domingo, 12 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24139: Agenda cultural (831): Lançamento, em Abril, do livro "Rumo à Revolução - Os Meses Finais do Estado Novo", por José Matos em coautoria com a jornalista Zélia Oliveira (José Matos)


1. Mensagem, datada de 11 de Março de 2023, de José Matos, membro da nossa Tabanca Grande, investigador em História Militar, que tem feito investigação sobre as operações da Força Aérea na Guerra Colonial, principalmente na Guiné, e é colaborador regular da Revista Militar, dando notícia do lançamento, em breve, do livro "Rumo à Revolução - Os Meses Finais do Estado Novo" de que é coautor com a jornalista Zélia Oliveira:

Caros amigos
Queria pedir a vossa divulgação do meu último livro no blogue.
Vai estar à venda brevemente (abril) em todas as livrarias. Para já ainda não está à venda, mas deixo aqui a capa e algumas notas, dado que também fala da Guiné.

- É uma abordagem histórica aos três meses que antecederam a revolução.
- Procuramos narrar com algum detalhe os acontecimentos na fase final do regime.
- Analisamos também a situação nas colónias (Moçambique, Guiné e Angola) e as intenções do Governo relativamente à guerra.
- Quem comprar vai perceber porque é que o 25 de Abril era inevitável e como é que o MFA preparou tudo.

Obrigado
José Matos


Clicar nas imagens para leitura dos textos
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24079: Agenda cultural (830): Convite do Grupo "Asas de Poesia" para a sessão de poesia e música a levar a efeito no dia 25 de Fevereiro de 2023, pelas 16h00, na Biblioteca Municipal Dr. José Vieira de Carvalho - Maia. A 1.ª Parte será preenchida com o Poeta José Teixeira. Haverá ainda a participação especial do Duo de Música de Coimbra, composto por Roberto Assis e Álvaro Basto

Guiné 61/74 - P24138: Parabéns a você (2151): SAj Ref GNR Manuel Luís Rodrigues de Sousa, ex-Soldado At Inf da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4512/72 (Jumbembem, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24127: Parabéns a você (2150): Cor Art DFA Ref António Marques Lopes, ex-Alf Mil Art da CART 1690/BART 1914 (Geba, Banjara e Cantacunda, 1967/69)

sábado, 11 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24137: Memórias cruzadas: Heremakono ou Hermancono, topónimo de origem mandinga, que quer dizer "à espera da felicidade" (Here=felicidade + makono=esperando) (ler Herêmakonó) (Cherno Baldé)


Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono (antiga Sinchã Djassi, Roel Coutinho chama-lhe "Hermangono") > 1974 >  Mulher 



Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono   > 1974 >  Três jovens estudantes, do sexo feminino.

Foto: ASC Leiden - Coutinho Collection - D 33 - Hermangono, Guinea-Bissau - Pupils at the northern front - 1974.tif


Senegal > Fronteira com a Guiné-Bissau > PAIGC > Base de Hermancono   > 1974 >  Milícia(s) (assim, de repente, o da esquerda parece levar ao ombro  uma G3). 


Fonte: Wikimedia Commons > Guinea-Bissau and Senegal_1973-1974 (Coutinho Collection) (Com a devida vénia...) . Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2023)


1. Comentários ao poste P24124 (*) 

Cherno Baldé,
Bissau
(i) Cherno Baldé:

Caros amigos,

Enquanto a gente tenta encontrar o local preciso onde estaria situada a base logística de Hermancono, navegando na Net encontrei um facto muito interessante sobre a origem e significado do termo.

Heremakono, termo ou nome original que vem do grande 
grupo etnolinguístico mandinga, um dos maiores da região ocidental do continente, designa uma localidade ou área habitacional e, pasme-se, significa "esperando a felicidade" - Here = felicidade + makono = esperando (ler Herêmakonó)  ~topónimo muito frequente e que se pode encontrar em vários países da região que contam com 
a presença deste grupo: Mali, Guiné-Conacri, Costa do 
Marfim, Serra-Leoa, Senegal,  entre outros. 

Mas, no nosso caso, tudo indica que teria sido adoptado pelos elementos da guerrilha filiados no PAIGC que, na verdade, eram das mais diversas origens e credos.

Assim, Heremakono ou Hermancono (a corruptela guineense) seria uma espécie de estação de passagem simbolicamente bem pensada e geograficamente bem situada, enquanto esperavam a felicidade suprema da libertação da sua Guiné-Bissau, onde jorraria leite e mel para a eternidade.

Afinal, os homens do Paigc, para além de bons guerrilheiros, também eram poetas e grandes sonhadores.


(ii) Cherno Baldé:

Em 2002 um cineasta mauritano, Adheramane Sissako, realizou um filme centrado no irrestível sonho e vontade dos jovens africanos para a emigração e deu-lhe o sugestivo nome de Heremakono. E qualquer pesquisa na Net será a primeira informação a aparecer.

7 de março de 2023 às 23:55 

(iii) Tabanca Grande Luís Graça

Eureca!... Cherno, a tua intuição, a tua cultura, a tua santa paciência e sobretudo os teus conhecimentos etno-linguísticos são um "valor acrescentado" para o nosso blogue...

Estou inclinado também a seguir o teu raciocínio... Numa pesquisa na Net também encontrei o topónimo Heremakono, em vários países cujos territórios fizeram parte do antigo Império do Mali... Mas o melhor é citar-te, porque tu é que és o nosso mestre:

(...) Heremakono, termo ou nome original que vem do grande grupo etnolinguístico mandinga, um dos maiores da região ocidental do continente, designa uma localidade ou área habitacional e, pasmem-se, significa "esperando a felicidade" -Here = felicidade  +  makono=esperando- (ler Herêmakonó)...

...topónimo muito frequente e que se pode encontrar em vários países da região que contam com a presença deste grupo: Mali, Guiné-Conacri, Costa do Marfim, Serra-Leoa entre outros .
...Mas, no nosso caso, tudo indica que teria sido adoptado pelos elementos da guerrilha filiados no PAIGC que, na verdade, eram das mais diversas origens e credos.

Assim, Heremakono ou Hermancono (a corruptela guineense) seria uma espécie de estação de passagem simbolicamente bem pensada e geograficamente bem situada, enquanto esperavam a felicidade suprema da libertação da sua Guiné-Bissau, onde jorraria leite e mel para a eternidade.


Teria sido algum "djidiu" que se lembrou de "rebatizar" Sinchã Jassi" (leia-se Sintchã Djassi) com o nome Hermancono ou Hermacono ?

Não há dúvida, Cherno, a guerra também se faz com o "simbólico", a força (imaterial) das ideias, das crenças, da poesia, das palavras, da ideologia, e não só com a força (material) das armas... 

