terça-feira, 22 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16746: Agenda cultural (521): "Amílcar Cabral (1924-1973): vida e morte de um revolucionário africano", nova edição, revista, corrigida e aumentada (622 pp.): convite da embaixada guineense para o lançamento do livro do prof doutor Julião Soares Sousa, na Universidade Lusófona, Lisboa, sábado, dia 26, às 15h00


Capa do livro do historiador guineense Julião Soares Sousa, "Amílcar Cabral (1924-1973): vida e morte de um revolucionário africano", edição revista, corrigida e aumentada,


1.  Mensagem da Embaixada da Guiné-Bissau:

De: Embaixada Guiné-Bissau 
Universidade Lusófona, Lisboa, Campo Grande

Data: 22 de novembro de 2016 às 10:10

Assunto: Convite para o Lançamento do Livro do Professor Doutor Julião de Sousa, na Universidade Lusófona [. foto à direita]

Ilustre,

Quatro anos depois da sua primeira apresentação, o livro "Amílcar Cabral, vida e morte de um revolucionário africano", do historiador guineense Julião Soares Sousa, está de volta às bancas, em versão revista, corrigida e aumentada.

A obra, que ganhou o prémio,  da Fundação Calouste Gulbenkiam, da História Moderna e Contemporânea de Portugal, traz agora novos dados num estudo apontado como das mais rigorosas biografias do fundador  das nacionalidades guineense e cabo-verdiana.

A apresentação de "Amílcar Cabral, vida e morte de um revolucionário africano", de Julião Soares Sousa, acontece no sábado, dia 26 de novembro, às 15 horas, no auditório Agostinho da Silva, da Universidade Lusófona de Lisboa.

A obra será apresentada pelo jornalista Waldir Araújo. Uma organização a cargo da Embaixada da Guiné-Bissau em Portugal, com apoio da RDP-África.

Contamos com a sua ilustre presença!

Cordialmente,  Ana Semedo, adida.

Com os melhores cumprimentos.

Embaixada da República da Guiné-Bissau
Rua de Alcolena, Nº 17A, 1400-004
Lisboa;

Telef.: 00351 210 739 165


2. Informação adicional dos editores:

JULIÃO SOARES SOUSA

(i) nasceu em  1966, em Bula, Guiné-Bissau; vive em Portugal desde os 16 anos; reside atualmente em Pampilhosa;

(ii) concluiu, em 2008,  o doutoramento em história contemporânea na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC); (foi, de resto, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra, de acordo com notícia que demos, na altura no nosso blogue); 

(iii)  mestre em História Moderna (FLUC, 1997); licenciado em História (FLUC, 1991);

(iv) trabalha como investigador no Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX, Universidade de Coimbra;

(v) é investigador associado do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas da Guiné-Bissau (INEP);

(vi) distinguido com o prémio Fundação Calouste Gulbenkian de História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa de História (2011), pelo livro "Amílcar Cabral (1924-1973) Vida e morte de um revolucionário africano" (Lisbnoa, Nova Vega, 2011);

(vii) projeto de investigação pós-doc:  a cisão sino-soviética e as suas implicações nos movimentos de libertação das colónias portuguesas de África;

(viii) tem cerca de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue.


3. Entrevista ao Jornal da Mealhada > 30 de junho de 2015 >  “Vida e morte de Amílcar Cabral”, de Julião Soares Sousa, apresentado na Mealhada  (excertos, com a devida vénia)
 
(...) “A reedição da obra sobre Amílcar Cabral foi aumentada e tem mais informação do que as duas outras publicadas em Portugal e uma outra em Cabo Verde, que foi uma edição exclusiva só para este país”, declarou, ao Jornal da Mealhada, Julião Soares Sousa, sobre a nova publicação, que tem seiscentas e vinte e duas páginas e que alguns críticos, garante Julião Sousa, a consideram “a biografia definitiva”.

(...) “Trata-se de uma biografia política de um dos grandes africanos do século XX e impulsionador do projeto de unidade da Guiné com Cabo Verde. Condensa toda a etapa evolutiva desde o nascimento até ao seu assassinato”, explica o autor, que numa das edições anteriores chegou a receber o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian História Moderna e Contemporânea de Portugal, da Academia Portuguesa da História, em 2011.

Nesta “nova” edição o capitulo sobre o assassinato de Amílcar Cabral foi alterado, tornando-se “maior e mais profundo”. “Sei que os leitores ficarão surpreendidos com este alargamento”, acrescentou ainda o autor que garante: “É uma história muito procurada pelas pessoas”.

Apesar de Julião Soares Sousa “ter intenção de não voltar a pegar na história”, recorda que a obra “começou na tese de doutoramento” e “obrigou-o” a intensas viagens por vários países, tais como, Dinamarca e Suécia, bem como a consulta “a vários Arquivos em Portugal e no estrangeiro”.

A obra, que já foi apresentada três vezes no Porto e será também em Coimbra e em Lisboa, tem já o dia estipulado para a sessão na cidade da Mealhada. (...)

Julião Soares Sousa já publicou outra obra intitulada “Guiné-Bissau: A destruição de um país – Desafios e reflexões para uma nova estratégia”, que se refere “às crises políticas nos últimos anos”. “É um livro de reflexão pessoal que faz apologia ao diálogo e algumas criticas à gestão”, concluiu o autor, que tem em fase terminal “cinco, seis obras”, estando para breve, tudo indica que até ao final do ano, a apresentação de “A cisão sino-soviética e as suas implicações nos movimentos de libertação das colónias portuguesas de África”.

“As minhas histórias centram-se sempre nas Guerras Coloniais”, confessa Julião Soares Sousa, que não esconde também “que está para breve o seu regresso, quem sabe definitivo, à Guiné”. “É o sitio onde está toda a minha família e o calor, que tanta falta me faz…”, concluiu, ao Jornal da Mealhada, o autor.  (...)

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16743: Agenda cultural (514): O nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado vai estar no programa Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras, no dia 23 de Novembro de 2016, pelas 21h30, na RTP África

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16745: Blogoterapia (282): Reflexões sobre a morte no adeus ao Vasco Pires (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Super Lua
Foto: © Luís Graça


1. Em mensagem do dia 16 de Novembro de 2016, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), enviou-nos esta reflexão à volta da vida e da morte, a propósito do recente falecimento do saudoso camarada Vasco Pires:


REFLEXÕES SOBRE A MORTE NO ADEUS AO VASCO PIRES

Nós somos os homens, os seres eleitos, para quem Prometeu roubou aos deuses o fogo da imortalidade, tendo sofrido um castigo terrível pelo seu crime. Todos, enquanto seres pensantes vivemos essa promessa de imortalidade, que não passa de uma ilusão, pois acaba sempre num acidente mortal que pode ter várias causas: Acidentes de carro, de barco, de avião de motociclo, por armas de fogo, explosivos, doenças prolongadas ou fulminantes, falhas orgânicas várias e outras.

A morte leva os sábios, aqueles que parecem ter atingido na Terra a sabedoria dos deuses, como leva os ignorantes, os mais simples, os que vivem mais de acordo com a natureza sem procurar decifrar os seus segredos.

A morte do homem é um mistério que vem interromper o curso de uma vida, que sendo um paradoxo, pois parece que nascemos para morrer, só se compreende quando aceitamos a ordem natural do universo e nos integramos nela, nesse eterno retorno do Inverno e da Primavera, que a uns mata e a outros faz nascer.

