sexta-feira, 10 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16188: Nota de leitura (846): “Jornada de África”, por Manuel Alegre, versão de 2003, edição conjunta da Visão e Publicações Dom Quixote (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 28 de Julho de 2015:

Queridos amigos,
As incursões de Manuel Alegre pela guerra saldaram-se em poesia de primeiríssima água e neste romance histórico, documental e apologético, um frente a frente entre o épico e o ético ocupa todo o espaço, o espectro de Alcácer Quibir é omnipresente, sufocante.
Romance autobiográfico? Parece não subsistirem dúvidas. Há para ali parágrafos descomunais, um camoniano póstumo, combativo e altivo. Um brado contra a besta apocalíptica, uma explicação por ter feito uma guerra e partido depois para a denunciar, como se estivesse a preparar a libertação de Portugal e as suas colónias.

Um abraço do
Mário


Jornada de África, por Manuel Alegre

Beja Santos

Não é a primeira, e não será a última vez, que se sai deliberadamente do território da guerra da Guiné para visitar outros, às vezes a comparação é útil e não faz bem desconhecer alguns arrojos literários que têm vindo a engrandecer todo este subgénero que continua a dar provas de vida prolongada e de um envelhecimento vivacíssimo.

Manuel Alegre, reconhecido unanimemente, é autor do mais extraordinário poema até hoje publicado “Nambuangongo, meu amor”. Mas não foi só na lírica que Manuel Alegre se exprimiu sobre a guerra, há um romance histórico de que não nos podemos abstrair, “Jornada de África”, que teve a sua primeira edição em 1989, e a versão que hoje mostramos é de 2003, edição conjunta da Visão e Publicações Dom Quixote.

A dimensão épica entrecruza-se com a ética, o escritor giza todo o seu trabalho exibindo uma pauta de valores, assumindo os seus ideais, esgrimindo pelas suas damas, acalorando-se quando vê o patriotismo ameaçado. “Jornada de África” é seguramente um romance histórico, é uma viagem pelas lutas nacionalistas africanas com destaque para Angola; temos aqui um romance onde se rendilha uma elaborada ficção em muita realidade e porventura havemos de contar com dados autobiográficos, aquela Coimbra dos anos 60, aquela vida estudantil, aquela atividade oposicionista são testemunhos presenciais do autor da “Praça da Canção”.

Tudo vai ser urdido em torno de uma outra jornada em África, a de D. Sebastião e com quem ele viveu e com ele morreu no desastre de Alcácer Quibir. Esta jornada também tem nobreza, uma outra nobreza e uma outra fidalguia de sentimentos. Tudo começa em Dezembro de 1960, o chefe da PIDE em Angola foi visitar Salazar, informou-o de que está iminente uma comoção e um tumulto sociais sem precedentes, Salazar sentencia que é preciso deixar andar, impõem-se sacrifícios, o país tem que ser despertado e o Ocidente tem que se definir. O herói chama-se Sebastião e vai para a guerra, descobre Luanda na companhia de amigos, como Jorge Albuquerque Coelho. Passado e presente são obra de imisção, desembarca na Ilha de Luanda e:
“Vem-lhe à memória o ritmo de uma prosa antiga, é a Relação do Naufrágio da Nau Conceição de que era capitão Francisco Nobre, a qual se perdeu nos Baixos de Pero dos Banhos aos 22 dias do mês de Agosto de 1555”. Sendo um romance histórico, vai ilustrando factos relevantes para o desencadear da guerra, caso do ataque de 4 de Fevereiro. Sebastião vê viaturas e socorre-se de imagens poéticas: cavalos destemperados, cavalos à solta pela picada fora, tal como jipes e jipões, unimogues e GMC’s.

