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quarta-feira, 23 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9937: Efemérides (92): Guidaje foi há 39 anos... Alguns pequenos reparos e a minha homenagem a Amílcar Mendes, Daniel Matos e Victor Tavares (Manuel Marinho)


1. Comentário do nosso camarada Manuel Marinho ao poste P9934 (*) [Foto à esquerdaManuel Marinho, ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74]:


Camaradas

Estes acontecimentos, referentes a Guidaje, carecem apenas de pequenos reparos já feitos no excepcional trabalho do malogrado Daniel Matos mas que volto referir pois penso que o Daniel estava na disposição de retocar o seu extenso texto quando foi atraiçoado pela doença que o viria a vitimar.

Quanto ao Vítor Tavares, da “grande” CCP 121, apenas quero dizer que ele é um dos “causadores” da minha entrada no blogue a par do Amílcar Mendes, da 38ª Ccmds, um grande abraço para eles, e o meu reconhecimento destas duas Companhias de Intervenção na resolução do cerco a Guidaje.

Agora os reparos:

(i) A 22 [de maio de 1973] não existem colunas, apenas dia 23 (5ª coluna); depois da coluna ter abortado por ordem do Cmdt Correia de Campos, apenas a CCP 121 segue para lá [, Guidaje].

(ii) Nessa coluna os mortos referenciados pelo Daniel (Fur Arnaldo Marques Bento e Sold Lassana Calissa) morrem em combate no dia 9 Maio, na 1ª coluna, e são da 14ª Ccaç de Farim.

(iii) No relatório desta coluna Binta-Guidaje, da autoria do Alf Joaquim Gomes Rebelo, ele afirma que os corpos dos Sold Bailó Baldé e Fonseca Nancassa, vítimas mortais da CCaç 3 que ele comandava, foram transportados para Binta, na retirada das forças que compunham esta coluna.

Esta versão é a mais credível porque a CCP 121, única força a seguir para Guidaje, não levou qualquer viatura para Guidaje, portanto nunca poderiam [aqueles corpos] estar sepultados em Guidaje.

Mas de facto na página 197 do livro "Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), 8.º Volume – Mortos em Campanha, Tomo II Guiné – Livro 2", consta que estão sepultados em Guidaje, o que na minha modesta opinião será engano.

(iv) Finalmente falta a coluna de 19 [, de Maio,] Guidaje – Binta, que tem de retroceder para Guidaje, pois são fortemente atacados.

(v) Com o máximo respeito pelo trabalho dos historiadores [, Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso], devo lembrar que houve ainda mais duas colunas, a 11 e 12 Junho, que significou o acabar da questão Guidaje. Depois voltamos à normalidade.

Nem de propósito, penso brevemente dar novas sobre a minha desditosa coluna, se o meu camarada que ia na coluna, e que me cedeu informações preciosas sobre a mesma, me der autorização para publicar, senão pedirei permissão porque o que tenho em mão é de muita importância para esclarecer muita coisa.

Abraço
Manuel Marinho (**)
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(**) Último poste da série > 22 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9935: Efemérides (57): Guidaje foi há 39 anos... Pergunto: Por que é que a FAP não bombardeou com napalm a área de Genicó até Ujeque ? Por que é que não se utilizou o obus 14 no apoio às colunas ? No cerco de Guidaje muito eu desejei ter uma antiaérea... (Arnaldo Machado Veiga)


terça-feira, 22 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9935: Efemérides (91): Guidaje foi há 39 anos... Pergunto: Por que é que a FAP não bombardeou com napalm a área de Genicó até Ujeque ? Por que é que não se utilizou o obus 14 no apoio às colunas ? No cerco de Guidaje muito eu desejei ter uma antiaérea... (Arnaldo Machado Veiga)

1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Arnaldo Machado Veiga, com data de 17 do corrente:

Como introíto apresento os meus cumprimentos e elogios pelo trabalho realizado, ao concentrar a variada informação sobre a guerra na Guiné.


Para mim, que vivia fazendo conjecturas acerca dos acontecimentos em Guidaje em Maio de 73, foi um alívio e ao mesmo tempo a consternação ao saber daqueles que lá morreram que eu conhecia bem. [Foto acima: mortos da CCAÇ 19, na zona do Cufeu. Foto de Amílcar Mendes, 38ª CCmds, 1972/74].

Foi também com alegria que revejo fotos recentes de Guidaje e do Cufeu, etc. Quero também realçar as dúvidas do Sarg Pára Manuel Rebocho e das quais também sempre comunguei e que se referem ao facto de, no cerco de Guidaje, as colunas de socorro terem sido empenhadas com tantos sacrifícios humanos e não terem sido utilizados os obuses de Farim (14, salvo erro) e até mesmo a sua deslocação para Binta em apoio das diversas colunas que pretendiam seguir em direcção a Guidaje.

Porque razão não deslocaram as Panhards de Bula para o mesmo efeito, por exemplo, já que em Bula tanto quanto eu saiba pouco valor acrescentado davam ?

Porque motivo a FAP não varreu a área desde Genicó até ao Ujeque com napalm? Tinham medo dos mísseis Strela? Mas os que andavam em terra já podiam levar com todo o tipo de armamento...

Também os judeus na guerra de 73 [, a guerra do Yom Kippur,] se viram a braços com os SAM 7 mas mesmo assim os seus Mirages e pilotos não deixaram de desempenhar a sua quota parte no sacrificio da guerra.


Guiné > Região de Tombali > Gandembel / Balana >CCAÇ 2317 (1968/69) > Gandembel: A antiaérea que era pressuposto proteger o pessoal contra eventuais ataques ... dos Migs russos da República da Guiné-Conacri. Já depois do 25 de abril também foi montada uma em Pirada, junto à  fronteira norte, com o Senegal.

Foto cedida pelo António Almeida, o intérpetre do Hino de Gandembel, soldado da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69) (1). Enviada pelo Zé Teixeira, também conhecido, entre os escuteiros de Matosinhos, como o Esquilo Sorridente . Legenda: AA/LG.

Guidaje tinha obuses de 10,5 e Bigene tinha obuses de 14 mas admito que as dificuldades de reabastecimento impedisse estas unidades de prestarem apoio às colunas com esta Artilharia.

Olhando para trás, fica-me um pouco a sensação de que os Altos Comandos se limitavam na inovação e se dedicavam a exercicios/ teorias pouco consentâneas com a realidade e esta ideia ainda ficou mais reforçada quando agora na revolta da Líbia se viam as antiaérias em cima de carrinhas a fazerem grandes estragos.

Não se imagina quantas vezes quer nas colunas Guidage/Binta quer no Quartel de Guidaje quando de ataques eu desejava ter uma antiaérea das que estavam em Bissau e. se não estou em erro, também em Nova Lamego e Cufar, para utilizar em fogo terrestre.

Bem haja pelo seu trabalho e votos de sucesso.

O meu muito obrigado

AMVEIGA 


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, camarada Arnaldo, pelas tuas amáveis palavras em relação ao nosso blogue. Sabem sempre bem, sobretudo quando a gente se esforça por trabalhar bem e para todos, procurando dar a palavra a todos os que têm a (e querem) dizer algo sobre a sua experiência de guerra na Guiné, entre 1961 e 1974. 

Não me compete, por outro lado, responder às tuas perguntas. Elas aqui ficam para reflexão. serena,  de todos nós. Vejo que acompanhas o nosso blogue e que estiveste no inferno de Guidaje, mesmo sem saber mais nada a teu respeito (posto, unidade a que pertencias, etc.). Aproveito, por isso,  para te perguntar se não queres ir mais longe, partilhando fotos e outras memórias desse tempo, na qualidade de membro da nossa Tabanca Grande. Entrar é fácil: é dar a cara (duas fotos) e contar uma história... Para que amanhã os nossos filhos,  netos e bisnetos, não perguntem: Guidaje, avô Arnaldo ? Mas em que planeta é que isso fica ?

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Nota do editor:


Último poste da série > Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (56): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)

 

Guiné 63/74 - P9934: Efemérides (90): Guidaje foi há 39 anos: reconstituindo a 5ª coluna, de 22 e 23 de maio de 1973 (Victor Tavares e † Daniel Matos)

A 5ª coluna,  a caminho de Guidaje>  Operação Mamute Doido, com os páras da CCP 121 > 23 de Maio de 1973 [fusão de dois postes]

por Victor Tavares (*) 
e † Daniel Matos (**)


1A. Victor Tavares [, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121/ BCP 12, BA 12, Bissalanca, 1972/74). foto à direita]:

No início do mês de maio de 1973, as forças do PAIGC intensificaram os ataques aos destacamentos de fronteira, mais concretamente Guidaje, a norte, e Guileje, a sul. Em Guidaje a pressão das forças IN começou com ataques ao aquartelamento e depois às colunas de reabastecimento no período 7 a 30 de Maio de 1973. Nesse período realizaram-se seis colunas. Apenas a terceira conseguiu alcançar o objectivo sem problemas.

E porque fiz parte da quinta coluna (***), gostaria de dar algumas ideias do que passei na mesma aos tertulianos interessados na guerra de Guidaje.


Para começar quero dizer-vos que já li que os efectivos da CCP 121 que participaram nessa coluna eram na ordem de 160, quando na verdade seríamos pouco mais de metade. Mas avançando para o desenvolvimento, mais concreto, do deslocamento entre Binta e Guidaje, de má memória para os paraquedistas da 121, nesse dia fatídico para as nossas tropas recebemos a informação de que íamos fazer protecção a uma coluna auto que ia para Guidaje, e que regressaríamos de imediato, até porque não nos fora distribuída alimentação.


1B. Daniel Matos [1950-2011, ex-Fur Mil da CCaç 3518, Gadamael, 1972/74, foto à esquerda] ...


[Em 22 de maio de 1973,] do quartel de Binta, sensivelmente à mesma hora (sete e trinta) em que saíramos de Guidaje, avançara também nova coluna logística, com a missão de evacuar o pessoal, sobretudo os feridos. A CCP 121 faria protecção a oeste da estrada, cabendo a um destacamento misto de fuzileiros (42 homens dos DFE n.º 1 e n.º 4, comandados pelo primeiro-tenente Albano Alves de Jesus) a protecção a leste. Os picadores seriam de um grupo de combate da CCaç 14 (guarnição de Farim), participando também um grupo reduzido de elementos da CCaç 3. Um dos elementos, – o furriel miliciano Arnaldo Marques Bento, – deste grupo comandado pelo alferes Gomes Rebelo, acciona uma mina antipessoal, reforçada com outra, anticarro, e tem morte imediata. Também um picador – o soldado Lassana Calisa, – morre alguns metros adiante e a mesma mina provoca dois feridos graves. 


Ainda um outro engenho viria a ferir gravemente outro homem. Cerca do meio dia, um grupo de combate saiu de Genicó e veio reforçar a coluna. O tenente-coronel Correia de Campos manda abortar a coluna de reabastecimento e o pessoal regressa a Binta, onde chega apenas por volta das 18 horas.

2A. Daniel Matos

[A 23 de maio de 1973,] sai de Binta em direcção a norte uma coluna/auto comandada a partir de uma DO-27 pelo major 
paraquedista  José Alberto de Moura Calheiros. É protegida por uma unidade de fuzileiros especiais e por grupos pertencentes a unidades do Exército, nomeadamente da CCaç 3 e, como sempre, por uma equipa de picadores que rasga caminho lá bem na cabeça da coluna.

Ao chegar perto de Genicó liga-se aos cerca de 90 homens da CCP 121 que, sob o comando do capitão pára-quedista Armando de Almeida Martins, emboscada desde bem cedo, ali aguardam a sua passagem, para lhe fazer protecção. Os pára-quedistas faziam parte de uma força de intervenção, que incluía ainda uma companhia de comandos e uma companhia de fuzileiros, enviada para Guidaje para tentar romper o cerco e aliviar a pressão do PAIGC sobre o quartel.


2B. Victor Tavares:

Lá seguimos manhã cedo, [a 23 de maio de 1973,] até passar uma pequena ponte. Logo de seguida estacionámos e emboscámo-nos do lado esquerdo da picada, ficando a aguardar a chegada da coluna auto que, passado algum tempo, chegou já protegida do lado direito por um grupo de fuzileiros especiais, seguidos de elementos do exército.

Na frente da primeira viatura seguiam vários sapadores (picadores). É de referir que a mata envolvente era bastante aberta o que facilitava o contacto à vista com as outras nossas forças.

Entretanto, é dada ordem para iniciarmos a marcha lenta por forma a manter a ligação à vista com a frente da coluna. Nessa altura rebentou uma mina antipessoal, provocando 1 morto. Isto cerca das 8.30h. 

Recomposta a ordem, retomamos a marcha, até que, passados pouco mais de 15 minutos, novo engenho é accionado, desta vez por uma viatura, desfazendo parte dela e provocando mais 1 morto e 2 feridos graves. A partir daqui foi fazer a transferência da carga e retomar o deslocamento. Pouco tempo andámos para nova mina ser accionada provocando mais 1 ferido grave.

Nesta altura estávamos próximos de Genico [a seguir a Caur, vd. carta de Binta]. Perante estes acontecimentos foi dada ordem para que a coluna regressasse a Binta, uma vez que a zona se encontrava toda minada e seria de evitar correr mais riscos.

2.C. Daniel Matos:

Por volta das 8,30 horas, com a ligação à vista praticamente a ser efectuada, uma mina antipessoal é deflagrada e provoca a morte do soldado Bailó Baldé, da CCaç 3. Escassos minutos a seguir, quando a coluna recolhe o corpo e retoma o andamento, uma viatura acciona outra mina e causa mais uma morte imediata (soldado Fonseca Nancassa, também da CCaç 3) e dois feridos com gravidade. 

Uma terceira mina vem a ocasionar mais um ferido grave. Perante as adversidades da progressão, parecendo impossível ultrapassar o enorme campo de minas e armadilhas que encontrou em cada metro de caminho, é recebida ordem para que a coluna retroceda e regresse a Binta. Aos  paraquedistas , no entanto, é dito que devem avançar até ao destino, em missão de patrulha (operação Mamute Doido). Assim procedem, vindo a efectuar uma pausa para descanso, já na área do Cufeu. Conforme estas fatídicas jornadas demonstram à saciedade, seja ao longo da bolanha seja em torno da casa amarela que avistamos a cada passagem – ou do esqueleto que dela resta, – o Cufeu é uma zona propícia para as emboscadas, desde logo pelo número inusitado de morros de baga-baga atrás dos quais dezenas de corpos se podem ocultar e proteger-se das nossas balas.
3A. Victor Tavares:

Com tudo isto já passava do meio dia, quando é dada ordem para a CCP121 continuar a operação em patrulhamento, regressando os fuzileiros e o exército.

Em direcção a Guidaje seguiam os paraquedistas, até que foi feita mais uma de muitas paragens para descanso do pessoal, esta já na zona mais perigosa de todo o percurso, que era Cufeu.

Como me encontrava desde o início na retaguarda, desloquei-me até junto do meu comandante de pelotão, Tenente Paraquedista Hugo Borges, afim de saber qual seria o nosso destino, porque nos encontrávamos já bastante debilitados fisicamente. Foi nesse momento que a grande altitude apareceu sobrevoando a nossa posição uma DO 27 aonde se encontrava o Major Paraquedista Calheiros que, em contacto com o comandante da CCP 121, Capitão Paraquedista Armando Almeida Martins, informa-nos que teríamos de seguir para Guidaje porque já estaríamos perto.

Dada esta informação, regressei a retaguarda mas ao fazê-lo pedi ao Melo, apontador de MG 42, para ocupar o meu lugar (todos os operacionais sabem o desgaste físico e psicológico que tal posição provoca) porque eu já vinha a mais de uma dezena de quilómetros naquele lugar.

Entretanto inicia-se a marcha e, quase de imediato, rebenta na frente a emboscada, tendo os primeiros tiros dados pelas forças do PAIGC abatido logo os Soldados Paraquedistas, Victoriano e Lourenço e ferindo gravemente o 1º Cabo Paraquedista Peixoto, apontador de HK21 e MG42.

A reacção dos paraquedistas foi pronta e rápida: apanhados em zona aberta sem qualquer protecção reagiram ao forte poder de fogo do IN, conseguindo suster o assalto das nossas posições como se verificou na retaguarda onde guerrilheiros, alguns de tez branca, tentaram fazer um envolvimento as nossas forças, o que foi evitado pela elevada capacidade de organização em combate e disciplina de fogo, aliada à coragem dos nossos militares.

Quero referir que simultaneamente toda a nossa coluna ficou debaixo de fogo IN numa extensão de mais de 300 metros.

É de realçar também a organização e o poder de fogo dos guerrilheiros do PAIGC que, equipados com bom armamento, bem melhor que o nosso, caso das Degtyarev, RPG2, costureirinha PPSH, Kalashnikov, Canhão Sem Recuo, RPG7, Morteiros 61mm e 81mm, mísseis terra-ar Strela (estes a partir do início de 1973 começaram a derrubar a nossa aviação tirando-lhe capacidade de actuação no teatro de operações).

Não era por acaso que as forças do PAIGC estavam tão bem organizadas nesta zona e neste período, tinham como comandantes Francisco Santos (Chico Té) e Manuel dos Santos (Manecas), dois dos mais temidos pelas nossas forças, além do comandante Nino Vieira.

3B. Daniel Matos:

Retemperadas as forças, o pessoal da companhia de caçadores paraquedistas reinicia a marcha e é de pronto surpreendido por constringente emboscada. Dois dos pára-quedistas que seguem na frente (António das Neves Vitoriano e José de Jesus Lourenço, este com apenas 19 anos) têm morte imediata; o 1.º Cabo Manuel da Silva Peixoto, apontador de HK-21, é colhido por uma rajada e fica gravemente ferido. O fogo inimigo é muito intenso, a frente prolonga-se por algumas centenas de metros e dura três quartos de hora praticamente consecutivos. Há quem garanta ter avistado gente branca do outro lado.

“Os militares José Lourenço, António Vitoriano e Manuel Peixoto iam na primeira linha e foram os primeiros a cair”, relata muitos anos mais tarde Hugo Borges, na altura da emboscada tenente, comandante de pelotão (hoje general).

À mistura com tiros de Kalashnikov ouvem-se estrondos de canhões sem recuo e roquetadas das RPG-7, que causam pelo menos mais duas baixas graves: a do soldado Palma, que se encontrava a tentar desencravar a metralhadora MG 42 do soldado António Melo, que foi também ferido e ficou imediatamente em coma (viria a falecer após evacuação, já na metrópole). 

Apesar da resistência das NT, a ofensiva só é contida graças ao apoio aéreo que desta vez corresponde ao chamamento. Os Fiat lançam bombas de cinquenta quilos ao longo de meia hora bem medida sobre a zona de acção IN (cuja força é estimada em cerca de setenta guerrilheiros). 

Algumas viaturas saíram de Guidaje e foram ao encontro dos paraquedistas. Fizeram inversão de marcha para se carregarem os corpos das vítimas e regressarem à origem. Abrindo um novo trilho, conseguem chegar à aldeia de Guidaje, não sem que os guerrilheiros retirados do Cufeu após o bombardeamento da aviação os tenham atacado de novo, mas de longe e sem consequências. 

O Cabo Peixoto não resiste aos ferimentos e morre também neste dia 23 de Maio, – imagine-se! – considerado o “Dia dos Paraquedistas” por ser há precisamente 17 anos (desde 1956) a data da fundação, em Tancos, da Escola de Tropas Paraquedistas!...

O Batalhão de Caçadores Paraquedistas (n.º 12) teve durante as campanhas na “Guiné Portuguesa” cinquenta e seis baixas, (três oficiais, seis sargentos e quarenta e sete praças).

Os corpos dos militares da CCaç 3 que protegiam a coluna inicial e que pela manhã foram vitimados pelo rebentamento de minas (mormente os de Bailó Baldé e Fonseca Nancassa), ainda devem ter sido transportados pelas mesmas viaturas que os camaradas 
paraquedistas  trouxeram para Guidaje, pois viriam a ser ali sepultados, dias depois, conjuntamente. Se assim não fosse, teriam sido levados pelos fuzileiros e elementos do Exército que regressaram a Binta e o tratamento aos seus esquifes teria sido diferente.

4A. Victor Tavares:

Continuando a relatar o desenrolar da operação: durante o contacto fomos flagelados com morteiradas e canhoadas que rebentavam a poucos metros de nós, tendo uma delas ferido gravemente os Soldados Paraquedistas Palma e Melo, este com grande gravidade, ficando de imediato em estado de coma e vindo a falecer, na Metrópole.

Ainda relacionado com as granadas que rebentavam junto a nós, aí poderíamos ter mais mortos e feridos, mas a nossa sorte foi o terreno ser mole porque as granadas enterravam-se e os estilhaços saíam em V. Faço esta afirmação porque a dois, três metros da minha posição de combate, rebentaram 3 granadas e felizmente nada me aconteceu. Já a quarta granada veio mais longa, atingindo os paraquedistas atrás referidos, quando se encontravam a desencravar a MG42 da qual o Paraquedista Melo era apontador, de grande categoria (este camarada era uma autêntica máquina de guerra).

Ainda debaixo de fogo começaram a ser socorridos os feridos da retaguarda, pelo enfermeiro 1º Cabo Paraquedista Fraga.

Ainda antes de terminar este feroz combate, os bombardeiros Fiat 91 bombardearam as posições IN tal foi a duração do mesmo (mais de 30 minutos).

Terminado o contacto, tratou-se de improvisar a maca para transporte do Melo, o outro ferido, o Palma, seguiria a pé, já que o ferimento era no pescoço. Entretanto chega-nos a indicação da frente que tínhamos mais feridos e mortos (os átras referidos Peixoto, Vitoriano e Lourenço).

Entretanto, quando chegamos à frente, deparamos com os corpos dos nossos camaradas que jaziam no chão, dois já defuntos, e um ferido de morte, este a ser assistido pelos enfermeiros dos pelotões.

A partir daqui aguardava-se a chegada de viaturas que vinham de Guidaje. Chegadas estas, carregaram-se os mortos e feridos. Nnessa altura fui à viatura onde se encontrava o Peixoto para ver qual era o seu estado. Apertando o meu braço, diz-me ele:
- Tavares, desta vez é que eu não me safo. - Aí respondi-lhe:
- Não, tu és forte e tudo vai correr bem, tem calma.

Quando desci da viatura depois de ver os ferimentos, fiquei com a convicção de que só por milagre é que o Peixoto se safava: fora atingido por vários tiros em zonas vitais .

De seguida iniciámos a marcha rumo a Guidaje, para pouco tempo depois a coluna na frente ser novamente atacada, desta vez sem consequências de maior, para as forças que seguiam na frente, Fuzileiros e Paraquedistas, seguidas das viaturas e na retaguarda os restantes Paraquedistas que ainda tentaram fazer um envolvimento às forças do PAIGC, o que não resultou derivado à distância ser grande e as mesmas terem abandonado as suas posições de ataque.

5. Daqui até Guidaje não houve mais qualquer incidente. Chegados, fomos instalados ao longo das valas, montando segurança durante os dias que ai permanecemos, sete ou oito. Durante esses dias foram elementos dos Comandos Africanos que regressavam da Operação Ametista Real (no período de 17 a 20 de Maio de 1973) na qual também participou a Companhia de Paraquedistas 121 (Assalto à base de Kumbamory) dentro do Senegal. Participou também o grupo do Marcelino da Mata.

Em Guidaje também aí encontrámos parte de um destacamento de Fuzileiros que aqui se encontravam sitiados há alguns dias e que pertenciam ao destacamento de Canturé.

A seguir relatarei a permanência em Guidaje durante 9 dias e o funeral dos meus camaradas paraquedistas . (...)

PS - No que atrás relato não estão incluídas algumas passagens muito importantes que entendo de momento não publicar. (****)




Guiné > Região do Cacheu > Carta de Binta (1954) (Escala 1/50 mil)  > Detalhes: posição relatiav de Binta, Genicó, Cufeu e Ujeque (na picada Binta-Guidaje).

__________

Notas do editor:

(*) 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

Vd. também poste de 9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

(**) 5 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973


(***) Os historiógrafos militares Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso falam em 6 colunas, realizadas nas seguintes datas:

1ª coluna: 8 a 9 de maio de 1973;
2ª coluna: 10 de maio [ vd. aqui o testemunho do nosso camarada A. Merndes, da 38ª CCmds]
3ª coluna: 12 de maio;
4ª coluna: 15 de maio;
5ª coluna: 22 de maio;
6ª coluna; 29 de maio.

(In: Os anos da guerra colonial: volume 14: 1973 - Perder a guerra e as ilusões. Matosinhos: QuidNovi. 2009, p.45).

(****) Último poste da série > 9 de maio de 2012 > 
Guiné 63/74 - P9874: Efemérides (55): Cerimónia da transição da soberania nacional na Guiné (2) (Magalhães Ribeiro)


segunda-feira, 14 de maio de 2012

Guiné 63/74 - P9898: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (16): Guidaje foi há 39 anos...

1. Sobre Guidaje, há uma referência apenas do Diário da Guiné (1972/74) (*), da autoria do nosso camarada e amigo António Graça de Abreu. Vem na entrada "Mansoa, 26 de Maio de 1973"... 

Colocado com alf mil de secretaria num CAOP1 (Mansoa), o António Graça de Abreu  estava relativamente bem colocado para ir sabendo das novas da guerra... Muito  melhor colocado do que qualquer um de nós, que fomos operacionais mas atuámos sobretudo a nível de setor ou subsetor, com uma visão necessariamente fragmentada e parcelar da situação operacional e político-militar...

Este documento diarístico vale também, para a historiografia da guerra colonial na Guiné,  por nos dar uma outra visão, e aliás bastante interessante, a  do estado de espírito ou do moral das nossas NT... Neste caso há referência explícita a tropas especiais, uma companhia do BCP 12 que regressa de Guidaje, e a 38ª CCmds (adida ao CAOP1) que parte para Guidaje...

Amigos e camaradas, leitores do nosso blogue: O "inferno de Guidaje" começou justamente a 8 de maio de 1973, faz agora 39 anos... Dizem os historiógrafos militares Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes que a operação de auxílio a Guidaje, reabastecimento e contra-ofensiva durou um mês (de 8 de maio a 8 de junho de 1973), e envolveu mais de mil homens das NT (na sua maioria, tropas especiais, comandos, fuzileiros e paraquedistas). Nunca é de mais evocarmos, nestas efemérides, o pesado sacrifício que foi pago pelos combatentes, de um lado e de outro, envolvidos nesta e noutras batalhas sangrentas da Guiné, ligadas a topónimos estranhamente começados por G (Guidaje, Guileje, Gadamael, Gandembel)...

 Recorde-se, mais uma vez,  para os eventuais leitores interessados,  que há uma edição comercial do livro do AGA. Referência completa: António Graça de Abreu - Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura. Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp. (*) (LG) 


Mansoa, 26 de Maio de 1973

[, Na foto, o AGA, na estrada Mansoa- Porto Gole, em 1973, a G3 numa mão e a máquina fotográfica na outra]

A Guiné ferve, até de boatos. Tenho a vantagem de estar razoavelmente bem informado sobre o que vai acontecendo. 

O PAIGC, confiante e moralizado, passou à ofensiva. Começaram há quinze dias atrás por se concentrar em Guidaje (**), na fronteira norte e agora sobre Guileje, na fronteira sul, as duas povoações trissilábicas, ambas começadas por “Gui”, sinónimo de desespero e morte. 

Um alferes pára-quedista meu amigo que passou agora por aqui com os seus homens vindos de Guidaje a caminho de Bissau, rotos, sujos, barbas de dias, os olhos afundados no nada, disse-me: “Lá para cima é só ferro, não se pode ir.” 

Guidaje, embora flagelada continuamente há mais de duas semanas, tem-se aguentado. Não se pode ir para lá, mas ontem quase toda a 38ª. Companhia de Comandos partiu para Guidaje. Os quarenta homens que lá haviam estado, com o nosso David Viegas que aí morreu, permaneceram em Mansoa. Já tinham tido um morto e o soldado Tavares sem um pé. Foi triste ver partir os restantes. Formaram a Companhia, saudaram toda a gente.

Antes houve bebedeiras, risadas secas a tentar afugentar o medo, a incerteza de voltarem vivos. A zona de Guidaje está cheia de guerrilheiros, a terra fica a quinhentos metros do Senegal – dizem-me que a pista de aviação entra por dentro do território do Senegal, – e, do outro lado, em Cumbamori no país do Senghor, os combatentes do PAIGC têm uma grande base militar. 

A partir de Bissau, lançou-se uma operação com o batalhão dos Comandos Africanos, cerca de 500 homens, sobre Cumbamori. Saiu um comunicado especial das Forças Armadas onde se refere a destruição do quartel de Cumbamori, só não se diz que este quartel fica no Senegal, tudo mais está mais ou menos correcto. O número de elementos IN abatidos, cento e sessenta e sete no total, é que pode criar algumas confusões porque engloba civis, às vezes mulheres e crianças, tudo o que aparece à frente e é suspeito de estar com os guerrilheiros, é frequentemente abatido. Na retirada, os Comandos Africanos foram atacados por blindados senegaleses e sofreram vinte e tal mortos.

O pessoal anda amedrontado. Ontem na messe, ao jantar, quase todos saltaram das cadeiras, ouviu-se um rebentamento. Afinal era a porta do frigorífico.

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Nota do editor:


(**) Sobre Guidaje temos mais de 140 referências no nosso blogue. Sobre a intervenção da CCP 12/BCP 12 bem como da 38ª CCmds ver aqui os seguintes postes de camaradas nossos:

Victor Tavares (CCP 121/BCP 12) [, foto à direita]:

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121) 


Amílcar Mendes (38ª CCmds) [, foto à esquerda]

27 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1123: Um espectáculo macabro na bolanha de Cufeu, em 1973 (A. Mendes, 38ª Companhia de Comandos)

22 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1201: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (3): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (I parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)


23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1203: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (4): De Farim a Guidaje: a picada do inferno (II Parte)

23 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1205: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (5): uma noite, nas valas de Guidaje
 

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

Aniceto Afonso  [, foto à esquerda,] e Carlos Matos Gomes, [, foto à direita,] historiógrafos militares [, tendo o segundo participado na Op Amestista Real, como oficial do BCA]


21 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1198: Antologia (53): Guidaje, Maio de 1973: o inferno (Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes)

(...) "Para cercar Guidaje, o PAIGC começou por cortar o itinerário de Binta e instalar sistemas antiaéreos com mísseis Strela. O isolamento aéreo de Guidaje iniciou-se com o abate de um avião T-6 e de dois DO-27 e o terrestre acentuou-se em 8 de Maio, quando uma coluna que partira de Farim, escoltada por forças do Batalhão de Caçadores 4512, accionou uma mina anticarro e foi emboscada, sofrendo 12 feridos. 


"Em 9 de Maio, a mesma força foi de novo emboscada, mantendo-se o contacto durante quatro horas.

"A coluna portuguesa sofreu mais quatro mortos, oito feridos graves, dez feridos ligeiros e quatro viaturas destruídas, deslocando-se então para Binta, em vez de subir para Guidaje" (...).

(...) "Em 23 de Maio, saiu uma coluna de Binta para Guidaje protegida por uma companhia de pára-quedistas [, a CCP121]. A coluna regressou ao ponto de partida, porque a picada estava minada em profundidade, e a companhia de pára-quedistas, apesar de ter sofrido violenta emboscada feita por um grupo de cerca de 70 elementos, que lhe causou quatro mortos, chegou a Guidaje " (...). 

(...) "Em 29 de Maio, foi organizada uma grande operação para reabastecer Guidaje. Constituíram-se quatro agrupamentos com efectivos de companhia em Binta e dois agrupamentos em Guidaje, estes para apoiar a progressão na parte final do itinerário. A coluna alcançou Guidaje nesse dia, tendo sofrido dois mortos e vários feridos" (...).

(...) "Em 12 de Junho, considerou-se terminada a operação de cerco a Guidaje. Uma coluna partiu desta guarnição para Binta, trazendo o tenente-coronel Correia de Campos, que comandara o COP3 durante este difícil período.

"Baixas das colunas de e para Guidaje, entre 8 de Maio e 8 de Junho de 1973: Mortos: 22; Feridos: 70; Viaturas destruídas: 6.

"Em suma, o primeiro objectivo do PAIGC foi isolar Guidaje, o segundo foi flagelar a posição e destruir o espírito de resistência das forças portuguesas e o último seria conquistar a povoação. 

"Guidaje sofreu, entre o dia 8 e o dia 29 de Junho, 43 flagelações com artilharia, foguetões e morteiros. Logo no dia 8 esteve debaixo de fogo por cinco vezes, num total de duas horas, em 9 sofreu quatro ataques, em 10 três, e até ao final todos os dias foi atacada. No total dos 43 ataques, a guarnição de Guidaje sofreu sete mortos, 30 feridos militares e 15 entre a população civil. Foram causados estragos em todos os edifícios do quartel" (...).

Sobre Op Ametista Real, ver ainda:

16 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXV: Antologia (16): Op Ametista Real (Senegal, 1973) (João Almeida Bruno)

Ainda sobre Guidaje, vd aqui tambémo depoimento de José Afonso, que pertenceu à CCAV 3420:

terça-feira, 8 de maio de 2012

Guiné 63/74 – P9869: Convívios (430): 17º Encontro/Almoço/Convívio da 38ª CCmds, vai decorrer em 30 de Junho de 2012, em Malveira (Amílcar Mendes)


1. O nosso Camarada Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) - Brá, 1972/74 -, enviou-nos para divulgação o programa da festa da sua Companhia.

XVII ENCONTRO
 38ª Companhia de Comandos

30 de Junho de 2012
 Milharado - Venda do Pinheiro (Malveira)
 HOMENAGEM AO NOSSO CAMARADA
Cecílio Manuel Ferreira Franco

Camarada, 

Este ano, vamos reunir-nos em MILHARADO (Venda do Pinheiro) no próximo dia 30/06/2012 e assim cumprir uma tradição que a todos nos orgulha e honra.

Este ano, iremos prestar HOMENAGEM ao nosso camarada CECÍLIO FRANCO que, como vos recordais, faleceu na Guiné a 01/02/1973. 

Recordaremos juntos também, que foi há 40 anos que embarcámos para a Guiné.
“A 38ª Companhia de Comandos tem 3 minutos para formar na parada!” - Isto é, tem o dia 30 de Junho de 2012 para estar toda junta a comemorar. Isto e muito mais numa “PROVA DE FOGO” do 40º Aniversário do começo de uma gloriosa aventura que nos uniu para o resto das nossas vidas! 

Vem, traz a família e os amigos! MAMA SUMÉ

PROGRAMA
10h30 – CONCENTRAÇÃO no Cemitério de Milharado
11h00 – Visita à Campa do nosso Camarada - Cerimónia de Homenagem.
Deposição de Coroa de Flores. Entrega da Boina Comando à Família.
11h30 – Cerimónia Religiosa na Igreja do Milharado.
12h30 – Saída para o Alto de Lousa, para o Restaurante” O BARRIL “( fica a seguir ao Lagar de Azeite ).

Milharado, Venda do Pinheiro (Malveira)
Itinerário: (AE 8 – Saída 4 – Lousa/ Montachique), e seguir depois pela E.N 374-2 – Montachique - Milharado

EMENTA DO ALMOÇO-CONVÍVIO
Entradas: Aperitivos
Pratos: Bacalhau à Barril / Vitela à Lafões
Sobremesa: Frutas / Doce da Casa/ Bolo COMANDO 

Preço P/Pessoa: 30 €
Confirma quanto antes a tua presença junto dos nossos camaradas:

Mendes da Silva: 91 969 24 02
Amílcar Mendes: 93 980 27 74
João Ogando: 96 577 06 44
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Notas de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

8 DE MAIO DE 2012 > Guiné 63/74 – P9866: Convívios (246): Almoço/Confraternização da CCAÇ 2660/BCAÇ 2905 - Teixeira Pinto, vai decorrer em 02 de Junho de 2012, no Bonsucesso em Aveiro (Virgílio M. Paulino Pereira)


domingo, 25 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9662: Guidaje, Maio de 1973: 2ª coluna a 4 companhias, a caminho de Guidage - 29/05/1973 (Amílcar Mendes/João Ogando)



1. O nosso Camarada Amílcar Mendes, que foi 1º Cabo Comando da 38ª CCmds (Os Leopardos) - Brá, 1972/74 -, em colaboração com o Furriel Miliciano COMANDO João Ogando, enviaram algumas das suas memórias para publicação na revista MAMA SUME da delegação de Almada - Associação de Comandos, num interessante e esclarecedor artigo, que aqui reproduzimos com a sua autorização pessoal.



Introdução 

Em Maio de 1973, a 38ª CCmds estava sediada em Mansoa, na região central da Guiné, tendo a NW a região do Morés, e a SW, o Sara – Saruol. Na altura, devido à abertura de uma estrada entre Mansoa e Porto Gole (nas margens do Geba) a companhia fazia operações de reconhecimento ofensivo nas zonas por onde, no futuro, iria passar essa via, no sentido de impedir que quaisquer incidentes atrasassem os trabalhos. 

Em certo dia dos princípios de Maio, quando me encontrava numa destas missões fui informado, via rádio, pelo meu adjunto, na altura Alferes Agostinho B. Saraiva da Rocha, de que fora solicitado à companhia uma escolta entre Bissau e Farim, para transportar reabastecimentos para Guidage. Então já se começavam a sentir os problemas operacionais acima mencionados, mas ainda não se tinha realizado a missão a Cumbamori. 

Respondi-lhe que accionasse os meios no sentido do cumprimento da missão, apesar das limitações em material anteriormente referidas. Realizou-se a acção até Farim e, à chegada, o Alferes Rocha, foi confrontado com a ordem/pedido de integrar uma coluna para tentar chegar a Guidage, já que as anteriores tentativas de reabastecer aquela posição tinham falhado. 

Sobre esta missão, quem estará melhor habilitado para falar é o Coronel na Reserva Saraiva da Rocha. No entanto quero, desde já, salientar os seguintes factos: durante o trajecto foi accionado uma mina/armadilha que atingiu gravemente o 1.º Cabo “Comando” Filipe Tavares, sofrendo amputação da parte anterior de um dos pés e do indicador da mão direita. Este militar deu provas de uma inexcedível coragem, pois, por falta de evacuações aéreas e de cuidados médicos apropriados no local, os ferimentos gangrenaram. Nunca se deixou ir abaixo, chegando, inclusive, a animar outros feridos em estado relativo melhor que o dele. Dado o atraso no recebimento de socorros, o 1.º Cabo Tavares teve necessidade de sofrer corte da perna a nível do joelho e não apenas da parte do pé, como teria acontecido se tivesse sido evacuado atempadamente. Esteve nesta situação de espera durante vários dias até que foi evacuado para Bissau. 

No período de permanência em Guidage, o aquartelamento foi continuamente atacado pelos mais diversos meios. Os abrigos existentes eram insuficientes para os efectivos concentrados, havendo, ao longo do perímetro, uma trincheira que não devia chegar ao metro de altura e a um de largura. Numa dessas valas o Soldado “Comando” Raimundo foi atingido por estilhaços de morteiro, vindo a falecer. Como atrás referi, esta primeira escolta da 38ª  CCmds a Guidage, não poderá ser pormenorizada, pois não estive lá. 

No entanto o meu Adjunto, se for contactado, poderá esclarecer aspectos desta acção, nomeadamente das forças integradoras da coluna, quem a comandava etc. (3) Convém ressaltar que, ao contrário de escoltas/colunas anteriores, o reabastecimento chegou ao seu destino e não foi abandonado no campo de batalha. A companhia sofreu pelo menos um morto e um ferido grave e nada mais acrescento pois não possuo documentos que mo permitam fazer.

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Nota de MR:

(*) Vd. também sobre esta matéria o poste do mesmo autor em:

4 DE ABRIL DE 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9249: À margem da história oficial ou oficiosa (1): Revolta, em Guidaje, da martirizada CCAÇ 19 (Manuel Marinho, 1ª C/BCAÇ 4512; José Martins, CCAÇ 5)


Guidaje > Maio de 1973 >A caminho de Guidaje, os comandos da 38ª CCmds deparam-se com um espectáculo macabro... Cadávares de combatentes das NT e do IN abandonados, na sequência da batalha de Guidaje... Nesta imagem, brutal embora de má qualidade, vê-se dois  cadáveres de elementos das NT (provavelmente da CCAÇ 19), perto da bolanha do Cufeu.


 Foto: © Amílcar Mendes (2006). Todos os direitos reservados




1. Comentário, com data de 18 do corrente, ao poste P6612 (*),

A história aqui contada tem alguma falta de informação.

Era eu o comandante da Companhia [, a 1ª C/BCAÇ 4512,] e tinha vindo a Lisboa. Quando cheguei, e regressei, a 27 de Julho [de 1974], deparei-me com uma situação explosiva.


Estive cercado com os meus alferes e furriéis durante dois dias. Até que os soldados da CCaç [19] me deram um prazo para falarem com um capitão dos Comandos Africanos. Se isso não acontecesse até às 15 horas, eles fuzilar-me-iam na parada.

Chegou um helicóptero às 13h, com um capitão dos Comandos Africanos. Se bem me lembro, era o Cap Sisseco, acompanhado de um Major do Estado Maior.

Os soldados africanos, quando souberam que tinham que sair em Agosto [de 1974], não aceitaram e acharam que nós tinhamos sido uns traidores. Depois da minha ida a Bissau, chamado pelo Comandante Chefe [Brigadeiro] Fabião, conseguiu-se que eles recebessem o pré até fins de Dezembro. 


2. Comentário de José Marcelino Martins, nosso colaborador permanente (*):




O autor do comentário efectuado às 12h03 esqueceu-se de se identificar. No entanto, pelo texto deduzo ser o Capitão Miliciano de Infantaria Francisco da Silva Oliveira. Era bom confirmar esta informação. 



O Capitão Sisseco... seria o Ten Graduado Comando Adriano Sisseco, que foi um dos comandantes da 2ª CCmds Africanos ?!


Quanto aos pagamentos a efectuar aos militares africanos... estavam consignados no artigo 24º do Anexo ao Acordo de Argel, assinado em 26 de Agosto de 1974. Previa-se o pagamento do pré [dos militares africanos] até ao final do ano de 1974. 


Porém, não foi nesta data que o mesmo foi acordado. Teria de vir de reuniões anteriores, uma vez que, na CCaç 5 (Canjadude), desactivada em 24 de Agosto (antes da assinatura do Acordo), o Comandante na altura pagou esses valores aos seus subordinados africanos, tendo para tal de deslocar-se a Bissau o seu 1º Sargento para proceder ao levantamento da verba necessária e proceder ao transporte da mesma.


Renovo que os meus votos de que o subscritor do comentário a que me refiro, além de se identificar, nos faculte mais elementos sobre este período que não está muito documentado "oficialmente".


Também me permito convidá-lo para integrar esta Tabanca, onde todos partilhamos as nossas memórias daquela terra que "odiámos" e, posteriormente, a adoptamos como nossa.

3. Comentário do editor:

Segundo informação adicional do J.M., este Cap Oliveira comandava a 1º CCAÇ do BCAÇ 4512/72. A CCaç 19, presume ele, era comandada na altura pelo Cap Mil Inf António Eduardo Gouveia Carvalho. A CCAÇ 19 foi extinta em Agosto de 1974, como todas as demais companhias africanas.



É contra as normas do nosso blogue aceitarmos comentários anónimos e, menos ainda, darmos visibilidade (e legitimidade), através de um poste, ao anonimato. Abrimos aqui uma exceção, dada o excecional interesse do testemunho, lacónico, mas seguramente autêntico, do comandante da 1ª C/BCAÇ 4512/72. São histórias "à margem da história oficial ou oficiosa". Ora, precisamos de interrogar o silêncio dos arquivos da história da guerra colonial. E já não temos muito tempo para recolher testemunhos dos protagonistas dos acontecimentos.


Reforço o convite do meu camarada José Martins (também ele um homem que lidou, tal como eu, com soldados do recrutamento local) para que o ex-Cap Mil Inf Francisco da Silva Oliveira se junte a este já numeroso grupo de camaradas da Guiné quie lutam para que a memória não se apague


 Boa saúde e longa para o nosso camarada Oliveira. Saudações natalícias.


_________________ 


Nota do editor:

(*) Vd. poste de 18 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6612: Estórias avulsas (89): Guidaje em revolta após Abril (Manuel Marinho)



(...) Manuel Marinho (ex-1.º Cabo da 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512, Nema/Farim e Binta, 1972/74), dá-nos conta de um momento de tensão em Guidaje, já depois do 25 de Abril, resolvido à custa do regresso da sua Unidade ao local onde jamais pensariam voltar (...)


(...)  Em finais de Julho, (ou princípios de Agosto) recebemos ordens para levantar novamente o armamento, para fazer face a uma insubordinação que acontecia em Guidaje, onde o nosso Gr Comb estava como que refém dos camaradas africanos que estavam relutantes na entrega do seu armamento, face à falta de garantias mínimas que não existiam para eles.


A apreensão tomou conta de nosso pessoal que de imediato quis saber em que consistia a nossa ida a Guidaje, e a nossa recusa terminante em tomarmos alguma medida que pusesse em causa camaradas nossos, o pessoal militar africano de Guidaje [ a CCAÇ 19,]teria que resolver o problema já que nada poderíamos fazer, e em nada contribuíramos para a situação criada.


A operação consistia em se utilizar os meios necessários incluindo a força (confrontação armada?) para que os revoltosos entregassem as suas armas a fim de permitir a entrega pacífica do aquartelamento ao PAIGC.


Na fronteira do Senegal estavam forças do PAIGC, atentas ao evoluir da situação, e a pressionar com a sua presença os revoltosos. Lá seguimos mais uma vez para Guidaje, novamente armados e a querer parecer que os ecos de Abril ali não tinham chegado, a minha HK-21 voltou às minhas mãos depois de me ter “despedido” dela, parecia que o “divórcio” amigável não se queria consumar.


Avançamos pela estrada que tinha sido construída e durante a deslocação fomos confrontados com uma viatura militar vinda de Guidaje com dois soldados africanos (Comandos?), a ordem era para não deixar passar ninguém, mas depois da paragem da viatura e de breve diálogo, nada questionaram e voltaram para trás.


Estávamos assim numa situação que além de perigosa, não deixava de ser bizarra e irónica, a “alinhar” com o PAIGC para desarmar camaradas africanos que tinham combatido a nosso lado.


Ao entrarmos no quartel, somos rodeados de Milícias e Militares da CCaç 19 que nos insultam e nos culpam pela situação existente, chamando-nos f… da p… e traidores entre outros “mimos”, e muito exaltados,  culpando-nos da situação existente.


Antes de lá irmos já nos tinham alertado para a calma que teríamos de ter para resolver a questão e levar a bom termo com a máxima persuasão possível a questão da entrega do armamento por parte das forças de Guidaje, embora a tensão existente não fosse a mais favorável.


Embora o conhecimento mútuo das nossas Ccaç  pudesse ajudar, foi complicado e teve que haver muito discernimento, e muitas conversas isoladas com este e aquele mais exaltado, já no interior do quartel, e evitando qualquer sinal de animosidade.


Entre as nossas 1.ª CCAÇ/BCAÇ 4512 e a CCAÇ 19, apenas havia ocorrido um episódio menos agradável entre Grupos de Combate de ambos os lados em Binta depois de uma coluna, mas tinha sido um caso pontual, embora tenso para ambos os lados.


É evidente que não se vislumbrava o PAIGC embora eles já tivessem tido encontros bilaterais com a  CCAÇ 19, pelo menos a nível superior, mas alguma coisa tinha corrido mal, e nós teríamos de ajudar a sanar o problema, agora era connosco, era caso para citar o velho ditado, 'quem vier atrás que feche a porta'. (...)


Não sei o que foi tratado a nível superior, mas a deposição das armas,  por parte da tropa africana existente em Guidaje, foi conseguida, mas fiquei sempre com a triste imagem dum camarada africano perfeitamente fora de si olhando para nós e gritando-nos na cara que éramos traidores. (...)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9141: (De)Caras (10): Os camaradas do PAIGC não são nossos camaradas... mas podemos ou não falar aqui deles ? (Parte I) (Amilcar Mendes / Virgínio Briote)


Serra da Carregueira > Centro de Tropas Comandos > 29 Junho de 2011 > Eu e alguns camaradas Comandos Africanos que, passados 40 anos, continuam a amar a bandeira sob a qual combateram e e que mostram um orgulho desmedido em serem Portugueses, e com milhares de histórias de vida para figurar no nosso blogue. Dos nomes, não me lembro de dois, quando souber de todos mando a sua identificação. Amilcar Mendes. Saudações, amigo Luís,  e muito contente fiquei com o teu contacto. Abraço do Amilcar".

Foto: © Amílcar Mendes (2011). Todos os direitos reservados.

1.  Mensagem do nosso camarada Amílcar Mendes (ex-1.º Cabo Comando da 38.ª Companhia de Comandos, Brá, 1972/74; e hoje taxista na praça de Lsiboa):

Data: 31 de Outubro de 2011 18:17
Assunto: Comandante BOBO KEITA

Amigo Luis Graça , estimados co-editores do blog e todos os camaradas ex-combatentes da Guiné:

Com pedido de publicação gostaria de tecer algumas considerações sobre um assunto que já me começa a incomodar e, sinceramente, sem querer puxar ninguém para esta conversa permito-me [dizer] o seguinte:

Durante quase 10 anos todos os dia ouvia o Código Comando  e uma das partes que retenho era o seguinte: Mas respeita os estóicos e abnegados que servem sem preocupação de paga ou satisfação de interesses de qualquer natureza.

 Neste contexto respeito todos os que lutam ou lutaram na defesa de algo em que acreditaram ou julgaram ser o mais certo e aqui englobo todos os que passaram pelos campos de batalha e,  claro,  os antigos combatentes do PAIGC. 

Presto-lhes a minha homenagem enquanto combatentes e respeito-os como seres humanos mas daí a ter que enaltecer o seu papel na Guerra Colonial da ex-Guiné Portuguesa ?!... Escalpelizar o seu desempenho, modo de atuação e armamento que usavam para nos combater, etc.,  acho eu,  evidentemente, que é protagonismo a mais nas páginas deste blogue! 

Acho mesmo, amigo Luís ! Enquanto me lembrar das atrocidades cometidas - e sei do que falo, amigo Luís -,sobre camaradas meus e de todos nós, em particular os que combateram ao meu lado, os Comandos Africanos mas Portugueses, torturados, mutilados, assassinados a sangue frio em [carreiras]  de tiro porque, segundo o PAIGC,  os Comandos Africanos  eram, e cito, "cachorros de duas pernas"! 

Amigo Luís, o comandante Bobo Keita até será uma excelente pessoa mas para ser enaltecido nos blogues do PAIGC! Este é o blogue dos combatentes portugueses da ex-Guiné Portuguesa e é nessa qualidade que aqui estou. E é sobre nós e sermos nós a preenchê-lo é que me agradaria.  

De outro modo peço humildemende,  a partir de agora,  a minha exclusão deste blogue. As notícias somos nós e o que lá fizemos,  bem ou mal,  mas é o nosso bocadinho. Se se quer escrever sobre os Africanos que lutaram à sombra da bandeira portuguesa na Guiné, vamos até ao largo do Rossio em Lisboa e aí,  sim,  temos material para preencher páginas e páginas de blogue .(À consideração do Dr. Beja Santos). 

Para mim,  Bobo Keita aqui no blogue chega!  

Abraços para todos os bloguista e em especial ao meus camaradas comandos, naturais da Guiné, que tão mal estão a passar.  

Amílcar Mendes,  1º cabo comando da 38ª Companhia de Comandos na ex-Guiné Portuguesa em 72-74 com oito baixas mortais e cerca de 40 feridos em combate com as forças do PAIGC.






Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > 10 de Junho de 2009 > "Dois homens dos comandos que ainda hoje vivem, à sua maneira, a mística dos comandos: o Virgínio Briote, nosso co-editor, dos velhos comandos de Brá (1965/67) e o Amílcar Mendes, da 38ª CCmds (1972/74)... Tive o grato prazer de lhe dar, a este útimo, o Alfa Bravo (abraço) que nos faltava... Conhecíamo-nos apenas do blogue, dos mails, do telefone" (LG)...


Foto: © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados


2. Comentário,  com data de 2 de Novembro, do nosso co-editor Virgínio Briote (que, por razões de saúde, já não pode estar tão ativo como ele e nós gostaríamos, nas nossas lides bloguísticas, mas que continua a ser uma voz respeitada na nossa Tabanca Grande):

O blogue está aberto à participação de todos o ex-combatentes. Mais que uma vez, alguns camaradas, nestas páginas, lamentaram a não participação dos ex-IN. E que eu saiba, o blogue não se destina a fazer a história dos acontecimentos vistos apenas por um dos lados, pelo menos tal não aparece como premissa. Assim, vejo com muito interesse que o blogue esteja aberto a todos os ex-combatentes, qualquer que tenha sido o lado de onde dispararam. Só assim pode vir a ter algum interesse histórico e, contribuir, inclusivamente, para um bom entendimentos dos [nossos dois] povos irmãos.



A guerra acabou em Abril de 1974, passaram já 37 anos. Houve acontecimentos muito dolorosos, excessivos, mas inevitáveis numa guerra que atingiu, em muitas alturas, violência extrema. Esses casos ocorreram, a grande maioria dos camaradas ouviu falar deles e alguns de nós até testemunhámos alguns. Protagonistas? De ambos os lados, naturalmente.



Sempre julguei que para a grande maioria dos combatentes, de um lado e do outro, a causa por que lutam é justa e todos têm o direito de a contarem com os olhos como a viram.



Tudo isto, caro Luís, para te dizer que não só dou as boas-vindas ao livro que acaba de ser publicado (que ainda não o tenho) como não vejo qualquer inconveniente que alguns dos textos sejam publicados no blogue do Luís Graça e Camaradas da Guiné.



Não vou dar seguimento escrito a qualquer opinião contrária à minha. Aceito-a simplesmente. Por isso fica ao teu critério: publicitar esta opinião ou guarda-la para ti.  Espero que já andes, sem dores, pelo teu pé. E que brevemente participes numa meia-maratona...



Um abraço do Briote
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Nota do editor: