terça-feira, 10 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18508: Tabanca Grande (463): Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA (F 86 e Fiat G91) da Força Aérea Portuguesa (BA 12, 1967/69), Grã-Tabanqueiro 772 da nossa tertúlia

1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano Mário Santos, ex-1.º Cabo Especialista MMA da BA 12, 1967/69, com data de 5 de Abril de 2018:

Olá camarada

Gostaria de me juntar ao teu/vosso blogue, uma vez que cumpri comissão na Guiné como Mecânico na Esquadra de Tigres de Bissalanca, onde operavam os Aviões Fiat G-91. Foram cerca de quase 2 anos na linha da Frente da Base Aérea 12.
Teria todo o gosto em contribuir com o meu historial e espólio na ajuda à divulgação da nossa acção e sacrifício em prol desta Pátria que infelizmente nos tem injustamente negado o reconhecimento colectivo da nossa relevância e dignidade na História.

Um abraço,
Mário Santos
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2. Resposta do coeditor no mesmo dia:

Caríssimo camarada Mário Santos

Teremos o maior prazer em te receber na nossa tabanca de infantes, onde têm lugar especial os outros Ramos das Forças Armadas, a saber, a Força Aérea, já bem representada no Blogue, e a Marinha, esta com menos participantes.

Como saberás temos no blogue três pilotos, os agora TGeneral António Martins de Matos e o Coronel Miguel Pessoa, e o ex-Alf Mil Pilav Jorge Félix, além dos Especialistas, Arnaldo Sousa, Jorge Narciso, Victor Barata e Vítor Oliveira (, cito dr cor). Não podemos esquecer os nossos camaradas das Companhias de Caçadores Paraquedistas e as nossas queridas Enfermeiras Paraquedistas que se quiseram juntar à nossa tertúlia.

Para fazermos a tua apresentação formal à tertúlia queremos saber de ti:

- O nome, Posto, Especialidade, Unidade, data de ida e regresso da Guiné e outros elementos que aches ajudem a conhecer-te melhor. Se quiseres podes indicar a localidade da tua residência actual.
- Queremos uma foto actual e outra, fardado, dos velhos tempos de Guiné, e como "jóia de admissão", uma pequena história que servirá de apresentação à tertúlia, com uma ou outra foto, se for o caso.

Claro que se tiveres material fotográfico e textos que nos queiras ir enviando para publicação, entrarás no grupo daqueles que deixam aqui o seu testemunho para memória futura. 

O nosso Blogue é já hoje uma fonte de pesquisa para quem quer escrever sobre a guerra de África, particularmente sobre a Guiné. Não é raro pedirem-nos para utilizar uma ou outra foto, a que acedemos depois da devida autorização do seu proprietário intelectual.

Ficamos ao teu dispor para outros esclarecimentos.
Recebe um abraço do camarada

Carlos Vinhal
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3. Ainda no mesmo dia nova mensagem do nosso camarada Mário Santos

Caro Camarada Carlos

Agradeço a tua prontidão na resposta, tal como a recepção dada ao meu pedido de ser incluído no vosso magnifico blogue.
Agora e de acordo com a tua sugestão, passo a apresentar-me e a informar de que as minhas fotos, tal como o meu inicio histórico na Guiné seguirá em anexo junto a este mail. 

Uma das fotos retrata a minha chegada juntamente com os então Tenentes Pilotos José F. Nico e Rui Balacó. As restantes, tal como pedes é uma actual e outra ainda menino na BA 12 em 1967.

Espero que o meu convívio no seio do blogue, assim como a minha colaboração sirva para o enriquecimento da nossa tertúlia.

Fui 1.º Cabo Especialista MMA, (Mecânico de Aviões) com MTU "Especializado" nos Aviões F-86 "Sabre" e Fiat G-91.

O meu percurso na Força Aérea teve inicio a 1 de Junho de 1966 na Base Aérea 2 "Ota" e terminou a 31 de Julho de 1970 na Base Aérea 5 em Monte Real.

Sobre os camaradas da Força Aérea mencionados no teu mail, direi que sou amigo do Pil./Av. Jorge Felix com quem cumpri comissão na BA 12 na Guiné. Conheço também o Gen. António M. Matos e o Coronel M. Pessoa, mas que me recorde, nunca me cruzei com nenhum deles, uma vez que quando chegaram à Guiné já eu teria terminado o meu serviço quer na Guiné e também saído da nossa Força Aérea.

Também o camarada Victor Oliveira se for quem penso, terá cumprido a comissão em Bissalanca na mesma altura que por lá andei.
Sou também amigo do Gen. Pil./Av. José F. Nico, com quem colaborei directamente na BA 12 e de quem sou amigo. Sei que ele tem comparecido a alguns dos vossos convívios na Tabanca da Linha.
Espero que a minha introdução tenha sido satisfatória.
Grande abraço.
Mário Santos

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Mário Santos actualmente


Uma memória com 50 anos! 

Cumprem-se hoje, 28 de Setembro, 50 anos da minha chegada à Guiné no HC-54 Skymaster 7504.

Guardei para sempre a recordação da abertura da porta de cabine dos passageiros e da baforada de ar quente rançoso e húmido, proveniente de águas paradas e dos muitos rios lodosos existentes no território.

Esta foi a antevisão desagradável do que nos esperava: um clima doentio e que marcaria indelevelmente para sempre as nossas vidas.

Para além de muitos outros de quem não guardo memória, chegaram no mesmo voo os Tenentes José Nico e Rui Balacó.

Com eles convivi na Esquadra de Fiat's até ao fim da comissão.

Foram cerca de 22 meses em que interagimos diariamente na Esquadra de Tigres, eu como Mecânico na Linha da frente e eles Pil./Aviadores.

Pragmaticamente todos aceitámos o drama de guerra, irregular, assimétrica e mortífera que enfrentaríamos no futuro imediato, lutando para tentar preservar um legado deixado pelos nossos antepassados.

A guerra na Guiné teve características muito diferentes da que se travava em Angola e Moçambique.

A elevada organização da guerrilha e a forma como a sua luta se iniciou, através de acções de combate e não com massacres como em Angola, eram reveladores das dificuldades que as FA iriam ter neste território. O movimento de gerrilheiros contra o qual iríamos lutar, era o Partido Africano para a Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC).