Estabelecem-se contactos entre oficiais, o capitão Garcia tem a lição bem estudada, explica aos neófitos os porquês daquela guerra subversiva, haverá troca conflituosa de palavras entre ele e Sebastião. Mesmo Alcácer Quibir faz parte de senha e contrassenha para encontros clandestinos, e depois a unidade de Sebastião vai fazer instrução operacional para lado dos musseques, esperava-os uma mina. Estamos em 1962, o autor procura enquadrar o que se está a passar em Angola com factos e feitos em certos pontos do globo. Somos informados da elevada tensão entre o General Venâncio Deslandes e Adriano Moreira. Lázaro Asdrúbal, o chefe da PIDE em Angola, volta à cena, fala-se em interrogatórios, torturas bestiais. Sebastião vai para a guerra, nas Sete Curvas morre-lhe um amigo, levou um tiro de quem só alveja oficiais. Os desastres repetem-se, os amigos morrem ou ficam estropiados. Os diálogos são trepidantes, as relações sexuais intensas, tal como no sonho camoniano também existe uma Bárbara que se irá apaixonar por Sebastião. E em 1 de Novembro de 1962 Sebastião escreve de Nambuangongo a Bárbara, é um mistério descortinar se estamos perante um trecho épico ou um magnífico volteio poético:
“Camões decassilaba-se em mim. Até por carta ele se assobia. Ninguém voltará a escrever o português assim. Tudo nele canta: as consoantes e as vogais, o com e o que. Na sua escrita há índias e naufrágios, o Tejo, a despedida, Portugal a partir-se em cada sílaba, infantas, putas, prisões baixas. Aquele ver quanto a vaidade em nós se encerra e nos próprios quão pouca. Tanta guerra, tanto engano. Ele peregrinou-se na vida e na palavra, de certo modo Nambuangongo já estava nele. E aquelas guerras nossas que nesta guerra desaguam. Por isso assobia em mim ao fazer desta, junto a um duro monte, porém não seco.
Há aqui uma loja onde se matam sedes, raivas, medos. Uma igreja, casernas improvisadas, ruínas, restos. Tudo cercado por arame farpado.
Nambuangongo é um lugar símbolo. Se reparares, a própria palavra soa como um dítono, um intervalo entre dois sons, o da vida e o da morte. Aqui se está suspenso e o tempo todo cabe num só tom e num só som: tiro ou mina. Em certas noites silva: então é um morteiro.
Tenho de ti um desejo que é mais do que esta dor de querer entrar em ti e não poder. Gostaria de me meter no aerograma e aterrar de repente onde tu sabes. Faz de conta que vou de corpo inteiro, a alma já está contigo”.

Estaria preparada uma sublevação de militares a favor de Venâncio Deslandes, foi descoberta, os conspiradores recambiados para outros lugares. Sebastião está debaixo de olho da PIDE. Subitamente, Sebastião passou a preocupar a hierarquia, descobriu que o Capitão Gouveia durante uma operação cometeu atrocidades, matando velhos, mulheres e crianças indefesos. Um tenente-coronel conciliador alvitra que ele vá fazer uma operação militar, terá tempo para esclarecer dentro de si se deve incriminar o Capitão Gouveia. Manuel Alegre acelera a ação, todos os personagens estão em movimento, vai num jipe a caminho de Quipedro e a seu lado alguém lhe entrega uma folha de papel onde está escrito: “Há outro Portugal, não este. E sinto que tinha que passar por aqui para o encontrar. Não sei se passado, não sei se futuro. Não sei se fim ou se princípio. Sei que sou desse país: um país que já foi, um país que ainda não é”. E eclode uma emboscada, os guerrilheiros do MPLA cercaram o grupo de Sebastião, eles lançam-se para a frente, os guerrilheiros retiram, provisoriamente. E tudo recomeça e Sebastião avança sozinho, a sua tropa está desorientada, o nosso alferes já não se vê. Nunca mais voltará a ser visto.

E assim termina este romance enigmático, uma jornada catastrófica, um homem que não quebra a espinha, que não aliena valores, um democrata que não recusou fazer a guerra e que não esconde a ninguém que aquela guerra é uma doença. E desaparece, tal como o outro Sebastião, em Alcácer Quibir.
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16170: Nota de leitura (845): Estudos Sobre a Economia do Ultramar, por José Fernando Nunes Barata, publicado em 1963 pela Biblioteca do Centro de Estudos Político-Sociais (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16187: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (15): "País Natal", de António Baticã ferreira (nascido, em 1939, no Cachungo, médico)



Guiné > Bissau > Julho de 1972 > Duas crianças na avenida narginal, junto ao cais do Pidjiguiti. Foto  nº 48 do álbum fotográfico de Francisco Gamelas,ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Cachungo / Teixeira Pinto, 1971/73).

