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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8973: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (6): Fotos enviadas a Cherno Abdulai Baldé - Chico de Fajonquito (1)



Integrada na série "Fajonquito do meu tempo" do nosso camarada José Cortes (ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74), apresentamos uma troca de correspondência entre este nosso camarada e um dos seus meninos da Guiné, o nosso tertuliano Cherno Baldé (Engenheiro) actualmente a exercer funções de Director do Gabinete de Estudos e Planeamento no Ministério das Infraestruturas, Transportes e Comunicações da Guiné-Bissau.



1. Mensagem de José Cortes endereçada a Cherno Baldé no passado dia 19 de Outubro:

Caro Cherno,
É com bastante prazer que mantenho este contacto contigo, e tenho muito gosto em te fazer recordar os teus tempos de menino.
Vou tentar esclarecer as dúvidas que me pões com respeito às fotografias.

Slide nº 3 - Pois é mesmo o Magalhães Condutor. Não sei o que é feito dele, nunca apareceu aos encontros.
Slide nº 4 - Eu sabia que ias gostar de ver o Dias nessa foto, é a única que tenho com ele.
O Araújo, é mesmo o que tu pensas, também era Condutor. Nunca apareceu aos encontros, porque faleceu antes de 1999, ano em que nos começamos a encontrar.
Slide nº 5 - O Torres, como já te disse vive em Canelas, perto de Vila Nova de Gaia, e está bem.
O Sérgio, tem uma empresa de pneus no norte do país, também o vemos todos os anos.
O Moreira, também tem aparecido aos encontros, e também está bem de saúde.
Slide nº 10 - O Oscar era um operacional do 3º pelotão.
Slide nº 12 - A pessoa que está de pé na 3ª fila é Dias Corneteiro, que estava integrado no 2º pelotão.

Brevemente, irei enviar-te um relato do que tem sido a história da Família Deixós - Poisar, desde o regresso de terras da Guiné.
Aí vai mais uma foto para matares saudades.

Um abraço,
José Cortes


2. Mensagem de Cherno Baldé para José Cortes:

Caro amigo José Cortes,
Já vi e revi vezes sem conta a ultima foto que me enviaste e cada vez é mais forte a minha convicção de que o rapazito mais pequeno que aparece na foto a direita, sou eu em pessoa. Como já disse antes, o colega é o Adama Sunto o qual não tive grandes problemas para reconhecer, eu e ele éramos muito amigos quase que inseparáveis dentro e fora do quartel, portanto é muito lógico que estivéssemos juntos a espreitar nas  Transmissões.

Julgo que o soldado, em primeiro plano, é o teu amigo, o Furriel Farraia. Veja a legenda que produzi na foto, em anexo, e diz-me se corresponde aos factos.

Vi a lista dos nomes inscritos na lápide do poste da bandeira que deve corresponder aos militares mortos pelo soldado Almeida em Abril de 1972, à testa da qual esta o nome do Cap. Figueiredo. Gostaria de saber quando foi feita esta pequena lápide em jeito de memorial aos soldados mortos
no rebentamento da(s) granada(s).

Um abraço amigo,
Cherno Abdulai Baldé
Chico de Fajonquito.

PS. Caso não vejas nisso qualquer inconveniente, gostaria de enviar esta imagem ao nosso amigo Luís Graça a fim de a juntar à colecção das minhas fotos no Blogue.


3. Finalmente a mensagem que Cherno Baldé enviou ao nosso blogue em 21 de Outubro:

Caro amigo Luís Graça e companheiros,
A busca do ex-Soldado Condutor-Auto Dias, cujo nome completo era Manuel Alberto Dias dos Santos, que foi meu amigo e protetor no aquartelamento de Fajonquito acabou por confirmar o pior dos meus pressentimentos, pois ele já não está entre nos, tendo falecido em 2005. O seu desaparecimento constitui uma grande perda para a família e para mim, também, que apesar do tempo e do desgaste da memória ainda tinha alguma esperança de o reencontrar um dia. Todavia, ainda nem tudo está perdido pois, alguns dos seus companheiros estão vivos e de boa saúde, segundo informações do nosso amigo e membro da TG, José Cortes, e pode ser que um dia reencontre alguns.

O José Cortes foi muito prestimoso, e foi quem me deu toda esta informação e ainda me enviou algumas fotos do seu tempo de Fajonquito. Com elas, revivi um pouco daquele tempo em que assistia a todos os jogos, a todos os acontecimentos dentro e fora do quartel. O José Cortes ou simplesmente Cortes para os putos do quartel, era um excelente jogador, possuidor de remates "fodidos" à Eusébio. Por incrível que pareça, numa delas descobri um garoto pequeno e magricela que, tudo leva a crer ser o Chico (eu) o incorrigível rafeiro de Fajonquito, na companhia de um colega. Já solicitei autorização ao José Cortes para poder enviar ao arquivo do blogue esta e mais outras fotos de Fajonquito que ele me enviou recentemente. Ainda não recebi a resposta, mas acho que ele não levara a mal, pois não consegui resistir a tentação de te pôr ao corrente das nossas frutuosas trocas de informação, assim como esta maravilhosa descoberta de uma fotografia com, quase, 40 anos de idade.

De facto, eu era assim, pequenino e traquina, comia pouco e dormia mal em lugares incertos, perseguido por sobressaltos de medos e angústias de alguém que obedecia pouco e vagabundeava mais. De alguém que, muito cedo, queria ser ele próprio, livre de partir ou de ficar, livre de amar ou de odiar, livre de abordar tabus e descobrir enigmas, livre de viver ou de morrer, inclusive no meio de diabos brancos, desconhecidos e do inferno que foi a desgraçada guerra da Guiné que destroçou vidas, fez órfãos e viúvas, quase... quase tudo, por nada (ao escrever estas palavras, que espero não sejam muito duras, não fixo o olhar para uma certa direção, viro-me sim, para o sul e, também, para o norte). Ele era tão apegado ao quartel e seu reboliço, sempre curioso, metido em jogos, brincadeiras e deambulações à volta que, quase, nada escapava aos seus atrevidos olhos de criança.

Por agora, se quiserem, acho que podem publicar as fotos onde está o meu amigo Dias, a equipa de futebol de salão com o Cap. Sao Pedro e aquela do memorial da bandeira, que representa um importante marco da presença dos soldados portugueses em Fajonquito, das tragédias humanas que sempre acompanham as guerras e da minha inevitável presença no aquartelamento de Fajonquito. Para as restantes fotos, agradecia que informassem ou solicitassem ao dono legitimo, José Cortes.

Com um grande abraco,
Cherno AB
Chico de Fajonquito


4. Segue-se uma série de fotos referentes a Fanjoquito, publicadas com a expressa autorização do nosso camarada José Corte. Em próximo poste serão publicadas as restantes fotos, estas referentes aos Encontros da Família Deixós-Poisar.

Fajonquito, casa do Vilela. Eu e o Alaje

Almoço em Bafatá . Da esquerda para a direita: Paulo Matos, Brás, Magalhães, Lobinho (Padeiro), Fur Mil Coelho, ?, Torres, Fur Mil Farraia e Fur Mil Cortes

Mecânicos e Condutores: Pinto (Mec), Sérgio (Combustíveis), Torres e Araújo (falecido)

Torres, Sérgio e Moreira

O terceiro é o falecido Dias

Parque auto - Eu, Fur Mil Bica e Fur Mil Farraia (falecido)

Rua Principal de Fajonquito

1- Em primeiro plano: O Fur Mil Farraia das Transmissões, CCAC 3549 (1972/74), junto a bandeira em cuja base se encontra uma lápide feita em memória do Cap. Carlos Borges de Figueiredo e os Soldados mortos no acidente do caso Almeida em Fajonquito no ano de 1972.
2- Ao fundo: As instalações dos serviços das Transmissoes da Companhia.
3- Na varanda da casa estão os rafeiros Adama Sunto e Francisco (Chico), de verdadeiro nome Cherno Abdulai Baldé

Eu e um menino (não sei quem é)

De pé; Cap. São Pedro, Ferreira, Cunha, eu e Fininho. Em baixo: Esteves, Óscar e Fur Mil Pina

Entrada do quartel

(Continua)
____________

Nota do editor:

Vd. último poste da série de 28 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6061: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (5): A mina A/P que estropiou o Vasconcelos na estrada para Cambajú

domingo, 28 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7355: In Memoriam (63): Partiu para a sua última morada o Aníbal Manuel de Oliveira Farraia (ex-Fur Mil Trms CCAÇ 3549) (José Cortes)


1. O nosso Camarada José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74, em 28 de Novembro de 2101, a seguinte mensagem:

Companheiros:
Hoje foi um dia triste. Acompanhei um companheiro à sua última morada.
Neste triste cortejo fui acompanhado pelos camaradas, São Pedro, Eduardo Deus, Daniel Cunha, Alfredo Oliveira (Elsa), Teixeira, Machado, Magalhães, Celestino, Andrade, Barbosa, Lavoura e Mandinga. Que não quiseram deixar de estar presentes.
Foram os que consegui contactar, de certeza que se mais soubessem mais compareciam para se despedirem do Farraia (Aníbal Manuel de Oliveira Farraia), que foi Furriel de Transmissões da CCAÇ 3549.
A família dos “DEIXÓS POISAR”, ficou muito mais pobre sem a alegria que o Farraia punha sempre nos nossos encontros. O Eduardo Deus já não tem quem toque viola para ele cantar o fado. Vão fazer falta as graçolas que o Farraia dizia e que nos deixavam todos alegres.

