quarta-feira, 30 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23125: Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) - Parte I: Destacamento de Bindoro fevereiro de 1970, guarnecido por forças da CCAÇ 2588


Foto nº 1 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa) >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Render da guarda (1)


Foto nº 1A > Guiné > Região do Oio >  Sector 4 (Mansoa) >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Render da guarda (2)


Foto nº 1B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa >BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Render da guarda (3)


Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Hora do rancho (1)


Foto nº 2A > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Hora do rancho: pequeno almoço (2)



Foto nº 2B > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Hora do rancho: pequeno almoço (3)



Foto nº 2C > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Hora do rancho: pequeno almoço  (4)

Foto nº 2 > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Coluna, com elementos civis, de etnia balanta (1)



Foto nº 2A  > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa > BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Coluna, com elementos civis, de etnia balanta (2)


Foto nº 3  > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Vista aérea, de helicóptero, da tabanca e do destacamento (1)


Foto nº 3>  > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Vista aérea, de helicóptero, da tabanca e do destacamento (2)


Foto nº 3  > Guiné > Região do Oio > Sector 4 (Mansoa >  BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) > CCAÇ 2588 > Fevereiro de 1970 > Destacamento de Bindoro > Vista aérea, de helicóptero, da tabanca e do destacamento (3)


Fotos (e legenda): © José Torres Neves (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de nosso camarada e amigo Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/Dez 1971; médico, foi diretor do Hospital de Tomar, 6 anos, de 1990 a 1996, e diretor clínico cumulativamente 3 anos, de 1994 a 1996, vivendo então em Abrantes; hoje vive em Tomar.

Data - 29 mar 2022, 10:58  
Assunto . Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves

Caros amigos

Como prometi vou anexar mais algumas fotografias do álbum do Pe José Torres Neves (*).

Envio por ordem alfabética das localidades do setor de Mansoa.

Posteriormente enviarei algumas de Bissau e outras de localização por mim desconhecida.

Talvez alguns camaradas as possam identificar. Hoje exponho mais algumas de Bindoro.

Um abraço,
Ernestino Caniço


2. Álbum fotográfico do Padre José Torres Neves, ex-alf graduado capelão, CCS/BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71)

Bindoro, fevereiro de 1970 (Vd. fotos acima, nºs 1, 2 e 3)

3. Recorde-se aqui a ficha de unidade do BCAÇ 2885 e das suas companhias de quadrícula

Batalhão de Caçadores nº 2885

Identificação: BCaç 2885
Unidade Mob: RI 15 - Tomar
Cmdt: TCor Inf João Pedro do Carmo Chaves de Carvalho | 2.° Cmdt: Maj Inf Valentino Diniz Tavares Galhardo  | OInfOp/Adj: Maj Inf Alfredo José
Cmdts Comp: CCS.Cap SGE Abílio do Nascimento Castro
CCaç 2587:  Cap Mil Art Lourenço Gomes de Campos
CCaç 2588: Cap Inf Fernando do Amaral Campos Sarmento | Cap Inf Luís da Piedade Faria | Cap Mil Art Armando Vieira dos Santos Caeiro
CCaç 2589: Cap Inf Francisco António Mendonça Martins Vicente | Cap Mil Art Jorge Manuel Simões Picado
Divisa: "Nós Somos Capazes"
Partida: Embarque em 07Mai69; desembarque em 13Mai69 | Regresso: Embarque em 25Fev71

Síntese da Actividade Operacional

Em 14Mai69, rendendo o BCaç 1912, assumiu a responsabilidade do Sector 04, com sede em Mansoa e abrangendo os subsectores de Porto Gole e Mansoa. Em 230ut69, por extinção do Sector 03, a zona de acção foi aumentada do subsector de Mansabá, o qual lhe foi novamente retirado em 11Nov70, após reactivação do COP 6. 

Em 290ut69, o subsector de Porto Gole, foi reduzido da área de Enxa1é, que passou a ser integrada no sector do BCaç 2852. Em 15Nov69, por ajustamento do dispositivo, foi criado o subsector de JuguduI

As suas subunidades mantiveram-se sempre integradas no dispositivo e manobra do batalhão.

Desenvolveu intensa actividade operacional, efectuando numerosas operações e acções, golpes de mão, emboscadas, escoltas e patrulhamentos. Colaborou ainda na protecção e segurança dos movimentos das colunas de transporte dos meios de pavimentação e asfaltagem da estrada Mansabá-Farim e na segurança e protecção dos aldeamentos e organização dos sistemas de autodefesa e promoção sócioeconómica das populações.

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 3 metralhadoras pesadas, 1 pistola-metralhadora, 8 espingardas e 28 granadas de armas pesadas e 50 minas detectadas e levantadas.

Em 14Fev71, foi rendido no Sector 04 pelo BCaç 3832 e recolheu a Bissau para embarque.

***

A CCaç 2587 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1686 e assumir a responsabilidade do mesmo subsector, com destacamentos em Uaque, Rossum, Bindoro e Jugudul. Em 15Nov69, por criação do subsector respectivo, a sede da subunidade foi transferida para Jugudul, mantendo os destacamentos de Uaque, Rossum e Bindoro e sendo substituída em Mansoa pela CCaç 2588. 

Em 15Jan70, por troca com a CCaç 2588, regressou a Mansoa, com a missão de intervenção e reserva do sector, onde se manteve até 04Mai70, sendo substituída pela CCaç 15, tendo actuado em diversas operações realizadas nas regiões de Locher, Bindoro e Polibaque, entre outras, e escoltas a colunas.