BA 12, 1967 - Mário Santos

Na Guiné, não só os factores históricos e a hostilidade da geografia e do clima tornaram difícil a actuação das FA, como também as independências da Guiné-Conakry (1958) e do Senegal (1960) tiveram um importante papel na condução da guerra. Estes dois países foram uma importante fonte de apoio aos guerrilheiros do PAIGC, proporcionando-lhe refúgio a Norte, Leste e Sul, onde puderam estabelecer as suas bases e desencadear acções militares . O nível de organização do movimento e o armamento moderno de que dispunha (armas automáticas, morteiros, RPG’s, metralhadoras anti-aéreas) possibilitou aos guerrilheiros evoluírem de tal forma rápida que, em 1965, já tinham estendido a sua actuação a todo o território.

Para piorar a situação militar portuguesa, em termos de apoio aéreo, fundamental para a nossa defesa, devido a pressões exercidas pelos EUA, a FAP foi obrigada a retirar da Guiné os oito F-86F, a principal arma de ataque aéreo de que dispunha. Desde a retirada destes, em finais de Outubro de 1964, e a chegada dos seus substitutos, os novos caças FIAT G-91 R4 adquiridos à Alemanha Ocidental.

As missões de apoio aéreo próximo às forças no terreno foram entretanto garantidas pelas aeronaves T-6G. Este era um avião que estava longe de possuir o mesmo poder de fogo do anterior F-86F ou do posterior FIAT G-91 R4, o que terá contribuído para que no período de dezoito meses entre a saída de uns e a entrada ao serviço de outros, a guerrilha tenha reforçado a sua presença no terreno, especialmente na região a Sul.

A inferioridade dos guerrilheiros na guerra aérea levou a que desde cedo procurassem anular esta vantagem da FAP, recorrendo para tal ao uso de artilharia anti-aérea e mais tarde ao míssil russo Strella AS-7. No entanto em minha opinião, terá sido precisamente o cansaço dos militares face a uma guerra sem solução política previsível e o ataque aos seus interesses corporativos de classe, os principais factores que levaram as FA a voltar a conspirar contra o regime, acabando por o derrubar em 1974.

Aqui deixo o meu abraço de grande estima ao General J. Nico e ao Coronel R. Balacó (que felizmente ainda se encontram entre nós) assim como a todos os companheiros de todas as Esquadras e que contribuíram com o seu esforço e as suas vidas para Portugal poder ter orgulho nos seus filhos que lutaram com honra e dignidade para preservar o que nos tinha sido legado!


As fotos não têm grande qualidade, devido às arcaicas câmaras fotográficas, mas são todas genuínas. A foto do Skymaster foi tirada pouco antes do seu abate e posterior desmantelamento, sendo portanto a mais recente e com melhor qualidade.
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4. Resposta imediata do coeditor:

Caríssimo Mário

Acuso a recepção da tua mensagem com as fotos e texto.

Quanto ao Gen Nico, não o conheço porque estou muito longe da Tabanca da Linha, moro em Matosinhos, distrito do Porto.

Quanto ao TGen Martins de Matos e ao Cor Miguel Pessoa, conheço-os bem, melhor o Miguel com quem me dou excelentemente.

O Jorge Félix já não vejo há tempos embora more aqui perto, em Gaia.

Logo que faça o poste da tua apresentação mando-te notícia.

Recebe um abraço

Carlos
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5. No dia seguinte dizia-nos o Mário Santos:

Bom dia e obrigado.
Cá ficarei a aguardar com expectativa. Eu resido no Algarve em Loulé... Por isso também a minha dificuldade em reunir com as tertúlias e os amigos.

O país é pequeno, mas estamos espartilhados. E ainda por cima, parte da minha vida, embora que com residência aqui no Sul nos últimos 30 anos, parte foi passada na África do Sul e Inglaterra.

Hoje estou reformado, mas exerci como Engenheiro Técnico. Vida de nómada...
Mário Santos
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6. Comentário do coeditor:

Caro Mário Santos,

Bem-vindo ao Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, escolhe um lugar junto à janela e começa a navegar na nossa página, onde tens muitas memórias de antigos combatentes que palmilharam aquele chão avermelhado, tingido muitas vezes com o seu sangue, avermelhando-o ainda mais. Sangue derramado também, não podemos esquecer, pelos nossos camaradas guineenses e pelos outros guineenses, os que estavam do outro lado da barricada.

As vossas memórias são diferentes porque diferente era a perspectiva da guerra, daí a nossa curiosidade em conhecê-las. Felizmente temos entre nós três pilotos que muito escreveram sobre as suas vivências, das mais trágicas, caso do camarada Miguel Pessoa, derrubado por um míssil Strela, às mais humoradas, como algumas das do camarada António Martins de Matos.

Esperamos que dentro da tua disponibilidade, nos possas, aos poucos, deixar aqui as tuas fotos e relatos da tua passagem por Bissalanca, onde passaste dois anos da tua juventude, carregando a responsabilidade de teres operacionais as aeronaves pilotadas pelos nossos bravos gloriosos malucos das máquinas voadoras.

Em termos estatísticos (ou históricos), és o Grã-Tabanqueiro nº 772 da nossa tertúlia.

Recebe um abraço em nome da tertúlia e dos editores.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18498: Tabanca Grande (462): António Lopes Pereira, ex-1º cabo atirador de infantaria, 4º Gr Comb, CCAÇ 3305/BCAÇ 3832 (Mansoa, Braia e Infandre, 1970/1973): tem um café e restaurante no Porto e vive em Matosinhos; passa a ser o nosso grã-tabanqueiro nº 771

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18507: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel de Monte Real, 5 de Maio de 2018 (4): A menos de um mês, temos já c. 30% de inscrições: 58 em 200 lugares (máximo). Camaradas e amigos, não deixeis para o fim, mandai o vosso pedido de inscrição para: carlos.vinhal@gmail.com


Infografia. Miguel Pessoa (2018)


LISTA DOS PRIMEIROS 58 INSCRITOS NO XIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE, LEIRIA, MONTE REAL, 5 DE MAIO DE 2018 (LOTAÇÃO MÁXIMA DA SALA D. DINIS: 200 LUGARES / 20 MESAS DE 10)



Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Acílio Azevedo & Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos
António Joaquim Alves - Malveira / Mafra
António José Pereira da Costa & Isabel - Mem Martins
António Mário Leitão - Ponte de Lima
António Martins de Matos - Lisboa
Armando Pires - Algés / Oeiras


