Mostrar mensagens com a etiqueta Béli. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Béli. Mostrar todas as mensagens

sábado, 21 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18863: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (8): Os meus passeios pelo Boé - Parte II: 1 de julho de 2018: Béli (e a Fundação Chimbo Daribó), Dandum, Madina do Boé, Canjadude...


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1de  julho de 2018 >  Béli > Bangalós da Fundação Chimbo Daribó


Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de  julho de 2018 >   Picada para Dandum


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 30 de junho de 2018 > Posto de fronteira de Dandum


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 > A célebre Fonte da Colina de Madina, construída em 1945 (, data já pouco legível), no tempo do governador Sarmento Rodrigues (I)


Foto nº 8A > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 > A célebre Fonte da Colina de Madina, construída em 1945 (, data já pouco legível), no tempo do governador Sarmento Rodrigues (II)


Foto nº 9 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 >  Madina do Boé: restos do antigo quartel abandonado pelas NT em 6 de fevereiro de 1969.


Foto nº 10 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 >  Madina do Boé: tabanca.


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 >  Madina do Boé: monumento ao herói do PAIGC, Domingos Ramos, morto em 1966.


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > Região do Boé > 1 de julho de 2018 >  Caminhos do Boé, com colinas ao fundo.

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (8) > Os meus passeios pelo Boé - Parte II: 1 de julho de 2018:  Béli, Madina do Boé, Dandum, Canjadude...

[ Patrício Ribeiro é um português, natural de Águeda, criado e casado em Angola, com família no Huambo, ex-fuzileiro em Angola durante a guerra colonial, a viver na Guiné-Bissau desde meados dos anos 80 do séc. passado, fundador, sócio-gerente e director técnico da firma Impar, Lda.]

(Continuação)

Ultrapassado o rio [Corubal] (`), lá seguimos por cima da estrada de pedra a caminho de Beli, mais ou menos  40 km, passando por algumas poucas tabancas, que outrora eram bem pequenas, com as casas todas cobertas a palha, mas agora são maiores e com mais casas, quase já não há casas cobertas a palha. Este caminho é muito bonito e difícil.

Ao chegar a Beli, iniciamos o nosso trabalho e procuramos alojamento nas instalações da Chimbo, que tem 9 bangalós para alugar.

São holandeses, da Fundação Chimbo Daribó. Andam a instalar máquinas fotográficas nas árvores, para fotografarem os Chimpanzés (muitos), Búfalos, alguns e alguns leões: www.chimbo.org (foto 5)

Não há Internet, mas na vila há telefone. No resto da região, não. A língua falada corrente é o Fula. Por vezes não é possível uma conversa em Crioulo e Português, língua oficial, só com professores e alguns funcionários. Os jovens entendem um pouco.

Ao outro dia [, 1 de julho de 2018} seguimos viagem para Dandum, voltamos para trás até tabanca de Cobolo e seguimos em direção a Sate; dali por um caminho a corta mato para Diquel, por onde as viaturas ainda passam. Passamos por algumas pequenas tabancas perdidas nas colinas do Bolé, mas todas têm escolas. Cruzamos alguns rios que começam rapidamente a aumentar o caudal, com a chuva que está a cair.

Lugares muito bonitos e completamente diferentes do resto da paisagem da Guiné (foto 6). Algumas destas tabancas já existiam. (Ver mapa de 1961 da Província da Guiné, e voltaram a ser implantadas na Carta Geológica da Guiné, do Dr. Paulo Alves, em 2011).

Por aqui começam a aparecer algumas hortas de caju nos vales, assim como algumas pequenas tabancas, porque os terrenos são mais férteis. O que obriga os animais selvagens existentes no Parque Natural do Boé a ter de "arranjar" outros locais … Agora são avistados para os lados de Lugajole.

Chegamos até perto de Madina do Boé, mas seguimos o caminho para Dandum, 3 km mais à frente.

Dandum, a tabanca é muito grande com muitas casas, tem posto de fronteira (foto 7):  alguns funcionários públicos, guardas de fronteira, professores;  tem um hospital, tudo e todos perdidos na distância para Bissau... O local é uma planície com terra muito fértil, com muitas árvores de fruto.

Verificamos o trabalho que tínhamos realizado no hospital há uns meses, está tudo ok!

No regresso pelos mesmos caminhos, mas paramos em Madina do Boé, para as fotos da praxe. A tabanca de Madina do Boé fica em uma planície fértil, com muitos árvores de fruto e tem alguns morros ao longe (Fotos 9,10).

Foto junto da fonte construída,  em 1945, que já tem diversas fotos no blog (foto 8).

Estivemos junto ao Memorial de Domingos Ramos, local onde foi ferido e provavelmente morto (foto 11). Está aproximadamente a uns 500 metros da fonte de 1945 e do antigo quartel, a poucos metros do caminho para Dandum, na planície.

Regresso a Beli, para assistir ao encontro de Portugal / Uruguai no club dos jovens, enquanto a trovoada deixou ver, até que o sinal da parabólica deixou passar.

Grande foi a festa, quando Portugal marcou o golo.

Depois regresso de Beli até Candjadude (foto 12) onde passamos o resto do dia a fazer trabalhos, antes da chegada da noite, a Gabú.

Abraço
Patrício Ribeiro

PS - Sobre, o Memorial ao Domingos Ramos: não, não havia nenhuma inscrição. O pessoal que me acompanhava do Parque Natural do Boé, sabia deste local, indicaram-me talvez porque passamos perto. Das outras vezes que fui a Madina não me indicaram este sitio. Do outro lado da picada, perto a 70 metros, já há algumas casas. Na texto que te enviei, descrevo o local.

A Net por estas paragem não é uma ciência exacta... é muito complicado.


Carta da Província da Guiné (1961) > Escala 1/500 mil > Detalhe: a região do Boé

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2018)
____________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de julho de 2018 > Guiné 61/74 - P18861: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (7): Os meus passeios pelo Boé - Parte I: 30 de junho de 2018: a travessia do Rio Corubal, de jangada, em Ché Ché

Guiné 61/74 - P18862: Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (7): Os meus passeios pelo Boé - Parte I: 30 de junho de 2018: a travessia do Rio Corubal, de jangada, em Ché Ché


Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal >  30 de junho de 2018.> Ché Ché  fica(va) do outro lado do rio, na margem esquerda. A jangada do Ché Ché,  puxada à corda, como há meio século atrás... Vídeo de Patrício Ribeiro (Impar Lda, Bissau), gentilmente cedido ao blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Em 6 de fevereiro de 1969, neste mesmo local e com uma jangada deste tipo, houve um trágico acidente: morreram, afogados, 46 militares e 1 civil, na sequência da retirada do quartel de Madina do Boé (Op Mabecos Bravios).