Em 05Mar70, rendendo a CArt 2411, assumiu a responsabilidade do subsector de Porto Gole, com um destacamento em Bissá.

Em 17Fev71, rendida pela CCaç 3303, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

***
A CCaç 2588 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1685, ficando em missão de intervenção e reserva do sector, tendo actuado em diversas operações realizadas nas regiões de Locher, Changalana, Benifo, Ponta Bará e Namedão, entre outras, e escoltas a colunas. 

Em 15Jan70, por troca com a CCaç 2587, assumiu a responsabilidade do subsector de Jugudul e seus destacamentos de Uaque, Rossum e Bindoro.

Em 15Fev71, rendida pela CCaç 2304, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
* **
A CCaç 2589 seguiu em 14Mai69 para Mansoa, a fim de render a CCaç 1684, destacando efectivos para Braia e Cutia

Em 27Nov70, a sede da companhia foi transferida para Cutia, para protecção e segurança dos movimentos na estrada Mansoa-Mansabá.

Em 15Fev71, rendida pela CCaç 3305, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Observações:  Tem História da Unidade (Caixa n." 110 - 2.a Div/4." Sec, do AHM\

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas das Unidades: Tomo II - Guiné - 1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002, pp. 133/134
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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 22 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23099: Tabanca Grande (532): Padre José Torres Neves, missionário da Consolata, ex-alf graduado capelão, BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 859

Guiné 61/74 - P23124: Parabéns a você (2049): Abel Rei, ex-1.º Cabo At Art da CART 1661 (Guiné, 1967/68); António Graça de Abreu, ex-Alf Mil Inf do CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74); Rosa Serra, ex-Alferes Enfermeira Paraquedista da BA 12 (Bissau, 1969) e Valdemar Queiroz, ex-Fur Mil Art da CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego e Paúnca, 1969/71)




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Nota do editor:

Último poste da série: 27 de março de  2022 > Guiné 61/74 - P23116: Parabéns a você (2048): Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At Art MA da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) e Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Especiais da CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, 1974)

terça-feira, 29 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23123: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXX: Berlengas, Peniche, Portugal, junho de 2019,


Foto nº 1 > Berlengas, Peniche: forte de São João Baptista


Foto nº 2 > Berlengas, Peniche: bairro dos pescadores


Foto nº 3 > Guiné, região do Cacheu , Canchungo, CAOP 1 > O alf mil António Graça de Abreu (1)


Foto nº 4 > Guiné, região do Cacheu , Canchungo, CAOP 1 > c. 1972 > O alf mil António Graça de Abreu (2)

Fotos (e legenda): © António Graça de Abreu (2021) Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Berlengas, Peniche, Portugal, junho de 2019

por António Graça de Abreu


[Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de três centenas de referências no blogue; texto e fotos  enviados em 12/7/2021]

Nos anos que perduram nas circunflexões da memória, recordo, em 1972, o alferes Marques, adjunto do major Pimentel da Fonseca -- o homem de Operações, no CAOP 1 ( Comando de Agrupamento Operacional nº 1) --, meu camarada de armas e companheiro de quarto em Teixeira Pinto, Canchungo, Guiné-Bissau.

O Marques, então quase com dois anos de guerra dura, acordava com inusitada frequência, a meio da noite e, estremunhado, tonto de sono, encharcado em suor, do seu canto, do outro lado do quarto, lançava umas tantas barbaridades. Numa dessas noites, disse mais ou menos o seguinte: “A integridade da Pátria, lutar até à morte pelas Berlengas. Essas, sim, serão sempre portuguesas.” E, exausto, com sonhos raiados a vermelho, pairando por sangrentas bolanhas, o tarrafo e atlânticas proezas, o alferes Marques adormecia outra vez.

Só aos setenta e dois anos de idade, cinco décadas depois da Guiné, em Junho de 2019, atravessei o pedaço de mar entre Peniche e as Berlengas. Águas alterosas, uma lancha grande de pescadores, agora transporte turístico, e aí vamos rompendo as ondas.

Bonita a ilha, o forte de São João Baptista envolto em maresia, a tresandar de humidade. O trilho, subindo para o farol, a pedra da ilha rasgada a meio pela natureza. Gaivotas, cagarras, lagartixas por todo o lado. 

Desço pelo caminho cimentado até aos socalcos do parque de campismo. Os olhos caem no Carreiro do Mosteiro, uma tira de areia aberta para o mar. Barquinhos, gentes no banho, a água muito fria. Cansado, abanco no restaurante. Sardinhas assadas. Chegam sete peixes a saltitar na travessa, mais um vinho verde fresquinho, o “tal da Lixa”, para olear a goela e embebedar os lombos das sardinhas, no estômago. 

Agora, um velho combatente, ancorado em cima do mar, num enorme rochedo mirando Peniche, lembrei-me do alferes Marques, da Guiné-Bissau, da “ditosa pátria minha amada”. Sardinhas, mar azul e Portugal.
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23075: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XXIX: Ìndia, Cochim, novembro de 2016

Guiné 61/74 - P23122: (In)citações (202): Criei o Pel Caç Nat 57, construi o destacamento de Bindoro, a pá e pica, e vivi diaramente, ombro a ombro, com esses fantásticos balantas da região do Oio (Fernando Paiva, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 57, Mansoa, Bindoro e Bolama, 1967 / 1969)


Brasão do Pel Caç Nat 57, "Os Intocáveis".
Imagem da coleção do © Carlos Coutinho (2011),
reproduzida com a devida vénia...
Também disponível aqui,


1.  Comentário  do Fernando Paiva ao poste P23099 (*)

Data - terça, 22/03/2022, 21:48

Assunto - Bindoro

Caro Luís Graça,

Muito obrigado por esta mensagem (*).