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em dezembro de 1973 e  fevereiro de 1974, em Bissau. (*)

In: Caderno de Poesias "Poilão". Bissau: Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, dezembro de 1973. (Cadernos de Poesia). Policopiadp,  p. 33.



1. Quando  o  então tenente de artilharia Albano de  Matos, do BA 7 e dedois do QG/CTIG, natural de Castelo Brancp.   dá as mãos a Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, empregado do BNU -  Bissau e responsável pelo respetivo Grupo Desportivo e Cultural (GDC)   para lançar uma coleção de poesia, de que o o "Poilão" foi o 1º e único número, estava longe de imaginar que esta edição, artesanal, policopiada, ia ter algum impacto na pacatíssima vida cultural da pequena capital da Guiné, em dezembro de 1973, a escassos meses do  fim da guerra. O "Poilão" acabou por ser a primeira ou uma das primeiras antologias de poesia guineense. Albano de Matos já explicou o "making of" do "Poilão":


(...)  Nos inícios do mês de Dezembro de 1973, ao ler o jornal «Voz da Guiné», deparei com um escrito de Agostinho de Azevedo, alferes miliciano, creio que chefe de redacção do jornal, insinuando que não havia poesia na Guiné. Respondi com um escrito, «O Despertar da Guiné», dizendo que havia poesia na Guiné e que, em breve, iríamos ter um Caderno de Poesias, com o título de «Poilão», a designação de uma árvore sagrada na Guiné. Depois da publicação do primeiro número, seriam publicados cadernos de poesia de um só autor.

No Grupo Desportivo de Cultural do BNU, conheci guineenses e cabo-verdianos que faziam poesias e pedi originais para colaboração em «Poilão», que ainda guardo no meu arquivo. Juntei 24 poemas de 4 poetas da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal.

De modo artesanal, fiz 300 exemplares do caderno. Dactilografei os poemas, imprimi-os em duplicador, dobrei as folhas e agrafei-as em capa de cartolina, esta impressa em tipografia, com desenho do poilão da autoria de um alferes miliciano, do Batalhão de Transmissões.


Os 300 exemplares do Caderno de Poesias «Poilão», editado pelo Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, esgotaram-se na noite do lançamento. Sem preço de capa, cada pessoa dava a importância que queria. O preço por unidade foi de 20$00 a 100$00.

Por minha proposta, o dinheiro angariado foi doado à Leprosaria da Cumura, nas proximidades de Bissau. Preparei, então, mais 400 exemplares que se esgotaram num dia. Havia apetência para a Poesia na Guiné. Eu apercebi-me desse facto. (...) 

António Baticã Ferreira, nascido no Cachungo (Texeira Pinto), em 1939, estudou em França (, onde fez o liceu em Paris), e formou.se em medicina, na Suiça, na Universidade de Lausana, Sabemos que exerceu a atividade no Hospital de Santa Maria. Não sabemos se vive em Portugal. E se continua a escrever. O Albano de Matos disse-me que conheceu o guineense Baticã Ferreira, médico, "na Sociedade da Língua Portuguesa, que lhe publicou uma colectânea de poesia  (*Poesia & Ficção")-


De  qualquer modo, António Baticã Ferreira é um dos quatro poetas guineenses presentes nesta antologia. Reproduzimos aqui o seu poema, "País Natal". Na altura era já um poeta e escritor com obra publicada.

Tanto quanto sabemos (ou podemos presumir), era filho (ou parente) do régulo Joaquim Baticã Ferreiar, uma das figuras com peso político no tempo dos últimos governadores da Guiné (Arnaldo Schulz, António Spínola e Bettencourt Rodrigues).

Joaquim Baticã Ferreira foi miseravelmente fuzilado, sem julgamento,  em 10 de março de 1976, pelo PAIGC, no seu próprio chão, o chão manjaco, na presença da sua própria família.  Dizem que enfrentou o pelotão de fuzilamento com grande bravura e dignidade.

É bom, chamar os bois pelos cornos: isto passou-se no tempo  de Luís Cabral, um líder fraco, que foi incapaz de segurar os "irãs maus" do seu movimento, numa altura em que aparentemente ele tinha todas as condições, internas e externas, para fazer da Guiné-Bissau um país novo que fosse orgulho da África, da Humanidade e da Lusofonia...

Em contrapartida, os Baticã Ferreira continuam a ser, na Guiné-Bissau, uma família ilustre, dando exemplos de liderança esclarecida, que é o que a Guiné-Bissau precisa hoje, "a par do pão para a boca"... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de junho de  2016 > Guiné 63/74 - P16186: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (14): dois poemas ("Letargia da carne" e "Escravidão", de Armando Lopes, natural do Porto)

Guiné 63/74 - P16186: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (14): dois poemas ("Letargia da carne" e "Escravidão", de Armando Lopes, natural do Porto)



Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. (*)

A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (A história do GDC dos Empregados do BNU remonta à a 1924).



1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição (hoje rara) deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: 

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, funcionário do BNU, infelizmente já falecido; era o coordenador da secção cultural do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do BNU - Banco Nacional Ultramarino, Bissau; 

e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; "último soldado do império", é natural de Castelo Branco, e vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo) [, foto a seguir, em Bissau, em 1972/73].

A antologia reune 24 poemas de 11 poetas (guineenses, caboverdianos e metropolitanos, neste caso militares em servi no TO da Guiné, em 1973-74).




Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74). Há dias soubemos notícias dele.. Aqui vai um excerto de uma mensagem de 16 de maio último: 

Caro Luís: há um ano que ando nos médicos. Duas operações à coluna, fisioterapia, pé pendente... Mas está a passar. Conduzo o carro e faço a vida normal.

O Valdemar Rocha morava em Padrão, Rebordosa, mas creio que actualmente reside em Gondomar. Vou comunicar-lhe. Aqui vai o Endereço do Valdemar [...]  O Jales está em Mondim de Basto, creio que na Câmara. Endereço do Jales de Oliveira [....]. Só há uns 3 anos tive contactos com o Jales.

Há uns anos, a professora Inocência Mata, de São Tomé, fez uma apresentação de «Poilão», no Centro Nacional de Cultura, numa sessão sobre Literatura Africana de Expressão Portuguesa. Ofereci-lhe o Caderno.

Vou enviar-te uns apontamentos de Angola e Guiné, que me serviram na apresentação do meu livro «Meninos de Mucanda», no Programa «Fim do Império», na Livraria Verney, em Oeiras.
Grande abraço do Camarada Albano Mendes de Matos.


O Luís Jales de Oliveira é membro da nossa Tabanca Grande desde 21 de janeiro de 2008. Foi  fur mil trms inf,  Agrup Trms de Bissau e CCAÇ 20 (Bissau e Gadamael Porto, 1972/74). Continua a escrever e a publicar. Falaremos dele (e dos seus livros) muito em breve. (***)




O Albano Mendes de Matos era sócio da UDIB - União Desportiva Internacional de Bissau


2. Hoje publicamos mais dois poemas. desta antologia: são de Armando Lopes, sobre o qual sabemos que era "estudante, natural do Porto", de passagem pela Guiné, onde estava a cumprir o serviço militar (no GA 7), tal como Valdemar Rocha e Jales de Oliveira. Não sabemos qual o seu paradeiro atual.



Recorde-se que o editor literário desta antologia e ele próprio poeta,  Albano Mendes de Matos, passou pelo  GA 7 e QG/CTIG, Bissau, no período de 1972/74, como tenente da arma de artilharia: foi o "último soldado do império" (**); é  natural de Castelo Branco, vive no Fundão. 



 


Armando Lopes, pp. 30-32




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Guiné 63/74 - P16185: Parabéns a você (1094): Alcides Silva, ex-1.º Cabo Estofador do BART 2913 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Junho de 2016 Guiné 63/74 - P16178: Parabéns a você (1093): Ernesto Duarte, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1421 (Guiné, 1965/67)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16184: Convívios (753): XII Encontro do pessoal da CART 1742 ("Os Panteras"), realizado no passado dia 28 de Maio, em Creixomil - Guimarães (Abel Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 7 de Junho de 2016, a propósito do XII Convívio do pessoal da sua Unidade:



XII Encontro da CART 1742 (OS PANTERAS) 
Nova Lamego/Buruntuma 1967/1969

28 de Maio - Creixomil - Guimarães

Apesar da intempérie que se abateu no dia 28 de Maio último na parada do Pavilhão Multiusos de Guimarães, o pessoal da CART 1742 respondeu à chamada do oficial de dia, camarada José Ribeiro, para dar início ao 12.º convívio, cuja chama ao longo dos anos continua acesa com bastante intensidade.