Carlos Cabral & Judite - Pampilhosa
Carlos Pinheiro - Torres Novas
Carlos Vinhal & Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos


David Guimarães & Lígia - Espinho
Diamantino Ferreira e Emília - Leiria

Ernestino Caniço - Tomar

Hernâni Alves da Silva & Branca - Vila Nova de Gaia

João Francisco M. Antunes & Julieta - S. Domingos de Rana / Cascais
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria
Jorge Canhão & Maria de Lurdes - Oeiras
Jorge Pinto & Ana - Sintra
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais
José Barros Rocha - Penafiel
José Casimiro Carvalho - Maia
José Miguel Louro & Maria do Carmo - Lisboa
José Saúde - Beja
Juvenal Amado - Amadora

Luís Graça & Alice Carneiro - Lourinhã
Luís Moreira & Irene - Sintra
Luís Paulino & Maria da Cruz - Algés / Oeiras
Luís Rainha & Dulce - Figueira da Foz


Manuel Augusto Reis - Aveiro
Manuel José Ribeiro Agostinho & Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos
Manuel Lima Santos & Maria de Fátima - Viseu
Mario Magalhães & Fernanda - Sintra
Miguel Pessoa & Giselda Pessoa - Lisboa


Ricardo Figueiredo - Porto
Rogério Cardoso & Maria Teresa - Cascais

Silvino Correia d'Oliveira - Leiria

Virgínio Briote & Maria Irene - Lisboa


XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande, Palace Hotel Monte Real, 
sábado, 5 de maio de 2018, ementa


2. Recordamos aqui os preços de inscrição (que se mantêm como no ano passado), bem como  os preços que o Palace Hotel Monte Real (4 estrelas) nos faz (, para quem quiser pernoitar,) e ainda a ementa das refeições (3) do nosso convívio: aperitivos (das 13h00 às 14h00), almoço (14h00-15h30), lanche ajantarado (18h00-19h00)
Carlos Vinhal, Leça da Palmeira,
Matosinhos,  coordenador
da Comissão Organizadora


Preço do almoço e lanche - 35,00€ (adultos)

Crianças até aos 12 anos - 18,00€

Para quem quiser pernoitar no Palace Hotel:


Alojamento single - 50,00€

Alojamento duplo - 60,00€ 

A Comissão Organizadora

Carlos Vinhal (email: carlos.vinhal@gmail.com )
Joaquim Mexia Alves
Luís Graça
Miguel Pessoa
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Guiné 61/74 - P18506: Convívios (848): XXVIII Encontro do pessoal da CCAÇ 2381 - "Os Maiorais", dia 5 de Maio de 2018, em Abrantes (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Mensagem do nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, QueboMampatá e Empada, 1968/70), com data de 7 de Abril de 2018, com a notícia do XXVIII convívio dos Maiorais, coincidente com os 50 anos da partida da Companhia para a Guiné.

Carlos, boa noite, 

A Companhia de Caçadores 2381 - Os Maiorais, embarcou no Niassa no dia 1 de Maio de 1968 com destino à Guiné, ou seja, vai fazer cinquenta anos de embarque. 
No dia anterior, os militares da Companhia receberam a farda de camuflado, assistiram à Missa, ouviram um sermão carregado de patriotismo e desfilaram pela cidade de Abrantes ao som da fanfarra, tendo como companheiros o pessoal da C.Caç 2382 e C.Caç 2383. Tiveram direito a almoço melhorado e partiram ao principio da noite para a estação do Comboio com destino a Lisboa, onde chegaram no outro dia de manhã. O comboio foi parando pelo caminho para receber mais carne para canhão. 
O Niassa estava à nossa espera e depois de mais um desfilo e um discurso inflamado de um militar de gordos amarelos nos ombros, o barco, pelas 10 da manhã, arrotou violentamente. Levantou ferro, carregado como um burro e só parou às portas de Bissau. 
Felizmente, cerca de dois anos depois não se esqueceu de voltar a Bissau para trazer o pessoal que restava. Agora somos poucos. Três ficaram lá a regar aquela terra inóspita, trinta e cinco foram feridos e muitos deles anteciparam o regresso. Os que restam e tem saúde e condições físicas e monetárias encontram-se todos os anos desde 1990 para comemorar. Muitos já ficaram pelo caminho, outros não conseguimos localizá-los, outros nem querem ouvir falar da Guiné e ainda há os que por razões monetárias, falta de apoio familiar ou por razões profissionais perderam o rasto e não aparecem. 
Seria um prazer imenso para os Maiorais encontrarem-se todos este ano em Abrantes no quartel. Aqui deixamos o apelo. 
Venham daí.
José Teixeira

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CCAÇ 2381 "OS MAIORAIS"


Chegou à Guiné a 6 de Maio de 1968, proveniente de Abrantes.
Seguiu directamente para Ingoré, no norte, onde se instalou até meados de Julho, tendo efectuado aí o treino operacional.
Foi deslocada para Aldeia Formosa no sul da Guiné, onde teve, como missão, fazer escoltas de segurança às colunas-auto com mantimentos entre Aldeia Formosa, Buba e Aldeia Formosa, Gandembel, ao mesmo tempo que garantia a auto defesa de Aldeia formosa, Mampatá e Chamarra.

Em Janeiro de 1969 seguiu para Buba. 
A sua missão desdobrou-se na protecção ao pelotão de Engenharia que procedia aos trabalhos de abertura da nova estrada entre Buba e Aldeia Formosa e os trabalhos de combate à penetração do inimigo na área de defesa local.

Completou a sua missão na Guiné, a partir de Maio de 1969 até ao regresso em Maio de 1970, no Sub-sector de Empada, por cujo comando foi responsabilizada, tendo mantido dois grupos de combate em Buba até Dezembro do mesmo ano.

Os principais objectivos globais da actividade desenvolvida em teatro de guerra foram:
- Evitar o alastramento da subversão e atrair as populações à defesa comum dos objectivos por que se lutava em nome da Pátria.
- Garantir a protecção necessária às populações. Verificar e ajudar na sua auto defesa.
- Escorraçar o inimigo, criando-lhe um clima de insegurança e enfraquecê-lo nas suas capacidades, quer morais, quer operacionais e anímicas.
- Garantir o reabastecimento com segurança e eficiência a Aldeia Formosa, Gandembel, Mampatá e Chamarra, através de colunas auto e ou protecção às mesmas.
- Garantir a segurança aos homens e máquinas que dinamizavam o projecto de abertura da nova estrada de Buba para Aldeia Formosa, não permitindo nesta sua acção, que o Inimigo contrariasse o espírito de incrementar melhoramentos no modo de vida das populações, que o governo da Colónia estava a desenvolver.

