Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 27 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21951: Parabéns a você (1938): Luís Cardoso Moreira, ex-Alf Mil Sapador da CCS/BART 2917 e BENG 447 (Nova Lamego, S. Domingos e Bissau (1967/69)
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21948: Parabéns a você (1937): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21950: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (41): A funda que arremessa para o fundo da memória
Queridos amigos,
O dia-a-dia de Annette é um baú de surpresas, há reuniões em que os intérpretes saem completamente esgotados, outras têm um teor interessante ou permitem folgas para dar um bom passeio, neste dia o grande amor de Paulo Guilherme ciranda pelo Parque do Cinquentenário, uma construção grandiosa com que Leopoldo II quis homenagear os cinquenta anos de independência da Bélgica, é um espaço de natureza e de vários museus temáticos, o mais importante é o de Arte e História, ali estão depositadas riquezas inexauríveis de várias civilizações. Annette dá conta ao seu amor do inventário que está a fazer referente a dois meses, agosto e setembro de 1969, partilha de mágoas e inquietações, Paulo dá sinais de completa exaustão, estão a reduzir-lhe os efetivos, os patrulhamentos a Mato de Cão são rotina interminável. Coisa curiosa, quando ele e os seus caçadores nativos se encaminharem para Bambadinca tudo se alterará na navegabilidade do Geba, o porto do Xime entrará em funcionamento. E anos depois será tomada a decisão de criar um aquartelamento em Mato de Cão, decisão que só pecou por ser tardia. E se os dois cinquentões se reformassem mais cedo? Vivendo cá e lá, não teriam mais despesas, é certo que com os rendimentos minguados. Annette, nesta fase da proposta, nem se atreve a dizer ao seu amado que ele podia ficar ali em Bruxelas a trabalhar naquele mundo em que se tornou perito, aquela associação europeia de que ele é um dos diretores até tem escritório em Bruxelas, ele bem podia mais tarde ali ficar em trabalho avençado, ela continuaria nas suas atividades de intérprete. Haverão de conversar, ela está ansiosa por quebrar esta distância, esta paixão a conta-gotas.
Um abraço do
Mário
Esboços para um romance – II (Mário Beja Santos):
Rua do Eclipse (41): A funda que arremessa para o fundo da memória
Mário Beja Santos
Mon adoré Paulo, estive no Luxemburgo, como te disse, foram dois dias, um com os peritos da Estatística, comissão mais enfadonha não há, felizmente que temos manuais que nos auxiliam a compreender todo aquele jargão das siglas, o dia seguinte foi dedicado aos medicamentos, o trabalho foi mais atrativo, discutia-se a revisão de folhetos informativos das benzodiazepinas e de potentes anti-inflamatórios. Aproveitei para levar o dossiê da documentação de agosto e setembro de 1969, sem dúvida alguma que corresponde a um dos períodos mais árduos e desgostosos da tua experiência na Guiné. Procurei ler cuidadosamente os aerogramas que enviaste aos teus entes-queridos, logo aquele episódio da flagelação a Missirá em que um dos teus soldados se expôs e te cobriu o corpo, na tentativa de te salvar a vida; aqueles patrulhamentos nos mangais do Geba a destruir canoas, como tu escreves, a confirmação de que gentes da guerrilha atravessam o rio seja para se abastecerem ou trocar informações, seja para viajar para outros lugares do rio Corubal; embora o assunto seja compreensivelmente grave, não pude deixar de sorrir com as tuas discussões com um alferes que veio de Bambadinca e andou a pôr minas e armadilhas à volta de Missirá e por possíveis caminhos que sirvam de acesso aos guerrilheiros que vêm foguear Missirá, gargalhei mesmo quando tu argumentaste em estado de fúria que nem lhe passasse pela cabeça pôr armadilhas junto da fonte de Cancumba e muito menos nas proximidades dos campos lavrados; adoeceste de exaustão, veio um médico de nome David Payne Pereira e obrigou-te a passares dois dias no repouso em Bambadinca; tu desanimas, ainda não há condições para transferir o gerador que está no porto de Bambadinca para o Cuor; barafustas na sede do batalhão porque te vão retirando efetivos continuando com as mesmas exigências dos teus patrulhamentos e numa altura em que continuam trabalhos de renovação não só nos abrigos como nas moranças da população civil de Missirá…
Paulo adorado, encontrei num aerograma uma conversa tua com esse teu amigo aí de Lisboa, Queta Baldé, conversa havida quando ele estava no posto de vigia, o Queta começou na milícia em 1964, na Ponta do Inglês, referiu outros camaradas do pelotão, caso do Mamadu Djau, que também ali vivia, depois a ida para Finete, a seguir a formação do vosso pelotão em Bolama, já me mandaste a fotografia desse conjunto, no verso diz que foi uma oferta de alguém que se chama Jorge Rosales. Não sei como tinhas tempo para passares ao papel aquele conjunto de recordações, mas a verdade é que num aerograma datado do fim de agosto tu reproduzes essa conversa com Queta Baldé: “Há poucas terras mais ricas na Guiné, nosso alfero, que estas aqui do Cuor e dos regulados à volta. Todos aqueles quilómetros de Malandim até Ponta Nova, subindo de Finete até Boa Esperança, e à volta de Gã Joaquim, até à Aldeia de Cuor, dá arroz com fartura, pode ter muito gado. A população de Finete fugira para o mato no princípio da guerra. O régulo vivia em Missirá mas deslocou muita gente para Finete, e depois da vinda da milícia veio também mais povo ali viver, originário de Canturé, Chicri, Sansão e Aldeia do Cuor. Havia ali muitas lojas de comércio, brancos e cabo-verdianos que venham buscar mancarra, arroz e coconote. Todas essas lojas desapareceram com a guerra. Fiquei em Finete até 1966, altura em que fui tirar a recruta em Bolama com o alferes Rosales”.