Por essa ordem seremos seres finitos, em que se misturam a sabedoria, a ciência, a arte e a técnica, a estupidez, a imperfeição, o mau-gosto, a lucidez e a loucura. Quisemos subir tão alto para no final termos o mesmo destino de todos os outros animais ditos irracionais. Será que ao morrermos, nos segundos finais da nossa vida, teremos a percepção de que vamos deixar de existir, voltar ao nada donde viemos? Voltar a ser o pó donde viemos, de que falam as Sagradas Escrituras: “Lembra-te, ó homem, que és pó e em pó te hás de tornar” (Gen. 3, 19).

A morte traz-nos o fim de todas as ambições e de todos os maus defeitos associados, a vaidade, o orgulho, a inveja, mas não nos torna melhores, nem mais santos mesmo quando purificados pelo fogo e transformados em cinzas no silêncio dos cemitérios. Seremos julgados pelos nossos actos pelos que nos sobreviverem mas não seremos punidos ou louvados por eles. Os mais virtuosos e puros, os que mais se privaram, os que menos pecaram terão o mesmo fim dos malvados, dos desumanos, dos desalmados, dos sanguinários e da canalha que pulula pela terra inteira.

No final, para todos, será o não-ser que não se atinge na contemplação nem se define por combinações ou jogos de palavras. Todas as tentativas de o compreender ou explicar falham por excesso ou por defeito. Poderei vir a mudar e até tornar-me num adepto fervoroso de alguma religião adepta da salvação, mas a minha verdade actual, pela ausência de qualquer fé, leva-me a estes pensamentos um pouco desgarrados, ainda que respeite as crenças de todos os meus semelhantes.

A morte do nosso grande camarada Vasco Pires, mais novo um ano do que eu, pelo choque causado, volta a trazer-me ao pensamento este tema recorrente que me tem acompanhado, por períodos com maior ou menor insistência, desde a adolescência, quando comecei a tomar consciência de que estava condenado a morrer um dia.

Gostava muito das opiniões que o Vasco escrevia sobre alguns textos meus e sobre muitos textos de outros camaradas e identificava-me muito com elas. Admirava a forma clara, leal, sóbria, delicada e humana com que se exprimia mesmo quando por vezes discordava dos outros. Tinha um conjunto de qualidades e virtudes que nem todos temos, pelo menos a mim não me sobram e o mais provável é que me faltem.

O Vasco deixou-nos, todos o sabem, no dia 31 de Outubro, era Outono em Vilarinho do Bairro, terra onde nasceu. Subitamente, suavemente, como uma folha que cai, soltou-se da árvore da vida, sem fazer ruído, presumo eu. Pelas nossas raízes rurais, com todas as vantagens e inconvenientes de crescermos em comunidades pequenas bastante repressivas e vigiadas, onde. a par de tabus e restrições antigas. se cultivavam também virtudes ancestrais, que os nossos pais e avós nos procuraram inculcar, senti-me muito próximo dele. Fomos tantos que saímos dessas aldeias do interior, e o interior começava logo a 10 quilómetros das grandes cidades, os mais intelectualizados divididos entre o fascismo, a democracia, o comunismo e o anarquismo, pois a pressão totalitária, a ignorância política, o amor pela liberdade, essa jovem sedutora e sem preconceitos, e a curiosidade, podiam-nos arrastar para qualquer desses caminhos do idealismo ou por outros caminhos de obediência a inclinações mais físicas e sensoriais.

Pela impressão que me ficou do que conheci dele através do que escreveu, e eu li, pareceu-me que terá havido afinidades que nos aproximavam, sem nunca ter um conhecimento definitivo sobre o assunto, já que nunca, para pena minha, tive uma conversa pessoal com ele.

Gostaria de ter ido, no dia 5 de Novembro, à missa de 7.º Dia em sua memória por dois motivos:
Para sentir no ambiente natural e paisagístico onde ele nasceu se conseguia intuir um pouco mais do seu espírito, para o conhecer melhor e procurar ter com ele uma comunhão espiritual mais próxima;
Para falar com alguém, camaradas, familiares ou conterrâneos dele que me ajudassem a construir melhor a boa imagem, mas incompleta que guardo dele. Infelizmente não pude ir a essa missa por motivos familiares que não me deram qualquer saída.

Acredito que há homens que são bons, puros, justos, grandes, solidários, antes de morrerem, ao Vasco Pires, recordá-lo-ei sempre como pertencendo a essa galeria de notáveis.

Preciso de boas referências para continuar esta caminhada incerta, e tu camarada és uma boa referência, como esta lua cheia, que hoje brilha no céu, com mais intensidade.

Quando morrer não quero encontrar-te porque tu estarás em lado nenhum, o mesmo lugar para onde eu irei, mas enquanto for vivo não te esquecerei, continuarás a ser esse meu amigo tão distante e tão próximo pelas vivências portuguesas e africanas, por sonhos e ideais realizados ou não.

Até sempre camarada!

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16571: Blogoterapia (281): o nosso blogue, um excecional serviço público ao dispor de todas as gerações, nacionais ou além fronteiras, onde se escreve e faz ciência histórica (Jorge Araújo)

Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...



Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > O macaco ("santchu") e o cão ("kakur")... Ou mais exatamente um babuíno, "macaco-cão" (em cativeiro) (e que é produto "gourmet"  em Bissau),  e um cão (animal que os hominídeos domesticaram há cerca de 12 mil anos). 

Foto: © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Ainda na sequência do inquérito "on line" da passada semana sobre quem come(u) ou não come(u) carne de macaco, lembrámo-nos de que há vários provérbios sobre o nosso "sancu" (ou "santchu", é assim que se pronuncia) tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde... 

É uma delícia poder lê-los,  em voz alta, em crioulo,  e entendê-los em português...  Aqui vai uma mão cheia de provérbios, recolhidos por aí,  na Net (. baseados no trabalho do ecolinguista brasileiro Hildo Honório do Couto), e uma fábula, que diz tudo sobre a necessidade (urgente) de salvar o "santchu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...

Por muitas razões, incluindo os vorazes apetites gastronómicos de alguns hominídeos, as 10 espécies de primatas que existem na Guiné-Bissau (inckuindo o "dari", o chimpanzé) estão em perigo de extinção, a médio ou a longo prazo...

Seria uma tragédia que os bisnetos de Amílcar Cabral tenham, um dia, que vir a Lisboa ao Jardim Zoológico para verem "ao vivo" o "santchu" e o "dari"... O mesmo podemos dizer nós de espécies ameaçadas ou quase extintas, em Portugal, na Península Ibérica ou na Europa como o lobo ou a águia real...

Enfim, este poste é um pequeno contributo para reforçar a nossa sensibilidade e consciência ecológicas... O planeta não tem fronteiras, a terra é só uma, homens e (outros) bichos vão ter cada vez mais que saber partilhá-la... e defendê-la!