Cheguei ao Bindoro, em maio de 1967, com o Pel Caç Nat 57, para lá instalarmos um Destacamento. 

O objetivo principal era impedir o abastecimento de arroz por parte do PAIGC, junto daquela aldeia balanta, de facto abundante em arroz, dada a grande fertilidade das suas bolanhas. 

Por lá fiquei, até julho de 68. Nesse período, o comando militar era exercido pelo BCaç 1912, sediado em Mansoa.

Por pouco tempo, o acompanhamento espiritual foi exercido pelo Padre Mário de Oliveira (recentemente falecido) a quem não deram tempo para ir ao Bindoro.

Das fotos (Missa no Bindoro) (*), reconheço aquela barraquinha feita de adobes. Era onde eu dormia e guardava documentação. Depois de três meses a dormir ao relento, seguidos de outros  seis no abrigo subterrâneo, era um hotel de 3 estrelas. Até cortinas tinha (pano que servira de saco para a farinha!).

Tive um Furriel Mexia. Será este Joaquim Mexia Alves? Pelo sim, pelo não, agradecia uma nota de esclarecimento do próprio.

Tenho alguns apontamentos escritos daqueles 14 meses que passei no Bindoro e que posso partilhar com aqueles que, também, por lá passaram. Mas onde estão eles? Onde estamos nós?

Um abraço
Fernando Paiva

2. Mensagem, mais antiga, do Fernando Paiva (**)
Data - domingo, 20/11/2011, 19:03



Caro Luís Graça,

Tomei conhecimento deste seu trabalho de promover ligações entre gente que esteve na Guiné, através duma sua amiga, Laura Fonseca,  que conheci, recentemente.

Também estive na Guiné, de Abril de 67 a Abril de 69.

Fui, em rendição individual, para criar o Pelotão de  Caçadores  Nativos 57, em Mansoa. A pá e pica, construímos o Destacamento de Bindoro, onde permaneci, até Julho de 68, quando fui transferido para Bolama.

Vivi, diariamente, quase ombro a ombro, com aqueles fantásticos Balantas, gente muito boa e corajosa, que aprendeu, às suas custas, a melhor maneira de coexistir com a tropa e o PAIGC, num “jogo de cintura” que eu julgo ser muito comum, em períodos de guerra civil, como foi aquele em que se viveu, na Guiné.

Gostava de ter alguma informação, quer da gente do Bindoro, quer dos militares, de cá e de lá, com quem partilhei alguns dos momentos mais emocionantes da minha vida.

Muito obrigado pela sua iniciativa e pela sua dedicação. (***)

Fernando Paiva
Amarante

3. Comentário do editor LG:

Camarada Paiva: volto a repetir em parte o que te escrevi em 2011, e que não sei  se chegaste a ler, uma vez que nunca deste sinais de vida, a não ser há dias...

Destaquei, na altura, o facto de teres: 

(i) sido um dos fundadores do Pel Caç Nat 57, e o seu primeiro comandante;

 (ii) andado por Mansoa e por Bindoro (cujo destacamento construíste, a pá e pica); 

e (iii)  e falado dos balantas com tão grande apreço e inteligência.

E, a propósito, também concordo contigo e assino por baixo, relativamente ao que escreveste sobre os teus balantas: "gente muito boa e corajosa, que aprendeu, às suas custas, a melhor maneira de coexistir com a tropa e o PAIGC, num 'jogo de cintura' que eu julgo ser muito comum, em períodos de guerra civil, como foi aquele em que se viveu, na Guiné").

Logo na altura, em 20/11/2011,  te  convidei para te "sentares aqui ao nosso lado, à sombra do nosso poilão, nesta Tabanca Grande que não tem muros, nem arame farpado, nem cavalos de frisa, nem abrigos, nem espaldões, nem ninhos de metralhadora... É um espaço de partilha de memórias e de afetos, onde cabem todos os camaradas da Guiné, sem qualquer distinção".

Por outro lado, e mais de dez anos passados, continuamos a não ter, na Tabanca Grande, nenhum representante do Pel Caç Nat 57, temos gente de (ou referências a) todos os Pel Caç Nat do 50 ao 70, com exceção do 62, 64, 66 e 68  (que também existiram). 

Serás o camarada certo para nos falares dessa unidade que ajudaste a criar.  O mesmo se passa com esse topónimo, Bindoro, um lugar de que também sabemos pouco. Se tens alguns apontamentos sobre as tuas vivências desses 14 meses que aí passaste, então partilha-os connosco, agora sentado à sombra do nosso poilão. 

Tenho o lugar n.º 860 disponível para ti, se me responderes na volta do correio. Só te peço que nos mandes as duas fotos, digitalizadas, da praxe: uma do "antigamente", e outro mais ou menos atual. Temos algumas "regras de convívio bloguístico" que já deves conhecer, e que podes reler aqui: as 10 regras da política editorial do blogue... (E uma das regras mais elementares é o tratamento por tu como antigos camaradas de armas, que beberam a água do Cacheu, do Mansoa, do Geba, do Corubal, do rio Grande de Buba, do Cumbijã, do Cacine....)

Um abraço de boas vindas. Ficarei muito feliz se te decidires juntar aos 859 "amigos e camaradas da Guiné", entre vivos e mortos. Um beijinho para a Laura Fonseca se a voltares a encontrar pelas tuas bandas: tem casa na Lixa, Felgueiras, era vizinha e amiga do saudoso padre Mário de Oliveira (1933-2022), que foi capelão, por 4 meses, do BCAÇ 1912, a que estiveste adido. Vejo a Laura com frequência (e falo com ela regulamente).

