Mostrar mensagens com a etiqueta António Santos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta António Santos. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6111: Convívios (211): 6.º Almoço Convívio do Pel Mort 4574 em Penacova, dia 22 de Maio de 2010 (António Santos)

1. Mensagem de António Santos (ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), com data de 3 de Abril de 2010:

Camarada, Vinhal
Boa Páscoa, junto dos teus queridos.

Em anexo envio um ficheiro com as indicações da nossa reunião para almoço e confraternização, logo que te for possível a malta do 4574, agradece.

Um alfa bravo, do
ASantos
SPM 2558



__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de l5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6110: Convívios (124): 4º Encontro-Convívio da CCS/BART 2917 e Unidades Agregadas ao Comando do BART, MAI70 a MAR72 (Benjamim Durães)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

Hélder Valério (*), ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72, deixou este comentário no poste "Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do..." (**):

Caros amigos e camaradas, em particular o José Rocha, das Transmissões do BART 2875 de Piche.
Não sou a pessoa mais indicada para responder às dúvidas que ele apresenta e mesmo um ou outro aspecto não entendo bem.
No entanto vou tentar alinhar algumas informações/respostas que podem ajudar.

Na área onde o José Rocha esteve, Piche, já pudemos ler aqui no Blogue que a organização territorial mudou à medida da evolução do esforço de guerra e das suas vicissitudes. Não indo mais atrás no tempo, temos que o BART 2857, esteve na zona de 68 a 70, sendo depois substituído de 70 a 72 pelo BCAV 2922, o qual, por sua vez foi substituído pelo BCAÇ 3883. Os dois últimos Batalhões tinham como área, para além da "sede", Piche, Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá e seus Destacamentos, sendo que o do José Rocha também tinha inicialmente Bajocunda, salvo erro.

Também se fala muito de Copá, que pertencia organizacionalmente a Pirada, mas que, segundo o livro/relato da história da CCAÇ 3545 feito e publicado por Fernando Sousa Henriques, Alf Mil Op Esp daquela Unidade, como ficava no limite da sua área de intervenção, era algumas vezes apoiada por eles.

Sobre os "comentários sobre Canquelifá de 72/74 feito por pessoas que nunca lá puseram os pés", não sei bem a que é que o José Rocha se refere, mas é realmente verdade que há um P1216 (***) de António Santos, das Transmissões do Pelotão de Morteiros 4574/72 que na época estava adstrito ao Batalhão sediado em Nova Lamego e que diz: "Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três Companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Morteiros 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!"

Calculo que a referência aos tais "comentários sobre Canquelifá por pessoas que nunca lá puseram os pés" seja, de facto, retativa ao que o António Santos relata, mas fico sem saber se o que o José Rocha pretende é algum tipo de esclarecimento sobre o que o António Santos diz, por se estar a falar dum local que em tempos anteriores tinha pertencido à área de acção do Batalhão do José Rocha e ele, José Rocha, não ter tido conhecimento (o que o A. Santos refere é passado em Março de 74...) ou porque a "coisa" lhe parece "mal contada".

Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso "ajudar" relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545, Companhia que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia:
"A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir".

No livro referido ("No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques) apresentam-se então os nomes dos vitimados, que foram:

- mortos:
Fur. Manuel Joaquim Sá Soares, responsável pela Chaimite;
Fur. José António Teixeira, responsável pela White;
Sold. Vítor Manuel Jesus Paiva;
Sold. João da Costa Araújo;
Sold. Bambo Nanqui;
Sold. Bailo Baldé.

- feridos graves:
Fur.Carlos Manuel Fanado (ficou sem as duas pernas);
Fur. Carlos M. Charifo;
Fur. Cherno Jaló;
1.º Cabo Manuel da Silva Saavedra;
1.º Cabo Silvino Neto de Matos;
1.º Cabo José Bacar Sané;
Sol. Adelino Dias;
Sold. Numar Camará;
Sold. Carlos Alberto Queba;
Sold. Braima Balde;
Sold. Seco Maru Baldé;
Sold. Rachide Bari;
Sold. Ingala Embaló;
Sold. Pedro Dias;
Sold. Ba Turé.

- feridos ligeiros:
Fur. Pedro Manuel dos Santos;
Sold. Joaquim Rolando Pinto;
Sold. Domingos Dias Salgado.

Após a listagem das nossas baixas, o relato remata com "nesta forte emboscada, em que o IN, que se encontrava instalado do lado Sul da estrada e com elementos seus em cima das árvores, sujeitou toda a coluna a intenso fogo de RPG-2 e RPG-7, assistiu-se, logo de início, à destruição de 1 viarura Chaimite, que ardeu juntamente com o condutor e o Furriel que a comandava, de 1 White e de 1 Berliet. O IN capturou ainda 3 espingardas G3, 1 metralhadora HK21 e 1 Racal TR-28. De registar o facto de o 1.º Cabo Augusto Nunes da Graça ter resgatado da Chaimite, já em chamas, o Capitão Fernando Ferreira e o Furriel Pedro Santos".

Espero que estes dados possam ajudar o António Santos a dar corpo à notícia que tinha dado antes sobre as consequentes evacuações a partir de Nova Lamego e que possam também satisfazer as dúvidas do José Rocha.

Aproveito para relembrar o José Rocha que ao tempo dos acontecimentos acima descritos a estrada Piche-Nova Lamego já era toda alcatroada e bem desmatada em ambos os lados, o que dava uma (falsa) sensação de segurança, pela ideia que se tinha que seria possível ver á distância qualquer problema que o IN eventualmente pretendesse colocar.

Isto que acima relatei foi o que aconteceu em parte do 1.º trimestre de 74, sendo que no que diz respeito aos tempos de 70-72, ou seja do Batalhão que sucedeu ao do José Rocha, isso já está no que o Francisco Palma escreveu.

No que diz respeito à questão do Fiat abatido, na zona, tudo o que li, no Blogue e no livro que dei conta, foi de facto em 31 de Janeiro de 74. O mês de Março foi também muitas vezes indicado como um mês funesto para a nossa FA, por força dos abates de Fiat's, mas em 1973, nunca vi nada referido a 74, mas também não consigo ler tudo.

Relativamente à história do piloto do avião abatido em 31 de Janeiro, que andou pelo Senegal, utilizou bicicleta, passou por Dunane e foi até Piche, já foi tudo contado, recontado e reafirmado.

Espero ter ajudado.

Um abraço
Hélder S.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4593: Controvérsias (22): As influências dos grandes mestres (Hélder Silva / José Brás)

(**) Vd. poste de 8 de Agsoto de 2009 > Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do Pilav Gil foi abatido em Janeiro ou em Março de 1974? (José Rocha)

(***) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

domingo, 4 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3698: Levantamentos de rancho em Nova Lamego, em 1973 e 1974 (A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72)

1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74,

Assunto - Poste 3625 (*)

Luís, Vinhal e Briote, Camaradas em geral.

Votos de boa saúde.

O poste em referência, do camarada José Manuel Dinis que esteve em Bajocunda, fez com que recordasse que também em Nova Lamego, e aqui sim, houve levantamento de rancho, não um mas, três, devia ser um mal da Zona Leste, ou do vagomestre, embora Nova Lamego fosse possuidora da segunda melhor pista para aeronaves em toda a Guiné, portanto não seria por aí que os mantimentos não chegavam à mesa do Zé tropa, era por esta via que os sectores L4 e L6 se abasteciam através de colunas feitas periodicamente a Nova Lamego.

Vamos então aos levantamentos de rancho: o primeiro ocorreu em 73 não recordo a data, mas sei que foi na administração do BCAV 3854, porque recordo bem que o Capitão da CCS, ao saber o que se passava, foi ao refeitório tentar convencer o pessoal que estávamos perante o melhor petisco do mundo; o segundo passou-se já na vigência administrativa do BART 6523 e foi efectuado no início do ano de 74; o terceiro, este sim, já foi mais politizado porque já tinha acontecido o 25 de Abril e era já corrente os palavrões tais como: CAOS, CAÓTICO, ANARCA e ANARQUISTA, LATIFUNDIÁRIO, FACHISTA, palavras que não eram correntes na época, por exemplo.