Este ano tivemos a grata surpresa de voltar a rever um camarada Adão que nunca tinha participado, e que desta vez nos honrou com a sua presença. Também pela primeira vez "esteve presente" o furriel Nogueira, representado pelo seu filho, o que para nós foi motivo de uma grande satisfação e alegria, já que a malta nutria por ele um carinho especial. Que descanse em paz.

Em relação ao Adão, conhecido pelo "Valha-me Deus" por ser muito religioso, foi um dos muitos soldados Portugueses que ficaram estropiados, hoje usa uma prótese na perna direita por ter sido vítima da explosão de uma mina anti pessoal, incidente que ocorreu em Janeiro de 1969, durante um reconhecimento na zona de Buruntuma/Camajabá, da qual a CART 1742 era responsável, incluindo a Ponte Caium. O Adão desviou-se do trilho em que estava posicionado, depois de ouvir lá na frente o alerta de mina, acidente que ao ser ainda hoje recordado por este homem, faz correr lágrimas pelo rosto dos seus camaradas e amigos de então.

Depois da chamada da tropa pelo oficial de dia, a companhia deslocou-se em passo de corrida (viaturas) para a Igreja Paroquial de Creixomil, na qual foi celebrada missa pelo Pároco local em memória de todos os combatentes falecidos na guerra do Ultramar Português.

Dali o pessoal dirigiu-se-se para o local do repasto, que já se fazia tarde, onde fomos obsequiados com um lauto manjar minhoto.

Foi mais uma jornada de salutar convívio, e de afirmação castrense, entre camaradas que outrora, lá na terra longínqua da Guiné Portuguesa, se bateram pela sua Pátria, dignificando a sua Bandeira com sangue, suor e lágrimas, que ainda hoje, rebeldes, descem pelas faces como que recordando tempos idos, na qual ainda meninos e moços se transformaram em homens.

Abel, Rui e esposa, Hilário

Mendes, Correia e ao fundo o Peixoto

Olha que quatro, Abel, Maurício, Neto e Oliveira atrás

Alípio, Abel e Barbosa

 O eterno feminino

Foto de família

Hilário, Viola, Nogueira Filho, Adão, Lopes e Alves

Um aspecto da sala, com o Guilherme e esposa

Alferes Figueiredo sempre presente, com a filha

Filho do Furriel Nogueira

Bolo Comemorativo

De salientar ainda a presença das nossas esposas, mães dos nossos filhos, que também sofreram, connosco e em silêncio, as agruras da guerra. Para elas um beijinho de reconhecimento.

Para finalizar o encontro, já o fim do dia se aproximava, foi entregue a todos os camaradas o certificado de presença e uma peça do artesanato local, por sua vez a Junta de Creixomil associando-se ao acto, entregou um guião da sua Freguesia. Para estes autarcas o nosso bem-haja.

Certificado de presença no Encontro

Peça de artesanato

Guião da autarquia de Creixomil

Vivam os Combatentes de Portugal.

Abel Moreira dos Santos
Ex-Soldado At Art da CART 1742 - "Os Panteras" 
Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de junho de 2016 Guiné 63/74 - P16162: Convívios (752): 11º Convívio da CCaç 1426, 9 de Julho, no Seixal (Fernando Chapouto)

Guiné 63/74 - P16183: Estórias avulsas (85): "Naja nigricollis" emboscada no Xime na cama de um furriel… teve um fim triste e dramático (Jorge Araújo, ex-fur mil op esp /Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/74)



Mensagem de Jorge Araújo, com data de 23 de maio último: 

Caros camaradas

Eis mais uma narrativa histórica para alinhamento da sua publicação no Blogue da Tabanca Grande

Trata-se de um episódio mui sui generis da campanha africana da CART 3494, no Xime, que resultou de nova visita ao baú de memórias… que dá a ideia de não se esgotar.

Um abraço.

Jorge Araújo.


















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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de fevereiro de  2016 > Guiné 63/74 - P15695: Estórias avulsas (84): A minha primeira missão (Abel Santos, ex-Soldado Atirador da CART 1742)