domingo, 9 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20635: Agenda cultural (728): Lisboa, 8 de fevereiro de 2020, na apresentação do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial": quando o Alentejo e o Gabu se tocam - Parte I: as primeiras fotos


O mundo é pequeno... "Fazer um filho, plantar uma árvore, escrever um livro": O Zé Saúde com a sua "descêndia": duas lindas filhas, dois amorosos genros, quatro netos e netas ternurentos, nove livros publicados... E amigos por toda  parte, desde  a Aldeia Nova de São Bento ( ninguém lhe chama Vila...) até à Tabanca Grande.


O Zé Saúde, agradecendo no fim a presença, fraterna e solidária, do seus conterrâneos, o "Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento", grandes embaixadores do "Cante", vedetas nacionais e internacionais... Têm 3 concertos, esgotados, no CCB, Grande Auditório, em Lisboa, sala que tem cerca de 1500 lugares.


Outros dos amigos do Zé Saúde, que já conhecíamos de 2013: o "Grupo Musical Os Alentejanos de Serpa" (1)


Outros dos amigos do Zé Saúde, que já conhecíamos de 2013: o "Grupo Musical Os Alentejanos de Serpa" (2)


A dra. Rosa Calado, diretora cultural da Casa do Alentejo, saudando o amigo e escritor alentejano José Saúde, e desejando as boas vindas a todos os convidados....É a esposa do nosso camarada Fernando Calado, ela de de Beja, ele de Ferreira do Alentejo. Chamo-lhe,por graça, "a ministra da cultura do Alentejo"...  Por curiosidade, refira-se que a Casa do Alentejo tem um restaurante e uma taberna com cerca de 500 lugares. Dá trabalho a 40 pessoas. E organiza eventos: tem a agenda cheia até maio de 2020..


O editor  António Mão de Ferro, domo da chancela "Colibri", no uso da palavra


O maj gen ref Raul Luís  Cunha foi o segundo apresentador da obra, a seguir ao editor do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné... Raul Cunha, ranger e comando, e também juiz militar, nasceu em Moçambique, na antiga Lourenço Marques...  Entre outras funções, foi Conselheiro Militar do Representante Especial do Secretário-Geral da ONU no Kosovo (2005-2009).


Neto e neta do Zé Saúde: a festa é deles..


Aspeto inicial (e parcial) da assistência: na fila da frente, da metade direita do salão:   da esquerda para a direita, reconheço o Fernando Calado, a esposa do maj gen Raul Luís Cunha, a Alice Carneiro, a esposa do Manuel Joaquim... e claro, o Manuel Joaquim, que tem pena de não ser alentejano.. A seu lado, um dos genros do Zé Saúde.


Genros e netos do Zé Saúde, mais a Alice Carneira e a esposa do maj gen Raul Luís Cunha, que é natural de Beja.


Aspeto inicial (e parcial) da assistência: na fila da frente, da metade esquerda  do salão: muitos e bons amigos, além de sócios da Casa do Alentejo, estiveram presentes neste evennto. A "claque de apoio alentejana" não faltou... Até porque o "programa cultural" prometia, com os pesos pesados do Cante...


O maj gen Raul Luís Cunha e o cor pilav Miguel Pessoa, que eu fiz questão de apresentar com um dos nossos bravos da FAP... Passaram ambos pela Academia Militar, mas com 8 anos de diferença. Não se conheciam pessoalmente.


Da esquerda para a direita, os camaradas da Tabanca Grande, Francisco Godinho (, alentejano de Moura), Giselda Pessoa, Miguel Pessoa e Manuel Joaquim, mais a sua Deonilde


Na fila para os autógrafos, o primeiro da esquerda, de perfuil é o nosso tabanqueiro da Tabanca da Linha e da Tabanca Grande, natural da Aldeia Nova de São Bento, o Manuel Macias...


Mais dois grã-tabanqueiros: o Acácio Correia e o António Ramalho... O Acácio Correia foi alf mil, cmdt do 3.º Gr Comb da CArt 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74)... O   António Ramalho,por seu turno, foi fur mil at cav, CCAV 2639 (Binar, Bula e Capunga, 1969/71), natural da Vila de Fernando, Elvas, membro da Tabanca Grande, com o nº 757: tem mais de vinte referências no nosso blogue]... Finalmente pude conhecer, "a cores e ao vivo", o nosso camarada Ramalho.


Fernando Calado (que pertence aos corpos sociais da Casa do Alentejo) mais o Humberto Reis, dois camaradas de Bambadinca: alf mil trms (CCS/ BCAÇ 2852, 1968/70), e fur mil op esp / ranger, CCAÇ 12 (1969/71)... Houve mais camaradas que apareceram, e que não ficaram na fotografia: Manuel Resende, régulo da Tabanca da Linha, Hélder Sousa, Joaquim Pinto de Carvalho (e esposa, Maria do Céu)...


A banca com o livro e a representante das Edições Colibri

Lisboa > Casa do Alentejo > 8 de fevereiro de 2020 > Lançamento do livro do José Saúde, "Um ranger na guerra colonial: Guiné-Bissau, 1973-1974: Memórias de Gabu" (Lisboa, Colibri, 2019, 220 pp.)


Fotos (e legendas: © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Guiné 61/74 - P20634: Blogues da nossa blogosfera (121): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (36): Palavras e poesia


Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.

DAQUI TE ESCREVO

ADÃO CRUZ


© ADÃO CRUZ

Daqui te escrevo
onde o mar não existe
onde as mãos do silêncio
não tardam a entrar
no silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
nesta tarde de silêncio
onde a memória da tarde
arde em silêncio
no mar das tuas mãos.
Daqui te escrevo
onde o deserto é imenso
e a sede do mar cresce em silêncio
no silêncio da tarde.
Daqui te escrevo
onde o mar não existe
e o deserto é imenso.
Daqui te escrevo
desta tarde sem fim
onde arde a cidade sem mar.
e o deserto sem cidade.
Daqui te escrevo
onde arde em silêncio
na tarde das tuas mãos
todo o silêncio da tarde.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20617: Blogues da nossa blogosfera (119): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (35): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P20633: Blogpoesia (659): "A voz da consciência", "Por entre matas e florestas" e "Como borboleta livre...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


A voz da consciência

Sempre presente,
nas sendas da vida,
uma voz nos fala,
nos alerta para o bem e para o recto.
Está inscrita.
É a marca registada.
Foi lá posta pelo Autor.
Sim ou não.
Não se deixa influenciar.
Tem a perspectiva das alturas.
Vê à frente.
Se antecipa ao devir da nossa vontade.
Não regateia seu aplauso.
Nunca esquece.
É paciente.
Não se cansa.
Sempre alerta.
Espera sempre até que acordes.
Ganhas sempre se a seguires...

Berlim, 8 de Fevereiro de 2020
7h52m
Jlmg

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Por entre matas e florestas

Me embrenho esbaforido por entre as matas e densas florestas.
Calcorreio os caminhos e veredas.
Cobertos de caruma e silvas rasteiras.
Vou desbravar sombras e segredos, ali escondidos.
Ouvir as vozes e os lamentos que silvam entre as ramagens.
Seguir a rota erma do silêncio, rumo ao horizonte da solidão libertadora.
Espero surpreender tesouros dos tempos idos.
Vou ceifar males que lá se acoitam, por medo à vingança.
Onde não há espaço virgem para mais sementes.
Onde vicejam as sombras desavergonhadas da civilização.
Só regressarei, se ali encontrar um rio sereno e calmo que, de vez, me liberte.

Ouvindo Rimsky-Korsakov: Scheherazade op.35 - Leif Segerstam - Sinfónica de Galitia
Berlim, 7 de Fevereiro de 2020
7h58m
Jlmg

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Como borboleta livre...

Como borboleta de asas coloridas, vou adejando as minhas asas.
Beijando as flores.
Sorvendo o seu néctar e perfume.
Elaborando meus eflúvios e demandando a beleza irresistível.
Na suavidade da natureza rica e sedutora.
Me associo aos namorados devorando amor e sorrindo ao nascer de cada sol.
Na candura matinal que envolve nosso viver.
Depois, regresso ao seio do meu íntimo, saboreando cada gesto puro de beleza...

Ouvindo Stefan Jackiw plays Beethoven Romance in F
Berlim, 6 de Fevereiro de 2020
9h08m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20616: Blogpoesia (658): "Falta-me o tema", "Amigo total e fiel" e "Assustado. Não aflito...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20632: Os nossos seres, saberes e lazeres (376): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Chamar a Bruxelas a capital da Europa pode ser uma pura condescendência dado o facto de ali se sediarem as principais instituições europeias, manda o rigor que se afirme que a Europa não tem capital. Aqui não se fala, em concreto, nem nas relações entre Portugal e a Flandres, nem do que atrai os nossos imigrantes ou o que da Bélgica pensam os funcionários que ali labutam com origem portuguesa. O que aqui se exprime é um olhar de fascínio, sem disfarce de alguém que aqui encontra originalidade, aprazimento, regressa quantas vezes for possível alvoraçado e parte pronto a retornar, já não é só Bruxelas, são as Ardenas, o que está na Valónia e na Flandres, é tudo perto, aquele país encantador é uma soma dos nossos Alentejos, uma superfície parecida com a da Guiné-Bissau.
E não há um recanto que não mereça ser conhecido. Como aqui se faz profissão de fé.

Um abraço do
Mário


A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (4)

Beja Santos

Nas primeiras arremetidas por Bruxelas, aí pela década de 1980, o viandante foi atraído por um edifício perto da Rua Royale, foi tudo questão de ter saído de um albergue onde pernoitou para uma reunião nas instituições europeias, meteu-se ao caminho, o edifício do Jardim Botânico chamou-lhe a atenção, pô-lo na lista para uma visita de um próximo fim de semana. Recorda belas exposições que aqui visitou, uma delas de fotografias de transatlânticos decorados no estilo Arte-Nova. O atual jardim é obra dos anos 20 do século XIX, dispõe-se em belos terraços, umas vezes de estilo francês nos jardins superiores, italiano nos espaços intermédios e à moda inglesa nos terrenos inferiores, com belo tanque. Os edifícios que integram as estufas e o espaço científico são do estilo neoclássico. Na década de 1980, depois de alguns trabalhos de restauro abriu no Botânico o Centro Cultural da Comunidade Francesa da Bélgica. Aqui perto está o Hotel Puccini, aqui se acolhia o genial compositor de ópera nas suas estadias em Bruxelas. É visita que o viandante ainda não fez, um dia será.

Jardim Botânico de Bruxelas.

Hoje é praticamente impossível entrar em La Monnaie e comprar um bilhete, as temporadas são curtas, altamente disputadas, os bilhetes sobrantes orçam para cima de cem euros. O viandante tem memórias privilegiadas de grandes espetáculos a que aqui assistiu. Um deles, memorável, pagou cinco euros. Chegara à cidade já passava das quatro horas, arrumou a trouxa na baiuca, bebeu e trincou algo, lançou-se no centro da cidade, atendendo à hora mais não podia do que por ali passarinhar, o comércio fechava. Nisto, entrou pela bilheteira de La Monnaie, dentro de minutos, pelas 18 horas, iniciava-se uma récita de Tristão e Isolda. Que não, que não havia lugares, mostrou-se profundamente triste, de cabeça baixa, braços caídos, como se estivesse condenado. A senhora apiedou-se, perguntou-lhe se estava disposto a ficar no sexto andar, numa posição vertiginosa, era lugar que se dava a estudantes de música, a título excecional. Perante o inacreditável, pagou, correu pelas escadas até ficar no tal lugar vertiginoso, foram cinco horas aproximadamente da melhor música que Wagner compôs, a apreciação é exclusivamente sua, vieram-lhe as lágrimas aos olhos quando Isolda morre depois de cantar uma ária impressionante. É por isso que aqui bate à porta, guarda todas estas inexcedíveis lembranças e espera que seja assim até ao fim dos dias.

Teatro La Monnaie.

Nunca viu o Grand Sablon com esta iluminação, houve um tempo em que descobriu um modestíssimo hotel na Rua dos Mínimos, não muito longe de uma igreja onde há belíssimos concertos ao meio-dia, depois de jantado percorria calmamente estas ruas com vitrinas iluminadas de galerias de arte e artigos luxuosos. Aqui se sediam estabelecimentos para gente altamente abonada que queira arte exótica, restaurante sofisticados, por exemplo. Na sua sala, o viandante guarda uma esplêndida recordação dos belos tempos em que era possível trazer um candeeiro de teto encaixotado. Entrou no estabelecimento de velharias, embeiçou-se por um candeeiro, quando se preparava para sair por julgar impensável transportar no avião tal peça, o proprietário garantiu-lhe que o ia desmontar e meter no caixote. Em Lisboa, um perito remontou a belíssima peça com três focos. Lá está no teto para relembrar aquela saga vivida no Grand Sablon.

Le Grand Sablon.

L’Atomium é um dos ícones de Bruxelas, está no Parque do Heysel, este nome está seguramente no ouvido do leitor, num estádio próximo, numa final da Taça dos Campeões Europeus, houve para ali uma mortandade incrível, depois de uma série de arruaças entre falanges rivais, salvo erro ingleses e italianos. O viandante por aqui passeou e bem apreciou as conceções estilísticas entre as duas guerras, há para ali muito boa Arte-Deco. O Atomium é uma peça gigantesca, símbolo da Ciência e da Tecnologia. Foi edificada para a Exposição Universal de 1958. Pesa 2400 toneladas, tem uma altura superior a 100 metros e as suas nove esferas possuem um diâmetro de 18 metros. O Atomium lembra a Torre Eiffel, não foi concebido para ficar, a voz do povo teve muita força. Foi restaurado em 1993, há no seu interior um restaurante e nalgumas esferas pode-se visitar uma exposição alusiva aos progressos da Medicina.

L’Atomium.

Lembrança sempre nítida que o viandante guarda é o Parque do Cinquentenário. Almoçava e despachava-se da cantina do edifício da Comissão Europeia para se passear neste parque onde se fez a Exposição Universal de 1897. Há para aqui vários museus, sempre que pode ele vem até aos museus reais de Arte e de História, o seu acervo é de um valor impressionante, tem peças que foram oferecidas aos duques da Borgonha, aos Habsburgo, possui coleções de antiguidades do Próximo Oriente, da Grécia, da Etrúria e de Roma, tem rica tapeçaria e o seu espólio medieval, a título exemplificativo veja-se esta placa medieval. Fica-se sem palavras.

Placa medieval, peça do Museu do Cinquentenário.

A Bélgica é uma das primeiras potências económicas ao dobrar do século XIX. O rei é riquíssimo, é o proprietário do Congo, a Valónia possui minas, a Flandres os portos, Antuérpia está à frente. É num contexto de riqueza que as novas classes se insurgem contra os estilos românticos, sentem-se atraídas por uma estética livre que radica no movimento inglês Arts and Crafts, liderado pelo genial William Morris. De potência económica, a Bélgica tornar-se-á uma grande potência de Arte Nova com Victor Horta e Paul Hankar como talentos maiores. Ainda hoje se circula no centro histórico e nos maravilhamos com edifícios incomparáveis. Sugere-se aos interessados que preparem previamente o seu passeio Arte-Nova, contem, pelo menos com dois dias em Bruxelas.

La Maison Saint-Cyr, expoente da Arte-Nova.

La Maison Cauchie: o assombro da fachada num quadro de harmonia absoluta.

Bruxelas prima por parques e jardins, para já não falar na frondosa e grandiosa floresta de Soignes. Quando o viandante firmou o lastro da amizade com André Cornerotte, muito se passeou à entrada da floresta de Soignes até chegar a esta abadia. Aqui ocorreu um dia um episódio de grande ternura. Numa conversa no café local, apurou-se que o proprietário recebia com muito desvelo, décadas a fio, uma senhora do bairro, ali almoçava sem nunca faltar, aos sábados, badalava o meio-dia, e Madame, graciosamente, fazia a sua entrada. Um dia faltou, o estalajadeiro procurou-a, soube que tinha falecido. E passados uns meses entrou o filho de Madame, vinha cumprir uma disposição testamentária, coubera-lhe receber o automóvel de Madame. Isto contado assim não faz lacrimejar nenhum olho, era preciso ver o estalajadeiro a gesticular e a emocionar-se com a mais inesperada das lembranças. Isto muito perto desta abadia. Para que conste.

L’Abbaye du Rouge Cloître.

Ponha-se termo a este dia de viagem, puras lembranças. Que belas exposições se visitaram neste museu comunal de Ixelles! E mesmo quando não havia uma exposição de arromba, a coleção artística é de estalo, basta pensar no acervo de cartazes de Toulouse-Lautrec, único fora da França, graças a um colecionador que tudo ofereceu ao museu da sua terra.

Musée Communal d’Ixelles.


La Cité du Logis… O viandante conhece-a metro por metro, rua por rua, qualquer passeio é um aprazimento. Felizmente que há ainda uma amiga que dá guarida, é tudo uma questão de acordar datas, talvez amanhã, talvez no próximo ano, ambos sabem que Bruxelas bate no coração deste portuga, sempre alvoraçado por aqui chegar. Porque a viagem nunca acaba, só os viajantes é que acabam (José Saramago dixit).

La Cité du Logis, Watermael-Boitsfort.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20613: Os nossos seres, saberes e lazeres (375): A Bélgica a cores que guardo no coração, e para sempre (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20631: A minha máquina fotográfica (20): carta de amor à minha querida Olympus Pen, comprada em Nova Lamego, em 1973, numa loja de libaneses (José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS/ BART 6523, 1973/74)



Olympus Pen  [EE, 1959 ?]

(...) "Máquina fotográfica analógica produzida pela Olympus no formato half-frame que apenas ocupa metade de um negativo de 35mm e portanto duplica o total de exposições nos respetivos rolos (24exp=48exp, 36exp=72exp).

A primeira pen foi produzida em 1959 e tornou-se uma das mais pequenas máquinas fotográficas a usar rolo de 35mm, pensava-se que era tão portátil quanto uma esferográfica, daí o nome Pen. (...) A versão EE-S foi produzida nos anos 60 e vem substituir a anterior EE com uma lente mais luminosa." (...)


O modelo EE-S (1962-8) custa hoje cerca de 75 euros [o equivalente em 1973 a 355 escudos da metrópole; c. 320 pesos]


Foto nº 1 >  Nova Lamego: c. 1973/74: a "menina do Gabu", uma "filha do vento"... Morreria, mais tarde, de doença,  aos 12 anos.


Foto nº 2 > Nova Lamego, c. 1973/74 > O "ranger" no seu quarto, no quartel de Nova Lamego


Foto nº 3 >  Nova Lamego, c. 1973//4 : o rádio de pilhas e a decoração erótica que "humanizava" e "climatizava" o universo concentracionário dos aquartelamentos 


Foto nº 4 > Gabu, c. 1973/74 : numa tabanca fula, o "ranger" e a menina com irmão ás costas


Foto nº 5 > Bafatá, c. 1973/74: a rua principal, o rio Geba ao fundo


Foto nº 6 > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > 1973 > O cais fluvial do Xime, na margem esquerda do Geba Estreito


Foto nº 7  > Gabu, c. 1973/74 > Uma aldeia fula, crianças em tempo de guerra


Foto nº 8 > Nova Lamego: 14 de março de 1974 > Dia de juramento de bandeira de uma companhia de milícias, com a presença do alferes graduado cmd Marcelino da Mata > "Dia de ronco", com um grupo de músicos que tocavam música afro-mandinga (com os tradicionais instrumenos: kora, à esquerda, e balafon, à direita) > Os militares, de pé, na terceira fila (o Zé Saúde, de óculos escuros) e as mulheres grandes, sentadas, na segunda fila.


Foto nº 9 > Nova Lamego > s/d > Vista aérea do quartel novo e da pista de aviação, Foto do fur mil Amílcar Ramos, que pertencia à BAA (Bateria Anti-Aérea)


Foto nº 10 > Nova Lamego > c. julho / agosto  de 1974 > Antes do regresso a casa (em 9/9/1974), a "limpeza dos paióis": 


Foto nº 11 > Nova Lamego > c. julho / agosto  de 1974 > Antes do regresso a casa (em 9/9/1974), a "limpeza dos paióis":  o fur mil minas e armadilhas Santos mais um soldado


Foto nº  12 > Gabu, c. 1973/74 > O "ranger" José Saúde


Foto nº 13 >  Gabu, c. 1973/74 > No mato


Foto nº 14 > 2/8/1973 > Aquando da chegada a Bissau, nos barracões do QG/CTIG, destinados aos sargentos, com o Ramos, fur mil ranger que há de desertar, mais tarde, para o PAIGC


Foto nº  15  > Nova Lamego, c. 1973/74: Uma equipa de futebol (reduzida): de pé, Santos, Dias, "Maia" e Fonseca. Em primeiro plano, Zé Saúde e Rui


Foto nº 16 >  Gabu, c. 1973/74  algures numa tabanca > Encontro com o velho do cachimbo


Foto nº 17  > Nova Lamego, c. 1973/74  > Lavadeiras, "duquesas do quartel"


Foto nº 18 > Nova Lameg, c. 1973/74 > No quarto, lendo "Um Deus na Palma da Mão", romance de Josúé da Silva (Edições Plexo, 1973, 368 pp.)


Foto nº  19 >  Nova Lamego, c. 1973/74 > Cozinha da messe de sragentos > O Zé Saúde, parodiando o  "sermão aos peixes" do Padre António Vieira...


Foto nº   20 > Bafatá > Pós-25 de Abril de 1974 >  Delegação do PAIGC

Fotos (e legendas): © José Saúde  (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Carta de amor à minha  querida máquina fotográfica Olympus Pen: obrigado pelas tuas imagens  (*)

por José Saúde

Olho, hoje, para ti e relembro os momentos em que foste, para mim, uma insofismável companheira!

Comprei-te numa loja de libaneses, em Nova Lamego. A aquisição baseou-se, essencialmente, sobre uma carência pressupostamente sentida quando ostentava, ainda, a alcunha de "piriquito". 

Optei, no ato da compra, pela marca que já conhecia e fiz menção que o seu manuseamento fosse o mais simples possível. Vislumbrava no horizonte que poderias, em momentos cruciais, debitares imagens capitais para mais tarde recordar.

Seguias viagem no bolso do camuflado e a tua humilde ação apresentou-se, a espaços, importante para a reposição de reproduções que nos leva a viajar nas asas do vento e trazer à memória pedaços de indeléveis recordações. 

O teu aspeto simples, e de mecânica sumária, jamais me deu o mínimo de problemas ou/e de preocupações. Ou seja, tu, a minha Olympus,  eras uma máquina divinal. Não recordo o teu custo exato. Talvez uns quinhentos ou setecentos e cinquenta pesos [equivalente, a preços de hoje a 105 € e 158 €, respetivamente].

Afirmo, por outro lado, que a generalidade dos documentos visualizados nesta obra, tiveram como base tu, meu pequeno brinquedo que teimosamente acostou junto a este antigo combatente - sem nome - que prestou serviço militar em território da Guiné.

O clique não obedecia a cuidados antecipados. A visualização do objetivo não apresentava dificuldades pré-concebidas. Colocava-te na posição de automática e saía, normalmente, uma imagem de se lhe tirar o chapéu. Contigo, minha querida Olympus, recolhi pormenores de gentes que viviam no meio de duas frentes de guerra que impunham leis horrendas no terreno.

Recolhi imagens de crianças que muito cedo se habituaram a ouvir os sons horripilantes das armas de fogo que serviam simplesmente para matar outros homens considerados inimigos. Imagens de homens e de mulheres grandes que serviam, por vezes, de fúteis objetos. Em prol da sobrevivência tudo se aceitavam.

A guerra, a tal maldita guerra, traçava horizontes deveras débeis. Melhor, medonhos. Gentes que caminhavam para o campo com uma aparente ligeireza. Pareciam conhecer, e bem, os trilhos do medo. E tudo se conjugava numa irreverente certeza: a população era um alvo apetecível para as duas frentes de guerra. E o povo sabia que eram seres importantes num xadrez de incertezas.

Tu,  minha Olympus, ias acumulando, pausadamente, registos que hoje me fazem recuar no tempo e trazer à estampa nacos de memórias inesquecíveis. Fomos combatentes na Guiné. Convivemos, ambos, , com a guerra e a paz. Conhecemos o odor da desgraça.

Vimos companheiros perderem a vida em plena juventude em defesa de interesses alheios. Estropiados que sempre reclamaram uma maior justiça social. Outros que ainda coabitam com traumas psíquicos de um conflito que lhes quebrou uma vida saudável. Outros que tentam passar imunes a problemas mentais que sistematicamente lhes causam problemas no seio familiar ou na comunidade.

Enfim, um rol de aromas nauseabundas de um tempo sem tempo que desafiou gerações transversais e que nos obrigou a combater num conflito sem rumo.

Para ti,  minha querida Olympus, que continuo a guardar devotamente no baú da saudade, vai o meu muito obrigado.

Zé Saúde (**)

[daptação, revisão, fixação de texto: LG]
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Nota do  editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

5 de janeiro de 2015> Guiné 63/74 - P14121: A minha máquina fotográfica (19): Quando embarquei no T/T Índia, em julho de 1964, já levava uma Kodak... Ficou-me no rio de Canjambari... (António Bastos,ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

3 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14113: A minha máquina fotográfica (18): A minha máquina foi comigo da Metrópole mas já conhecia os cantos da guerra. Tinha feito uma comissão de serviço, para os lados de Bissum, com um irmão meu, entre 1970 e 1972 (Albano Costa)

31 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14103: A minha máquina fotográfica (17): Comprei uma Canon no navio "Timor" e andei com ela muitas vezes no mato... Tirou centenas de fotos e "slides" (que mandava para a Alemanha, para revelar) (Abílio Duarte, ex-fur mil,CART 11, Nova Lamego, Paunca, 1969/1970)

21 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14061: A minha máquina fotográfica (16): Comprei uma Olympus 35 SP e um projetor de "slides" na casa Pintozinho, em Bissau (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71)

18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14047: A minha máquina fotográfica (15): Comprei-a em 73, em Bissau por 5.000 pesos, que utilizei durante muitos anos na vida civil e fez algumas viagens ao estrangeiro na década de 80 (Agostinho Gaspar)

18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14046: A minha máquina fotográdfica (14): Comprei-a logo nos primeiros dias em Bissau, numa loja de material fotográfico ao lado do forte da Amura, em Julho de 1968, com dois colegas do curso de Mafra, o Rego e o Amorim. Eram todas iguais, marca “Fujica” (Fernando Gouveia)

18 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14045: A minha máquina fotográdfica (13): Tive, desse tempo, uma Kowa SE T que depois vendi; e tenho ainda uma Minolta SR T 101... Se um dia quiserem fazer um museu com as "máquinas de guerra", contem com a minha... Não a vendo, tem um grande valor sentimental... (Manuel Resende, ex-alf mil, CCaç 2585, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71)

15 de dezembro de2014 > Guiné 63/74 - P14030: A minha máquina fotográfica (12): Ainda tenho, operacional, a minha Fujica Compact S, comprada em finais de 1972, em Bissau (Armando Faria, ex-fur mil, MA, CCAÇ 4740, Cufar, 1972/74)


13 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14021: A minha máquina fotográfica (10): Cerqueira, a Olympus Pen D3 que tens há 40 anos para entregar a um furriel da CCAÇ 13, a pedido do libanês Alfredo Kali, de Bissorã, deve ser do Alberto de Jesus Ribeiro, de Estremoz ( Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71; presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga)

12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14018: A minha máquina fotográfica (9): a minha "arma de recordações" era uma Chinon M-1... E também tenho uma Olympus Pen D3, à espera, há 40 anos, de ser entregue ao seu dono: o ex-fur mil Guerreiro, da CCAÇ 13, algarvio de Boliqueime, tanto quanto sei... Ele por favor que me contacte... Foi o libanês Alfredo Kali que me encarregou da encomenda... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74)

12 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14012: A Minha Máquina Fotográfica (8): A minha era uma AGFA Silette I que comprei em Bissau antes de me ir cobrir de glória na região de Cacine, corria o auspicioso ano de 1968 (António J. Pereira da Costa, cor art ref, ex-alf art, CART 1692, Cacine, 1968/69; ex-cap art, CART 3494, Xime, e CART 3567, Mansabá, 1972/74)

11 de dezembro de 2014 > Guiné 63774 - P14007: A minha máquina fotográfica (6): (i) levei da metrópole um "caixote" Kodak; e (ii) em Bafatá comprei uma Franka Solida Record, alemã (José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

10 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P14006: A minha máquina fotográfica (5): (i) comprei a minha Yashica Linx 5000 em Bissau por 3 contos; (ii) e que tal criar-se um museu de máquinas fotográficas de guerra? (Manuel Coelho, ex-fur mil trms, CCAÇ 1589, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

9 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13995: A minha máquina fotográfica(4): (i) Comprei em Cabo Verde uma Yashica Electro 35 a um primeiro srgt que se dedicava ao contrabando; e (ii) improvisei um estúdio de fotografia (José Augusto Ribeiro, ex-fur mil da CART 566, Cabo Verde, Ilha do Sal, outubro de 1963 a julho de 1964, e Guiné, Olossato, julho de 1964 a outubro de 1965)

8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13990: A minha máquina fotográfica (3): (i) A Kodak Brownie Fiesta foi, depois da G3, a minha segunda companheira do mato (Vitor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71); (ii) tive uma Olympus Trip 35 (António Murta, ex-allf mil inf, 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13989: A minha máquina fotográfica (2): (i) a minha velhina Yashica, comprada no T/T Uíge: e (ii) os calotes dos trabalhos fotográficos em Empada (Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 / BCAÇ 1932, Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68)

8 de dezembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13987: A minha máquina fotográfica (1): (i) da velhíssima Kodak do meu pai à minha Canonet; (ii) da Filmarte (Lisboa) à Foto Íris (Bissau); e (iii) das minhas fotos importantes, a preto e branco (Mário Gaspar, ex-fur mil at art minas e armadilhas, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

(**) Vd. poste de 4 de dezembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13972: Memórias de Gabú (José Saúde) (46): A minha máquina fotográfica Olympus. Obrigado pelas tuas imagens

Guiné 61/74 - P20630: Parabéns a você (1754): Constantino Neves, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20625: Parabéns a você (1753): Ana Mittermayer Duarte, Amiga Grâ-Tabanqueira; Hugo Moura Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1621 e CCAÇ 6 (Guiné, 1966/68) e José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70)