Se eu disser que nunca comi uma hortaliça na Guiné, são capazes de não acreditar, mas acreditem porque foi verdade, embora na época não desse muita importância a este produto, mas faltou-me no cabedal, fui para lá com 67 kg, deixei 10 por aquelas bandas apesar de aos 13 meses de comissão ter vindo à minha aldeia retemperar as forças, leia-se umas bifalhadas, senão a diferença tinha sido maior, a falta dos legumes eram supridos, diziam com as famosas drageias amarelas que eram fornecidas uma ou duas vezes por semana a acompanhar a refeição.

Como sabem para cada militar havia uma porção de cada alimento que quase sempre não chegava à mesa. Aqui presto a homenagem ao Alf Sousa do Pel Mort 4574 que, quando era oficial dia, logo que recebia posse como tal e a nossa bandeira subia o mastro, dirigia-se imediatamente para a cozinha, inteirava-se da nossa dieta e fazia pesar, dependia da ementa, batatas, frango, carne, arroz, etc., a porção por cabeça, dos comensais que faziam parte da lista para esse dia, pois havia sempre passantes a caminho de, ou para qualquer parte e por isso o número era variável, nesse dia era uma fartura inclusive vinho, o meu copo que era uma lata de fruta, até transbordava nesses dias.

Pronto, estou a enviar mais uma acha para a fogueira do vagomestre, é certo que também já se apagou e de certeza que não arde, embora todos os que passaram por aquelas bandas saibam o que realmente se passava.

Já que estou lançado, aqui vai mais uma, a 22 de Agosto de 1972 quando passámos e parámos em Bambadinca, para deixarmos o Pel Mort 4575, que como o meu ía render outro já farto de estar na Guiné, pois passados uns dias estávamos em Nova Lamego e constou-se que o 1º Sargento Velhinho tinha oferecido uma certa importância, que dava para na altura comprar um andar nos subúrbios de Lisboa, ao 1º Sargento que o rendia, para regressar à Metrópole, mas este não aceitou, qual o motivo? Bambadinca era centro de recruta de milícias, o que devia dar uns trocos ao 1º e depois quem sabe também deu ao 2º.

Posto este comentário, envio para a tabanca.

Um alfa bravo.
A. Santos
SPM 2558

___________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3625: História da CCAÇ 2679 (10): Um Natal atribulado (José Manuel Dinis)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3645: As Boas-Festas da Nossa Tabanca Grande (9): Cartões de Natal de Sousa de Castro, António Santos e Mário Fitas

Mensagens de Natal de Sousa de Castro, António Santos e Mário Fitas, com votos de Boas-Festas, chegados até nós, destinados à Tabanca Grande.

1. Do nosso camarada Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo1972/74, tertuliano n.º 2 do nosso Blogue, recebemos este postal:


____________

2. Do nosso camarada António Santos, Ex-Sold Trms do Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74, um original da época:



Embora mais velhos, (gastos), o espírito continua novo, por isso fui buscar à mala este postal de Natal de outras eras, na altura pouco havia a cores, hoje é uma fartura.

Enfim, Bom natal para o Batalhão da tabanca grande, não esquecendo os familiares, e que 2009, não traga mais nenhum crash económico pois os que temos já nos chegam e além disso não somos políticos nem banqueiros, digo eu, simplesmente estivemos na Guiné o que fez de nós amigos para todo o sempre.


A. Santos
SPM 2558
____________

3. Ainda do nosso camarada Mário Fitas, ex- Fur Mil da CCaç 763, Cufar, 1965/66, este postal bem bonito:


Para Toda a Tabanca Grande Feliz Natal e um 2009 com o melhor que desejais Um abraço do tamanho do Cumbijã
Mário Fitas
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3643: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (8): Vitor Barata, em nome dos Especialistas da BA12 (Bissalanca, 1965/74)

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3605: Blogoterapia (81): Sempre gostei do meu país mas nem de todos os que cá vivem (António Santos)

1. Mensagem do António Santos (*), com data de 30 de Novembro:


Eu sou daqueles que falo pouco, observo e gosto mais de actuar, por vezes nem penso, e já sofri na pele por ser assim, inclusive monetariamente.

Fala-se tanto dos que passaram ao lado da guerra, por isto ou por aquilo, não interessa agora para o caso o porquê, recentemente veio juntar-se aquela frase escrita por um olheiro do nosso blogue - "velhos a lamentarem-se", ou coisa parecida... Não merece importância.

Bem vamos ao assunto que me leva desta vez a falar, escrever, primeiro. Há dias ouvi na Antena 2 uma entrevista com o Artur Agostinho, em que a dado momento disse "que gostava de PORTUGAL e não de muitas pessoas". Ora esta frase despertou em mim certas lembranças que passo descrever: eu também sou como o Sr. Artur, gosto muitíssimo de Portugal e não gosto de muitas pessoas, especialmente se são políticos, dou valor aos amigos do seu amigo, esses sim é que têm valor.

Tenho um tio que esteve na Guiné, em 63/65, na CCAÇ 557, companhia do nosso camarada José Colaço. Depois de regressar, passado algum tempo foi clandestino para França, a salto, como todos os outros, antes do tratado de Maastritch, e ainda la está.

Quando estava a aproximar-se a data de eu ser forçado a dar o nome para a tropa, ele apareceu e quis levar-me com ele. Pois já adivinharam que não conseguiu que eu fosse, primeiro por que gosto muito da minha terra, depois não me estava a ver viver noutro país que não o meu e na altura a Guiné, para onde acabei também por ir parar, diziam ser Portugal. Ele bem que me contou coisas da guerra da Ilha do Como e não sei mais quê, mas... não me demoveu.

Não sou herói, porque não os há, há sim indivíduos mais corajosos que outros, indivíduos que perante certas situações se transcendem e/ou se passam dos carretos, e cometem actos de bravura, mas nem sempre são os medalhados.

Tudo isto para dizer que Portugal é um país muito querido, antigo como poucos e com muita História, aqui sim com H grande.


A. Santos
SPM 2558

__________

Notas de L.G.:

(*) Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74; membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; residente em Caneças, concelho de Odivelas.

Vd. último poste do A. Santos > 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)

(**) Vd. último poste desta série > 5 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3566: Blogoterapia (73): Um elogio vindo da Bélgica (Soldado Carvalho / Santos Oliveira)

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3496: Hospital Militar Principal: Fazendo mini-caixões antes de ser mobilizado (António Santos)


O actual Hospital Militar Principal, à Estrela, em Lisboa, instalado num antigo convento, nasceu de uma vasta rede de hospitais militares portugueses, criada no reinado de D. João IV por ocasião da Restauração, na década de 1640. Sofreu sucessivos aumentos e remodelações. Em 1961, foi criado o Centro Ambulatório de Doentes e Convalescentes, o famigerado Anexo de Campolide, por onde passaram milhares de camarados nossos , feridos graves, evacuados dos três teatros de operações da Guerra do Ultramar. Esse Centro ocupou as antigas instalações do Aquartelamemnto de Campolide, onde até então funcionava o Regimento de Artilharia nº 1.

Vd. Sítio do Hospital Militar Principal > Instituição


1. Mensagem de António Santos (*):

Camaradas e amigos da tabanca grande e pequena.

Saúde para todos.

LG/CV/VB.

O Luís escreveu no poste 3485 (**), passo a citar:

" É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela", fim de citação.

Eu não estou na pele da primeira pessoa do singular, mas já que o Luís puxou pelo assunto, eu vou contar o que se passou comigo, e de certeza com muitos mais camaradas.

Este é um assunto que tenho evitado contar, por motivos óbvios, porque devem compreender quando se escreve no blogue sobre estropiados, nem calculam o que se passa na minha cabeça, as recordações de muitas das situações que vi e vivi no HMP.

Ainda hoje não sei o porquê de, após o terminus da especialidade de TRMS de Infantaria, me terem enviado para o HMP em diligência. Quando lá cheguei, e talvez pela minha profissão de então (Estofador de móveis, portanto trabalhava com madeira), fui mandado para a carpintaria que na época se situava num local chamado a cerca. Era onde estavam algumas oficinas, esse local ficava mesmo por trás da Basílica da Estrela, esta descrição toda para quem não conhece o local mas, pelo menos, já viu a Basílica na TV.

Portanto, cá o rapaz, querendo ou não, tinha que ver o resultado da guerra, nas deambulações diárias pelo hospital, incluindo anexo e urgências. E embora não fosse propriamente um menino que tivesse vivido em redoma de vidro, aquelas imagens chocavam os mais fortes, eles eram de cadeiras de rodas, de canadianas, (agora), na altura eram muletas, cabeças rapadas cheias de cicatrizes, só entrava nas enfermarias quando tinha que ser, uma vez mandaram que fosse à morgue mudar uma fechadura, etc.

Como se não chegasse para pôr o bom do militar a bater mal, o meu trabalho principal na carpintaria era fazer caixas, caixões em miniatura para as pernas que os cirurgiões iam cortando. Quando tocava o telefone com origem na medicina, era certo, só havia 2 perguntas, 90 ou 1.20, isto em centímetros, e dependia por onde o cirurgião cortava.

Passados que foram 2 meses e meio de HMP, fui mobilizado para a Guiné. Não foi, não é fácil recordar situações destas.

Um alfa bravo, para todos.

AS
SPM 2558
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. os postes do nosso amigo e camarada António Santos (Recorde-se que ele foi, na outra incarnação, Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74, é membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006; mora em Caneças, mas é (ou era...) um puto reguila, alfacinha):

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3439: Falando sobre o seu amigo Gregório (António Santos)

23 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)

23 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)

12 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

22 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1097: Imagens chocantes do cemitério de Bambadinca (A. Santos)

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P934: Da Casa da Mariquinhas do Gabu à Senhora Malária que me atacou seis vezes (A. Santos, Pel Mort 4574)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

(**) Vd. poste de 20 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3485: Gloriosos malucos das máquinas voadoras (13): Os MAN - Mecânicos de Material Aéreo e o outro lado da guerra (João Coelho)

(...) "O João Coelho, que é um leitor atento e apaixonado do nosso blogue, e membro da nossa Tabanca Grande, é daqueles camaradas das Força Aérea que, nunca tendo estando em serviço na BA 12, Bissalanca, Guiné, esteve perto de nós, dos nossos feridos graves, recambiados para Lisboa, para esse outro inferno que era (imagino!) o Hospital Militar Principal, à Estrela, mais os seus anexos...

"É estranho que ao fim de 3 anos e meio de blogue ainda não tenhamos aqui o testemunho, na primeira pessoa do singular, de um camarada que tenha passado pela Estrela" (...)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3439: Falando sobre o seu amigo Gregório (António Santos)


1. Mensagem do nosso camarada António Santos, ex-Soldado do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74, com data de 10 de Novembro de 2008

Saúde para todos.
Caros camaradas e amigos da tabanca.

No ultimo sábado, momentos depois do Carlos introduzir o poste em assunto na nossa tabanca, e porque eu estava online a escrever no meu blogue precisamente um texto em que relato que o Gregório vai à minha procura ao quartel novo, pois sabia da chegada dos periquitos, onde eu estava incluído mas, eu nem sequer pensava que ele estivesse naquelas paragens tão a Leste.

Precisei de dar uma espreitadela à tabanca, quando me deparo com esta notícia (*). Primeiro inundou-me uma grande alegria pois pensava ser o meu amigo a entrar em contacto, mas depois de ler, a maior tristeza com a perca deste amigo da adolescência.

Conhecemo-nos por volta dos treze anos e apesar de não estar em contacto com ele desde a Guiné, fiz varias diligências para o encontrar, mas tal não foi possível. Há vários anos, não me lembro de quantos, andava eu na labuta diária numa das ruas em Lisboa e pareceu-me ver o meu amigo a conduzir um autocarro da Carris. Foi tudo muito rápido e no meio da confusão do trânsito de Lisboa, fiquei perplexo pois se não era ele, seria um sósia, tal era a parecença. Passado algum tempo, (como a noção do tempo, agora é tão diferente da nossa adolescência), entrei em contacto com a Carris na Pontinha e foi-me dito que o seu nome não constava dos quadros da empresa!!! Por coincidência, um vizinho actual empregou-se há cerca de dois anos na mesma Carris. Claro que oencarreguei de tirar a limpo a situação mas, deram-lhe como resposta que a carris tinha mandado para a reforma a malta com 55 anos.

Que descanses em paz amigo.

Quanto ao pedido da filha do Gregório, infelizmente só posso ajudar com o envio de mais duas fotos tiradas na mesma altura em Nova Lamego, pelo que estas três fotos são o total que tenho em minha posse e curiosamente as únicas tiradas connosco e que chegaram até aos dias de hoje, (não digo o mesmo de tantas outras).

O porquê de só três? Porque o teu pai pertenceu a uma companhia de intervenção que parava pouco no mesmo local. Nas fotos aparece também o Graça, (hoje meu compadre), embora não conheças os locais, descrevo onde foram tiradas. A que já conheces do blogue é à porta do famoso cine Gabú, onde vimos alguns filmes. A do memorial, que se situava exactamente no meio do quartel velho que era a pensão onde ele morava na época e, finalmente a terceira, é dentro do quartel novo junto a uma caserna. Depois deste dia das fotos encontramo-nos varias vezes mas nunca estava o fotografo por perto. Quando foi para mais longe, só o via quando me visitava.

Carlos, se a filha do meu amigo estiver interessada nos meus contactos, estás à vontade.

PS: Aproveito o mail para enviar uma terceira foto minha que parece que é muito igual a de Farim.

Cumprimentos,
António Santos

Gabu > O trio de amigos no quartel velho

Gabu > O trio de amigos no quartel novo

António Santos junto ao momumento que assinala(va) o V Centenário da morte do Infante D.Henrique.

2. Comentário de CV

Infelizmente não temos o contacto da filha do nosso camarada Gaudêncio, pelo que fica a esperança de que ela nos leia e entre em contacto connosco. Tenho preparadas, para lhe enviar, as fotos que ficam neste poste, em tamanho ligeiramente maior.

Vamos aguardar o seu contacto. Caso queira o contacto do António Santos, será disponibilzado, segundo a sua vontade expressa.
________________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3425: O Nosso Livro de Visitas (40): A.Gaudêncio, filha do nosso camarada Gregório Gil Gaudêncio

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3089: Antropologia (7): As tabuinhas das escolas corânicas: tradutor de árabe, precisa-se (A. Santos / Luís Graça)



As famosas tabuínhas (frente e verso) onde os meninos da Guiné, das etnias islamizadas (fulas, mandingas, beafadas...), aprendiam (e continuam a aprender) a ler (?) ou, pelo menos, a recitar versículos do Corão... Tenho dúvidas sobre a autenticidade da escrita, em árabe...

À força de serem reproduzidas, há erros sistemáticos que passam, de mão em mão, de artesão em artesão... O Beja Santos lembra-se de as ver à venda em Finete, tabanca a norte do Rio Geba, na região do Cuor, tabanca por onde se passava obrigatoriamente quando se queria ir de Bambadinca a Missirá.

Fotos: © António Santops (2008). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada António Santos que, célere, respondeu a um pedido muito recente e urgente do nosso editor Luís Graça (1).

Recorde-se que o António foi Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74. É membro da nossa Tabanca Grande desde 15 de Maio de 2006. Mora em Caneças, mas é (ou era...) um puto reguila, alfacinha... (2).

