Tabanca Grande. É da mais elementar justiça tê-lo aqui entre nós, mesmo sabendo que ele não é homem de escritas, ou de estórias escritas... Há tempos telefonou-me, de Évora...
Aquele abraço.
Luís

[Foto acima à direita: Portimão, 21 de novembro de 2013 > O reencontro de dois bons velhos amigos e camaradas da CCAÇ 12: o ex-2º srgt inf José Martins Rosado Piça (Évora) e o Tony Levezinho, ex-fur mil at inf (Sagres, Vila do Bispo). Foto: © António Lezevinho (2013). Todos os direitos reservados.]

3. Também, a propósito da Op Rato Traquinas (*), escreveu-me o ex-alf mil at inf Abel Maria Rodrigues [, cmdt do 3º Gr Comb da CCAÇ 12, 1969/71], no mesmo dia 16 de maio passado, respondendo a um pedido meu de esclarecimento:

Luís: Desta operação, eu sei tudo, pois fui o actor principal. Penso que dos velhinhos só fomos três (capitão, Piça e eu).

Depois da flagelação o 2º pelotão que ia na vanguarda, recusou-se a avançar. Passei com o meu pelotão para a frente e completámos a operação sem mais qualquer problema, porque os guerrilheiros vieram esperar-nos em Madina Colhido. Deviam ter-se fartado de esperar por nós, como não aparecíamos desmobilizaram, deduzindo que nós já estaríamos no quartel do Xime.

Foi a 28/2/1971 um domingo. Devo dizer que tivemos muita sorte não nos termos encontrado, pois pelo rasto que deixaram onde estiveram à nossa espera, não eram poucos .Um grande abraço, Abel




O Piça e a esposa Leonor,  na sua casa em Évora (presume-se). Foto da neta Tânia Caçador, aqui reproduzida com a devida vénia, retirada da sua (dele)  página no Facebook [Edição:LG

4. A 17 de maio o Tony Levezinho, escreveu-me a seguinte mensagem:

Viva, Luís: Espero que continues no bom caminho para uma recuperação sem percalços e, sobretudo, de sucesso total.

Cá deste lado, tudo corre.  Dentro de 4 dias estaremos de viagem para a Polónia, como, aliás, tive oportunidade de te dar conta, na altura do teu internamento, no Amadora-Sintra.

Felizmente, o nosso querido Abel que aproveito para saudar com um abraço, antecipou-se e correspondeu ao teu desafio, ao referir-se, em detalhe, à operação onde o Piça acabou por participar.
É que eu, sinceramente, não tenho a menor ideia deste episódio, o que me leva a concluir que, provavelmente, não o presenciei.

Sobre o nosso Sargento José Martins Rosado Piça (Piça para servir V. Exa., como ele gostava, por brincadeira, de se apresentar) não serão precisas muitas palavras para descrever este homem simples.

Oriundo de Aldeias de Montoito, Évora, este alentejano, na altura em que convivemos, apenas o separava de nós, a idade, (teria uns 40 anos) e o facto de ser um profissional do quadro permanente do Exército.

Quanto ao mais, a sua relação com os milicianos do Bando (era assim que ele se referia à nossa companhia) fazia toda a diferença, pela positiva, dos demais elementos da sua classe, com quem nos cruzámos, ao longo da nossa aventura pelas fileiras do Exército.

Com efeito, era homem de piada fácil, mas também muito sensível aos afetos. Era disso expressão óbvia o brilhozinho nos seus olhos. De alegria, quando partilhávamos momentos de relaxamento, tais como, as cartadas, os copos, as cantorias, etc., ou de preocupação/tristeza sempre que nos via partir, em missão, para fora do perímetro do aquartelamento.

Era clara para nós a necessidade que sentia de estar por perto dos seus furriéis, muito mais do que partilhar a mesa de jogo com os seus iguais, do quadro. E este seu comportamento teve a sua expressão maior, depois da partida do 1.º Sargento da companhia, o que se compreende.

Diria que o elenco que ele encontrou na CCaç 12 o terá tocado, de forma particular. Atrevo-me a fazer esta afirmação porque, há um par de meses, encontrei-o, em Portimão, ao fim destes anos todos, acompanhado da mulher.

A alegria e o abraço apertado foram mesmo espontâneos. Achei ainda muito significativo o facto da sua mulher, que eu não conhecia, ter dito que ele não se cansa de falar de nós. Logo me pediu o contacto do Henriques, do Reis, o meu, e a verdade é que, desde então, já falamos algumas vezes, ao telefone, e está combinado um encontro em Sagres, quando a oportunidade surgir.

Ele continua no Alentejo e tem um apartamento em Portimão, terra onde a filha vive, passando, por isso, algum tempo nesta cidade algarvia.

Apesar dos seus 80 e picos anos, continua com uma memória de elefante, tal foi o desbobinar de episódios daquela época que evocou, em detalhe, nos breves 20-30 minutos que durou o nosso encontro acidental.

Que continue com a mesma capacidade de comunicar, como a que lhe reconheciamos, à época e que, acreditem, se mantém.

Se há elemento que merece ser puxado para a nossa tabanca é, sem dúvida, o Sargento Piça.

Um abraço
Tony Levezinho

5. Comentário de L.G.:

O Piça, não obstante a idade, tem uma página no Facebook, dando um bom exemplo a muitos camaradas nossos, muito mais novos, que se queixam de não saberem trabalhar com um computador, mandar um email, consultar o  nosso blogue  ou criar uma página no Facebook... Penso que só nos vimos duas ou três vezes, no máximo, depois do nosso regresso. 

Alguns de nós, que regressámos no mesmo navio, o T/T Uíge em 17 de fevereiro de 1971 (**), já não estamos vivos: dos furriéis, lembro o Luciano Severo de Almeida (que era do Montijo) e, disseram-me há dias (o António Fernando Marques), que o António António Manuel Martins Branquinho (ex-.fur mil at inf, 1.º Gr Comb) também morreu recentemente (vivia em Évora era reformado da Segurança Social)). Dos  alferes, já referimos que partiu, para a eterna morada, há já uns largos anos, o José António G. Rodrigues (Lisboa), que era o cmdt do 4.º Gr Comb.

Meu amigo, camarada, compincha: como vês, somos uma espécie em vias de extinção, os últimos soldados do império... É por isso, também, que te queremos cá, sentado sob o poilão da nossa Tabanca Grande. Passas a ser o nosso grã-tabanqueiro n.º 660 (****), um número bonito e fácil de decorar. Um dia destes telefono-te a dar-te mais dicas para te manteres ligado a nós. O  Tony Levezinho já disse tudo ou quase tudo a teu respeito. Não poderias ter melhor "padrinho". Muita saúde e longa vida porque tu mereces tudo. E faz favor de partilhar o teu álbum fotográfico connosco!.. Um xico...ração. O Henriques...
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Notas dos editor:

(*) Vd. poste de 16 de maio de  2014 > Guiné 63/74 - P13148: A minha CCAÇ 12 (30): fevereiro de 1970: batismo dos "piras" que nos vieram render... Adeus, Bissau, em 17 de março de 1971, no T/T Uíge... A CCAÇ 12 será extinta em 18 de agosto de.. 1974 ! (Luís Graça)

(**) Vd. I Série do blogue > 9 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXV: Amigos para sempre (Tony Levezinho, CCAÇ 12)

(...) António Eugénio da Silva Levezinho, Tony para os amigos, o melhor de todos nós... Em 1969, ei-lo furriel miliciano da CCAÇ 2590, mais tarde CCAÇ 12... Hoje, no seu retiro algarvio, Martinhal, Sagres, Vila do Bispo ... onde ao lado da sua querida Isabel continua, sempre de porta aberta, afável e disponível para os amigos.

É um gentleman, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970... Antigo quadro da Petrogal aonde chegou a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros), o Tony era(ainda é) um perito na arte do impor-export do petróleo e seus derivados... Graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o fiel amigo à mesa, em Bambadinca. O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, regularmente, através do navio-tanque da Sacor... (...)


(***) Vd. poste de 24 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12337: O nosso livro de visitas (169): Imaginem quem eu encontrei no hipermercado, em Portimão ?... O nosso sargento José Martins Rosado Piça! (Tony Levezinho, ex-fur mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

Guiné 63/74 - P13316: Parabéns a você (752): António José Pereira da Costa, Coronel Art Ref (ex-Alferes Art da CART 1692 - Guiné, 1968/69 e ex-Capitão Art, CMDT das CART 3494 e 3567 - Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13308: Parabéns a você (751): Cherno Baldé, Amigo Grã-Tabanqueiro guineense, Engenheiro e Gestor de Projectos

sábado, 21 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13315: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (39): Heróis da batalha de Gadamael encontraram-se em Monte Real, no dia 14 de junho... O que veio de mais longe, dos EUA, é o lourinhanense Mateus Oliveira, da CCP 122 / BCP 12 (Bissalanca, BA 12, 1972/74)... Mais uma prova de que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca...é Grande!








IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Uma beleíssima sequência documental de um inesperado encontro de dois homens que há 41 anos atrás estavam em Gadamael, em 2 de junho de 1973, tentando rechaçar o prolongado ataque ao aquartelamento, naquela que poderá ter ficado para a história como "a batalha de Gadamael"....O J. Casimiro Carvalho (,à esquerda) veio da Maia, onde mora. Foi fur mil op esp da CCAÇ 8530 (1972/74), a companhia que esteve em Guileje até 22/5/1973 e que, por ordem do então comandante  do COP 5, o major art  Coutinho e Lima (, também presente do nosso encontro), foi mandanda retirar para Gadamael, juntamente com a restante guarnição militar. À direita, o Mateus Oliveira, a viver nos EUA  desde 1977, se não erro. É meu conterrãneo, da Lourinhã, e fui eu  que o apresentei ao J. Casimiro Carvalho bem como ao António Martins de Matos.



 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Mais dois bravos de Gadamael: à diereita , o ex-ten pil António Martins Matos (hoje ten gen ref) e o ex-paraquedista Mateus Oliveira (CCP 122/BCP 12, Bissalanca, BA 12, 1972/74).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Pedaço da camisola do António Martins de Matos  onde está estampada uma imagem de um FIAT G-91/ R 1, com os seguintes dizeres adciionaiis  "FAP 1973O- BA 12 Esq 121 Tigers Bissalanca"...


 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 > Ao centro, o António Martins de Matos, ladeado à sua esquerda pela nossa única camarada presente neste convívio, a Giselda Pessoa (srgt enf paraquedista, Bissalanca, BA 12, 1972/74) e, à direita, pelo  António José Brito da Silva (Madalena / Vila Nova de Gaia), que foi fur mil da CCAÇ 3414 (Bafatá e  Sare Bacar, 1971/73).


IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Outro herói da natalha de Gadamael, aqui à esquerda, o Manuel Reis, ex-mil da CCAV 8530 (1972/74). Foi lapso meu, não o apresentei pessoalmente ao Miguel Oliveira. Restantes camaradas: sentados, Rogé Guierreiro (Cascais) e Xico Allen(V. N. Gaia)... De pé, à esquerda,o Zé Manel Matos Dinis (Cascais).

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.



 IX Encontro Nacional da Tabanca Grande > Palace Hotel Monte Real > 14 de junho de 2014 >  Da esquerda para a direita, Júlio da Costa Abreu (Holanda), seguido do seu cunhado Mateus Oliveira (EUA) e da Giselda Pessoa (Lisboa)... Falaram, por certo de Gadamael, que os três conheceram, o Júlio em 1965/66, quando 1º cabo comando do Gr Cmnds Centuriões, mais o Mateus  e a Giselda em 1973...  

Foto: © Miguel Pessoa (2014). Todos os direitos reservados. [Legenda de L.G.]


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Dois heróis de 1973, batendo a pala um ao outro: o antigo ten pilav António Martins Matos (hoje ten gen pilav ref; era o asa do Miguel Pessoa, quando este foi abatido por um Strela sob os céus de Guileje, em 25/3/1973) e o ex-fur mil op esp J. Casimiro Carvalho, o "grande pirata de Guileje" que merecia uma cruz de guerra em Gadamael (dois meses a seguir)...

Foto: © Miguel Pessoa (2013). Todos os direitos reservados. [Legendas: LG]


Nota do editor:

Sobre a "batalha de Gadamael" há inúmeros postes no nosso blogue... Seria impossível citá-los todos... Ficam aqui algumas referências,  a talhe de foice (**)... Recorde-se que neste lugar, na região de Tombali, junto à frinteira com a Guiné Conacri, travou-se uma das batalhas mais encarniçadas e sangrentas da guerra da Guiné (1963/74), a seguir à retirada de Guileje (em 22 de Maio de 1973), entre 31 de Maio e as duas primeiras semanas de Junho de 1973.  O papel da FAP e do BCP 12 na vitória sobre o PAIGC, em Gadamael, foi decisivo e é hoje unanimemente reconhecido.

Sobre o topónimo Gadamael temos mais de 260 referências, no nosso blogue (II Série)... Mas não nos é possível, de momento, destrinçar o que relativo aos acontecimentos de maio/junho de 1973. Além disso, temos um marcador  "dossiê Guileje/Gadamael", com 17 referências (***)...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13305: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (38): "Caras novas" em Monte Real... E algumas de camaradas que ainda não se sentam à sombra do nosso poilão

(**)   Vd. postes da série Dossiê Guieje / Gadamael 1973:

24 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3789: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (2): Esclarecimento adicional de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

25 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3790: Dossiê Guileje / Gadamael (3): "Um precedente grave" (Diário, Mansoa, 28 de Maio de 1973) ... (António Graça de Abreu)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

1 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)

4 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3982: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (7): Ferreira da Silva, ex-Capitão Comando, novo comandante do COP 5 a partir de 31/5/1973

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4035: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (8): Amigo Paiva, confirmas que fomos vítimas de ameaças e pressões (Manuel Reis) 

23 de abril de 2009 >  Guiné 63/74 - P4239: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (9): Eu, a FAP, o BCP 12 e a emboscada de 18 de Maio (João Seabra)


11 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3872: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (21): Resposta de António Martins de Matos a Nuno Rubim

12 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3881: Considerações sobre o P3853: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Vasco da Gama)

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13314: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (12): O crioulo (e as suas virtualidades)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > s/d> O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971.


Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Arsénio Puim, com data de 19 do corrente

Assunto: O crioulo da Guiné

Luís Graça

Envio um pequeno trabalho com algumas considerações pessoais sobre o crioulo da Guiné, um assunto que me cativou na minha estadia neste território, para publicação no blogue, se achares que tem interesse.

Um abraço, Arsénio Puim



2- Memórias de um capelão > O Crioulo da Guiné

Um aspecto da cultura guineense que logo me chamou a atenção e despertou muito interesse durante a minha estadia na Guiné, na zona de Bambadinca, foi, precisamente, o crioulo falado pelos nativos deste território.

O crioulo, ou kriol, na língua nativa, é apenas um dos sistemas linguísticos da Guiné, pois que as populações autóctones falam, em primeira mão, a língua gentílica da sua etnia e, com alguma frequência, o português, de sabor acrioulado, simplificado nas suas regras gramaticais e com um sotaque mais afim do brasileiro. Isto leva-me a dizer que o povo da Guiné, falando habitualmente três línguas e, às vezes, conhecendo ainda alguma das línguas de outras etnias, é um povo poliglota.

O crioulo nasceu da confluência do português com as línguas indígenas e a idiossincrasia dos aborígenes. É, portanto, uma herança do país colonizador, moldada pelo povo indígena à sua medida e ao seu sabor.

Os nativos consideram-no a língua dos «criston» (os cristãos), um termo que na Guiné tem uma referência específica à etnia papel, a qual se concentra sobretudo em Bissau, e aos caboverdeanos, muito abundantes neste território.

Mas nos tempos actuais quase todas as etnias falam o crioulo, nomeadamente os papeis, os fulas, os mandingas, e os caboverdeanos, ainda que com algumas pequenas variações e peculiaridades.

Referiu-me o sr. Jamil, conhecido comerciante libanês que residia então no Xitole, que na Guiné há o crioulo fula e o crioulo papel, além do crioulo de Cabo Verde. Esta análise corresponde aos dois dialectos que alguns investigadores consideram integrar o crioulo guineense: o dialecto de Bissau / Bolama, a que se pode associar o crioulo de Cabo Verde, e o dialecto de Bafatá, que será o referido crioulo dos fulas. Na opinião dos investigadores, há ainda o dialecto crioulo do Cacheu, território situado a norte, com influência do francês, pela proximidade do Senegal.

Entre os vários fenómenos linguísticos que determinaram o processo de formação e evolução do crioulo guineense em relação à língua mãe, e o caracterizam sobremaneira, julgo poder destacar dois que lhe estão especialmente presentes: o primeiro é a eufemização sonântica, de acordo com o profundo sentido musical africano, o que lhe confere uma sonoridade e um ritmo próprios.  Na verdade, é agradável ouvir, por exemplo: «djúbi si na chúbi» – vai ver se está a chover; «cá bu tchora, fidjo» – não chores, filho; «ami cá sibi»– eu não sei.

O outro fenómeno é a descomplexificação linguística, nomeadamente pela eliminação das clássicas e complicadas regras gramaticais, tanto morfológicas como sintáticas, da língua portuguesa. No crioulo não há artigos, nem variações de género e número dos nomes, e os verbos só tem uma forma gramatical para todas as pessoas, tempos e modos, correspondente à 3.ª pessoa do singular do presente do indicativo: ami ná bai, bu ná bai, i ná bai – eu vou, tu vais, ele vai. (O na é a partícula usada na forma afirmativa, enquanto a negativa se faz com a partícula , como vimos nas últimas duas frases crioulas acima. É toda uma simplificação que roça mesmo a ingenuidade linguística e lhe dá um engraçado sabor infantil, cheio de expressividade.

E para essa ingenuidade e graça da linguagem crioula, concorre ainda a genuinidade e primitivismo do seu léxico e da construção fraseológica: corpo sta bom? (como está?); ermon di amanhã – depois de amanhã; mussa piquenino – doi um pouco; e sobretudo o pluriuso da pitoresca palavra manga, com o significado de muito, grande quantidade, nos mais diversos casos – manga di patacão, manga di giro, manga di mama firme, manga di sabe (saber muito), manga di mofineza na cabeça (ser atrasado mental), manga di cabeça grande (estar embriagado), manga di cú piquinino (ter medo) e até manga di sàtice ( grande chatice).

A Guiné, e a generalidade dos países africanos, adoptaram, para uso oficial, a língua do país colonizador, mas também é certo que essas, muitas vezes, não são as línguas mais faladas pelo povo e que, por outro lado, se tem vindo a desenvolver, em algumas regiões, movimentos linguísticos e literários de tendência indígena.

Amílcar Cabral, com a sua visão larga e profundo conhecimento da cultura indígena, já estatuíra no seu programa para a Guiné a adopção do crioulo, desenvolvido e com codificação escrita , como língua comum do povo do território.

A sua morte criminosa, e desastrosa para a independência da Guiné e para a causa africana, parece, no entanto, não ter enterrado este projecto cultural, já que o crioulo faz parte do currículo da escola primária deste país, juntamente com o português. E o crioulo continua a ser a língua corrente e generalizada da Guiné: na vida do dia a dia, nas escolas, nas Igrejas e até na política interna.

Por tudo isto, não me custa admitir que o kriol, com todas as suas virtualidades, constitua no futuro - e de alguma maneira já hoje - a grande língua do país da Guiné Bissau, ao lado do português, para uso oficial.

Arsénio Puim

2. Comentário de L.G.:

Há mais de um ano que eu não tinha notícias do nosso amigo e camarada Puim. O último mail dele (27/3/2013) dizia o seguinte (transcrevo um excerto): 

"Amigo Lus Graça: Os meus votos de Boa Páscoa para ti e tua família. Informo o meu amigo que nos últimos tempos tenho tido alguns problemas de saúde (...) e até estive há poucos meses em Lisboa fazendo tratamento (...).. Correu bem, (...) e estou a sentir-me bastante bem. Dizem que o barro de Santa Maria, que é a minha ilha, é rijo. Confio que sim. Um abraço - Arsénio Puim".

A prova de que o barro da ilha de Santa Maria é bom, aqui está hoje. Temos Puim, e a garantia de que as memórias do nosso alferes capelão vão continuar a chegar e ser publcadas no nosso blogue... Bravo!... Um xicoração fraterno! Luís

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Nota do editor:

Vd, postes anteriores da série > 

14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais

(...) Este é o primeiro duma série de pequenos relatos, para este histórico blogue de Luís Graça, respeitantes à minha vivência como alferes capelão do Batalhão 2917, que acompanhei desde a Serra do Pilar até Bambadinca, no centro da Guiné, entre Dezembro de 1969 e Maio de 1970.

É meu propósito essencial rememorar e partilhar com os antigos companheiros do Batalhão, por quem tenho muito apreço, alguns factos e acontecimentos que nos são comuns, sem nunca pretender atacar quem quer que seja. (...)

10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4666: Memorias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (2): De Viana do Castelo a Bissau

(...) No dia 2 de Março de 1970, o BART 2917, em que me integrava como alferes-capelão, já deixara a Pesada [, o RASP 2,] em Gaia, e encontrava-se na linda e pequena cidade de Viana do Castelo, para fazer o IAO.

Foram dois meses e meio de intenso treino operacional, incluindo um acampamento, em princípios de Março, na serra, para as bandas de Santa Luzia, em que também participei. Um ambiente duro, onde faltava tudo o que pudesse saber a conforto. E, sobretudo, que frio, meu Deus, durante a noite! (...)

21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4989: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71)(3): De Bissau a Bambadinca, a cova do lagarto


(...) Às duas horas da manhã do dia 31 de Maio de 1970 deixámos Bissau, numa LDG, e continuámos a subir o Rio Geba, em geral bastante largo e de margens baixas e arborizadas, pela calada da noite, estranhamente muito fria. Cinco horas de viagem, sem qualquer incidente, até ao Xime, onde ficou já a Companhia 2715.

No dia anterior tinha-se realizado a entrega das armas aos membros do Batalhão. Todos em fila, um por um. Quando chegou a minha vez, recusei receber a G3. Uma questão, simplesmente, de missão específica do capelão e de consentaneidade com as suas funções, enquanto sacerdote ao serviço da Igreja - expliquei.
- Você é testemunha de Jeová? – atalhou um oficial superior que superentendia ao acto.
- Não, sou padre católico – retorqui. (...)


(...) É natural que uma parte importante dos textos publicados por ex-combatentes da Guiné, no histórico Blogue de Luís Graça, incida sobre variadas situações de combate vividas pelos próprios ou pelos companheiros, em ataques, assaltos, emboscadas e demais operações militares dum teatro de guerra. São experiências, frequentemente, de grande dureza, muita tensão e perigosidade, que eu não tive.

Ao capelão militar é atribuída uma função específica, que é prestar assistência religiosa aos militares do Batalhão e testemunhar, na medida do possível, os valores do Evangelho, e ele não é, compreensivelmente, um combatente da guerra, independentemente da justeza ou não desta, posição que eu assumi e demarquei logo de início, renunciando à posse de arma de combate, que me era proposta. Nem, de resto, a preparação elementar ministrada no Curso de Capelães Militares durante um mês e meio, na Academia Militar da Rua Gomes Freire, me habilitava para esse desempenho. (...)

12 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5453: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917. Dez 69/Mai 71) (5): O grande Rio Geba 

(...) Considero a Guiné uma terra bonita, pela beleza simples da sua paisagem e as suas singularidades muito próprias, pelo seu complexo faunológico, bastante rico e interessante, nomeadamente no domínio das aves, pela sua flora, com variadas espécies arbóreas, onde sobressaem as palmeiras esguias e esbeltas, disseminadas por toda a selva, emprestando-lhe um tom de exotismo tropical. Mas um dos aspectos mais bonitos, para mim, do território da Guiné são os seus rios, com a sua rede extensa de afluentes e pequenos cursos, principalmente na época das chuvas, que deslizam em admiráveis serpenteados entre a selva luxuriante e as bolanhas que alagam e fertilizam.

São disso um exemplo os dois grandes rios que passam na zona interior: o Corubal e o Geba. O primeiro, que nasce na Guiné Conacri e vai desembocar no Geba, a sul do Xime, é navegável até à região do Xitole. A partir daqui, surgem alguns rápidos: primeiro, em Cusselinta – bonita estância onde um longo braço do rio forma uma piscina natural com condições privilegiadas – e, depois, já de proporcões maiores, na pitoreca zona do Saltinho. (...)



(...) Esta foi a minha viagem de eleição no território da Guiné, pela sua originalidade, pela sua distância e pelo seu encanto. O Geba estreito constituiu, de facto, o troço mais palpitante, nomeadamente o Mato Cão – até o nome não sabe bem – onde, desta vez, não estava o nosso alferes Cabral, de Missirá, para ver o barco passar e nos proteger. O trajecto do Geba largo, até ao Xime, eu já o tínha percorrido, em LDG, quando o nosso Batalhão deixou Bissau e veio para Bambadinca, mas era de noite e foi às escuras.

A viagem do «Bubaque», desde as 10 horas às cinco da tarde - não sei se parámos em algum porto intermédio, como o Xime, já não me lembro - correu muito bem, com muita ordem, boa convivência e sem qualquer problema. Foi um espectáculo permanente oferecido aos nossos olhos e que, como em outras ocasiões, me fez pensar e sentir: que pena a guerra!... (...)

2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5578: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (7): Mancaman, mandinga, filho do chefe da tabanca do Xime, um homem de paz

(...) Mancaman vivia na tabanca do Xime, contígua ao quartel onde estava estacionada a CART 2715 (**). De trinta e poucos anos, magro e um pouco alto, filho do chefe da tabanca - Mancaman (pai). Era mandinga, do que se orgulhava, por reconhecer a supremacia histórica e cultural desta etnia no quadro guineense e africano.

Não gostava dos Fulas e apreciava o espírito laborioso e a coragem dos Balantas. Falava, com muita graça e expressividade, o português, além do crioulo, o mandinga e o fula. Inteligente, muito humano e sabedor no que toca à guerra da Guiné, nas suas duas faces. Era-nos dedicado, correcto, amigo. E pertencia mesmo às milicias populares, armadas pelo exército português. (...)

(...) Belmira é uma guineense mandinga que vivia em Bambadinca. De vinte e poucos anos, inteligente, alegre, era lavadeira no Quartel.

Vive só e pobre, com o seu filho, de cor mestiça, cujo pai é um soldado português pertencente a uma unidade antiga de Bambadinca. Por causa disso, tem problemas na tabanca. As pessoas olham mal as mulheres que têm filhos de brancos e ostracizam-nas. (...)

20 de abril de  2010 > Guiné 63/74 - P6193: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (9): Os padres missionários italianos de Bafatá

(...) A Igreja na Guiné, em princípios da década de 70, tinha como autoridade eclesiástica máxima o Perfeito Apostólico (não era Bispo, nem a Guiné era então Diocese, ao contrário do que acontece hoje), com sede em Bissau e dependente directamente do Papa, em Roma.

Também em Bissau, e arredores, viviam os Padres Franciscanos, exercendo ao mesmo tempo o professorado no Liceu. Mais para o interior do território, haviam-se fixado os Padres Missionários Italianos, que tinham a sede em Bafatá e, se não erro, uma pequena extensão em Catió.

Para além destes, havia os capelães militares, dependentes do Vicariato Castrense, em Lisboa, em comissão de serviço temporária, por força da guerra existente, dispersos e isolados pelos quartéis do mato, onde às vezes existiam também minúsculos núcleos de cristãos nativos.

2 de maio 2010 > Guiné 63/74 - P6292: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (10): Samba Silate

(...) Um dos lugares tristemente célebres da guerra da Guiné, que eu tive oportunidade de visitar nos princípios de 1971, chama-seSamba Silate. Fica a poucos quilómetros de Amedalai, para o lado do Geba, entre Bambadinca e o Xime. Na continuação da tabanca estende-se, até ao rio, uma grande bolanha, tida como das melhores da Guiné. Para lá do Geba, fica Mato Cão e Madina.

Dantes, Samba Silate foi uma grande tabanca balanta e um importante centro de produção de arroz. Mas na altura em que lá estive, era uma terra desabitada e completamente inculta. Dizia-se que qualquer tentativa dos Fulas para o seu aproveitamento seria gorada pelos Balantas.(...)

14 de dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9195: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69 / Mai 71) (11): O nosso Natal de 1970, em Bambadinca 

(...) De todos os Natais que, na minha já longa vida, passei, em localidades e situações muito variadas, não foram menos marcantes e significativos os dois Natais que vivi na Tropa, como alferes capelão.

O primeiro, a que já me referi num texto que escrevi neste blogue há uns três anos, foi vivido no Regimento de Artilharia Pesada 2, na Serra do Pilar, em Gaia. (...)


Guiné 63/74 - P13313: Notas de leitura (603): "Prisão de África", o terror na Guiné-Conacri depois da operação Mar Verde, por Jean-Paul Alata (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Dezembro de 2013:

Queridos amigos,
Pouca atenção é dada ao que se passou na Guiné-Conacri depois da operação Mar Verde.
O ditador Sékou Touré apercebeu-se que naquela invasão a população se revelara amorfa, ninguém mexeu uma palha, nem mesmo os guerrilheiros do PAIGC, a resistência foi dada por cubanos e alguma tropa fiel ao presidente. A reação foi brutal, as prisões encheram-se de suspeitos em tenebrosos complôs, pura maquinação dos delírios de Sékou Touré.
É nesse contexto que “Prisão de África” é de leitura obrigatória, é um clássico do terror mais profundo e mais hediondo, todas as ditaduras podem ser aferidas pelas sevícias e mentiras montadas nestas confissões arrancadas com choques elétricos e esmagamento de membros.

Um abraço do
Mário


O terror na Guiné-Conacri depois da operação Mar Verde

Beja Santos

É curioso como quase todos aqueles que escrevem a favor ou contra os acontecimentos da operação Mar Verde obliterem as consequências que teve a operação em Conacri na vida interna daquele país. Sumariamente, foram libertados os prisioneiros de guerra portugueses, afundadas lanchas pertencentes a duas marinhas, lançou-se o pânico entre as forças militarizadas e as milícias da Guiné Conacri, falharam vários objetivos, entre eles a colocação no poder dos oposicionistas de Sékou Touré. Todo o efetivo do pelotão de Comandos Africanos, tendo à frente o tenente Januário, que dera ordem de deserção, foi fuzilado. Morreram a combater ou foram fuzilados todos os oposicionistas da Guiné-Conacri recrutados por toda a parte graças às diligências de Alpoim Calvão. A política externa portuguesa sofreu um dos maiores abalos possíveis, foi um sem retorno da argumentação anticolonial, a imagem do governo de Lisboa nunca mais recuperou. Mas o que se silencia foi a repressão feroz que o ditador Sékou Touré pôs em movimento, irão assistir-se a atos hediondos, interrogatórios degradantes, as prisões políticas irão encher-se até dos amigos íntimos do ditador. Para se conhecer a extensão desses atos de barbaridade e insânia, é indispensável ler “Prisão de África”, por Jean-Paul Alata, Edição Livros do Brasil, 1976.

No prefácio, o escritor Jean Lacouture procura enquadrar a repressão e as monstruosidades de Sékou Touré no contexto mais vasto do espezinhamento dos direitos humanos em África. O Tchade, a República Popular do Congo, os Camarões, a República da África Central, o Zaire, a Guiné Equatorial, são exemplos de cadeias cheias de oponentes, prisões arbitrárias, condenações à morte sem culpa formada, todos estes governos torcionários são aparentados na paródia da Justiça. Fabrica-se uma intentona é já estão previamente decididas condenações à morte. Jean-Paul Alata era um alto responsável político da Guiné-Conacri. A pretexto da operação Mar Verde, passou 54 meses num campo concentracionário, Boiro. Foi acusado de ser cúmplice da CIA, da rede SS-Nazi e das forças da oposição internas. Em Boiro, foi torturado, viveu em condições sub-humanas, misturado com operários, agricultores, altos funcionários, artesãos, ministros, até membros da esquerda europeia. Alata era uma figura singular: branco, de origem corsa, quis ser africano porque tinha nascido em África, apoiou entusiasticamente a Guiné independente, casou com uma guineense. Foram-lhe conferidas as mais altas responsabilidades, enquanto diretor-geral dos assuntos económicos e financeiros da Presidência, tutelava vários ministérios, era uma das raríssimas pessoas que podia telefonar a qualquer hora do dia ou da noite a Sékou Touré.

Os complôs quase sempre forjados começaram logo em 1960, mais o mais repressivo foi desencadeado pela invasão de 22 de novembro de 1970. Nessa mesma noite, Alata pôs-se à frente de efetivos da Guiné-Conacri para reagir à invasão. A população não reagiu à agressão, o ditador apercebeu-se da solidão do seu regime. Ainda tentou fazer imaginar que se tratava de uma agressão puramente do exterior, mas sabia-se que centenas de oposicionistas tinham colaborado com os portugueses, então maquinou um complô em que falsos fiéis do regime estavam ao serviço de potências colonialistas, daí a vaga de prisões, logo 92 condenações à morte, 67 condenações a trabalhos forçados em regime de prisão perpétua, etc.

Entrevistado em 1977 pela Radio-France International, Alata faz uma reflexão sobre a invasão de 1970. Os cubanos tinham tido um comportamento valoroso ao defender a estação da rádio, segundo ele foram os cubanos que impediram os invasores de ocupar a estação emissora. Do PAIGC ninguém se mexeu, diz mesmo que foram desarmados como meninos de coro. As tropas portuguesas, diz ele, libertaram os prisioneiros no campo do PAIGC de Ratoma e reembarcaram tranquilamente, os guerrilheiros do PAIGC não deram qualquer resistência.

E começou a vaga de detenções, criara-se uma comissão de inquérito conduzida por Ismaël Touré, familiar do ditador. “Prisão de África” é um livro arrebatador, prende o leitor logo na primeira página: “13 de janeiro de 1971. Não me mexo. Massa inerte espalhada no cimento gretado da cela 23, há quase dois dias que não movo o mínimo membro. Há dois dias que não como nem bebo. O meu espírito esvaziou-se de toda a substância num instante em que o guarda fez soar a pesada alavanca de ferro. A noite é total. A cela está tão escura como a fossa que aguarda os supliciados. Perco-me no passado remoto”. E rememora a sua infância. Seguem-se os interrogatórios. Ismaël Touré lança a acusação: “Construiu a sua vida no nosso país com base num embuste. Afirma haver-se demitido da administração francesa para ficar na Guiné independente e servi-la. Levou a hipocrisia ao extremo de se converter espetacularmente ao islamismo e escolher uma mulher guineense. Conseguiu iludir o nosso presidente por uns tempos. Quer reabilitar-se revelando a verdade a seu respeito e dos seus cúmplices?”. Alata nega as acusações, volta para o cárcere, é assaltado pela felicidade que julga perdida: “Uma pessoa julga reunir um capital incomensurável de recordações felizes. Convence-se de que poderá viver delas, de que, nas horas de amargura, lhe agradará reavivar tanto amor e ternura. Ora, cada vez que revolve essas recordações felizes, é como se lhe dilacerasse o coração”. Descreve as conversas ciciadas de cela para cela, vai sabendo de mais detenções e condenações à morte. Sujeito a tortura, fisicamente despedaçado, aceita assinar a condenação que os carrascos lhe puserem em frente. Por ironia, a acusação é tão infantil que os algozes resolvem inverter o processo, Alata vai ser confrontado com outros acusados e desmonta atos de corrupção dos seus próprios inquiridores. Sékou Touré chega a telefonar-lhe a agradecer-lhe a colaboração, a pedir-lhe mais sacrifícios, o ditador é tão “magnânimo” que o informa que vai receber a visita da mulher e do filho que entretanto nasceu.

“Prisão de África” está primorosamente escrito, é uma narrativa do terror, da suprema humilhação, do medo visceral, do desespero e a raiva de perder os entes queridos. Ao lermos estes interrogatórios, recordamos outras prisões africanas, europeias, americanas, asiáticas, a monstruosidade de fazer um ser humano um farrapo, agarrado à pura sobrevivência. O prisioneiro Jean-Paul Lata vai rebatendo e mostrando as contradições das diferentes acusações. Descreve as celas com os seus percevejos, odores mefíticos, interrogatórios em que o ser humano se desfaz em urina e fezes. Os meses passam, há nova revoada de prisões, a Guiné Conacri transformou-se num campo de concentração. Alata vai mostrando aos seus carrascos como todas aquelas declarações forjadas são ridículas. Altas personalidades são enforcadas e os seus corpos balouçaram todo o dia sob a Ponte Tumbe, foi o carnaval em Conacri, megeras dançavam à volta dos cadáveres, exibiam os órgãos sexuais dos executados nas extremidades de longas varas.

E um dia, Jean-Paul Alata é libertado e parte para a Europa, sente-se guineense excluído, expulso da terra onde criara as suas raízes, separado da mulher que ama, o exílio principiado e com ele uma luta muito prolongada… Tudo começara a pretexto da operação Mar Verde, é bom não esquecer.
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13307: Notas de leitura (602): "Onde se fala de Bissau", do princípio dos anos 50, da UDIB... Um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

Guiné 63/74 - P13312: Manuscritos(s) (Luís Graça) (33): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte VI): O novo bairro da Ajuda (1965/68), um "reordenamento" na estrada para o aeroporto...


Guiné-Bissau > Bissau > Localização do bairro da Ajuda, a oeste da cidadezinha colonial do nosso tempo, mais ou menos a seis quilómetros do centro, a caminho de Brá e do aeroporto, que fica a noroeste . Adaptado, com a devida vénia do mapa da Google.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Bissau > Planta da cidade, no pós.independência. O bairro da Ajuda fica a seguir Missirá, a noroeste do centro histórico de Bissaum, mais iou menos a meia dúzia de quilómetros. Em frente ao bairro da Ajuda, do lado esquerdo da estrada que liga o centro de Bissau ao Aeroporto ( hoje, avenida Francisco Mendes, que parte do centro urbano). ficava o HM 241,  infelizmente conhecido de alguns de nós. (Antigo Pavilhão  de Tisiologia, depois da independência Hospital 3 de Agosto; foi desenho pelos arquitetos do Gabinete de  Urbanização do Ultramar,  Lucínio Cruz e  Mário de Oliveira (1951/53: fica hoje relativamente perto da Cooperação Portuguesa, e da Universidade Lusófona; em frente ao antigo HM 241, fica a Mesquita, no bairro da Ajuda).



Fonte: © Ana Vaz Milheiro (2012) (Reproduzido com a devida vénia)



1. Manuscrito(s) (Luís Graça)

Nota de leitura >  Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa, Circo de ideias, 2012, 52 pp. (Viagens, 5)

Parte VI (*)

Continuação das nossas notas de leitura desta brochura da investigadora e professora do ISCTE -IUL, Ana Vaz Milheiro (que é também crítica do jornal "Público" e que, sabemo-lo, também utilliza
o nosso blogue como fonte de informação e conhecimento, graças ao seu valioso espólio documental sobre a ex-Guiné portuguesa).

Como temos referido em postes anteriores desta série, este livrinho, profusamente ilustrado com fotografias da autora, a cores,  resulta de uma singular viagem à Guiné-Bissau, durante 10 dias, de 2 a 10 de outubro de 2011, .feita por ela e por outro colega arquiteto, bem como pelo  antropólogo  Eduardo Costa Dias, nosso grã-tabanqueiro.

Reproduzimos, com a devida vénia, um excerto de um artigo que a autora publicou no "Público",  que é uma boa síntese da leitura desta cidade lusófona onde foi procurar e estudar a tão esquecida, tão maltratada (e às vezes subvalortizada pelos próprios  portugueses e guineenses) arquitetura colonial, e em particular a do Estado Novo:

(...) "A arquitectura que procurava foi produzida durante o regime do Estado Novo por arquitectos sediados em Lisboa e que trabalham para o Ministério das Colónias (depois de 1951, Ministério do Ultramar) como funcionários públicos. Nomes que raramente se citam e que correspondem a visões mais conservadoras, como João Aguiar, Lucínio Cruz, Eurico Pinto Lopes ou Mário de Oliveira, até aos “quase modernos”, casos de João Simões, Fernando Schiappa de Campos, Luís Possolo, António Seabra, António Sousa Mendes, Emília Caria, António Moreira Veloso, Alfredo Silva e Castro."

Recorde-se que esse Gabinete (originalmente, GUC - Gabinete de Urbanização Colonial) foi criado em 1944 pelo então ministro das colónias, Marcelo Caetano. Mas voltemos à Ana Vaz Milheiro:

(...)" Todos trabalharam para a Guiné. Mas é esta arquitectura, para lá de algumas estruturas fortificadas mais antigas (casos do fortim e Cacheu ou do forte de Amura, em Bissau), do edificado de sabor oitocentista (presente em Bafatá, por exemplo, ou na antiga capital Bolama), e dos equipamentos promovidos pela Primeira República, a expressão dominante.

"Percorrer Bissau, capital desde 1941, é visitar uma cidade jardim africana que mantém intacta a escala doméstica, ou melhor, uma City Garden nos Trópicos. Sucessivos bairros residenciais foram dando à cidade o perfil que hoje ostenta, desde o primeiro bairro de inspiração deco, composto por um conjunto de casas cúbicas para funcionários públicos erguidas antes de 1945, com terraços visitáveis, passando pelas casas construídas pelo arquitecto Paulo Cunha em 1946 (hoje figura quase omitida pela historiografia de arquitectura, mas personagem central na realização do famoso Congresso de 1948), terminando no bairro com casas de dois pisos para os funcionários dos Correios. A cidade é portanto um laboratório de habitação de promoção pública construída entre o final da Segunda Guerra e a década de 1960." (...) 

É bom ler-se e reler-se este parágrafo, sobretudo  aqueles de nós que têm de Bissau, cidadezinha colonial, memórias fragmentadas, umas mais doridas, outras mais  reconfortantes, já que foi para todos nós, ex-combabentes que estiveram no mato, uma placa giratória, um cais de partida, um local de passagem, de lazer, de escape, de "desenfianço", enfim, também um refúgio, "far from the Vietnam", como eu gostava de dizer nos meus escritos da época. Mas o que é que eu conhecia de Bissau ? O que é nós conhecíamos de Bissau ? A zona portuária, a baixa, o Chez Toi, o Pelicano... Fora do alcatrão, o máximo a que nos aventurávamos era o Pilão (Cupelom)... Fiquei lá uma noite e ninguém me cortou o pescoço...

Retomando o artigo da nossa Ana Vaz Milheiro:

(...) "Menos visíveis, porque em zonas periféricas e portanto sujeitas a maiores transformações, são as experiências no domínio da casa para as populações africanas realizadas pelos arquitectos que trabalham a partir de Lisboa e que se iniciam no final dos anos de 1950. Levantamentos sobre a casa guineense, nas suas diversas configurações étnicas, são conhecidos desde 1948. Orlando Ribeiro, em missão geográfica pelo território, em 1947, também se interessou pelo assunto.

"Mas os arquitectos propõem, na sequência dos seus próprios estudos, novos bairros e casas (melhoradas em termos de organização funcional, mas realizadas em sistema de auto-construção). A casa é então, e segundo defendem, um “meio civilizador” e portanto central. Facilmente reconhecível é o bairro de Santa Luzia, uma das primeiras experiências em alojamento para africanos impulsionadas pelo Estado Novo e, mais tarde, o bairro da Ajuda, erguido na década de 60. Este último destina-se aos desalojados do incêndio que, no início de 1965, destrói parte dos assentamentos informais que circundam a capital da Guiné. Em 1968, estão já terminadas 140 casas, ocupando um rectângulo de 300 por 700 metros. É traçado pelos serviços das Obras Públicas guineenses. Os fundos são angariados localmente e os trabalhos contam com o apoio das forças militares que, em plena guerra colonial, procuram cativar as populações." (...) 

[Fonte: Ana Vaz Milheiro: Viagem à arquitectura portuguesa da Guiné-Bissau. Público,  25/11/2012]

Já aqui falámos, em poste anterior, do bairro de Santa Luzia (onde estavam instalados o Quartel General e o a sede das Transmissões; as instalações do QG dariam  depois lugar, no pós-independência,  ao Hotel 24 de Setembro) (ª)... Já o bairro da Ajuda era, segundo penso,  menos conhecido de (e frequentado por) pela malta da tropa... Daí que valha a pena, reproduzir na íntegra a curta informação, telegráfica, que nos dá a nossa cicerone, a páginas 24 do seu caderno de viagem:



[Fonte: Ana Vaz Milheiro – Guiné-Bissau: 2011. Lisboa: Circo de ideias. 2012, p. 24. Reproduzido com a devida vénia...]


Informações a reforçar: (i) o  planeamento  do bairro da Ajuda  já não é da responsabilidade do Gabinete de Urbanização do Ultramar, sediado em Lsiboa, mas sim das Obras Públicas locais; e (ii) os trabalhos de construção têm o apoio dos militares... Estamos no ínício da "acção psico-social" e dos reordenamentos das populações, no interiro da Guiné, que vão contar com o apoio técnico e logístico do famoso BENG 447... Mas em 1966 discutia-se, na Câmara de Bissau, a hipótese de mandar arrasar e reordenar o famigerado Cupelom, suspeito de ser um "ninho de terroristas" (***)...

O nosso amigo e irmãozinho Cherno Baldé ligou, em tempos,  o nome do administrador Guerra Ribeiro (de seu nome completo Manuel da Trindade Guerra Ribeiro, que foi igualmente administrador de Bafatá, antes de o ser de Bissau) "à construção do Bairro-de-Ajuda, o único bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau construído na base de trabalho obrigatório" (****). De qualquer modo, antes do bairro da Ajuda, já aqui  foi referido o bairro, mais antigo, de Santa Luzia. É de 1948, ao tempo do Sarmento Rodrigues.
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Notas do editor:

(*) Vd., poste anteriro da série > 31 de maio de  2014 >  Guiné 63/74 - P13217: Manuscrito(s) (Luís Graça (31): Revisitar Bissau, cidade da I República, pela mão de Ana Vaz Milheiro, especialista em arquitetura e urbanismo da época colonial (Parte V): O bairro de Santa Luzia, de 1948: uma das nossas primeiras experiências de alojamento para populações nativas

Último poste da série > 12 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13271: Manuscrito(s) (Luís Graça) (32): Estavam lindos os jacarandás quando deixei Lisboa... (Luís Graça)


(...) O Guerra Ribeiro, Administrador da Circunscrição, depois Conselho de Bafatá nos anos 60, era o terror dos nativos "indígenas" que viviam nos arredores ou visitavam a cidade, por força de uma medida administrativa que mandava prender e açoitar todos os nativos que nela entrassem de pés descalços.

A medida era inédita, controversa e paradoxal, porque no seu ambiente natural, salvo raras excepções (personalidades politicas ou religiosas), o nativo guineense, em geral, não usava sapatos no seu dia-a-dia e, também na fase inicial da colonização, o uso de sapatos entre o "gentio" ou era mal visto ou simplesmente proibido pela administração.

E, de repente, nos anos 60, o Administrador de Bafatá confundiu a mentalidade dos nativos com esta medida que intrigava muita gente e teria sido motivo para o surgimento de casos caricatos que ainda hoje se contam e são motivo de divertidas gargalhadas.

Com esta medida histórica, quem tivesse que passar por Bafatá, por qualquer motivo, sabia de antemão ao que era obrigado, mesmo que, por isso, tivesse que arrastar os pés ou andar como um coxo, porque os cipaios de Guerra Ribeiro estavam lá para fazer cumprir a ordem.

Assim, na região de Bafatá a história do uso de sapatos está intimamente ligada ao nome de Guerra Ribeiro, e a maioria dessas pessoas compravam o seu par de sapatos exclusivamente para satisfazer o Senhor Administrador de Bafatá.

O nome de Guerra Ribeiro está também ligado a construção do Bairro-de-Ajuda, o unico Bairro digno deste nome na periferia da antiga Bissau construido na base de trabalho obrigatório.

É por estas e outras coisas que, hoje, face a situação actual do pais, muita gente questiona (em especial os mais velhos) se não era melhor manter a ordem e a disciplina coloniais.

Um abraço amigo, Cherno Baldé (...)