segunda-feira, 15 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24315: Convívios (960): 50.º almoço de confraternização da CCAÇ 12, Pelotões Daimler e Pel Caç Nat, Bambadinca e Xime, 1971/74: Coimbra, Claustros do antigo Colégio da Graça, 27 de maio de 2023 (José Sobral e Jaime Pereira)


Guião da CCAÇ 12 (CTIG, 1969/74)


Coimbra, Rua Sofia, 136, antigo Colégio da Graça,
 hoje sedc do Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes




Claustros do antigo Colégio da Graça


ALMOÇO DA CCAÇ 12, PELOTÕES DAIMLER E CAÇADORES AFRICANOS

50º Almoço de Confraternização – 2023


1. Mensagem do nosso tabanqueiro António Duarte, comunicando-me a realização, em Coimbra, no próximo dia 27,  do 50º almoço de confraternização da CCAÇ 12, e divulgando o respetivo programa que lhe chegou por via de um dos coorganziadores, o Jaime Pereira, ex-alf mil, CCAç 12 (Bambadinca, 1971/72):

Caros Companheiros:

Vamos realizar o nosso 50º almoço de Confraternização Anual, no dia 27 de Maio no Claustro do Colégio da Graça,  localizado na Rua da Sofia nº136 em Coimbra. 

Este colégio foi mandado construir por D. João III em 1542 tendo sido integrado na Universidade de Coimbra em 1549. Em Maio de 1834, Joaquim António de Aguiar, conhecido como o “Mata Frades”,  decretou a extinção das Ordem Religiosas e entregou o vasto complexo edificado aos militares, funcionou como Hospital ao serviço das tropas absolutistas de D. Miguel, tendo em 1834 sido nacionalizado e incorporado no património do Estado.

Funcionou como quartel durante muitos anos, era lá que se realizavam as inspeções de todos os militares do concelho de Coimbra que eram chamados para prestar serviço militar, até que em 1998 o Quartel da Graça foi extinto e as instalações foram entregues à Liga dos Combatentes.

A Liga dos Combatentes decidiu rentabilizar o espaço, realizando almoços de confraternização para Grupos nos claustros do antigo Colégio da Graça com ampla vista para o jardim e é neste cenário que vamos realizar o nosso almoço de 2023, organizado este ano pelo nosso companheiro José Sobral com a preciosa ajuda da filha Joana Sobral.


O programa do almoço e da sessão cultural é o seguinte:

(1) Encontro às 12h00 no local do almoço


A Liga dos Combatentes permite a entrada dos carros através do portão da antiga porta de armas, localizado imediatamente a seguir à Igreja e autoriza o estacionamento no parque interior.

Vejam o local do almoço no Google Mapas: Rua da Sofia 136, 3000-391 Coimbra


(2) Almoço das 12H30 às 15H30
  • Entradas: Queijos e enchidos regionais, salgadinhos, moelas e outros
  • Sopa: de legumes ou outra.
  • Prato peixe: Bacalhau à Combatente, alourado no forno com legumes e batata assada.
  • Prato de carne: Lombo de porco assado com batata a murro e arroz.
  • Bebidas: Vinhos branco, tinto ou rosé da Quinta dos Termos, Refrigerante ou Água.
  • Sobremesa: Fruta ou doce.
  • Café.

(3) Às 15h45 partida a pé para a visita à Igreja de Santa Cruz, onde estão sepultados os dois primeiros Reis de Portugal.

O nosso companheiro José Sobral e a filha Joana solicitaram à Camara Municipal de Coimbra a indicação de um Guia-Intérprete para nos acompanhar na visita. Aguardamos resposta.

(4)  Passeio pela Baixa de Coimbra

Após a visita à Igreja, para quem desejar, propomos um passeio pela Baixa de Coimbra até ao Parque da cidade, onde podemos tomar uma bebida e continuar a confraternização, agora com vista para o espelho de água do açude do Mondego e para a colina do Mosteiro de Santa Clara situada na margem esquerda do Rio.

(5) O preço é de 20€ por pessoa adulta, as crianças até aos 4 anos não pagam e as dos 5 aos 9 anos pagam 10€. 

Este preço é referente ao almoço, a visita guiada será objeto de um ligeiro aumento que informaremos logo que tenhamos dados concretos sobre os custos das entradas na Igreja e da guia-interprete.

Como habitualmente convidamos para este encontro as esposas dos nossos companheiros já falecidos, os ex-militares da CCAÇ12, pelotões Daimler e Caçadores Africanos e todos os amigos e companheiros do BART 2917 e BART 3873 que se quiserem associar e participar neste nosso convívio anual. 

O convite é igualmente extensivo às esposas, namoradas, madrinhas de guerra, filhos e netos que desejem associar-se a este encontro.

Conversem com as vossas famílias e reservem o dia 27 de Maio para estarem presentes no nosso almoço anual, confraternizarem com os amigos e companheiros de guerra e reviverem os momentos da nossa juventude passados na Guiné.

Não faltem… Contamos com as vossas marcações até ao dia 22 de Maio, através do contacto do organizador, José Sobral (ex-alf mil, CCAÇ 12, Bambadinca, 1970/72) (coadjuvado pelo Jaime Pereira).

José Sobral |  Email: mzsobral@sapo.pt  | Tlm. 969 800 826 (...)


2. Mensagem posterior do Jaime Pereira, datada de 
12 de maio de 2023, 13:34

Caros Companheiros

Aproxima-se a data para a realização do nosso 50º almoço e ainda há ex-combatentes que não se inscreveram…

Este é um ano muito especial porque comemora 50 anos de regresso para alguns de nós e inicio da nossa vida civil fora do regime militar, por isso não podem faltar… Aguardo pelas inscrições dos que estão em falta durante a próxima semana.

Aproveito para informar que já temos informação precisa sobre o preço da visita à Igreja de Santa Cruz, razão pela qual vamos ter que acrescentar 1€ ao preço que indicámos para o almoço que passa a ser de 21,00€ para os adultos e 11,00€ das crianças entre os 4 e os 9 anos. (*)

Um abraço para todos e até breve…
Jaime Pereira


3. Comenmtário do editor LG.

No mesmo dia, 27 de maio próximo, e na mesma cidade, embora em locais diferentes, realizam-se dois convívios de antigos combatentes que passaram pela CCAÇ 12 (e outras unidades e subunidades, que estiveram sediados ou aquartelados em Bambadinca, de 1968 a 1974)...

(i) é o caso da malta de 1971/74 (2ª e 3ª geração de graduados e especialistas, de origem metropolitana, da CCAÇ 12, que esteve em Bambadica (e depois no Xime), ao tempo do BART 2917 (1970/2), BART 3873 (1972/74);

(ii) e da CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, e ainda CCS/BART 2917, e outras subunidades adidas a estas dois batalhões, que passaram por Bambadinca entre 1968 e 1971 (**).

Espero poder  dar, no dia 27,  um abraço fraterno a esta malta toda...  (O António Duarte teve o gesto nobre e solidário de me mandar boleia, passando pela Lourinhã, e seguindo depois pela A8 e A17 até Coimbra.)