Mais adiante, encontrei referências à repetição de uma operação na região do Xime, acho que se procurava destruir um acampamento situado na estrada entre Xime e Ponta do Inglês, envolvia três contingentes, competia-te ficares na mata do Poidom, aí emboscarias esse grupo, acaso fosse atacado o acampamento. Ao amanhecer, vocês ouviram um forte tiroteio, e cerca de meia hora depois apareceu o contingente que atacara a casa de mato, houvera um acidente, morrera um dos soldados logo à entrada do acampamento, e tu descreves o transporte do morto numa padiola, lembrou-te uma marcha fúnebre, um caminhar por dentro da mata densa para fugir aos trilhos potencialmente armadilhados e assim regressaram ao Xime e partiram logo para Bambadinca; posso estar equivocada mas entre agosto e os primeiros dias de outubro encontrei referências a cinco pequenas flagelações a Missirá e uma a Finete, flagelações pequenas, morteiradas, só numa delas é que se aproximaram com espingardas metralhadoras junto dos cajueiros, em frente à porta de armas.
As idas a Mato de Cão prosseguem, é uma rotina estafante, para não parares as obras em Missirá há que permanentemente negociar com as milícias de Finete de gente que também vai a Mato de Cão. Paulo, estive ontem a ler aquele episódio em que ao alvorecer, tu irias diretamente de Missirá para Mato de Cão com quinze homens, ao sair do abrigo deste com o pelotão completamente formado em U, à porta, bem indumentados da cabeça aos pés, percebeste que havia ali coisa séria, regressaste ao abrigo para igualmente te bem indumentares, regressaste e perguntaste ao que vinham, o porta-voz era o cabo Domingos da Silva, só estavam presentes os militares guineenses, queriam lembrar a nosso alfero que o pelotão nascido em 1966 tivera em Porto Gole e Enxalé, após um ano tinham vindo para Missirá, não regateavam trabalho, não estavam revoltados contra nosso alfero, mas queriam uma mudança para Bambadinca, estavam cansados. Tu escreves nos teus apontamentos que o cabo Domingos estava verdadeiramente inspirado, vieram ao de cima os seus dotes de orador, tu apercebes-te que há plena legitimidade no pedido deles, mas sentes o prenúncio da despedida, e não vale a pena dizeres-lhes que a canseira não abrandará, eles certamente já falaram com quem faz intervenção no setor de Bambadinca, é-se pau para toda a colher, tu próprio ouves queixumes de quem por ali anda a apoiar o ordenamento dos Nhabijões, nos patrulhamentos e nas emboscadas, nas intermináveis colunas dos regulados próximos com toda a sorte de carregamentos, e não faltará a participação nas operações ou colunas de reabastecimento ao Xitole. Sublinhei uma frase tua, a respeito da resposta que lhes deste para tal reivindicação: “Se for essa a determinação do comandante de Bambadinca, vou com vocês, mas deixo o meu coração aqui”. Neste momento estou a juntar o que falta de setembro, fiquei apavorada com o colapso nervoso que tu descreves de um teu colaborador de nome Casanova, assim que os apontamentos estiverem ordenados, como de costume pedirei esclarecimentos e darei conta do produto final, tanto quanto me é dado perceber vocês só irão para Bambadinca em meados de novembro.
Trabalhei hoje na Rue Stevin, muito perto das instituições da Comissão Europeia, o presidente da sessão disse ter necessidade de fazer uma pausa de duas horas do tempo do almoço, havia que negociar um documento final com um conjunto de países que estão a pedir adesão às Comunidades Europeias, como tu sabes vão entrar um grande número de países da Europa de Leste, Malta, Chipre, etc. Desisti de ir almoçar ao refeitório do Edifício Berlaymont, havia sol e uma temperatura amena, fui passear para o Parque do Centenário, levei duas sandes e uma garrafa de água, não me esqueci de um pedido teu, quando acabar a reunião, tenho que fazer comprar na Rue Neuve, e irei rezar na Igreja de Nossa Senhora da Finisterra, dizes-me que sempre que podes quando estás em Bruxelas aqui vens rezar os teus mortos e pedir mais fé no teu amor a Deus. Assim será, está prometido. Mando-te estas imagens do parque, sei que muitas vezes por aqui tens passeado. Quero informar-te que a previsão meteorológica para o tempo da Páscoa é bastante má, frio e aguaceiros, talvez seja conveniente reconsiderarmos os tais dias nas praias do Mar do Norte e nas ilhas holandesas, programas mais caseiros, exposições não faltam, podíamos ir num dia que não haja chuva à região das Ardenas e almoçar em França, já que tu gostavas de visitar a Basílica de Avioth, podíamos voltar a Orval, tu gostaste muito.
Que saudades tenho de ti meu querido, às vezes penso (talvez esteja a ser imprudente) que nos podíamos reformar mais cedo e vivermos tanto em Lisboa como em Bruxelas, não havia acréscimo de despesas, embora isso significasse redução de proventos. Mas gozaríamos da companhia um do outro, sem maltratar as ajudas que dedicamos aos nossos filhos. Conversaremos a seu tempo, se achares bem, não escondo a impaciência de ter-te sempre ao pé de mim. Vamos então conversar sobre as férias, valeu? Hoje janto com dois irmãos da minha família de adoção, em Anderlecht, amanhã telefono-te, preciso de ouvir a tua voz, sentir o sopro do teu amor, bisous, milles et plus milles, Annette.
Nota do editor
Último poste da série de 19 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21919: Esboços para um romance - II (Mário Beja Santos): Rua do Eclipse (40): A funda que arremessa para o fundo da memória
Guiné 61/74 - P21949: Op Mabecos Bravios: a versão da CECA e do ex-cap inf José Aparício, comandante da infortunada CCAÇ 1790, a última companhia de Madina do Boé
Guiné > Região de Gabu > Carta de Jábia (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Ché Ché, na margem esquerda do Rio Corubal.
CArt 2440,
Pel Sap / BCaç 2835
Foi accionada mina A/C no cruzamento de Beli, sem consequências; e foram detectadas e destruídas 2 minas A/C entre Ché Che e Canjadude. Durante a operação, Madina foi flagelada 4 vezes sem consequências.
No regresso, na travessia do rio Corubal, um acidente com a jangada que transportava forças de segurança da retaguarda provocou a morte de 47 militares das NT (2 sargentos, 43 praças e 2 Milícias).
Guiné > Região de Gabu > Madina do Boé > CCaç 1790 > 5 [?] de fevereiro de 1969 > Missa celebrada pelo Bispo de Madarsuma e Capelão-Mor das Forças Armadas, Brig António Reis Rodrigues (1918-2009) (e também procurador à Câmara Corporativa, na VIII Legislatura, 1961/65, como representante da Igreja Católica).
Foto: Cortesia de CECA (2014), p. 353. (Com a devida vénia)
NOTA: Acidente no rio Corubal em 6 [e não 8] de Fevereiro de 1969 - Dados fornecidos pelo Tenente-Coronel José Ponces de Carvalho Aparício, à época Cmdt da CCaç 1790 aquartelada em Madina do Boé.
"Na Guiné-Bissau nos anos 60 a travessia do Rio Corubal para a região do Boé era feita, como hoje, junto à povoação do Ché Che onde durante a guerra se encontrava ali em permanência uma força militar de um pelotão de infantaria, reforçado com uma secção de morteiros de 81 mm.
Esta travessia era então obrigatória para a rendição das forças militares portugueses estacionadas em Madina do Boé e Beli, e ainda para o reabastecimento daquelas forças que na época das chuvas (cerca de 6 meses) ficavam completamente isoladas.
Por isso, durante a época seca realizavam-se normalmente 2 colunas por mês, cada uma escoltada por uma companhia reforçada com um pelotão de autometralhadoras "Fox" ou "Daimler" e com protecção aérea permanente.
Cada coluna era constituída por um elevado número de viaturas, cerca de 20 a 30, carregadas com munições e reabastecimentos.
A travessia do rio Corubal era então feita por uma jangada constituída por uma plataforma sobre 2 canoas; um longo cabo ligando 2 pontos fixos instalados em cada margem corria numa roldana instalada na plataforma; a impulsão necessária para mover a jangada era dada pela força braçal dos militares puxando manualmente o cabo.
Em Fevereiro de 1969 após a decisão do Comando-Chefe da Guiné de abandonar todo o Boé [, Directivas n° 1/68 de 1 Jun, 20/68 de 25 Jul e 59/68 de 26 Dez do Cmdt-Chefe] - sendo que Beli já tinha sido abandonado meses antes retirando para Madina do Boé todas as forças ali estacionadas - foi desencadeada a operação "Mabecos Bravios" sob o comando do agrupamento n" 2957 [, cmdt: cor inf Hélio Felgas].
A esquadra de helicópteros simulou durante a tarde lançamento de forças nas colinas de Madina para tentar evitar as habituais flagelações por morteiros e canhões sem recuo.
Durante toda a noite desse dia as viaturas foram carregadas com as toneladas de munições, armamento pesado, e todo o equipamento e material aproveitável ali existente; na manhã de 5 [, e não 7,] de Fevereiro iniciou-se o movimento para o Ché Che, onde a coluna chegou no final da tarde desse dia.
Para a realização da operação de evacuação do Boé, foi construída uma jangada nova, maior que a anterior, com um estrado sobre 3 canoas.
Nas travessias do rio durante a noite, com as viaturas foram também indo passando secções dos militares empenhados.
Chegados à margem direita, ao proceder-se à contagem constatou-se a falta de 47 militares das duas Companhias.
O Comandante da Operação {, cor inf Hélio Felgas,] não permitiu que as duas Companhias [, CCAÇ 1790 e CCAÇ 2405] permanecessem no Ché Che para tentarem recuperar o maior número de corpos possíveis, seguindo por isso logo para Nova Lamego.
O acidente em causa deu origem de imediato a um Auto de Corpo de Delito, e a longas e complexas averiguações, incluindo todos os aspectos da operação, que em 1970 terminaram em julgamento em Lisboa no 3.° Tribunal Militar Territorial, que durou várias sessões e que terminou com a absolvição do único réu, o alferes miliciano comandante do Destacamento estacionado no Ché Che [, pertencente à CART 2338, Fá Mandinga, Nova Lamego, Canjadude, Buruntuma, Pirada, 1968/69] ".
Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro I (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014), pp. 353-355.
1 de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - 21724: Op Mabecos Bravios: a participação da CCAÇ 2403, na retirada de Madina do Boé, em 6 de fevereiro de 1969 (Hilário Peixeiro, cor inf ref)
6 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19476: Recortes de imprensa (101): o desastre do Cheche, no rio Corubal, ocorrido na manhã de 6/2/1969 (Diário de Lisboa, 8 de fevereiro de 1969, p. 1)
13 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11837: Op Mabecos Bravios (1-8 de fevereiro de 1969): a retirada de Madina do Boé, com o trágico desastre no Cheche, na travessia do Rio Corubal, foi há 44 anos (1): Relato do cmdt da CCAÇ 2405 / BCAÇ 2852 (Galomaro e Dulombi, 1968/70)
Guiné 61/74 - P21948: Parabéns a você (1937): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)
Nota do editor
Último poste da série de 25 de Fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21944: Parabéns a você (1936): Gumerzindo Gomes da Silva, ex-Soldaddo CAR da CART 3331 (Cuntima, 1970/72)
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21947: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (11): "O Mendes" e "A independência"
1. E assim damos por finda a publicação desta série de memórias, em curtas estórias, do nosso camarada José João Domingos (ex-Fur Mil At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516 (Colibuía, Ilondé e Canquelifá, 1973/74) enviadas ao nosso Blogue no dia 29 de Janeiro de 2021:
30 - O MENDES
Era o furriel miliciano enfermeiro da nossa Companhia. Mais do que um camarada, mais do que um camarigo (camarada e amigo) era um camarigueiro (camarada, amigo e companheiro).
A sua ambição civil era estudar medicina mas, circunstâncias da vida, obrigaram-no a adiar o sonho que, todavia, manteve sempre.
Tirada a especialidade foi colocado em Tomar e veio connosco para a Guiné.
A sua competência, calma e humanismo no tratamento dos doentes, civis ou militares, era excecional e, ser tratado pelo Mendes, era cura rápida e certa.
Homem afável, falava baixo e sempre com muita seriedade, sem nunca perder a calma, em particular com os seus subordinados a quem tratava como iguais e que muito o respeitavam.
Já na vida civil, encontrámo-nos casualmente duas ou três vezes e falava-me sempre na possibilidade de se organizar um convívio para rever a rapaziada de que ele tinha saudades. Levou esse convívio 30 longos anos a acontecer e, entretanto, o Mendes tinha-nos deixado.
Lá, onde estiver, saberá com certeza a estima e gratidão que todos nós lhe temos.
31 - A INDEPENDÊNCIA
Após o 25 de abril, foram estabelecidos acordos com o PAIGC para a transferência dos poderes territoriais.
Em Bissau, antes da independência, só pontualmente se via pessoal do PAIGC, nomeadamente à noite no edifício dos CTT.
As coisas foram sendo feitas gradualmente e com grande descrição até à independência da Guiné-Bissau que, creio, se processou a 10 de setembro de 1974.
Regressei à Metrópole, evacuado, no dia 5 de setembro de 1974 e a minha companhia no dia seguinte.
Nos meses que passei em Bissau, depois do 25 de abril e antes do regresso, assisti a várias manifestações da população, a propósito de tudo e de mais alguma coisa, que normalmente decorriam sob um manto de preocupação ou tristeza o que colidia com o que devia ser a alegria de um povo acabado de ser libertado.
As pessoas acomodavam-se de pé, em camionetas de caixa aberta, deslocando-se em marcha lenta, e recitavam uma ladainha qualquer que não entendia, estando ausente aquela alegria espontânea própria do povo africano, mais parecendo um velório.
Na minha opinião, este comportamento indiciava a consciência de que o caminho da liberdade tinha muitos perigos e incertezas, em particular para aqueles que viviam nas cidades e que de alguma forma beneficiavam com a estadia dos militares portugueses na Guiné, assegurando com alguma facilidade a sua subsistência e a da família, objetivo prioritário em qualquer sociedade.
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21937: Memórias de José João Braga Domingos, ex-Fur Mil Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4516/73 (10): "A evacuação" e "A vida no Hospital Militar de Bissau"
Guiné 61/74 - P21946: Da Suécia com saudade (87): Filhos de portugueses mas... desconhecidos em Portugal - Parte I: o grande romancista John dos Passos, com costela madeirense (1896-1970) (José Belo)
Assunto: Filhos de portugueses mas...desconhecidos em Portugal!
Quando estudei nos States fui surpreendido pelo desconhecimento em Portugal de alguns descendentes de portugueses por lá famosos.
A um nível intelectual muito elevado existiu, por exemplo ,o JOHN RODRIGO DOS PASSOS, conhecido nos meios culturais Norte-Americanos como John D'os Passos.
Nasceu em 14 Janeiro de 1896 em Chicago/Illinois e faleceu a 28 de Setembro de 1970 em Baltimore/Maryland.
Filho de um rico advogado, de origem portuguesa,graduou-se na Universidade de Harvard em 1916.
Serviu como condutor de ambulâncias na Primeira Guerra Mundial e, em resultado das suas experiências, escreveu em 1921 um amargo romance contra a guerra intitulado"Os 3 Soldados".
No pós-guerra viajou,como correspondente de imprensa. Esteve em Espanha e outros países europeus adquirindo entäo um forte sentido histórico de observacäo social. Foi um período que acentuou algumas das suas simpatias radicais.
Com o passar dos anos, gradualmente,o seu subjectivismo tornou-se num realismo objectivo mais vasto e abrangedor.
Considerado um dos maiores novelistas da "Geracäo Perdida" do pós guerra norte-americano, a sua reputacäo como historiador social e crítico da "qualidade da vida" americana surge com o best-seller que foi a sua trilogia -"U.S.A".
Nesta trilogia é posto em destaque a imagem dos Estados Unidos como sendo realmente duas nacöes. Uma de ricos e privilegiados, e outra ,a dos pobres, sem qualquer poder e representacäo política.
Foi uma muito importante e divulgada obra literária que espelhava toda uma época.
Depois de alguns outros romances e intervencöes em acontecimentos políticos da época, escreveu uma nova trilogia em 1939, 1943 e 1949 "District of Columbia",ainda que menos ambiciosa que a anterior.
Nesta verifica-se a sua desilusäo com os movimentos laborais norte-americanos, com as políticas radicais na generalidade, e o liberalismo característico do modelo político do "New Deal".
Näo será de estranhar que o governo da ditadura portuguesa não se sentísse "confortável" em divulgar este intelectual que era um forte crítico das ditaduras Ibéricas.
É, no entanto, de lamentar que o Portugal democrático posterior não tenha divulgado a trilogia "USA", como seria merecido.
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Notas do editor:
Último poste da série > 18 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21917: Da Suécia com saudade (86): Portugueses ilustres que aqui viveram...antes de mim: 1º Visconde Soto Maior (Rio de Janeiro, 1813 -Estocolmo, 1893) (José Belo)
Guiné 61/74 - P21945: Fotos à procura de... uma legenda (144): Era uma vez um macaco do Cantanhez... Dão-se... "alvíssaras" a quem acertar no nome...
1. Caros/as leitores/as: O desafio é simples: de que espécie é este macaco que aparece na foto de um grupo de miúdos da "Escola Areolino Cruz" ?
A única dica que vos damos é sobre o seu habitat, na Guiné-Bissau: o Cantanhez, na região de Tombali, no chão dos nalus...
Dão-se... "alvíssaras", a quem acertar. Na legenda original, o fotógrafo chamou-lhe "vervet monkey", em inglês, mas a nós fica-nos a dúvida... Pela cor da pelagem, não nos parece que seja um "macaco verde"... Mas o fotógrafo, finlandês, deve ter anotado a designação dada pela população local...
Estamos mais inclinados para outra espécie, de pelagem laranja avermelhada a laranja esbranquiçada... É pena estar de perfil, não se vendo bem a cara e a cabeça... Era fundamental ver-se a cara do nosso parente afastado, mas tão primata como nós... Vê-se que a cauda é longa, escura, cor vermelho ferruginosa...
Teve depois um papel importante na organização da visita de Amílcar Cabral à Finlândia em 1971, evento que contribuiu para um mudança da política externa do seu país em relação a Portugal. Seguindo o exemplo dos seus vizinhos escandinavos, a Suécia e a Noruega, a Finlândia passou também por dar "apoio humanitário", a partir de 1972, aos movimentos de libertação africanos, incluindo o PAIGC.
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 . P21943: (D)o outro lado do combate (65): a morte de Areolino Cruz (Bafatá, 1944-Cubucaré,1965), professor do ensino básico no Cantanhez (Jorge Araújo)
(**) Último poste da série > 7 de fevereiro de 2021 > Guné 61/74 - P21862: Fotos à procura de...uma legenda (136): "Macaco verde" [Chlorocebus sabaeus], dizem eles, depois do sueco Lineu (em 1766), que nunca esteve em Buruntuma ou em Bafatá e muito menos no Cantanhez... (António Marreiros / Fernando Gouveia / António Levezinho / Virgílio Teixeira)
Guiné 61/74 - P21944: Parabéns a você (1936): Gumerzindo Gomes da Silva, ex-Soldaddo CAR da CART 3331 (Cuntima, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série: 23 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21936: Parabéns a você (1935): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21943: (D)o outro lado do combate (65): a morte de Areolino Cruz (Bafatá, 1944-Cubucaré, 1965), professor do ensino básico no Cantanhez (Jorge Araújo)
GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE
A MORTE DE AREOLINO CRUZ OCORREU EM DEZEMBRO DE 1965, DURANTE A «OPERAÇÃO RESGATE» DA FORÇA AÉREA REALIZADA NA REGIÃO DE TOMBALI (CANTANHEZ)
- ERA PROFESSOR DO ENSINO PRIMÁRIO NA BASE DE CUBUCARÉ -
1. – INTRODUÇÃO
Promessa feita; promessa cumprida, conforme deixei expresso no P21000 (23.05.2020) - «PAIGC - Quem foi quem: Areolino Cruz, professor do ensino primário, que alegadamente terá perdido a vida ao tentar salvar os seus alunos durante um bombardeamento, em Cubucaré, em 17 de Fevereiro de 1964 (Cherno Baldé / Jorge Araújo)».(*)
De facto, a data acima não poderia estar correcta, fazendo fé em documentos rubricados pelo próprio Areolino Cruz, encontrados com datas posteriores, relativos ao desempenho da sua actividade de professor, em Cubucaré, razão para ter suscitado este "mistério".
Daí que, com a presente narrativa pretendemos esclarecer, em definitivo, este enigma, onde fazemos questão de cumprir o que havíamos prometido: (sic) "logo que saiba da verdadeira data e factos relacionados com a sua morte, faremos um texto com uma pequena biografia… para memória futura". (**)
Areolino Cruz, de nome completo: Areolino Lopes da Cruz Júnior, filho de Augusto Lopes da Cruz e de Domingas da Rocha Cruz, nasceu em 14 de Janeiro de 1944 (6.ª feira), em Bafatá. Morreu, como se infere da nossa investigação, em Cubucaré, na Região de Tombali (Cantanhez), entre 17 e 20 de Dezembro de 1965, de acordo com as circunstâncias relatadas no ponto 3 deste texto.
Eis, então, o que conseguimos apurar.
2. – DIVULGAÇÃO OFICIAL DA OCORRÊNCIA
A notícia da morte de Areolino Cruz foi divulgada no Boletim mensal «LIBERTAÇÃO», Órgão de informação oficial do PAIGC, edição n.º 62, Janeiro de 1966, classificado de "número especial". O texto que abaixo citamos foi retirado da página 11.
Atingido gravemente durante um assalto colonialista às regiões libertadas do sul, caiu no seu posto o camarada Areolino Cruz, responsável da Educação e do Estado Civil no Comité Regional de Catió.
O camarada Areolino, que teve perante o inimigo um comportamento exemplar, impondo-se a todos os companheiros pela sua coragem e pelo seu sacrifício, foi ferido quando tinha passado o momento mais crítico da batalha, morrendo poucos instantes depois.
Tendo feito estudos liceais em Bissau e Portugal, o camarada Areolino, que contava apenas 22 anos de idade [incompletos], participou, logo após a sua admissão no Partido, nas primeiras missões de reconhecimento no nordeste do país, integrado numa formação de guerrilha. Tendo beneficiado posteriormente de uma bolsa de estudos, o nosso camarada foi durante algum tempo estudante da Universidade de Leninegrado.
A morte do camarada Areolino Cruz é uma grande perda para a nossa luta. O nosso camarada, que compreendeu progressivamente a razão do nosso Partido, tornou-se num dos melhores e mais dinâmicos militantes do sul do país, onde a sua acção muito contribuiu para o desenvolvimento da instrução. O seu nome fica, de resto, estreitamente ligado à acção do nosso Partido nesse domínio, pois foi o camarada Areolino que fundou, em Cubucaré (Chão dos Nalus) a primeira escola do Partido.
O nome do camarada Areolino Cruz ficará registado, para sempre, na memória de todos nós, inspirando a nossa coragem e determinação e reforçando a nossa dedicação ao Partido e à gloriosa luta de libertação do nosso povo.
2.1 - CARTA DE CONDOLÊNCIAS ENVIADA POR LUÍS CABRAL A NINO VIEIRA, CMDT DA FRENTE SUL, EM 05JAN66
Luís Cabral (1939-2009), ao ser informado das diferentes ocorrências que envolveram a estrutura militar acantonada na região de Tombali (Cantanhez), e em substituição do Secretário-Geral, Amílcar Cabral (1924-1973), que à data se encontrava em Cuba, a fim de participar na «Primeira Conferência Tricontinental - Havana 1966», agendada para decorrer entre 3 e 15 de Janeiro, tomou a iniciativa de escrever uma carta a Nino Vieira, responsável pela Frente Sul, lamentando todas as más notícias, em particular as perdas humanas, onde, de entre elas, estava incluído o Areolino Cruz.
Do documento de duas páginas, citamos apenas os primeiros quatro parágrafos, precisamente aqueles que se relacionam com o presente objectivo.
Conacri, 5 de Janeiro de 1966 (4.ª feira)
Caro camarada NINO,
"Fazemos votos para que tu e os camaradas estejam gozando óptima saúde e prontos para darem mais um passo em frente na luta gloriosa pela libertação do nosso povo.
Lamentamos profundamente a morte dos camaradas e elementos do povo, durante os bombardeamentos que vocês sofreram na semana de 16 a 23 de Dezembro [p.p.]. Era de esperar que esta teria de ser forçosamente a reacção do inimigo, depois das perdas que sofreu durante a época das chuvas, em todos os pontos da nossa terra.
Estamos certos de que os bombardeamentos que vocês fizeram aos quarteis inimigos tiveram resultados positivos e que com os meios de que dispomos agora, vocês poderão intensificar essa acção, de grande interesse para a insegurança e desmoralização do inimigo.
Os camaradas de Cubisseco têm de reforçar o cerco ao inimigo e a vigilância para evitar que façam vitimas nos momentos de desespero." (…)
3. – A «OPERAÇÃO RESGATE» DA FAP E OS SEUS FUNDAMENTOS
Como suporte documental, e bibliográfico, socorremo-nos do trabalho de investigação de José Matos. «A guerra das antiaéreas na Guiné (1965/1970), divulgado no P16968, cujo original está publicado na Revista Militar n.º 2601, de Outubro de 2018, citando, na íntegra, o texto que está relacionado com o histórico sobre este ponto:
Os primeiros ataques à antiaérea do PAIGC
Decisão:
A Força Aérea apercebe-se do problema em finais de 1965 e, rapidamente, o Comando da Zona Aérea de Cavo Verde e Guiné (ZACVG) lança uma operação de ataque para eliminar a ameaça. Em Dezembro de 1965, são mobilizados vários meios aéreos para a execução da «Operação Resgate». Dois aviões de patrulhamento marítimo P2V5 Neptune vindos da Ilha do Sal juntam-se, em Bissalanca, na Base Aérea n.º 12 (BA12), a um C-47 Dakota adaptado para bombardeamentos nocturnos, doze T-6G, um Dornier Do-27 e a um Alouette III.
A operação começa na noite de 17 de Dezembro de 1965 (6.ª feira), com o sobrevoo das posições da guerrilha na zona de Cafine pelo C-47 e o lançamento de granadas iluminantes. A guerrilha responde de imediato com fogo antiaéreo, sendo então bombardeada pelos P2V5 equipados com bombas de 750 libras (325 kg). Os bombardeamentos continuam ao longo da noite em mais três vagas de ataque e prolongam-se na noite de 19 de Dezembro (domingo), embora aí já sem resposta da guerrilha, tendo a operação terminado no dia seguinte (2.ª feira). Embora a reacção antiaérea tenha sido significativa, há apenas a registar, durante a operação, dois impactos em dois T-6G e um impacto num P2VC5, em ambos os casos sem consequências. (…)
4. – SÍNTESE BIOGRÁFICA DE AREOLINO CRUZ (19 / 22 ANOS)
- FACTOS NARRADOS NO TEXTO OFICIAL
4.1 - EM 05JAN63 > INSCRITO NO ESTÁGIO DE JORNALISMO NO SENEGAL E BOLSA DE ESTUDOS PARA CURSAR MEDICINA
Dakar, 05 de Janeiro de 1963 (sábado)
Relatório sobre o trabalho do Bureau do PAIGC em Dakar, assinado por José E. Araújo
4.2 - EM 10JUL63 > NA GUERRILHA COM NORBERTO ALVES (PIRADA)
Pirada, 10 de Julho de 1963 (4.ª feira)
Caro [Pedro] Pires,
Saúde em primeiro lugar e acima de tudo. Nós vamos indo bem graças a Deus. O portador desta carta é um camarada que se encontra doente talvez por causa da frieza. Ele costuma ter dores na região lombar (?). É preciso tratá-lo bem para que ele possa voltar depressa porque é um elemento precioso para a nossa zona e é adjunto do nosso responsável. Ontem quando voltámos da sabotagem que fomos fazer em Pirada ele foi atacado fortemente por tal doença que só muito dificilmente pôde marchar em braços. Fomos obrigados a sair do mato essa noite e entregá-lo numa tabanca vizinha pois que chovia torrencialmente e ele não podia de modo nenhum estar exposto à intempérie… (P20994).