2. Quanto à fábula do macaco e do cão...  

Comece-se por dizer que  as fábulas são pequenas narrativas, contos ou histórias, em forma oral ou escrita, em verso ou em prosa,  em que as personagens são animais (dos mamíferos às aves, dos répteis aos peixes), podendo apresentar características antropomórficas (, ou sejam, semelhantes aos seres humanos) e que fazem parte da cultura de todos ou de quase todos os povos, com ou sem escrita. Em geral, destinam-se a um público infantil e têm um propósito pedagógico, didático ou educativo, ao estabelecerem uma analogia entre o mundo da experiência dos seres humanos e as "falas" dos animais. Acabam sempre ou quase sempre, com uma "lição moral". Nas fábulas africanas, por exemplo, o mais fraco tende a triunfar sobre o mais forte, graças à sua honestidade, inteligência, capacidade de cooperação, aliança ou entreajuda... Podem também ser vistas como formas de crítica social ao poder (dominante), ao "statu quo".

 Esta "Storia di sancu ku kacur" (história do macaco e do cão) pode resumir-se em duas linhas: o macaco e o cão representam os mais fracos, sujeitos à violência, arbitrariedade e prepotência dos mais fortes (aqui respresentados pela onça, "onsa", um felino predador, que obriga  o cão a desempenhar o papel de carrasco ou torcionário, sendo o macaco a vítima...   O cão ("kacur"), humilhado e ofendido,  procura sucessivamente a ajuda de outros companheiros, mais fortes do que ele, para com eles se aliar contra a tirania da onça... Mas todos os grandalhões e valentões, da vaca ("baka") ao búfalo ("boka-branku") fogem quando chega a hora do confronto, a hora da verdade...

Acaba por um ser destemido e esperto carneiro ("kamel") quem enfrenta a onça. A luta acaba com a vitória do bem sobre o mal. E o cão e o macaco, aliados mas não necessariamente amigos,  seguem, cada um o seu caminho e o seu destino... O do macaco ("santchu") é o do mato, onde é verdadeiramente a sua casa...E o cão vai para a cidade, para o pé do seu dono, que tem um restaurante em Bissau... e que vai prometer nunca mais fazer grelhados... de carne de macaco.

Enfim, é uma uma leitura, ecológica, otimista, minha,  da velha fábula... que os guineenses vão contando de geração em geração. Espero que ainda haja macacos, na Guiné-Bissau, daqui a cinquenta anos, para as crianças de hoje possam contar aos seus netos esta e outras fábulas do tempo em que os animais falavam e eram  mais sábios do que  o bicho homem... 








3. O estudo e a divulgação do crioulo da Guiné-Bissau devem muito aos escritores e académicos guineenses, mas também a outros, especialistas lusófonos, de Portugal, de Cabo Verde e do Brasil...  

Deste último país é justo destacar o nome do especialista em ecolinguística Hildo Honório do Couto, professor titular aposentado e pesquisador associado da UnB [Universidade de Brasília]. Doutorou-se em Fonologia na Alemanha, tendo-se dedicado ao estudo do(s) crioulo(s) durante duas décadas. A ecolinguística no Brasil deve-lhe muito, sendo um pioneiro neste domínio.

È autor, entre outros títulos, de "O crioulo português da Guiné-Bissau" (Hamburg: Helmut Buske Verlag, 1994,  80 pp.).

Dessa obra consultei excertos, disponíveis aqui, incluindo a fábula que se publica (com adaptações da tradução para o português europeu; também revi o texto em crioulo, de modo a aproximá-lo da oralidade corrente: por exemplo, "santchu" em vez de "sancu", ou "tchiga" em vez de "ciga", "djuntu" em vez de "juntu"...).

A fábula do macaco e do cão também está, entre outras, reproduzida aqui (em crioulo e versão portuguesa do Brasil).

Ainda não há um a verdadeira normalização do crioulo da Guiné-Bissau ou do "guineense": há várias grafias, uma mais oficiosa (Direção-Geral da Cultura, Bissau, 1987) e outra mais académica (por ex., Luigi Scantamburlo, 1999)... O padre italiano Luigi Scantamburlo, doutorado em línguística, e há muito radicado na Guiné-Bissau (, no arquipélago dos Bijagós, desde 1975), é o autor do primeiro dicionário de guineense-português. É também direitor da ONG guineense, FASPEBI,

Para ele, "a escolha do termo guineense para designar a língua crioula é fundamental para promover melhor o estatuto nacional, veicular e inter-étnico desta língua, evitando a conotação negativa que o termo crioulo tem no país e no mundo".

Por exemplo, "sancu" (norma de 1987) é grafada como "santcu" (lê-se "santchu") no dicionário de Scantamburlo (1999); outros exemplos: bulaña (1987) e bulanha (1999)... Mas atenção: nós não somos "especialistas" do guineense, nem muito menos falantes, mas apenas "curiosos" (**)... (LG)
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Notas do editor:

(*) Sobre o crioulo da Guiné-Bissau:

Guiné-Bissau Kriol Docs

Grupu Kriol Papia Skirbi (Facenook, grupo fechado)

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de I a XXXVIII pp.

Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de 1 a 636 pp.

Gramática de Crioulo, de Luigi Scantamburlo.

Guiné 63/74 - P16743: Agenda cultural (520): O nosso camarada Paulo Cordeiro Salgado vai estar no programa Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras, no dia 23 de Novembro de 2016, pelas 21h30, na RTP África



1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), que recentemente lançou o livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor", com data de 20 de Novembro de 2016:

Caras e Caros Colegas,
Agradeço de novo, de forma reconhecida aos que se deslocaram à Associação 25 de Abril e à Fundação Portugal-África, incluindo os que não puderam estar presentes.
Quem quiser dar o próximo passo, sem sair da comodidade do sofá, pode ver a entrevista que a RTP África - programa "Mar de Letras"- no dia 23 do corrente mês (próxima quarta-feira), às 21,30, me fez.

Para mais informação carregar no link abaixo - Paulo Cordeiro Salgado - Mar de Letras - Artes e Cultura - Artes e Letras - RTP
http://www.rtp.pt/programa/tv/p32625/e33

Aceitai um abraço
Paulo Salgado

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2. Sinopse do Programa

Paulo Cordeiro Salgado 
Episódio 33 de 43 
Duração: 30 min

No próximo programa Mar de Letras a viagem começa em Torre de Moncorvo e acaba na Guiné-Bissau. Somos conduzidos pelas memórias de Paulo Cordeiro Salgado que viveu vários anos da sua vida neste país africano. Memórias que deram origem ao livro "Guiné - Crónicas de Guerra e Amor" que o autor apresenta neste Mar de Letras.

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3. Informação do editor:

O meu operador de televisão por cabo, há alguns dias, meteu na posição da RTP África,  a TVE. No entanto, continua a poder ver-se a RTP África na BOX.

Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16736: Agenda cultural (513): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau", por Mário Beja Santos, dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, Lisboa... Visita (gratuita) ao Museu de Farmácia e recital de Kora com o grande Braima Galissá!...

Guiné 63/74 - P16742: Notas de leitura (904): "Textos de Amílcar Cabral - Declarações Sobre o Assassinato" (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
Tenho procurado fazer o inventário da documentação publicada logo em 1974 sobre a obra de Cabral. Creio que este era a antologia em falta. Quem a fez, conhecia aprofundadamente o pensamento do líder do PAIGC, escolheu com conhecimento de causa um conjunto de texto apropriados para entender o pensamento e ação de Cabral, estão aqui extratos de artigos, intervenções, discursos, entrevistas, conferências e mensagens.
Tirando Cabo Verde, onde a Fundação Amílcar Cabral é operante através da publicação da sua obra, fazendo seminário e conferências, é raríssimo estudar-se Cabral, aquele pensamento revolucionário entrou em desuso ou ficou desgastado pelas desilusões que deixaram os seus seguidores na Guiné-Bissau.