Aplicou-se com garra e dinamismo para atingir as missões que lhe foram atribuídas, com o cuidado necessário para regressar completa, como era o seu sonho e compromisso de partida.

Recebeu várias referências honrosas dos comandos a cujas ordens serviu, das quais se salienta o seguinte louvor:

"Louvo a CCAÇ 2381 pela sua actuação no sub-sector de Empada, o qual mantém devidamente controlado pela persistente tenacidade do seu Comandante. E não é de estranhar o valioso contributo que deu à luta por uma GUINÉ MELHOR, no período em que esteve dependente do BCAÇ 2892, uma vez que antes disso, sempre demonstrou nas inúmeras acções em que esteve empenhada, desde o início da sua Comissão na Província, em 6 de Maio de 1968, possuir em alto grau espírito de missão. Tendo actuado no Norte da Guiné e depois na Zona Sul, na maioria dos sub-sectores do “S- 2” e em Gandembel, evidenciou através dos seus valiosos combatente, sacrifício, coragem e muita abnegação em todas as missões em que foi incumbida.
Por tudo isto e na hora da sua partida para a Metróple, bem merecem Oficiais, Sargentos e Praças da CCAÇ 2381, serem lembrados como exemplo, aos camaradas que depois deles continuam a luta pela causa comum".

O.S. nº 37 de 11de Fev./70 do BCAÇ 2892

Infelizmente não foi possível cumprir o objectivo principal que se propunham atingir – o de voltarem todos à mãe Pátria. 
Lamenta-se a morte de dois combatentes em missão e um por acidente, para além de 35 feridos, alguns dos quais tiveram de ser evacuados para Lisboa.

Do seu historial de combate, regista-se:
- Montou 405 emboscadas
- Fez 93 escoltas a colunas auto com mantimentos ou de construção da estrada de Buba.
- Participou em 479 Patrulhas e em 15 Operações de Guerra.
- Capturou cerca de meia tonelada de diverso material de guerra.

O Inimigo também não deu tréguas:
- Sofreu 50 ataques a aquartelamentos e 16 emboscadas, dos quais resultaram os mortos e feridos acima mencionados.

“OS MAIORAIS”,  totem com que se identificavam os seus homens, durante a Missão na Guiné, tinham como lema “Pela Lei e pela Grei”, o qual reflectia o espírito que os animava – Fazer cumprir a Lei, sem esquecer nunca que os autóctones com quem se cruzavam e que procuravam viver em paz com Portugal, eram pessoas, independentemente da raça ou cor e como tal teriam de ser respeitadas.

Regressou a Lisboa em Maio de 1970 consciente de ter cumprido a missão que lhe tinha sido atribuída.

(Extraído da História da Companhia)


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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18479: Convívios (847): XXXV Encontro do pessoal da CCAÇ 2317, dia 9 de Junho de 2018, no Restaurante Santa Luzia - Fátima (Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf)

Guiné 61/74 - P18505: Notas de leitura (1056): Colóquio Internacional "Bolama Caminho Longe" (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Maio de 2016:

Queridos amigos,
Na década de 1990, no âmbito de uma iniciativa destinada a revitalizar a cidade de Bolama, realizou-se um colóquio internacional onde houve intervenções de muitíssima boa qualidade, tem todo o cabimento dar-lhes aqui guarida.
Neste texto dá-se voz a um belíssimo trabalho do investigador francês sobre testemunhos de viajantes em torno de Bolama. A ilha sempre fascinou navegadores, comerciantes e aventureiros, convém recordar que os primeiros relatos de ocupação do arquipélago apontam para o período quatrocentista, cresceu depois a importância dos negócios ao longo do rio Grande de Buba, no continente, os Beafadas, que habitavam na zona costeira fizeram frente ao povo Bijagó. Temos descrições sobre os Bijagós com data de 1457, registos cartográficos a partir de 1468 e relatos de André Alvares de Almada e Duarte Pacheco Pereira de grande importância. E o processo de crescimento de Bolama ficou indissociavelmente ligado à região de Quínara e rio Grande de Buba. Pela sua posição geográfica, atraía a navegação marítima estrangeira e daí a aura de grande beleza com que irá ser descrita em documentos nacionais e estrangeiros.

Um abraço do
Mário


À procura da identidade de Bolama: 
Imagens da capital segundo relatos de viajantes europeus (2)

Beja Santos

Na obra dedicada ao colóquio internacional “Bolama Caminho Longe, Bolama entre a generosidade da natureza e a cobiça dos homens”, coordenada por Carlos Cardoso, edição do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa, Bissau, 1996, há um curioso texto assinado por Jean-Michel Massa, da Universidade da Bretanha, Rennes, França, dedicado às razões porque se escolheu Bolama como capital, em 1879.

O autor intenta proceder a uma reflexão sobre factos convergentes, decisivos, que levaram a que, contra toda a expetativa que existia quanto a duas aglomerações urbanas importantes, Cacheu e Bissau, a escolha recaiu sobre Bolama. Mais do que simbolicamente, esta escolha era interpretada como um corte com o cordão umbilical, depois de vários séculos de uma extensa mas vaga referência aos Rios de Guiné do Cabo Verde surgia a Guiné Portuguesa com uma capital de praticamente de raiz. Bolama não surgiu de repente. Navegadores e viajantes referem o Rio Grande, os Bijagós, a Ilha das Galinhas, a ponta de Bolama no Sul da ilha. E o autor exemplifica com a Descrição da Serra Leoa e dos Rios da Guiné e de Cabo Verde, de André Donelha, 1625, fala-se da ponta de Bolama que é terra dos Beafares (Beafadas) que está diante do Rio Grande de Guinala e Biguba (Buba) e acrescenta Donelha: “Indo correndo da Ponta da Bolama para ir ao chamado Rio Grande, sendo pequeno, ficando a terra de Bolama já nos Beafares, à nossa mão esquerda”. Lemos Coelho (1669) dirá que Bolama e a Ilha das Galinhas estavam desabitadas. O holandês Olfert Dapper (1668) referirá o Rio Grande mas não fará qualquer referência a Bolama. O senhor de La Courbe na sua primeira viagem à costa de África, 1685, fará referência expressa à ilha de Bolama e tecerá um comentário edénico, falando mesmo de elefantes e da existência de muitas fontes.