Nisso, o Amílcar Cabral foi mestre... num terreno onde os seus rivais (a FLING) e os seus adversários (os Governos de Salazar e Caetano) falharam...

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

O filme passou em Portugal. 

Sinopse: O filme acompanha o dia-a-dia de Nouhadhibou (Mauritânia), cidade portuária, marcado pelo trânsito de emigrantes para a Europa, onde todos espera encontrar "a sua felicidade". Vencedor do FESPACO 2003

"Heremakono / À espera da felicidade"

Realizador: Abderrahmane Sissako  | Ano: 2002 | Documentário | Duração  95 m  | M/12 | França


Aqui está também uma entrada na Wikipedia (em inglês) sobre o filme do realizador mauritano, Adheramane Sissako, "Waiting for Happiness" (título original: Heremakono) (em francês: "Em attendant le bonheur"; em português: "À espera da felicidade") (*)
 

Tradução rápida, para os nossos leitores:

(...) "Waiting for Happiness" (título original: Heremakono; árabe: في انتظار السعادة, romanizado: fīl-intiẓār as-saʿāda) é um filme de drama mauritano de 2002,  escrito e dirigido por Abderrahmane Sissako. 

Os personagens principais são um estudante que voltou para sua casa em Nouadhibou, um eletricista e seu filho aprendiz e as mulheres locais. O filme é caracterizado por uma sucessão de cenas da vida quotidiana dos personagens que são específicas das suas culturas africanas e árabes, figuras que parecem arrancadas às páginas do livro Temporada de Migração para o Norte,  do romancista Tayeb Saleh (موسم الهجرة إلى الشمال). 

O espectador deve interpretar as cenas sem muita ajuda do narrador ou do enredo, enquanto a estrutura do filme se baseia nuuma série de momentos mundanos, mas visualmente atraentes, muitos dos quais se repetem em outras obras da obra de Abderrahmane Sissako, incluindo cenas numa barbearia. e numa cabine de fotos, também presente no seu anterior filme La Vie Sur Terre e posteriormente em Timbuktu. 

O filme apresenta momentos típicos mauritanos de beleza, luta, alienação e humor, vividos por grupos socialmente divididos entre si, como as mulheres Bidhan bebendo chá e fofocando, migrantes da África Ocidental passando pela Mauritânia para chegar à Europa (e encontrando uma camarada mal sucedido que deu à costa). 

O jovem protagonista que voltou, interage com todos esses grupos como um estranho, enquanto luta para se lembrar até mesmo de seu próprio dialeto árabe Hassaniya, mas prefere o francês. Muitos dos temas e personagens pressagiam o filme de Sissako de 2014, Timbuktu, e ambos exploram identidades liminares do Sahel autenticamente situadas na vida quotidiana. Esperando a Felicidade estreou-se no Festival de Cannes 2002 na seção Un Certain Regard.(...)

Sobre o realizador, ver também aqui uma entrada na Wikipedia (em português):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Abderrahmane_Sissako

8 de março de 2023 às 15:45 
 
(v) Cherno Baldé:

De salientar que o apelido do realizador mauritano "Sissako" é o mesmo que em outros países, nomeadamente Mali (o grande centro difusor da cultura e de expansão populacional), a República da  Guiné e a nossa Guiné- 
Bissau é Sissoco ou Sissokó.

Ainda, na época colonial havia quem respondesse por Sisseco ou Sisseko, como o caso do ex-alf 'comand0' do Batalhão de Comandos (primeira companhia?). Família de "Djidius" e artistas de longa tradição africana que se espalharam por toda a região Oeste do Oeste e hoje na diáspora.

O vocábulo "makonó", muito utilizado no folclore local, não era muito estranho aos meus ouvidos, grande consumidor, desde a infância, da chamada hoje música Afro-mandinga, mas a corruptela guineense "Hermancono" fazia muito ruído sensorial que impedia a sua compreensão imediata.
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Nota do editor:

(*) Vd. poste e 7 de março de 2023 > Guiné 61/74 - 24124: Memórias cruzadas: A base (logística) de Sinchã Djassi / Hermancono, na fronteira com o Senegal (contributos de Carlos Silva, Leopoldo Amado e A. Marques Lopes)

Guiné 61/74 - P24136: Os nossos seres, saberes e lazeres (560): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (93): Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Fevereiro de 2023:

Queridos amigos,
Ir visitar a Academia Militar e não conhecer a Bemposta, o palácio da rainha viúva D. Catarina de Bragança, a Biblioteca da Academia e a Capela Real dedicada à Nossa Senhora da Conceição, é como ir a Roma e não ver o Papa. Aqui se descreve muito abreviadamente que a Bemposta conheceu modificações de tomo desde o falecimento de D. Catarina em 1705, encerra um monumento nacional, é sede da Academia Militar, quem entra pela Gomes Freire terá que ficar assarapantado com aquela massa de edifícios agora sem préstimo, e depois passa a outro espaço, já estamos na Bemposta e numa entrada com largo átrio com impressionante azulejaria de Jorge Colaço, subindo a escadaria é um momento de emoção com a permanente evocação dos alunos da Escola que morreram em combate, em diferentes conflitos, tocante homenagem, estão ali alguns dos nossos camaradas tombados na Guiné; e mudamos de espaço, estamos na área do comando da Academia, outrora os aposentos e os salões da rainha viúva, novo itinerário até ficarmos embasbacados com uma biblioteca, seguramente uma das mais preciosas de Portugal, um espaço onde magnificamente se expõem livros de diferentes séculos e se guardam verdadeiros tesouros; e, por fim, a Capela Real, mesmo vendo-se à vista desarmada que há para ali uns danos, uns repasses que vão exigir a competente cirurgia estética, é um templo soberbo que gera no visitante a sensação, depois das obras dos finais do século XVIII de que não há nada de mais impressionante em cenografia na pintura de uma casa de Deus como neste Paço da Bemposta.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (93):
Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (2)


Mário Beja Santos

Na companhia do organizador da visita, o nosso emérito confrade, Coronel Morais da Silva, vamos visitar a Biblioteca da Academia Militar e a Capela Real do Paço da Bemposta. Acolhimento esfusiante, juntou-se o diretor do Museu Militar, as bibliotecárias multiplicam-se em comentários, escrevinhei tudo num caderno, não sei exatamente o que aconteceu, acredito que meti o bloco de notas numa sacola, vinha cheia de papelada, entrei esbaforido num autocarro no Campo dos Mártires da Pátria, sei que quando cheguei a casa o caderno tinha desaparecido. Felizmente que no site da Academia Militar se dá uma excelente nota introdutória a esta preciosidade, não me esquivo a dizer que está entre as mais belas bibliotecas que conheço.