O José Sobral (que organiza este encontro, no antigo Colégio da Graça, na baixa coimbrã) autporizou-me a publicar os seus contactos.

Em 2011 passei, na casa do casal José Sobral (estomatologista) e Ermelinda Sobral (obstetra) uma tarde inesquecível, por ocasião do convívio desse ano do pessoal da 2ª geração da CCAÇ 12 (1971/73). Tive também ocasião de conhecer o casal Jaime Pereira e Odete Pereira (***). Os dois casais já foram, em tempos à Guiné-Bissau, tendo passado por Bambadinca e conhecido a família do José Carlos Suleimane Baldé.


Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal José Sobral e Ermelinda Sobral ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra e ginecologista... > Da esquerda para a direita, a Ermelinda, o Rui (enfermeiro, amigo e colega da Ermelinda no Hospitalar Universitário de Coimbra, se não me engano), o Sobral e o Ferreira  (eles dois, alferes milicianos da CCAÇ 12, Bambadinca, 1971/72, vivendo o Ferrreira hoje em Felgueiras, sendo professor do ensino básico aposentado)...

A chanfana, em Coimbra, não podia faltar e não faltou: estava uma delícia... Pelo menos na casa do casal Sobral. Obrigado, cara amiga Ermelinda, obrigado, caro camarigo Sobral, grandes anfitriões!


Coimbra > Convívio da CCAÇ 12 (2ª geração, 1971/73) > 21 de Maio de 2011 > Casa do casal Sobral (José e Ermelinda, ambos médicos, ele, estomatologista, ela obstetra, figuras conhecidas e estimadas no meio coimbrão)... > Na foto, a anfitriã, a dra. Ermelinda com o Zé Carlos Suleimane Baldé, fotografado junto à mesa das sobremesas, uma amostra da nossa grande, riquíssima, diversidade gastronómica... Destaque, nas frutas, para as cerejas de Resende (cada conviva trouxe a sua sobremesa).


Coimbra > 17º Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968/71) > Um momento de grande emoção, proporcionado pelo Jaime Pereira, ex-Alf Mil da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1971/72): o reencontro do Zé Carlos com o seu primeiro comandante de secção, a 2ª do 4º Gr Comb, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)... 

Na foto, em primeiro plano, o nosso amigo e camarada António Fernando Marques e o Zé Carlos... Em segundo plano, o Jaime Pereira e um camarada da CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) cujo nome me escapou...


Lisboa, 2 de Junho de 2011 > Campus da Escola Nacional de Saúde Pública / Universidadfe NOVA de Lisboa > A Gina, o António Marques e o Zé Carlos Suleimane Baldé.  

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Em 2011,  a "vedeta" principal  do convívído foi o  nosso camarada guineense José Carlos Suleimane Baldé, cuja vinda a Portugal foi possível graças ao apoio do casal Jaime Pereira e Odete Pereira... 

O Zé Carlos pertenceu à CCAÇ 2590 (mais tarde CCAÇ 12) e à CCAÇ 12, desde Junho de 1969 até Agosto de 1974. Já no final da guerra, foi dispensado da actividade operacional para dar aulas como monitor escolar em Dembataco. Foi, no meu tempo (1969/71), o primeiro soldado arvorado, do recrutamento local, a ser promovido (em 15 de Setembro de 1969) ao posto de 1º Cabo At Inf, por ter completado com sucesso o exame da 4ª classe. 

Tive ocasião de ouvir da boca dele, neste convívio em Coimbra (e depois na visita que me fez à Escola Nacional de Saúde Pública com o casal António Marques e, alguns momentos extremamente dramáticos por que passou, no início de 1975, quando os "balantas e mandingas", os as "hienas" e os "irãs maus" 
do PAIGC da zona leste, transformaram Bambadinca numa permanente tribunal popular e numa "matadouro humano"...  (Bambadinca foi, depois da independência, um dos lugares trágicos dos "ajustes de contas" dos guineenses, vencedores e vencidos...). (***)

O Zé Carlos (por quem eu sempre tive um grande apreço, estima e amizade) esteve sentado no banco dos réus, e chegou as estar encostado ao "poilão dos fuzilamentos de Bambadinca, valendo-lhe a influência do seu  pai e o peso dos demais "homens grandes" do chão fula, bem como a opinião generalizada de que ele,  Zé Carlos, era um homem bom, e um antigo militar de conduta correcta, apesar de ter sido um "cachorro dos tugas"...

Mesmo assim, foi obrigado a assitir à execução pública de um cipaio (polícia administrativa) em Bambadinca, à execução de "sete irmãos" em Bissorã, etc... Descreveu as torturas horrorosas a que foi submetido o nosso "bom gigante", o  Abibo Jau (1º Gr Comb da CCAÇ 12, e que depois transitou para a CCAÇ 21, do Jamanca e do Amadu Djaló) antes de ser executado... 

Andou também fugido pelo Senegal, como tantos outros camaradas nossos guineenses, e tentou ir de avião para Angola, acabando por ser apanhado e recambiado para a sua terra... O seu sonho é que dois dos seus filhos consigam vir viver e trabalhar em Portugal... Em 2011 era agricultor em Amedalai, perto do Xime, trabalhando no duro com as suas mulheres e filhos para sobreviver...
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Notas do editor:



(***) Vd. postes de:

22 de maio de  2011 > Guiné 63/74 - P8311: Os nossos camaradas guineenses (32): José Carlos Suleimane Baldé... Pensando na CCAÇ 12, em Coimbra, em Amedalai, em Bambadinca... Andando pelo Planaltod as Cesaredas, à procura de amonites e orquídeas-abelhas... Celebrando a biodiversidade, a etnodiversidade, a camarigagem, os nossos encontros e desencontros... (Luís Graça)

20 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8302: Os nossos camaradas guineenses (31): O José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (1969/74), está em Portugal até 3 de Junho, e quer estar connosco! (Odete Cardoso / Luís Graça)

Vd. ainda postes de;


15 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9903: Tabanca Grande (338): José Carlos Suleimane Baldé, ex-1º cabo at inf, CCAÇ 12 (Contuboel, Bambadinca e Xime, 1969/74)

Guiné 61/74 - P24314: Parabéns a você (2169): António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873 (Mansambo, Cobumba e Fá Mandinga, 1971/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24303: Parabéns a você (2168): Fernando Valente (Magro), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) e Henrique Matos, ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

domingo, 14 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24313: (In)citações (241): "Reflexão (Ainda sobre a poesia)", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

REFLEXÃO (Ainda sobre a poesia)

adão cruz

Dizia Daniel Barenboim, que a música não é o som. Todos sabemos que a música se exprime através do som, mas o som, em si mesmo, não é música, é apenas o meio através do qual se pode transmitir a mensagem da música. Todos conhecemos as notas musicais, todos somos capazes de as dedilhar nas teclas de um piano, mas daí à música vai um abismo. Todos conhecemos as letras e as palavras, todos somos capazes de juntar palavras e com elas comunicar, de forma mais ou menos primária, mas daí a fazer arte literária vai um abismo.

Todos nós possuímos no nosso cérebro o mesmo esquema neural do sentimento, já que é o esquema neural da nossa espécie. Mas o padrão neural do sentimento, o padrão sentimental de cada um, que vai encaixar no nosso esquema neural, é completamente diferente em cada um de nós. Todos, de uma maneira geral, temos o mesmo esquema de vida, mas os nossos padrões de vida são diferentes, desde a camisa à profundidade do nosso íntimo.

Cada um de nós vai criando os padrões dos seus próprios sentimentos, através de uma curva de vivência e aprendizagem de uma vida inteira. Uma pessoa que tenha tido uma vida repleta de amor tem um padrão do sentimento do amor muito diferente do padrão de uma pessoa que nunca amou ou nunca foi amada. Uma pessoa que toda a vida viveu na miséria, no meio de agruras e dificuldades de toda a ordem, tem um sentimento de carência totalmente diferente do sentimento da pessoa que nunca teve dificuldades e sempre viveu na abundância.

Então, poderemos tentar dizer, cautelosamente, o que será um poeta…

Ser poeta não é ser um agente da banalização da palavra e da poesia, que é o que tantas vezes se vê, mas ser dono de um sentimento poético consolidado, muito apurado e afinado, construído através de uma vivência de amor e dedicação à poesia, vivendo a poesia de uma forma indissociável do viver da vida. No entanto, para além desta aprendizagem de uma vida inteira, é fundamental na construção do sentimento poético uma formação cultural global do ser humano, tão profunda quanto possível, a par de uma segura formação ética e estética. Obviamente que me refiro, muito especialmente, à formação na universidade da vida e não em qualquer fábrica de intelectualismos.

Só assim se entende que o sentimento poético e o sentimento artístico podem enriquecer e enobrecer todos os nossos processos de humanização, podem criar grandes afinidades com a consciência, revolucionar as inquietas questões da nossa mente, aproximar-nos de todos os mecanismos de identificação da verdade e ajudar-nos na difícil procura do caminho da harmonia.

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Nota do editor

Último poste da série de 29 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24267: (In)citações (240): O meu 25 de Abril de 2023 (Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF)

sábado, 13 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24312: Os nossos seres, saberes e lazeres (572): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (102): Com sangue d’África, com ossos d’Europa (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Um dos papéis que levei na bagagem para esta viagem eram memórias de António Pusich, nascido em Ragusa (Dubrovnik), estudou em Itália e aí se relacionou com o Conde de Linhares, ministro de Portugal em Turim, assim chegou a Portugal, em 1801 era Intendente da Marinha das ilhas de Cabo Verde. Sobre a ilha de S. Vicente escreveu, ainda antes desse período áureo de Mindelo transformado num poderosíssimo entreposto onde abundava o carvão para as viagens transoceânicas: "Não é muito alta esta ilha e o seu terreno em geral é seco e pouco apto à cultura do milho e outros frutos; mui próprio, porém, para o algodão e criação de gado, pois produz imenso e bom pasto e muita urzela e lenha de tarrafe. O seu clima é mui temperado e saudável. Tem uma paróquia com 80 habitantes, resto de muitos que se mandaram a povoar esta ilha, mas que sucessivamente foram emigrando, por lhe faltarem aquelas benéficas e úteis providências e socorros que o soberano mandou se lhe dessem." Mal sabia Pusich que este porto instalado numa das mais graciosas baías que há em África iria ter uma importância singular a meio do século XIX, importância que perdeu com o desenvolvimento de Dacar. Aqui aportei em 1970, assombrou-me, nas escassas horas que ali estive, o processo de aculturação, vinha do continente, não só da guerra, mas de uma África multiétnica em que a identidade portuguesa estava colada a cuspo. E aqui era tudo diferente. E posso dizer, mais de meio século depois, que tudo continua diferente, sempre euroafricano.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (102):
Com sangue d’África, com ossos d’Europa (1)


Mário Beja Santos

O título destes comentários de viagem foi extorquido a um poema de Corsino Fortes, livro "Pão & Fonema", de 1980, achei-o apropriado face ao fenómeno de transculturação que é Cabo Verde, como diria também Jorge Barbosa, “uma encruzilhada de duas sensibilidades”.

Há décadas que suspirava por vir até aqui. Em agosto de 1970, o navio Carvalho Araújo saiu de Bissau e aportou primeiramente junto ao Sal, seguimos para Mindelo, o comandante deu-nos rédea solta durante umas tantas horas, toca de desembarcar e bisbilhotar o possível, impunha-se comer lagosta e tentar dar uma volta à ilha. Logo no desembarque algo me surpreendeu, a amplitude da baía, rodeada de montanhas, sentia-se a estrutura vulcânica e a aridez de perto e à distância, e seguiu-se a surpresa daquele bonito casario, parecia que tinha havido vontade para ali implantar uma capital, ficámos embasbacados com a dimensão dos Paços do Concelho e, mais adiante, numa rua chamada de Lisboa, o Palácio do Governador. Enfiámo-nos pelas ruas, com aquela sensação de um plano ortogonal, como comprovadamente existia. E assim se chegou a uma praça com um belo coreto, surpreendeu-me um Luís de Camões junto de um quiosque, houve então quem reclamasse que queria comer lagosta, mais tarde alugou-se um táxi e deu-se um belo passeio. À chegada a Mindelo, comprei bilhetes-postais, o reservado para a minha mãe era aquela praça com coreto, texto rápido a informar que só faltava Ponta Delgada para chegar a Lisboa, mas aquela Mindelo, como ela podia ver, era uma pitoresca povoação portuguesa.

A viagem que me traz a Cabo Verde começa no Mindelo, procurarei refazer a viagem de táxi, desta vez em transportes coletivos, já deu para sentir que a cidade demograficamente explodiu e o turismo é imenso. Falta um pormenor, a memória reteve a outa ilha em frente, também naquela perspetiva me parecia árida, a quem fiz perguntas a resposta era sempre a mesma, quando chegar ao porto de Santo Antão tem uns bons quilómetros de muita secura, mas prepare-se para o deslumbramento das culturas, a imponência da montanha, a graciosidade dos vales, as casas encavalitadas, o cheiro do trapiche.

Pois bem, primeiro S. Vicente, depois Santo Antão, começando na Ribeira Grande, e regressar a S. Vicente, Cabo Verde é para degustar, nunca apreciei aquelas excursões da Rodarte, uma empresa de camionagem que organizava viagens a sete países em dois dias. Já arrumei a bagagem, troquei euros por escudos, parei em frente da Cesária Évora, trouxe um livro dos anos 1980 que mostra a Mindelo do passado, pergunto pelo coreto, há vários, respondem, dois na Praça Estrela, têm um muito bonito na Praça Nova, esse é seguramente do seu tempo. E era. Mirei-o cuidadosamente de dia e voltei à noite, uma noitinha calma e com brisa, a banda afadigava-se entre rumbas, música cubana e koladeras.