Já partiu para a sua última morada.
Paz à sua Alma, e que descanse em PAZ.
Obrigado amigo pela alegria com que viveste a tua vida.

José Cortes
Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

26 de Novembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7339: In Memoriam (62): Por quem os sinos dobram hoje, 40 anos depois: Fernando Soares, Joaquim de Araújo Cunha, Manuel da Silva Monteiro, P. Almeida, Rufino Correia de Oliveira e Seco Camará, os bravos do Xime, mortos na Ponta do Inglês (Op Abencerragem Candente) (Luís Graça)

quinta-feira, 11 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5972: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (3): O Cap Patrocínio, a CCAÇ 15, dois casos de insubordinação e ainda o Cherno Baldé


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito [, mapa de Colina do Norte]> CCAÇ 3549 (192/74) >  Casa Gouveia (onde trabalhava o pai do Cherno Baldé), com a casa dos oficiais de que ele  fala na sua narrativa.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (192/74) > Povoação de Fajonquito.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (192/74) > Rua principal de Fajonquito.




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito >  CCAÇ 3549 (192/74) > Eu com o filho mais novo da Cristina, lavadeira, a mais popular dentro do aquartelamento.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (192/74) > Eu e o Alaje, espero que o Cherno  Baldé consiga dizer do paradeiro dele.




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Fajonquito > CCAÇ 3549 (192/74) > Bajuda junto ao depósito de géneros do aquartelamento.

Foto: © José Cortes (2010). Direitos reservados



1. Mensagem de José Cortes, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3549, Fajonquito, 1972/74 (*):

(i) Vou tentar responder ao companheiro Mexia Alves (**), sobre o Cap José Eduardo Marques Patrocínio.

O companheiro deve estar confundido com o ano em que foi para Mansoa, não deve ter sido em 1972 mas sim em 1973. Os meses de Julho e Agosto devem estar certos.

Porque os Cap São Pedro foram graduados pelo General Spínola mais ou menos em Maio de 1973, e o Cap Patrocínio já não se encontrava na companhia pelo menos há dois meses.

Portanto o Cap Patrocínio devia ter estado em Mansoa mais ou menos  5 ou 6 meses.

Segundo o que diz o coronel Vargas Cardoso, que era o 2º Comandante do Batalhão, o Cap Patrocínio foi para a CCAÇ 15,  [composta por ] tropas africanas.

O Cap Patrocínio tinha a formação de comandos, com uma comissão em Moçambique, como alferes,  onde foi ferido em combate.

Formou a nossa companhia em Chaves no BC 10 de 22 de Dezembro de 1971 a 25 de Março de 1972, dia em que saímos de Chaves para a Guiné. Ele era do Quadro Especial de Oficiais (QEO).

(ii) Agora gostava de fazer um pequeno comentário as Amêndoas Vermelhas de Fajonquito (**).

O que aconteceu naquele dia, não foi concerteza caso isolado durante 13 anos de guerra.

Temos que ver que grande parte dos soldados das NT tinham pouca formação escolar, eu na minha companhia,  e já foi em 1972, tinha muitos soldados que não sabiam ler nem escrever.

Portanto,  qualquer situação menos vulgar que acontecesse, o respeito pelos superiores desvanecia-se e a disciplina era esquecida . Eu próprio passei por uma situação, em que esteve envolvido o soldado Silva, do primeiro pelotão da minha companhia.

Certo fim da tarde,  já noite,  envolveu-se numa discussão com um camarada, e agarra na G3 e toca a descarregar o carregador no tecto da caserna onde dormiam.

Quando o abordei para saber o que se passava, quando cheguei junto dele ainda se encontrava com a arma na mão, virou-me a arma e disse:
- Ó furriel,  não me diga nada porque a seguir vai para si.

Tive que participar ao comandante de companhia, Cap Patrocínio, que lhe deu 10 dias de prisão, que passou em Bafatá.

Quando os camaradas o visitaram na prisão,  dizia-lhes que eu não chegava ao fim da comissão.

No fim dos dez dias, eu é que o fui buscar, e perguntei-lhe se era verdade o que os camaradas tinham dito, e ele disse para esquecer porque foram dez dias que passou sem fazer nada e comia e bebia.

Passados vinte e tal anos,  apareceu num dos nossos convívios e  voltámos a falar no assunto. E ainda nos rimos da situação. Mas podia ter acontecido uma tragédia se por acaso na altura eu tivesse respondido à agressão verbal dele.

Outra situação foi passada com o companheiro furriel Campos, e um soldado também do 1º pelotão, no destacamento de Sare-Uale.

Durante um jogo de futebol,  disputado ao fim de tarde no destacamento,  numa disputa de bola mais acesa entre o furriel e o soldado Maleiro, o soldado amuou e ficou zangado com o Campos, ao ponto de se recusar a cumprir o serviço de sentinela para que estava escalado naquela noite.

Quando foi abordado pelo furriel, para cumprir com a sua obrigação,  respondeu-lhe que não fazia o serviço e que saísse da sua frente se não queria levar um tiro, com a arma em riste apontada ao furriel.

É claro que o furriel só tinha que comunicar ao Comandante de companhia o que se passava, pois para sua segurança e dos outros soldados ele não queria mais aquele elemento consigo.

O Maleiro foi mandado embora para outra unidade, não ouvimos falar mais dele, na Guiné. Sei que está bem porque é daqui da zona de Coimbra.

Isto são dois casos, que não tiveram consequências mais graves, mas concerteza que aconteceram mais naquela guerra, com desfechos bem mais complicados, como o de Fajonquito no dia 2 de Abril de 1972, Domingo de Páscoa.

Temos que andar para trás nos anos, e ver que éramos uns puto de vinte e poucos anos, a quem foram dadas responsabilidades muito importantes, como a vida de ser humanos.

Não foi o meu caso pois tive sempre em sede de companhia, mas camaradas meus,  furriéis,  a quem foi dado o comando dos grupos de combate, por falta de oficiais, ou por outras razões, que agora não interessa falar .Com responsabilidade além do comando do grupo, tinham as populações dos destacamento que dependiam da tropa para quase tudo. Tiveram que ser enfermeiros sem conhecimento da especialidade, tiveram que administrar a alimentação sem serem vagomestres, e outras situações, sem preparação, só foram preparados para defender as populações da guerra, e nos destacamentos tinham que fazer de tudo.

O Cap São Pedro foi graduado salvo erro com vinte e seis anos de idade, era um puto, foi-lhe entregue uma companhia com 160 homens mais ou menos da mesma idade, a população de Fajonquito, Canhámina, Cambajú, Sare Uale, Sare Jambarã e outras que existiam no nosso sector. Teve que assumir uma postura com certa autoridade, que o próprio posto hierárquico lhe exigia.

Ainda hoje,  passados 36 anos,  há companheiros que lhe guardam ressentimentos daquele tempo. (...)

3.  Mensagem de 6 do corrente:

Caro Luis Graça.


Ao ler as narrativas do Cherno Baldé [, foto à direita, quando estudante universitário em Kiev, na Ucrânia, nos finais de 1980], dei com um comentário do companheiro José Bebiano, do qual me lembro bem pois era o Furriel de Operações e Imformãções da companhia e, como era de rendição indivudual, só esteve connosco meia dúzia de meses, mas lembrava-me bem dele. Já comuniquei com ele como te dei conhecimento., fiquei muito contente com a resposta dele.

Com respeito ao Cherno, como é natural não tenho ideia dele naquela altura, embora a cara dele não esteja apagada da minha memória.

Como ele conta o convívio com os militares,  era capaz de ser assim, sei que alguns se excediam no tratamento com os miúdos. Ele fala em dois condutores, o Dias e o Magalhães, na verdade tivemos dois condutores com esse nome, mas não tivemos nenhum alferes chamado Maia, por isso não sei se ele se refere à minha companhia. (***)

Vou enviar algumas fotos, espero que as faças chegar ao Cherno para que ele as identifique;

1 - Eu com a filha mais nova da Cristina, lavadeira,  a mais popular dentro do aquartelamento.