Jean-Michel Massa chama a atenção para outros testemunhos, procurando dissociar os viajantes que relatam o que viram e os viajantes que se limitam a dizer o que leram de outros viajantes. Para o investigador é em finais do século XVII, princípios do século XVIII que se irá definir o lugar de Bolama. O relato de Labat, Relação da África Ocidental, 1728, em sete volumes revela que o autor nunca esteve m Bolama mas construiu uma imagem bastante favorável da ilha. Galberry, que escreveu Fragmentos de uma viagem a África, 1802, também não conheceu Bolama, mas não deixa de fazer uma exaltação quase apoteótica às belezas da ilha. Estamos já numa época em que diferentes viajantes franceses incitam os seus compatriotas a instalarem-se no paraíso bolamense.

Monumento aos aviadores italianos falecidos em Bolama, imagem retirada do blogue Cadernos da Libânia, com a devida vénia

Antes de falar de Philip Beaver que irá estabelecer em Bolama, em 1792, uma importante colónia inglesa que redundará num completo fracasso, refere com muitos pormenores Duas Descrições Seiscentistas da Guiné, de Francisco Lemos Coelho, como se segue:
“Não terá mais do que quatro léguas de circuito mas é formosa e tem logo à entrada mui bons portos; a terra é fertilíssima, mui cheia de palmeirais e de árvores fruteiras, mui abundante de madeiras para fazer grandes fábricas de navios; tem um rio que a costa da terra de Guinala o qual tem um boca no Rio Grande, e a outra sai fora de fronte da ilha de Bissau, aqui é que o capitão Cristóvão de Melo foi de parecer que havendo de se mudar a povoação de Cacheu fosse para aqui, sendo forçoso ficar como no meio da Costa da Guiné, a viagem da Serra Leoa fica muito mais perto, a povoação de Geba para o negócio da cola dentro de casa, os Bijagós em frente; sobretudo livre de tantos perigos com tem a barra de Cacheu e serem aqui logo os brancos senhores da terra em que moram e podem fazer logo fazendas e em Cacheu não serem senhores nem da água que bebem; quando Sua Majestade que Deus guarde puser os olhos neste império então se fará o que parecer mais acertado”.

Noutra descrição, Lemos Coelho dar-nos-á uma versão muito semelhante ao que vimos atrás:
“Nesta ilha de Bolama foi de parecer o capitão Cristóvão de Melo (homem muito prático e antigo da Guiné quando se falava em mudar a povoação de Cacheu, que em nenhuma parte convinha que fosse a principal povoação e assistência do capitão-mor senão nesta ilha. Esta ilha fica no meio de toda a Costa da Guiné: a viagem de Serra Leoa mais perto, mais perto a povoação de Geba para o negócio da cola; os Bijagós de frente, a viagem da Costa e Gâmbia a mesma viagem, e menos riscos de baixios; os vizinhos caseiros o melhor gentio, que são os Beafadas”.

Está finalmente esclarecida a escolha de Bolama: a situação geográfica, a abundância da água, a vegetação, a terra fértil. Também o capitão Philip Beaver irá escrever um relato de 500 páginas sobre Bolama e os seus predicados. Como se disse atrás, Beaver irá instalar 275 colonos ingleses, o fracasso foi total. Na sua sequência, começará a disputa entre Inglaterra e Portugal, a Inglaterra irá alegar os direitos adquiridos pelas terras compradas e Portugal irá destacar a antiguidade dos seus direitos na região. A arbitragem do presidente norte-americano Ulysses Grant será favorável a Lisboa. Os oito anos que irão decorrer entre 1871 e 1879 permitirão a organização da infraestrutura administrativa: o distrito de Bolama a par dos distritos de Cacheu e Bissau, será instalada uma comissão municipal e criada uma paróquia. A criação de uma alfândega tornou-se o símbolo da presença colonial. E a cidade cresce. Entretanto, a França estende os seus tentáculos em toda a região de que é hoje o Senegal, iremos perder Ziguinchor.

Imagem da estátua hoje desaparecida do presidente Ulysses Grant, inaugurada em 1955, retirada com a devida vénia do blogue Bolama Minha Terra

Data de 1834 a descrição de Bolama pelo naturalista alemão Richard Greef. Ele desembarcou aqui em 17 de Novembro de 1879 e descreve a ilha luxuriante, as ruas da cidade em fase de pavimentação e pormenoriza informação sobre os insetos. Por essa época surge o Almanaque de Lembranças Luso-brasileiro. Veja-se Gaudêncio da Silva Gonçalves a descrever Bolama:
“Situada na embocadura do Rio Grande, tem um óptimo ancoradouro abrigado pela terra-firme, que lhe fica fronteira. O comércio é ali mantido por quatro ou cinco fortes casas francesas, cujas ramificações se estendem até Bissássema e Cacheu. O solo é feracíssimo de uma vegetação espontânea e maravilhosa e o clima é o mais salubre da Senegâmbia. Pelos esforços do governo da metrópole que, com tanta solicitude procurou promover nestes últimos tempos o engrandecimento das colónias, a Guiné Portuguesa acaba de ser levada à categoria de província ultramarina”.

No termo da sua comunicação, e seguramente olhando à volta a desolação de uma cidade em abandono, Jean-Michel Massa faz a exaltação da Imprensa Nacional, para ele um raio de luz para o renascimento da cidade, um renascimento sobre a égide da cultura.

Em anexo ao seu texto dá à estampa a carta de Claude Trouillet, datada de 26 de Maio de 1882 em que diz que a ilha é um porto natural magnífico, todo o comércio está nas mãos dos franceses, a nação francesa é muito amada aqui a tal ponto que certas tribos dos Bijagós arvoram nas suas pirogas o pavilhão da França. E acrescenta:
“A ilha tem de ponta a ponta 27 ou 28 quilómetros e a sua largura é de 10 a 11. Os rios que servem para o transporte de mercadorias são: Geba, Rio Grande, o Tombali e o Cacine, mais ao Sul, nas possessões francesas, o Compony, os rios Nuno e Pongo. Bolama é sobretudo frequentada pelos Nalus, Bijagós, Papéis, Brames e Fulas”. E descreve depois as riquezas e as potencialidades da colónia portuguesa, dizendo que em Bolama havia um governador com o posto de coronel, alfândega, hospício militar e igreja católica e que na cidade se publicava o Boletim Oficial do Governo-Geral da Província de Cabo Verde. E conclui: “Consideramos que é dever dos franceses fazer tudo o que estiver ao seu alcance para colonizar um país que em breve será cobiçado pelos nossos vizinhos da Europa”.
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Nota do editor

Poste anterior de2 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18477: Notas de leitura (1054): Colóquio Internacional "Bolama Caminho Longe" (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 6 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18492: Notas de leitura (1055): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (29) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18504: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (27): Visita de uma delegação do PAIGC a Missirá, em julho de 1974, no âmbito dos acordos de cessar-fogo - Parte I


Foto nº 9/10


Foto nº 9A/10


Foto nº 9 B/10


Foto nº 9 C/10


Foto nº 9 D/10


Foto nº 9 E/10


Foto nº 9 F/10

Guiné > Região de  Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 >  c. julho de 1974 > São 10 fotos para a história, são documentos históricos, estes... As NT "deixam-se fotografar" com uma delegação do PAIGC, que vem (sempre) armada,  em "visita de paz" ao destacamento e tabanca de Missirá, na sequência do processo de cessar-fogo e negociação da paz...

Na foto nº 9/10,  do Pel Caç Nat 52 só parecem estar 3 militares metropolitanos: o alf mil at inf Luís Mourato Oliveira e dois cabos... Em duas outras, aparece um furriel miliciano, cujo nome desconhecemos e que era de elevada estatura. Deve ter sido ele que tirou as fotos nº 9/10 e 8/10.


Foto nº 8/10


Foto nº 8A /10


Foto nº 8 B / 10

Guiné > Região de  Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Missirá > Pel Caç Nat 52 >  c. julho de 1974 >  Da direita para a esquerda, (i) o Luís Mourato Oliveira, comandante do  Pel Caç Nat 52; (ii)  o comandante do PAIGC (ou, mais provavelmente,  comissário político: aparece noutra foto a falar à população local e aos militares do destacamento; traz pistola à cintura e usa botas);  e (iii) o porta-estandarte do PAIGC (que usa sapatilhas, vem desarmado e que aparenta um ar jovem e tímido, nunca olhando para o fotógrafo). O momento é de alguma formalidade, o que não impede o comandante português de pôr a mão no ombro do guerrilheiro do PAIGC, num gesto amistoso. Este, por sua, tem uma pose cerimonial, com a mão direita no cano da arma, com a  bandoleira no ombro,  e a mão esquerda na ilharga, junto ao coldre da pistola. Enfim, detalhes... (LG)


Fotos (e legendas): © Luís Mourato Oliveira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

1. Mais fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, tem raízes na Lourinhã (Marteleira e Miragaia), pelo lado materno. Durante a sua comissão no CTIG foi sempre um apaixonado pela fotografia... Fotografou quase tudo... e neste caso algumas das últimas cenas da presença portuguesa no TO da Guiné.

São 10 fotos ("slides" digitalizados) da visita, a Missirá, de um grupo do PAIGC, menos que um bigrupo. Missirá era o destacamento mais a norte, no regulado do Cuor, do setor L1 (Bambadinca). Provavelmente estes homens do PAIGC pertenciam à base de Sara-Sarauol,  no Morés, a noroeste de Madina / Belel (aonde fui, com o Beja Santos, na sequência da Op Tigre Vadio, iniciada em 30 março de e terminada em 1 de abril 1970).

As fotos vieram, sem legendas, mas "falam por si". Em conversa, ao telefone,  com o Luís Mourato Oliveira, fiquei a saber o seguinte: 

(i) as fotos foram tiradas em Missirá, destacamento de que ele foi o último comandante [para a história, registe-se que o primeiro comandante do Pel Caç Nat 52, tendo estado também em Missirá,  foi o alf mil Henriques Matos (Bolama e Enxalé, 1966/68), nosso grã-tabanqueiro da primeira hora];

(ii) foi na altura do cessar-fogo e das primeiras visitas do PAIGC aos aquartelamentos e destacamentos das NT, mais provavelmente em julho de 1974; 

(iii) em agosto, o Pel Caç Nat 52, tal como todas as outras subunidades baseadas em em militares do recrutamento local (tal como a CCAÇ 12, por exemplo) foram dissolvidas; 

(iv) o Luís Mourato Oliveira não fez formalmente a entrega do destacamento de Missirá: foi pessoalmente, de viatura, com um 1º cabo condutor auto, até à base mais próxima do PAIGC, a norte (talvez Madina /Belel ou Sara-Sarauol...) assistir à cerimónia (simbólica) da "transferência de soberania" com o hastear da bandeira da nova república; 

(v) os tipos do PAIGC ficaram "chateados" de ele não vir acompanhado do pessoal do seu Pel Caç Nat 52 (que entretanto já tinha sido dissolvido). 

Recorde-se  com a Lei 7/74 de 26 de Julho,  Portugal encetava formalmente o processo de descolonização (**)  e a 26 de Agosto, após mais uma longa ronda negocial, Portugal e o PAIGC chegavam finalmente  a um acordo de paz em Argel, na presença do presidente argelino Houari Boumedienne: o Estado português comprometia-se a retirar as suas tropas do novo território até, no máximo, a  31 de outubro desse ano, reconhecia a independência da República da Guiné-Bissau (a partir de 10 de setembro de 1974) e confirmava o direito à independência de Cabo Verde, em termos a definir em negociações à parte (mas que ficava marcada para 12 de julho de 1975)..

Antes disso, e logo na sequência do 25 de Abril de 1974,  o PAIGC reuniu primeiro em Dacar (16 de maio) e depois em Londres (25 de maio) com as novas autoridades portuguesas, representadas por Mário Soares (Ministro dos Negócios Estrangeiros) e o ten-cor Almeida Bruno, delegado de Spínola. As conversações, com o Aristides Pereira, e sob mediação senegalesa,   não foram conclusivas, permitiram no entanto  chegar a um acordo de cessar-fogo (não "de jure" mas "de facto"), em 16 de maio. As negociações iriam prosseguir, mas  agora em Argel.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > Regulado do Cuor > Missirá > S/d  [ c. 1968/69] > 

"Um momento de Missirá: à esquerda. Madiu Colubali, baixo de corpo, grande de coragem. Grande conhecedor do Corão e da escrita marabu; à direita, o régulo Malã Soncó, em perfeito traje de  chefe mandinga - figura bíblica, bravura sem igual. Atrás, o pequeno monumento que os rebeldes destruíram e nós reconstruímos. Ao fundo, à esquerda, a mesquita. À direita, cubata destruída no ataque de  [6 de ] setembro [de 1968]. Tudo tão belo"... 