Luís Graça

Aproveito para te esclarecer que o Joaquim Mexia Alves, que vive hoje na Marinha Grande, não é nem podia ser o teu furriel Mexia, embora tenha também passado por Mansoa. É mais novo do que tu. É um histórico do nosso blogue, com quase 300 referências, foi Alf Mil Operações  Especiais da CART 3492/BART 3873, Xitole/Ponte dos Fulas; comandante do Pel Caç Nat 52, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão e passou ainda pela CCAÇ 15, Mansoa, entre 1971 e 73. É o "regulo" da Tabanca do Centro (sediada em Monte Real, tertúlia que antes da pandemia se reunia todos os meses em almoço-convívio).


(***) Último poste da série > 24 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23107: (In)citações (201): Invasão da Ucrânia pela Federação Russa (3): Similitudes (Fernando Gouveia, ex-Alf Mil Rec Inf do CMD AGR 2957)

segunda-feira, 28 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23121: Notas de leitura (1431): "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa; Chiado Books, Agosto de 2021 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Março de 2022:

Queridos amigos,
É mesmo uma surpresa, um cultor do classicismo andou por Guileje e paragens limítrofes, entre 1968 e 1970, creio que se disfarça no primeiro-cabo Martins, das Transmissões, são memórias onde não faltam referências a Horácio, Virgílio, Dante, Camões, há a preocupação de resistir à tentação de passar ao crivo a história da Guiné ou martelar as vias sinuosas da luta pela independência, é um livro cheiro de olhares, alguém que reza o terço, que se comove com a inocência das crianças, vê partir colunas de abastecimento e sente um remorso por nelas não participar. Já chegou a hora da primeira flagelação, muito mais se seguirá, o tomo memorial ultrapassa as quinhentas páginas, foi editado pela Chiado Books recentemente, faz hoje parte do Grupo Atlântico Editorial.

Um abraço do
Mário



Uma invulgaridade da literatura da Guerra da Guiné (1/4):
O Silvo da Granada, por José Maria Martins da Costa


Mário Beja Santos

Uma surpresa, e com aspetos bem curiosos, este "O Silvo da Granada, Memórias da Guiné", por José Maria Martins da Costa, Chiado Books, agosto de 2021. O leitor é colhido por uma prosa onde primam citações de clássicos, a começar pelo latim, tudo passa a ser entendível quando se lê o currículo que o autor apresenta:
“Natural de Roriz, concelho de Santo Tirso, aí frequentei a escola primária, finda a qual entrei no seminário, mais precisamente no Mosteiro da Ordem Beneditina. Saí no sétimo ano, talvez para voltar daí a trezentos anos como o monge de Bernardes. Como trezentos anos demoram a passar, para não estar ocioso entretive-me a tirar o curso de Filosofia na Universidade do Porto, e ainda o de Latim, Grego e Português, e respetivas literaturas, na Universidade de Coimbra. Entretanto, assentei praça no Exército, indo para a Guiné como combatente da Guerra do Ultramar e assentei arraiais civis no Porto, onde casei, fui professor e jornalista. Nesta cidade, tenho levado vida plácida e remansosa, dentro dos parâmetros da Aurea Mediocritas de Horácio. Por falar em Horácio, ia-me esquecendo de dizer que publiquei há anos um livro de poemas intitulado Libellus, palavra latina que tanto pode significar pequeno livro como libelo acusatório. Fora das partes líricas, acusava realmente e castigava alguns dos costumes e vícios da sociedade contemporânea. Queria endireitar o mundo. Mas o mundo ignorou o livro e continuou cada vez mais torto”.
Guiné > Região de Tombali - © Infografia Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Coube-lhe na rifa Guileje e algo mais, entre maio de 1968 e julho de 1970, apresenta-se como Martins, primeiro-cabo de Transmissões, especialidade que tirou em Lisboa, andou pelo Algarve e embarcou num Niassa em rendição individual. Mal chegou, puseram-no a levar corpos ao cemitério de Bissau, depois percorre a cidade, recorda a família e amigos, vem-lhe à memória um soneto de Gonçalves Crespo e a poesia camoniana, no quartel dos Adidos assiste a uma arenga de Spínola às tropas recém-vindas. “Ao Martins, por vício de formação, que o faz apreciar arroubos de retórica, ainda quando empolada, só lhe ficou o enfático da arenga”. Percorre o cais de Pijiquiti, um relojoeiro no Bissau Velho fala-lhe dos incidentes de 3 de agosto de 1959. E chegou a hora de partir num batelão, primeira etapa Bolama, adormece rezando, a passagem pela antiga capital é muito rápida, dirigem-se agora para Cacine, lembra-se do poeta Dante. O Martins vai a terra. “Procede do cais uma alameda de palmeiras, poeirenta, em terra batida, ladeada, mais adiante, das dependências do aquartelamento. Um simulacro de porta de armas separa a área militar da povoação. Aliviados das provisões destinadas à tropa daqui e também à de Cameconde, destacamento a meio para a fronteira, rumam a Gadamael”. O resto do percurso será por terra, haverá camiões escoltados por camiões de combate. Alguém procura sossegar o Martins. Contempla Gadamael, recolhe cedo ao decrépito cardenho à laia de abrigo.

Já o trataram por Periquito, o mesmo que novato, vem com uma farda enorme, em Guileje um antigo alfaiate irá pôr-lhe a indumentária ajustada. Vai bisbilhotar o posto de rádio, há um camarada a expedir mensagens. No bar, alguém lhe fala do cruzamento de Guileje, relata uma tragédia que ocorreu a 28 de março desse ano de 1968, um encontro com gente armada, ao princípio um equívoco, vinha à frente um homem de tez clara, um cubano, seguiu-se forte tiroteio, seguiu-se um ataque de abelhas, houve ações de autêntico heroísmo para recolher os corpos de dois soldados abatidos. Essa companhia estava agora em Gandembel, ali a uns 10 km de Guileje, a escavar abrigos e a levantar paredes, a viver num inferno, a flagelar da fronteira, a emboscar e a minar a picada. E lá vai o Martins para Guileje, passa-se pelo tal nefasto cruzamento, manda a propriedade do termo que se fala em entroncamento, onde convergem sem se cruzarem duas picadas: a que procede de Cacine e Gadamael e sem desvio continua para Gandembel, tendo mais adiante Aldeia Formosa; e estoutra que nela entronca e a Guileje vai dar.

Dá-nos a primeira impressão desse aquartelamento que lhe parece inexpugnável, logo é atraído pela questão da falta de água, todos os dias há que viajar para fora da cidadela 3 km. Ele faz parte do Pelotão de Caçadores Nativos n.º 51, já desceu ao seu abrigo e tem cama, nada a registar de flagelações ou atos inoportunos. Vai espreitar a tabanca, conhecerá um pequenito com quem saboreará uma refeição. Apercebe-se que isto de almoçar ou jantar não é de estar abancado com os outros, dá-se o sinal de que a cozinha está pronta, recebe-se a provisão e come-se no abrigo, para evitar nefastos acontecimentos de um estoiro em cima de um refeitório. Alguém lhe pergunta de onde ele é, responde impante que é de S. Pedro de Roriz, que tem igreja românica, calçadas pré-romanas de enormes lájeas, e uma paisagem rural de encher o olho… e há a rivalidade entre o Desportivo das Aves e o Tirsense.

E começam as colunas de abastecimento, aquelas que são um calvário, as que levam a Gandembel, alguém faz o relato de fornilhos que desmembram os corpos, ele tudo regista o que ouve do sofrimento dos outros. A sua vida é no posto de rádio, que ele descreve: “É um pequeno edifício térreo, com dois compartimentos: uma sala ao rés-do-chão e uma cave abrigo. Na sala, a um lado da entrada, fica a mesa do operador; do outro, um alçapão sinistro a modo de escotilha em porão de navio, sendo ocupado o restante espaço por camas. O alçapão abre para o abrigo, que subjaz ao pavimento da sala e ao qual se desce por íngreme escada de madeira ou agarrado a um varão de ferro liso e redondo”. Ali se trabalha por turnos, quase sentimos o operador a martelar mensagem.

Chegou a hora do Martins se iniciar em flagelações, parecia que à volta de Guileje reinava a placidez de um lago adormecido, os militares iam passando pela cozinha, e nisto um estampido lá ao longe, salta-se para as escadas, desce-se às profundezas, “em toda a Guileje, militares e civis, brancos e pretos, mulheres com crianças enfaixadas nas costas, enfiam desabaladamente, como flechas, para o refúgio mais próximo”. Ouvem-se as explosões, os tímpanos parece que estouram, aquela criancinha com quem ele está a acamaradar agita-se-lhe a cabeça num estremecimento brusco, está de olhos esbugalhados. A artilharia de Guileje responde e mais adiante o fogo do PAIGC, procura-se a normalidade, uma deceção, o gato comeu os carapaus, estava-se nas tintas para a infernal fuzilaria, não pode resistir ao cheiro a peixe frito, cabe ao Martins uma pratada de arroz e uns carapauzinhos frios.

E temos agora uma coluna que vai picando e ao encontro da tropa de Gadamael, pela mesma picada em que o Martins veio, a escolta é uma enorme serpente de militares que vão avançando espaçados, roncam surdamente os camiões, pela cabeça do Martins aquela imagem da serpente lembra-lhe o poeta Virgílio, como mais adiante lhe ocorre um sermão do Padre António Vieira, dá-se espaço para falar das armas do PAIGC, segue-se uma descrição de uma boa chuvada, é nisto que rompendo os ares se aproximam três helicópteros, vem aí Spínola.

(continua)

José Casimiro Pereira de Carvalho, Furriel de Operações Especiais, colocado na CCAV 8350 (‘Os Piratas de Guileje’) (Foto: José Casimiro Carvalho)
Na foto, do Pel Caç Nat 51, da esquerda para a direita: Furriel Castro, Furriel Azevedo, Alferes João Perneco, Furriel Carvalho e Cabo Raul. (Foto: José António Viegas)
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Nota do editor

Último poste da série de 21 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23097: Notas de leitura (1430): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23120: Recortes de imprensa (122): Na Série Especial "A minha Guerra", do Correio da Manhã, de sábado 26 de Março, foi publicado um pequeno texto sobre a nossa camarada Giselda Pessoa, que aqui reproduzimos com a devida vénia e à sua autora, Manuela Guerreiro

Inserido na sua Série Especial "A minha Guerra", o Correio da Manhã publicou na sua edição de sábado 26 de Março um pequeno texto sobre a nossa camarada Giselda Pessoa, texto que aqui reproduzimos com a devida vénia ao Correio da Manhã e à sua autora, Manuela Guerreiro.


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Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23083: Recortes de imprensa (121): Debate sobre a Guiné-Bissau na Assembleia Geral da ONU em plena crise petrolífera (Diário de Lisboa, 23 de outubro de 1973)

Guiné 61/74 - P23119: Bibliografia (50): Movimento Nacional Feminino: Área de apoio material: secção de aerogramas (Sílvia Espírito-Santo, excerto de artigo em preparação, cortesia da autora)


Um exemplar do aerograma amarelo, gratuito para os militares. O aerograma azul era vendido a familiares e madrinhas de guerra, ao preço unitário de 20 centavos (até 1971), e depois 30 centavos (a partir de 1971) (a preços de hoje, e na moeda em vigor, seriam 9 e 8 cêntimos, respetivamente).

"Este Aerograma foi-me devolvido tal como está, traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, efectuada à coluna Piche-Nova Lamego, em que faleceram o Alf Mil Soares, o 1º. Cabo Cruz, o Sold Cond Ferreira e o Sold Manuel Pereira, todos da CART 3332. Guardo-o religiosamente comigo..." (Carlos Carvalho).

Documento que nos foi enviado pelo nosso grã-tabanqueiro Carlos [Alberto Rodrigues] Carvalho, ex-fur mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche e Ponte Caium, 1970/72, irmão da nossa amiga Júlia Neto e, portanto, cunhado do nosso saudoso capitão Zé Neto. Muito provavelmente o aerograma ia no saco do correio... Pelo que se depreende, o destinatário do aerograma era um seu familiar, possivelmente a sua mãe (Rosa Maria Silva Simão Melo Rodrigues de Carvalho), que vivia em Lamego. Não temos tido notícias deste camarada. Página no facebook: Carlos Alberto Carvalho. (*)


1. Mensagem, com data de sexta, 25/03/2022, 21h51, de Sílvia Espírito-Santo, investigadora, que tem estudado o Movimento Nacional Feminino, autora de “Cecília Supico Pinto: o rosto do movimento nacional feminino” (Lisboa: A Esfera do Livro, 2008, 222 pp.):

Caro Luís Graça,

Espero que esteja tudo bem consigo. Peço desculpa pelo meu longo silêncio.
 
Não me esqueci que tinha ficado de enviar um texto sobre os aerogramas. Aqui vai agora. Não sei se terá interesse para o vosso blog,  o Luís dirá! São apenas algumas linhas de um artigo mais vasto sobre o MNF que, espero, talvez venha a ser publicado lá para o fim do ano!

Agradeço a informação sobre a cançonetista Isabel Amora (que não conhecia) nos espectáculos para militares. Até agora, nas minhas pesquisas sobre o MNF ainda não vi qualquer referência a este nome, mas vou estar atenta.

Um cordial abraço
Sílvia
 
2. Movimento Nacional Feminino (MNF): Área de apoio material: secção de aerogramas

por Sílvia Espírito-Santos (excerto de artigo em preparação, cortesia da autora) (**)

A secção dos aerogramas foi a primeira iniciativa do MNF e foi das que alcançou maior notoriedade dado que os «bate-estradas», assim designados na gíria militar, constituíram sempre o principal elo de ligação entre militares e famílias (1). 

 Uma secção cuja dimensão e complexidade, levaram, a partir dos últimos anos da década de 60, à colaboração do Major Pinto Enes, um militar cuja trabalho e «dedicação» seriam reconhecidos pelo MNF como de grande importância para «um controlo perfeito deste serviço e uma administração equilibrada»(2).

Com pouco mais de um mês de existência, o MNF já tinha percebido a importância que um serviço postal gratuito podia ter para os militares, pelo que solicita ao governo a isenção de franquia postal para a correspondência entre estes e seus familiares; a resposta seria dada pela Portaria nº18 545 de 23 de Junho de 1961 – e revista pela de 513/71 – que atribuía à comissão central do MNF a exclusividade na edição de impressos próprios para esse fim.

Surgem por esta via dois tipos de aerogramas: 

(i) os amarelos, gratuitos para militares;

(ii)  e os azuis vendidos a familiares e madrinhas de guerra pelo preço unitário de $20 (vinte centavos).

Determinava ainda a Portaria que a entrega destes devia ser feita em mão nos CTT a fim de garantir a sua utilização apenas pelos autorizados.

Até 1971, o MNF editou 200 milhões de aerogramas (até 1974 o número ascenderia aos 376 milhões), sendo distribuídos, nesse ano, 26 058 010 amarelos e vendidos apenas 15 900 145 azuis – apesar da Portaria 513/71 ter feito cessar as restrições estabelecidas à aquisição apenas por familiares e madrinhas de guerra –, num total de 41 958 155; números que decrescem em relação ao ano anterior, registando-se uma quebra de 1 700 000 na venda dos azuis, embora a distribuição dos amarelos tivesse aumentado para 5 800 00 (3),

A circunstância é justificada com o uso dos amarelos «na correspondência da Metrópole para o Ultramar […] enviados pelos militares às suas famílias […] ou usados pelos próprios militares quando regressam […] chegando mesmo a vendê-los» visto terem sido aumentadas as «dotações de todas as Províncias para os quantitativos usados para Angola (12 aerogramas/homem/mês)  (4); mas também, como atestam as reclamações chegadas ao MNF e os protestos publicados na imprensa nacional e regional, pelo descontentamento da população com a obrigatoriedade da sua entrega em mão nos postos dos CTT e não em marcos ou caixas de correio como era pretendido (5).


Aerograma azul recebido pelo João Crisóstomo, SPM 2918


Embora a despesa de emissão dos aerogramas gratuitos fosse coberta pelo aumento do preço dos azuis para $30, para tentar sanar os protestos que chegavam à organização e aos jornais, a presidente do MNF solicita ao ministro da Defesa Nacional, general Horácio Sá Viana Rebelo (1910-1995), e ao ministro das Comunicações, Engenheiro Rui Sanches (1919-2009) a alteração desta disposição (6).  Solicitação que foi recusada já que, segundo o ministro Horácio Sá Viana Rebelo, continuava a prevalecer a necessidade de «fiscalização sobre essas correspondências, quer quanto à qualidade dos seus destinatários, quer quanto à inclusão nos aerogramas (única forma de correspondência adoptada) de papéis ou objectos, o que, na prática, não raras vezes se verifica[va]» (7). 


Um aerograma azul... remetido pelo Beja Santos, SPM 3778


 Por outras palavras, se por um lado a  disposição ministerial tentava evitar que os aerogramas fossem utilizados por quem não tinha direito a eles ou transportassem, o que não era raro, notas, medalhas e fios de ouro ou prata, por outro, e mais plausível  dado o clima de crescente contestação  à guerra, o seu aproveitamento como meio de transporte de «propaganda subversiva» para o Ultramar.

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Notas da autora:

[1] Sobre aerogramas: Eduardo Barreiros e Luís Barreiros, História do serviço postal (Lisboa: Edição dos autores, 2004).

[2] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2726.2.

[3] Relatório da Comissão Executiva do MNF período de 30-1 a 31-12 de 1971, Arquivo Cecília Supico Pinto… 

[4] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de S. Julião da Barra, caixa 2495.2.

[5] MNF, Parecer 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2459.3.

[6] MNF, Memorial 1971, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, caixa 2495.2.

[7] MNF, Memorial 1973, Arquivo de Ministério da Defesa Nacional, Forte de São Julião da Barra, ofício 1275, processo 2.15.1, 2, caixa 2495.2.

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Notas  do editor:

(*) Vd. poste de 24 de novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7327: Facebook...ando (1): O aerograma traçado de balas ou estilhaços na emboscada de 26/10/1971, na estrada Piche-Nova Lamego, e em que morreram 4 camaradas da CART 3332 (Carlos Carvalho)

domingo, 27 de março de 2022

Guiné 61/74 - P23118: Ser solidário (244): Coro Municipal e população da Lourinhã, 27 de março de 2022, 11h00: Orar pela paz na Ucrânia



Vídeo (3' 36'') > You Tube > Luís Graça (2022)

Lourinhã, 27 de março de 2022: Coro Municipal da Lourinhã, dirigido pelo jovem, talentoso e polivalente maestro Carlos Pedro Alves, com a colaboração da população local, interpreta o cânone de W. Mozart "Dona Nobis Pacem" (Dai-nos a Paz).

A vila estremenha, "capital dos dinossauros", associou-se deste modo a outras vilas e cidades europeias que, neste dia, vieram às ruas com os seus coros orar pela paz na Ucrânia.

O coro interpretou também, entre outras, a famosa e sublime canção alpina “Signore delle cime”, composta em 1958 pelo italiano Giuseppe de Marzi. 



Vídeo (1' 24'') > You Tube > Luís Graça (2022)


Signore delle cime (1958) > Letra:

Dio del cielo, Signore delle cime,
Un nostro amico hai chiesto alla montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo:
Su nel Paradiso, sul nel Paradiso
lascialo andare per le tue montagne.

Santa Maria, Signora della neve,
Copri col bianco soffice mantello,
Il nostro amico, nostro fratello,
Su nel paradiso, su nel paradiso
Lascia lo andare per le tue montagne.

Dio del cielo, l’alpino chè caduto,
Ora riposa nel cuor della montagna.
Ma ti preghiamo, ma ti preghiamo.
Una stell’alpina, una stell’alpina
Lascia cadere dalle tue montagne.

Guiné 61/74 - P23117: (Ex)citações (404): Um célebre escritor sueco de finais do séc. XVIII afirmou: “Depois dos setenta anos as únicas verdadeiras surpresas que a vida nos traz são todas relacionadas com a saúde" - Teria de mudar de opinião se lesse alguns comentários do nosso blogue... (José Belo, EUA)


José Belo, jurista, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e os EUA (Key West, Nova Orleans...); (ii) foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia, agora jubilado; (iii) na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); (iv) é cap inf ref do exército português; (v) durante anos alimentou, no nosso blogue, a série "Da Suécia com Saudade"; (vi) tem cerca de 220 referências no nosso blogue.


Aqui segue foto actualizada para quando é necessário.....Dar a Cara! Um abraco .....Luso / Sueco / Lapäo / Americano...o que é uma já boa colecäo de identidades difíceis de coordenar em momentos..."patrioteiros"!



1. Mensagem do Joseph Belo:

Data - quinta, 24/03/2022, 21:25 


Assunto -  O “tal” minuto antes das zero.


Célebre escritor sueco dos finais do século dezoito afirmou: “Depois dos setenta anos as únicas verdadeiras surpresas que a vida nos traz são todas relacionadas com a saúde".

Teria que mudar de opinião se tivesse tido a oportunidade de ler alguns dos comentários do nosso Amigo, Camarada e Poeta Graça de Abreu (*).

Estamos em 2022. São outros os parâmetros que enquadram as sociedades actuais. As “armas de arremesso“ que alguns continuam a utilizar,  estão já há muito ultrapassadas pelos novos contextos sociais. Cai-se numa agressividade contínua, pessoalizada, que acaba por raiar áreas de patologias várias.

A propósito de um texto sobre Amílcar Cabral, salta-se compulsivamente para afirmações como: “Mário Beja Santos a caminho da Ucrânia ou da Bielorrússia... suprema inteligência tuga neste blogue, debruçado sobre as bandas de Moscovo” (*).

Felizmente que este tipo de compulsividade analítica de áreas e situações já abrangidas pela paleontologia, se limita a um reduzido número de irredutíveis “passadistas”.

Só humoristas de gabarito se lembrariam hoje, tendo em conta o passado de activista maoísta do Sr. Dr. Durão Barroso aquando estudante, de sugerirem o seu abandono do alto cargo em renomado banco da alta finança internacional para ...ir beber chá com os seus camaradas de Xangai. Enfim, quase o tal... vomitar a gargalhar!

Quando activista nas lutas estudantis contra a ditadura,  não estive “debruçado sobre as bandas de Moscovo“, e muito menos fui leitor de um certo livro, fosse ele vermelho, castanho, ou furta-cores.
Não serão essas as razões deste meu despretensioso texto.

As razões que aqui me trazem foram criadas pela (feliz e oportuna) correção efectuada pelo Amigo e Camarada Graça de Abreu a uma lista valorativa de personagens apresentada pela BBC.(*).

Verifica-se que um aí citado imperador chinês mais não era que uma imperatriz. Correção feliz e oportuna (e aqui repito-me conscientemente!) por nos levar direitamente ao "clitoris" da dita senhora e a muitas das consequências político-históricas do mesmo na vida social da corte chinesa.

Tendo sido um homem de “casernas” durante mais de uma década, e, como tal, sempre com um profundo interesse por tudo que é a problemática deontológica clitoriana, quase me atrevo a perguntar ao camarada corretor se a vida da senhora imperatriz referida se encontra publicada em inocente vídeo do YouTube? (Ou talvez em alguns dos “sites” mais resguardados por explícitos?)

E já agora, algumas referências bibliográficas que venham a contribuir para uma penetração mais profunda (salvo seja!) em tudo o relacionado com a dita senhora.

Infelizmente, uma atenta e nova consulta ao Clássico português dos finais dos anos cinquenta, que circulava entre os “filhos maus de boas famílias", e que tinha por título histórico... ”A Marca dos Avelares",  não me levou a encontrar referências detalhadas à madame imperatriz e, muito menos, às suas partes, no caso não púdicas mas antes... públicas!

Espera-se bibliografia... detalhada, detalhada, detalhada!

Como se diz nos States… Another Day Another Dollar.

Um respeitoso abraço do J. Belo (**)
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Notas do editor:

21 de março de  2022 > Guiné 61/74 - P23097: Notas de leitura (1430): “Amílcar Cabral - Pensar para Melhor Agir”; edição da Fundação Amílcar Cabral, Praia, 2014 (5) (Mário Beja Santos)

(...) antonio graça de abreu disse...

Tanta traição, não é Rosinha?

Mário Beja Santos, já, a caminho da Ucrânia, ou da Bielorússia... Acho que precisam dele, suprema inteligência tuga neste blogue, debruçado sobre as bandas de Moscovo.

Pois, as teses do Amílcar Cabral, o "génio africano" segundo as palavras e o entendimento de Mário Beja Santos. Sabemos hoje que tais teses resultaram em coisa nenhuma, nada funcionou. A África esqueceu-se da luminosidade do pensamento de Amílcar Cabral, as boas intenções não deram resultado em nenhum centímetro quadrado da nossa querida África. Que nos valha o Mário Beja Santos para, com Amílcar Cabral, nos explicar, depois do colonialismo, as maravilhas que iam acontecer e que nunca aconteceram. Depois da independência, foram milhares de mortos em lutas fratricidas. Onde estava o pensamento de Amílcar Cabral?

O Mário Santos continua a vender-nos a banha da cobra. Tristeza...

Abraço,

António Graça de Abreu21 de março de 2022 às 15:48 


(...) antonio graça de abreu disse...


Curiosa a lista dos grandes líderes, elaborada por historiadores anti-colonialistas primários como Hakim Adi. Até conseguem falar num milhão de guineenses reunidos por Amilcar Cabral quando em 1973 a população total da Guiné não chegava aos 600 mil habitantes.

Curiosa também a referência a Wu Zutian (624-705) que aparece na lista da BBC como imperador da China quando na realidade foi imperatriz, do sexo feminino. Antiga concubina, serviu dois imperadores e para usurpar o poder envenenou vários candidatos ao trono. Viúva, tinha o gosto de mandar matar os homens que com ela dormiam e utilizava para o seu prazer sexual. Em algumas audiências na corte, vestia um longo casaco de brocado. Nua da cintura para baixo, fazia ajoelhar os ministros, entreabria o casaco e obrigava-os a beijar o seu exercitado clitóris. Mulher hábil, forte e determinada, ficou na História da China também por algumas medidas que tomou e que deram mais força ao império chinês. Era a figura preferida de Jiang Qing (1914-1991), a quarta esposa de Mao Zedong, a mais proeminente criatura do famoso "bando dos quatro" que se suicidou aos 77 anos.


(**) Último poste da série > 5 de fevereiro de 2022 > Guiné 61/74 - P22971: (Ex)citações (403): no país onde nascemos, nem as "iscas com elas" eram para todos (Eduardo Estrela, Cacela Velha, Vila Real de Stº António; ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71)

Guiné 61/74 - P23116: Parabéns a você (2048): Armando Pires, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCS/BCAÇ 2861 (Bula e Bissorã, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil At Art MA da CART 2732 (Mansabá, 1970/72) e Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Especiais da CCS/BCAÇ 4612/74 (Mansoa, 1974)



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Nota do editor

Último poste da série de 25 de Março de 2022 > Guiné 61/74 - P23109: Parabéns a você (2048): Rui Silva, ex-2.º Sarg Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67)