sábado, 21 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18546: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 41 e 42: "“Olha lá ó 118! Tens-te portado bem, se quiseres ir de férias à Metrópole eu assino a autorização”, disse-me o capitão no dia do Festival da Canção da RTP; em 26 de fevereiro de 1973


 Uma das duas AK 47 (Kalashnikov) apanhadas ao PAIGC,  na operação de 24 de fevereiro de 1973, na tabanca de Farnan


Eu com o miúdo que nos lavava a louça.




Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > 1973 >  

Fotos (e legendas): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar): Blogue Luís Graça]



1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*)

(i) nasceu em Penafiel, em 1950, de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;

(ii) trabalahou e viveu em Amaranete, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;

(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; oi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);

(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;

(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.

Sinopse:

(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;

(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.

(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);

(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;

(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau,

(vi) fica mais uns tempos em Bissau para um tirar um curso de especialista em Berliet;

(vii) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM parea Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos', os 'Capicuas", da CART 2772;

(viii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;

(ix) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";

(x) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";

(xi) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...

(xii) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda;

(xiii) ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.

(xiv) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;

(xv) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.

(xvi) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);

(xvii) começa a colaborar no jornal da unidade, e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, s pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo...

(xviii) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. capº 34º, já publicado noutro poste);

(xix) como responsável pelos reebastecimentos, a sua preocupção é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;

(xx) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacaunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;

(xxi) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e umas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 41 e 42

[O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]
 41º Capítulo > 16 HORAS NO MATO

Entre o amor, um copo, uma piada e a guerra, aquilo de que gosto menos de escrever é sobre a guerra. Neste projecto a que me propus, tenho de o fazer e basta-me copiar:

“Não é costume escrever-te de manhã mas hoje tenho uma série de coisas para te contar e decidi fazê-lo.

Quero que saibas que ontem os meus camaradas saíram para o mato, apanharam três “turras” e duas metralhadoras, agora eles estão aqui no quartel presos até vir uma avioneta busca-los para Bissau.


Eles foram capturados numa aldeia chamada Farnan que fica a mais de 35 km daqui. Os meus colegas saíram às duas horas da manhã e chegaram aqui às seis da tarde, por isso já podes ver que andaram durante 16 horas. Atravessaram rios, bolanhas, pântanos, matas etc. Quando chegaram aqui confesso que até chorei com pena deles.

Os meus camaradas eram 76, nós aqui no quartel só ficamos 65 para defender Fulacunda. Ao chegarem vinham completamente exaustos, até o capitão que também foi não podia dar mais um passo. Uns vinham descalços com os pés ensanguentados, outros com a farda rasgada inclusive o capitão. Acredita meu bem ser soldado numa guerra é a pior coisa que pode acontecer a um homem, ainda bem que houve uma coisa que lhes deu coragem que foi terem trazido esses três “turras” e as armas pois assim sabem que o esforço não foi em vão.

É assim meu bem eu tive imensa sorte, por aquilo que te digo e não é tudo já vês o que os meus camaradas passam, e vês também que esta guerra não é uma guerra de brincar como no cinema.
Não sei se ouves na rádio, ou se lês no jornal, os boletins das forças armadas da Guiné, se ouvisses ou lesses, saberias que aqui todos os dias há lutas entre as nossas tropas e o inimigo e ocorrem em toda a província e também sabias que por cada morto nosso morrem dez deles, de maneira que a Guiné não interessa a ninguém. Pelo menos para aqueles que como nós estão destacados no mato.”

As armas capturadas foram duas AK 47 (Kalashnikov)

No dia seguinte, foi domingo. Pedi para a metrópole que me mandassem umas garrafas de vinho e enviei o postal da Praça do Império, em Bissau.

Continuando os meus relatos estupidamente descritos nestas páginas, quero que libertem a vossa mente, porque dois dias após o que acabei de vos dizer, esteve alegremente e comigo quase toda a companhia, a ouvir o festival da canção.

No dia 26 de Fevereiro de 1973, quando eu completei oito meses de Guiné, ouvi, num pequeno rádio a 4000 km de distância, uma das melhores canções de sempre num festival da canção. Fernando Tordo ganhou com a canção “Tourada”; letra de José Carlos Ary dos Santos. Talvez o melhor poema sarcástico interpretado até hoje num festival para a Eurovisão.

Nesse dia, o capitão disse-me:

“Olha lá ó 118! Tens-te portado bem, se quiseres ir de férias à Metrópole eu assino a autorização”

Três dias depois já escrevia:

“Talvez me safe, ando doente do estômago se for de férias dou baixa ao hospital militar”



42º Capítulo > SOLIDARIEDADE

Uma das mais fascinantes memórias que guardo está descrita no aerograma do dia 7 de Março de 1973. O carnaval tinha sido no dia anterior, festejado a preceito. O Zé Leal recebeu uma encomenda com os artigos que tinha pedido aos pais. Não foi uma encomenda normal.



“Queridinha, ontem veio na avioneta uma encomenda que o Leal mandou vir que continha roupas para o rapazito que nos lava a loiça, não imaginas a esfusiante alegria que o moço sentiu. Conto-te isto porque fiquei deveras sentido com a reacção do moço quando ele viu a roupa, até chorou de alegria. Menciono isto para mais tarde poder recordar que um pouco de roupa deu uma alegria das Maiores que assisti até hoje”.


Em todas as gerações, há sempre quem se destaque em momentos de enorme altruísmo e partilha, sem olhar a quem, e sem disso fazer alarde. Devem ser muito poucos os soldados que tiveram a atitude do Zé Leal. Lembro-me que aquele gesto me influenciou a proceder de igual modo. Honestamente, não sei se o concretizei. Se na restante correspondência encontrar algo que o prove, di-lo-ei. Com o gesto do meu amigo, até a guerra parou e houve uma festa. Afinal, era dia de carnaval.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P18545: E as nossas palmas vão para... (15): Diamantino Varrasquinho, ex-fur mil, Pel Caç Nat 52 (Mato Cão, 1971/73), alentejano de Ervidel, Aljustrel, que, não sendo ainda nosso grã-tabanqueiro, volta a vir ao nosso Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, em 5 de maio de 2018, depois de se ter inscrito seis vezes em anos anteriores (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real (Termas de Monte Real) > XI Encontro Nacional da Tabanca Grande > 16 de abril de 2016 > Da esquerda para a direita:

(i) Diamantino Varrasquinho (costuma vir, de Ervidel, Aljustrel, mais o irmão Manuel);

(ii) António [Sousa] Bonito (Carapinheira, Montemor-o-Velho):

(iii) António Estácio (nascido em Bissau, residente em Algueirão, Sintra). 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > 8 de junho de 2013 > VIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Almoço convívio > Diamantino Varrasquinho e a mulher Maria José, de Ervidel, Aljustrel... "Foi 'meu' Furriel no 52 no Mato Cão", acrescenta o Joaquim Mexia Alves. (*)


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > 21 de Abril de 2012 > Da esquerda para a direita, o Diamantino Varrasquinho, o João Santos, o António Bonito e o J. Mexia Alves...


Leiria > Monte Real > Palace Hotel Monte Real > VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > 21 de Abril de 2012 > "Pude abraçar, (consegui conter as lágrimas, espantoso!), o João Santos e o Diamantino Varrasquinho, ambos Furriéis, e os Cabos António Pinheiro, António Ribeiro e João Sesifredo", escreveu, emocionado, o J. Mexia Alves (...). Não foi só o Diamantino Varrasquinho que foi "meu" furriel no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, o António Bonito também, todos ao mesmo tempo, e para mim é sempre uma enorme alegria estar com eles, pois foram tempos muitos difíceis aqueles pelo Mato Cão e éramos, com o Santos, (Furrriel), o Pinheiro, O João Sezinando, (vulgo Rajadas), e o Ribeiro, (Cabos), uma grande equipa, muito unida."  

(...) "[ Em 21 de abril de 2012, no nosso VII Encontro Nacional, em Monte Real] aconteceu algo que eu não esperava, e me tocou muito fundo o coração (...) Por causa deste nosso blogue, muitos se foram encontrando e desejando encontrar e, por isso mesmo, o António Bonito, que foi 'meu' Furriel no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, não descansou enquanto não juntou toda a 'equipa' que comigo passou largos meses no Mato Cão" (*)
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[O Diamantino Varrasquinho é o primeiro da esquerda; o João Santos, o terceiro; o J. Mexia Alves,o quinto e o António Bonito, o último.]

Fotos: © Miguel Pessoa  (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 > 1971 > Da esquerda para a direita, o J. Mexia Alves, o  António Bonito, o João Santos e o Dimantino Varrasquinho".  Esvrebeu o J. Mexia Alves: "O convívio e a camaradagem [, no Mato Cão,]  são notáveis. Reparem que o camarada da direita (fur mil Varrasquinho), para não correr o risco de estragar a sequência de alturas, se encolhe ligeiramente"... "Duas fotografias separadas por 39 anos [, a de 1971 e e a 2012], com as mesmas pessoas, nos mesmos lugares, e mais uma com a 'equipa”'completa, agradecendo ao Miguel Pessoa estas fotografias que guardo no meu coração.

Foto (e legenda): © J. Mexia Alves (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. O Varrasquinho foi fur mil no Pel Caç Nat 52, no Mato Cão, ao tempo do Joaquim Mexia Alves e do António Bonito. Já veio, pelo menos,  a seis dos nossos anteriores encontros nacionais (2008, 2011, 2012, 2013, 2014 e 2016),  está inscrito este ano (2018), mas ainda não integra formalmente a nossa Tabanca Grande. Está na altura de reparar essa lacuna, ou seja, temos que o sentar à sombra do poilão da Tabanca Grande, ao lado de camarasd como o António Bonito e o Joaquim Mexia Alves.

Ele, para já, merece as nossas palmas! (**)... A sua "Adega Monte de Cima" é (ou foi)  um das famosas adegas de Ervidel, "locais do culto do vinho e da amizade", segundo notícia ouvida em tempos na Rádio Voz da Planície. Só precisamos de actualizar, este ano,  os dados do nosso camarada Varrasquinho, contemporâneo, na Guiné dos nossos grã-tabanqueiros Joaquim Mexia Alves e António Bonito. O João Santos e outros camaradas do Pel Caç Nat 52, dessa altura, também poderão ser apresenrtados à Tabana Grande. Conto com o J. Mexia Albves e o Antóniio Bonito para o fazer em próxima oportunidade.

Recorde-se:

(i) o ex-fur mil António Sousa Bonito também passou pelo Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves; originalmente pertenceu à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74);

(ii) o Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil da CART 3492, (Xitole / Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52, (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15, (Mansoa).
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

Guiné 61/74 - P18544: Parabéns a você (1424): António Branquinho, ex-Fur Mil Inf do Pel Caç Nat 63 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18540: Parabéns a você (1423): António Joaquim Oliveira, ex-1.º Cabo Quarteleiro da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18543: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXVII: o almoço-convívio da CCS/BCAÇ 1933, na Baixa da Banheira, Moita, em 2014: esteve fraco por ser longe e fora do contexto da malta do Norte.


Moita > Baixa da Banheira > 13 de setembro de 2014 >  Convívio do pessoal da CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, de 22 de março último, de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69): vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado [, foto atual à direita]; tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.

Olá, Luís, bom dia.

Já agora,  aqui vai uma foto do almoço do meu Batalhão, em 2014. Estava fraco por ser longe e fora do contexto da malta do Norte.

Guiné 61/74 - P18542: Notas de leitura (1059): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (31) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Dezembro de 2017:

Queridos amigos,
É bem elucidativo este relatório do gerente do BNU referente a 1946: sempre o ouro em pó, a especulação enfrene, a vida difícil com a alta de preços, belíssimos negócios para certos comerciantes. Aproveita-se para recordar que estamos a falar na presença do BNU na Guiné.
O banco, como se recordam abriu a sua primeira agência em Bolama ao público em 1903. Tinha função emissora, chegou a funcionar como casa de penhores, ainda na década de 1920. Em 1917 entrou em funcionamento a agência de Bissau, logo bastante influente.
Além de casa de penhores, o BNU vendia produtos caso dos tabacos. O BNU sabia muito bem que era a produção agrícola e as oleaginosas que pesavam na economia da colónia, daí o cuidado posto nos relatórios quanto ao que se passava com o óleo, a mancarra e o coconote. O BNU ligar-se-á à Sociedade Comercial Ultramarina, até deter o seu capital e se lançar no campo das experiências agrícolas. O BNU desaparece com o Banco Nacional da Guiné-Bissau. Mas no ano de 1981 deu-se a abertura de um escritório de representação do BNU na República da Guiné-Bissau.
Mas o que aqui se analisa é o BNU inserido na malha colonial.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (31)

Beja Santos

Há, na segunda metade da década de 1940, sérias lacunas, não constam alguns relatórios que podiam ser determinantes para acompanhar o processo desenvolvimentista que ocorreu na Guiné ao tempo de Sarmento Rodrigues. Processo esse que se refletiu na vida do BNU local. Procura-se então encontrar dados complementares sobre a vida da colónia. O Anuário da Guiné de 1946, coordenado por Fausto Duarte, fala-nos das realizações alusivas ao V Centenário do Descobrimento da Guiné. Vale a pena mexer ao pormenor: fizeram-se obras de reconstrução na Fortaleza de S. José de Bissau, benfeitorias no quartel de Bissau e Bolama, diz-se explicitamente que houve um primeiro fornecimento de calçado e talheres aos soldados indígenas, aumentaram as rações dos soldados, apareceu a Banda Militar; construíram-se faróis, houve fornecimento de armamento e transportes ao Corpo da Polícia; o serviço de águas, de saúde e da agricultura ampliaram-se de forma impressionante; houve obras em Bissau, pavimentaram-se artérias, melhorou-se o mercado municipal, o porto de Bissau, prolongou-se o cais do Pidjiquiti, retomou-se a construção do Palácio do Governo, reconstruiu-se o Palácio de Bolama; a cultura deu um salto, pois criou-se o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, o Boletim Cultural, o Anuário da Guiné, foi criada a Missão Antropológica da Guiné, iniciou-se a instalação do Museu da Guiné; organizaram-se as comemorações do V Centenário da Descoberta, que culminaram com uma exposição em Bissau; e Rui de Sá Carneiro, o subsecretário das Colónias visitou oficialmente a Guiné.

Estes eventos tinham obviamente um pano de fundo novo, no decurso da II Guerra Mundial foram tomadas posições que previam uma vaga descolonizadora, que efetivamente começou na Ásia e iria alastrar a África. Em “Contra o Vento”, por Valentim Alexandre, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2017, o historiador explana sobre as alterações que se deram no Norte de África e no próximo Oriente e tece o quadro do se passou na África subsariana:
“Só marginalmente foi palco de operações militares – na Etiópia, de onde as forças britânicas expulsaram as italianas; em Madagáscar, que tropas anglo-sul-africanas tomaram em Novembro de 1942, integrando-a na França Livre gaullista; e na Somália Francesa, ocupada pelos Aliados em 1943. O resto do Continente Negro não deixou de se ver envolvido no conflito militar mundial, nomeadamente pelo recrutamento de várias centenas de milhares de homens, enviados a combater na Europa, no Norte de África ou na Ásia, em nome da França e da Grã-Bretanha. Várias cidades em África – Cairo, Dacar, Lagos, Freetown e Cidade do Cabo, entre outras – serviram de pontos de apoio militar, pela utilização dos seus portos ou aeródromos, enquanto territórios como o Chade funcionaram como placas giratórias dos exércitos aliados que iam combater a Norte do Sara. Mas o maior impacto foi de ordem económica, afectando todo o continente. Numa primeira fase, a guerra, com os bloqueios marítimos e a falta de meios de transporte que provocou, contribuiu para fragilizar vastos setores, dependentes de mercados agora fechados ou inatingíveis, no mesmo passo que dificultou as importações, criando inflação. A partir de 1941-1942, o esforço bélico das potências europeias e dos Estados Unidos levou a um aumento drástico da procura tanto de bens de subsistência como de minérios essenciais ao fabrico de armamento. Para acorrer a essa procura, as administrações europeias reforçaram, as pressões sobre a população africana, impondo preços, reconversões coercivas de produção, e recorrendo às formas mais gravosas de exploração – trabalho forçado, culturas obrigatórias –, agora impostas em nome da necessidade imperiosa de vencer o inimigo (…) Um dos aspectos mais relevantes das mutações induzidas na África Negra pela II Guerra Mundial está no impulso dado à urbanização, que criou ou alargou um quadro propício à geração de novas formas de sociabilidade e de identidade, favoráveis ao enraizamento dos nacionalismos”.

Por isso se pode entender o que se escreve no relatório de 1946:
“Numa maneira geral, o comércio da Guiné tem feito bom negócio. Os comerciantes de Bissau, do ramo mercearias e fazendas devem estar cheios de dinheiro. Vendem a maior parte dos artigos por preços altíssimos e ninguém melhor do que nós pode ver a que ponto chegam estes abusos de altos preços, pois nos passa pelas mãos grande parte das facturas relativas às importações.
No ramo das ferragens e artigos para automóveis, é uma verdadeira loucura a falta de escrúpulos. Peças e artigos que aparecem na casa do comerciante por dois ou três escudos e são vendidos a trinta e quarenta. Há autoridades que podiam e deviam vigiar estes factos, mas facto é que não se vê nada feito e assim se torna cada vez mais difícil a vida dos que vivem, apenas, dos vencimentos”.


E a análise deriva para o estado do mercado, compreensivelmente o que se passa na agricultura é o dado relevante:
“As campanhas do arroz e da mancarra, feitas simultaneamente, correm como é costume. Mais normalmente a campanha do arroz. Destrambelhadamente a da mancarra. Fixam-se cotações oficiais para compra ao indígena. Sabem-se as cotações, pouco mais ou menos, porque será paga no exterior. Mas estas duas bases não servem para nada. Cada um se lança a comprar o mais que pode e assim se vão alterando os preços, na esperança de que as cotações do exterior venham a subir e a cobrir os disparatados preços locais. Uma verdadeira lotaria.
A Casa Gouveia, que podia ser uma reguladora de preços, transforma-se numa verdadeira desreguladora. Mal administrada, apesar de vir um inspector ajudar a gerência local, na época da campanha, não faz se não desequilibrar tudo e acaba por fazer a triste figura de comprar muito menos que os outros. Os sírios, com a rede das suas 120 casas espalhadas pela colónia, absorvem a maior parte da colheita, pagando bem, o que podem fazer melhor que os outros porque têm uma organização baratíssima e por estarem cheios de mercadorias bem escolhidas que vendem em grande escala. Ganham bem nas mercadorias e, neste ganho pode bem caber sem lhes fazer diferença de maior o que pagam a mais pela mancarra. No fim, enquanto se não exportar, vendem-na a quem mais lhe der – e a dar mais tem aparecido a Casa Ed. Guedes Lda.

Todos lutam para exportar mancarra para o estrangeiro, que paga melhor que a metrópole. É provável que, nestes tempos de miséria, o estrangeiro aceite tudo e pague tudo. Mas, se houver o rigor de outros tempos sobre a qualidade e limpeza da mancarra, bem maus bocados podem surgir, pois a nossa mancarra é embarcada num estado lamentável de impureza e sujidade de toda a ordem, isto sem falar em qualidade.
A loucura do comércio é de tal ordem que ninguém usa, nem quer usar, as tararas onde a mancarra era limpa de cascas, terras e pedras, antes de ir à balança e ser paga. Assim, conscientemente, o comerciante paga aquelas sujidades por mancarra boa, talvez porque está certo de a embarcar no mesmo estado e de lhe pagarem sem discussão. É claro, o exportador que vai buscar a mancarra ao interior já se não livra das quebras próprias o transporte, cargas e descargas, pois nestas andanças vai perdendo o peso da terra que se vai em poeira ou se deposita no fundo dos barcos ou no chão dos ‘cercos’ e dos armazéns.
Nos territórios vizinhos, cada vez é maior o cuidado com a selecção de sementes, qualidade e limpeza do produto a exportar. Nós não damos valor, ao que se vê, a esses cuidados que, em nosso modesto entender tanto valor têm e sob todos os aspectos”.

Anuário da Guiné Portuguesa, 1946

Finda a análise da praça, o gerente passa em revista a situação dos clientes e não se pode resistir a transcrever o que ele escreves sobre, Rezendes, Irmãos:
“Formada por Izaias Mata-Mouros Rezende da Costa e Alberto Mata-Mouros da Costa. O capital é de cem contos, em partes iguais. Só o sócio Izaias vive em Bissau, onde a firma ocupa o estabelecimento da antiga firma alemã Sociedade Ringel, Lda. O sócio Alberto, não sabemos o que faz em Lisboa. Izaias foi empregado da Casa Gouveia, em Canchungo. Houve qualquer coisa com ele, endoideceu e foi para Lisboa, de onde voltou comerciante. Não deve ter capital. Trabalha em comissões e consignações e é arrojado. Como nunca teve fama de grande equilíbrio, pelo que estamos vendo, é natural que ainda venha a criar alguma má situação aos que confiem no seu palavreado, e este costuma ser muito”.

E mais uma vez o gerente volta a falar no ouro em pó:
“Os negócios com o Senegal fraquejaram muitíssimo. Mantém-se, porém, sobretudo na região de Bafatá, os negócios clandestinos sobre o ouro em pó, trazidos pelos djilas do território francês. Este negócio movimenta milhões de francos pois não se faz na nossa moeda. O djila precisa de francos para ir comprar mais ouro. Assim, só paga o que compra no nosso território com francos senegaleses, os comerciantes aceitam bem para pagarem o ouro. Nos últimos anos da guerra, o ouro em pó vendeu-se à razão de 13 a 20 contos por quilo. Hoje o preço do quilo regula por 23 a 24 contos”.

Há agora um sumiço de relatórios, voltaremos a dispor de documentação a partir de 1949.

(Continua)
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Notas do editor:

Poste anterior de 13 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18519: Notas de leitura (1057): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (30) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 16 DE ABRIL DE 2018 > Guiné 61/74 - P18527: Notas de leitura (1058): “Memórias da minha guerra colonial”, de João Matos Lourenço Rosa; edição de autor de 2009 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P18541: Convívios (850): A Tabanca de Matosinhos, que está a ter problemas com o "senhorio" (...o Faceboook), continua a fazer gala da sua proverbial alegria, boa disposição e melhor mesa... O próximo encontro semanal, 4ª feira, 25 de Abril, Dia da Liberdade, será em Vila do Conde (José Teixeira)


Matosinhos > Tabanca Pequena > Restaurante Espigueiro [ex-Milho Rei]  > Convívio semanal > 18 de abril de 2018. Foto: cortesia de José Teixeira (2018).


1. A TABANCA DE MATOSINHOS PERDEU O PIO, escreveu, no dia 18 do corrente,  o régulo, José Teixeira na na sua página pessoal do Facebook. E acrescenta:

O F. B. [ Facebook] fechou as portas à Tabanca de Matosinhos Tertúlia, que fazer? Romper barreiras.
Aqui estamos a dar notícias do nosso encontro de 18 de Abril.

O ENCONTRO SEMANAL de antigos combatentes da Guiné, no Restaurante Espigueiro [ex-Milho Rei ] em Matosinhos, na Rua Heróis de França, nº 721,  teve neste dia 24 convivas. Tivemos o prazer de ter à mesa connosco quatro amigos da Guiné-Bissau que, não sendo combatentes,  admiram aquele povo.

Como é nosso timbre, houve alegria, boa disposição e boa mesa. Caras de gente que está todas as semanas, outros que vem quando podem, ou quando sentem necessidade de "meter" combustível, ou seja conviver, conversar, partilhar, desabafar.

Todos são bem vindos.

Na próxima semana,  a quarta feira é o dia da Liberdade - 25 de Abril. Por decisão tomada hoje, pelos presentes,  o convívio semanal da Tabanca de Matosinhos será em Vila do Conde, onde o Leite Rodrigues irá discursar nas Comemorações do Dia da Liberdade. O ponto de encontro é às 9.30 no Centro Hípico de Leça da Palmeira.

Está toda a gente convidada.

Guiné 61/74 - P18540: Parabéns a você (1423): António Joaquim Oliveira, ex-1.º Cabo Quarteleiro da CART 1742 (Guiné, 1967/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 19 de Abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18535: Parabéns a você (1422): Augusto Vilaça, ex-Fur Mil Art da CART 1692 (Guiné, 1967/69); Leão Varela, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1566 (Guiné, 1966/68)e Victor Barata, ex-1.º Cabo Especialista MMA - DO 27 da BA 12 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18539: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (6): Setenta por cento do total de inscritos até ontem (n=89), são oriundos, tal como nos outros anos, da Grande Lisboa e do Grande Porto... Mas também, temos representantes da região Centro (24%) e até da(s) periferia(s) (6%)...Camaradas e amigos, o prazo termina no fim do mês ou vai até ao limite dos 200 lugares... Não deixes para o fim a tua inscrição...





Nº provisório de inscrições no XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (Leiria. Monte Real, 5 de maio de 2018), à data de hoje, por região

Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)





















VII Encontro Nacional da Tabanca Grande > Monte Real > Palace Hotel > 21 de Abril de 2012 > Fotogaleria

Fonte: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2012)


LISTA DOS PRIMEIROS 89 INSCRITOS NO XIII ENCONTRO NACIONAL DA TABANCA GRANDE,
MONTE REAL,  5 DE MAIO DE 2018 

Abel Santos - Leça da Palmeira / Matosinhos 
António Acílio Azevedo & Irene - Leça da Palmeira / Matosinhos 

António Bonito - Carapinheira / Montemor-o-Velho 

António João Sampaio e Maria Clara - Leça da Palmeira / Matosinhos 

António Joaquim Alves - Malveira / Mafra 

António José Pereira da Costa & Isabel - Mem Martins 

António Maria Silva e Maria de Lurdes - Sintra 

António Mário Leitão - Ponte de Lima 
António Martins de Matos - Lisboa 
António Mendes - Carapinheira / Montemor-o-Velho 
António Pimenta - Carapinheira / Montemor-o-Velho 
António Tavares - Foz do Douro / Porto 
Armando Oliveira - Vila Nova de Gaia 
Armando Pires - Algés / Oeiras 

Carlos Cabral & Judite - Pampilhosa 
Carlos Cruz, Irene, Paulo, Ana Cristina e Pedro - Lisboa 
Carlos Pinheiro - Torres Novas 
Carlos Vinhal & Dina Vinhal - Leça da Palmeira / Matosinhos 

David Guimarães & Lígia - Espinho 
Diamantino Ferreira e Emília - Leiria 

Ernestino Caniço - Tomar 

Hernâni Alves da Silva & Branca - Vila Nova de Gaia 

Idálio Reis - Sete-Fontes / Cantanhede 
Isolino Silva Gomes e Júlia - Porto 

Joaquim Carlos Peixoto e Margarida - Penafiel 
Joaquim Mendes Teixeira e Maria Emília - Guilhabreu / Vila do Conde 
Joaquim Mexia Alves - Monte Real / Leiria 
Jorge Araújo e Maria João - Almada 
Jorge Canhão & Maria de Lurdes - Oeiras 
Jorge Picado - Ílhavo 
Jorge Pinto & Ana - Sintra 
Jorge Rosales - Monte Estoril / Cascais 
Jorge Teixeira - Porto 
José Almeida e Maria Antónia - Viana do Castelo 
José Barros Rocha - Penafiel 
José Casimiro Carvalho - Maia 
José Ferreira - Crestuma / Vila Nova de Gaia 
José Miguel Louro - Lisboa 
José Saúde - Beja 
Juvenal Amado - Amadora 

Luís Graça & Alice Carneiro - Lourinhã 
Luís Moreira & Irene - Sintra 
Luís Paulino & Maria da Cruz - Algés / Oeiras 
Luís Rainha & Dulce - Figueira da Foz 

Manuel Augusto Reis - Aveiro 
Manuel Guilherme - Vila Nova de Gaia 
Manuel Joaquim e José Manuel Cunté - Lisboa 
Manuel José Ribeiro Agostinho & Elisabete - Leça da Palmeira / Matosinhos 
Manuel Lima Santos & Maria de Fátima - Viseu 
Manuel Santos - Vila Nova de Gaia 
Mário Magalhães & Fernanda - Sintra 
Mário Vitorino Gaspar - Lisboa 
Miguel Pessoa & Giselda Pessoa - Lisboa 

Ricardo Abreu - Vila Nova de Gaia 
Ricardo Figueiredo - Porto 

Silvino Correia d'Oliveira - Leiria 

Urbano Martins Oliveira - Figueira da Foz 

Virgínio Briote & Maria Irene - Lisboa 

Xico Allen- Vila Nova de Gaia.


Lista provisória de inscritos até ontem à noite. A abertura de inscrições começou em 21 de março passado. O prazo vai até ao fim do corrente mês  (ou até ao limite dos 200 lugares da sala Dom Dinis do Palace Hotel Monte Real).

Preço e processo de inscrição: vd. primeiro poste da comissão organizadora (**).
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Notas do editor:


Guiné 61/74 - P18538: Recortes de imprensa (94): Herança da guerra (Sílvia Torres, "Diário de Coimbra", 23 de março de 2018)



Diário de Coimbra, sexta.feira, 23 de março de 2018, p. 9. (Cortesia da autora e do jornal)



1. Recorte enviado em formato pdf pela nossa amiga, grã-tabanqueira nº 736, Sílvia Torres. Reproduzido com a devida vénia. Fonte: Diário de Coimbra, 23 de março de 2018, p. 9. (*)

Pequena nota biográfica:

(i) Sílvia Torres nasceu em Mogofores, Anadia, em 1982;

(ii) licenciada em Jornalismo e Comunicação e mestre em Jornalismo;

(iii) começou por ser jornalista do Diário de Coimbra;

(iv) entre 2007 e 2014, como oficial da Força Aérea Portuguesa, trabalhou na Rádio Lajes (Terceira – Açores) e no Centro de Recrutamento da Força Aérea (Lisboa), cumprindo ainda uma missão de
cooperação técnico-militar em Timor-Leste;

(v) atualmente é doutoranda em Ciências da Comunicação pela Universidade NOVA de Lisboa e bolseira de investigação da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT);

(vii) a sua pesquisa centra-se na cobertura jornalística da Guerra Colonial feita pela imprensa portuguesa de Angola, da Guiné Portuguesa e de Moçambique, entre 1961 e 1974;

(viii) o facto de ser filha de um ex-combatente justifica o interesse pessoal e académico pelo conflito.

Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)



Brasão da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68). Divisa; "Os Homens Não Morrem".




Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > Sessão presidida pelo gen ref Chito Rodrigues, presidente da direção da Liga dos Combatenrtes, com a participação ainda do psiquitra Afonso de Albuquerque (que prefaciou a obra), da prof Ermelinda Caetano, do presidente da APOIAR, Jorge Gouve

"Nesta foto, estou a autografar o livro do capitão [, hoje, advogado,  Manuel Francisco Fernandes de Mansilha,] que fala com o 1.º cabo cripto Mendes, o autor dos versos "Os Homens Não Morrem".1O ex-1.º cabo cripto António Luís Faria Mendes foi funcionário da Ordem dos Médicos na cidade do Porto."


Fotos (e legendas) : © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Marcha de Regresso


Rapazes, cantai cantigas,
Alegres e animadas,
Acabaram-se as fadigas
Das patrulhas e emboscadas.

Bravos rapazes da ZORBA,
Dispostos a trabalhar,
Sejam barcos ou colunas,
É sempre, sempre, a alinhar.

Viemos para a Guiné,
Prontos a combater,
Pica, estiva e sapa até,
Tudo soubemos fazer.

Ao partirmos com saudades…
A saudade é uma mulher,
Que tenha felicidades
Quem depois de nós vier.

CORO

Cá vai a malta da ZORBA,
Toda alegre e sorridente,
Alegria não nos falta,
Que a tristeza mata a gente.
Cá a vai a malta da ZORBA...
Corações cheios de fé,
Depois da missão cumprida,
Gadamael – Ganturé,
Situadas lá no sul,
Da província da Guiné.


Ao regressarmos a casa,
Para nós a vida muda,
O cântaro perde a asa,
Nós ganhamos a peluda.

Já vai chegando o momento
De à Guiné dizer adeus,
De acabar o sofrimento,
Voltar a abraçar os meus.

Mais de vinte meses é vitória,
A ZORBA é das primeiras
E vai constar da história
Lá no RAC, em Oeiras.

A ZORBA cumpriu o seu dever
E seu nome deixou gravado,
Nunca a iremos esquecer,
Honra ser-se seu soldado.

(Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

[Revisão / fixação de texto: MG / LG]


Mensagem, de 17 do corrente, de Mário Gaspar

Luís,

Tenho imensos textos da minha autoria, escritos após o regresso, principalmente aqueles que publiquei no meu livro “O Corredor da Morte” [edição de autor, 2014]. No mesmo livro também constam versos que escrevi em Gadamael Porto para um grande amigo (nalguns casos possuo os aerogramas e cartas). Estes versos possuem a curiosidade de estarem virgens – publiquei-os sem os rever – transmitem o meu estado de espírito da altura.

Ainda existem os versos da autoria da prima da minha falecida mãe, de nome Piedade, que a mesma ofereceu, feitos numa Gráfica Tipografia,  aos convidados (amigos e familiares) no dia do meu regresso a casa, na festa que os meus pais organizaram.

Também os versos da “Marcha do Regresso” da “ZORBA”, que agora junto, Estes foram escritos por vários autores.

Os versos recolhidos no almoço, de 2015, da CART 1659, ZORBA,  “Os Homens não Morrem”, são de António Luís Faria Mendes,  ex-1.º Cabo Operador Cripto, que não esteve nessee  almoço de confraternização.(*)

Julgo não teres dúvidas. Como disse inicialmente,  escrevi muitos versos posteriormente à chegada. Alguns, nunca os publiquei, outros foram lidos em tertúlias de poesia, onde esteve a minha grande amiga Felismina Mealha, membro da nossa Tabanca Grande, tendo ela lido alguns.

Envio, talvez o principal. Como disse,  escrevi já após o regresso da Guiné alguns versos - denomino-os como "POÉSIAS". Possuem o inconveniente de serem longos. Se tiveres dúvidas diz.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar

PS - Lá em Gadamael, criámos  um conjunto musical denominado “Os Caveiras” cujos instrumentos tinham a particularidade de serem feitos com chapa de bidão, peles de cabra de mato, marmitas, colheres, etc. e quase sempre animou os almoços de confraternização realizados mensalmente entre todo o pessoal da Companhia.

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Guiné 61/74 - P18536: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (54): no tempo em que havia uma irmandade 'intercolonial' e um cabo-verdiano, um são-tomense ou um goês se sentia em casa num país como Angola

1. Comentário do nosso amigo e camarada  António Rosinha, a propósito da Amédia Araújo hoje uma senhora de oitenta e tal anos, que vive em Cabo Verde, que foi caaada com o dirigente do PAIGC, José Araújo, e que era conhecida, no TO da Guiné, pelas NT, como a "Maria Turra",  ou seja, era a locutora de serviço da "Rádio Libertação", que emitia a partir de Conacri (*)

[António Rosinha, foto à esquerda, 2007, Pombal, II Encontro Nacional da Tabanca Grande:

(i) beirão, tem mais de 100 referência no nosso blogue;

(ii) é um dos nossos 'mais velhos' e continua ativo, com maior ou menor regularidade, a participar no nosso blogue, como como autor e comentador;

(iii) andou por Angola, nas décadas de 50/60/70, do século passado;

(iv) fez o serviço militar em Angola, sendo  fur mil, em 1961/62;

(v) diz que foi 'colon' até 1974 e continua a considerar-se um impenitente 'reacionário';

(vi) 'retornado', andou por aí (, com passagem pelo Brasil), até ir conhecer a 'pátria de Cabral', a Guiné-Bissau, onde foi 'cooperante', tendo trabalhado largos anos (1987/93) como topógrafo da TECNIL, a empresa que abriu todas ou quase todas as estradas que conhecemos na Guiné, antes e depois da 'independência';

(vii) o seu patrão, o dono da TECNIL, era o velho africanista Ramiro Sobral;

(viii) é colunista do nosso blogue com a série 'Caderno de notas de um mais velho'';

(ix) pelo seu bom senso, sabedoria, sensibilidade, perspicácia, cultura e memória africanistas, é merecedor do apreço e elogio de muitos camaradas nossos, é profundamente estimado e respeitado na nossa Tabanca Grande, fazendo gala de ser 'politicamente incorreto' e de 'chamar os bois pelos cornos';

(x) ao  Antº Rosinha poderá aplicar-se o provérbio africano, há tempos aqui citado pelo Cherno Baldé, o "menino e moço de Fajonquito": "Aquilo que uma criança consegue ver de longe, empoleirado em cima de um poilão, o velho já o sabia, sentado em baixo da árvore a fumar o seu cachimbo". ]


2. Caderno de notas de uma mais velho > A irmandade 'inter-colonial' (**)


Como esta senhora do PAIGC, havia muitos cabo-verdianos em Angola em que, tal como na Guiné, em todas as repartições e em todas as capitais de distrito, sobressaía a sua presença.

Vou dizer uma coisa que muita gente pode não acreditar e considerar tolice minha:

Quando Amílcar Cabral na fundação do PAIGC, se torna simultaneamente co-fundador do MPLA, havia um sentimento de irmandade entre todos os que foram estudantes da "Casa do Império" de todas as colónias portuguesas, que hoje já não existe mais, e hoje já não existe mais essa irmandade.

Embora apoiem todos a CPLP, e os dirigentes todos falem português, nota-se que há indiferença entre eles.

No tempo colonial, um cabo-verdiano, um  são-tomense ou um goês, que eram os que mais emigravam, iam para Angola ou Moçambique ou Guiné, co-habitavam e conviviam naturalmente como se nunca tivessem ido para terra estranha.

Daí, Amilcar Cabral ou os irmãos Pinto de Andrade por exemplo, relacionarem-se com todos os dirigentes angolanos ou guineenses como se fossem patrícios uns dos outros.

Acabou esse relacionamento, e até se nota em alguns casos, como no caso da Guiné, desentendimentos com angolanos e cabo-verdianos.

E com Moçambique há um maior  distanciamento, o que se nota perfeitamente.

Esse relacionamento "inter-colonial» era muito interessante, mas só essa gente tropical é que a poderia explicar melhor, mas não explicam.

Uns morreram, outros "matarm-se" [uns aos outros], e a maioria foi inibida de poder falar.

Cumprimentos

Antº Roxinha

2 de dezembro de 2015 às 15:42  (*)


3.  Sobre a "Maria Turra", alcunha de Amélia Sanches Araújo, dada pelos "tugas", no TO da Guiné à locutora da Rádio Libetarção , e que muitos pensavam ser a própria companheira de Amílcar Cabral, a Ana Cabral:

Amélia Sanches Araújo [tem uma dezena de referências no nosso blogue como "Maria Turra"]

(i) nasceu em Luanda, sendo de origem cabo-verdiana;

(ii) era casada com José Araújo (1933-1992), antigo dirigente do PAIGC e antigo ministro da Educação de Cabo Verde; 

(iii) fugiu, em Lisboa, em 1961,  com um grupo de cerca de 6 dezenas de "estudantes do Império", onde estavam os futuros  presidentes de Cabo Verde, Pedro Pires, e de Moçambique, Joaquim Chissano, e futuros -primeiros-ministros de Angola e Moçambique Fernando Van Dunen e Pascoal Mocumbi;

(iv) na  Guiné esteve com o marido, na "luta de libertação" daquele país e de Cabo Verde;

(v) o seu m papel de `heroína` só agora começa ser  reconhecido em Cabo Verde, onde vive com 84 anos de idade;

 (vi) em Conacri e ao serviço do PAIGC,  era locutora e a voz mais conhecida das emissões em português da Rádio Libertação, do PAICG, partido do qual o marido era dirigente e responsável pela área de informação.

(vii) em declarações à agência Lusa, em 2017,  mais de 40 anos após as independências, Amélia Araújo disse que «valeu a pena» a luta armada, apesar do seu inicial cepticismo em relação a Cabo Verde;

(vii) o casal regressari a Cabo Verde em 1980, após o golpe de Estado liderado por 'Nino' Vieira.

Fonte: Adapt de Observatório de África > 19 de janeiro de 2017 > Mulheres cabo-verdianas na luta pela independência
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Notas do editor

(...) Um dos episódios recentes deste programa da Antena Um foi justamente sobre a Rádio Libertação, o seu papel, na propaganda e contrapropaganda do PAICG. Não se pode fazer a história desta rádio sem falar da "Maria Turra", a angolana, de origem cabo-verdiana, Amélia Sanches Araújo, que lhe deu voz e alma de 1967 a 1974... Aderiu ao PAIGC em janeiro de 1964. Com mais quatro guineenses, a Amélia Arújo foi enviada por Amílcar Cabral para uma formação de nove meses na União Soviética. Em maio de 1967 a União Soviética entrega ao PAIGC, através do seu embaixador em Conacri, uma estação de rádio. (...)

(**) Último poste da série > 4 de novembro de 2017  > Guiné 61/74 - P17935: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): Os "comerciantes" e os "outros"... Lá, em Angola, Guiné e Moçambique, muitas vezes mais valia um ano de tarimba do que dez de Coimbra...