Um abraço do
Mário


Textos políticos de Amílcar Cabral

Beja Santos

Penso que com esta recensão se conclui a enumeração dos livros dedicados ao pensamento de Amílcar Cabral e editados a seguir ao 25 de Abril. Neste caso trata-se de uma seleção que inclui declarações sobre o assassinato, como se verá adiante, era toda a conveniência atribuir o assassinato ao colonialismo português.

Trata-se de uma seleção com um critério sólido, quem a ela procedeu conhecia aprofundadamente a documentação de Cabral. Encontramos aqui excertos de artigos publicados a partir de 1962, intervenções, como a que fez no Centro Frantz Fanon, de Milão, o excerto do seu discurso, a “Arma da teoria” proferido na primeira conferência de solidariedade dos povos de África, Ásia e América Latina, Janeiro de 1966, Havana. É indispensável ler este documento para perceber como esta reflexão política projetou definitivamente o nome de Amílcar Cabral para o primeiro plano do movimento revolucionário. Foi um discurso que provocou celeuma, alterava a ortodoxia do pensamento marxista quanto a luta de classes e ao papel de vanguarda do partido revolucionário. Vejamos como o líder do PAIGC observava a nova realidade das revoluções do Terceiro Mundo:
“Os que afirmam – e com razão – que a forma motora da história é a luta de classes, estariam certamente de acordo para rever esta afirmação, a fim de a precisar e de lhe dar um campo de aplicação mais vasto, se conhecessem mais profundamente as caraterísticas essenciais de certos povos colonizados. Com efeito, na evolução geral da humanidade e de cada um dos povos que a compõem, as classes não aparecem nem como fenómeno generalizado e simultâneo na totalidade destes grupos, nem como um todo acabado, perfeito, uniforme e espontâneo. A definição de classes, no seio de um ou vários grupos humanos, é uma consequência fundamental do desenvolvimento progressivo das forças produtivas e das caraterísticas da distribuição das riquezas produzidas por este grupo ou confiscadas a outros grupos. Fatores externos a um dado conjunto socioeconómico em movimento podem influenciar de maneira mais ou menos significativa o processo de desenvolvimento das classes, acelerando, travando-o, ou mesmo provocando regressões”. 

E, mais adiante a sua reflexão parecia explodir como uma bomba:
“Tudo isto permite levantar a seguinte questão: será que a história só começa a partir do momento em que se desenvolve o fenómeno “classe” e por consequência a luta de classes? Responder afirmativamente seria situar fora da história todo o período de vida dos grupos humanos que vai da descoberta da caça, e posteriormente da agricultura nómada e sedentária, até à criação dos rebanhos e à apropriação privada da terra. Seria então também – o que nos recusamos a aceitar – considerar que muitos grupos humanos da África, da Ásia e da América Latina, viviam sem história no momento em que foram submetidos ao jugo do imperialismo. Seria de considerar que a população dos nossos países, tais como os Balantas da Guiné, os Koaniamas de Angola e os Macondes de Moçambique vivem ainda hoje, se abstrairmos das ligeiras influências do colonialismo às quais foram submetidos – fora da história ou sem história.
Esta recusa, baseada aliás no conhecimento concreto da realidade socioeconómica dos nossos países e na análise do processo de desenvolvimento do fenómeno “classe”, levamos a admitir que, se a luta de classes é a força motora da história, só o é num certo período dado. Isto quer dizer que antes da luta de classes – e necessariamente após – um fator, ou fatores, foi e será o motor da história. Admitimos sem custo que este fator da história de cada grupo humano é o modo de produção – o nível das forças produtivas e o regime de propriedade – que carateriza este agrupamento. Mas ainda a definição de classe e a luta de classes são elas próprias o efeito do desenvolvimento das forças produtivas conjugadas com o regime de propriedade dos meios de produção. Parece-nos pois correto concluir que o nível das forças produtivas, elemento determinante do conteúdo e da fórmula da luta de classes, é a verdadeira e permanente força motora da história”.

Consta que a sala em que ele discursou estava completamente siderada, o pensamento ortodoxo e dogmático sofria fissuras, o conceito de luta de classes e o nível das forças produtivas eram severamente questionados.

Amílcar Cabral possuía não só um pensamento político sólido como sabia encontrar fórmulas frescas para renovar o conceito das lutas de libertação: é o caso da sua apreciação sobre o papel da cultura da luta pela independência como no conceito de que a luta contra a guerra colonial transformaria a realidade portuguesa, como termo à ditadura.

Na sua mensagem de Ano Novo de 1973, Cabral profere o seu último discurso, refere-se às eleições para a primeira Assembleia Nacional que iria aprovar a constituição da República, e a reunião dessa Assembleia levaria à proclamação do Estado da Guiné-Bissau. Dentro do balanço, recorda os apoios recebidos ao longo de 1972, a guerrilha era inicialmente apoiada pela URSS e seus aliados, e com a credibilidade internacional que o PAIGC granjeara, os países escandinavos, o Concelho Mundial das Igrejas, a Cruz Vermelha Internacional e várias agências das Nações Unidas tinham passado a dar uma cooperação a favor das populações. E acrescentou:  
“… nenhum crime, nenhuma força, nenhuma manobra ou demagogia dos criminosos opressores colonialistas portugueses poderá deter a marcha da História”.

Assassinado dias depois, a 20 de Janeiro, sucedem-se as declarações de pesar e de encorajamento. Logo o PAIGC, reafirmando a sua determinação de vingar “esta traição ignóbil pela exterminação dos colonialistas e dos seus agentes corruptos”, era com esta fórmula que se procurava enredar as autoridades de Bissau ao complô de centenas de guineenses que nessa noite prenderam os quadros e funcionários cabo-verdianos. As mensagens do MPLA e da FRELIMO, por dever de ofício, atribuíam o crime ao regime colonial-fascista e exaltavam o pensamento e obra de Cabral.

Funeral de Amílcar Cabral em Conacri
Fundação Mário Soares, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16732: Notas de leitura (903): “Bijagós, Património Arquitetónico", por Duarte Pape e Rodrigo Rebelo de Andrade, fotografias de Francisco Nogueira, 2016 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P16741: Fotos à procura de... uma legenda (77): Malta da CART 2520, no Xime, em 1970: afinal de quem é o braço com relógio no pulso que está por cima do ombro do Renato Monteiro ? (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis:  da esquerda para a direita: (i) Fermandes, (ii) José Nascimento (o autor da foto).  (iii), Oliveira e (iv)  Renato Monteiro [este último, pertenceu originalmente à CART 2479 / CART 11 (1969/70), ao tempo do Valdemar Queiro:  é hoje um grande  fotógrafo do nosso quotidiano, do nosso tempo e lugares, com direito a entrada... na Wikipédia],

Foto (e legenda): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem,. com data de 20 do corrente:Valdemar Queiroz [, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]

Mais uma foto à procura de uma legenda!

Afinal de quem é o braço, com relógio no pulso, que está no ombro esquerdo do Renato Monteiro, o último à diteita . no foto? Ou por outras palavras, quem abraça quem ?

É uma grande fotografia que eu gostava, todos nós gostávamos,  que fosse o Monteiro a explicar/comentar.

Abraço.
Valdemar Queiroz
_________________

Nota do editor

Último poste da série >  20 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16739: Fotos à procura de...uma legenda (76): qual é a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947 ? (Luís Graça)

domingo, 20 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16740: Blogpoesia (481): "Suaves momentos matinais..."; "Suavidade e elegância..." e "Apagou-se a noite...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


Suaves momentos matinais…

Suaves momentos matinais,
Quando o céu refulge azul
E brilha ao sol.

E as nuvens baixas se acantonam
Ao redor baixo do horizonte,
Feitas ponte entre o céu e a terra.

Donde eu estou,
Só diviso telhados de telhas negras
Em socalcos.
E os pendões ao alto das copas nuas
Das árvores que foram princesas.

Estão cerradas as janelas
Contra o frio.
É o cansaço da semana
Que só descansa aos domingos…

Berlim, 20 de Novembro de 2016
9h36m

************

Suavidade e elegância...

O porte esbelto de girafa,
se projecta ao alto,
entre a terra e o céu.

Dromedário everest carrega cargas,
a toda a hora,
desde o chão até às alturas,
como os canecos duma nora.

Elegante bailarino roda e baila,
se entrega à sua arte,
como se fosse a sua dama.

Sempre pronto e não se cansa.
Tem a força ingente dum gigante,
a graça imensa duma garça.
Nada cobra.
É humilde e não se ufana.
É o guindaste.

ouvindo Adagieto de Mahler

Berlim, 19 de Novembro de 2016
9h32m
JLMG

************

Apagou-se a noite...

A noite apagou-se,
mas o dia nascente
é tão cinzento e pálido.
Mais valia não despertar.

Esperar que o sol,
como um avião que sobe,
emerja e rasgue
esta cortina de nuvens espessas.

De novo brilhem as cores da terra
como as pintou a Natureza.
Seja azul o mar e o céu.
Reluzam ao sol todos os tons de cor
das vestes
desde os vales até aos altos cumes.

Se cubram de algas verdes
todas as praias.

Surjam golfinhos a bailar nos rios.
Gravitem nos ares em bandos livres
todas as aves vindas de além fronteiras.

Surjam sorrisos dos rostos tristes
por mais um Inverno que nunca mais passa.

Berlim, 18 de Novembro de 2016
7h39m
JLMG
____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16714: Blogpoesia (480): "Cada dia tem sua farda..."; "Gosto das cegonhas..." e "Espanejo as minhas asas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 63/74 - P16739: Fotos à procura de... uma legenda (76): qual é a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947 ? (Luís Graça)


Lourinhã > 5 de novembro de 2015 > Igreja de Santa Maria do Castelo, meados do séc. XIV, estilo gótico. Provavelmente construído sobre um anterior tempo românico, depois da "reconquista" aos mouros, em 1147 > Rosácea que encima a porta principal, virada para poente. A perfeição da simetria...Batizei-me lá, em 1947...E gosto de lá voltar, para admirar, entre outaras coisas, os seus capitéis, de motivos vegelatistas,que são considerados um das obras primas do naturalismo do séc. XIV.


Alfragide > 14 de novembro de 2016 > 19h45 > A lua vista da minha janela... A superlua, dizem os astrónomos... Nunca soube por que é que os cães, os lobos e os lobisomens ladram (ou ladravam)  à lua... Nem nunca  a gente via a superfície da lua, assim "tão perto"... No meu tempo, não havia telescópios nem máquinas de fotografia com zoom macro para tirar fotos como esta...

Quando a gente andava na escola, nos meados dos anos 50 do séc. XX, ainda se contava a lenda, segundo a qual estas  "manchas" que se viam, a olho nu, na superfície lunar,  seriam  nada mais nada menos bem  do que a figura de um pobre  camponês com um molhe de lenha (ou silvas) às costas,  depois de expulso da terra e condenado a  expiar, por toda a eternidade, o execrável pecado de trabalhar ao domingo, o dia santo do Senhor!...

O grande Galileu, mal amado, perseguido pela Santa Inquisição, ainda não chegara à minha escola de meados do séc. XX... Observando  a superlua da minha janela, através do macrozoom da minha Panasonic Lumix, não descortino o tal homenzinho que fazia parte do meu imaginário infantil... Afinal, a sua silhueta era formadas pelas crateras da lua, as tais "manchas" que eram visíveis, cá da terra,,,, A Ciência, afinal,  também pode matar as nossas fantasias infantis...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição;  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



1. Confesso que não sei responder à pergunta (*) sobre qual  a relação que existe entre a superlua de 14 de novembro de 2016 e a rosácea do tempo gótico do séc. XIV, onde fui batizado em 1947. 

Também nunca soube por que é que os cães, os lobos e os lobisomens ladram à lua... Há uma história mitológica qualquer,,,

A lua fascina-nos, e já aqui publicámos diversos postes sobre a lua lua e a nossa relação com ela (**)... Pode ser que alguém, dos nossos leitores, tenha uma resposta...

De qualquer modo, "ladrar à lua" significa "fazer ameaças vãs", "ameaçar alguém a quem não se pode tocar ou fazer mal"... No fundo, é revelador de  um comportamento de bravata...

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Guiné 63/74 - P16738: Banco do Afecto contra a Solidão (20): últimas... mas poucas.. Estou sem computador... Camaradas, sou vítima daquilo que criei (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

1. Mensagem do Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68]

Data: 15 de novembro de 2016 às 00:14
Assunto: ÚLTIMAS... MAS POUCAS

Camaradas

Estou sem computador. Caiu água na minha secretária e fiquei sem computador. Só na casa do meu filho tive acesso ao Blogue.

Estranho ter enviado mensagens para o Luís e Carlos e não me terem respondido.

Estou numa fase confusa da minha vida. Não perco batalhas. Naquelas em que me envolvi saí sempre vencedor.

Verdade que nada tirei de partido. Desde estudante; fundador de um jornal estudantil; crítico de cinema; Ajudante de padeiro (com carteira profissional) - meu pai depois de trabalhar para patrões com a profissão de padeiro, saiu-lhe a Sorte Grande e tornou-se Industrial de Panificação; fui para o Serviço Militar OBRIGATÓRIO - nunca fui voluntário. Era contrário a essa guerra, podia dizer que era padeiro mas não o fiz, essa não era a minha profissão.

Fui um vagabundo na Recruta, Especialidades - mas essas guerras, por serem guerras perdi-as todas. O pior foi saber dos milhares de jovens que morreram e ficaram deficientes. Morreram muitos amigos. Todos os militares merecem a minha consideração.

Na guerra perdida fui um bom militar. Não fui medalhado, também por não querer. Salvei de morte certa o Capitão e Alferes, entre outros e outras. Fui professor de adultos; construtor civil entre aqueles atributos. Comandei 90 militares africanos (Praças "U" e Caçadores Nativos). Tive 4 comandantes de pelotão, no meio de tudo comandei eu.

E as minas. Dos 4 especialistas, morrem numa granada armadilhada o maue amgo,  furriel miliciano Vitor José Correia Pestana e o soldado Costa.

Outro Amigo de MA [Minas e Armadilhas], António Magalhães Maia cia num aramadilha e fica ferido e o alferes milicianp Sousa Teles apanha tamanho susto que nunca mais pega em MA. Resto eu...

Safei-me e regresso diferente. Tanta merda fiz. Cumpri sempre. Nunca enganei ninguém. Baldar-me. Paludismo e vezes e foi o amigp furriel miliciano Durães que me safou. Estava dispensado, mas não houve saídas para Operações.

Regressei e fui um bom Profissional - Lapidador de Diamantes. Passaram pela DIALAP 1000 e muitos, talvez mais perto dos 2000 trabalhadores, alguns pouco tempo. Juntos mais de 600. Fui sindicalista; estive numa greve em janeiro de 1974 como delegado de sector. Eleito no pós 25 de
Abril, delegado de sector e entre os delegados fui dos 3 executivos da Comissão de Reestruturação.

Fui Cooperativista, estando na origem da COOP LISBOA (acho que ainda existem uns restos). Andei metido no 25 de Abril até às raízes dos cabelos. Era outra história.

Fiquei até à última meia centena de Trabalhadores da DIALAP. Gostaria de saber de quem é o Património da DIALAP - onde se encontram a RTP e RDP.

Fui Autarca. Fundador e membro da Comissão de Moradores do Campo Grande. Ocupei o Asilo D. Pedro V. Foram lá colocados umas 50 pessoas sem posses.

Despedido aos 53 anos. Fundador e Dirigente da APOIAR - Associação de Apoio aos Ex Combatentes Vítimas do Stress de Guerra. Foram 11 anos. Fui uns meses vogal da Direcção Nacional, substituí o secretário. 4 anos vice-presidente e 6 presidente e responsável por toda a Legislação. Destaco o trabalho do 1º Presidente da APOIAR, Jorge Manuel Alves dos Santos
(curiosamente também colaborou com o Blogue). Foi ele a escolher-me para fundador e 1º director do Jornal APOIAR. Vários anos no cargo.

Cheguei a escrever artigos para quase todos jornais.

Tinha ideias e avançara no terreno, era só assinar Protocolos para que a Rede Nacional de Apoio às Vítimas do Stress Pós Traumático de Guerra funcionasse em todo o Território Português.

Fui um dos 3 presidentes a assinar Protocolo com o Ministério da Defesa Nacional.

Ainda sou dirigente da Academia de Seniores de Lisboa e fundador do Jornal "Olhar do Mocho" e 1º director.

É de pasmar... Cortam-me o apoio, primeiro o Psicológico, depois o Psiquiátrico, no momento mais grave de saúde da minha vida. Já viram,  camaradas, sou vítima daquilo que criei.

Escrito no computador do meu filho. Estou sem computador.

Tenho imensos problemas de saúde. Estou vivo. Passei por um outro "corredor da morte".

Nem tive tempo de rever o que escrevi. Já passa das 24h00

Cumprimentos,
Mário Vitorino Gaspar
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16698: Banco do Afecto contra a Solidão (19): Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74): está hospitalizado, com graves problemas de saúde... Vamos mandar-lhe uma palavrinha solidária (Juvenal Amado)

sábado, 19 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16737: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10): A música das nossas vidas: "Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz, cuja amada esposa se chamava Isabel e vivia a 5 mil km de distância, em Vila Real, Portugal...


Foto nº 1A > Xime > CART 2520  > c. 1970 > Furriéis, à direita Renato Monteiro, seguindo-se o Oliveira, o José Nascimento e  o Fernandes


Foto nº 1


Foto nº 2 A > Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da esquerda paar a direita, fur Renato Monteiro,  um dos picadores e  o fur José Nascimento


Foto nº 2


Foto nº 3A  > Xime > CART 2520 > c. 1970 > 1º. srgt  Vaz à direita, a seguir furriéis Nascimento e Soares...

Foto nº 3 


Foto nº 4


Foto nº 4 A A>  Xime > CART 2520 > c. 1970 > Da direita para a esquerda:  sentados, fur Monteiro, fur Durão e 2º. srgt  Zé do Ó. De pé, também da direita para a esquerda, fur Costa, fur Nascimento e Mancaman, filho do chefe dos picadores [, Mancaman Biai].

Guiné > Zona leste > Setor L1 >  Xime | CART 2520 (1969/71)

Fotos (e legendas): © José Nascimento (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 11 do corrente,  do nosso amigo e camarada algarvio José  Nascimento (ex-fur mil art, CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71):

Caro amigo e camarada Carlos Vinhal,

Aqui vai a história de um pequeno episódio passado entre o fur mil Renato Monteiro e o 1º. srgt Vaz,  da minha Cart 2520.

Já tive a felicidade de me encontar algumas vezes com o Renato Monteiro [, hoje escritor e fotógrafo,], mas o 1º. sgrt Vaz nunca mais o encontrei, creio até que já faleceu, gostava de o ter encontrado para lhe dar um grande abraço, isto apesar de ter havido algumas divergências entre nós, contudo existiu sempre muito respeito e sã camaradagem.

Um grande abraço,
José Nascimento 


2.  Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (10) > A música das nossas vidas: "Isabelle, Isabelle, Isabelle, mon amour"... ou o braço de ferro entre o fur mil Renato Monteiro e o nosso primeiro Vaz

por José Nascimento


Isabelle era a música preferida do furrriel Renato Monteiro e esta com alguma frequência dava umas voltas no pequeno gira-discos que morava no balcão do pequeno bar de sargentos no Xime.

Isabel vivia em Vila Real, ou nas suas proximidades, na longínqua Metrópole, amada esposa do 1º. sargento Vaz a quem já tinha dado dois rebentos, um na pré adolescência, o outro alguns anos mais novo. Já com alguns meses de Guiné,  a saudade do 1º. Vaz pela sua Isabel roía-lhe a alma.

Sempre que se proporcionava, o Renato Monteiro saltava para dentro do balcão do bar e punha às voltas a sua Isabelle preferida. Só que de tanto ouvir "chamar" por Isabelle,  a do Charles Aznavour, o 1º. sargento Vaz lembrava-se da sua Isabel, a que tinha ficado a milhas de distância,  e a sua cabeça também começava às voltas, girava, girava, ou melhor, entrava em parafuso.

Até chegou ao ponto de tentar proibir que o Monteiro ouvisse a sua música preferida, fazendo uso do maior número de divisas amarelas que ostentava sobre os seus esqueléticos ombros.

"Monteiro, não quero ouvir essa música",  vociferava o 1º. sargento.

"Mas se eu gosto?!," retorquia o furriel.

Normalmente ou era um, ou era outro que cedia e quando era o 1º sargento, refugiava-se na secretaria, batendo com alguma violência a já carcomida porta que a separava do bar de sargentos.

Até que um dia...

Mais uma vez o Monteiro liga a pequena máquina e entra em rotação a sua Isabelle, Isabelle, Isabelle mon amour (**).

De repente salta de dentro da secretaria, qual fera enfurecida,  o 1º. sargento Vaz.

"Outra vez Monteiro?!",  berrou.

Dirige-se ao pequeno gira-discos, saca a Isabelle do rotativo prato e exclama furioso:

"Agora só vai ouvi-lo no fim da comissão".

Enraivecido, enfia-se na secretaria e mete o pequeno disco no cofre aí existente e fecha-o à chave.

Não sei qual foi o destino desta Isabelle, se foi libertada ou se ficou prisioneira no cofre da CART 2520,  mesmo sem ter ido a julgamento. (***)

Um grande abraço para esta Tabanca que cada vez será maior.

José Nascimento
______________


(**) Letra da canção de Charles Aznavour (c. 1965/66):

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Les heures près de toi
Fuient comme des secondes
Les journées loin de toi
Ressemblent à des années
Qui donnent à mon amour
Un goût de fin du monde
Elles troublent mon corps
Autant que ma pensée

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

Tu vis dans la lumière
Et moi dans les coins sombres
Car tu te meurs de vivre
Et je me meurs d'amour
Je me contenterais
De caresser ton ombre
Si tu voulais m'offrir
Ton destin pour toujours

Isabelle Isabelle Isabelle Isabelle
Isabelle Isabelle Isabelle mon amour

[Letra reproduzidas com a devida vénia, a partir daqui:
http://www.paroles.net/charles-aznavour/paroles-isabelle#OXimuDIQg7WdWApW.99]

[Vd. também oágina oficial do cantor: Charles Aznavour (n. 1924),  O cantor francês, de origem arménia, vai atuar em Lisboa no próximo dia 10 de dezembro de 2016...Aos 92 anos!!! ]

Tradução (rápida) de LG:

As horas perto de ti
fogem como segundos,
os dias longe de ti
parecem  anos,
dando ao meu amor
um gosto de fim do mundo,
e perturbando tanto o meu corpo
como o meu pensamento

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

Tu vives na luz
e eu em cantos escuros,
porque tu morres de vida
e eu morro de amor.
Contentar-me-ia
em acariciar a tua sombra
se tu quisesses oferecer-me
o teu destino para sempre.

Isabel Isabel Isabel Isabel
Isabel Isabel Isabel,  meu amor

(***) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12684: Memória dos lugares (263): O Xime, ao tempo da CART 2520 (1969/71), comandada pelo cap mil António dos Santos Maltez, natural de Aveiro (Renato Monteiro)

Guiné 63/74 - P16736: Agenda cultural (519): Lançamento do livro "História(s) da Guiné-Bissau", por Mário Beja Santos, dia 6 de Dezembro de 2016, pelas 18 horas, no Auditório do Museu da Farmácia, Rua Marechal Saldanha, Lisboa... Visita (gratuita) ao Museu de Farmácia e recital de Kora com o grande Braima Galissá!...



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2016:

Meus queridos amigos,

Dos cerca de 40 livros que escrevi, este foi o mais doloroso.
Como na tragédia grega, eu já conhecia o final, trágico e nebuloso. Anda um autor dois anos a vasculhar papel e a organizar 40 anos da vida de um novo Estado onde, pela extrema combatividade da guerrilha e da natureza genial do seu líder, Amílcar Cabral, procura superar assassinatos, execuções, genuínos e falsos golpes de Estado, e tem que questionar-se amargamente que futuro está destinado a este belo e paupérrimo país.

O que venho pedir-vos é a vossa companhia neste lançamento, a apresentação fica a cargo de dois renomados investigadores, Eduardo Costa Dias e António Duarte Silva, cabe-lhes falar sobre este empreendimento que é um pontapé de saída para que um dia se escreva, com mais fundamentos e factos comprovados, e numa sequência narrativa científica a História da Guiné-Bissau.

Não é preciso que adquiram o livro, visitem primeiro o Museu da Farmácia e oiçam depois um recital de Korá por um dos griots guineenses mais afamados, mestre Braima Galissá.

Antecipadamente grato pela vossa presença.

O Museu da Farmácia fica na Rua Marechal Saldanha, junto ao miradouro de Santa Catarina, metro Baixa-Chiado, elevador da Bica, elétrico 28.

A visita gratuita ao museu é entre as 17 e as 18h.

Junto o texto da contracapa do meu livro.

Um abraço do
Mário

*************


Guiné-Bissau, povo mais esperançado e afável não há 

Aqui se contam histórias que excedem meio século. Um engenheiro especializado em erosão de solos pôs em movimento uma luta pela independência, juntou numa só pessoa o construtor de uma nacionalidade, um hábil diplomata, um exímio cabo-de-guerra, um ideólogo de pensamento singular, tudo somado deu um líder revolucionário que surpreendeu Che Guevara e que Nelson Mandela admirava profundamente.

São também histórias de uma República que devorou muitos filhos da revolução, uma nação que continua a ter extrema dificuldade em reconhecer-se no Estado. A nação é surpreendente, aquele mesclado de etnias revê-se na bandeira e no solo pátrio, expulsou invasores e nunca abandona a esperança de que depois das últimas eleições os políticos escolhidos vão alevantar o Estado. Um povo sedento de justiça aguarda dias melhores. 
São estas algumas dessas histórias que aqui se contam por alguém que nunca quebrou o feitiço guineense. 

Porque nunca o preço do amor pela Guiné é ou será excessivo.
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Nota do editor

Último poste da série  > 18 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16734: Agenda cultural (512): "A Europa a ferro, fogo e gás (1914-1918)", de Graça Fernandes: apresentação do livro pelo cor inf ref Manuel A. Bernardo, 3ª feira, dia 22, às 18h00, no Palácio da Independência, Lisboa

Guiné 63/74 - P16735: Parabéns a você (1164): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (Guiné, 1970/72)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16725: Parabéns a você (1163): José António Viegas, ex-Fur Mil Art do Pel Caç Nat 54 (Guiné, 1966/68)

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16734: Agenda cultural (518): "A Europa a ferro, fogo e gás (1914-1918)", de Graça Fernandes: apresentação do livro pelo cor inf ref Manuel A. Bernardo, 3ª feira, dia 22, às 18h00, no Palácio da Independência, Lisboa






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1. A sugestão (e o convite) chegou-nos, à caixa do correio, em 15 do corrente, pela mão do cor inf ref Manuel A. Bernardo, escritor  e leitor do nosso blogue:

Caro(a) Amigo(a):
No dia em que vou comemorar os 60 anos de entrada na então Escola do Exército (agora Academia Militar) difundo a apresentação deste livro da minha amiga e ex-colega da Univeridade Católica, Graça Fernandes, já com quatro livros publicados. Pode ser considerada como uma investigadora especialista da época da 1.ª Guerra Mundial que assolou a Europa.

O livro da Graça Fernandes, "A EUROPA A FERRO, FOGO E GÁS (1994-1918), é prefaciado pelo General Sousa Pinto, Presidente da Comissão de História Militar e tem posfácio do Professor João Luís Fernandes da Universidade de Coimbra.

Espero por vós no Salão Nobre da Sociedade Histórica para a Independência de Portugal, ao Rossio, Lisboa, na próxima semana (terça-feira).

Ab/Bjs, MB

3. Outras atividades na 4.ª e 5.º semanas de novembro de 2016 na Sociedade Histórica - Convite das Comemorações do 1.º de Dezembro de 2016


(i) INAUGURAÇÃO DE EXPOSIÇÃO DE PINTURA, SEXTA-FEIRA, DIA 18 DE NOVEMBRO DE 2016, ÀS 18H00

Exposição de Pintura de Rouslam Botiev “Aproximações a Cervantes e a Shakespeare”, na Galeria Fernando Pessoa do Palácio da Independência, seguida de palestra do Escultor Francisco Simões, com intervenções da Prof.ª Doutora Annabela Rita e do Prof. Doutor Renato Epifânio (A exposição vai estar patente até ao dia 2 de dezembro)


(ii) CONFERÊNCIAS

Segunda-feira, 21 de novembro, às 18h00 - “Aviação nos Açores: da 2ª Guerra Mundial aos dias de hoje”, pelo cor eng Eduardo Brito Coelho, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP;

Terça-feira, 22 de novembro, às 17h00 – “História da Arte dos Jardins”, pela Arq.ª Pais.ª Sónia Talhé Azambuja e “Carácter, Ambiente e Elementos do Jardim Português”, pelo Arq.º Pais.ª Miguel Coelho de Sousa;

Segunda-feira, 28 de Novembro, às 18h00 - “O acidente de Camarate”, pelo Cor Victor PilAv (Ref.) João Lopes de Brito, promovida pelo Instituto Bartolomeu de Gusmão da SHIP.

(iii) APRESENTAÇÕES E LANÇAMENTOS DE LIVROS

Apresentação, no dia 23 de novembro, às 15h00, da obra literária do Prof. Doutor René Pélissier (autor de “Le Naufrage des Caravelles. Études sur la fin de Empire Portugais, 1961-1975”; “História de Moçambique, formação e oposição, 1854-1918” e “História de Angola”) no âmbito das Tertúlias Fim do Império.

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P16733: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (23): Ainda a história rocambolesca do David Costa, meu camarada, que terá sido capturado pelo PAIGC em 17 ou 18 de maio de 1967, entre Mansoa e Braia, e que andou desaparecido 3 a 4 meses... (Jorge Lobo, ex-1º cabo at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68)


Guiné > Mapa geral da província > Escala 1/500 mil (1961) > Posição relativa de Mansoa e Braia (NT) e Iracunda e Morés (PAIGC). O David Costa que saiu do quartel de Mansoa por volta das 15h do dia 17 de maio de 1967, terá seguido, sem rumo, na direção de Braia (onde havia um destacamento das NT) e sido intercetado nesta região, mais tarde,  por forças do PAIGC que o levaram até à base do Morés e depois para o Senegal, Ziguinchor, onde terá conhecido o médico, português, desertor, e militante do PAIGC, Mário Pádua.

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2016)


1. Comentário do nosso camarada Jorge Lobo ao poste P16721 (*)

Relativamente ao comentário que a nossa Tabanca Grande fez ao poste do  Jorge Araújo, eu gostaria de acrescentar algo ao que eu próprio já tinha cá escrito sobre a deserção do David Costa.(**)

Ora bem, depois da cena da carta com a fotografia que alegadamente teria sido enviada pela namorada de um camarada do David, de nome, Chantre, 1º cabo enfermeiro da Cart 1660, o David acabrunhado com a situação decidiu sair do quartel de Mansoa vagueando pelos arredores
da vila até se perder no terreno.


1º cabo at art, Jorge Lobo, CART 1660 (Mansoa, 1967/68),
subunidade que esteve adida aos BCAÇ 1857 e BCAÇ 1912.
Tem um pequeno blogue, com 9 postes publciados
desde 2011, Guiné 1967/1968. Vive em Corroios,. Setúbal,

Eu estava na caserna no momento em que começou a sua odisseia, isto em 17/05/1967. A sua saída do quartel aconteceu por volta
das 15 horas,   logo após a distribuição do correio....

Entretanto, anoiteceu e deduzo que o David se tenha desorientado seguindo a estrada na direção de Braia [- Infandre-Bissorã].

Pelo que ele conta no seu livro, viu as luzes do quartel de Braia (?) ou então Cutia, mas decidiu não arriscar a entrar dentro do arame farpado.

Sou de opinião que o pessoal das tabancas na saída de Mansoa-Braia colaboraria com os guerrilheiros do PAIGC e,  ao ver aquele militar fardado, só e desarmado,  a sair da vila, provavelmente comunicou isso ao PAIGC. Tê-lo-iam seguido durante a noite, penso que o local da captura não seria muito longe do quartel, talvez entre Mansoa e Braia.

Os guerrilheiros do PAIGC teriam capturado o rapaz [, já no dia 18 de maio de 1967,]  tendo-o levado para a zona de Morés e arredores, nomeadamente para Iracunda,  perto da estrada que liga Bissorã a Mansabá. É uma região que conheço bem devido a várias emboscadas e ataques que lá fui fazer com a Cart 1660.

O rapaz, após a sua captura teria estado em alguns acampamentos do PAIGC incluindo na mata de Iracunda perto da estrada Bissorã-Mansabá e onde a minha companhia posteriormente fez um golpe de mão com vário material de guerra apreendido. Iracunda situava-se junto à tal picada, Bissorã-Mansabá, que na altura estava intransitável devido a imensas árvores que o PAIGC atravessou nessa via e que eu próprio constatei em várias operações  em Morés.

De Iracunda o David deve ter partido em direção ao Senegal (Zinguichor), levado pelo grupo do PAIGC, o mesmo grupo que o tinha antes capturado.
  Recordo que o David esteve desaparecido cerca de 3 a 4 meses, período este em que viveu a sua terrivel odisseia atravessando a Guiné entre Morés, Zinguichor, etc, odisseia que só ele saberá contar em pormenor.

Sei que depois do seu regresso a Mansoa, ele foi interrogado no quartel Foi até bastante mal tratatado chefe de operações do BCAÇ 1912 ao qual a Cart 1660 estava agregada, tendo inclusive saído com uma das companhias desse batalhão na tentativa de se conseguir que ele os levasse aos locais que antes ele tinha visitado, o que não foi conseguido porque o David compreensivelmente não conseguiu descobrir o seu anterior trajeto até à sua captura.

Segundo o rapaz contou na altura, o regresso dele foi feito através de Dacar, mas também já li por cá outras histórias diferentes em relação ao local onde a avioneta militar o foi buscar no Senegal.

Está correta a data da sua saída do quartel, 17/05/1967.
O caso da fuga do Daniel Alves deve ter acontecido já depois do julgamento do David, ao qual eu assisti, ao vivo.

O meu camarada foi condenado a 2 anos,  um mês e um dia de prisão nos primeiros dias de novembro de 1968, cerca de uma semana antes da CART 1660 ter regressado à metrópole. (***)

Jorge Lobo, 1º cabo Lobo, atirador da CART 1660 (Mansoa, 1967/68).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de novembro de 2016~>  Guiné 63/74 - P16721: Notas de leitura (892): (D)o outro lado do combate: memórias de médicos cubanos (1966-1969) - Parte XII: O caso do médico militar, especialista em cirurgia cardiovascular, Virgílio Camacho Duverger [III]: o encontro, em Boké,com o médico português Mário Pádua (Jorge Araújo)

(**) Último poste da série > 15 de novembro de  2016 > Guiné 63/74 - P16722: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (22): Quem terá sido o Daniel Alves, "duplamente desertor" ? Primeiro, fugiu das nossas fileiras, possivelmente em 1967, e depois das fileiras do PAIGC... Amilcar Cabral, traído e preocupado, escreveu: "O Daniel Alves conseguiu enganar a malta (sic) e fugiu em Dacar. É um facto banal numa luta (deserção ou traição), mas pode complicar-nos muito a vida em relação aos amigos"....

(***) Sobre o caso do David Costa, vd. ainda os postes de;

5 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16686: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (18): Mais um caso "atípico", o de David [Ferreira de Jesus] Costa, ex-sold at art, CART 1660, Mansoa, 1967/68 (Virgínio Briote)

27 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7351: Controvérsias (112): David Costa, da CART 1660 (Mansoa, 1966/68): Déserteur malgré-lui ? / Desertor à força ? (Jorge Lobo, ex-1º Cabo, CART 1660)

23 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6776: Notas de leitura (133): Desertor ou Patriota, de David Costa (Mário Beja Santos)