1. Com a devida vénia ao nosso camarigo Joaquim Mexia Alves (ex-Alf Mil Op Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e CCAÇ 15, Mansoa, 1971/73) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1321 de 19 de Dezembro onde o Joaquim se despede do seu velho amigo Jaime Brandão, ex-Fur Mil Piloto da FAP, recentemente falecido por doença.ADEUS E ATÉ JÁ, JAIME!
Partiu
hoje um dos maiores amigos que tive na minha vida!
As
histórias com o Jaime Brandão são inúmeras desde garotos, passando pela Guiné,
pela dita revolução e até aos dias de hoje.
Por
causa da nossa amizade passei fins de tarde quase contínuos na BA5, mormente na
Esquadra dos Falcões, e por isso mesmo me foi concedido algo único na minha
vida: um voo de A7.
Claro
que, embora houvesse outros “candidatos” amigos que me queriam levar, não
poderia deixar de ser o Jaime a dar-me esse raro prazer, quase impossível a
civis.
Foi um
dia memorável.
Tal
como o dia em que, envolvido na primeira Operação Militar na Guiné, no segundo
mês da minha chegada, com o camuflado ainda a “cheirar a goma”, desembarco no
quartel de Porto Gole e quando estou a subir a rampa para as instalações vejo o
Jaime vir direito a mim a sorrir e abraçando-me com toda força.
Perguntei-lhe
como era possível ao que ele me respondeu a sorrir que sabia que eu estava
envolvido naquela Operação e que ia desembarcar em Porto Gole para passar a
noite e como vinha de regresso a Bissau, declarou que tinha a porta aberta do
DO27 e que tinha de aterrar em Porto Gole.
As
histórias são inúmeras, (de dia ou de noite), e todas elas são memórias
fantásticas que me trazem agora lágrimas aos olhos
O Jaime
era um homem franco, honesto, sério, que não pedia licença para dizer o que
pensava e sentia, mesmo que isso lhe acarretasse incompreensões ou mesmo
problemas.
Amigo
do seu amigo, levava a amizade muito a sério, tão a sério que não se coibia de
me dizer algo que eu fizesse mal, como eu lhe dizia também a ele.
É assim
a amizade verdadeira!
Mas
tinha também um humor muito especial e vivemos momentos hilariantes ao longo de
todo este tempo que Deus nos deu de amizade verdadeira e vivida.
Muitas
vezes as nossas conversas eram quase um monólogo tal a identidade de pensamento
e opinião que tínhamos os dois.
Em bom
e antigo português era quase um: “se um diz mata o outro diz esfola”!
Espero,
(fazendo humor), que no Céu haja cerveja, porque ele tem que ter uma esplanada
onde a beber esperando por mim e por muitos mais que nos faziam companhia.
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Pouco apreciador do cozido que habitualmente nos era servido nos nossos convívios, isso limitou a sua presença à mesa connosco. Mas não deixou de estar presente por várias vezes, satisfazendo-se com a sopinha do cozido ou, numa situação pontual, com uma feijoada vegetariana trazida de propósito de Lisboa pela sua camarada e amiga Giselda. |
Há
homens que nunca fizeram nada por Portugal e são recordados como se o tivessem
feito.
O Jaime
foi voluntário para a Força Aérea, serviu o seu país na Guiné e em Portugal,
serviu o seu país na sua profissão como civil, lutou por um país melhor do que
o “politicamente correcto”, e ninguém, com certeza desta gente que nos governa
terá uma palavra para ele, o que ele, julgo eu, até agradece.
Envolvo
a sua família, mulher, filhas, netos, irmãs e irmão no meu estreito e muito
amigo abraço, sem palavras que as não tenho para dizer.
Estou
profundamente triste, embora acredite que aos homens bons como o Jaime, Deus
tem sempre junto de Si, mas isso ainda não mitiga a saudade imensa que já sinto
em mim.
Como
dizemos em Monte Real, pelo menos no tempo em que eramos garotos, quando as
pessoas se encontram: Adeus!
Eu
digo-te, Jaime meu querido amigo, adeus e até já!
Marinha
Grande, 18 de Dezembro de 2021
Joaquim
Mexia Alves
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Notas do editor:
À família do nosso camarada Jaime Brandão, a tertúlia e os editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné apresentam as suas mais sentidas condolências.
O Jaime Brandão participou no V e VI Encontros Nacionais da Tabanca Grande em Monte Real. Nesta foto em conversa com o Victor Barata, também ex-militar da Força Aérea Portuguesa e também ele recentemente falecido.
Último poste da série de 25 DE NOVEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22749: In Memoriam (419): Tibério Paradela (1940-2021), capitão da marinha mercante, um "lobo do mar" ilhavense, que nos deixa um notável testemunho da epopeia da pesca do bacalhau, no seu romance "Neste mar é sempre inverno"