Vídeo (1´01'') > Disponível em You Tube / Luís Graça


Foto nº 2 > Guiné-Bissau >Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 > Rampa de acesso, do lado do Gabu, na margem direita.


Foto nº 2A > Guiné-Bissau >Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 > Rampa de acesso, do lado do Gabu... Do outro lado, na margem esquerda,  em Ché Ché (ou Cheche, como vem grafado no nosso blogue...),. vê-se a jangada que faz o transporte de viaturas, pessoas e bens...


Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 >  Rampa de acesso, na margem direita; lavadeiras (1)


Foto nº 1A > Guiné-Bissau > Região do Boé > Rio Corubal > 30 de junho de 2018 >  Rampa de acesso, na margem direita; lavadeiras (2)


Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Região do Boé >  30 de junho de 2018 >   Estrada de Che Ché - Béli.

Fotos (e legendas): © Patrício Ribeiro (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de ontem, do Patrício Ribeiro, às 18h26

Assunto - Os meus passeios pelo Boé

Luís,

Quero enviar algumas fotos deste passeio [em 30 de junho e 1 de julho], mas como chove em Bissau há mais de 24h, a Net está muito difícil,

Vou enviar as fotos por diversas vezes, incluindo um vídeo.

Abraço
Patricio Ribeiro

IMPAR Lda
Av. Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau , Guin?? Bissau
Tel,00245 966623168 / 955290250
www.imparbissau.com
impar_bissau@hotmail.com


2. Bom dia, desde Bissau (Patrício Ribeiro) (7) > Os meus passeios pelo Boé - Parte I: 30 de junho de 2018:  a travessia do Rio Corubal, de jangada, em Ché Ché  (*)


Há poucos dias, fui dar uma volta pela região do Boé. Nos finais de Junho, após as primeiras chuvas, como sempre gosto de fazer.

Nesta época podemos encontrar as encostas das colinas todas verdes, como se lá tivessem plantado relva, o terreno muito colorido com as primeiras flores a desabrochar, após a época seca. Com a falta de chuva nos últimos 7 meses, começando as chuvas, a relva cresce 2 a 3 cm por dia ...

Neste mês ainda se pode passar por todos os caminhos e picadas; os rios de água cristalina começam a correr, mas ainda os podemos ultrapassar com as viaturas todo o terreno.

Claro que em alguns locais já temos mais de um palmo de água nas entradas, durante muitas dezenas de metros (foto 4) mas como o solo é todo de pedra, não há o perigo de ficar atolado na lama.

Depois de sair de Bafatá, passamos em Gabú, a caminho de Ché Ché, estrada de terra batida, em muito bom estado até ao rio.

Lá chegamos ao primeiro obstáculo (fotos 1 e 2),  a travessia do rio Corubal.

Esperamos pela jangada que estava do outro lado e, depois de algum tempo de espera, lá apareceu ela para nos transportar! Estava a ser puxada à mão por diversos homens, porque o motor estava avariado. (Vd.vídeo, acima.)

(Continua)
_______________

sábado, 30 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18796: Convívios (864): VIII Encontro da CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, Bajocunda, Copa, Canjadude, 1966/68): os cinquenta anos do regresso, comemorados em 19 de maio p.p., em Abrantes (Jorge Araújo)



(1966) - Destacamento da Ponte do Rio Caium - militares da CCAÇ 1586 (Foto do camarada ex-furriel Aurélio Dinis, com a devida vénia).

Guiné > CCAÇ 1586 (1966-1968) «Os Jacarés» [Piche - Ponte Caium - Nova Lamego - Béli - Madina do Boé - Bajocunda - Copá - Canjadude]


- VIII ENCONTRO -

ALMOÇO/CONVÍVIO COMEMORATIVO DOS CINQUENTA ANOS DO REGRESSO

– Abrantes, 19 de Maio de 2018 –

[Texto do editor Jorge Araújo]


1. – INTRODUÇÃO

Os ex-combatentes da CCAÇ 1586 [Companhia de Caçadores 1586 «Os Jacarés»] reuniram-se no passado dia 19 de Maio, na cidade de Abrantes, para concretizarem mais um Encontro/Convívio entre camaradas que cumpriram o seu Serviço Militar no TO da Guiné, nos já longínquos anos de 1966/1968.

Este Encontro – o VIII consecutivo – juntou também familiares do colectivo mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], com relevância para as duas gerações mais novas (filhos e netos), onde se recuperaram e cruzaram memórias desses tempos difíceis, de alto risco físico e psicológico, em que era obrigatório conviver com todas as incertezas, tensões e emoções produzidas por cada uma das diferentes missões que lhes foram sendo atribuídas ao longo dos cerca de vinte e dois meses de guerra.

Para além do objectivo supra, este VIII Encontro/ Convívio anual da CCAÇ 1586 tinha, ainda, um significado muito especial para todos, pois estava associado a uma efeméride: as comemorações do «cinquentenário» do regresso da Unidade à Metrópole (Lisboa), ocorrido a 15 de Maio de 1968, após cumprida a sua missão no CTIGuiné (1966-1968), conforme testemunha a imagem postada acima.

Quanto à minha participação neste Encontro, ela resultou de um convite muito sentido feito pela Comissão Organizadora, na medida em que me voluntariei para ajudar à (re)constituição da sua História, pois no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] “não existe História da Unidade”.



2. – BREVE SÍNTESE HISTÓRICA DA CCAÇ 1586 NO CTIGUINÉ

A Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] foi formada e mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], em Abrantes, tendo embarcado no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de Julho de 1966, sábado, zarpando rumo à PU da Guiné [Bissau] a bordo do N/M “UÍGE”.

Concluída a viagem iniciada em Lisboa, que demorou seis dias, este contingente metropolitano desembarca em Bissau a 4 de Agosto de 1966, quando o conflito armado registava já três anos e meio.

É destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo quatro dias depois [dia 8] a responsabilidade do subsector de Piche [Região Leste do território], substituindo dois GrComb da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o Destacamento da Ponte do Rio Caium [imagem abaixo] com um GrComb, até 21 de Setembro desse ano.

A partir desta data assumiu, ainda, funções de Unidade de Intervenção na Zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, nomeadamente: Nova Lamego, Béli e Madina do Boé, entre Outubro 1966 e Maio 1967.

Em 6 de Abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7Abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um GrComb, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de Outubro e 4 de Dezembro de 1967, integrou com um GrComb o sector temporário de Canjadude. Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de Abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso ao continente, a 9 de Maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M “NIASSA”, com a chegada a acontecer a 15 de Maio de 1968, 4.ª feira [vidé P18518].



3. – O PROGRAMA SOCIAL DO VIII ENCONTRO/CONVÍVIO - ABRANTES


A Comissão Organizadora deste ano esteve a cargo de uma dupla de camaradas – o Eduardo Santos, de Lisboa, e o Manuel Casimiro, de Tomar, que delinearam um programa social adequado à efeméride.

De modo a sinalizar a presença da CCAÇ 1586, em Abrantes, o Encontro iniciou-se com a concentração dos ex-combatentes – Oficiais, Sargentos e Praças – a ter lugar na Porta d’Armas do Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. De seguida, no interior do Quartel, em cerimónia plena de grande significado, o então Cmdt da CCAÇ 1586, Cap António Marouva Cera [hoje, Coronel aposentado], procedeu ao descerrar de uma placa alusiva ao acto, onde constam as datas que balizam a sua Missão Ultramarina – a da partida e a da chegada da Guiné.

Concluída a primeira parte do programa, seguiu-se a organização do cortejo automóvel até ao Restaurante «Quinta d’Oliveiras», onde decorreu o almoço. Para dar sentido ao convívio, este foi reforçado com a degustação de diferentes alimentos colocados à disposição dos presentes, combinados com alguns líquidos e muitas histórias num itinerário de episódios com mais de meio século. A ementa, que se apresenta ao lado, foi preparada para uma centena de participantes, os quais não deixaram de dar o seu contributo para aquela que foi a opinião geral: – A FESTA ESTEVE ÓPTIMA.

Por último, e antes das despedias até ao IX Encontro, a realizar em Maio de 2019, cantou-se os PARABÉNS por este aniversário “redondo”, brindando com espumante a um ano de muitas felicidades e saúde para todos, acompanhado com uma fatia do bolo.


Bolo comemorativo dos cinquenta anos do regresso da CCAÇ 1586 do CTIG, principal efeméride deste VIII Encontro – Abrantes 2018.


4. – HISTÓRICO DOS ENCONTROS

Os Encontros anuais da CCAÇ 1586 foram iniciados no ano de 2011 em Abrantes, cidade onde a Unidade foi mobilizada no Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. Desde esse ano até ao presente estão já gravados oito eventos, organizados sempre no mês de Maio, opção fundamentada em relação à data do seu regresso à Metrópole [Lisboa].

Eis, a sequência cronológica dos encontros realizados.










Até ao próximo Encontro… até 18 de Maio de 2019.

Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo
14JUN2018.

[Mensagem de 17 do corrente; Caro Luís, espero que tenhas feito uma óptima viagem.

Na sequência do amável convite formulado pela Comissão Organizadora do VIII Encontro/Convívio da Companhia de Caçadores 1586 (CCAÇ 1586), que aceitei, realizado no passado dia 19 de Maio de 2018 em Abrantes, assumi a responsabilidade pela elaboração de um pequeno relatório alusivo à sua Festa, que anexo para publicação.

De referir que este Encontro anual, o VIII consecutivo, coincidiu com a comemoração do cinquentenário do regresso desta Unidade à Metrópole, depois de cumprida a sua Missão Ultramarina no CTIGuiné (1966/1968).

Aproveitei, ainda, para fazer o seu "Histórico de Encontros" já organizados.

Boa semana. 


Um abraço, 
Jorge Araújo.]
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18781: Convívios (863): Encontro do pessoal da CCAÇ 2701, com homenagem ao seu Comandante, Capitão Clemente, ocorrido no passado dia 16, em Braga (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

terça-feira, 29 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18692: O Cancioneiro da Nossa Guerra (8): A Balada de Béli (recolha de José Loureiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69)


Guiné > Região do Boé > Béli > Pelotão da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68).> Uma "cena do quotidiano de Béli (1). Foto do ex-1º  cabo Machado (2011), cedida ao Manuel Coelho, por ocasião do convívio de 2011.


Guiné > Região do Boé > Béli > Pelotão da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68).> Uma "cena do quotidiano de Béli (2). Foto do ex-1º  cabo Machado (2011), cedida ao Manuel Coelho, por ocasião do convívio de 2011.


Guiné > Região do Boé > Béli > Pelotão da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68).> Uma "cena do quotidiano de Béli (3). Foto do ex-1º  cabo Machado (2011), cedida ao Manuel Coelho, por ocasião do convívio de 2011.


Guiné > Região do Boé > Béli > Pelotão da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68).> Uma "cena do quotidiano de Béli (4). Foto do ex-1º  cabo Machado (2011), cedida ao Manuel Coelho, por ocasião do convívio de 2011.


Guiné > Região do Boé > Béli > Pelotão da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 1966-68).> Uma "cena do quotidiano de Béli (5). Foto do ex-1º  cabo Machado (2011), cedida ao Manuel Coelho, por ocasião do convívio de 2011.

Fotos (e legendas): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região do Boé > 2009 > Restos do quartel de Béli (*), retirado pelas NT em meados de 1968, por ordem expressa de Spínola.

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2009). Todos os direitos reservados.. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guião da CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, "Os Tufas" (Bissau, Fá Mandinga, Nova Lamego, Beli e Madina do Boé, 11966-68). uma das muitas subunidades  que esteve aquartelada em Madina do Boé, com destacamento em Beli (**). Foto: Manuel Coelho. 


1. Camaradas e amigos, é um prazer poder-vos anunciar que conseguimos "resgatar" da "vala comum do esquecimento" a letra da famosa "Balada de Béli"... Graças às boas diligências de dois camaradas, do BCAÇ 1933,  o Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) e o José Loureiro (ex-alf mil inf, CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933, Madina do Boé e Béli, 1967/69).

Mensagem do José Loureiro, com data de anteontem:


Caro Teixeira, Béli, a sua história e a Balada. O meu pelotão da CCAÇ 1790 chegou a Béli em 10 de fevereiro de 1968. Como te disse, conheci a Balada ainda em Nova Lamego em 30 de janeiro de 1968.

Transcrevo do meu diário:

 "Quando me dirigia para o bar de Oficiais, um Furriel mostrou-me uma balada muito especial. Entitulava-se 'Balada de Béli'. É obra de antigos soldados de Béli. Passo a transcrevê-la [, vd, letra, a seguir].


"É esta a minha futura morada e que perspectivas,  Senhor. Mas enfim, com calma e a Vossa Ajuda, tudo se vencerá." 

Assim termino,  caro amigo Teixeira. Béli foi abandonado em 17 de junho de 1968.
Um forte abraço.


José Loureiro


Balada de Béli

[autor desconhecido]

Voam forte, fortemente,.
Provocando alvoroço,
Metralha de outra gente
Que pretende certamente
Estragar-nos o almoço.

Fui ver... As morteiradas caíam
Do azul cinzento do céu,
Grandes, negras, explodiam,
Como elas se moviam,
Mas que barulho, meu Deus!...

Fico olhando esses sinais,
Deixados pela tormenta,
E isto por entre os mais
Buracos descomunais
Dos impactes do oitenta.

Com potente vozear,
Essas armas falam forte,
O canhão a metralhar
Propõe-se a enviar
Sua mensagem de morte.

É uma infinita tristeza,
No coração é inverno,
Cai chumbo na natureza
Tornando Béli um inferno.

Será talvez um tornado,
Mas ainda há pouco tempo
Nem as chapas do telhado,
Mesmo o desconjuntado,
Se moviam com o vento.

Olho atrás da seteira,
Está tudo acinzentado,
Elas caiem e que poeira
Levantam à nossa beira,
Felizmente mais ao lado.

Inesperado, cortante,
Eis que ribomba o canhão,
Apesar de estar distante,
Com a sua voz troante
Vem espalhar a confusão.

Que quem é já terrorista,
Sofra tormentos... enfim!,
Mas estas tropas, Senhor,
Porque lhes dás tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...



[Recolha de José Loureiro / Revisão e fixação de texto: VT / JL / LG]


2. Comentário do editor LG:

Meu caro José Loureiro, camarada da heróica CCAÇ 1790 / BCAÇ 1933:

Fico-te muito grato (, os camaradas da Guiné tratam-se por tu, se não te importas, o tu encurta as distâncias e favorece a empatia)...

Fantástica a "tua" balada de Beli, que vai enriquecer o nosso "Cancioneiro da Guiné" e é uma homenagem aos bravos de Béli, Madina do Boé e Cheche...

Estou-te muito grato pela recuperação dessa letra, que é uma "genial paródia" da Balada de Neve, do poeta Augusto Gil ("Luar de Janeiro" 1909)...Sabia-a de cor, na minha já longínqua 3ª terceira classe do ensino primário, em 1956/57... Aliás, todos a sabíamos de cor na minha escola do Conde Ferreira, na Lourinhã.

Acabámos de a publicar, citando todas as referências que mandas, a começar pelo teu nome e pelo teu diário. Estou grato também ao camarada Virgílio Teixeira, teu amigo e camarada de batalhão, que te contactou... Foi ele o primeiro a falar-me da "Balada de Béli", cuja existência eu desconhecia de todo. Proximamente,  publicaremos um poste sobre esta "(re)descoberta" e a vossa troca de mensagens.

Por fim, deixa-me convidar-te a integrar a nossa Tabanca Grande. onde figuram já 773 camaradas (e amigos) da Guiné, entre vivos e mortos... E faço questão que seja o Virgílio a "apadrinhar" a tua entrada, se for essa a tua vontade.

Só precisas de aceitar dar a "cara", isto é, mandar duas fotos tuas, digitalizadas, uma de hoje, e outra do antigamente... Se quiseres mandar mais, ótimo... O Virgílio, por exemplo, tem um álbum fotográfico da Guiné, fabuloso, que estamos a publicar regularmente...

Temos 19 referências no nosso blogue à tua CCAÇ 1790, mas não há ninguém, até agora (e ao fim destes 14 anos de existência!) que a represente como deve ser... Já em tempos fiz um convite ao vosso antigo comandante, José Aparício, hoje coronel reformado.  Mas, em geral, os oficiais do quadro têm alguma relutância em dar a cara nas "redes sociais", o que é compreensível... Mesmo assim, oficiais dos 3 ramos das Forças Armadas, incluindo oficiais superiores e generais que foram nossos camaradas na Guiné, honram com a sua presença ativa a nossa Tabanca Grande.

José Loureiro, espero que aceites o nosso convite, em nome do sagrado dever de memória... Somos uma geração que está a desaparecer e recusamo-nos a ir para a "vala comum do esquecimento"... Vou pedir então ao Virgílio Teixeira para "apadrinhar" a entrada do novo grã-tabanqueiro... Se quiseres partilhar connosco o teu diário, no todo ou em parte, ficaríamos encantados... Entretanto, haveremos de nos conhecer "ao vivo", um dia destes...

Um alfabravo,
Luís Graça


3. Em tempo:

Em mensagem de 25 de Novembro de 2018, o nosso camarada Manuel Lema Santos (1.º Tenente da Reserva Naval, Imediato no NRP Orion, Guiné, 1966/68), enviou uma ligação para a página da Reserva Naval onde está publicado um manuscrito com uma versão da Balada de Béli que lhe foi confiada pelo seu irmão Alberto Lema Santos, ex-Alf Mil Médico do BCAÇ 1933 a que pertencia a CCAÇ 1790. A versão aqui reproduzida pelo ex-Alf Mil José Loureiro apresenta algumas diferenças.

Ver no facebook aqui.
Ver também na página da Reserva Naval, aqui.

Carlos Vinhal
___________

Notas do editor:
(*) Vd. poste de 4 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (27): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

(**) Vd. postes de


19 de julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8571: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (6): Beli, Madina do Boé e Convívio 2011

(***)  Último poste ds série > 19 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

16 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18528: O Cancioneiro da Nossa Guerra (6): "Os Homens não Morrem" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

28 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O Cancioneiro da Nossa Guerra (5): O hino dos "Unidos de Mampatá", a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18261: O cancioneiro da nossa guerra (4): "o tango dos periquitos" ou o hino da revolta da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) (Silvino Oliveira / José Colaço)

27 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18259: O cancioneiro da nossa guerra (3): mais quatro letras, ao gosto popular alentejano, do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71)

8 de novembro de 2017> Guiné 61/74 - P17944: O cancioneiro da nossa guerra (2): três letras do Edmundo Santos, ex-fur mil, CART 2519, Os Morcegos de Mampatá (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá, 1969/71): (i) Os Morcegos; (ii) Estou farto deles, tirem-me daqui; (iii) Fado da Metralha

30 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17811: O cancioneiro da nossa guerra (1): "Asssim fui tendo fé, pedindo a Deus que me ajude"... 4 dezenas de quadras populares, do açoriano Eduardo Manuel Simas, ex-sold at inf, CCAÇ 4740, Cufar

segunda-feira, 21 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18660: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXXIII: as colunas logísticas até Madina do Boé



Foto nº 101


Foto nº 102


Foto nº 103


Foto nº 104


Foto nº 105




Foto nº 107 > A formação da coluna de várias viaturas à saída do aquartelamento, a caminho de Madina do Boé [Fotos, de 101 a 107]



Foto nº 121 > Pel Rec Daimler 1129 [Nova Lamego, 1966/68]... O Virgílio Teixeira aparece, à civil, de camisa branca, de óculos escuros... O cmdt do Pel Rec Daimler 1129, deve ser o da esquerda, também à civil, com a esposa ao lado. O pessoal parece estar a num churrasco... "Não tive grandes afinidades com o Alferes do Pel Rec Daimler 1129, porque ele tinha lá a mulher, e por isso vivia quase em separação...O pessoal das Daimlers era um grupo que eu apreciava muito, pelo apoio que davam nas colunas para Madina do Boé... Sei que fizemos mais confraternizações, com o esta, mas eles eram um pelotão independente e tinham as suas próprias instalações."




Guiné > Região de Gabu  > Nova Lamego > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem jámais de meia centena de referências no nosso blogue.

Recorde-se que o Virgílio Teixeira, de acordo com o seu CV militar (agora corrigido e atualizado):

(i) assenta praça, em Mafra, na Escola Prática de Infantaria (EPI), em 3 de janeiro de 1967, ainda antes de completar os 24 anos de idade; jura bandeira em finais de março desse ano; 

(ii) como habilitações literárias, tinha já os dois primeiros anos da Faculdade de Economia do Porto (, licenciatura que viria a completar  depois da tropa); tinha um irmão, velho, que era  militar de carreira;

(iii) é enviado para a EPAM [Escola Prática de Administração Militar], em Lisboa, no Lumiar; acaba em junho a especialidade de Serviço de Administração Militar (SAM); promovido a aspirante, tem uns dias de estágio, que acaba por não fazer por ter ido para o HMP, na Estrela, fazer fisioterapia por causa de um acidente sofrido  em fevereiro desse ano;

(iv) é mandado para o BC 10 em Chaves, onde deveria também fazer um estágio no CA, em julho, (que não faz, "pois não havia lá ninguém para me orientar; desenfio-me então porque não estava lá a fazer nada");

(v) é mobilizado para a Guiné em 10Ago67 - curiosamente dois anos depois em 10Ago69 chega a Lisboa a bordo do T/T Uíge -, "mas ninguém sabe de mim; encontraram-me, fui a Chaves levei uma piçada do comandante, e só me disse que não me castigava porque já tinha um 'castigo maior', que era a Guiné...

(vi) vai com Guia de marcha paro Campo Militar de Santa Margarida fazer o IAO,  e parte de Figo Maduro, em Lisboa, em 20 de setembro de 1967, num avião militar, com o comando avançado do BCAÇ 1933, para render o outro batalhão, o BCAV 1915, que segue para Bula ("embarco em 20 de setembro em Figo Maduro, chego a Bissau em 21, avanço para Nova Lamego em 24 e regresso a Bissau em 27 de setembro, com objectivo de ir aprender mais alguma coisa na Chefia de Contabilidade, mas vou mais vezes para o Pilão e para a Piscina do Club em vez de ir para CC; depois tenho de aprender sozinho, e cumpri as minhas funções sem nenhuma mácula."

(vii) faz o serviço no CTIG como alferes miliciano, sendo a sua especialidade o serviço de administração militar (SAM); nessa qualidade, foi chefe do conselho administrativo (CA) do BCAÇ 1933, ou seja, o oficial mais perto do comandante de batalhão, que era um tenente-coronel;

(viii) não tendo sido um "operacional" propriamente dito, não pode, por isso, "contar muita coisa sobre operações em concreto, embora tivesse feito muitas colunas militares de reabastecimentos, quer por rio ou por estrada", além de muitas patrulhas à volta dos aquartelamentos, e vivido muitas vezes os bombardeamentos contínuos às posições [das NT]"

(ix) faz questão também de declarar que dá "um valor enorme ao sacrifício das nossas tropas": "conheço, por aquilo que leio agora, o que se passou e nós não sabíamos quase nada. Passaram mais de 40 anos até se perceber o que foi aquela guerra";

(x) comentário final do autor: "Mas sobre o CV falta lá o antes e o depois. Nada foi fácil, como se pode pensar, eu tenho no meu activo cerca de 60 anos de trabalho, e não parece, mas aos 12 anos já era contribuinte da segurança social - naquela época caixa de previdência - passei à situação de pensionista após 45 anos ininterruptos de trabalho e contribuições, por isso com 45 anos de descontos, dou de borla ao Estado 5 anos, pois só precisava de 40. Nem os aumentos de 100% da Guiné precisei deles. Mas nunca parei, e continuei na mesma vida, agora sem mais descontos e a receber a minha pensão. Neste momento apenas escrevo o Livro e comento nos Blogues, ajudo os filhos em burocracias quando eles precisam, pois tenho uma enorme experiência de muitas coisas"....


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas: T101 –  As Famosas Colunas Militares para Madina do Boé"

I - Anotações e Introdução ao tema:

NOTAS:

Este novo tema vem na sequência dos últimos Postes sobre Madina do Boé e Béli (*) que estão a dar que falar entre os nossos generalíssimos camaradas.

Tive a oportunidade de ter ‘disparado’ algumas fotos, numa manhã de nevoeiro, com uma coluna a partir de Nova Lamego com destino ao Cheche e Madina. Eram longas filas de camiões, que partiam com reabastecimentos para o Cheche, Madina do Boé e Béli.

Sentia estas deslocações como algo de grande perigo, dadas as minas, os mortos e feridos que caíram por aquela estrada, e com este sentimento, resolvo um dia acordar mais cedo e fazer as fotos, para mim, são uma ‘nostalgia’ incrível, que nunca esqueço.

Não estão grande qualidade, porque a manhã estava a nascer, a quantidade de luz natural era pouca, mas fica o essencial, relembrar aqueles heróicos soldados que faziam aquele trajecto, de pica na mão sempre à procura do ‘clique’,  e que muitas vezes não era detectado e assim os mortos e feridos abundavam.

Estas colunas eram realizadas com grande aparato militar, as viaturas normais seriam as GMC, os UNIMOG, as MERCEDES, e talvez outras, não me lembro de ver BERLIET.

Eram acompanhadas e escoltadas por Unidades de intervenção, abaixo dou uma relação das possíveis, mais os Pelotões Daimler, Fox, e sempre sobrevoadas por aviões T6,  de apoio aéreo.

Normalmente iam elementos da Companhia de Caçadores 5 na missão da frente de picar a estrada. A Companhia de Intervenção de Nova Lamego era a CART 1742.

Unidades possíveis de terem participado nas diversas colunas mensais para Madina:

CCS do BAÇ1933;

CCAÇ 5 ["Gatos Pretos", de Canjadude]; 

CCAÇ 1586,  CCAÇ 1588, CCAÇ 1589 e CCAÇ 1623;

CCAV 1651 e CCAV 1662;

CART1742.

Pelotões Independentes:

- Pelotão de  Morteiros 1191;

- P AM Daimler 1143 e 1129 [Vd. tratar-se do Pel Rec Daimler 1129, Nova Lamego, agosto de 1966/maio de 1968];


- Secção de AM/FOX e Reconhecimento 1578 [Vd. EREC 1578];

- Companhias de Milícias 15, 16, 19, 23.

Fico na esperança que alguém apareça a dizer que estava ali também.  Foram tiradas numa manhã do mês de Novembro de 1967.

Em, 14-05-2018 - Virgílio Teixeira

II - Legendas das fotos:

F101 a F 106 – A formação da coluna de várias viaturas à saída do aquartelamento

F121 – Os elementos do Pelotão Auto Metralhadoras Daimler Nº 1143 ou 1129 [, trata-se do Pel Rec Daimler 1129].

Em, 14-05-2018

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BCAÇ 1933 / RI15 / Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
_____________

Notas do editor:


sexta-feira, 11 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18623: (Ex)citações (336): Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 6 de Maio de 2018, trazendo-nos uma reflexão sobre a Paixão e Morte em Madina do Boé:


Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé

Este escrito é motivado pelo P18585, um testemunho da Guerra da Guiné na primeira pessoa do T-General Pilav José Nico, que aqui invoco como resposta a uns “ historiadores e cientistas sociais”, que se têm feito notar pela pretensão de rescrever a nossa História, à revelia do seu curso e carácter - qual “produto tóxico”, susceptível de adulterar Os Lusíadas em “Os Expansíades”. 


Meus caros: 
Primeiro a gesta dos Descobrimentos e depois a saga da Expansão!

De onde vem esse vento? Compare-se a memória descritiva do cubano Óscar Oramas, embaixador e comissário de Fidel Castro junto do PAIGC, com a do então Capitão José Aparício, comandante da CCaç 1790, contidas nesse post e referidas aos mesmos factos acontecimentais e à tropa nomadizada em Madina do Boé.

A região do Boé foi também um dos “amores” da malta operacional do BCav 705, transferido de emergência para o Leste, em Maio de 1965, e calhou à CCav 704 assentar arraiais em Madina e Béli, comandada pelo então Capitão Fernando Ataíde.
Nove meses após essas operações, em Fevereiro de 1966, ia em trânsito de Bissau para Buruntuma no DO do correio, ao levantar voo em Béli o seu lado esquerdo foi cravejada de balas, os vinte e tal impactos sofridos inutilizaram-lhe o rádio, quase arrancaram o ombro e o braço ao seu furriel piloto, este começou a exclamar “maldição! maldição!”, seguiu-se-lhe o desmaio, comigo, ileso mas na maior das aflições, a tentar fazer um torniquete à abundância da hemorragia, a esbofeteá-lo para o manter consciente; e lá sobrevoamos a linha da fronteira e aterrámos em Buruntuma, quase por gravidade, as nossas fardas de caqui muito ensanguentados – a dele pela gravidade das suas feridas e a minha pelo sangue delas.

Três meses depois, a nossa CCav 704 foi rendida pela CCaç 1416, comandada pelo Capitão Mil.º Jorge Monteiro (que será condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma), com formação agronómica como Amílcar Cabral, o vencedor de Domingos Ramos, ex-furriel mil.º do Exército Português, um dos mais altos quadros do PAIGC, a desempenhar-se como comandante da Frente Leste, abatido no primeiro momento em que desencadeava um poderoso ataque a Madina do Boé, enquadrado por militares do exército regular cubano, já então responsáveis pelos 4 mortos e muitos feridos graves daquela Companhia.

(Fidel Castro foi o único líder mundial a investir militares do seu exército regular em solo português ultramarino, com a missão de matar soldados portugueses. Sem trazer à colação a sua directa prestação no desastre da descolonização de Angola, merece repúdio o facto de, recentemente, S. Ex.ª o PR e Supremo Comandante das nossas FA´s Marcelo Rebelo de Sousa ter movido mundos e fundos, para lhe ir apertar a mão e o reverenciar…).
 
Quem não se sente não é boa gente.

É sabido que a estratégia de correr a tiro a Europa da África começou a ser preconizada pelos americanos e impulsionada por Lenine, a partir de 1916, que foi o armamentismo e o expansionismo ideológico da União Soviética a patrociná-la, mas que Amílcar Cabral optara por tirocinar a estratégia e táctica para a sua Guerra da Guiné na Academia Militar de Pequim, terá bebido do próprio Mao-Tsé-Tung as lições para transformar a Guiné no “calcanhar de Aquiles” do Ultramar português e bebido do generalíssimo vietnamita Giap a escolha de Madina do Boé, para palco dos eventos decisivos à fundação da Nacionalidade bissau-guineense.

Considerado eufemisticamente como o “Algarve da Guiné”, no entanto sem mar mas com chuvas diluvianas, o Boé (Madina, Beli e Lugajole) tornara-se uma “paixão” na Guerra da Guiné, comum aos seus senhores, o General António de Spínola e o Secretário-geral Amílcar Cabral. Mas enquanto este operara na região (mas além fronteira), com pompa e circunstância e nas barbas da guarnição militar portuguesa, que não usou o direito à perseguição, por razões políticas, a transformação da guerrilha nas FARP, uma espécie de exército convencional, estacionava a sua “roulotte” numa das suas colinas – a colina Cabral – passava lá temporadas, premonitória das suas intenções de Comandante supremo, o Comandante supremo de Bissau operará a sua primeira desistência, com a operação da retirada da guarnição de soberania de Madina do Boé, saldada com 46 mortos dos seus militares, no confronto com o general natural – o rio Corubal.
Retirada da maior transcendência e significado político, porque concedeu ao PAIGC o único território “libertado” de facto, para palco da formalidade da proclamação unilateral da independência da Guiné; e como conquistou Madina do Boé e Béli sem o cerco nem o assalto das suas FARP, o PAIGC transferirá tal manobra para Guidaje, Guileje e Gadamael, abortada sobre Buruntuma.

O alto comandante Osvaldo Vieira, inspector das FARP, também ex-furriel miliciano do Exército Português, delfim e herdeiro político e testamental de Amílcar Cabral, primo direito de Nino Vieira, este a mais alta patente da luta militar do PAIGC, no rescaldo do golpe do assassínio de Amílcar Cabral, viu-se desterrado e acabará os seus dias em Madina do Boé, diz-se que fuzilado nas vésperas da crise dos três G´s (Guidaje, Guileje e Gadamael) à ordem dos seus pares do Conselho Superior de Luta, maioritariamente cabo-verdianos.

O General Spínola tirocinou a guerra na Frente Russa, sob a égide do General Paulus e do exército nazi, e Amílcar Cabral tirocinou-a na Academia Militar de Pequim, privando com Mao e com Giap; a diferenciação abissal entre o pensamento e planeamento militar de ambos na Guerra da Guiné decorrerá dessa contingência?
Amílcar Cabral esforçava-se para chegar a toda a Guiné; ao trocar o vencer pelo aguentar o General Spínola contrariou o mundo darwiniano: o mais fraco sobreviveu ao mais forte.
O abandono da soberania em Madina do Boé pelo General Spínola e a retirada de Guileje pelo Major Coutinho e Lima, serão efeito da mesma causa, não obstante escrutináveis como decisões ao arrepio da disciplina e da lógica militar.


Invoquemos a História: 

Nas guerras Fernandinas, o adiantado-mor da Galiza, General Pêro Rodriguez Sarmiento, montou cerco ao castelo de Monção, na fronteira, com o fim de o fazer capitular pela fome. No seu desespero de causa, a alcaideza Deu-la-deu Martins mandou cozer a fornada do último cereal, atirou os pães aos sitiantes, também dele necessitados, a exclamar: 
- “Tomai perros famintos! E mais vos darei, se o pedires!”. E ele viu-se forçado a levantar o cerco.

Em 1949, “Berlim ocidental” estava para a Europa livre, como Madina do Boé estaria para a “libertação” da Guiné. Os Aliados fizeram abortar o cerco montado pelo Exército Vermelho com uma ponte aérea, que durante um ano os abasteceu de tudo, sem descurar as flores de decoração, gosto tão cultivado pelas mulheres berlinenses.
Em 1999, no decurso do 50.º aniversário desse acontecimento, no aeroporto berlinense de Schonefield, colhi um poster de um avião DC 4 Skymaster, cheguei à fala com um dos seus veteranos pilotos, que me concedeu um autógrafo.


Circunstâncias especiais exigem homens especiais. E de Portugueses sempre os houve.

O post do T.-General José Nico evidencia que, em 1968-69, não obstante a sua mais evoluída estratégia e tácticas, o PAIGC estava a ser empurrado para as cordas da derrota – o momento psicológico desperdiçado para a resolução da Guerra da Guiné, sem vitórias nem derrotas e, sobretudo, sem o abandono. António Salazar, que era estadista, cai, derrotado pela cadeira do forte do Estoril e a cátedra da Universidade negara a clarividência a Marcelo Caetano, que era jurista. O ónus da criação das condições à eclosão da guerra ultramarina e de não lhe pôr termo em tempo útil recai sobre um e sobre o outro.

O PAIGC rearmou-se e ganhou fôlego, enquanto a cristalização da estratégia e tácticas militares criava anticorpos na comunidade castrense e a estagnação do governo de Lisboa faziam engordar as oposições, interna e externas, à guerra ultramarina.
Amílcar Cabral passara a frequentar Moscovo em vez de Pequim e, para reforçar a sua expansão ideológica, numa demonstração que as aviações não ganham as guerras, mas que as decidem, a União Soviética prometeu-lhe a construção de um aeródromo-base militar no Boé dotado de MIG´s, no contexto da sua estratégia, que esbarrará na oposição de Sekou Touré, por lição do assalto a Conacri, sob o argumento que se PAIGC detinha dois terços do território da sua Guiné, teria muito espaço para essa base.
Se os generalíssimos Mao e Giap foram boas companhias, Sekou Touré foi uma má companhia de Amílcar Cabral, eventual portadora da sua desgraça pessoal; o facto de a Guiné-Bissau ter virado em destroço da descolonização será o preço a pagar pelo seu erro de ter preferido, para a sua empresa da libertação, o déspota e sanguinário guinéu ao senegalês Leopold Shengor, culto, democrata e humanista. Amílcar Cabral vivia em contacto tanto com as evidências anti-humanas do colonialismo de Portugal como com as do “socialismo real”, imposto e vigorante na China, Cuba, União Soviética, Europa do Leste, Guiné-Conacri, etc.
Poderá ser entendido como futilidade, mas a história e a evolução da Guiné-Bissau seriam certamente diferentes.

Esse post também evidencia a visão míope da Guerra da Guiné, por parte da liderança do governo de Lisboa.
Por investigação publicada pelo tabanqueiro José Matos, sabemos que o Secretário de Estado da Aeronáutica da altura relatou e instou o governo a dotar as FA de aviões e da panóplia de misseis e antimísseis, já objecto de estudo especializado, compatíveis com o arsenal da parceria da União Soviética com o PAIGC, que tardará 5 anos a fazê-lo, apenas em 1974, “já Inês estava morta”. E não foi por falta de oferta nem de dinheiro - que tudo é capaz de comprar -, como se viu, pela disponibilidade da França, Alemanha, África do Sul e Israel. Não estávamos endividados, o Banco de Portugal possuía quase 1000 toneladas de reservas de ouro, e constituíra uma reserva de 12 meses de divisas de cobertura às importações, garantidas pelo suor e o patriotismo dos portugueses na diáspora.

Pela falta de capacidade, de raio de acção e de letalidade da aviação de Bissalanca, o êxito da acção sobre Conacri resultou parcial e, em 1973, a mesma aviação que impediu ao PAIGC a formalidade da declaração unilateral da independência em Guileje, não tinha capacidade para a impedir no Boé.
Por ironia em que o destino é fértil, será a ameaça desses MIG´s nos céus de Bissau, invisíveis porque não existiam, a precipitar o golpe militar do 25A74…

Que os mortos combatentes dos dois campos da Guerra da Guiné descansem em paz, que os sobrevivos estejam descansados e com a melhor saúde e que o encontro de Monte Real tenha alimentado o corpo e robustecido a alma da sua malta grisalha.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18488: (Ex)citações (335): a crítica "agridoce" de Mário Beja Santos ao meu livro "Guiné-Bolama, história e memórias" (Fernando Tabanez Ribeiro)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17778: Notas de leitura (996): “a sorte de ter medo”, por Gustavo Pimenta, Palimage, 2017 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,
Nestas coisas da escrita entre guerreiros, não vale a pena ter ilusões sobre a densidade autobiográfica. Gustavo Pimenta volta à Guiné e desvela o que foi a vida da sua companhia naquele período em que ali viveram entre 1968 e 1969.
Admito que haja outros relatos tão circunstanciados, só conheço este, e impressiona-me muito. Dirá talvez coisas que serão alvo de polémica, quanto às razões pelas quais aquela jangada tremeu, e quem deu ordens. Não quero estar na pele de quem perdeu 16 homens.
Recomendo sem qualquer hesitação a leitura urgente desta narrativa que ressuscita os fantasmas de Béli e Madina de Boé.

Um abraço do
Mário


Um impressionante relato sobre a retirada de Béli e Madina de Boé (3)

Beja Santos

Em “a sorte de ter medo”, uma poderosa narrativa que Gustavo Pimenta transmuta em romance, Palimage, 2017, temos uma descrição dos acontecimentos trágicos que ocorreram em 6 de Fevereiro, frente a Ché-Ché. Na véspera, o grosso das tropas, das viaturas, equipamentos e armamento, já atravessou o Corubal. São nove horas da manhã, entram na jangada de uma só vez as viaturas e os militares, quase todos de Madina de Boé e de uma das companhias que fazia segurança à alteração. Segue-se a descrição:
“O peso é enorme, há algumas horas que as barcaças não são esvaziadas, a jangada move-se lentamente.
O pessoal faz manguitos na direção da margem abandonada e grita impropérios dirigidos a inimigos imaginários.
Percorrido cerca do primeiro terço da travessia, o tenente-coronel comandante da operação ordena, sem qualquer prévio aviso ao pessoal, que os morteiros façam fogo para as imediações do local de embarque acabado de abandonar.
Na jangada é o sobressalto: nela vêm militares que, de há longos meses, estão habituados a correr para os abrigos ou fugir para a vala mais próxima quando se escuta o som de uma granada a sair à boca do morteiro.
A jangada oscila perigosamente, não se volta, mas fica meio submersa. Alguns militares atiram-se ao caudaloso rio, muitos outros caem à água.
O pessoal está subalimentado, sem dormir há longuíssimas horas, estafado, na água as armas e cartucheiras repletas de munições pesam insuportavelmente.
Largado tudo que os empece, a começar pela arma e as cartucheiras, uns poucos retrocedem a nado para a margem de origem, que está mais perto. Outros conseguem nadar para a margem do destino. A maioria, até porque há quem não saiba nadar ou nade mal, consegue equilibrar-se e manter-se na jangada com água pelo meio do peito.
Deita-se mão da jangada antiga para onde os militares sobem. A que fazia a travessia é puxada, a muito custo, para a margem. Imenso material cai ao rio, mas as viaturas, milagrosamente, não. Há a sensação de que nem todos os homens conseguiram salvar-se.
Todos já no quartel do Ché-Ché, mandam-se formar as forças envolvidas, confere-se o efetivo: 47 militares não respondem à chamada.
É o espanto, o desalento, o choro convulsivo, a raiva a custo controlado pelos comandantes: ninguém entende a razão de se ter feito o fogo de morteiro que precipitou o desastre”.

O narrador estava de férias quando se desenrola esta tragédia, quer prontamente regressar à Guiné, onde só chega a 15 de Fevereiro. “Na pista, o capitão espera-me. Abraça-me e chora. Convulsivamente, sem palavras, choramos”. O narrador perdera 16 homens do seu grupo de combate.

Duas semanas depois do desastre, um grupo de fuzileiros foi destacado pera recuperar corpos. Dos 47 desaparecidos apenas foram detetados 7. “Em adiantado estado de decomposição, irreconhecíveis e sem quaisquer elementos que os possam identificar, são enterrados numa elevação da margem direita do rio”.

Vai começar a via-sacra dos últimos meses: Nova Lamego, Cabuca, S. Domingos, já levam 19 meses de comissão. Neste último quartel, compete a esta companhia o controlo das povoações ao longo da estrada num raio de 25 quilómetros para Oeste e outros tantos para Leste. Por ali andam a fazer inventário das armas, a ver minas e armadilhas. Em Maio, o inimigo tenta bombardear o quartel com fogo de morteiro, não passou de um susto, retalia-se como bombardeamento a povoação senegalesa de MPack, encostada à fronteira. É nessa operação que um furriel fica com o pé direito destroçado por ter pisado uma mina antipessoal, segue-se um confronto com um grupo inimigo.

A exaustão vai tomando conta daquele contingente tão afetado por Madina do Boé. Segue-se uma operação para verificar se a povoação de Barraca Batata, junto à fronteira, está habitada. Desta vez, numa linha de água, é o enfermeiro que pisou uma mina antipessoal, chegará ao hospital já cadáver. Para além do desgaste, chegou a maldita hora da debilidade psicológica. Um cabo que tinha no pénis protuberâncias esponjosas entra em depressão, escreve uma carta à mulher e suicida-se, deixara a mala aberta e sobre a roupa meticulosamente dobrada uma carta fechada endereçada à mulher. Tenta-se animar a tropa, desdobram-se as iniciativas para preencher os tempos de repouso dos soldados, há muitas cantorias. No fim de Julho, caía a noite quando meia dúzia de morteiradas desassossegaram o quartel. É nisto que irá processar-se a rendição da companhia, o regresso é no Uíge. E ouve-se, no final deste poderoso relato, a última confissão:
“Havia jurado a mim mesmo que só mataria para não morrer, não disparei um tiro contra qualquer adversário, mas não sei os efeitos das armadilhas que montei e das minas que implantei. Na hora do embarque em Lisboa, prometi à irmã de um dos meus putos que lho devolveria inteiro e a mexer: morreu-me nas águas do Corubal (…) Este território não acolhe uma nação, há tantas etnias e tão distintas entre si como entre cada uma delas e os portugueses aqui despejados para fazer a guerra. Com culturas tão diversas e sem, ao menos, uma língua comum, poderá algum dia construir-se aqui um país confortável? Levo comigo África, o que de África me foi dado conhecer e me dizem ser dos piores bocados. Mas não esquecerei a hospitalidade das suas gentes, o sabor das suas comidas, o fascínio das suas inclemências. E o seu cheiro, a sua cor. Que me de mim aqui terei deixado?”.

E curioso, o neto pergunta-lhe:  
“Avô, como sobreviveste à guerra?”.

Gustavo Pimenta fez bem em voltar, é um grande acontecimento nesta literatura de retornos, e cumpre agradecer-lhe o belo título escolhido para este labirinto de memórias a que ele chama romance: “a sorte de ter medo”.
____________

Nota do editor

Postes anteriores de:

11 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17756: Notas de leitura (994): “a sorte de ter medo”, por Gustavo Pimenta, Palimage, 2017 (1) (Mário Beja Santos)
e
15 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17768: Notas de leitura (995): “a sorte de ter medo”, por Gustavo Pimenta, Palimage, 2017 (2) (Mário Beja Santos)