2ª - Eu e o Alaje, espero que ele consiga dizer do paradeiro dele.

3ª - Povoação de Fajonquito.

4ª - Casa Gouveia, com a casa dos oficiais que ele fala na sua narrativa.

5ª - Rua principal de Fajonquto.

6ª - Bajuda junto ao depósito de géneros do aquartelamento.

Um Abraço

José Cortes
________________

Notas de L.G.:

(*) Vd.poste de 7 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5946: Fajonquito do meu tempo (José Cortes, CCAÇ 3549, 1972/74) (2): Evocando o Sold Almeida e o Fur Alcino, da CART 2742, que morreram, mais o Cap Figueiredo e o Alf Félix, na tragédia do domingo de Páscoa de 1972

(**) Vd. poste de 6 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)

Comentário de Joaquim Mexia Alves:

(...) Não tendo a ver directamente com esta tragédia gostava de perguntar o seguinte:


- Quando é que o Cap Patrocínio saiu da Companhia? O Cap Patrocínio não tinha especialidade de Comando?


Pergunto isto porque a minha memória por vezes me atraiçoa, (não só a mim,  com certeza), e eu tenho quase a certeza de que fui "substituir" o Cap Patrocínio na CCaç 15, (porque quando cheguei à 15 não havia Capitão e eu era o Alferes mais antigo).


Tenho a ideia que quando fiz a viagem do Xime para Bissau, para depois ir para Mansoa, o Cap Patrocínio, apenas por coincidência, ir nessa viagem e termos conversado, pelo que soube desde logo que ele já não era comandante da 15 e eu teria de o ser até à chegada de um novo Capitão.


Mas o tempo é "curto", pois eu julgo que cheguei à CCaç 15 lá para Julho ou Agosto de 72, o que faria com que a passagem do Cap Patrocínio por Fajonquito e pela 15 fosse muito rápida.


Alguém me pode relembrar para eu poder organizar a minha memória?


Abraço camarigo para todos (...).

(***)  Dados sobre as companhias de Fajonquito,  aqui citadas e que são do tempo do Cherno Baldé, "menino e moço":

CCAÇ 3549:

Mobilizada pelo  BCaç 10. Partida para a Guiné em  26/3/1972; regresso em 29/6/1974. Esteve em Fajonquito. Comandantes: Cap QEO José Eduardo Marques Patrocínio; Cap Mil Grad Inf Manuel Mendes São Pedro. Pertencia ao BCAÇ 3884 (Bafatá), que teve 6 (seis!)  comandantes, 4 tenentes coronéis e 2 majortes, o último dos quais o supracitado  Maj Inf Mário José Vargas Cardoso. A este batalhão pertenciam a inda a CCAÇ  3547 (Contuboel), comandada pelo Cap Mil Inf  Carlos Rabaçal Martins; e  a CCAÇ 3548 (Geba) (teve três comandantes, todos eles capitães milicianos de infantaria).

CART 2742:

Mobilizada pelo RAL 5. Partida para a Guiné: 18/7/1970; regresso: 21/9/1972. Esteve sempre em Fajonquito.  Comandantes:  Cap Art  Carlos Borges de Figueiredo (confirma-se que não era miliciano, mas sim do quadro) e  Alf Mil  Art  Baltasar Gomes da Silva (que o substitutui o capitão, por morte deste, em 2/4/1972). Esta unidade pertencia ao BART 2910 (Bafatá), comandado pelo Ten Cor  Art  Fernando de melo  Macedo Cabral. A este batalhão pertencia ainda CART 2741 (Contuboel;  Cap Art  João Maria Clímaco  de Sousa Brito) e CART 2743 (Geba;  Cap Mil Art Iídio do Rosário dos Santos Moreira).

sábado, 6 de março de 2010

Guiné 63/74 - P5938: A tragédia de Fajonquito ou as amêndoas, vermelhas de sangue, do domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972 (José Cortes / Luís Graça)


1. Mensagem do nosso camarada José Cortes [foto atual, à esquerda,] ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74 (*), com data de ontem, enviado ao seu camarada José Bebiano (**), com conhecimento ao editor do blogue, Luís Graça

Caro amigo

Ao ler, na Tabanca Grande, o teu comentário à história do Cherno Baldé, tive a alegria de ver o teu nome no fim do mesmo.

Pois por teres um nome um pouco fora do vulgar, é mais dificil de esquecer, mas a tua fisionomia de careca, ou com pouco cabelo, nunca mais esqueci.

Bem, eu sou José Cortes, ex-Furriel da CCAÇ 3549, e tinha na companhia a função de sargento de material.. Estava no gabinete junto com o Furriel Vague Mestre Pina e o Furriel de Transmissões Farraia.

Ainda hoje falei com o Luis Graça sobre o que aconteceu ao Cap Carlos Figueiredo da companhia de Artilharia que nós fomos render, mas como é obvio não sei as razões que levaram o soldado a fazer o que fez. Talvez hoje consigas tu contar o que se passou.

Não sei se te lembras de mim. Mas, caso estejas interessado, gostaria de te contar o que foi a vida da Companhia depois de saires e de te dizer o que aconteceu ao teu substituto.

Para já fico por aqui, conto mais tarde podermos falar sobre tudo.

Um abraço, Jose Cortes.

2. Comentário de L.G.:

Foi-me contada ontem, de viva voz, ao telefone, uma das versões sobre a tragédia de Fajonquito. Liguei ao José Cortes, que vive em Coimbra, e falámos durante mais de meia hora. O pretexto foi o convívio do pessoal da sua companhia, a realizar no próximo dia 27. Mas também Fajonquito e a história do Cherno Baldé.

O José Cortes falou-me com emoção desses tempos. Ele próprio tem um filho que foi pára-quedista e esteve em missões de paz (por ex.,Timor, Bósnia). Mas, como muitos outros camaradas, queixa-se de que nem sempre a família tem pachorra para ouvir as suas recordações da Guiné. Uma das que está bem presente na sua memória é a da morte do capitão e mais três ou quatro militares da companhia (a CCAÇ 2742, Fajonquito, 1970/72) que eles  foram render. Ele tinha prometido contar essa história mas ainda não o fez porque acha que tem fraco talento para a escrita. Eis, pois, a sua versão oral:

(i) Havia um, soldado da CART 2742 que, uma vez terminada a comissão, queria ficar na Guiné como civil;

(ii) Ao que parece o Cap Mil Art Carlos Borges Figueiredo manifestou, desde logo, a sua oposição à ideia, c contrária a todo o bom senso e sobretudo ao RDM;

(iii) Ter-se-á aberto um contencioso entre o soldado e o seu comandante, e envolvendo também o primeiro sargento;

(iv) A mulher do capitão havia  mandado, da Metrópole, "dez quilos de amêndoas" para distribuir pelo pessoal da companhia; a distribuição foi feita pelo próprio comandante, no refeitório, no domingo de Páscoa, 2 de Abril de 1972;

(v) Quando chegou a vez do soldado em questão, o capitão terá passado à frente, num acto que aquele interpretou como de intolerável discriminação;

(vi) O soldado levantou-se, sem pedir a licença a ninguém, e saiu do refeitório. Foi ao abrigo (ou à sua caserna) e veio para a parada com "duas granadas já descavilhadas", em cada mão. Dirigiu-se à secretaria. O primeiro sargento ter-se-á apercebido, a tempo, das intenções do soldado, e não se aproximou da secretaria (ou fugiu, não sei);

(vii) Dentro da secretaria, estava o Capitão, um alferes e um furriel. Ninguém sabe o que se passou lá dentro. O soldado deixou cair as duas granadas. O tecto da secretaria foi pelos ares. Lá dentro ficaram 4 cadáveres

Mortos, em 2/4/1972, todos do Exército, por acidente (sic), constam os seguintes nomes, na lista dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes:

- Alcino Franco Jorge da Silva, Fur
- Carlos Borges de Figueiredo, Cap
- José Fernando Rodrigues Félix, Alf
- Pedro José Aleixo de Almeida, Sold

Sabemos que o Sold Básico Pedro José Aleixo de Almeida era natural de Portel, em cujo cemitério local repousam os seus restos mortais. Presumimos que se trate do protagonista desta trágica história.  O Alf Mil Art Op Esp José Fernando Rodrigues Félix era de Moimenta da Beira.  O Cap Mil Art Carlos Borges de Figueiredo era natural de Vila Pouca de Aguiar. A sua última morada é Meadela, Viana do Castelo, possivelmente a terra da sua esposa. Por sua vez, o Fur Mil Alcino Franco Jorge da Silva também era de Op Esp, mas desconhecemos a terra da sua naturalidade. Não sabemos o que faziam os dois rangers na secretaria, possivelmente terão vindo em auxílio do capitão com a intenção de desarmar o militar que trazia as duas granadas descavilhadas. O José Cortes fala em cinco mortos, mas tudo indica que sejam apenas os quatro que constam da lista da Liga dos Combatentes. 

Julgo que o caso foi também utilizado pelo serviço de propaganda do PAIGC (nomeadamente a Rádio Libertação) para desmoralizar as tropas portuguesas: Há um documento do PAIGC, no Arquivo Amílcar Cabral, na Fundação Mário Soares (FMS), que faz referência ao sucedido; de momento, não consigo ter acesso a ele, uma vez que a página da FMS foi reestruturada.  

O facto de o insólito caso ter ocorrido em Fajonquito, na fronteira com o Senegal, significa que foi de imediato conhecido da população local, das autoridades do Senegal e do PAIGC. O nosso Cherno Baldé, na altura com  12 ou 13 anos,  faz referência, num dos seus postes a este trágico "acidente", que ocorreu a 100 metros, quando ele estava a brincar com outros putos na parada  (***). 

Gostaríamos de ter outras versões deste acontecimento. Espero que o José Bebiano  aceite o repto do José Cortes. Infelizmente não temos ninguém, na nossa Tabanca Grande, da CART 2742. Temos apenas duas referências a esta subunidade do BART 2920.  Julgo que seja difícil, ainda hoje, aos camaradas da CART 2742 abordar esta história, tão trágica quanto absurda...  Infelizmente, este caso não foi único no TO da Guiné. O acesso fácil a armas de guerra e a usura física e mental da guerra ajudam também a explicar estes surtos de violência patológica que, de tempos a tempos, ocorriam nas nossas fileiras. Quantos suicídios terão havido ? Quantos homícídios terão ocorrido, dentro das NT ? Na lógica da hierarquia militar, eram tratados como "acidentes".... E assim ficarão - como acidentes, inexplicáveis - para a história, se não houver parte dos contemporâneas e das testemunhas presenciais destes casos a vontade de contribuir, com depoimentos em primeira mão, para o seu esclarecimento...

Intrigam-nos casos como este. O que podia levar um militar português a querer ficar na Guiné, na vida civil ? Podia não ter ninguém à sua espera, na sua terra, não ter família, não ter amigos... Podia, por qualquer razão, querer esquecer a sua origem ou condição. Podia estar perdido de amores por alguma bajuda... Podia estar pura e simplesmente deprimido... Um indivíduo deprimido pode facilmente perder a noção do perigo, ficar indiferente a uma situação de perigo imediato e iminente,  e até desejar a sua própria morte. Não nos parece ter sido uma acção premeditada, pensada e amadurecida a frio... Em princípio, foi uma acção precipitada, irreflectida, impulsiva. O tal "acto de loucura" da "vox populi"... A ser verdade que o capitão deliberadamente ou não discriminou o soldado, aquando da distribuição das amêndoas, isso poderá ser sido "a gota de água" que transformou um conflito disciplinar num massacre... No final da comissão de uma companhia, na festa do e,m que se celebravo o dever cumprido, no domingo de Páscoa de 2 de Abril de 1972...

______________

(..) Desembarcámos no aeroporto de Bissalanca no dia 26 de Março de 1972, fomos fazer o IAO, ao Cumeré, de onde seguimos em LDG, para o Xime e daí em viaturas cívis e militares, para Fajonquito.

Rendemos a CART 2742, que no dia de Páscoa desse ano, 2 de Abril de 1972, perdeu o Capitão Borges Figueiredo, e mais quatro militares (...) (**)

Foi uma comissão que correu com alguns sobressaltos, desde termos 3 Comandantes de Companhia, 3 Primeiros Sargentos, 2 camaradas mortos e dois feridos graves. (...)

(...) Na Guiné não exerci a minha especialidade (, Atirador de Infantaria, ] por contingência de serviço da Companhia, que não tinha Sargento que fosse reponsável, pelo Material de Guerra. Eu, como Furriel Atirador com melhor nota, fiquei responsável pelo mesmo.

Mesmo assim não deixei de estar ligado a dois acontecimentos graves da Companhia, um acidente com um lança-granadas de 6,5 no qual perdeu a vida o nosso soldado António Manuel, mais 4 soldados da Milícia, numa acção de Reordenamento no Sumbundo. Outro, uma mina que provocou a morte do soldado José Jubilado dos Santos. Estas histórias são para contar mais tarde.

(...) Sou José Augusto Cortes, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3549, cumpri missão em Fajonquito, Leste da Guiné e pertencemos ao BCAÇ 3884, sediado em Bafatá. Sou nascido e criado em Coimbra, onde resido na Freguesia de Santa Clara, lugar de Bordalo. Ainda trabalho, sou funcionário do SUCH (Serviço de Utilização Comum dos HospitaIs), faço serviço no Hospital da Universidade de Coimbra como Técnico de Manutenção. (...)


 (...) Estive presente como Furriel Rec Info (Rendição Individual), entre Nov/70 a Out/72. Conheci bem de perto os 2 Capitães (Borges Figueiredo e J. Eduardo Patrocínio). (***)

Guardo bem presente o tempo que por lá passei. Hoje, professor de Educação Física, em Moura, estou à espera da aposentação, e por acaso passei por este blog. Bom trabalho para vós. Vou procurar fotos e depois de digitalizadas, vou inseri-las. Contar-vos-ei a história da morte trágica do Cap Figueiredo e 1 Alf, 1 Fur e do Soldado que fez deflagrar a granada. José Bebiano - email:  jbebiano@gmail.com  


(...) Conheci muita tropa que passou por Fajonquito entre 1968/74, em especial das companhias 3549 e 4514/72.  O rebentamento da(s) granada(s) que vitimara o saudoso Cap Figueiredo e seus companheiros de armas [da CART 2742] (*), apanhou-me a menos de 100 metros do local, quando estávamos a brincar perto da casa dos oficiais. (...) 

(...) Companhia de Artilharia n.º 2742, comandada pelo Capitão de Artilharia Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo Alferes Miliciano de Artilharia Baltazar Gomes da Silva, unidade orgânica do Batalhão de Artilharia n.º 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.

Companhia de Caçadores n.º 3549, comandada pelo Capitão Quadro especial de Oficiais José Eduardo Marques Patrocínio e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Manuel Mendes São Pedro, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3884, mobilizada em Chaves no Batalhão de Caçadores n.º 10, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CArt 2742, em 27 de Maio de 1972, vindo a ser substituída pela 2.ª Companhia do BCaç 4514/72 em 15 de Junho de 1974. (...)

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4145: Tabanca Grande (131): José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito (1972/74)

1. No dia 2 de Abril de 2009, recebemos do nosso camarada Afonso Sousa esta mensagem:

Caro Carlos Vinhal

Tu como actual comandante da Tabanca Grande, na ausência temporária do Luis Graça, dá o devido encaminhamento a mais este tertuliano que localizei em Coimbra, no seguimento das pistas para encontrar o furriel Andrade.

2. Mensagem de José Cortes, com a mesma data, anexada à do Afonso:

Caro amigo Afonso Sousa

Recebi hoje o seu mail, que desde já agradeço, ontem mesmo entrei no site do companheiro Luis Graça, o qual achei espetacular, e para o qual vou começar a enviar também algumas histórias da minha comissão.

Eu fui Furriel Miliciano, Atirador de Infantaria, arma da qual me orgulho de ter pertencido.

Na Guiné não exerci a minha especialidade por contingência de serviço da Companhia, que não tinha Sargento que fosse reponsavél, pelo Material de Guerra, eu como Furriel Atirador com melhor nota, fiquei responsável pelo mesmo.

Mesmo assim não deixei de estar ligado a dois acontecimentos graves da Companhia, um acidente com um lança granadas de 6,5 no qual perdeu a vida o nosso soldado António Manuel, mais 4 soldados da Milícia, numa acção de Reordenamento no Sumbundo.

Outro, uma mina que provocou a morte do soldado José Jubilado dos Santos.

Estas histórias são para contar mais tarde.

Agora vou-me apresentar:

Sou José Augusto Cortes, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3549, cumpri missão em Fajonquito, Leste da Guiné e pertencemos ao BCAÇ 3884, sediado em Bafatá.

Sou nascido e criado em Coimbra, onde resido na Freguesia de Santa Clara, lugar de Bordalo.

Ainda trabalho, sou funcionário do SUCH,(Serviço de Utilização Comum dos HospitaIs), faço serviço no Hospital da Universidade de Coimbra como Técnico de Manutenção.

Por isso se for preciso alguma coisa aqui de Coimbra estou as ordens.

Sem mais um abraço.
Cortes

José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74

3. Há poucas horas de hoje, 5 de Abril de 2009, chegou esta mensagem do nosso novo camarada José Cortes:

Caros companheiros:

No seguimento das conversas com o companheiro Alfredo Sousa, venho candidatar-me à entrada na tertulia Tabanca Grande.

Não tenho grandes dotes de escritor, mas vou fazer os possiveis para agradar.

Sou José Augusto Cortes, tenho 58 anos, sou funcuinário do SUCH, (Serviço de Utilização Comum dos Hospitais), e trabalho no Hospital da Universidade de Coimbra, cidade de onde sou natural e resido.

Fui Furriel Miliciano na Guiné,zona leste em Fajonquito, na CCAÇ 3549, que pertencia ao Batalhão 3884, sediado em Bafatá.

Desembarcámos no aeroporto de Bissalanca no dia 26MAR72, fomos fazer o IAO, ao Cumeré, de onde seguimos em LDG, para o Xime e daí em viaturas cívis e militares, para Fajonquito.

Rendemos a CART 2742, que no dia de Páscoa desse ano 02ABR72, perdeu o Capitão Borges Figueiredo,e mais quatro militares, já connosco na Guiné no Cumeré.

Foi uma comissão que correu com alguns sobressaltos, desde termos 3 Comandantes de Companhia, 3 Primeiros Sargentos, 2 camaradas mortos e dois feridos graves.

São histórias para contar mais tarde.

Em anexo vão duas fotos para pagar a entrada.

Um Abraço
José Cortes
Ex-Fur Mil
NM 10977771
José Cortes em Fajonquito
José Cortes na actualidade

4. Comentário de CV:

Caro José Cortes, ainda bem que resolveste aderir à nossa Tertúlia, onde és bem-vindo.

Podes começar a escrever quando quiseres e não te preocupes por não teres grandes dotes de escritor. Eu também não tenho e até cheguei a editor deste Blogue. Costuma-se dizer: Quem não tem cão, caça com gato. Fora de brincadeira, não te preocupes que a gente sempre dá um jeito aos textos.

Queria pedir-te o favor de sempre que envies fotografias, as faças acompanhar sempre com legendas para todos ficarmos a saber a que se referem, tanto a local, como a acontecimento.

Dizes que fazes manutenção nos Hospitais de Coimbra. Eu tenho um amigo/camarada da Guiné chamado José Lourenço, que também é da Manutenção dos Hospitais aí em Coimbra. Mora na Mealhada e é electricista. Conhece-lo? Qual é a tua área profissional?

Termino, enviando-te, em nome da tertúlia, um abraço e que hoje seja o primeiro dia de muitos em que vais participar activamente no nosso Blogue.

CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4140: Tabanca Grande (130): Cátia Félix, jovem estudante de Ciências Farmacêuticas, solidária e interessada pela Guerra Colonial

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3264: A Companhia Terminal , Bissau, 1973/74 (Manuel Oliveira Pereira)

1. Mensagem de Manuel Oliveira Pereira

Luís:
Tinha-me obrigado (como em tempos te referi), a voltar à Tertúlia apenas quando terminasse o curso (estou na ponta final). Mas, e como também disse, estaria sempre atento ao "nosso" blogue. Nesse sentido e dando sinais de vida, lá respondi à malta de Galomaro/Dulombi que pretende fazer um encontro de todos os que passaram por aquelas bandas - parece que fomos (eu e o meu grupo de combate) os derradeiros militares metropolitanos a ocupar o Dulombi.

Agora, aparece o Daniel Vieira e mais uma vez sinto a necessidade de acrescentar algo ao pedido que ele faz através do nosso "ponto de encontro".

Aqui vai:


Conjuntamente com mais uns tantos camaradas fui fundador da "Companhia Terminal" que resultou da junção de todos os "Delegados de Batalhão" (lembras-te?) a que se juntaram uns tantos "piras" - milicianos e malta dos pupilos do exército - vindos directamente de Lisboa (administração militar).

As nossas instalações - Quinta do Fim do Mundo, assim chamada por estar nas traseiras do cemitério da cidade - eram as da antiga fábrica de cana da Casa Gouveia. Ficavam bem por trás da Intendência e ao lado do armazém de medicamentos/produtos farmacêuticos do Batalhão Saúde.

Como sabes, os "Delegados" tinham total autonomia. A Delegação era formada normalmente pelos seguintes meios humanos e materiais: um Sargento ou Furriel, um Cabo, dois Soldados motoristas, um Unimog 404 e um Jipe. Esta era a minha formação (BCaç 3884 - Bafatá), talvez a mais numerosa, contudo as diferenças, se existiam, eram poucas.

Com o avolumar da guerra, tornou-se necessária uma coordenação efectiva dos parcos meios humanos e logísticos - barcos, barcaças, viaturas e aviões. Todo era necessário!

As Delegações requisitavam e, devido à sua autonomia, qualquer um dos meios de transporte referidos quando bem entendesse, por exemplo: em alturas diferentes ou quase em simultâneo seguia para Bambadinca carregamento para o sector Bafatá, no dia seguinte para Nova Lamego e porque não para Piche?

Falei dos sectores Leste l e Leste ll como poderia falar da zona Sul ou de Farim/Cacheu.

Surge assim a Companhia Terminal com o objectivo de coordenar e planificar toda acção das diversas Delegações.

A Companhia Terminal não era uma verdadeira Companhia, pelo menos na sua organização e estrutura. É certo que tinha um Capitão SG – Herman Schultz, não como Cmdt, mas como Coordenador, coadjuvado por dois oficiais; uns quantos argentos/furriéis piras e por todas as Delegações de Batalhão/Companhia. A esta grande equipa, foi ainda acrescentado todo o nosso parque auto.

A partir da sua formação, talvez Outubro/Novembro de 1972 (não tenho de momento a certeza - os documentos estão na minha casa de Ponte de Lima), todos os "abastecimentos" passaram a ser feitos em conjunto - na gíria actual "Serviços Partilhados", ou seja, abastecimento/carregamento de barcos ou aviões feito em simultâneo (ex. Bambadinca/Galomaro ou Bafatá/Nova Lamego ou Nova Lamego/Piche).

Qualquer combinação é possível. Já não servíamos o "nosso" Batalhão, mas qualquer um que necessitasse do nosso apoio. Se na minha anterior missão de Delegado, apenas requisitava, organizava, transportava, acompanhava as "coisas" para o meu Batalhão por barco até ao Xime ou Bambadinca e de avião para Bafatá, passei com a Companhia Terminal a ir, para além das referidas, a Aldeia Formosa, Nova Lamego, etc.

Para o Daniel Vieira, aqui vão alguns dos nomes que de momento me vem à memória: Cap Schultz, Alf Neves, Furriéis Catana, Mealha, Grenho, Botelho, Mestre, Ferreira, Aarão, Pinheiro, Soldados Soares, Melo e Pereira.

Mantenho, com alguns deles fortes laços de amizade nomeadamente com: o Catana, o Mealha, o Grenho, o Aarão, o Soares e o Melo.

Manuel Oliveira Pereira

PS - Deixo aqui algumas extractos da realidade "Terminal" com reprodução de uma das páginas da minha caderneta e algumas fotos – só as lúdicas.




Na entrega dos abastecimentos no porto de Bambadinca.



O Manuel Oliveira Pereira na parada do quartel de Bambadinca.



Geba acima a caminho de Xime/Bambadinca.



O Oliveira Pereira no "espaço" Compª. Terminal em Bissau.



O Oliveira Pereira com o Mealha.



E com o Melo, no "espaço" Compª. Terminal em Bissau.




Da Caderneta do Oliveira Pereira, referência Companhia Terminal.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1775: O Nosso Livro de Visitas: Altamiro Claro, ex-Presidente da CM Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais da CCAÇ 3548 / BCAÇ 3884

Guiné > Zona Leste > Geba > CART 1690 (1967/69) > Croqui do monumento erigido, em Geba, aos "mortos que tombaram pela pátria"... Em 1995, a jornalista Diana Andringa visitou Geba e escreveu, a propósito deste monumento, semi-destruído, uma belíssima peça, pungente, no Público, de 10 de Junho de 1995, que merece ser retranscrita (1). Ainda recentemente ela me contactou, por telemóvel, por causa de um projecto cinematográfico que tinha em mãos, com filmagens na Guiné-Bissau, em colaboração com o conhecido realizador Flora Gomes, autor de Nha Fala (2002). Desejo, a ambos, boa sorte. Infelizmente não pude ajudá-la muito, com contactos, por estar fora de Lisboa.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.

Guiné > Região de Bafatá > Geba > 2001 > O ex-presidente da Câmara Municipal de Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais Altamiro Claro junto aos restos do monumento erigido em Geba aos mortos e desaparecidos da CART 1690, a que pertenceu, em 1967, o nosso camarada A. Marques Lopes.

Guiné > Região de Bafatá > Sare Banda > 2001 > O ex-presidente da Câmara Municipal de Chaves e ex-Alf Mil Op Especiais Altamiro Claro, em Saré Banda (vd. Carta de Banjara).

Fotos: © Altamiro Claro (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem de Altamiro Claro:

Caro Camarada:

Só agora tomei conhecimento do teu blogue, que desde logo despertou em mim um enorme entusiasmo.

Chamo-me Altamiro R. Claro e também eu estive na Guiné entre 1972/74, mais concretamente em Geba, como Alferes Miliciano de Operações Especiais, pertencendo à CCAÇ 3548, do BCAÇ 3884 (2).

Chamou-me especial atenção no teu blogue anterior (Abril 2005 / Maio 2006 ) as crónicas do A. Marques Lopes sobre a CART 1690 que também esteve em Geba e em especial "Guiné 69/71 - XLVI : Em memória dos Bravos de Geba..." (3), onde nos fala dos mortos e desaparecidos da sua companhia e do monumento que então erigiram na sede de companhia.

Pois bem, no ano de 2001, quando eu exercia as funções de Presidente da Câmara de Chaves, fiz uma geminação entre Chaves e Bafatá e desloquei-me à Guiné, tendo visitado Geba, Sare Banda e Cantacunda, lugares referenciados pelo Marques Lopes.

Envio duas fotos tiradas, uma em Geba junto aos destroços do dito monumento e outra em Sare Banda.

Voltarei a contactar-vos.

Um grande abraço para todos os camaradas da Guiné.

Altamiro Claro


2. Comentário do editor do blogue:

Camarada Altamiro: És bem vindo. Fazendo jus à vossa proverbial hospitalidade transmontana, direi apenas: Obrigado, amigo, entra, a tabanca é grande e é toda tua. L.G.

3. Comengário postreior do A. Marques Lopes:

Caros camaradas: As minhas muito boas vindas ao Altamiro Claro, da CCAÇ 3548, que se designou por Panteras de Geba. Andou por onde eu andei e é bom tê-lo por cá.
Um abraço de boas vindas.


________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LXXIII: Antologia (4): 'Homenagem aos mortos que tombaram pela pátria': Geba, 1995 (Diana Andringa)

Mortos. Estes nomes não podem ser senão de mortos. Guimarães, ...ndo Fernandes. Carlos A. Peixoto. ...ul C. Ferreira, ...ostinho Câmara, ...o Alves Aguiar, ...ime M.N. Estevão, ...sé A. V. Sousa, ...tónio D. Gomes.

Tudo em redor, aliás, fala de morte. As paredes em derrocada do que terá sido um quartel português. As viaturas a apodrecer sob o intenso sol africano. Os cacos de garrafas de cerveja. (Bebidas para enganar o medo? Suspensas por arame para, tinindo umas contra as outra, despertar os que dormissem ainda?).

E esta pedra caída, tumular.

Vivos, apenas os meninos que se cutucam, sorrindo, a olhar para nós, estranhos fotógrafos deste cemitério de metal e pedra.

A outra pedra, de pé, tem nomes de cidades, vilas, aldeias: Lisboa. S. Tirso. Moçâmedes. Alcobaça. Madeira. (Nas ilhas não haverá também povoações?) Ponte de Lima. Vila Nova de Ourem. Vila Pouca de Aguiar. Bissau. O tempo, ou a guerra, quebrou-lhe a parte de cima, e agora é uma pirâmide truncada, rasgada do lado direito, onde se inscrevem as primeiras letras dos postos, ou dos nomes, dos naturais dessas terras, que presumimos mortos.

De novo a primeira pedra, a que jaz por terra. A frente dos nomes dos que se presumem ter morrido, inscrevem-se o que supomos serem as datas dessas mortes: 1967, 1968. A última, na pedra, não em tempo, sobressalta-me: 21 de Agosto de 1967. Fiz vinte anos nesse dia. Nesse mesmo dia morreu António D. Gomes. Teria feito, sequer, os vinte anos?

Lembro-me de ter feito vinte anos. Das prendas dos meus pais. E pergunto-me como terão os pais do soldado António D. Gomes suportado a morte do seu filho. Se terão chegado um dia a conhecer este local onde uma pedra caída por terra assinala a data em que o perderam.

"Nós enterramos os nossos mortos nas nossas aldeias, ao lado das nossas casas... Os portugueses deveriam ter, também, um lugar para honrar os seus mortos, os que morreram aqui, durante a guerra", dissera-me, algumas horas antes, um antigo adversário. Aqui. Tão longe de casa, tão longe dos seus. Longe de mais para que possam trazer-lhes flores, arranjar-lhes as campas, preservar-lhes a memória.

Olho de novo as pedras, tentando compreender como se juntavam. Será a que jaz por terra a continuação da outra? Releio as terras e os nomes. Câmara pode ser da Madeira... Será mesmo? Sim. Lá estão em frente de Madeira o posto, sold., e as primeiras letras do seu nome: Ag...-

Agora cada morto tem o posto e a terra onde nasceu, excepto o primeiro, que parece ser de Lisboa, mas cujo posto e nome próprio se perderam, e João Alves Aguiar, de Ponte de Lima, a que o tempo corroeu o posto. Dois alferes, um furriel, sete soldados. Em cima, fragmentado, aquilo que parece a indicação do regimento a que pertenciam: ...RAL-1. ...Combate.

Postas assim as duas pedras em conjunto, apercebo-me de que o soldado que morreu no dia dos meus vinte anos era de Bissau, e de certa forma isso tranquiliza-me, porque não está, afinal, tão longe de casa- como se isso tivesse alguma importância depois de se estar morto, como se me tivesse contagiado essa lista de terras inscrita sobre a pedra, ou outras, sobre outras pedras encontradas ao longo da viagem, onde outros soldados, cabos, furriéis, escreveram como se a naturalidade fosse a sua primeira identificação e a mais forte, o nome da terra natal, primeiro, e só depois o posto, o nome, a data em que escreviam, por vezes uma frase de desesperança, algo como "até quando Deus quiser" — como que temendo que esse "até" fosse curtíssimo, coisa de poucas horas, minutos, talvez, e houvesse que inscrever urgentemente, sobre esses caminhos, placas, pontes, esse sinal de vida e de memória.

Parece estranho que alguém possa ter tido medo aqui, neste local tão calmo, com o tempo suspenso e o silêncio apenas cortado pelo ruído persistente das cigarras. É difícil imaginar, enquanto os meninos se agrupam à nossa volta, curiosos do que fazemos e olhamos, que em tempos houve aqui tiros e gemidos — e homens cumprindo a triste tarefa de escrever sobre estas pedras os nomes dos companheiros mortos.

Um pouco mais adiante, numa das paredes que ainda se mantêm de pé, alguém desenhou um rinoceronte e um leão. Tê-los-á visto realmente? Tê-los-á imaginado? Em frente, sobre uma paisagem aparentemente urbana de prédios e chaminés, voa uma ave. Uma gaivota? Uma pomba? Um símbolo de paz? Um piscar de olho a esse adversário que, a todo o momento, lembrava que a sua luta era "contra o colonialismo português e não contra o povo de Portugal"? E que, muito antes de disparar o primeiro tiro, advertira: "A via pela qual vai ser feita a liquidação total do colonialismo português na Guiné-Bissau e em Cabo Verde depende exclusivamente do colonialismo português. (...) Ainda não é tarde para proceder à liquidação pacífica da dominação colonial portuguesa nas nossas terras. A menos que o Governo português queira arrastar o povo de Portugal para o desastre de uma guerra colonial."

"O desastre de uma guerra colonial". Legenda para fotografia de pedras com listas de mortos, veículos destruídos, quartéis em derrocada — e, contrastando, os sorrisos dos meninos a dar-nos as boas-vindas.

Todos os anos, pelo 10 de Junho — esse dia que o regime colonial-fascista celebrava como Dia da Raça, e em que condecorava, no Terreiro do Paço, os pais, as viúvas e os órfãos dos militares caídos em combate —, ressuscitam algumas vozes saudosas do Império, a criticar a descolonizaçáo e a independência das ex-colónias portuguesas. Fazem-no, muitas vezes, usando a memória dos soldados mortos na guerra colonial. Escamoteando sempre que essas mortes se deveram, exclusivamente, à intransigência de um regime incapaz de compreender a inevitabilidade das independências, e à teimosia de um homem que, nunca tendo posto um pé em África, cuidava saber, bem melhor do que eles, o que melhor convinha aos africanos.

Releio a lista de mortos sobre a pedra e pergunto-me se, vinte anos depois, não será tempo de aceitar, claramente, que foram esses os únicos responsáveis dessas mortes... ».

Diana Andringa. Público. 10 e Junho de 1995.

(2) Sobre o BCAÇ 3884 (1972/74), vd. posts de:

9 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXIV: Camaradas do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74), procuram-se! (Maurício Nunes Vieira)

17 Outubro 2005 > Guiné 63/74 - CCXLV: Notícias do BCAÇ 3884 (Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74) (Manuel Oliveira Pereira)

Estandarte do BCAÇ 3884 (Bafatá, Contuboel, Geba, Fanjonquito, 1972/74)

Foto: © Oliveira Pereira (2005). Direitos reservados.

(3) Vd. post de 5 de Junho 2005 > Guiné 69/71 - XLVI: Em memória dos bravos de Geba... (A. Marques Lopes)

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1706: No 25 de Abril de 1974 eu estava lá (2): Em Galomaro, região de Bafatá (Manuel Pereira, CCAÇ 3547 / BCAÇ 3884)

1. Depoimento do camarada Manuel Pereira, ex-Fur Mil do CCAÇ 3547, sobre o 25 de Abril de 1974 na Guiné (1):

Bom dia amigos Tertulianos,

Eu sou um dos muitos que a alvorada de Abril apanhou na Guiné. 

O meu batalhão terminou a sua Comissão a 25 de Dezembro de 1973, mas por birra do Spínola a quem o Governo não atribuía mais tropa para a região (a fábrica estava a falir... Lembro que uma companhia que se destinava a S.Tomé, foi desviada pelos Fiats (?) para a Guiné – fazia parte dela um jogador famoso do F C Porto - Lemos), obrigou os velhinhos a adiarem o seu retorno à Metrópole.

 Viemos (eu vim mais tarde) a 30 de Junho de 1974.

Dizia eu, que estava lá. É verdade, no dia 25 de Abril estava em reforço do Batalhão de Galomaro e só depois a 28 ou 29 é que foi com o meu Grupo ocupar as instalações abandonadas do Dulombi. 

Chorei de raiva (ninguém viu), mas foi. Já no Dulombi sou informado, por alguém do MFA, que o Coronel Tir Cmd de Galomaro, com quem sempre me incompatibilizava nos briefings, tinha sido detido e levado de Galomaro. Abandonei o Dulombi a 29 de Maio e neste aquartelamento apenas ficou uma secção de milícia.

Sobre o MFA e a nossa participação – o BCAÇ 3884 –, enquanto força oculta do mesmo, posso adiantar que a nossa missão caso o Movimento falhasse na Metrópole, seria – todos Cmd de Companhia estavam ao corrente – a sublevação, arregimentar outras unidades, deslocar-nos para Norte, passarmos a fronteira (havia contactos com oficias do exército do Senegal) e daí reentrarmos na Guiné talvez por Colina do Norte, Farim, Mansoa ou Bula e por fim Bissau.

Felizmente não foi necessário. Muitos de nós, eventualmente, teríamos caído. Nem todos estariam de acordo com as nossas opções. Para aqueles que de forma generosa se voluntariaram para esta arrojada missão, o meu (nosso) eterno agradecimento. 

Mesmo que os três D não se tenham ainda realizado – fica a esperança –digo, VALEU A PENA. VIVA O 25 de ABRIL!

Documentação e protagonistas directos seguirão num próximo capítulo.

Um abraço a Todos e particularmente aos que estarão em Pombal.
Manuel Pereira
Ex-Fur Mil da
CCAÇ 3547 - Os Répteis de Contuboel, 1972/74
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post anterior > 27 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1705: Em 25 de Abril de 1974 eu estava lá (1): Em Cansissé, região do Gabu (Américo Marques, 3ª CART do BART 6523)

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Guiné 63/74 - P1265: Recordações do ex-Alf Rainha (Xaneco, para os amigos), da CCAÇ 3490 (Saltinho), morto há 20 anos (Maurício Vieira, CCS/BCAÇ 3884)

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Guiné > Zona Leste > Bafatá > CCS do BCAÇ 3884 (1972/74) > O Mauríco Vieira nos arredores de uma tabanca de Bafatá. Ele está num campo de cultivo que eu não sou capaz de reconhecer. Amendoím (mancarra) ? De que cor era a flor da mancarra ? O comandante do seu batalhão era o tenente-coronel Correia de Campos , um grande militar já aqui evocado e elogiado por mais do que um dos nossos tertulianos (1) (LG).

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O ex-soldado de transmissões Maurício Nunes Vieira, nosso tertuliano desde Outubro de 2005. Trabalha em Sintra, na respectiva Câmara Municipal. Procura memórias do seu amigo Xaneco.

Fotos: © Maurício Vieira(2006). Direitos reservados. Foto alojada no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


1. Mensagem do Maurício Vieira (com quem já falei uma vez ao telefone):

Camarada Luís Graça, quando colocas as minhas fotos na Fotogaleria? Julgo que chegaram em boas condições, aliás já comprovado por ti, pelo que gostaria de as ver lá, não obstante compreender as inúmeras tarefas que tens no dia a dia, são emails e muito trabalho que te enviam.

Aproveito para lançar um apelo, a alguém que tivesse privado ou simplesmente conhecido o alferes Rainha (Xaneco):

Nome completo: Alexandrino José Fialho Correia Rainha.
Unidade BCAÇ 3872 - Galomaro (1972/74); CCAÇ 3490 - Saltinho (O Cmdt de Companhia era o capitão Lourenço) (2).

Lanço um apelo aos que o conheciam. Foi assassinado há quase vinte anos, era um grande amigo e leal companheiro. Julgo que o Sousa Castro, o Albano Costa e o Luis Carvalhido poderão ajudar. Desde já o meu muito obrigado a todos pelas eventuais informações que me possam prestar.

Um dia destes vou-te conhecer pessoalmente, será para mim uma honra poder conviver com alguém que, de alma e coração, muito tem contribuído para unir camaradas que sofreram na pele as agruras da guerra colonial. Um abraço e até breve.

Maurício Vieira 
CCS/BCAÇ 3884
Bafatá 72/74

 
2. Comentário de L.G.:

Tenho cá as tuas fotos desde 2 de Outubro de 2006. Estão OK e já foram inseridas na fotogaleria. Já lá estás, todo janota: podes mostrar os netos, que ainda são os únicos que te ouvem, te dão importância e te vão chamar herói...

Sobre o teu pedido àcerca do Rainha, já agora podias dizer-nos em que circunstâncias ele foi assassinado, há 20 anos. Sobre a minha modesta pessoa, só posso dizer-te que faço a minha obrigação... Mas as tuas palavras, simples e sentidas, são também um bom incentivo para levar para a frente, com a colaboração dos cento e tal camaradas e amigos que já temos, este projecto, bonito e solidário, de nos pormos todos a falar em voz alta, antes de demais uns para os outros, na nossa caserna... Bem hajas, pela tua contribuição, amizade e camaradagem.
Aparece, quando te apetecer. Sabes onde trabalho, sabes o número de telefone do meu gabinete de trabalho, na Escola Nacional de Saúde Pública, na Av Padre Cruz, junto ao Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a seguir ao Estádio do Sporting e da estação de serviço da BP: Gabinete 2A 47, telefone 21 751 21 38 (directo) (habitualmente, das 8.30h às 16.30h).

 
3. Esclarecimento imediato do Maurício Vieira:
 
Caro Luis Graça: 
O Alf Rainha (Em Carrazeda de Ansiães, Trás-os-Montes, tratávamo-lo por Xaneco) era uma pessoa muito popular, divertida e amigo do seu amigo. O seu pai era farmacêutico, tinha uma irmã também farmacêutica, possuíam em Carrazeda de Ansiães duas Farmácias [uma delas, a Farmácia Rainha]. Ele era, enfim, de família abastada.

Tinham uns terrenos que confinavam com um de um vizinho pouco recomendável, conflituoso e quase sempre com o álcool. Um dia o tal indivíduo implicou com o Rainha nesses terrenos e, acto contínuo, puxou da pistola e disparou à queima-roupa, tendo o meu amigo morte imediata.

Sem exagero, todo o concelho chorou a sua morte, era muito benemérito, deixou órfãos uma filha de 11 anos e um filho de 9, a esposa é fisioterapeuta, de forma que com o seu trabalho e património (que felizmente possuíam), conseguiu formá-los, a filha farmacêutica como é tradição da família. Eis, em resumo, o trágico fim de quem era muito querido e popular.

Um abraço
Maurício Vieira

 
4. Comentário de L.G.:

Essa estória do teu amigo e nosso camarada Rainha é triste. Como é que um homem, que sobreviveu à guerra da Guiné - o nosso Vietname - vai morrer, deixa-se morrer, de morte matada, na sua terra, em Trás-os-Montes... Não vou especular sobre a cultura da honra que leva, por vezes o transmontano a puxar de armas de fogo para resolver conflitos que ele acha insanáveis noutras instâncias e que têm a ver com o orgulho de macho, a territorialidade, a propriedade, a honra...

Seguramente, temos aqui tertulianos que conheceram o teu amigo (e, presumo, teu conterrâneo) Xaneco (aliás, Rainha). Há camaradas nossos que o devem ter conhecido, no Saltinho, a começar pela malta da sua companhia, como o Joaquim Guimarães (que vive hoje nos EUA)... Mas também malta de outras unidades que conviveram, seguramente, com ele: o Paulo Santiago (do Pel Caç Nat 53), o Martins Julião e o Carlos Santos (da CCAÇ 2701), e outros.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 9 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXIV: Camaradas do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74), procuram-se!

(...) "Gostaria de contactar com ex-combatentes do BCAÇ 3884, do qual faziam parte a CCAÇ 3547, CCAÇ 3548 e CCAÇ 3549, estacionadas em Geba, Fajonquito e Contuboel, respectivamente .

"Eu fazia parte da CCS, que estava sedeada em Bafatá (1972/74). Era comandante o tenente coronel Correia de Campos, o 2º comandante era o conhecido major Vargas (ligado ao Ginásio Clube Português).

"Eu era radiotelegrafista (...). Telemóvel: 914614074; Telefone de serviço > 219236088 (Câmara Municipal de Sintra)" (...).
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Notas de L.G.:

(1) Sobre a figura do então tenente-coronel Correia de Campos, um dos heróis de Guidaje, vd. posts de:

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1235: Coronel Correia de Campos: um homem de grande coragem em Sambuiá e Guidaje (A.Marques Lopes)

(...) "Eu conheci o tenente-coronel António Correia de Campos num dia de 1968, quando eu estava com a CCAÇ3 de Barro, durante uma operação realizada no corredor de Sambuiá e por ele comandada (foi nessa altura também o comandante do COP3).

"No meio do fogachal de uma emboscada vi a sua figura insólita, para as circunstâncias, de pingalim de cavaleiro, pistola e coldre à cowboy, seguros com um fio à volta da coxa direita, sempre em pé e gritando:
- O morteiro está à direita, uma bazucada para lá!... Fogo intenso para o lado esquerdo, é lá que está o RPG!" (...)

28 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1220: Guidaje, Maio de 1973: o depoimento do comandante de um destacamento de fuzileiros especiais (Alves de Jesus)

24 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1210: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (6): Guidaje ? Nunca mais!...

(...) "Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o Coronel Correia de Campos, que comandava o COP3 ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.

" (...) O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. CDurante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento" (...).
 

domingo, 9 de outubro de 2005

Guiné 63/74 - P213: Em busca de: Camaradas do BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972/74), procuram-se! (Maurício Nunes Vieira)

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > 1996:
Ponte sobre o rio Geba na estrada Bafatá-Geba.

© Humberto Reis (2005) (ex-Fur Mil Reis, da CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)

1. Texto do Maurício Nunes Vieira:

Gostaria de contactar com ex-combatentes do BCAÇ 3884, do qual faziam parte a CCAÇ 3547, CCAÇ 3548 e CCAÇ 3549, estacionadas em Geba, Fajonquito e Contuboel, respectivamente (1). Eu fazia parte da CCS, que estava sediada em Bafatá (1972/74). Era comandante o tenente coronel Correia de Campos,o 2º comandante era o conhecido major Vargas (ligado ao Ginásio Clube Português).

Eu era radiotelegrafista. Recordo entre outros o Machado e o Freitas, de Guimarães; o Rato, da Vidigueira; o escriturário Pais, de Lisboa, o Martins, também de Lisboa, além do Faria, do Luis Catarino, da Vidigueira, do Martins, de Vila Real, do furriel Alves, não esquecendo o nosso furriel Martins, de transmissões.

Agradecia contacto para e-mail:
maunuvi@hotmail.com

Telemóvel > 914614074
Telefone de serviço > 219236088 (Câmara Municipal de Sintra)

Maurício Nunes Vieira

Um abraço a todos os ex-combatentes, especialmente aos que sofreram na Guiné.


2. Comentário de L.G.:

Amigos e camaradas de tertúlia:

Temos um aqui mais um camarada que quer entrar para a tertúlia, presumo... Para já quer saber notícias dos antigos camaradas do seu BCAÇ 3884 (Bafatá, 1972-1974)... Quem se lembra deste Batalhão ? Quem é deste tempo e da região leste é o Sousa de Castro, o Manuel Ferreira, o Luís Carvalhido e outros tertulianos...

PS - Os periquitos, para entrar na tertúlia, têm que mandar uma foto antiga e contar uma estória... Ficou assim combinado... O Maurício está dispendado da estória, porque já nos deu aqui uma série de elementos... Em contrapartida, deve-nos pelo menos uma (boa) foto, digitalizada... De resto, será bem vindo,se ele quiser fazer parte deste grupo (que jé é um grupo de combate reforçado mas ainda não chegou a companhia e muito menos a batalhão).


3. Encontrei na Net uma referência a este Batalhão, o BCAÇ 3884. Trata-se de um comentário, inserido no livro de visitas da CCAÇ 3378 - Os Kimbas do Olossato (1971/1973). Aqui o reproduzo:

M. Oliveira Pereira (24-04-2003 - 12:24:10 AM)

Camarada ex-combatente,

Fui Furriel Miliciano. Tenho desde há algum tempo acompanhado a vossa página e pela qual vos dou os meus parabéns. Seguindo o vosso exemplo, estou também a elaborar uma dedicada ao meu Batalhão (como informação geral) e em particular à minha Companhia (CCAÇ 3547).

Estivémos na Guiné entre Março de 72 e Julho de 74. A sede do BCAÇ 3884 (CCS) estava sedeada em Bafatá e as companhias operacionais 3547, 3548 e 3549, respectivamente em Contuboel, Geba e Fajonquito, no Leste da Guiné. Muitas foram as localidades / tabancas palmilhadas e ocupadas [por nós]: Cumeré, Bafatá, Bambadinca Tabanca, Sare Bacar, Nova Lamego, Medina Mandinga, Galomaro, Dulombi e claro está CONTUBOEL e SONACO.

Desde o nosso regresso que, de uma forma ou de outra, nos temos encontrado. A CCAÇ 3547 [Contuboel], pioneira nestas andanças, já vai no seu 26ª encontro; a 3548 [Geba] sete ou oito vezes; a 3549 [Fajonquito] tomou lhe o gosto e também já fez o seu 5º convívio.

Também realço o facto de um grupo do qual fiz parte, constituído por dois ou três elementos das ex-companhias, aproveitando a experiência da CCAÇ 3547, organizaram com êxito o Encontro de todo o Ex-Batalhão na cidade de Chaves, em comemoração do 25º aniversário do nosso retorno.

Foi uma festa que será difícil esquecer pois as mais de 700 pessoas presentes no evento, vindas de todas as partes do mundo e aqueles que, embora não presentes fisicamente, tiveram a gentileza de, aproveitando as novas tecnologias, se porem em contacto com os já carecas, barrigudos e desdentados ex-companheiros.

Deixando agora de lado a minha/nossa vida de companhia/batalhão e enquanto a nossa página não é activada (2), pedia que fosse informado o nosso próximo encontro, a saber: A Companhia de Caçadores 3547, Os Répteis de Contuboel , vão ter o seu 26º convívio no próximo dia 7 de Junho na região de Santarém, mais concretamente na Estação Zootécnica Nacional, na localidade de Vale de Santarém. O ponto de encontro será pelas 10.30. horas na estação da CP em Santarém. Contactos: Vitorino (Santarém) telefones 919 992 835 (a qualquer hora) e 243 760 067 (telefone de casa, depois das 20.30 horas)(3)

O nosso muito obrigado.
Manuel Oliveira Pereira
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Notas de L.G.

(1) Para uma localização destas povoações da Guiné-Bissau, na zona leste, a norte de Bafatá, vd. a carta da antiga província portuguesa da Guiné (1961), dos Serviços Cartográficos do Exército. Fajonquito ficava a noroeste de Contuboel, já perto da fronteira com o Senegal.

(2) Vd sítio da CCAÇ 3547 (Contuboel, 1972/74) (em construção)

(2) No sítio da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, no resepctivo "ponto de encontro", há mais informação sobre esta unidade:

Companhia de Caçadores 3547 - "Répteis de Contuboel" (Guiné 1972/74)> 28º encontro, em Ponte de Lima [em 2005]. Contactos - M. Oliveira Pereira: 96 412 88 42, mailto:ccac3547repteis@sapo.pt