Leitura que recomendo a quem visitar o Mindelo, com a independência mudaram-se muitos nomes, só que a identidade cabo-verdiana pulsou mais forte, Mindelo desabrochou e foi pujante em meados do século XIX, tem as suas marcas com que se identifica. Este livro é um guia que ajuda a revelar o gosto pela preservação do património, e não posso esconder que me sentia feliz neste lugar euro-africano onde a herança portuguesa é um elemento genético do cabo-verdiano.
Maestro e a sua equipa, metais vibrantes, a assistência atenta e aplaudindo no fim das peças. Escuso dizer que o gosto pela música, de a praticar, faz parte da essência cabo-verdiana, todos os sons são admissíveis entre a apoteose e a melancolia, extremos sentimentais que pautam a alma deste povo.
Fotografei Sá da Bandeira de dia e de noite, preferi esta imagem do político que aboliu a escravatura, que se destacou pela bravura, o fundador da Academia Militar, e dá prazer ver o modesto monumento tão bem tratado neste jardim que é sempre encantador, seja qual for a hora do dia.
E é mesmo à hora do dia que retenho a imagem deste busto de Camões, a terra é de poetas e de prosadores admiráveis, trouxe na bagagem o Germano Almeida, o seu indispensável O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo, totalmente compreensível que este património cultural é inapagável neste lugar ímpar a centenas de quilómetros da costa ocidental africana.
Esta moradia fazia parte do bilhete-postal, tudo à volta mudou, fiquei estarrecido com este azul, já cá estava há meio século, estou certo e seguro.
Quando se está na Praça Nova há um colorido luminescente de que não nos podemos desapegar, avança-se, entra-se no Centro de Arte e Design, primeiro há uma moradia de um senador da I República que foi intransigente defensor da autonomia cabo-verdiana, é memória de culto, e depois temos este engenho, um espaço expositivo e de ateliês em que a frontaria é uma agregação de tampas de bidons com que tudo chega a Cabo Verde, é um empolgante hino à cor, parece-me um talentoso ready-made, uma esplendorosa arte funcional, procurei dois ângulos para que o leitor se aperceba deste achado de harmonia que abre portas ao engenho de tecelões, tapeceiros, designers que potenciam todos os recursos da sua terra, como vamos ver.
António Carreira dedicou um livro à panaria cabo-verdiana e guineense, salientou as afinidades, são indiscutíveis. Na Guiné, embeicei-me pelos panos manjacos e tive a felicidade de ver teares manuais em plena laboração. A diferença está na matéria-prima. Na loja tomei o peso a estes panos e são de uma grande leveza, são feitos de algodão, matéria-prima cabo-verdiana. Na Guiné usam-se linhas, tornam as bandas mais pesadas. Lembro-me da panaria existente no antigo Museu da Guiné, na então Praça do Império, tudo desapareceu, são peças muito disputadas, desde que bem conservadas, duram uma vida. E gostei da tapeçaria local, daqui segui para uma área expositiva do que o centro produz, e reconheço que é de indiscutível valor.
Senti-me feliz por ver o desvelo com que se recupera e valida o trabalho dos artífices. Agora vou percorrer Mindelo na avenida que contorna o porto. As surpresas sucedem-se e os encadeamentos ditados pelos escaninhos da memória dão-me um enorme regozijo. Limito-me hoje a um simples exemplo.
Tenho por detrás uma réplica da Torre de Belém, foi edifício da capitania do porto, é hoje Museu do Mar, iremos falar deles. Nesta esquina que emana um fedor a peixe, com rua que irá desaguar na Praça Estrela, olhei ao alto para um esmalte que provavelmente tem cerca de 100 anos e fico a saber que a então avenida principal de Mindelo saudava a República. E deu-me para recordar o meu passeio a Bolama, em 1991, ia à procura da tipografia, um património museológico de grande valor, e lá estava o nome das ruas: Teófilo Braga, Manuel de Arriaga, muito provavelmente essas mesmas peças esmaltadas escaparam ao furor de erradicar a presença portuguesa, de que hoje os guineenses se queixam, nenhum povo subsiste sem memória. E aqui fico a contemplar um resquício do passado. Estou a sentir-me muito bem no Mindelo e feliz por partilhar convosco estas andanças da mais estranha das Áfricas e da mais improvável das Europas.

(continua)

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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MAIO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24292: Os nossos seres, saberes e lazeres (571): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (101): Veloso Salgado no MNAC – Museu do Chiado: O maravilhamento de obras desconhecidas de amigos franceses (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24311: Homenagem a dois 'guineenses' de adoção e paixão, o algarvio António Camilo e o nortenho Xico Allen (1950-2022): "Diário da Viagem até à Guiné-Bissau por terra e por ela", em 20 dias (Herculano Prado). Parte I: De Portimão a Bambadina, em 7 dias, de 18 a 24 de setembro de 2017


Xico Allen (1950-2022)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo  (advogado, Leiria) e o António Camilo (empresário, Lagoa) colocando a imagem de N. Sra. de Fátima, na sua base. Foi oferecida por ambos,
 
Foto (e legenda):  © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 1 de Março de 2008 > O António Camilo, empresário, algarvio, natural de Lagoa, na morança que construiu, no Clube de Caça do Saltinho, na margem direita do mítico e sempre deslumbrante Rio Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa, e com seu/nosso amigo Carlos Silva (em primeiro plano). O Camilo voltaria, em 2009, à Guiné-Bissu, na sua 8ª expedição. Em 2008 estuvemos aqui com ele por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008). 

Foto: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tenho, na minha caixa de correio, desde 07/09/2018, 18:21, um texto, longo, com  o diário da viagem à Guiné-Bissau, feita "por terra e por ela" (sic), de 18 de setembro a 6 de outubro de 2017, por 4 portugueses, em dois jipes, o António Camilo, o Xico Allen, o Herculano Prado e a esposa, Luzinha, prima do António Camilo (que foi fur mil da CCAÇ 1565, Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau, 1966/68).

O diário, da autoria de Herculano Prado, chegou-me, reencaminhado pelo Xico Allen, juntamente com o teor do mail em que ele agradecia ao autor e â esposa, companheiros de viagem:

 (...) 28 de janeiro de 2018 às 14:58
 
Boa tarde,  amigos.

Agora mesmo acabo de ver que me foi transmitida a história de nossa viagem á Guiné. Foi muito gratificante ler o que o dr. Herculano Prado escreveu, me fazendo relembrar em pormenor a deslocação até Bissau.

Muito obrigados por tudo e por vos ter conhecido também. São pessoas que ficam no coração. Espero vos encontrar em breve.

Beijos e abraços, Xico.


2. O Herculano Prado, hoje advogado, foi fur mil, CAÇ 3550 / BCAÇ 3885 (Zambué, Tete, Moçambique,  1972/74). Não é membro da nossa Tabanca Grande, mas fica desde já convidado para a integrar, não só por esta viagem e a publicação deste texto (em duas partes), como pela ligação (profissional e afetiva) à Guiné (desde pelo menos 2010), e a amizade que criou e manteve com dois dos nossos tabanqueiros, o António Camilo e o Xico Allen (1952-2023).  

Agora que o Xico nos deixou (a nós e à Terra da Alegria), julgo que será oportuna  a publicação desde "diário" no nosso blogue, partindo do pressuposto que era vontade do Xico que o texto fosse publicado no nosso blogue, com a anuência (pelo menos tácita) do Herculano Prado.  Por outro lado, esta é a viagem que alguns de nós já fizeram, e que a maioria gostaria de ter feito em vida, e que por uma razão ou outra (a começar pelos problemas de saúde e segurança) nunca fez ou nunca chegará a fazer.

Tinha na altura pedido ao Xico Allen para nos enviar fotos da expedição. Por esta ou aquela razão, as fotos nunca chegaram. Vamos ter que recorrer, por isso, a  fotos de outras expedições.  Deixamos aqui a manifestação da nossa gratidão ao Herculano Prado. E damos-lhe os parabéns pela excelència do texto, que ganha em vivacidade, fluência e objetividade (e que por isso seria uma pena ficar na "gaveta"...). Enviamos, entretanto,  um alfabravo fratermo ao Camilo (de quem não temos tido notícias) desejando-lhe saúde e longa vida para poder continuar a fazer as suas expedições à Guiné-Bissau onde tem casa (em 2017 era a sua 22ª viagem).


DIÁRIO DA VIAGEM À GUINÉ BISSAU 
POR TERRA E POR ELA

  © Herculano Prado (2017)

Preâmbulo

O António Joaquim Sousa Camilo, primo da Luzinha, foi um dos primeiros a fazer uma viagem por terra à Guiné Bissau, se não o primeiro, dado não termos conhecimento de viagens anteriores, depois do 25 de Abril, onde tinha cumprido serviço militar.

Na primeira viagem que fez à Guiné, em 1998, o Camilo conheceu o Xico Allen de quem ficou amigo, começando aqui uma amizade que perdura e que os levou a congeminarem uma viagem por terra. 

Quando regressaram a Portugal começaram a fazer os preparativos para fazerem a viagem, tendo procurado alguns patrocínios para a custear, com publicidade no jeep, e aceitando donativos para apoio à população, em especial às crianças. Esta iniciativa começou a ganhar projeção, tendo aparecido um novo interessado em os acompanhar, que era um repórter fotográfico, chamado Artur. As pessoas ao tomarem conhecimento ofereceram donativos, os meios de comunicação pegaram no assunto e foram transmitindo informações sobre o decorrer da viagem, que começou em Lagoa, em frente à Fatacil. 

À partida estiveram presentes dois canais de televisão, a RDP e as rádios locais, com relevância para Rádio Lagoa, que ia acompanhando a viagem, com uma ligação ao Camilo, por volta das 10 horas, todos os dias. Fizeram-se transportar no jeep do Camilo, que ia a abarrotar, inclusive, levavam malas e sacos no tejadilho. Segundo o Camilo, nem mais uma garrafa de água cabia. A viagem demorou dez dias e foi uma aventura e descoberta constante, como normalmente acontece aquando da primeira vez.

O amor àquela terra e às suas gentes levou-o a, posteriormente, organizar algumas caravanas humanitárias, das quais a Luzinha ia tendo conhecimento, através do Facebook. Entusiasmada com as viagens, referiu-me que, por ela, se eu quisesse, poderíamos um dia acompanhar o Camilo. O Camilo, sabendo o nosso interesse, quando teve uma oportunidade convidou-nos, mas, por impedimentos da nossa parte, só agora podemos aceitar.

A viagem, a nossa primeira, a vigésima segunda do Camilo e a décima segunda do Xico Allen, foi iniciada com dois jeeps, marca Mercedes, sendo um ocupado pelo António Joaquim Sousa Camilo e pelo Francisco Jorge Allen (Xico Allen) e outro por mim, Herculano Afonso Lourenço do Prado e pela Luzinha, Maria da Luz Reis Braz Silva Lourenço do Prado, minha mulher.

O itinerário da viagem seria: Espanha, Marrocos, Sara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné Bissau. Na Guiné Bissau ficámos em Bambadinca e não em Saltinho como pensávamos.

O jeep que nos foi destinado ficaria por nossa conta, quer para a condução, quer para todo tipo de despesas com ele relacionadas: combustível, barco, seguros etc.

A ideia do diário surgiu ao fim do primeiro dia de viagem quando, ao estarmos a pernoitar em Marraquexe, enviei um e-mail a alguns amigos, tendo alguns sugerido que fizesse um diário e que lhes fosse dando conhecimento do que se ia passando. Achei a ideia interessante e, por isso, no fim do segundo dia, relatei os factos mais importantes e enviei-os convencido de que teriam chegado aos destinatários. Como não obtive os comentários que seriam expectáveis, enviei o e-mail para o remetente, não tendo chegado, o que me levou a concluir que o mesmo teria acontecido em relação aos outros destinatários e que o mesmo aconteceria com os e-mails seguintes. 

Em face desta situação, continuei a fazer o diário, deixando, contudo, de o tentar enviar para os meus amigos, que estavam à espera de noticias. Assim, os e-mails foram transformados neste diário, que, se outro interesse não tiver, servirá para mais tarde os meus filhos e netos recordarem, que um dia os avós, já no crepúsculo da vida, se abalançaram a uma viagem, que, se já não era perigosa, como aconteceu no passado, era e foi muito emocionante e cansativa.

Aproveitámos a viagem para levarmos os jeeps cheios com donativos para as crianças de Bambadinca, que aguardavam transporte.


Infografia: o percuros habitual das expedições terrestres de antigos combatantes, como o António Camilo, desde o Algarve até à Guiné Bissau, atravessano o sul deEspanha e depois ,a partir de Tanger, fazendo a costa atlântica de Marrocos, Mauritània e Senegal .

Infografia: Visão (3 de fevereiro de 2011) (com a devida vénia...)


1º dia, domingo/segunda-feira, 17/18 de setembro de 2017

A viagem começou em Portimão, às nove e meia de domingo, passando pelo porto de Tarifa, onde apanhámos o barco até Tanger. A passagem, por carro e ocupantes, custou € 200,00. Chegámos ao porto de Tarifa por volta das 5,30 horas, aguardando até entrarmos para o barco às oito horas. As burocracias alfandegárias foram fáceis, porque não precisámos de vistos.

Ao sairmos do Porto, não fomos ao centro da cidade de Tânger, contornando-a em direção ao Sul, mas a vista que dela se tem do barco dá para ver a sua grandiosidade.

Para nós,  portugueses, quando passamos por sítios, que fazem parte da nossa história e olhamos para o passado, não podemos deixar de nos sentir orgulhosos pelos feitos dos nossos antepassados (esquecendo as atrocidades que cometeram e que eram comuns a todos os beligerantes da época). 

A necessidade, porque eramos um pais pobre, com menos de dois milhões de pessoas, o aventureirismo, ambição e visão de alguns, especialmente do Infante D. Henrique e, posteriormente, de D. João II, levaram-nos, inicialmente, para o Norte de Africa, onde ocupámos Tânger, Ceuta e outras praças e, posteriormente, a contornar o continente africano e a chegar à India. O declínio do império começou ali, nos campos de Alcácer-Kibir, quando um rei imaturo e militarmente incompetente não soube comandar um grande exercito, que, com outro comandante, provavelmente, teria vencido.

A viagem até Marraquexe foi feita sempre em autoestrada, não se notando grandes diferenças em relação ao sul de Portugal.

A meio da viagem apanhámos um grande susto, porque entrámos na reserva de combustível e nunca mais aparecia uma bomba para abastecermos. Foi um alívio quando o conseguimos fazer.

Fizemos o nosso primeiro almoço de piquenique, dos abastecimentos de que estávamos providos, até ao fim da viagem e para os dias na Guiné.

No momento em que enviei o primeiro e-mail, estávamos a passar a noite em Marraquexe e na amanhã seguinte continuámos em direção ao Sul, passando por Agadir.

Ao entrarmos em Marrocos perguntaram-nos se trazíamos armas ou drones.


2º dia, terça-feira, 19 de setembro de 2017

No Segundo dia da viagem, saímos de Marraquexe às sete da manha rumo ao Sul, passando por Agadir, Tiznit e outros locais de menor importância.

Atravessámos a cordilheira do Atlas na sua parte mais ocidental e menos elevada, com paisagens agrestes, grandiosas e de grande beleza.

Passámos por Agadir, cidade costeira e moderna, depois de ser reconstruída em consequência do terramoto que a destruiu, em 26 de fevereiro de 1960.

“A intensidade do abalo foi apenas de 5,7 na escala de Richter, mas, por a cidade se situar precisamente sobre a falha geológica e o epicentro do sismo, e por a maioria dos seus edifícios serem velhos e frágeis, a destruição foi quase total. Na Kasbah e nos bairros centrais de Yachech e Founti não ficou nada de pé. Mais de 15 mil pessoas morreram e muitas ficaram feridas e desalojadas. Foi o mais mortífero terramoto da história de Marrocos.”

O porto é muito bonito, como pudemos apreciar de uma das elevações que o rodeiam. Ali, a Luzinha, pela primeira vez, passeou montada num camelo, conjuntamente comigo.

Nesse miradouro, comprámos umas rochas de cristais coloridos.

A viagem até ao meio do dia foi feita por autoestrada, com inúmeras portagens pagas. Porque € 1,00 vale 10,50 dirames, acaba por não ser muito caro. Nestes dois dias já fizemos cerca de 1500 km, sendo mais de mil por autoestrada.

Como fica documentado por fotos, vamos fazendo piqueniques, estando provisionados com o essencial.

Ficámos a pernoitar em Tantan Praia, com a praia ali ao lado, que, tal como em Portugal, já estava em fim da época balnear.

Pernoitamos num hotel baratucho, onde fizemos uma refeição na varanda de um dos nossos quartos. O quarto não tinha água quente, mas estava limpo e nós só pretendíamos dormir, para além de termos acesso à Internet.

A partir de agora as estradas já não são tão boas, mas estão razoáveis, tendo sido mais fácil do que seria expectável. Mais para Sul será mais difícil.

São horas de dormir porque o recomeço da viagem está marcado para as sete e no programa está uma visita ao Bojador.


3º dia, quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Iniciámos o terceiro dia saindo de Tantan, às 6,30, ainda de noite,

Fomos visitar o Bojador, que ficou a fazer parte da nossa história, para as descobertas, a partir do momento em que foi dobrado pelo Gil Eanes, em 1434, acabando com o medo que dominava os marinheiros, que acreditavam que o mundo acabava ali.

Aqui, num restaurante que a ASAE fecharia sem remissão, aproveitámos para comer um pargo frito que estava divinal, acompanhado com pão local e vinho tinto de Pias. Quando entramos ouvimos vozes que nos pareceu serem portuguesas. De facto, eram dois portugueses que estavam a trabalhar para uma firma irlandesa, que está a montar grandes pás eólicas, para a produção de energia elétrica.

A partir daqui, durante muitos quilómetros, fizemos a viagem próximo do mar, já dentro do verdadeiro deserto, não ainda como nos é mostrado nos filmes e postais : grandes dunas de areia fina, mas terra árida, com vegetação dispersa e rasteira

Percorremos cerca de setecentos quilómetros e fomos pernoitar no Barbas, que, no geral, tinha boa aparência para o deserto, mas que considero ter sido o pior quarto de hotel aonde já dormi, que fica a oitenta quilómetros da fronteira da Mauritânia.

Aqui o Hi- Fi não tem capacidade para permitir contactos normais.

Assisti à derrota do Real Madrid com o Bétis, golo marcado na última jogada, e conclui que a maioria dos assistente torcia pelo Barcelona, tendo em atenção o regozijo manifestado com o golo marcado.

Aqui, o Xico deu comprimidos ao empregado da bomba de gasolina, que estava com dores de cabeça.

Como o dia seguinte iria começa cedo, cedo tivemos de ir descansar.


4º dia, quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Saímos, por volta das sete horas, para chegarmos cedo à fronteira, aonde nos esperava o Arturo, um marroquino, que fala português, que nos tratou da burocracia nas duas fronteiras.

Estas ajudas acabam sempre por sair caras e por vezes parecem ainda complicar mais: o seguro por cada viatura, que custou € 40,00, ficou em € 80,00.

Apesar desta ajuda, só nos despachámos depois das duas da tarde.

Aqui deu para sentir o clima do deserto, quente e ventoso. Tínhamos que tapar os olhos porque a areia andava por todo o lado. Na viagem íamos vendo camelos e, infelizmente, vimos alguns esqueletos devido a acidentes. Durante este dia percorremos parte do Sara a que estamos habituados a ver nos filmes e fotografias.

Entre as duas fronteiras existe uma zona de ninguém, aonde vimos um carro das UN, que ainda se encontra nesta zona, tendo em atenção o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário, que mantem a luta contra a anexação do Sara Ocidental. Nesta zona, encontrámos muitos carros abandonados, em consequência da falta de documentação e por outros motivos.

Ao longo da viagem vimos inúmeros quarteis, havendo vários em Layunne, pequena cidade, que seria a capital oficial do Sara Ocidental, se fosse independente.

Quando estávamos na fronteira para sair da Mauritânia encontramos um vizinho do nosso casal, em Vale da Laranja, o Sr. Jorge, que também ia a caminho da Guiné, aonde tem negócios.

Durante a viagem fomos mandados parar por dezenas de barragens que controlam a passagem. Para evitar demoras levamos dezenas de impressos preenchidos com os nossos elementos identificativos, que entregamos no ato da abordagem. Muitas vezes são levantadas complicações com o objetivo de nos sacarem dinheiro.

Por volta das oito horas chegamos a Nouakchott, capital da Mauritânia, onde ficámos num ótimo hotel, o Royal Suites Hotels, muito melhor do que os anteriores, onde encontrámos tudo o que tem um quatro estrelas da Europa. Antes de jantarmos no nosso quarto, utilizando o que trazíamos, tomámos um grande banho para nos aliviarmos da grande quantidade de areia que se espalhava pelo cabelo e pelo resto do corpo.

Fizemos uma refeição no quarto com os produtos que levávamos.


Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006...Dia 5, De Roc Chico a  Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa foto oesta, de um  grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...   
 

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a 
Nouakchott,
capital da Mauritânia... 

























Fotos (e legendas): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.    [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


5º dia, sexta-feira, 22 de setembro

Saímos de Nouakchott, às seis da manha, para chegarmos o mais cedo possível à fronteira com o Senegal, aonde o Camilo, primo da Luzinha, tinha contactos anteriores, para tratar dos seguros das viaturas e das burocracias da passagem entre fronteiras.

Quando estávamos a fazer o controlo na saída da Mauritânia, ao ser necessário entregar os passaportes, passámos por um grande susto, porque o Francisco Allen, não encontrava o seu passaporte. Durante mais de uma hora vimos em todos os sítios possíveis sem sucesso, inclusive, telefonámos para o hotel onde pernoitámos. Depois de uma última busca no jeep, iniciada pelo comandante do posto da Alfandega da Mauritânia, que se mostrou de uma grande simpatia e disponibilidade, muito diferente da maioria dos anteriores, encontrámos o passaporte metido entre uma ranhura do tablier. 

Foi um alívio para todos, o que nos permitiu passar para a fronteira do Senegal, onde surgiram mais complicações e gastos, tendo que pagar gratificações e taxas de viaturas que importaram em cerca de duzentos euros por cada, nos quais se incluiu a comissão do mediador. 

Quando, finalmente, reiniciámos a viagem, continuámos a entregar as fichas identificativas que tínhamos preparadas, até que encontrámos um controlo que nos pediu o passaportes e começou a colocar vários entraves com o objetivo claro de nos extorquir dinheiro, o que me irritou, não sendo muito inteligente da minha parte, porque trazíamos garrafas de vinho escondido, que, se fosse encontrado, nos poderia levar à prisão, atendendo a que os países de religião muçulmana são muito intransigentes, no que diz respeito ao álcool. 

Depois de muita discussão entreguei-lhe três pacotes de leite, tendo sido questionado se aquilo era bom. Em face das dúvidas, pedi-lhos de volta, o que ele não fez. Depois de nos entregar os passaportes arrancámos, quando se preparavam par nos fazerem novas exigências.

Durante o trajeto, o deserto foi-se amenizando até próximo do Senegal, não sendo surpresa encontrarmos a barragem de Diama e um parque protegido, que percorremos por cerca de quarenta quilómetros, por picada, no fim do qual nos foi exigida o pagamento de trinta euros, por viatura, acabando por pagarmos o total de dez euros.

A partir da entrada no Senegal, tendo em atenção o que já acontecia no Sul da Mauritânia, deixamos o deserto e passámos a encontrar a vegetação própria da região subsariana: pequenas árvores e muita vegetação de várias espécies.

Finalmente, já com muitas horas de viagem e de atraso, em relação ao previsto chegámos a Saint Louis, cidade costeira, que, no tempo da colonização francesa chegou a ser a capital do Senegal. Quando atravessamos a cidade para nos dirigirmos ao hotel onde pretendíamos pernoitar, ficámos impressionados com a pobreza e sujidade que encontrávamos, imaginando como seria o Hotel para onde o Camilo e o Francisco nos levavam. Durante o trajeto, ao longo de um grande estaleiro de barcos abandonados coabitavam o lixo, as cabras, os burros e as pessoas.

Depois de o hotel inicialmente escolhido se encontrar fechado para férias, fomos ficar no Diamarek, que lhe fica continuo, acabando por ficarmos num bangaló bastante espaçoso e com dois quartos, ao lado da praia, com um piscina espaçosa e com água morna. Podemos considerar que encontrámos um oásis depois do deserto! Porque gostámos das condições do hotel, porque tinha Hi-Fi de banda larga e porque o preço negociado ficou em 60,00, marcámos mais um dia para disfrutarmos das ótimas condições.


6º dia, sábado, 23 de setembro

Estando em Saint Louis, aproveitámos para visitar a parte antiga da cidade, da época colonial, aonde se encontram dois bons hotéis dessa época e um bom restaurante, bem próximo da sujidade que referenciámos.

Comprámos alguns artigos locais, nomeadamente uma máscara da tradição africana. Depois do almoço disfrutámos da piscina e, eu a Luzinha, demos um passeio pela praia, que é a perder de vista e de areia fina, que se encontrava cheia de lixo

Ao fim do dia, graças à capacidade do sinal Hi-Fi, consegui, através de um site de desporto, o Events Guide, ver o Sporting 1 – Moreirense 1, com pouca atenção, à espera para ver o Benfica 2 – Paços de Ferreira 0. Foram dois bons resultados!

Como eu não abdiquei de ver o jogo do Benfica – Paços de Ferreira, preparámos o jantar com produtos que trazíamos e jantamos à fresca, em frente do Bangaló.

Devo ter um problema no envio de e-mails, porque, apesar da boa capacidade da rede Hi-Fi, não tenho conseguido enviar e-mails, apesar de os receber.

Consegui aceder ao Citius e fiquei aliviado por não ter nenhuma notificação. Uff!!

Deitámo-nos cedo, porque era necessário levantar cedo.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Outubro de 2015 > Restaurante "Ponte de Encontro", do casal Célia e João Dinis (1941-2021).  

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


7º dia, domingo, 24 de setembro

Quando me levantei, por volta das cinco horas locais, seis horas em Portugal, estava sem equilíbrio, o que me deixou preocupado. Contudo, pouco tempo depois, recuperei permitindo-nos sair por volta das 5,30 horas. 

Depois de atestarmos os depósitos, pela sétima vez, seguimos em direção ao Sul com o objetivo de irmos pernoitar a Bambadinca, já na Guiné, onde o Camilo tem uma casa. 

A estrada ao longo do Senegal não está má, o que nos permitiu avançar dentro do previsto, fazendo alternância na condução em função do cansaço de cada um. Apesar de tanto eu como a Luzinha também conduzirmos, a maior parte da condução tem sido feita pelo Camilo e pelo Francisco.

Para evitar as muitas complicações e controlos levantados na Gâmbia, fizemos um desvio para a contornar. Seguimos o trajeto de Saint Louis, Kebemer, Touba, Kaffrine, Tambacounda, descendo depois para Velingara, KounKané, Wassadou, chegando, por fim, a Pirada,  fronteira da Guiné, onde se passou com facilidade, porque o Camilo, com a sua capacidade de persuasão, conseguiu passar sem pagar a escolta que nos acompanharia a Gabu. Isto é mais uma forma de extorquir dinheiro aos viajantes, já que não existia escolta para nos acompanhar. O Camilo começou logo ali a distribuir pelo chefe do posto algumas das roupas que trazemos, também como forma de agradecimento.

A estrada de Pirada a Gabu, ou melhor a picada, está num estado inimaginável para quem nunca esteve em Africa. São sessenta quilómetros de buracos uns a seguir aos outros e ainda com água porque a época das chuvas só agora terminou. 

Demorámos mais de duas horas para fazer esta distância. Viemos a saber mais tarde, quando encontrámos o Sr. Jorge, que um dos jeeps que um seu empregado trazia, partiu ali o cárter.

Ao chegarmos a Gabu, o Camilo não parou na alfàndega, o que deveria ter feito, vendo-se obrigado a regressar, porque a nossa passagem foi barrada. Aqui perdemos muito tempo e tivemos que pagar o que não tinha sido pago em Pirada. Penso que, mesmo assim, as coisas podem ter sido facilitadas depois de ter falado com o Tenente Coronel Sado, que é um amigo do meu primo Fernando Mota, Eng.º Silvicultor, que esteve com ele na tropa, aqui, na zona de Saltinho. 

Não telefonei para este amigo do Fernando, até porque perdi o telemóvel, mas a oportunidade surgiu quando veio meter conversa comigo um graduado da Guarda Fiscal, que não é daquele posto e que fez formação na Guarda Fiscal, em Lisboa, juntamente com o Tenente Coronel Sado e com o graduado daquele posto. Ao referir-lhe que trazia cumprimentos para o amigo, de imediato ligou para ele com o qual conversei algum tempo. Após a nossa conversa eles voltaram a falar e o telefone foi passado ao comandante da Alfandega. As coisa resolveram-se e no final, o comandante do posto, deu os seus contactos ao Camilo, o que deixa pressupor que as próximas passagens, se as fizer, já serão mais fáceis.

Reiniciámos a viagem com destino a Bambadinca, pretendendo passar por Bafatá para jantarmos no restaurante da D. Célia, aonde chegámos por volta das nove e meia, à mesma hora em que partimos no domingo anterior. Comemos um estufado de vitela, acompanhado de arroz e batatas fritas e de umas Sagres geladas. Recusámos a salada para evitar problemas de saúde. A comida estava ótima e o restaurante é muito frequentado pela qualidade da comida. As instalações, mesmo aquela hora, estavam limpas, mas os anexos e a casa de banho são uns barracões decrépitos. Se lá voltar, porque os achei simpáticos, vou sugerir que façam umas melhorias nas instalações. 

O marido da D. Célia, o Sr. Dinis, é natural de A. dos Cunhados. Fez cá a guerra, uns anos antes do 25 de abril e por cá ficou. Quando comentei a qualidade das instalações com o Camilo ele deu-me uma justificação que se aplica a este caso: “branco quando está muito tempo a viver entre os nativos fica pior do que eles”. Não direi pior, mas igual.

A parte final da viagem até Bambadinca foi aquela em que tive mais medo de um acidente, atendendo a que nos cruzávamos com outras viaturas com os máximo ligados e o Francisco, mesmo podendo fazê-lo não os ligava, o que só fez mais tarde, o que diminuía o nosso campo de visão, agravado por as bermas serem baixas ou inexistentes e por circularem na estrada bicicletas e pessoas sem qualquer sinalização. 

Finalmente acabámos por chegar bem, tendo percorrido 4 250 quilómetros, mais os que gastámos na travessia do Mediterrâneo até Tanger.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Março de 2007 > As antigas instalações para sargentos, que faziam parte do edifício (integrado) onde estava instalado o comando do Batalhão do Sector L1 (no meu tempo, BCAÇ 2852, 1968/70, e BART 2917, 1970/71)... 

O fotógrafo foi o Carlos Silva, hoje advogado... Segundo ele, "o caramelo que está com o télélé, é o nosso camarada António Camilo, de Lagoa, da CCAÇ 1565 (Jumbembem), que vai à Guiné anualmente, 2 e 3 vezes, integrando expedições humanitárias. O tipo é mais apanhado do clima do que eu"... 

Na altura escrevemos: "Segundo me disse o Xico Allen, em 27 de Dezembro de 2007, quando estive com ele e o resto da minitertúlia de Matosinhos, o Camilo será um dos elementos integrantes da caravana (sete jipes e carrinha, num total de vinte e tal pessoas) que, em princípio, partirá de Portugal para a Guiné-Bissau, por via terrestre. e,m 2008.. O Carlos Silva sei que também vai... Espero que o cancelamento do Rali Lisboa-Dacar, devido à alegada insegurança ma Mauritânia, não venham resfriar o entusiasmo e afectar os planos dos n0ssos camaradas que querem também assistir ao Simpósio Internacional de Guileje".

Foto (e legenda): © Carlos Silva (2007). 
Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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sexta-feira, 12 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24310: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (35): chegou a primavera (mesmo sem "abril, águas mil"), que vai bem com (diz a 'Chef' Alice): (i) favas com casca, suadas, à moda alentejana; (ii) carapauzinhos fritos com arroz de tomate; e (iii) favas suadas à moda da Maria da Graça... Sem esquecer: (iv) o festival literário "Livros a Oeste (11ª edição, Lourinhã, 9-13 mai 2023); e ainda (v) a 14ª quinzena gastronómica do polvo (Lourinhã, 17-31 mai 2023)...


Lourinhã > Chez Chef Alice > 12 de maio de 2023 >  "Favas com casca... suadas, à moda alentejana"


Lourinhã > Chez Chef Alice > 10 de maio de 2023 >  "Carapauzinhos fritos com arroz de tomate"


Lourinhã > Chez Chef Alice > 24 de abril de 2022 >  "Favas suadas à moda da Maria da Graça"

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já passou o Abril, mas não vieram as águas mil... Estamos em plena primavera do nosso (des)contentamento... Veio a seca, para ficar, cada vez mais cíclica... E,  se água "cá tem" nas nossas hortas, deixamos de poder jogar aos feijões e, pior ainda, de poder fazer as favas suadas ou o arroz de tomate com peixe frito... Em contrapartida, teremos, pelos santos populares, a boa (?) sardinha assada no pão... Já se vende na praça, aqui, a cinco euros (já vai o tempo em que, perdulários, dizíamos: "ao preço da chuva"...)

Como sugestões dos nossos 'vagomestres', para estes dias em que a fava ainda aparece nos nossos mercados locais, aqui vão dois pratinhos, de resto já divulgados, da nossa 'chef' Alice: as costumeiras favas suadas (à moda da senhora minha mãe, Maria da Graça, que Deus já lá tem), e as favas com casca (colhidas ainda jovens, tenrinhas)... 

Neste último caso, são feitas ´"à moda alentejana", e aproveita-se tudo, a casca e a fava... (Não confundir com as ervilhas de quebrar, que também são de comer & chorar por mais: este, sim, um prato duriense, das gentes da Tabanca de Candoz...

As favas com casca (com entrecostro, ou só enchidos, com destaque para o "chourico preto"...) não são prato que se encontre nos restaurantes aqui à volta, contrariamente aos   carapauzinhos fritos com arroz de tomate... (Não se diz "jaquinzinhos", que a ASAE não deixa.)

Bom proveito... E mandem-nos também as vossas sugestões, enquanto a gente ainda puder andar por qui, pela Terra da Alegria... A prazo, claro, estamos a  prazo.Mas esta semana, também há cá o festival literário "Livros a Oeste"... Porque, na terra dos dinossauros, nem só de favas vive o homem... Amanhã, 13, é o último dia... LG



Cartaz do festival literário "Livros a Oeste", Lourinhá, 9-13 de maio de 2023... Este ano subordinado ao mote  "Entre nós... e as palavras" (verso do poeta Mário Cesariny, que faria 100 anos)...  Vai já na 11ª edição, realizado pela CML desde  2012. Programador cultural: João Morales.... 

E para a semana, começa  a 14ª quinzena gastronómica do polvo (Lourinhá, 17 a 31 de maio de 2023). 
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Nota do editor: