Suécia > Rapadalen, Ráhpavágge, Rapa Valkey ou ValE de Rapa > Com 35 km de comprimento, é o maior vale do Parque Nacional Sarek que integra a província da Lapónia, Lappland (onde vivem os "sami" ou lapões, e que ocupam 25% do território da Suécia).. Foto enviada pelo nosso grã-tabanqueiro José Belo, o nosso "luso-lapão"...
1. Mensagem de José Belo:
[ foto atual à esquerda: José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); atualmente é cap inf ref e vive na Suécia há quase 40 anos; no outono / inverno, costuma "emigrar" para Key West, Florida, EUA, onde a família tem negócios]:
Data: 17 de outubro de 2015 às 19:59
Assunto: Bilhetes de ida... sem volta.
Caros Amigos e Camaradas
Aproveito o envio dos últimos documentos (ª) para me despedir do Blogue, dos seus Editores, e não menos, de todos os Camaradas.
Foi sem dúvida uma interessante viagem (no tempo, nas recordaçöes e na amizade) aquela que tive a oportunidade de efectuar através da Tabanca Grande.
Reencontrar Amigos desde há muito não contactados, ao mesmo tempo que se criaram algumas novas e sinceras amizades com Camaradas nunca encontrados pessoalmente.
Verifiquei (com espanto) ter contribuído para o blogue com mais de centena e meia de textos [, descritores: José Belo, Da Suécia com saudade], para não referir algum "protagonismo" exagerado nos demasiados "comentários".
Há quatro décadas, decidi sair do nosso querido Portugal sem bilhete de ida e volta. Tanto então como hoje não me arrependi.
Fernando Pessoa [, através do seu heterónimo Álvaro Campos,] escreveu [no poema "Marinetti Mecânico"]:
(...) Partir!
Nunca voltarei,
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia (...).
Os Amigos têm sempre uma "casa portuguesa" ao dispor, tanto na Lapónia sueca como em Estocolmo, ou em Key West, Flórida, USA.
Um grande e sincero abraço do
José Belo
2. Resposta do editor Luís Graça, no mesmo dia:
Zé Belo:
O blogue pode continuar sem ti, é verdade, mas não é o mesmo blogue sem ti... Sem a Tabanca da Lapónia, ficamos mais pequenos... Como poderei doravante evocar a "grandeza" da Tabanca Grande, comparada ciom a "pequenez" do Mundo, ignorando ou escamoteando a "baixa" pesadíssima que representa a "saída" do único luso-lapão e a "perda" do respetivo território? É um grande rombo no "porta-aviões" do blogue dos amigos e camaradas da Guiné...
Como vamos fazer o luto da perda de 119 mil km2 e mais de 100 mil almas, depois de nos habituarmos a gritar "Lapónia, é nossa!... Lapónia, é nossa!", e denunciarmos abertamente o colonialismo sueco?
Por outro lado, um "guerreiro" como tu não tem substituto... Um português da diáspora da tua qualidade humana não se procura por anúncio de jornal... Não se substitui, não se troca, não se dispensa...
Fico sinceramente desolado com a tua abrupta decisão... Admito que estejas a fazer "non sense"... E admito que não sejua nada de definitivo, que uma despedida definitiva provisório, que seja afinal mais uma das tuas viagens de "transumância" em que levas as tuas "renas" da gélida Lapónia para a tropical Florida...
De qualquer modo, é um direito que te assiste, o de entrar e sair do blogue, sempre que te der na real gana... Mas não queres explicitar a razão por que decides agora, de vez, "arrumar as botas", se é que é a expressão correta?
Zé, cansaste-te da malta? Alguém te insultou, magoou ou tratou mal? Eu sei que às vezes é preciso muito "self control" para aturar estes "tugas" da Tabanca Grande... Estamos a ficar velhos, é isso... E com menos tolerância, pachorra, paciência, uns para com os outros, será?!... Ou tens, antes, motivos pessoais, familiares, de saúde, ou outros da tua esfera íntima, que não queres partilhar connosco?
Em suma, não defiro o teu pedido de "retirement"... Um guerreiro como tu, morre de pé... E eu ainda queria passar pela tua casa, um dia destes, para provar o teu vodka e agradecer a tua camarigagem...
Até logo, até sempre, bom camarada e melhor amigo.
Luís
3. Resposta pronta do José Belo (a quem a gente só pode desejar boa viagem, com as suas "renas", até Key West, mas sempre na esperança de que lá para a próxima primavera ele nos volte a mandar um email, a dizer "olá, aquio estou"):
Nunca voltarei porque nunca se volta.
O lugar a que se volta é sempre outro,
A gare a que se volta é outra.
Já não está a mesma gente, nem a mesma luz, nem a mesma filosofia (...).
Os Amigos têm sempre uma "casa portuguesa" ao dispor, tanto na Lapónia sueca como em Estocolmo, ou em Key West, Flórida, USA.
Um grande e sincero abraço do
José Belo
2. Resposta do editor Luís Graça, no mesmo dia:
O blogue pode continuar sem ti, é verdade, mas não é o mesmo blogue sem ti... Sem a Tabanca da Lapónia, ficamos mais pequenos... Como poderei doravante evocar a "grandeza" da Tabanca Grande, comparada ciom a "pequenez" do Mundo, ignorando ou escamoteando a "baixa" pesadíssima que representa a "saída" do único luso-lapão e a "perda" do respetivo território? É um grande rombo no "porta-aviões" do blogue dos amigos e camaradas da Guiné...
Por outro lado, um "guerreiro" como tu não tem substituto... Um português da diáspora da tua qualidade humana não se procura por anúncio de jornal... Não se substitui, não se troca, não se dispensa...
De qualquer modo, é um direito que te assiste, o de entrar e sair do blogue, sempre que te der na real gana... Mas não queres explicitar a razão por que decides agora, de vez, "arrumar as botas", se é que é a expressão correta?
Em suma, não defiro o teu pedido de "retirement"... Um guerreiro como tu, morre de pé... E eu ainda queria passar pela tua casa, um dia destes, para provar o teu vodka e agradecer a tua camarigagem...
Até logo, até sempre, bom camarada e melhor amigo.
3. Resposta pronta do José Belo (a quem a gente só pode desejar boa viagem, com as suas "renas", até Key West, mas sempre na esperança de que lá para a próxima primavera ele nos volte a mandar um email, a dizer "olá, aquio estou"):
Obrigado pelas tuas palavras amigas.
O meu afastamento bloguista mais näo é que o resultado de sentimento que desde há muito se tem vindo a instalar.
Cada vez me reconheço menos nos acontecimentos que vão surgindo no nosso querido Portugal, e na maneira como a nossa gente reage aos mesmos.
Mas atrevo-me a dizer que o amor que sentem por Portugal talvez seja mais profundo por não dependente de influências circunstanciais, não menos na área política e económica.
Não se deve no entanto relativizar o facto de estes estados de alma terem grande importância para o "sujeito", menos para o "predicado", e ainda muito menos para os "complementos", sejam eles directos ou indirectos.
Notas do editor:
(*) Dois últimos postes da série >
19 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15268: Da Suécia com saudade (54): Relendo o livro do prof Patrick Chabal, "Amilcar Cabral: Revolucionary Leadership and People's War" (1983): o PAIGC e a saúde (José Belo)
18 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15262: Da Suécia com saudade (53): Relendo o livro do prof Patrick Chabal, "Amilcar Cabral: Revolucionary Leadership and People's War" (1983): o congresso de Cassacá (José Belo)
(**) Vd- artigo de Romana Borja-Santos, " Fernando Pessoa, Amália, Eusébio e Zé Povinho presentes na estação de Metro do Aeroporto", Público, 16/7/2012
(...) “Os desenhos são em pedra cortada a laser, com mármores preto e branco incrustados em pedra lioz. Mas brilham tanto que as pessoas até pensam que são de plástico. Pedi à empresa que o mármore fosse o mais liso possível para interferir menos no desenho”, explica António Antunes em entrevista ao PÚBLICO. “Deixei de lado a crítica e estas são caricaturas simpáticas, sobretudo de homenagem a gente que nos marcou”, diz." (...)