Votos de muita saúde para todos.

Claro que estou sempre atento ao blogue, não me escapa nada, 99% dos dias que tem o ano, abro o blogue 2 vezes, só que nem tudo interessa como é natural mas temos meia dúzia de camaradas que é um prazer lê-los, coisa que não perco.

Tudo isto para responder ao camarada Luís Graça que apôs uma nota no post 3081 (1), que fala dos miúdos à volta da fogueira e das tabuínhas.

Anexo 2 fotos em jpg com as ditas, (frente e verso). Fico atento ao resultado da tradução.

Um alfa bravo.
A. Santos
4574/72
SPM 2558



2. Comentário de L.G.:

António, amigalhão, grande camarada e melhor tertuliano, dedicado, fidelíssimo. Não preciso de fazer mais testes. Vejo que não dormes no teu posto, e que estás atento o que se publica no blogue. São qualidades que se conservam, seguramente, pela vida fora e que vêm do teu tempo de operador de transmissões.

Infelizmente ainda não te arranjei tradutor para as famigeradas tabuínhas. O meu amigo, médico, argelino, ded que te falei, foi à vida. Acabou o curso de medicinado trabalho, anda por aí. Pode ser entretanto que apareça algum especialista em estudos corânicos... Também eu estou, como tu, com curiosidade em saber o que é que os putos recitavam/recitam com tanta (?) devoção, nas escolas corânicas do interior da Guiné... Agradeço-te a 2ª via do documento. Imagino que tenhas obtido estas imagens em Nova Lamego.
__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...

(...) "Há tempos o António Santos (ex-soldado de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), mandou-me imagens dessas famosas tabuínhas... Não as localizo, de momento.

"Recordo-me de lhe ter prometido que ia pedir a alguém (um aluno meu, médico, muçulmano, de origem argelina) para as traduzir, o que nunca consegui... Se ele, António, me estiver a ler, que me mande essas imagens em 2ª via" (...).

(2) Vd. postes do A. Santos, publicados no nosso blogue:

31 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

7 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)

23 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

20 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)

12 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

22 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1097: Imagens chocantes do cemitério de Bambadinca (A. Santos)

4 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P934: Da Casa da Mariquinhas do Gabu à Senhora Malária que me atacou seis vezes (A. Santos, Pel Mort 4574)

23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P900: O 25 de Abril em Nova Lamego (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

21 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P892: Memórias de Nova Lamego com o Pel Mort 4574/72 (A. Santos)

29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXI: Os cagaços de um periquito a caminho do Gabu (A. Santos, Pel Mort 4574/72)

8 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCXXXIV: Nunca digas jamais (António Santos, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego)

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2937: A guerra estava militarmente perdida? (16): António Santos,Torcato Mendonça,Mexia Alves,Paulo Santiago.

A Guerra estava militarmente perdida?

Duas notas aos Camaradas que com tanto interesse têm acompanhado esta questão:

1. O atraso na publicação das mensagens deve-se ao editor;
2. O reconhecimento a todos, intervenientes activos ou seguidores atentos pela forma elevada como têm conduzido esta "boa polémica", como a designou no início o Luís Graça.

vb

Continuamos a publicar por ordem de chegada as mensagens recebidas.
__________


1. Em 27 de Maio, de António Santos

Camaradas

Saúde para todos.

Antes de mais gostaria de vos dizer que não tenho por hábito entrar em polémicas, não é isso que quero mas, simplesmente esclarecer a nossa Tabanca Grande, portanto é nestes termos que vou comentar o post nª P2872: A guerra estava militarmente perdida (5), do nosso camarada António Abreu.

1º Eu estive na Guiné mais ou menos no mesmo período que o Abreu

2º- As pistas alcatroadas não eram só Bissau e Cufar, como o Abreu afirma, porque a de Nova Lamego também o era, a alcatroada, sim! Tínhamos duas, outra em terra batida. Dizia-se por lá que a alcatroada era a 2ª melhor da Guiné.
Anexo duas fotos e um excerto retirado da história do Bat Cav. 3854:

Pistas de aterragem e placas para helicópteros

Há pistas em Nova Lamego, Canjadude e Cabuca. Em Nova Lamego são duas, uma de terra batida com o comprimento de 1.150 metros e a outra asfaltada com 2.400 metros de extensão, acabada de construir em 1970, dispendendo-se com essa construção 22.000 contos, incluindo a respectiva placa de estacionamento. Nesta segunda pista podem aterrar quaisquer tipos de aviões.
As de Canjadude e Cabuca têm 500 metros de cumprimento, apenas permitem a aterragem dos aviões Do-27.
Existem placas de aterragem de helicópteros em Nova Lamego (concluída) e em construção em Canjadude, Cabuca, Madina Mandinga, Dara e Cansissé.





3º- Além disto, Nova Lamego era sede do CAOP 2, onde era organizada a guerra para toda a zona leste. 6 Sectores. Como forças de intervenção, dispunha de uma companhia do exército e outra de páras sempre às suas ordens que ao fim de um mês se revezavam, por isso era normal termos a 121 a 122 ou a 123 como companheiras.

4º- Não esquecer que também os destacamentos de Mareue e Copá foram abandonados por nós no final da guerra.

Fica pois este esclarecimento às tropas.
Um Alfa Bravo do Camarada

A. Santos
4574/72
SPM 2558

__________

2. Do Torcato Mendonça em 27 de Maio:


Há dias, por razões diversas, não consigo "escrever". Vou tentar, o mais sintético que me for possível. Assim;

1º- Esta troca de opiniões tem interesse para mim. Porquê? Porque me mostra, aquele período da história do meu País, relatada por quem o viveu e, fundamentalmente, pensa de maneira diferente.

2º- Pode efectivamente ser infindável sem ser estéril. Pode ser tratada por Milicianos, para gáudio de alguns "profissionais" mas, eu e muitos fizemos a guerra – não gostávamos da vida militar. Demos o melhor de nós, não em defesa de um ideal mas na defesa, isso sim, de quem comandávamos e do respeito que tínhamos por nós próprios.

3º- Têm participado nesta troca de palavras ex-militares que gosto de ler o que escrevem. Ora o Joaquim Mexia Alves é um deles. Tem, quanto a mim, "ainda um sentir" demasiado vincado com a política de então. Isto nada tem de pejorativo pois aceito a pluralidade de opiniões. Disse-me ele, no III Encontro quando nos despedíamos, querer comentar alguns escritos meus. Pois, meu caro amigo, se não o sentisse não o diria, força. A não varredela politica, pode deformar a objectividade da análise. Conseguirei eu fugir ao meu pensar político? Tento. Só assim consigo distanciar-me e analisar os acontecimentos. Conseguirei? Não sei!

4º- Não posso, não devo contar ou falar sobre tudo. Menos ainda, se estiver directamente implicado ou, devido ao relato, puderem tirar-se ilações de valorização pessoal. Aceitei que me apelidassem de defensor do Solo Pátrio, de assassino da Guerra Colonial, de fascista e outros adjectivos…
Não respondi, nem respondo; não contei tudo, nem contarei, não por medo de (actualmente) mas por pudor e respeito com. Tentei esquecer.

5º- As Guerra como a da Guiné – todas as guerras daquele cariz – estão militarmente perdidas. Friso a Guiné. É isso que, por ora, está em análise.
Quem a preparou sabia fazê-lo. Politicamente deviam ter sido tomadas as medidas correctas para que fosse encontrada uma solução. Não foi pois o nosso País era governado em ditadura. Mesmo assim houve tentativas…alguns militares não aceitavam a solução politica, outros nem tanto, outros… e depois, muitos, tomaram posição. Que posição o Congresso dos Combatentes, a contestação ás muitas Comissões… a não-aceitação de certas interferências corporativas… ou a contestação que levou ao 25ª???!!! Ora íamos por aí fora e ater de ser feito documentalmente. Por isso me interessa esta análise. Esta e outras…

6º- Não me quero repetir e plagiar a frase do Eduardo Águalusa – de quantas mentiras……verdade…mas pedia para ser lido com atenção, quer o preâmbulo, quer os textos hoje publicados sobre a batalha do Como. Lido e relido.

Com estas ultimas palavras e o sublinhado tinha respondido. Mas fi-lo com amizade e consideração: Ao Mexia Alves, ao Mário B. Santos e aos nossos Editores.

Envio a todos os que lerem um abraço de,
Torcato

__________

3. Em 30 de Maio, de Joaquim Mexia Alves:

Meu caro Virgínio Briote

Pego na tua introdução ao post 2899:

"Eram as armas que iam decidir o conflito?
Em 1974, a grande maioria do povo português desejava a continuação da guerra?
Entre os militares estacionados na Guiné a contestação era cada vez mais aberta. E às claras. Em Março de 1974, algumas unidades dispersas pelo território receberam uma mensagem assinada pelo Ten Cor Banazol, em nome do "Movimento de Resistência das Forças Armadas", apelando à rebelião e programando uma operação de retracção do dispositivo militar para o mês de Maio próximo...estou a citar o então Capitão J. Golias.
E, depois do 25 de Abril, o grande público veio a saber que o governo de então já não pensava de maneira muito diferente. Marcello Caetano tinha enviado a Londres o diplomata José Villas-Boas para uma reunião com dirigentes do PAIGC (Vítor Saúde Maria, Silvino da Luz e Gil Fernandes, reunião que ocorreu entre 25 e 26 de Março e na qual ficou agendada novo encontro para 5 de Maio seguinte...".

Ó meu amigo e camarada, com todo o respeito, assim não nos entendemos!
O que está em discussão, ou pelo menos foi nessa discussão que entrei, é se a guerra à data do 25 de Abril estava perdida militarmente, repito militarmente, ou não.
Já o disse e já todos o dissemos que com certeza não seriam as armas que iam decidir o conflito.
Não só em 1974, mas até antes, a grande maioria do povo português não desejava a guerra, nem a sua continuação.
Quantos povos desejam verdadeiramente uma guerra, seja porque que motivos for?
Com certeza que havia contestação, sempre houve e muito provavelmente, (não sei), essa mensagem terá sido enviada depois do 16 de Março.
E a quantas unidades?
E quantos mais poderão ser citados que dizem o contrário?
Mas repito, não é isso que está em causa, (pelo menos para mim), mas sim a afirmação de que a guerra estava militarmente perdida naquela altura.
Quanto às negociações de que falas já respondi ao Mário Beja Santos sobre o assunto.
As negociações existiam mas não forçosamente por causa de um entendimento de que a guerra estava perdida militarmente, mas por causa do mal que estava a causar ao país, (os governantes não era estúpidos, apesar de teimosos), em virtude da crise internacional que se reflectia no país, e por, sem dúvida nenhuma a pressão internacional que se fazia sentir e se estava a tornar incontornável.
Porque é que raio o PAIGC iria negociar uma guerra que estava a ganhar, (segundo o que dizem), e perante aquilo que dizem serem as negociações, a independência a troco de um cessar fogo, não aceitava essa proposta e continuava a guerra para alcançar aquilo que já lhe estava a ser dado, ou seja, a Independência da Guiné.
Há qualquer coisa que não bate certo!
Eu falo do que acontecia, do que estava no terreno, não falo do que poderia acontecer se acontecesse isto ou aquilo.
De qualquer modo este não é o projecto da minha vida, a guerra da Guiné, e por isso vou acalmar e deixar que outros tomem parte se assim quiserem neste debate/polémica.

Um grande e amigo abraço do
Joaquim Mexia Alves
__________

4. 2 de Junho, de Paulo Santiago:

A guerra na Guiné estava militarmente perdida?

Camaradas

A saga está para continuar. Não queria voltar a falar no tema em questão.
Primeiro, continuo sem resposta àquela pergunta.
Segundo, somos tantos no blogue e só três ou quatro dão a cara neste assunto.
O que me leva hoje a botar mais um escrito?
Simplesmente a amizade que tenho pelo Vítor Junqueira, que se constrói não só na consideração mas também na discussão de pontos de vista, que até poderão ser divergentes ou antagónicos. Não quero que os meus amigos digam Amen com tudo o que escrevo, assim com não serei yes man nas opiniões dos meus amigos.

Guerra de Guerrilha
Na minha opinião, friso "minha", a guerra de guerrilha envolve além das forças combatentes, guerrilheiros, uma franja, mais ou menos alargada das populações. Terá que ter um fim justo (guerra justa, será?) não ser motivada por puro banditismo. Exemplo actual. Não posso considerar as FARC da Colômbia uma força guerrilheira a lutar por uma causa justa. Não, estes "guerrilheiros" são bandidos, assassinos, sequestradores que sobrevivem à conta do tráfico de cocaína. Marulanda, tiro-certeiro, não passava de um psicopata assassino. A ETA é, logicamente, outro bando de facínoras tal como os muchachos do Bin-Laden.
No pólo oposto temos o exemplo dos afegãos que levaram a efeito uma justíssima guerra de guerrilha para correr com os soviéticos. Toda esta conversa serve para separar águas.
O PAIGC, como considerá-lo? Sabemos que, antes da luta armada, Cabral tentou negociar com Salazar uma independência para a Guiné. Tal não foi possível devido ao pensamento anacrónico e contra os ventos que sopravam em África, do Botas. Após a greve e consequente repressão na doca de Pindjiguiti, Cabral e a organização política do PAIGC concluíram que só pela via armada chegariam à independência. Mas para iniciar essa luta, em Janeiro de 1963 (?) foi necessário grande trabalho político (Pindjiguiti foi em 3 de Agosto de 59).
Há um forte contraste entre o PAIGC e o exemplo da UPA/FNLA em Angola. Holden roberto não tinha nem credo político nem credo de guerrilha, só uma incitação à violência e ao massacre, não procurava conquistar populações, apenas tinha o ideal da independência de Angola, e ele Roberto, chefe de estado. Os massacres perpetrados pela UPA contra brancos e negros, com a convivência de missões religiosas e dos US, foram um crime hediondo.
Amilcar Cabral enfrentou uma tarefa complicada ao tentar convencer a população que estava a ser oprimida. Na Guiné não havia concentração de colonos que aparentemente explorassem a população. Segundo as suas próprias palavras. Não seria possível mobilizar as pessoas dizendo-lhes
"A terra a quem a trabalha". Porque aqui, terra não falta...Jamais conseguiríamos mobilizar as pessoas na base da luta contra o colonialismo.
Isso não levaria a nada. Entre nós, falar da luta contra o imperialismo nunca levaria a nada...Isto prova a necessidade de fazer com que cada camponês encontre o seu próprio caminho para se mobilizar para a luta. (in Amilcar Cabral, Textos Políticos)
Assim procurou adaptar a sua mensagem revolucionária a termos que atingissem as preocupações quotidianas da população rural. Lembrem-se sempre de que as pessoas não lutam por ideias, por coisas que só existem na cabeça de indivíduos. As pessoas lutam e aceitam os sacrifícios necessários. Mas fazem-no para conseguirem proveitos materiais, para viverem em paz e melhorarem os seus modos de vida, para conhecerem o progresso e poderem garantir um futuro aos seus filhos. (in Amilcar Cabral, Palavras de Ordem Gerais)
Esta foi uma forma frutuosa de mentalização para a luta armada.

Algumas ideias sem qualquer alinhamento:

Segundo o Censo de 1960, a Guiné tinha uma população de 525.437 habitantes.
Segundo o Graça Abreu viviam 440.000 guineenses nas tabancas, vilas e cidades controladas por nós. Há aqui uma diferença de 85.000 pessoas. Morreram? Estavam junto do PAIGC? Oitenta e cinco mil pessoas é muita gente.

O meu camarada e amigo Vítor faz várias perguntas sendo uma delas "Tens conhecimento de alguma aldeia, lugar ou sítio que o PAIGC tenha subtraído militarmente ao controlo das NT?"
Era frequente em patrulhamentos e operações encontrar tabancas abandonadas. Claro que não tinham sido tomadas de assalto pelo IN, tão-somente a sua defesa tinha-se tornado insustentável. Contabane foi abandonada após um ataque violento, nunca mais tendo sido reocupada. Gadembel penso ser um caso paradigmático, onde só havia aquela solução. Na tabanca do Quirafo esteve destacado um GComb da Companhia do Saltinho, retirou. Há o caso de Beli. Madina do Boé não vale a pena falar, aquilo era simbólico, não tinha interesse para qualquer dos lados. É possível que haja outros casos, não sei.
Não tenho aqui implícito qualquer desprimor para os nossos camaradas, sempre aguentaram até à impossibilidade. Deixa-me citar o Gen Spínola, pág. 235 de Portugal e o Futuro O exemplo da Índia é um precedente bem vivo do porvir que receamos. Nunca se acreditou que sucedesse o que, afinal, era inevitável; no entanto, a tragédia deu-se; e logo foi desviada a atenção da Nação para o campo circunstancial da conduta militar, acusando-se as Forças Armadas de não se terem batido heroicamente; quando, na realidade qualquer que fosse a eficácia da defesa, o colapso seria sempre questão de dias. Qual seria o porvir que o Gen receava?

Perguntas Vítor: Nas acções da iniciativa do IN, tipo emboscada, quem retirava e quem explorava o êxito, o adversário ou a tua força? Infelizmente tenho uma resposta, envolta em tragédia, a emboscada do Quirafo.
Nunca me envergonhei, nem me envergonho de ter sido combatente, aprendi muito, fiz grandes amigos e lamento, tal como tu, Vítor, que hoje as Forças Armadas não sejam o povo armado, mas uma agência de emprego, onde se procura ir para sítios longínquos e exóticos, ganhando pipas de massa, defendendo os interesses de alguns, que não os de Portugal.
Falemos de saúde, isto hoje vai meio embrulhado, mas é assim que está a sair. Na Guiné em 1971 (estou a citar Contra-Insurreição em África de J.P.Cann) o Exército tinha aumentado de tal forma o grau de sistema de saúde que este não só alcançou como superou os padrões da OMS.
(...)

O Vítor faz também uma citação do Dr. Mário Soares a propósito da Cimeira da Guerra nos Açores, mas como hoje clico sem grande encadeamento, vou chamar o Dr. Mário Soares por outro ponderoso motivo. Quando de uma visita de Estado à Guiné, o protocolo de estado programou a deposição de uma coroa de flores no talhão dos Combatentes da Liberdade da Pátria. O Dr. Soares procedeu a essa homenagem, mas de seguida foi ao talhão dos Combatentes Portugueses homenageando, do mesmo modo, aqueles Camaradas que lá ficaram, apesar de alguns protestos. O anterior Presidente da República, militar e combatente na Guiné, quando de idêntica visita esqueceu-se do talhão dos Combatentes Portugueses. Bem-haja Dr. Soares pelo seu gesto, eu que não fui seu votante nas últimas eleições.
Fico por aqui, sem responder à pergunta tema, porque mais uma vez não consigo ter resposta certeira. Aceito o"porvir receoso"do Gen Spínola.
Desculpem-me este emaranhado que hoje escrevinhei.
Abraço
Paulo Santiago
__________

Nota de vb: Vd. artigos relacionados em:

12 Junho > Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)

12 Junho > Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2564: Prisioneiros: Havia um tratamento decente, no meu tempo (António Santos, Nova Lamego, Pel Mort 4574, 1972/74)


Guiné > Zona Leste > Nova Lamego > s/d > Um guerrilheiro do PAIGC feito prisioneiro...

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.



1. Mensagem, com data de hoje, do António Santos (ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Nova Lamego, 1972/74)

Assunto - Prisioneiro

Amigos e Camaradas.
Luís, Vinhal e Briote:

Antes de começar este pequeno texto, e porque o assunto é sondagens, gostaria de dizer porque não votei na anterior: 1º só uma vez escrevi uma carta e recebi duas de uma madrinha que me arranjaram, como foi tão esporádico achei que não devia contar como tal, mas em contrapartida o Brandão tinha umas trinta (30), passava as horas vagas a escrever.

Acabei de votar no blogue, na sondagem nº 7 e, como o que vale é o que vimos e passamos, só podia ser: CONCORDO.

Já agora será oportuno dizer e tem tudo a ver com o assunto, que nunca vi nenhuma referência no blogue relacionado com o facto de que se houvesse uma agressão de algum elemento das nossas tropas na pessoa de um civil (assuntos entre militares havia o RDM), a pena mínima era de dez (10) dias para esse militar. Pelo menos era assim no chão Fula onde vivi nos anos de 72 a 74. E penso que em toda a Guiné. Fazia parte da acção psicológica então desenvolvida.

Quanto ao tratamento dado aos elementos do PAIGC, concordo também com o Rebocho, apesar de só ter visto um prisioneiro militar e quatro ou cinco mulheres da população do outro lado, todos foram muito bem tratados (inclusive com rancho melhorado), até saírem do nosso quartel. O homem foi para Bissau. As mulheres não sei.

Para provar aqui está em anexo uma foto do militar do PAIGC, logo após ter sido feito prisioneiro depois de uma flagelação com foguetões a Nova Lamego.

Um alfa bravo

António Santos
SPM 2558
Pel Mort 4574
Nova Lamego
1972/74

segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2393: Álbum das Glórias (36): O meu Racal TR 28-B2 (António Santos, Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74)

Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > O A. Santos, Op Trms, Pel Mort 4574 (1972/74)

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do António Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.

Carlos:

Antes de tudo desejo um bom ano de 2008 para ti e familiares, que corra tudo como esperas.

De seguida para que o pessoal da Tabanca Grande veja o que era um Racal TR 28-B2, envio esta foto tirada nas traseiras do edificio do comando em Nova Lamego.

Na imagem, podemos ver a bolsa própria do Racal (para protecção do aparelho), e que já trazia suspensórios. Isto foi só para a foto (1).

Um alfa bravo

A. Santos
Pel Mort 4574
SPM 2558
____________

Nota dos editores:

(1) Vd. post de 30 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

quinta-feira, 7 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1821: Armamento do PAIGG (2): Mísseis terra-terra Katyusha ou foguetões 122 mm (A. Santos)



Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > 1973 (?) > Foguetão 122 mm, completo, apreendido ao PAIGC.

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do nosso camarada A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74.

Luís: Aqui estão as duas imagens do mesmo míssil que, segundo o Rubin (1), parece ser único (2).

A. Santos

2. Comentário de L.G.: Não sou especialista em armamento. Julgo, no entanto, tratar-se do míssil terra-terra Katyusha, mais conhecida entre as NT como foguetão 122 mm. De origem soviética, teria um alcance de 20 Km.

Fontes a consultar:

Wikipédia > Lista de equipamento militar utilizado na guerra do Ultramar

Guerra na Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Bolama > Katyusha > 3/11/69
____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts recentes sobre este tópico (armamento do PAIGG):

27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (Nuno Rubim)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

(2) Sobre a utilização desta nova arma, o foguetão 122 mm, há já vários posts no nosso blogue:

2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (5): Foguetões 122 mm no Gabu

(...) " Maio de 1970: O Pel Rec, em Piche, continuava a sua actividade e a sofrer as flagelações do inimigo, agora com foguetões de 122 mm. Volta a acontecer, felizmente sem consequências, no dia 26 de Maio, depois de uma escolta aos Adidos Militares Estrangeiros que visitaram a Guiné. Ao chegar de Nova Lamego foram flagelados com foguetões de 122 mm" (...).

30 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1800: Álbum das Glórias (14): De Alferes (CCAÇ 1420, Fulacunda, 1965/67) a Capitão (CCAÇ 18, Quebo, 1970/72) (Rui Ferreira)

(...) "Guiné > Aldeia Formosa > CCAÇ 18 (1970/72) > 1971 > Os primeiros foguetões 122 capturados aos guerrilheiros do PAIGC. O Cap Mil Rui Ferreira, comandante da CCAÇ 18, é o elemento do meio, na fotografia" (...).

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!

(...) O pessol fugiu, abandonando tudo lá, de Guileje, porque estavam a cair foguetões e granadas de canhão sem recuo, desfazendo padaria, depósito de géneros... O chão estava cheio de crateras , devido às granadas. Os militares de lá estavam há 96 horas debaixo de bombardeamento, sem beber nem comer (só algumas rações de combate que conseguiram apanhar), pois não podiam sair dos abrigos" (...).

4 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1338: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (5): estreia dos Órgãos de Estaline, os Katiusha

(...) "Chegou-se à conclusão que as granadas estavam a cair em zona entre Saltinho e Queboe a arma era desconhecida. Passados alguns dias veio informação do Com-Chefe: naquele ataque falhado a Aldeia Formosa, o IN tinha utilizado pela primeira vez Foguetes Katiusha, também conhecidos por Órgãos de Estaline" (...).

6 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1155: Álbum fotográfico (Hugo Moura Ferreira) (1): Bedanda, CCAÇ 6, 1970: O Obus 14 contra o foguete Katiusha

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1781: Memórias de Copá (1): Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)


Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > 1973 (?) > Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelas NT.

Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.


Mensagem do nosso camarada A. Santos, ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74:

Na sequência do último mail sobre armas e viaturas para o projecto Guileje (1), junto em anexo a foto de uma viatura de fabrico soviético, que tinha como função o transporte de feridos, mas quando foi capturada pelo grande Marcelino da Mata, na zona de Copá [vd. carta de Canquelifá] (2), estava carregada com armamento.

A foto foi tirada em Nova Lamego.

Estou a tentar reunir, entre o pessoal do Pel Mort 4574/72, fotos de interesse para o projecto.

A. Santos
SPM 2558
_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. posts recentes sobre este tópico:

27 de Março de 2007 > Gúiné 63/74 - P1628: Projecto Guiledje: fotografias de armamento e equipamento, das NT e do PAIGC, precisam-se (Nuno Rubim)

12 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1753: Diorama de Guileje, 1965/67 (Muno Rubim)

13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (Nuno Rubim)

18 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1766: Guileje: A Bêbeda, uma Fox do Pel Rec 839 que ficará imortalizada no diorama (Nuno Rubim)

19 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1768: Guileje: A Fox, rebaptizada, dos Diabos do Texas (Nuno Rubim)

(2) Sobre Copá (aquartelamento abandonado pelas NT em 14 de Fevereiro de 1974), vd. posts de:

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1409: Bibliografia de uma guerra (16): Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Copá: o princípio do fim (Beja Santos)

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

sábado, 20 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1448: Os quatro comandantes da CCAÇ 2586 (A. Santos)


Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > Centro de Mensagens e Central Telefónica > 1973 > O António Santos com o um chapéu de um camarad de transmissões da 38ª CCmds.
Foto: © António Santos (2007). Direitos reservados.

Mensagem do nosso camarada A. Santos, Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74:

Luis, amigos e camaradas.

Sobre o post 1446 (1), posso esclarecer, se isto ajudar, que a CCAÇ 2586 teve como comandantes 4 capitães, que passo a descrever:

1 - Evaristo Ramalhinho Duarte, Cap Inf;

2 - João Carlos Carvalho de Castro, Cap Mil Inf (Também foi comandante da CCAÇ 13);

3 - Rui Fernando Alexandrino Ferreira, Cap Mil Inf (Também foi comandante da CCAÇ 18) (2);

Guiné > O Cap Ferreira, o nosso querido camarada de tertúlia, hoje coronel na reforma Rui Alexandrino Ferreira, autor do livro de memórias, Rumo a Fulacunda. 2ª ed. (Viseu: Palimage Editores. 2003) (2)


4 - Eugénio Batista das Neves, Cap Inf (Também foi comandante das CCAÇ 1438 e 2404, da CCS BCAÇ 2834 e da CCS BAÇ 2852).

Com isto talvez o Cap João Godinho, se recorde de qual deles comandou a CCAÇ 2586, no dia 21 de Abril de 1970. de má memória.

Um alfa bravo para todos.

A. Santos

SPM 2558

PS - Aproveito para enviar uma foto captada na parte de fora do centro de mensagens e central telefónica do Batalhão de Nova Lamego. Uma curiosidade: o chapéu pertencia a um telegrafista da 38ª Companhia de Comandos, do nosso camarada Amílcar Mendes.

_________

Notas de L.G.:


(...) "Acabo de falar com o Cap João Godinho. É muito terra-a-terra. Forneceu-me as seguintes informações: (i) Quem procedeu ao levantamento dos corpos, na manhã seguinte, [21 de Abrild e 1970,] foi a CCAÇ 2586, comandada por um capitão de que já não se recorda o nome (companhia teve 4 ou 5 comandantes)" (...)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Guiné 63/74 - P1422: A derrocada do Leste e a mina que desgraçou o meu amigo de infância André, da CCAV 3864 (A. Santos)

Guiné > Zona Leste > Sector L3 > Nova Lamego > O António Santos no seu posto de rádio, acompanhado de dois camaradas. Operador de mensagens, por ele passavam muitas notícias da guerra. Ele acompanhou, à distância, a progressiva derrocada militar da região de Gabu.
Foto: © António Santos(2006). Direitos reservados.


Mensagem do nosso camarada A. Santos, Ex-Sold Trms, Pel Mort 4574/72, Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,1972/74:

Camarada, Luís Graça.

Boa saúde.

Os posts P1409 e P1410 em que se faz a recensão do livro de Benigno Fernando (1), tem referências a acontecimentos (verídicos) que se passaram na Zona Leste, sector L6. Este assunto a que se refere este post do Beja Santos, é só a confirmação do que te falei no nosso primeiro encontro, na tua faculdade (2).

Nessa altura referi também outra localidade que acabou por ser o alvo que mais embrulhos sofreu, Canquelifá, que pertenceu ao Sector L4. Já fiz uma abordagem ao tema no post 1216 (2).

O Cap Cruz, cmdt da 1ª companhia do BCAV 8323, de seu nome Angelo César Pires Moreira da Cruz (não sei se posso ditar o nome completo, mas aqui está, conforme é referido nos canhenhos da guerra) foi substituído pelo Cap Fernando Loureiro.

Isto tudo traz-me à memória um outro caso em tudo idêntico, que eu tenho feito por não lembrar desde 1973. Durante algum tempo penso ter conseguido, mas periodicamente vêm ao de cima, tento de novo esquecer mas em vão, este post do Beja Santos veio definitivamente obrigar-me a não esquecer.

No Batalhão anterior ao BCAV 8323, dois elementos que o compunham, são rapazes da minha infância, um na CCS outro na CCAV 3864, o André. Durante os 6 meses finais de 1972 e o ano de 1973 quase todo, quando passavam por Nova Lamego os meus amigos vinham ter comigo para a confraternização da praxe, conversar sobre a vidinha, e beber umas cervejas. Isto aconteceu repetidas vezes, até que um dia quando eles faziam 22 meses de comissão, o meu amigo André pisou uma maldita mina, num maldito trilho, que o desgraçou para todo o sempre, nunca mais foi o mesmo.

No nosso almoço, na Ameira, distribuí um CD onde no ficheiro em formato Excel com o título lista_unidades na célula H-773, está a palavra Sissaucunda a vermelho. Não foi por acaso, esse vermelho simbolizava o azar do nosso camarada e meu amigo de escola, das brincadeiras de há 50 anos.

Como ja contei, o Leste nesta fase terminal da guerra estava a ser muito apertado, outra nova, amigo Luís, Nova Lamego nesse tempo foi sobrevoada à noite por diversas vezes e os aviões não descolavam de Bissalanca.

Desculpa ter tomado algum do teu tempo, mas o post P1410 teve este efeito em mim, porque normalmente sou mais de ler do que escrever ou falar, talvez defeito da passagem pelas trms.

Um Alfa Bravo

A. Santos
SPM 2558

___________

Notas de L.G:

(1) Vd posts de:

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1410: Antologia (57): O Natal de 1973 em Copá (Benigno Fernando)

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1409: Bibliografia de uma guerra (16): Pirada, Bajocunda, Canquelifá, Copá: o princípio do fim (Beja Santos)

(2) Vd. post de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

(...) Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

"A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort. 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

"Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!" (...).

sexta-feira, 27 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

Photobucket - Video and Image Hosting
Guiné > Zona Leste > Sector L3 >Nova Lamego > O António Santos no seu posto de rádio. Operador de mensagens, por ele passavam muitas notícias da guerra. Era também ouvinte frequente da Rádio do PAIGC, localizada em Conacri, a que as NT chamavam a Maria Turra (1).

Texto e foto: © António Santos(2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do A. Santos, com data de 23 de Outubro:

Amigo Luís e caros tertulianos:

Eu já tinha abordado este assunto, embora superficialmente com o Luis Graça, mas com a questão actual sobre Guidaje ele veio ao de cima: todo o tempo passado na Guiné foi mau, penso que para todos e em qualquer sector, independentemente do ano em que por lá passámos, mas o ano de 73 e os últimos meses de 74, foram péssimos. Tenho a certeza que para isso contribuiu e muito a morte de Amílcar Cabral: o PAIGC ganhou mais força e apoios e o resultado estava-se a ver.

Eu ouvia com muita assiduídade a Maria Turra, embora os homens de Bissau empastelassem a frequência rádio, e sei que tudo o que nos prometeu, após a morte de Amílcar [,em 20 de Janeiro de 1973], cumpriu-se, acho até se aquilo dura mais uns tempitos, teríamos que fazer as malas com antecedência.

Um Alfa Bravo para todos.

A. Santos
Ex-Sold Trms
Pel Mort 4574/72
Zona Leste, Sector L3, Nova Lamego,
1972/74


2. Texto do A. Santos


Camarada, Luis Graça.

Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: Bajocunda, Copá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort. 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo

A. Santos
_________
Nota de L.G.:
(1) Maria Turra era a locutora de serviço da Rádio do PAIGC, localizada em Conacri: vd. artigo do jornalista Joaquim Vieira, na edição do Expresso de 21 de Abril de 1984 > Como os rapazes viveram a paz e a guerra
(...) "Os tempos da fraternidade estavam afinal mais próximos do que alguém podia imaginar no batalhão. Onze dias depois da Páscoa, na manhã de 25 de Abril, começaram a chegar a Sedengal notícias de um golpe de Estado em Lisboa. As primeiras informações foram recebidas através das emissões em português de Rádio Conakry. Alguns soldados não sabiam o que era um golpe de Estado, e procuraram informar-se. Algumas horas depois, a locutora - que os portugueses tratavam por Maria Turra - anunciou a prisão de Américo Tomás e Marcelo Caetano. A gaja está mas é maluca, houve quem comentasse" (...).
Por Maria Turra também era conhecida, entre as NT, a viúva de Amílcar Cabral: Vd. também post de 21 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCIV: Eu estava lá, na entrega simbólica do território (Mansoa, 9 de Setembro de 1974)(Magalhães Ribeiro)

(...) O Eduardo [Magalhães Ribeiro] diz que ficou famoso pela sua foto a arriar a bandeira verde-rubra , em Mansoa, na presença da Maria Turra (sic), como era conhecida entre os tugas - com o sentido de humor, que é típico da caserna, mas com respeito e até carinho - a viúva do Amílcar Cabral, que assistiu com outros destacados dirigentes do PAIGC a este momento histórico" (...).

sexta-feira, 22 de setembro de 2006

Guiné 63/74 - P1103: Breve historial do BCAÇ 1911 e do BCAÇ 1912 (A. Santos)

Oportuno texto (didático) do A. Santos, fazendo a distinção entre os BCAÇ 1911 e 1912 (1):

Luís e Camaradas:

Vamos lá arrumar a casa em relação ao BCAÇ 1911.

Este Batalhão foi mobilizado pelo RI 15, Tomar, e chegou a Bissau em e de Maio de 1967. O CMDT foi o Ten-Cor Álvaro Romão Duarte, as suas companhias operacionais foram as CCAÇ 1681, 1682 e 1683, cujos CMDTS foram por ordem os Capitães de Inf Manuel Francisco da Silva e Renato Vieira de Sousa e o Cap Mil Cav José Manuel Pontífice Maricoto Monteiro.
Divisa: Coragem e Humanidade.

De início este Batalhão ficou em Bissau até 17 de Agosto de 1967, às ordens do Com-Chefe, para reforço temporário de outros Batalhões. Nesta data seguiu para o Sector O1-A, com sede em Teixeira Pinto, e subsectores em Cacheu, Có, Jolmete.

Em 24 de Junho de 1968 regressou ao sector de Bissau, e subsectores de Brá, Nhacra e Quinhámel onde rendeu o BCAÇ 2834, ficando de novo às ordens do Com-Chefe. A 13 de Maio de 1969 foi rendido pelo BCAÇ 2884, tendo embarcado de regresso à Metrópole em 16 de Maio de 1969.

Quanto ao BCAÇ 1912:

Este Batalhão foi mobilizado pelo RI 16, Évora, e chegou a Bissau em 14 de Abril de 1967, sendo seu CMDT o Ten-Cor Artur Pereira Rodrigues. As suas companhias operacionais foram as CCAÇ 1684, 1685 e 1686, comandadas respectivamente pelos Capitães de Inf Antonio Feliciano Mota da Camâra Soares Tavares, Alcino de Jesus Raiano e José de Matos Correia Barradas (este último miliciano).

Divisa: Valentes e Destemidos.

Em 19 de Abril de 1967, seguiu para o Sector O3-A, com sede em Mansoa e subsectores de Jugudul e Cutia. Em 01 de Julho de 1967 ainda o de Enxalé, então retirado à área do BCAÇ 1888.

A CCAÇ 1684 esteve em Bissau às ordens do Com-Chefe, deslocando-se sucessivamente para Ingoré, S. Domingos, Susana. Em 2 de Abril de 1969 substituiu a CCAÇ 2315 em Mansoa. Foi rendida pela CCAÇ 2589 e regressou a Bissau para embarque.

A CCAÇ 1685 seguiu para Fá-Mandinga, ficando como unidade de intervenção e reserva do Com-Chefe, como reforço de diversos Batalhões na Zona Leste. Em 19 de Setembro de 1967 rendeu a CCAÇ 1501, assumindo o subsector de Fajonquito. Regressou a Mansoa para o seu Batalhão em 1 de Agosto de 1968. Foi rendida pela CCAÇ 2587 e regressou a Bissau para embarque.

A CCAÇ 1686 seguiu para Mansoa, teve pessoal destacado em Cutia, Ponte do Rio Braia, Jugudul, Uaque e Bindoro. Em 14 de Maio de 1969 foi rendida pela CCAÇ 2587 e regressou a Bissau para embarque.

Este Batalhão embarcou de regresso no dia 16 de maio de 1969.


UM ALFA BRAVO

António Santos

Ex-Sold Trms Pel Mort 4574 /72
(Nova Lamego, 1972/74)
___________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 15 de Setembro e 2006 > Guiné 63/74 - P1074: O Paulo Raposo, o Padre Mário e o Batalhão de Caçadores 1912, Mansoa (Aires Ferreira, CCAÇ 1686)