4.3 - EM 30SET63 > COMO ESTUDANTE EM LENINGRADO - CHEGADA
Leningrado, 30 de Setembro de 1963 (2.ª feira)
Caro Luís [Cabral]
Faço votos ardentes que esta lhe encontre desfrutando duma óptima saúde, bem como todos os camaradas. Eu vou indo bem graças a Deus, após uma boa viagem. Começo por lhe apresentar as minhas desculpas por não ter escrito há mais tempo a dar notícias mas devo-lhe dizer que estive durante uma semana em Moscovo, sem saber o enderenço que havia de enviar, uma vez que me encontrava provisoriamente sem saber o tempo limite. Actualmente como já deve ter notado, encontro-me em Leninegrado [São Petersburgo após 1991] na Faculdade Preparatória de Línguas. (…)
4.4 - EM 17JUN64 > COM "GUIA DE MARCHA" PARA A "ZONA 11" A/C DE NINO VIEIRA
Conacri, 17 de Junho de 1964
"Vai o camarada Areolino Cruz apresentar-se ao camarada João Bernardino Vieira (Nino) na zona 11, para ser integrado nos serviços de instrução (ensino) no chão dos Nalus. O camarada Areolindo Cruz, que era estudante e tomou parte activa no complô contra o Partido, está sujeito a uma sanção suspensa de expulsão do Partido. Por isso, não tem quaisquer direitos de membro do Partido e deve ser rigorosamente controlado pelos responsáveis. Deve ser enviado um relatório mensal sobre a sua conduta, ao Secretário-Geral."
4.5 - EM 22JUL64 > COMO PROFESSOR DO ENSINO PRIMÁRIO NA BASE DE CUBUCARÉ
Zona Sul [Cubucaré?], 22 de Julho de 1964 (4.ª feira)
Requisição de material escolar rubricada por Areolino Cruz
Sem mais…
► Fontes consultadas:Ø (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07177.062. Título: Libertação. Número: 62. Ano: 1966. Data: Janeiro de 1966. Directores: Amílcar Cabral, Luís Cabral, Vasco Cabral e Dulce Almada. Observações: Órgão do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabra – Vasco Cabral. Tipo Documental: IMPRENSA.
Ø (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04618.082.008. Título: Lamenta a morte de camaradas e elementos do povo durante os bombardeamentos. Remetente: Luís Cabral. Destinatário: Nino Vieira. Data: Quarta, 5 de Janeiro de 1966. Observações: Doc incluído no dossier intitulado correspondência dactilografada (de Amílcar Cabral, Aristides Pereira e Luís Cabral para os Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.
Ø (3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07075.147.014. Assunto: Relatório sobre o trabalho do Bureau do PAIGC em Dakar. Assunto: Relatório assinado por José Eduardo Araújo, remetido ao Secretariado Geral em Conacri, sobre o trabalho do Bureau de Dakar. Contactos oficiais, tentativa de conseguir audiências junto das autoridades do Senegal. Publicações do Bureau, nota de imprensa, discursos de Amílcar Cabral, declaração de Dezembro de 1960, dois últimos comunicados, etc.; vinda da Dulce [Almada] para o Boletim e programa de rádio. Enfermeiro de Ziguinchor. Inscrição de Areolino da Cruz no estágio de jornalismo. Questões dos ex-militares do exército colonialista. Oportunistas, regresso do Labery, Có e Mendy em Marselha; Barre, "Union des Forces Progressistes Capverdiennes". Lourenço [Gomes], requisição de fundos para missão. José Eduardo Araújo, bolsa de estudos. Data: Sábado, 5 de Janeiro de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Relatórios XI 1961-1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.
Ø (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04611.061.015. Assunto: Informações sobre doença do portador da carta. Sabotagem em Pirada. Pedido de ajuda financeira para alimentos e munições. Borges, Bebiano, Konko. Remetente: Areolino Cruz, Kanfrandi Ká. Destinatário: Pedro Pires. Data: Quarta, 10 de Julho de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Correspondência manuscrita 1961-1964. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.
Ø (5) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04619.102.034. Remetente: Areolino Lopes da Cruz. Destinatário: Luís [Cabral]. Data: Segunda, 30 de Setembro de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Correspondência 2.º semestre 1963 (interna PAIGC). Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.
Ø (6) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04606.045.074. Título: Guia de Marcha. Assunto: Guia assinada por Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, fazendo seguir Areolino Cruz para se apresentar a João Bernardo Vieira (Nino), na Zona 11. Data: Quarta, 17 de Junho de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Cartas e textos dactilografados enviados por Amílcar Cabral 1960-1967. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.
Ø (7) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07065.084.016. Título: Requisição de material de ensino. Assunto. Requisição de material de ensino, assinada por Areolino Cruz, para a zona Sul. Data: Quarta, 22 de Julho de 1964. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Material militar 1964-1965. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.
Ø Outras: as referidas em cada caso.
Termino, agradecendo a atenção dispensada.
Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
08Fev2021____________
(*) Vd. poste de 23 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P21000: PAIGC - Quem foi quem (13): Areolino Cruz, professor do ensino primário, que alegadamente terá perdido a vida ao tentar salvar os seus alunos durante um bombardeamento, em Cubucaré, em 17 de fevereiro de 1964 (Cherno Baldé / Jorge Araújo)