Foto (e legenda): Mário Beja Santos (2006).

2. Voltando à fotos nº 9/10 e 8/10:

O homem de branco deve ser o imã local, o "padre" lá da terra, Mané, como lhe chamava o Beja Santos (que comandou o Pel Caç Nat 52, entre 1968 e 1970)...

Parece haver ainda um alferes de 2ª linha (foto nº 9F /10), talvez o comandante de milícia de Finete, na segunda fila, de pé, na ponta direita (foto nº 9/10)...

Os soldados guineenses do Pel Caç Nat 52, maioritariamente fulas, não se terão querido misturar... com este "grupo do PAIGC", cujo chefe, vestido de cáqui castanho, deve ser o que está à esquerda do nosso camarada Luís Mourato. Inclino-me mais para a hipótese de ser o comissário político (foto nº 8/10).

 À esquerda do tipo do PAIGC há um militar, de camuflado, guineense, que deve ser do Pel Caç Nat 52 (Foto nº 9 D/10). E há um outro, em mangas de camisa, na primeira fila, na ponta direita (Foto nº 9 C/10). Além do "padre Mané" (o imã da mesquita de Missirá), há civis que tanto podem ser da tabanca de Missirá como "acompanhantes" do grupo do PAIGC, talvez "simpatizantes" ou "militantes". Ou simplesmente soldados do Pel Caç Nat 52, naquele dia de folga... Ou eventualmente até algum jornalista: por exemplo, quem será o tipo, de T-shirt azul, à direita do cmdt do Pel Caç Nat 52 ? (Foto nº 9 C / 10). (***)

(Continua)  
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 12 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18407: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, ago 73 /ago 74) (26): Os "animais, nossos amigos"...

(**) Portugal, Lei n.º 7/74 de 27 de Julho 

Tendo o Movimento das Forças Armadas, através da Junta de Salvação Nacional e dos seus representantes no Conselho de Estado, considerado conveniente esclarecer o alcance do n.º 8 do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas Portuguesas, cujo texto faz parte integrante da Lei n.º 3/74, de 14 de Maio;

Visto o disposto no n.º 1, 1.º, do artigo 13.º da Lei n.º 3/74, de 14 de Maio, o Conselho de Estado decreta e eu promulgo, para valer como lei constitucional, o seguinte:

ARTIGO 1.º

O princípio de que a solução das guerras no ultramar é política e não militar, consagrado no n.º 8, alínea a), do capítulo B do Programa do Movimento das Forças Armadas, implica, de acordo com a Carta das Nações Unidas, o reconhecimento por Portugal do direito dos povos à autodeterminação.

ARTIGO 2.º

O reconhecimento do direito à autodeterminação, com todas as suas consequências, inclui a aceitação da independência dos territórios ultramarinos e a derrogação da parte correspondente do artigo 1.º da Constituição Política de 1933.

ARTIGO 3.º

Compete ao Presidente da República, ouvidos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado e o Governo Provisório, concluir os acordos relativos ao exercício do direito reconhecido nos artigos antecedentes.

Visto e aprovado em Conselho de Estado. Promulgado em 26 de Julho de 1974. Publique-se.

O Presidente da República, ANTÓNIO DE SPÍNOLA.

(***) Vd. postes anteriores com fotos do álbum do Luís Mourato Oliveira, respeitantaes ao setor L1, tiradas em lugares como Bambadinca, Mato Cão, Fá Mandinga  e Missirá:

9 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17227: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (14); Uma horta em Missirá, no regulado do Cuor

11 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...

22 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17073: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (12): Bambadinca (a "cova do lagarto", em mandinga) e algumas das suas gentes

21 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"

23 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16981: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (10): 28 de outubro de 1973, dia de festa ecuménica, a festa do fim do Ramadão (Eid-ul-Fitr) no... Mato Cão

14 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16954: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (9): cenas do quotidiano do destacamento de Mato Cão

9 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16936: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (8): o comandante do destacamento de Mato Cão "travestido" de... mandinga

23 de dezenmbro de 2016 > Guiné 63/74 - P16873: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (7): o destacamento de Mato Cão - Parte III: a construção da tabanca

12 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16828: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (6): o destacamento de Mato Cão - Parte II

7 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16808: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (5): o destacamento de Mato Cão - Parte I

4 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16797: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-al mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (4): A nosso Natal de 1973, onde não faltou nada, a não ser o cartão de boas festas dos nossos vizinhos de Madina / Belel

Guiné 61/74 - P18503: Parabéns a você (1417): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Cor PilAv Ref Miguel Pessoa, ex-Tenente PilAv da BA 12 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor:

Último poste da série de 8 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18499: Parabéns a você (1416): José Augusto Miranda Ribeiro, ex-Fur Mil Art da CART 566 (Guiné, 1963/65)

domingo, 8 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18502: Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias (António Graça de Abreu) - Parte XXXIII: Colombo, capital do Sri Lanka ou Ceilão ou "Taprobana", 15-16 de novembro de 2016


Foto nº 1 > Colombo >  O emblemático edifício da Cargills  Ceylon Limited, fundada em 1844.



Foto nº 2 > Colombo, mesquita muçulmana


Foto nº 3 > O CR7, Cristiano Ronaldo

Foto nº 4 > Na. Sra. Fátima e os Três Pastorinhos



Sri Lanka ou Ceilão > Colombo > 15 e 16 de novembro de 2016


Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação das crónicas da "viagem à volta ao mundo em 100 dias", do nosso camarada António Graça de Abreu, 
Escritor, poeta, sinólogo, ex-alf mil SGE, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 200 referências, é casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos, João e Pedro. Vive no concelho de Cascais.