Tem cerca de 40 mil títulos, correspondendo a cerca de 200 mil volumes, espalha-se por dois polos diferenciados, a Bemposta, onde se encontra a maior parte do acervo documental histórico, e o da Amadora, onde são disponibilizadas as publicações mais recentes e direcionadas a apoiar os alunos.

Esta belíssima construção constituiu-se inicialmente de um fundo de obras que pertencia à Academia Real de Fortificação, Artilharia e Desenho, fundada em 1790, no reinado de D. Maria I. Já Escola do Exército, é atribuída à Biblioteca, em 1839, um avultado número de obras provenientes dos depósitos das livrarias conventuais e outras. Até 1894, a Biblioteca esteve alojada em quatro pequenos compartimentos e um sótão. Nessa altura, sob a direção do coronel Vasconcelos Porto, procedeu-se a uma intervenção monumental, e assim se chegou a este espaço dotado de magnificência, possuidor de uma galeria à volta, quem delineou a obra tinha um elevado sentido de equilíbrio e harmonia, para já não falar da impressão de magnificência que oferece ao visitante. E tudo bem cuidado, apraz dizer. A Biblioteca guarda alguns tesouros bibliográficos, do século XVI ao XIX, como é o caso da obra de 1514 – Ars Arithmetica, de Juan Guijarro Silíceo. Impossível que estas imagens não tentem o leitor a uma visita.
Ficam aqui alguns pormenores de tão requintado espaço, prossegue a visita espiolhando os espaços interiores que antecedem uma importante exposição didática sobre a Academia, afinal há muitas estantes que não são visíveis à vista desarmada, móveis imponentes e seguramente que o recheio não fica atrás, aqui fica uma amostra.
Para que o leitor ainda fique mais acicatado à visita, as amáveis bibliotecárias deixaram fotografar obras raríssimas, do tal acervo que se estende do século XVI até ao século XIX, é só para ver, ou em casos de estudo, de folhear com a mão enluvada.
Da muito esclarecedora exposição permanente, olhei para este objeto como boi para palácio e nem o facto da legenda dizer tratar-se de um sextante foi suficiente para eu ficar de boca aberta, assim que vi, até me arrepiei, o sextante foi inventado pelo glorioso Almirante Gago Coutinho, dentro da minha santa ignorância tomei o objeto como uma mina, imagine-se, perdoem-me os bem dotados de conhecimentos da navegação aérea.
Mudamos agora de edifício, por ali vai o coronel Morais da Silva a abrir caminho, vamos ser recebidos na Capela Real da Bemposta, quem vê fachadas como esta não pode imaginar que no interior está um tesouro nacional.
Entra-se na capela e a pintura de Giuseppe Trono atrai instantaneamente o visitante, isto independentemente de todos os cromatismos faiscarem e um tanto desnortearem quem por ali anda. Então os tetos, o da Capela do Santíssimo Sacramento, alusivo à transfiguração de Cristo no Monte Tabor, ou a pintura do teto da capela-mor representando Nossa Senhora da Conceição, rainha de Portugal. Alguém tem o cuidado de explicar ao visitante que este espaço sacro, a capela privada, tem dois momentos distintos, antes e depois do terramoto de 1755. Já li que afinal de contas os danos do terramoto não foram tão assustadores como alguns pintam, mas na verdade, nesta capela há dois gostos, sente-se perfeitamente o que era arte da Contrarreforma e numa segunda fase o Barroco e o Rococó, com a sua componente muito mais sensitiva, com pormenores altamente decorativos. D. Catarina fora educada de modo austero e quando regressou a Portugal aceitou viver num espaço marcadamente sóbrio, onde não faltava boa azulejaria, tapeçaria e mobiliário, a própria capela tinha um gosto severo que os senhores da Casa do Infantado alteraram profundamente. A Capela Real foi dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Começando pela fachada principal, sofreu alterações para lhe dar sumptuosidade e todo o seu interior ganhou uma certa presença cenográfica.

É uma igreja-salão, com uma única nave, mais alta e larga que a capela-mor. A única capela lateral, que podemos designar por autónoma, é a Capela do Santíssimo Sacramento, esta é uma riqueza, a sua pintura é dedicada à história do livro bíblico do Êxodo, é no teto que está representada a transfiguração de Cristo no Monte Tabor. Apraz lembrar ao visitante que silhares de azulejaria nos corredores e dependências merecem a atenção, não é por puro acaso que somos a maior potência mundial em azulejaria.
As pinturas da capela têm merecido a atenção dos investigadores e recentemente duas peritas italianas desenvolveram um estudo sobre a pintura de Giuseppe Trono, na Capela Real. Coube-lhes demonstrar que o autor da pintura do altar-mor, onde se pode ver a família real, que durante bastante tempo foi atribuído a Thomas Hickey foi, na verdade, obra de trono, a pintura que goza inequivocamente de originalidade, é um verdadeiros programa político-religioso, em baixo à direita temos a família real, à esquerda imagens de gente assistida e com destaque a virgem contemplando o Santíssimo Coração de Jesus, cujo culto estava bastante desenvolvido entre nós a partir dos finais do século XVII. Quanto à Nossa Senhora da Conceição, não nos esqueçamos que a coroa régia lhe foi doada. Também estas duas investigadoras assinalar o cruzamento estético e de artes plásticas entre a Basílica da Estrela e a campanha de obras que se concentrou nos anos de 1980 do século XVII, daí sentirmos na pintura a presença de Pedro Alexandrino, que trabalhou nos tetos da capela-mor, na nave e na Capela do Santíssimo Sacramento.
É um órgão de nos cortar o fôlego, impecavelmente mantido, não me importava de vir aqui ouvir um concerto com esta envolvente de tão extraordinária pintura.
Imagem da Capela do Santíssimo Sacramento
A renovação artístico-arquitetónica da Capela da Bemposta concluiu-se em 1793, por isso, à saída e no final desta inesquecível viagem, encontramos, como se pode ver na última imagem, uma tarjeta comemorativa, e traduzindo o latim pode ler-se: “Ao Supremo Condutor das coisas e à Virgem Mãe concebida sem mácula de origem, este templo construído com belíssimo trabalho de arte, para sempre, doce monumento de religião consagrou João, Príncipe do Brasil, da gente lusitana esperança e desejo para a salvação. 1793”.

E aqui me despeço da Academia Militar, plenamente convicto que a qualquer hora aqui regressarei com imenso entusiasmo.
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Notas do editor

Poste anterior de 4 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24117: Os nossos seres, saberes e lazeres (558): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (92): Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24132: Os nossos seres, saberes e lazeres (559): Um estranho convite para uma visita à RDA – República Democrática Alemã (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

sexta-feira, 10 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24135: Notas de leitura (1562): "Livro de Vozes e Sombras", de João de Melo; Publicações D. Quixote, 2020 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 30 de Junho de 2020:

Queridos amigos,
É um belo romance, urdidura sólida, sempre a satisfação do autor a retratar personagens, a vincar ambientes, a levar-nos com imenso prazer pelos prados de S. Miguel, a sentir o vento e a humidade. Dá um tratamento imaginativo àquilo que se designa por uma história de retornos e até de exílios. Com um bom ponto de partida, uma entrevista com um operacional lendário da Frente de Libertação dos Açores. Deplora-se que o autor imagine uma Guiné de clichés, numa atmosfera de Angola de 1961, não houve o cuidado de perguntar a alguém como era o orografia daquele terreno, senão não teríamos o falsete de um operacional dementado a querer atirar um guerrilheiro para um precipício, é mesmo não ter o cuidado de saber que naquela terra há tudo menos montanhas e abismos. Mas do mal o menos, tirando este episódio menor, mal talhado e engerocado, lê-se com imenso agrado, toda a descrição turbilhonante daquela Angola em chamas, convulsiva, de 1975, assegura páginas brilhantíssimas do que há de melhor na nossa literatura contemporânea.

Um abraço do
Mário



Um ex-operacional da Frente de Libertação dos Açores na guerra da Guiné

Mário Beja Santos

Não hesito em considerar o romance "Livro de Vozes e Sombras", de João de Melo, Publicações D. Quixote, 2020, como uma das obras mais bem conseguidas do autor de "Autópsia de um Mar de Ruínas" e "Gente Feliz com Lágrimas", tem sólida estrutura, ressuscita o período da agitação independentista nos Açores, dá-nos quadros fulgurantes, entre os melhores que a literatura portuguesa produziu sobre o fim do nosso Império, da tragédia da descolonização angolana, e estabelece um arco feliz, original, nestes diferentes passos tumultuosos. Tudo começa quando uma jornalista, umas boas décadas depois das turbulências em que se contextualizaram as atividades da FLA – Frente de Libertação dos Açores, consegue permissão para ir entrevistar um antigo operacional, de nome lendário. Aqui se inicia uma narrativa de múltiplos regressos. Não menos singular e inspirador é o modo como decorre a entrevista e a substância da mesma, o jogo de cintura entre entrevistado e entrevistadora, a importância do não dito, como igualmente, pela voz de uma cega é-nos dada uma apreciação do retorno, e poder discretear sobre o fim do Império, obrigando aquela jornalista a entender que algo havia de novo no seu trabalho: a dignidade das vítimas.

Mariano Franco, o ex-operacional da FLA, combateu na Guiné, o tema surgiu necessariamente na entrevista. Foi voluntário, quis ir defender a sua pátria de então, passou pelas Operações Especiais, esteve em Tancos, a aprender minas e armadilhas. “A pátria que fui defender à Guiné unia num todo as nossas terras ultramarinas e europeias, a História nacional, séculos carregados de obras por esse mundo fora, a luz acesa da civilização lusíada nas trevas primitivas de Catió, Bafatá, Farim e Bassorá [provavelmente o autor queria ter escrito Bissorã]. Conheceu rios e pântanos, matou cobras e ratazanas, adoeceu de paludismo, começou a ficar louco. Confessa à entrevistadora que viu de tudo na Guiné, “pernas e braços decepados pelo rebentamento das granadas, peitos abertos e vazios como arcas arrombadas, negros degolados e com as cabeças empaladas, cadáveres sem sepultura na sua própria terra, e que dariam de comer aos crocodilos; vi mulheres esventradas que acabavam de dar a vida pelos filhos, restos humanos cobertos de enxames de moscardos, à espera dos abutres e das hienas malhadas; vi corpos despedaçados no meio da lama, olhos abertos de espanto e ainda por morrer: pareciam seguir-nos no caminho que levávamos, tal e qual os olhos dos retratos e das pinturas nos salões e nos museus. A minha loucura foi varrida pelo sopro dos canhões sem recuo nos ataques ao quartel. Aguentou o clamor, o desvario das explosões, o fogo repentino das emboscadas, capaz de resistir a qualquer massacre. Até que um dia ela, essa minha loucura, se moveu dentro de mim, entre silêncios e estrondos, para me tornar mais feroz do que tudo quanto nos feria e nos matava na guerra”.

E conta uma história, durante uma operação intersetaram gente que à cabeça carregava cestos, trouxas de roupa, sacos de farinha e arroz, decretou-se uma sentença de morte para alguns deles, era o olho por olho, dente por dente, ainda recentemente tinham tido mortos e feridos no pelotão de Mariano Franco. Bem podiam ter dado voz de prisão a uma vintena ou até um pouco mais daqueles carregadores do mato e trazê-los para Bissau, o general Spínola até podia atribuir uma condecoração, daquelas que eram dignas do 10 de junho. Mas Mariano tinha sede de sangue, estava turvado pela vindicta, ordenou que lhe reservassem um prisioneiro só para ele. O prisioneiro, um carregador do mato, dir-lhe-á, pensa ele em imaginação: “Branco colono, tuga militar, traficante de escravos, limpa-retretes do Salazar, capataz do fascismo português em África!”. E continua: "ele a tratar-me por esclavagista e por colonizador, veja, estando eu na Guiné a arriscar a vida civilizadora de tantas etnias da pretalhada: mandingas, manjacos, fulas, papéis, balantas, bijagós, felupes, uns macacos do inferno que cuspiam no prato que se lhes dava a comer!”.

E avançam para um penhasco, do cimo do qual se precipitava um barranco fundo. O prisioneiro continua a fazer frente ao torcionário, já descontrolado preparou-se para o degolar, e foi Pires, o seu guarda-costas que se atirou ao prisioneiro de catana em punho, despachou-o com uma guilhotinada na nuca. “Voou-lhe uma rodela do casco traseiro da cabeça. E empurrou-o para o abismo. O corpo guinou, deu meia volta no ar e ainda se voltou para mim, parecia que o comissário da guerrilha pretendia olhar-me uma última vez nos olhos e acusar-me do meu crime de guerra. Não sinto culpa nem remorsos de nada. A minha ideia de pátria multicontinental começou a morrer aí. E acabou de vez no meu regresso ao país anterior, não este; o que me mandou morrer e matar para defender o que nunca fora meu”. Mariano Franco guarda alguns cadernos onde fez o inventário dessa guerra que teima em não lhe sair da pele. “A minha guerra pessoal amarrei-a com uma mordaça em cinco cadernos escritos à mão. Depois de a escrever, expulsei de mim o espírito do mal que me possuíra. Pude voltar a dormir, sem pesadelos nem sonhos, sem novos regressos a África por entre suores ardentes e sobressaltos, a boca seca e as goelas a arder, com uma sede de tísico a meio da noite, e eu afinal deitado na minha cama”.

É o troço da obra de João de Melo menos inspirado, tudo aquilo é um cenário de papelão, não procurou informação condigna sobre o terreno da Guiné, senão não teria inventado aqueles precipícios e abismos que seguramente viu em Angola, quando por lá andou, e que não existem na Guiné, o que há de mais elevado é na região do Boé, umas elevações raquíticas, inadequadas à fantasmagoria que ele criou. Acresce que não há nada de novo, é uma escrita mastigada, em que se rebuscam violências, cabeças empaladas, gente sanguinária a dar com um pau. Mesmo a imagem do guerrilheiro resistente, convertido em mártir, é aqui excessivo e postiço, e João de Melo socorre-se de frases destemperadas, do género: “Tinha pela frente o meu Gungunhana, novo imperador de Gaza: tão soberbo quanto ele perante o Mouzinho ao mandá-lo sentar-se no chão, a seus pés, e ele a recusar dizendo que não se sentava. Porque não? Porque o chão estava sujo! Assim via eu esse homem à minha frente, de pé, qual feiticeiro da tribo, de rosto levantado, a olhar de alto para mim. Eram sobretudo os olhos que me desafiavam. Os olhos, os olhos. Sanguíneos, na expetativa de um desvario na cobardia dos meus atos”.

É um belíssimo romance, bom será que em novas edições este ridículo episódio guineense seja totalmente retocado para ser digno de caber num romance onde se fala de alguém que viveu as asperezas de uma vida operacional, mas sem os delírios, os precipícios e os abismos que não houve na guerra e continua a não haver no espaço físico da Guiné.

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24123: Notas de leitura (1561): Curiosidades guineenses no fundo do baú (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24134: As nossas geografias emocionais (1): Bafatá - Parte I: Fotos de Humberto Reis (ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71): viagem de 1966


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1996 > Ponte sobre o rio Geba na estrada Bafatá-Geba.


Guiné-Bissau > Bafatá > 1996: Em primeiro plano, a piscina local, aberta a civis e militares, no tempo da guerra... Tinha o nome "Piscina Guerra Ribeiro", tendo mudado depois da independência (Não se consegue ler muito bem o  nome que lhe foi dada posteriormente, talvez em 19882, mas tudo indica, amplaindo a imagem,  que seja  "Corca Só", um comandante do PAIGC e antigo futebolista de Mansoa, que atuou, no setor de Bafatá / Zona leste durante a guerra colonial, e na região do Oio; terá morrido em combate em 8out1972.)


Guiné-Bissau > Bafatá > 1996: Em primeiro plano, a piscina de Bafatá (ex-piscina Guerra Ribeiro, que foi administrador da circunscrição /concelho de Bafatá, nos anos 60, e era natural de Bragança; no tempo de Spínola, era já intendente; a piscina, dizia-se, tinha sido construída pelos militares de uma unidade aqui estacionada).

Do lado esquerdo, em segundo plano, a Casa Gouveia, que pertencia ao grupo CUF e que, no nosso tempo, era o principal bazar da cidade, tendo florescido com o patacão (dinheiro) da tropa e da guerra e do negócio da "mancarra". Vê-se, ao fundo, a estrada que conduz à saída para Nova Lamego (Gabu) e Bambadinca. Do lado direito pode observar-se as traseiras do mercado.


Guiné-Bissau > Bafatá > 1996 > O antigo restaurante "A Transmontana".... Desta vez o Reis teve azar: a velha "Transmonanta" onde muitas vezes matámos a malvada, estava fechada, as janelas já entaipadas com tijolos...


Guiné-Bissau > Bafatá > 1996: "À porta do célebre café das Libanesas, filhas da D. Rosa. Sou amigo pessoal do filho, ex-ten cor  paraquedista, que mora cá, em Portugal, em Linda A Velha, e também amigo de infância de um dos genros dela que mora aqui em Lisboa, e com o qual, por acaso, já tenho tido relações profissionais".... [Sabemos que o nosso antigo camarada de armas, Danif, ex-alf mil, BCP 12, 1972/74, voltou à sua terra natal, onde se estabeleceu como empresário (LG)]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Capé > 1996: "Clube de Caça do Capé, próximo de Bafatá, vendo-se em primeiro plano a piscina, que tinha um tratamento de águas impecável, como qualquer bom hotel. Em segundo plano a Palhota grande comportava a Recepção, Sala de Estar e Sala de Jantar. As pessoas que lá estavam hospedadas eram um grupo de 8 portugueses que tinham ido no mesmo avião que eu, para fazer lá uma semana de caça".

Fotos gentilmente cedidas pelo engenheiro técnico Humberto Reis, um dos históricos do nosso blogue, nosso colaborador permanente,  "cartógrafo-mor",  ex-fur mil op esp,  CAÇ 12, unidade de intervenção ao serviço do Sector L1 / Zona Leste, com sede em Bambadinca (1969/71). Voltou à Guiné-Bissau, em viagens de negócios e turismo de saudade em março de 1996.

Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]

1. Esta série é dedicada à(s) "Memória(s) dos lugares"... Logo no princípio do nosso blogue, tínhamos, na badana (ou coluna estática) do lado esquerdo uma listagem (com links)  de lugares por onde passámos, documentados com fotografias e infografias... Ia já em 24 topónimos, mas faltavam muitos mais...

Bafatá (Região de Bafatá)
Bambadinca (Região de Bafatá)
Banjara / Cantacunda (Região de Bafatá)
Barro (Região do Cacheu)
Bigene (Região do Cacheu)
Binta (Região do Cacheu)
Bissau (Região Autónoma de Bissau)
Bissorã (Região do Oio)
Brá (Comandos) (Região Autónoma de Bissau)
Buba, Chamarra, Mampatá (Região de Quínara)
Cansissé (Região de Gabu)
Como (Ilha do) (Região de Quínara)
Empada (Região de Quínara)
Fá Mandinga (Região de Bafatá)
Geba (Região de Bafatá)
Guidaje (Região de Cacheu)
Guileje (Região de Tombali)
Mansambo (Região de Bafatá)
Missirá, Cuor (região de Bafatá)
Nova Lamego (Região de Gabu)
Quebo (Aldeia Formosa) (Região de Tomboli)
Saltinho (Região de Bafatá)
Xime (Região de Bafatá)
Xitole (Região de Bafatá)
 

2. As imagens estavam alojadas na minha página pessoal, Saúde e Trabalho - Luís Graça, no servidor da ENSP/NOVA. Foi descontinuada, em 2022, com o redesenho da página oficial da instituição.  Estou agora a recuperá-la através das capturas feitas pelo Arquivo.pt, bem como dos ficheiros originais. É uma tarefa morosa e ingrata...

E vou aproveitar para refrescar e atualizar os nossos álbuns fotográficos, por topónimos da Guiné (se não todos, pelo menos os principais). Afinal, trata-se de não perder as nossas "geografias emocionais". Muitas das fotos que vamos publicando estão dispersas. São de diferentes autores e anos... É agora a altura de as tentar reunir. 

Vamos começar por Bafatá, um topónimo que tem nada menos que 390 referências no nosso blogue. Ir à procura de fotos nestes 390 postes é obra...Vamos fazer uma seleção por amostragem, tendo também em conta a qualidade das imagens...  Ou vamos publicando fotos por autores e anos... 

Bafatá deve ter sido das localidades mais fotografadas da Guiné do "nosso tempo", a par de Bissau... Eram, aliás, as duas únicas cidades existentes. Humberto Reis foi um dos grandes fotógrafos de Bafatá. Tem as melhores fotos áreas da região... Outro foi o Fernando Gouveia, que lá viveu dois anos, entre 1968 e 1970, casado com a Regina Gouveia,  e lá voltou em viagem de saudade há uns largos anos atrás... É o nosso melhor cicerone da cidade, infelizmente há muito em decadência... Em 2009 também foi visitada (e fotografada)  por João Graça... O Patrício Ribeiro também poisa por lá, nas suas andanças pelo país, em trabalho... Temos outros amigos e camaradas cujos álbuns também  nos  merecem uma visita ou revisita: Jaime Machado, Manuel Mata, Arlindo T. Roda,  David Guimarães,  Virgílio Teixeira, etc. (cito de cor). Para já  ficamos com o  Humberto Reis... E esperemos que estas memórias, sob  a forma fotográfica, depertem outras memórias e nos tragam, ao blogue, novos amigos e camaradas da Guiné.

Guiné 61/74 - P24133: S(C)em Comentários (7): Ouvi um alto dirigente do MPLA, já depois da independência, dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, 1972/74)


1. Comentário (ao poste P24128) (*), assinado pelo Fernando de Sousa Ribeiro, que integra a nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018; foi alf mil, CCaç 3535 / BCaç 3880 (Angola, 1972 / 74):

Fernando de Sousa
Ribeiro
Alguns anos depois da independência de Angola, ouvi um alto dirigente do MPLA dizer que o governo angolano deveria agradecer às Forças Armadas Portuguesas o facto de existir uma consciência nacional em Angola, em vez de uma pertença tribal somente. 

Explicou ele que, no serviço militar prestado nas fileiras das Forças Armadas Portuguesas, foram postos em contacto angolanos das mais diversas etnias e origens geográficas, o que os levou a descobrir que o que os unia era mais do que o que os separava.

Em Angola não havia "pelotões nativos", "comandos africanos" ou "companhias indígenas", cujos membros pertenceriam, na sua maioria ou mesmo na sua totalidade, à etnia A ou à etnia B. Havia apenas militares regulares, que eram jovens como nós, cumpriam o serviço militar obrigatório como nós e no fim passavam à "peluda" como nós. 

Assim como nas companhias e pelotões metropolitanos eram indiferenciadamente incorporados minhotos, alentejanos e transmontanos, também nas companhias e pelotões angolanos eram incorporados, sem distinção, ovimbundos, bacongos e quiocos. 

Nos últimos anos da guerra, esta mistura foi levada ainda mais longe, com a incorporação de militares angolanos em unidades e subunidades metropolitanas, que saíam de cá incompletas. Foi o que se passou com o meu batalhão, que teve alfacinhas, tripeiros e beirões misturados com luandenses, malanjinos e beguelenses. Tudo misturado. 

O resultado foi francamente positivo, na minha opinião.


Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano da C.Caç. 3535, B.Caç. 3880


quinta-feira, 9 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24132: Os nossos seres, saberes e lazeres (559): Um estranho convite para uma visita à RDA – República Democrática Alemã (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro)

1. Em mensagem do dia 6 de Janeiro de 2023, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70) recorda uma visita à antiga RDA.

Caros administradores.
Junto um texto sobre a viagem que fiz a Berlim Leste na RDA, República Democrática Alemã, em 1978. Não é propriamente um tema relacionado com a guerra no Ultramar, mas as fotos refletem o que aconteceu em Berlim no fim da II Guerra Mundial e o que está a acontecer atualmente na Ucrânia.
Se virem que o texto tem interesse, publiquem.

Grande abraço do
Zé Teixeira



Uma visita à RDA – República Democrática Alemã

Um estranho convite

Naquela noite de Natal de 1977, o tempo estava frio como sempre no Natal, mas ameno. Para cumprir a tradição familiar dispusemo-nos a ir à Missa do Galo. Ao dobrar a primeira esquina deparamo-nos com o Carlos Alberto e a Urbela, um jovem casal, companheiros de outras atividades sociais anteriores ao 25 de Abril, que a vida militar dele, tinha arrastado para Lisboa onde se fixaram. Estavam descontraidamente a fumar à porta da “ilha” onde moravam os pais da Urbe. Encontro agradável que alterou o nosso programa pelo prazer de pôr a conversa em dia.

Conhecendo a minha veia ativista, quiseram saber novidades sobre as minhas atividades ligadas à da Associação de Moradores local da qual era um dos fundadores. O processo SAAL/Norte desenvolvia-se já com algumas dificuldades, devido ao contexto político, mas, o sonho dos moradores das ilhas degradadas da zona estava a ser concretizado na medida do possível com a construção de 82 casas num projeto do arquiteto Siza Vieira em plena Rua da Boavista. Acoplados ao projeto de construção tínhamos agregados, um infantário e uma cooperativa de consumo em pleno funcionamento, tudo gerido pelos moradores membros da Associação em cujas equipas eu estava voluntariamente integrado e para a qual dispunha do meu tempo livre, sem tirar quaisquer dividendos.

Para muita gente, a Associação de Moradores era um conjunto de comunistas, sobretudo membros de grupelhos esquerdistas que enxameavam a freguesia e alguns membros do partido comunista que nunca teve a capacidade de dominar a situação. Para mim eram pessoas humildes, com muitas carências que devido aos magros salários viviam em autênticos buracos a que chamavam ilhas. Agarraram-se a quem lhe prometia lutar por uma habitação condigna, um infantário para o filho do operário e sobretudo guiavam a sua luta.
Eu, para os moradores pobres era um amigo com outra visão da situação, para outros era um comunista perigoso e para outros era um cristão progressista.

A conversa prolongou-se pela noite dentro - que bela missa do galo! – e culminou com um estranho convite. A integração da minha pessoa num grupo de cristãos progressistas que ia fazer uma visita à RDA- República Democrática Alemã, a mãe do celebre muro de Berlim, com estadia e uma das viagens paga pela RDA.

Não acreditando em milagres, muito menos vindos de um país comunista, arrumei o assunto e continuei a minha vida dedicando-me à família, ao emprego e às atividades nas diversas áreas da associação de moradores, sem esperar qualquer recompensa, que não fosse o prazer de ajudar a minorar a situação das pessoas mais frágeis.

Estranhamente, em outubro de 1978, recebo um convite para me dirigir à Sede da Associação de Amigos da RDA no Porto, onde me foi entregue oficialmente o tal convite para uma visita de oito dias à RDA. Apenas tinha de comprar o bilhete de regresso de Berlim para o Porto no valor de 15.000$00 (15 contos). A data da partida era 9 de novembro pelo que tinha de me decidir.

Partida para Berlim

No dia 9 de novembro, à hora marcada e com o bilhete de regresso na carteira, apresentei-me no aeroporto de Lisboa, onde tive oportunidade de conhecer os parceiros de viagem; duas catequistas do Porto que de progressistas não tinham nada, bem pelo contrário, uma senhora de Santarém dirigente da Conferência de S. Vicente de Paulas local, essa sim, com uma visão avançada e comprometida e um jovem da minha idade, também de Santarém que me pareceu ser o “controleiro” do partido comunista, para que as ovelhas não fugissem do redil.

O avião da Aeroflot (agência de aviação soviética) estava na pista, mas a chamada para a partida não chegava, até que fomos informados que tinha havido um problema com o avião, pelo que nos meteram num autocarro com um grupo de gente da América Latina e levaram-nos a um hotel no centro de Lisboa onde pernoitamos.

No dia seguinte, logo de manhã seguimos de novo para o aeroporto e embarcamos. O pessoal de voo muito bem-apresentados, receberam-nos com sorrisos abertos e mandaram-nos sentar onde quiséssemos. Não havia lugares reservados e o avião ia vazio e desprovido de alguns dos assentos, com espaços vazios.

Ao levantar voo, o assento onde eu ia sentado começou a deslizar. Não estava devidamente fixado ao chão e ao meu lado a cena sucedia-se. Bom momento para umas piadas picantes acerca da situação que acabou por se regularizar. Cada um dos utentes corrigiu a posição do seu assento e seguimos viagem. O avião aparentava ser velho, e ter sido usado para as mais variadas missões. Reparamos, entretanto, que a apresentação do pessoal de voo se modificou. Mal o avião estabilizou e pudemos libertar-nos do cinto, cujo efeito foi nulo, como vimos atrás. Eles, que no aeroporto se apresentaram com o esmero típico das gentes que andam no ar, tiraram o casaco e a gravata, desapertaram os botões da camisa e arregaçaram as mangas; elas mudaram para roupa mais funcional e a seguir serviram-nos uma refeição frugal. Sentaram-se ao nosso lado e tiraram a barriga de misérias.

Chegados a Berlim Leste, saímos do avião e entramos num autocarro que nos transportou à zona alfandegária. Impressionou-me ver um polícia metido dentro de uma cabine blindada, apenas com uma pequena abertura, talvez de 20 por 50 cm, a olhar para mim com um ar muito sério, a medir-me de cima a baixo, sem fazer uma pergunta. O passaporte tinha sido entregue em Lisboa a um comissário de bordo, porquanto, estava sem documentos de identificação. Ainda no avião entraram dois jovens, ela identificou-se em português como Brigitte e apresentou o George como nosso guia em Berlim, sendo ela a tradutora.

Levava comigo um jornal, creio que era, creio que era A Visão. Pediu-me o jornal, Abriu folha a folha, sacudiu bem para o chão e voltou a entregar-mo, mandando-me seguir para a sala contígua, onde me esperavam os outros portugueses. E a comitiva, alemão, guia e tradutora. Os latino-americanos já tinham desaparecido, mal o avião aterrara.

Entramos numa carrinha de nove lugares e seguimos para o hotel na Avenida das Tílias. As nossas malas já lá estavam. Tinham sido entregues abertas à tripulação em Lisboa e voltavam agora à nossa posse. Era um mundo novo e estranho para nós. Estava muito frio e nevoeiro que baste. Os sinaleiros serviam-se de sinais luminosos para orientar o trânsito. Não havia um sorriso uma palavra de afeto, no mínio, de acolhimento. Com frieza, fomos informados que o George tinha de ir à polícia com os nossos passaportes, regularizar a nossa situação na RDA e que voltaria dentro de duas horas. Teríamos de ir para o nosso quarto e aproveitar para descansar da viagem. Ninguém podia sair do quarto, enquanto não recebêssemos ordem para descer à sala de entrada do hotel. Chegariam a tempo de nos levar a jantar, disse a Brigitte, para não ficarmos assustados.

Bem, duas horas parado ali no hotel, em Berlim Leste que eu tanto queria conhecer?! Não!

Entrei no quarto, fechei a porta e pousei a maleta. Respirei fundo e espreitei pela janela daquele quinto andar. Vi uma torre de televisão. Era alta e linda. Tinha uma espécie de balão cheio de janelas iluminadas.

Eu tinha a chave do quarto comigo, meti-a no bolso e abri a porta do quarto, espreitei para um lado, para o outro, não havia ninguém. Meti-me no elevador e desci ao piso zero. Uma sala grande, com algumas pessoas a conversar. Peguei no jornal L’Humanitée do PCF e sentei-me num cadeirão. Protegido pelo jornal estudei os olhares, mas ninguém notara a minha presença, pareceu-me. Alguns minutos de espera e eis-me fora do hotel a olhar em todas as direções, para ver se era seguido. Isto de estar num país comunista metia respeito. Mas, afinal havia liberdade. A torre lá estava ao longe no meio daquele tremendo nevoeiro a desafiar-me. Subi a Avenida das Tílias ao seu encontro. Pelo caminho pude ver e apreciar as majestáticas fachadas dos prédios. Que maravilha! Tanta arte. Tinha tanto de belo como de largo a avenida das Tílias, por onde Hitler se passeara noutros tempos. Com o tempo controlado abri caminho, onde pouca gente se passeava. O tempo não estava convidativo pensei eu, mas segui até à torre, calmamente, saboreando a liberdade de estar em Berlim Leste. Valeu a pena esta minha ousadia, porque o centro de Berlim é um colosso. O tempo de regresso controlado começou a ser pouco, pelo que tive de apressar o passo. Não tinha medo de me perder, pois tivera o cuidado de estudar bem a pista que segui. Voltei ao hotel e instalei-me no quarto cinco minutos antes de ser chamado para o hall.

Integrado no grupo, fomos informados pelo George que a Brigitte traduziu, que iríamos jantar no restaurante panorâmico da torre da TV. Esfreguei as mãos de contente e disse: - Uu vou a pé! - É muito longe disse o George. Temos ali o carro do povo.
- Não! Eu já lá estive, sei onde é. Sigam que eu dentro de quinze minutos estou lá convosco.
- O quê? Já lá estiveste? Quem te autorizou, gritou o George, sempre traduzido pela Brigitte. Eu não te disse para ficares no quarto a descansar até te chamar? Podias ser preso pela polícia!
- Sim, mas que mal tem em passear pela tua terra. É tão linda! Sou um homem de bem, a polícia não quer nada comigo!
- A partir de agora cumpres as minhas ordens e segues connosco na carrinha. Vamos!

Espetacular local! O Restaurante panorâmico da torre da TV de Berlim Leste é fantástico. Sentados à mesa, rodamos cento e oitenta graus, podendo ver Berlim Leste e Oeste de todos os ângulos. Era de noite, o que tornava ainda mais belo pela iluminação noturna da cidade. E a comida soube bem. Creio que foi truta grelhada, como só voltei a comer em Wernigorode uns dias depois. Foi tempo de conversa. Estava connosco alguém que se apresentou como Presidente da Câmara e forneceu-nos a mais variada informação sobre a RDA e sobretudo sobre Berlim. RDA, um país que se servia da técnica e sabedoria comunista para servir o seu povo e que tinha no seu próprio coração, na capital Berlim, o seu maior inimigo, o capitalismo representado pelas forças aliadas dos EU, da Inglaterra e da França, em resumo foi o que me ficou depois de passados tantos anos. Note-se que a capital da República Federal da Alemanha (RFA) era Bona e a Capital da República Democrática Alemã (RDA) era Berlim Leste. A parte do Oeste pertencia à RFA e estava ocupada pelas forças aliadas vencedoras da II grande guerra.

Regressamos ao hotel, bem comidos e bem bebidos, sem pôr o pé na rua. A carrinha esperava-nos à porta da torre para nos levar ao hotel e aquela Praça tão majestática que eu admirara à socapa, não pode ser apreciada pelos camaradas que me acompanhavam. E, ainda apanhei um sermão do grupo. Era um rebelde – diziam eles – e podia pôr em risco a viagem.

No outro dia de manhã tivemos uma salchicharia completa ao pequeno-almoço. Preferi um pão com manteiga e um copo de leite e ovos batidos.

Nova reunião com mais alguma informação teórica sobre Berlim e para sermos informados que seguiríamos de imediato para Magdebourgo.

- De imediato?! Então eu venho a Berlim e nem se quer me deixam ir ver o célebre muro de Berlim, mesmo que seja deste lado. Quero ir vero muro e saber a sua história. Assim como as portas de Bandenbourgo. Aqui é Berlim e no convite está bem explicito uma passagem por Berlim. Não saio daqui sem ver o muro, podem crer.
Estavam presentes as autoridades locais que nos tinham acompanhado na noite anterior. Vinham despedir-se de nós.

O George bem se desdobrou em esforços para me convencer a partir, mas eu tinha o sangue na guelra e bati o pé. Os companheiros de jornada, olhavam uns para os outros e para mim. Baixavam os olhos e não diziam nada. Criou-se um impasse, porque eu mantinha-me em silêncio, mas não me mexia em direção à viatura. A Birgitte, olhava para mim, mas limitava-se a traduzir as minhas palavras e as do George.
Passados uns longos minutos em que eu já bufava e o George também, olhando-me com ar furibundo, o presidente da Câmara disse qualquer coisa que a Brigitte traduziu: - Vamos entrar para a carrinha. Vocês vão depositar um ramo de flores no monumento das vítimas dos atiradores ocidentais, junto ao muro de Berlim e passaremos ao lado das portas de Bandenbourgo. - E assim aconteceu.

Pelo caminho, sentei-me ao lado da Brigitte e cravei-a de perguntas sobre a liberdade do povo, a saúde, o emprego, etc, sem resposta. Parecia que perdera o dom da palavra. Recebia sorrisos e silêncios. Apenas traduzia as informações do George, ou colocava-lhe as minhas questões. Pudemos saber que havia bastantes mortes do lado oriental. Atiradores furtivos instalados no lado ocidental de Berlim, dedicavam-se à caça de transeuntes que andassem por perto do muro da outra banda, e eram já uns milhares, de cidadãos da RDA, assassinados.

Demos uma volta pela cidade, sempre acompanhados por uma comitiva da Câmara Municipal. Passamos perto das portas e foi-nos explicado, que um dia por semana, os cidadãos do Leste podiam vir à feira do Oeste e vice-versa. As portas eram abertas com o devido cuidado e controlo, porque o inimigo estava sempre à espreita.

Colocamos um ramo de flores junto do monumento às vítimas do muro, com discurso alusivo feito pelo Borgumestre de Berlim. Só eu e uma senhora de Santarém levantamos algumas questões sobre a realidade do muro. A razão de ser do mesmo devia-se ao facto de haver todos os dias infiltrações de gente da zona Oeste, em poder do capitalismo, para minar o sistema económico da RDA e ao mesmo tempo provocar desacatos que obrigassem a polícia a intervir, para provocar mal-estar e poderem afirmar perante o Ocidente que havia descontentamento da população de Leste, o que na sua visão era falso. O povo era pacato, ordeiro e trabalhador.

Quando estávamos a entrar para as viaturas, eu continuei colado à Birgitte e ela entrou para uma viatura civil que nos ia acompanhar até à fronteira da província. Eu, que devia ter entrado na carrinha com os meus colegas de viagem, sentei-me ao lado dela e ali fiquei apesar das tentativas de me forçarem a sair. Pude então levantar-lhe a pergunta sagrada:
- Brigitte, nunca pensaste em ir visitar a parte Oeste da cidade?
Começou por não responder, mas perante a minha insistência, disse-me que não.
- Tens lá família, com certeza gostarias de ver os teus familiares?
- Sim tenho tios e primos, mas nunca pensei em visitá-los, – respondeu-me ao fim de algum tempo, com alguma secura.
- Não me acredito!
- Tu sabes que o meu governo não gosta que a gente vá à outra parte ca cidade e eu não vou. Ponto final. Pára de me fazer perguntas. - E mais não disse, até ao fim da viagem.

Nota 1 - O prémio que tive por este “namoro” com a Brigitte foi uma reprimenda das minhas queridas colegas de viagem, porque segundo elas, sendo eu um homem casado e com filhos, estava dar um péssimo exemplo de homem honrado e do cristianismo em Portugal.

Nota 2 – As fotos evidenciam o estado de Berlim Leste depois da guerra, segundo fotos tiradas pelo exército russo, pois foram eles os primeiros a entrar em Berlim. Situação provocada pelas forças ocidentais USD, UK e França que servindo-se da sua capacidade aérea destruíram Berlim, já depois de a guerra estar ganha, na perspetiva dos Alemães de Leste com quem convivi.

Zé Teixeira

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24117: Os nossos seres, saberes e lazeres (558): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (92): Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (1) (Mário Beja Santos)