2. Sinopse da série "Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias"

(i) neste cruzeiro à volta do mundo, o nosso camarada e a sua esposa partiram do porto de Barcelona em 1 de setembro de 2016; [não sabemos quanto despenderam, mas o "barco do amor" deve-lhes cobrado uma nota preta: c. 40 mil euros, estimanos nós];

(ii) três semanas depois de o navio italiano "Costa Luminosa", com quase três centenas de metros de comprimento, sair do Mediterrâneo e atravessar o Atlântico, estava no Pacífico, e mais concretamente no Oceano Pacífico, na Costa Rica (21/9/2016) e na Guatemala (24/9/2017), e depois no México (26/9/2017);

(iii) na II etapa da "viagem de volta ao mundo em 100 dias", com um mês de cruzeiro (a primeira parte terá sido "a menos interessante", diz-nos o escritor), o "Costa Luminosa" chega aos EUA, à costa da Califórnia: San Diego e San Pedro (30/9/2016), Long Beach (1/10/2016), Los Angeles (30/9/2016) e São Francisco (3/4/10/2017); no dia 9, está em Honolulu, Hawai, território norte-americano; navega agora em pleno Oceano Pacífico, a caminho da Polinésia, onde há algumas das mais belas ilhas do mundo;

(iv) um mês e meio do início do cruzeiro, em Barcelona, o "Costa Luminosa" atraca no porto de Pago Pago, capital da Samoa Americana, ilha de Tutuila, Polinésia, em 15/10/2016;

(v) seguem-se depois as ilhas Tonga; 
(vi) visita a Auckland, Nova Zelândia, em 20/10/2016;
(vii) volta pela Austrália: Sidney, a capital, e as Montanhas Azuis (24-26 de outubro de 2016);

(viii) o navio "Costa Luminosa" chega, pela manhã de 29710/2016, à cidade de Melbourne, Austrália;
(ix) visita à Austrália Ocidental, enquanto o navio segue depois para Singapura; o Graça de Abreu e esposa alugam um carro e percorrem grande parte da costa seguindo depois em 8 de novembro, de avião para Singapura, e voltando a "apanhar" o seu barco do amor...

(x) de 8 a 10 de novembro. o casal está de visita a Singapura, seguindo depois o cruzeiro para Kuala Lumpur, Malásia (11 de novembro); 
(xi) Phuket, Tailândia (12-13 de novembro);

(xii) Colombo, capitão do Sri Lanka ou Ceilão ou Trapobana (segundo os "Lusíadas", de Luís de Camões. I, 1), em 15-16 de novembro. de 2016;

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;



3. Viagem de volta ao mundo em 100 dias > Sri Lanka ou Ceilão, Colombo,  15-16  de novembro de 2016 (pp. 53-53-56, da Parte II)


Junk ceylon sete vezes referida na Peregrinação [, de Fernão Mendes Pinto]


Colombo, Sri Lanka ou Ceilão

Uma abordagem acelerada a Colombo, capital do Sri Lanka, não dá para tirar quaisquer tipo de conclusões sobre este país que, oficialmente, tem um nome curioso, República Democrática Socialista do Sri Lanka. Para o nosso Camões, há cinco séculos atrás, logo no Canto I, na estrofe inicial de “Os Lusíadas”, esta terra era a ilha da Taprobana.

Hoje, República Democrática, não sei, e será Socialista em quê?

Caminhei pelos mercados de rua na zona de Pettah [, Foto nº 1,]  com imensa gente pobre e milhares e milhares de lojas por tudo quanto é sítio, vendedores de toda a espécie de quinquilharia, comida, roupa, tapetes, electrodomésticos, entrei em dois hotéis de cinco estrelas, o Kingsbury e o Hilton. Neste último, à noite, havia um espectáculo com o Engelbert Humperdinck, um cantor canastrão e fora de moda, exactamente como eu que não canto, mas escrevo. Os hotéis correspondem ao mundo dos poucos muito ricos.

Atravessei avenidas com grandes bancos nacionais e internacionais, deambulei entre comandos militares alojados em edifícios com vedações altas de arame farpado e soldados de Kalashnikov à porta, tive a sensação plena de estar num país do terceiro mundo cheio de problemas, onde ainda haverá tanto por fazer.

Colombo mexe, serão 600 mil habitantes industriosos e activos, há arranha-céus a crescer, a linha junto ao mar está sendo reconstruída, mas a desorganização na cidade é imensa. Um trânsito poluindo, conspurcando, atravancando tudo, mas que lentamente funciona, com autocarros meio decrépitos, táxis, motoretas adaptadas a tuk-tuks espalhando-se por tudo quanto é beco, travessa, praça, rua ou avenida.

Faço quilómetros e quilómetros a pé por dentro de Colombo. Na rua principal do bairro de Pettah, encaixada entre os edifícios do pequeno comércio, levanta-se uma original mesquita muçulmana revestida a tijolos e ladrilhos pintados de vermelhão e branco, em curiosa geometria colorida.[Foto nº 2].

Mais adiante, numa rua transversal, aparece um templo hindu com as figuras do costume, bonecos encavalitados uns sobre os outros, guerreiros de enormes bigodaças, damas de seios capitosos, uma misturada de gentes e animais subindo barrocamente pelas paredes externas do templo. À entrada, três cidadãos, de pernas cruzadas sentados no chão diante de uns cestos, pedem-me um dólar. São encantadores de serpentes. Recebida a nota norte-americana, destapam os cestos, tocam uns pífaros e umas bem mandadas cobras-capelo erguem-se no ar.

No enfiamento da rua, chama-me a atenção um painel da Khazana Sports (que empresa é esta?) com uma grande fotografia de um jogador de futebol com a bola nos pés, equipado de branco. Pois, tinha de ser, Cristiano Ronaldo, vestidinho à Real Madrid [Foto nº 3].  É o quarto português que encontro na passeata breve aqui por Colombo, capital do Sri Lanka. Os outros foram Jacinta, Lúcia e Francisco, os três pastorinhos de Fátima rezando diante de Nossa Senhora, com estátuas em tamanho natural, voltados para a rua na entrada da igreja católica de St.Mary’s, não longe do centro da cidade. [Foto nº 4].

No caminhar por Colombo, descubro também umas tantas tabuletas em lojas ou empresas propriedade de pessoas de apelido, Borges, Pereyra, Soyza, nossos primos afastados descendentes de lusitanos que há quinhentos anos aqui se fixaram e mesclaram as vidas com as gentes destas paragens do Ceilão, criando famílias e infindáveis histórias, muitas delas ainda por contar.

Sei que espalhados pelo Sri Lanka, esta “lágrima da Índia”, existem centenas e centenas de prodigiosos templos, sobretudo budistas, a visitar em demorada estadia. Convertido à excelente doutrina de Buda, regressarei um dia, de bigodes ao vento, montado num cavalo branco.

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Nota do editor: