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quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21654: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (12): A "cunha" da mana de Salazar, texto de Vargas Cardoso, cor inf ref, ex-comandante da CCAÇ 2402, Có, Mansabá e Olossato, 1968/70... Mais uma pequena homenagem à memória do nosso Raul Albino (1945-2020)


Guiné > Região do Oio > Có > CCAC 2402 (1968/70) > s/d > De pé: alf mil Francisco Henriques da Silva, alf mil Raul Albino e Cap Vargas Cardoso

Foto (e legenda): © Raul Albino (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. O tema das "cunhas" é pouco natalício... Mas presta-se também à bonomia e ao bom humor próprios da época natalícia.. O cor inf ref Vargas Cardoso entregou ao Raul Albino esta história, que tem tanto de burlesco como de inefável (incitando por isso,  ao riso amarelo); foi, juntamente com mais uma vintena de textos, o seu contributo para o volume II das Memórias da CCAÇ 2402, cuja coordenação editorial esteve a cargo do Raul Albino. 

Tenho um exmplar desse volume, oferta pessoal do nosso saudoso amigo e camarada Raul que, como sabem, foi alf mil da CCAÇ 2402. Com a devida vénia ao Vargas Cardoso, e votos  de boas festas, para ele  e os demais camaradas da CCAÇ 2402,  "Os Lynces de Có", reproduzimos aqui a história da cunha da Dona Marta Salazar e do senhor presidente da junta de freguesia de Sta Comba Dão. intercedendo por um dos militares da CCAÇ 2402, companhia   que em junho de 1968 estava já mobilizada para o CTIG e ainda  em formação.no RI 1, Amadora.

Sobre o soldado Sereto (um dos militares a seguir referidos na narrtaiva) há outra história que poderemos reproduzir mais tarde, também da autoria do Vargas Cardoso ("E o Sereto chegou a tempo do embarque"). 

Este militar era um ex-casapaino, "filho de pai alcoólico e orfão de mãe" (sic) , jogador dos júniores do Sporting, que tinha chumbado na recruta do Regimento de Lanceiros 2 (Polícia Militar), e que o cap Vargas Cardoso se empenhou em  "proteger", esperançado em fazer dele "um cidadão útil para a sociedade"... LG



Excerto de : Parte II - Comando da Companhia - Textos de Vargas Cardoso, in "Memórias da CCAÇ 2402 (Guiné 1968/1970), Volume II", mimeog", 2008, páginas inumeradas,il. (Coordenação: Rui Albino). (Com a devida vénia...)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21652: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (11): Homenageando a memória do Raul Albino (1945-2020): Os Natais de 1968, em Có, e 1969, no Olossato, da CCAÇ 2402 (João Bonifácio, ex-fur mil SAM, hoje a viver no Canadá)






Fotos (e legendas): © João Bonifácio (2008. Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa da brochura "Memórias da CCAÇ 2402 (Guiné 1968/1970), Volume II", mimeog", 2008, páginas inumeradas,il. (Coordenação: Raul Albino).


1. As fotos de cima (e as legendas) são do João G. Bonifácio, ex-fur mil SAM, da CCAÇ 2402 (, Mansabá e Olossato, 1968/70), a viver no Canadá. 

Ele foi um dos colaboradores deste II Volume, juntmente com o ex-cap inf Vargas Cardoso e de outros camaradas como o Carlos Sacramemto, Carlos Santiago, Carlos Costa, Joaquim Ramalho, Maurício Esparteiro, António Maria Veríssimo, António Fangueiro da Silva, e o próprio Raul Albino. O João Bonifácio é membro da nossa Tabanca Grande desde 1 de dezembro de 2006 (*)

Em homenagem ao Raul Albino, ex-alf mil da CCAL CC$02, que nos deixou há pouco tempo (, aliás foi o próprio João Bonifácio que nos deu a triste notícia) (**), vamos aqror reproduzir dois aponatmentos sobre o Natal de 1968 e de 1969 (***), da autoria do João, incluidos naquela brochura.

Aproveitamos para desejar a ele e à sua sua família, bem como à família do Raul Albino, mas também aos demais camaradas da CCAÇ 2402,os nossos votos de um Natal e Ano Novo, tão bom quanto possível, dentro dos contrangimentos a que todos estamos sujeitosnos  nossos países, devido à pandemia de Covid-19.(****).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1331: Blogoterapia (9): Quando a Pátria não é Mátria para ti (João Bonifácio, Canadá, exvagomestre da CCAÇ 2402)

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21649: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (10): recordando o meu regresso no T/T Niassa, em 15/12/1973, e desejando o melhor Natal e Ano Novo possíveis para toda a nossa tribo (Ramiro Jesus, ex-fur mil cmd, 35ª CCmds, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)






Guiné > Bissau > 15 de dezembro de 1973 > T/T Niassa > Regresso da 35ª CCmds (Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73)

Fotos ( e legenda): © Ramiro Jesus (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Ramiro Jesus (ex-Fur Mil Comando,  35.ª CComandos, Teixeira Pinto, Bula e Bissau, 1971/73; mora em Aveiro e é membro da nossa Tabanca Grande desde 9/12/2012):

 

Data - 15 dez 20202 13:09 
Assunto - Aniversário do nosso regresso no "Niassa", em 15/12/1973



Bom dia, Luís e restantes editores do nosso blogue.

Para comemorar o 47º. aniversário da minha única "fuga" na guerra da Guiné, celebrado hoje - já que foi a 15/12/73 que embarcámos no Niassa - junto envio umas fotos, tiradas já de dentro do navio, quando este começou a deslizar pelo Geba, satisfazendo o desejo havia tanto tempo alimentado, e que concretizou de vez as informações do "jornal de caserna", que andava farto de nos enganar.

Aproveito para desejar a todos vós e também aos restantes membros da Tribo, o melhor Natal possível, dentro dos limites impostos por este danado deste inimigo, ainda mais esquivo que os (nessa altura) adversários do PAIGC.

Desejo ainda o melhor 2021 para toda a comunidade.

Saúde e um Abraço!
Ramiro Jesus


2. F
icha de unidade > 35ª  Companhia de Comandos


Identificação 35ª CCmds
Unidade Mob: CIOE - Lamego
Cmdt: 
Cap Mil Inf Cmd António Joaquim Alves Ribeiro da Fonseca
Cap Mil Inf Cmd António Rui de Mendonça Andrade
Partida: Embarque em 24nov71; desembarque em 29nov71 (segundo o Ramiro Jesus)
Regresso: Embarque em 15dez73 e desembraque em Lisboa a 23dez73
Divisa: Audaces fortuna juvat (A sorte protege os audazes)

Síntese da Actividade Operacional

(i) Após o desembarque, seguiu em 3dez71 para Teixeira Pinto, a fim de
efectuar o treino operacional com a 26ª CCmds até 4jan72, sendo a imposição
das insígnias de "Comando" efectuada em 14jan72;

(ii) A partir de 6jan72, mantendo-se em Teixeira Pinto, foi atribuída ao
CAOP 1 como subunidade de intervenção e reserva deste agrupamento, tendo
tomado parte em diversas operações e acções de patrulhamento nas regiões
Churo-Caboiana, Burné, Belenguerez e Pijame, entre outras;

(iii) Pelos resultados obtidos e material capturado, destacam-se as operações "Júpiter", "Joeirada 78"e "Jacarandá", entre outras;

(iv) Em 3jan73, foi deslocada para Bula, a fim de actuar como subunidade de
intervenção e reserva do BCav 8320/72, com vista à realização de patrulhamentos,
emboscadas e acções ofensivas nas regiões de Choquemone e Ponta Matar.

(v) Em 15fev73, foi colocada em Brá (Bissau), onde passou a desempenhar
serviços de guarnição, tendo ainda tomado parte em escoltas a colunas de
reabastecimento a Farim e Cacheu e ficando a aguardar o embarque de regresso
a partir de 5dez73.

Observações
Tem História da Unidade (Caixa n." 100 - 2." Div/4." Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pág. 535

_______________

Guiné 61/74 - P21648: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (9): Naquele dia 25 de Dezembro de 1973 (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Ref)

1. Mensagem do nosso camarada António Martins de Matos, TGen PilAV Ref (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74) e autor do livro de memórias "Voando sobre um Ninho de Strelas", com data de 13 de Dezembro de 2020, lembrando o Dia de Natal de 1973:


25 DE DEZEMBRO DE 1973

Naquele dia 25 de Dezembro de 1973 a actividade aérea na BA-12 estava reduzida ao mínimo dos mínimos, apenas as missões de Alerta, para evacuações de DO-27 e AL-III e a parelha dos Fiat G-91, para uma eventual saída de apoio-fogo.

A meio dessa manhã meti-me na minha Yamaha 200 e lá fui, estrada fora, do Largo do Liceu Honório Barreto, onde morava, até à Base da Bissalanca. A minha tarefa para essa tarde estava bem definida, ia entrar de Alerta ao Fiat G-91 a partir das 13:00 e até ao pôr do sol.

Um almoço muito ligeiro no Bar dos pilotos, ainda vinha cheio de fatias douradas, sonhos, bolo-rei e muitas outras iguarias, o resultado de uma noite de consoada passada em casa das minhas vizinhas do andar de baixo, as enfermeiras paraquedistas. Até tinham sido amigas, sabendo da minha paixão por automóveis e em especial por Porsches, no meio de muitos sorrisos malandrecos tinham-me oferecido um 911 da Dinky Toys, à escala 1/43.
Porsch 911 S 2.2 1970 - Escala 1:43

Era Dia de Natal, Feriado, a “Paz entre os homens de boa vontade”, mais uma série de frases feitas, talvez, nesse dia, a guerra tivesse uma pausa. A primeira missão aconteceu por volta das 14:00. No sistema sonoro do Grupo a mensagem a chegar: - “Alerta aos Fiats”.

Corrida às Operações para saber mais alguns detalhes. A solicitação era para Gadamael, lá no Sul, junto à fronteira com a Guiné Conacri. Recolha do capacete e das fitas da Martin-Baker, quase tudo o resto ficou esquecido no armário, o anti-g, o mae-west e o respectivo equipamento de sobrevivência. No bolso do fato de voo, o que sempre me acompanhava, uma bússola e um espelho, se me apeasse e em caso de necessidade, podia tentar indicar a minha posição.

Uma corrida até à Linha da Frente, o condutor do Jeep a buzinar, os mecânicos a correrem, a tirarem as tampas que protegiam as aeronaves, uma rápida entrada nos aviões de alerta.

Quinze minutos depois já estávamos a sobrevoar a zona. Tinham sido atacados, dos lados da fronteira, com morteiro 120mm.

De acordo com a descrição dos militares do Aquartelamento, as granadas tinham caído longe do arame mas sempre em aproximação, como se alguém estivesse a tentar regular o tiro. À nossa chegada tinham-se calado.
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > Vista aérea de Gadamael Porto nos finais do ano de 1971.
© Foto do Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva.

Largámos os foguetes algures. Já há algum tempo que não usava as metralhadoras, o seu calibre era inócuo para quem, na floresta, se pudesse abrigar atrás de uma qualquer palmeira. Para além disso, as placas para-fogo junto à saída dos canos estavam completamente rachadas, bem à vista de todos, com umas feias e atabalhoadas soldaduras, quais cicatrizes. Por causa dessas anomalias, um piloto já se tinha ejectado. No momento de disparar as armas o painel das metralhadoras saltara fora.

Tudo calmo, o pessoal do Aquartelamento satisfeito. Regressámos a Bissalanca com a sensação da ajuda ter ficado um tudo ou nada… incompleta.

Depois de aterrado fui à Secção Fotográfica da Base, quase paredes meias com a Esquadra. Toda aquela zona do Sul da Guiné estava devidamente cartografada e fotografada. Com base no que me haviam dito (morteiro de 120mm e ataque do lado da fronteira), analisei as fotos, tentando descobrir todos os locais possíveis para bases de morteiros de 120mm. No meio de toda aquela floresta encontrei quatro clareiras que se ajustavam ao requisito. Informação em reserva, a ser utilizada numa futura missão na área.

O período de alerta quase a terminar, já me estava a ver de regresso à Yamaha e ao Largo do Liceu, o altifalante do Grupo a transmitir um novo aviso: - “Alerta aos Fiat”.

Outra vez Gadamael. Nova corrida, os mecânicos a apontarem-me uma outra vez o 5437, o avião de alerta, uma outra vez abastecido com os tip-tanks e foguetes. Fiz-lhes sinal para uns outros aviões, uma parelha que estava estacionada ali mesmo ao lado, cada avião com duas bombas de 750 libras, ainda nos cavaletes, mas prontas a serem instaladas. Aqueles mecânicos eram super eficientes, em quinze minutos o armamento foi devidamente acoplado aos aviões e a parelha ficou pronta para voo.
Bissau, 1969 - G-91 R4

Outros quinze minutos e já estávamos de novo na zona. Os do Aquartelamento a confirmarem-me que era outra vez o fdp do 120mm. Apontei a duas das clareiras que tinha identificado nas fotos e, num passe meio esticado, larguei uma bomba em cada uma delas. Depois disse ao meu asa para fazer o mesmo às duas outras clareiras, o que ele, capitão periquito, executou na perfeição.

Um parêntesis para os menos familiarizados com assuntos aeronáuticos; na aviação e independentemente de hierarquias, o mais experiente vai à frente.

Continuando, as bombas de 750 libras eram bem potentes. Ainda a recuperar do passe e sentíamo-las a explodir, o avião até estremecia. Umas outras características, eram bem fuseladas e, ao rebentarem, faziam um enorme cogumelo de pó e detritos, talvez uns vinte metros de altura.

Bombardeamento executado. Ao verificarmos a área para ver se havia alguma reacção de Strelas, descobrimos algo de estranho. No meio de todo aquele verde da floresta havia três rebentamentos castanhos de uns quinze a vinte metros de envergadura e um outro, enorme, uma densa fumarada escura que, no mínimo, deveria ter mais de cinquenta metros de altura.
Algo devia ter explodido lá em baixo, o capitão periquito acabara de fazer o seu primeiro “alvo”.

Regressámos. O voo tinha durado apenas uma meia hora. Como Chefe da Parelha lá tive de ir fazer o respectivo relatório.
Poderia ter escrito três Pings e um Pong, ou, mais de acordo com a sequência da ocorrência, Ping, Ping, PONG, Ping. Não iam perceber. Optei pelas palavras habituais, “Gadamael, junto à fronteira, quatro bombas de 750 lbs, resultados desconhecidos”.
A noite a chegar, o período do Alerta terminado, fomos à nossa vida.

Só semanas mais tarde e através de um relatório da PIDE viemos a saber o resultado daquele grande rebentamento. Uma das bombas fizera explodir as munições que o PAIGC tinha escondido na floresta, para, à noite, irem despejar sobre o Aquartelamento. Pelo menos nessa noite os de Gadamael devem ter dormido descansados.

Outros pensamentos positivos, nunca mais chamei “Pira” ao Capitão Pira.

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Nota do editor

Último poste da série de 15 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21647: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (8): Lisboa resiste, mas também nós resistiremos: Mil alegrias natalícias para todos vós (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil)

Guiné 61/74 - P21647: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (8): Lisboa resiste, mas também nós resistiremos: Mil alegrias natalícias para todos vós (Mário Beja Santos, ex-Alf Mil)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Há mil e uma maneiras de irmos ao encontro dos outros. Ocorreu-me ir à vossa procura numa Lisboa feita néon e fantasma, chovera a potes, era um fim de tarde em recolhimento, silêncio e recolhimento favoreceram este quinhão de recordações que vos ofereço como minha lembrança de Natal, e estava sempre presente nesta viagem a minha lembrança do Natal em Missirá, naquele ano de 1968, parecia que ia tudo faltar para a festa dos meus camaradas e daqueles civis guineenses a viver todas as fadigas da precariedade em permanência e da guerrilha omnipresente.
E chegaram as lembranças dos outros, que nos encheram de alegria, trouxeram calor e paz que eu espero que encontreis nestas iluminações e nos meus votos sinceros de paz, saúde e bonomia.

Abraço do
Mário


Lisboa resiste, mas também nós resistiremos:
Mil alegrias natalícias para todos vós


Mário Beja Santos

6 de dezembro, choveu copiosamente de manhã e no princípio da tarde, depois amainou, aproxima-se o lusco-fusco, está na hora de pôr o meu projeto em andamento, procurar iluminações (em sentido figurado, também) para enviar votos de Boas Festas para quem guarde lembrança, recordar os meus vivos e os meus mortos, passar a ponte baloiçante entre o pretérito, o presente e o almejado futuro. O poeta Manuel Alegre num dos seus livros épicos disse que quando nós desembarcarmos no Rossio é sinal de grandes mudanças, falava do combate à tirania, eu estou no Largo de Camões, onde outrora havia barracas e enxovias, depois urbanizou-se e pôs-se no centro o vate imortal, puseram-lhe crepes no Ultimatum, o Partido Republicano emergia de uma afronta. Aqui decorreu o final de uma das obras-primas de Eça de Queirós, por aqui andarilhei todos os dias, quando trabalhei na Rua do Século, e aproveitava as horas do almoço para bisbilhotar cantos e recantos de inexcedível beleza: subir e descer a Rua da Emenda, percorrer as Chagas, a Rua da Misericórdia, bisbilhotar os alfarrabistas da Rua do Alecrim ou da Calçada do Combro, o resto, em termos de paisagem, estava por minha conta, deram-me o folgado gabinete outrora ocupado por Maria Lamas, era só abrir a janela e tinha o Tejo quase até à foz. Lembranças felizes, evocações felizes, votos felizes para o que a roda da fortuna nos reserva.

Paro diante deste palacete, com o Chiado à frente amistoso, a chispar malícia, foi hotel, consulado, residência de altos representantes, passou a companhia de seguros, tem por vezes belas exposições de artes de uma galeria do rés-do-chão. Ali ao lado, onde é a chiquérrima e sofisticada Hermès, havia a galeria do Diário de Notícias, e quase em frente um quiosque gerido pela Nani e o Vítor Consciência, ali comprei desenhos do Stuart, Amarelhe e Manuel Ribeiro de Pavia, a preços convidativos, um dia o quiosque desapareceu, encontrei a Nani na Feira da Ladra a vender os despojos do quiosque e choramingona, o Vítor finara-se depois de grande sofrimento. E ali perto houve um dos principais cinemas da minha adolescência, o Chiado Terrasse, tinha muitos filmes de capa e espada mas também por ali passavam obras-primas de Hitchcock, John Houston ou John Ford, enfim, reminiscências de todo este espaço que bati a pé, ao longo da minha provecta idade, o mesmo é dizer que vos desejo longa vida, e com muitos aspetos auspiciosos que Deus tem dado à minha.
Por aqui passa a veia cava do Chiado, de baixo para cima e de cima para baixo. Há a Havanesa, a Paris em Lisboa, a Casa David, a Sá da Costa, a Bertrand, as ourivesarias Aliança e Eloy, tudo transformado, embora os espaços possam guardar lembranças da vida febril do passado. Já me postei diante da Basílica dos Mártires, orações telegramáticas para antepassados e vivos, paro agora diante daquele prédio que tem florista à porta e onde no quarto andar funcionou a última tertúlia do Chiado, a Mandíbula de Aço, obra e graça do meu querido amigo Filipe de Sousa, que tinha negócios de fazendas ali mesmo em frente, a Casa Souza, uma atmosfera de arte onde se comia um belo cozido à portuguesa ou uma chispalhada à transmontana, sempre em boa companhia. As lembranças não param e até deu para me especar em frente à Pastelaria Marques, outrora casa de luxo, quando o Ruy Cinatti visitou em casa para conhecer a minha filha Joana, dizendo de chofre que as crianças à nascença são todas iguais, trazia doçarias da Marques e uma linda peça de prata lavrada indiana para a recém-nascida, que continua a estimar tão terna oferta. Do lado esquerdo de quem desce havia a Casa José Alexandre, e logo me ocorre que um ministro me chamou ao gabinete a pedir auxílio, a meio da tarde viria um conceituado embaixador, queria tratá-lo com algum salamaleque, descobrira, atónito, que havia para ali uns copos embaciados e encardidos, eu que tivesse a amabilidade de ir comprar coisa mais digna, em copos de água e cálices de Porto. Lá fui à Casa José Alexandre, fui bem-sucedido. Anos depois, ao mudar de poiso da Praça do Comércio fui para a Avenida da República, ao retirar dossiês que me acompanhariam na viagem dei com copos lascados daquele conjunto adquirido, tinha estoicamente resistido um, desforrei-me, trouxe-o comigo, já chegava de tanto vandalismo e menosprezo por coisa pública. E vamos adiante, há mais luz que nos espera.
A Rua Nova do Almada traz-me à lembrança uma bela exposição que se pôde visitar no Museu Nacional de Arte Antiga que tinha por centro um quadro sobre a Rua Nova dos Mercadores, quando Lisboa tinha fumos de império, especiarias e uma boa percentagem de escravos africanos. Mas também me recordo de uma loja muito concorrida, a Casa Batalha, e do outro lado a Valentim de Carvalho, onde comprei um bom lote de discos de vinil que ficaram em cinzas na Guiné. Arrepio-me sempre quando passo pelo antigo Tribunal da Boa Hora, as vezes que ali fui testemunha para coisa nenhuma, recebia convocatórias para as onze da manhã, e depois vinha o meirinho anunciar que a audiência não teria lugar, receberíamos nova convocatória. E desço para a Rua do Ouro, está bem luminescente o Santander Totta, que conheci como Totta e Açores, quando fui oficial pagador da Agência Militar e vinha buscar em caixas de couro milhões de contos ao Banco de Portugal via às portas deste banco bandos de especuladores a vender ações de lucros prometedores, houve muita gente gulosa que investiu as suas economias neste papel que se veio a demonstrar valer coisa nenhuma, era puro capitalismo de ficção. E daqui vou até à Praça do Município, recordo José Relvas eufórico há 110 anos, como nunca esqueci as suas memórias que me avisaram que existe um oceano entre o sonho e a realidade.
É verdade, fui funcionário público no Terreiro do Paço, subi as escadas do Ministério da Agricultura e num andar superior funcionava o Ministério do Comércio Interno, eu dirigia as relações públicas, para o caso ralações, estamos a falar do tempo em que a inflação tinha dois dígitos, em que os abastecimentos motivavam altas questiúnculas entre partidos e até me lembro de no dia 25 de novembro de 1975 os preclaros membros do governo desapareceram e fiquei com o atendimento telefónico por minha conta, aí para o fim da manhã recebi uma chamada desesperada do Presidente da Câmara do Barreiro a suplicar uma atitude pública para apaziguamento das populações, havia um assalto aos supermercados e mercearias, dizia ele que corria o rumor de que caminhávamos para a guerra civil, agradeci a informação e redigi por minha conta e risco um comunicado que a agência oficial fez divulgar pelos meios de comunicação. Choveu bem todo o dia, já se disse atrás, vou aproveitar os tapetes líquidos para refletir imagens, o Arco da Rua Augusta está bem iluminado, ao contrário do Senhor. D. José que parece vogar num mar de trevas. Ocorreram-me essas imagens, fazem parte deste meu propósito de vos desejar mil alegrias natalícias, festejamos assim juntos o que a pandemia impede, a árvore de Natal parece irradiar calor, é um afago para os olhos, a Lisboa Pombalina está deserta, mas este cone de luz endereça-nos para a paz na terra aos homens de boa vontade.
Que simbólica encontro nestas iluminações da Rua do Ouro? Pois bem, a estrela de Belém, a esperança em melhores tempos, que não nos falta saúde, a curiosidade, o gosto de presentear o outro, a mão estendida para entreajuda. E olhando este céu estrelado, vem-me à mente uns versos de Ruy Cinatti que ainda hoje são um dos meus compassos da vida:

Paz comigo próprio. Paz
que não me contente. Paz
armada ou pacífica, mas paz
que não me iluda. Paz
mítica ou revelada. Paz
que me contagie ou paz
entre mim e os outros. Paz
que me não compare. Paz
ativa, humilde. Paz
que me encha as mãos
e não conspurque. Paz
vocativa: semente, fruto. Paz
na alma. Paz
de Deus que me enamora
só de Deus enamorado.
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21643: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (7): É Natal, é Natal, apesar dos confinamentos (António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74), membro n.º 822 da Tabanca Grande

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21643: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (7): É Natal, é Natal, apesar dos confinamentos (António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74), membro n.º 822 da Tabanca Grande


Guiné > Região de Gabu > Buruntuma > 1972 > Igreja local (*)  > Natal > O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores


Guiné > Bissau > 1973 > 
Uma montra na baixa de Bissau, com decoração natalícia... e provavelmente com animação, a avaliar pelo número de crianças especadas no passeio...

Fotos (e legendas): © António Marreiros (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem de António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74) , membro nº 822 da Tabanca Grande (**):

Data - 12/12/2020, 17:58
Assunto - Mensagem de Natal


 
Amigos:

Hoje recebi esta mensagem natalícia do Carlos Pereira um camarada e amigo dos tempos de Bigene que acho apropriado partilhar com vocês. Oxalá possam abrir este link:
 
Linda Mensagem De Natal, de Audete de Fazio

Entretanto, num álbum encontrei estas duas fotos :

(i) O presépio de barro seco ao sol e pintado com o que havia disponível de cores...Igreja de Buruntuma,  1972;

(ii)  Uma montra em Bissau numa ida à cidade (em 73, quando estava em  Bigene?), de avioneta, em serviço, talvez levantar o dinheiro para pagar a tropa em Bigene...

Lembro-me, nessa ocasião, de visitar um amigo que tinha namorada com família abastada... Lembro-me  do excesso de presentes que as crianças, que ali estavam,  nem apreciaram...

Ah!, como a memória vai ficando enevoada mas de repente uma imagem toma realidade!


É Natal, É Natal ...apesar dos confinamentos! (***)
Felicidade e cuidem-se

António Marreiros
Victoria, Canada
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16049: Na festa dos 12 anos, "manga de tempo", do nosso blogue (8): A bonita e original capelinha de Buruntuma, de estética modernista (José Mota Tavares, ex-alferes mil capelão, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67)

(**) Vd. poste de 9 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21626: Tabanca Grande (506): António Marreiros, natural de Sagres, a viver há 48 anos no Canadá, ex-alf mil em rendição individual, CCaç 3544 (Buruntuma, 1972) e CCAÇ 3 (Bigene e Guidage, 1972/74): senta-se à sombra do nosso poilão no lugar nº 822

sábado, 12 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21636: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (16): Repetindo o prato típico da terra fria transmontana, o "Butelo com casulas...anti-Covid-19", à moda da "Chef" Alice




Tabanca da Lourinhã > 23 de novembro de 2020 >  Um prato típico da "terra fria transmontana", o Butelo com casulas, aqui confeccionado  à moda da "Chef" Alice... Receita para quatro à mesa (2 famílias), com a devida distância de 2 metros... Nada de "tudo à molhada e fé em Deus, como na ceia do Natal"...



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. No dia 23 de março de 2020, há 9 meses atrás, eu escrevia aqui (*):

(...) O que é que vamos comer hoje ?...

Obrigados a ficar em casa, com os restaurantes todos fechados, por todo o lado, devido à pandemia  da COVID-19, esta deve ser uma pergunta que muitos dos nossos leitores começam a fazer, compulsiva e repetidamente...

E os bens essenciais, nomeadamente o pão, os iorgurtes, as frutas,os legumes, o peixe, a carne...começam a escassear no frigorífico e na despensa...Nem todos tiveram tempo (nem dinheiro...) para encher as "arcas frigoríficas", preparando-se para o "estado de emergência", que nos foi imposto, ironicamente, no "Dia do Pai", 19 de março...

É uma pergunta complicada (e que vai começar a ser mais angustiante, nos próximos tempos...) para os pais, que têm ainda filhos menores em casa, para os casais idosos (que não podem nem devem sair de casa, nem sequer para fazer compras...), para quem vive sozinho, mas também para os heróis dos dias de hoje que cuidam de nós e nos protegem (a começar pelos profissionais do SNS, proteção civil, forças de segurança, etc.)... 

 Enfim, uma pergunta complicada para a generalidade dos portugueses e das portuguesas em "tempo de guerra"...

Haveremos de "sair desta"... Mas até lá, é tempo de começar a puxar pela imaginação e "fazer das tripas coração"... Muitos de nós nascemos na "época da fome"... Refiro-me aos nossos pais (nascidos por volta dos anos 20 do séc. XX) mas também à nossa geração, a nós, ex-combatentes da guerra colonial (nascidos nos anos 40). 

Quem de nós, crianças, bebia leite de vaca, pasteurizado ? E quem comia queijo ? E os iorgutes ? E os ovos ? E o pão de trigo ? E o peixe fresco, tirando a "sardinha para três" e o "bacalhau a pataco" ?... Par não falar das "guloseimas"...

 (...) E nós próprios, na Guiné, durante a nossa "comissão de serviço militar"... A pergunta "o que é que vai ser hoje o tacho?", era recorrente, depois de uma noite emboscados, ou de sentinela, ou no regresso de um patrulhamento ofensivo, ou no decurso de uma operação no mato, de dois ou até três dias, a "rapar fome e sede"...

Sonhávamos, acordados, com água, com comida...E no quartel, vingávamo-nos com os petiscos... Quem tinha messe, como os oficiais e sargentos, sempre comia um pouco melhor do que a generalidade das praças... A verdade é que se gastava uma boa parte da energia a resolver o angustiante problema da "bianda": onde comprar (ou "roubar"...) um leitão, um cabrito, uma galinha, uma vaca ?!... Um ou outro caçava ou arranjava caça: lebres, galinhas do mato, gazelas... Que o peixe da bolanha, esse, era intragável...

Estas lembranças vêm.nos à baila, agora que a nossa dieta alimentar é condicionada pela falta de recursos, como os "frescos"...tal como na Guiné há 50 anos atrás.

Talvez por isso não seja má ideia de passarmos a comer também "com os olhos" (...)

  
2. Ao  longo destes 9 meses temos aqui deixado algumas  sugestões gastronómicas, nacionais e internacionais (**), apropriado para combater o "corno...vírus", e sobretudo para que os nossos "vagomestres" e os/as nossos/s cozinheiros/as não deem em doidos/as... (E nós com eles: não há um "bom moral na tropa" sem um bom rancho.)

Uma das sugestões que já aqui apresentámos foi justamente o "Butelo com casulas", um típico prato do nordeste transmontano que eu desconhecia por completo até há uns anos, e de que hoje sou feito fã.... A "chef" Alice trouxe, adotou  e adaptou a receita, há uns anos...Mais difícil é arranjar os ingredientes, o butelo, as casulas...

"Comida dos pobres", em Trás-os-Montes, tal como as "sopas dos ganhões" no Baixo Alentejo,  são hoje "comida gourmet", redescoberta e reiventada pelos "chefs"...

E, em Bragança já há a "Confraria do Butelo e da Casula", com página no Facebook, embora sem dar notícias desde o carnaval de 2019...
 
Recorde-se o que é:

(i) o butelo: enchido grosso, feito com carne e ossos partidos do espinhaço e das costelas do porco, envoltos na bexiga ou no bucho do animal.

(ii) as casulas: v
agens seca do feijão, colhidas ainda verdes e cortadas em pequenos pedaços que secam ao sol e que, depois de demolhados, são cozidos e usados na alimentação, e nomeadamente no célebre "butelo com casulas" (Vd. fotos acima).

É um prato típico para partilhar com os amigos, sobretudo nesta altura do ano... Por causa da pandemia. precisamos de uma mesa grande, para quatro...

Foi o que fizemos há dias, repetindo a dose de há 9 meses atrás, tendo como convidados  os "Duques do Cadaval", régulos da Tabanca do Atira-te ao Mar (Porto das Barcas, Lourinhã) que visitamos também com alguma regularidade...

Desta vez eles vieram à  casa dos "viscondes da Lourinhã"... E a propósito,  hoje é dia de dar os parabéns à Maria do Céu Pinteus, a "duquesa"; já lhe mandei, pelo correio, o soneto que ela merece, por mais um  aninho de vida;  ela e ele, o Joaquim Pinto de Carvalho, os "duques do Cadaval", têm sido, de resto, uns magníficos companheiros de viagem nesta "travessia do deserto da pandemia"; eles e outra gente da "nobreza local", como, por exemplo,  o Jaime Bonifácio Marques da Silva, "marquês do Seixal".
 
Cansados da "guerra" (a pandemia já vai em 9 meses, e está para durar...), nem por isso  podemos "baixar a guarda"... E, a propósito, já encontrei por estas bandas, mais dois "refuguiados de guerra", o José Ramos e o Luis Mourato Oliveira, ex-combatentes na Guiné e membros da Tabanca Grande... Têm cá casa, tal como os "Duques do Cadaval"... Por enquanto a Lourinhã ainda não está na "lista...vermelha".  

E, ainda a propósito, andamos para combinar, com o Luís Mourato Oliveira (que nos arranjou umas batatas "raiz de cana", uma raridade...), uma "batatada de peixe seco"... Temos tudo (, o peixe e as batatas), só falta a data e o local mais convenientes... 

O Luís andou em tempos, com uns amigos da Marteleira, entusiasmado com a ideia, tal como eu, de se criar uma "confraria do peixe seco e da batata raiz de cana", no concelho da Lourinhã... Até já fizeram estatutos!...  A pandemia não tem ajudado a avançar o projecto...
 
 Temos que continuar a alimentarmo-nos bem (,adaptando a "dieta mediterrânica" às circunstâncias), e a fazer algum tipo de exercício (físico e mental), sem nunca descurar as regras de proteção sanitária, enquanto aguardamos a "milagrosa" imunização, a vacina, contra o Sars-CoV2.

E já que chegámos até aqui, camaradas e amigos, não vamos morrer na praia!... Festas, quentes e boas, mas com cautela...! LG

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Guiné 61/74 - P21635: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (6): Votos de Feliz Natal e lembrete sobre o próximo 35.º Encontro do pessoal da CART 3494 / BART 3863 (Xime e Mansambo, 1971/4), em 5 de junho de 2021, em Carapinheira, Montemor-O-Velho (António Sousa de Castro)




1. O nosso grã-tabanqueiro n.º 2, o histórico António Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), minhoto, com mais de 160 referências no nosso blogue, manda-nos o tradicional cartão de boas festas, para toda a Tabanca Grande, o que retribuímos com votos de saúde e longa vida, e um melhor ano de 2021.

Lembra, entretanto,  que já está marcado, desde o ano transacto, o 35.º encontro anual do pessoal da CART 3494: será no dia 5 de junho de 2021, na Carapinheira, Montemor-O-Velho, 

Que se vai mesmo realizar, desde que a senhora dona Covid-19 deixe as tropas abancar... 

Contacto: António Bonito (, nosso grã-tabanqueiro):  telem 96 352 97 64 / telef 233 920 441.
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de dezembro de  2020 >
Guiné 61/74 - P21631: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (5): De Nova Iorque, Queens, "Merry Christmas" para todas as tabancas e tabanqueiros de boa vontade (João e Vilma Crisóstomo)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21631: Boas Festas 2020/21: Em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (5): De Nova Iorque, Queens, "Merry Christmas" para todas as tabancas e tabanqueiros de boa vontade (João e Vilma Crisóstomo)



Foto nº 1 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro de 2020 > Vilma e João Crisóstomo: "Merry Cristmas" para toda a Tabanca Grande e as suas tabancas federadas!


Foto nº 2 > EUA > Nova Iorque > Queens > Novembro  de 2020 > As tradicionais ilumações de Natal na frente da casa de Mr John & Mrs Vilma Crisostomo 


Foto nº 3 > EUA > Nova Iorque > Queens > Novembro  de 2020 >  Os Crisóstomos no seu quintal 


Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de John Crisostomo / João Crisóstomo [ luso-americano, natural de Torres Vedras, conhecido ativista de causas  que muito dizem aos portugueses: Foz Côa, Timor Leste, Aristides Sousa Mendes;  Régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona; ex-alf mil, CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole  e Missirá, 1965/67): vive desde 1975 em Nova Iorque; é casado com a eslovena Vilma desde 2013; tem mais de 125 referências  no nosso blogue]

Data . quinta, 10/12/2020, 10:27


Assunto - Natal e Fim de Ano 2020


Caro Luis Graça e bons amigos e camaradas,

Todos os anos a minha casa é a primeira na minha rua a aparecer toda enfeitada com as luzes de Natal.
Tenho-o feito propositadamente como incentivo para que outros façam o mesmo e a vizinhança fique bonita e acolhedora… 

Este ano, quando alguém me disse que, devido à situação pandémica, não ia pôr nenhumas luzes, eu discordei do raciocínio: exactamente,  no meio de tantas razões para tristezas, há que encontrar e aproveitar tudo o que se apresente que nos "ajude a esquecer” essas tristezas e nos levante os espíritos. E que melhor do que a época de Natal e o fim de ano ? 

Por isso a minha época de Natal este ano começou ainda mais cedo do que o costume: no dia 1º de Novembro , "Dia de Todos os Santos”, os enfeites e luzes de Natal na frente da minha casa estavam prontos (Foto nº 2, acima), para deleite de vizinhos e esporádicos passeantes que não deixavam de me manifestar a sua surpresa e satisfação…

Mas é sobretudo na parte traseira da minha casa que encontro maior satisfação  (Foto nº 3, em cima), sobretudo agora que somos obrigados a viver quase isolados. Mas,  se somos obrigados a viver isolados, mesmo daqueles que nos são mais queridos, isso não se aplica a outros amigos de longa data cuja amizade e presença nos alegram desde há muitos anos: esquilos, pardais, rolas, cardeais, pica-paus e outros bichinhos com quem,logo que mudei para aqui,  comecei a fazer amizades.   


Foto nº 4 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro  de 2020 >  
O quintal dos Crisóstomos: o céu da bicharada

Os meus amigos até chamam por vezes ao meu quintal “o céu da bicharada “..,Eu explico: logo desde o início comecei a dar de comida à passarada que sucedia aparecer no meu quintal. E pelos vistos eles começaram a passar a palavra uns aos outros pois cedo o meu quintal parecia ponto de reunião de pequenos alados, especialmente logo de manhã. (Foto nº 4, acima).

E com os alados vieram os esquilos e, de vez em quando,  visitas de outros pequenos animais roedores como raccoons e possums que também não são maltratados. (Fotos nºs 5 e 6).


Foto nº 5 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro  de 2020 >  
O quintal dos Crisóstomos:  refúgio de esquilos e de outros pequenos mamíferos como "raccoons" [, guaxins,]  e "possums" [, gambás]...


Foto nº 6 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro  de 2020 >  
O quintal dos Crisóstomos:  refúgio da passarada...


Porque o quintal é pequeno, sem espaço para plantação de árvores e coisas assim, veio-me à ideia pôr num canto uma pequena árvore seca que trouxe do parque, que servisse para poiso ou fácil "meio de aterragem" para a bicharada. 

Foi um sucesso.  Sabedores de que havia sempre algo para comer, mesmo no Inverno, eles não deixavam o lugar. Crdo reparei que a árvore era pequena demais para tanta demanda e comecei a acrescentar outros ramos para dar mais espaço…


Foto nº 7 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro  de 2020 >  
O quintal dos Crisóstomos: engenho & arte (1)


Foto nº 8 > EUA > Nova Iorque > Queens > Dezembro  de 2020 >  
O quintal dos Crisóstomos: enegnho & arte (2)

Os meus amigos, que muitas vezes me davam o prazer da sua presença, começaram a chamar a esta geringonça “a árvore frankenstein do João”. E há meses atrás, quando o meu vizinho cortou as várias árvores frondosas que tinha no seu quintal onde a bicharada, sobretudos esquilos,     passavam a maior parte do seu tempo, eu, para que os bichinhos sentissem menos a perca, resolvi acrescentar mais uma e depois mais outras pequenas “árvores geringonças" no meu quintal: simples troncos a que ia acrescentando ramos, sem olhar sequer se condiziam ou não entre si e que fazem agora um engraçado " bosque frankenstein”. (Fotos nºs 7 e 8, acima)

Na falta de outro espaço para “plantar” as árvores,     valeu-me o teto duma “arrecadação” que eu mesmo construi há anos atrás. O nosso “céu da bicharada” que conta agora com seis pequenas árvores, com "pontes aéreas" entre si, é para nós um espetáculo deliciante todas os dias, especialmente de manhã quando todos se apresentam para o rancho geral, o primeiro repasto do dia. 

Que o diga o Rui Chamusco que perante "tanta rola junta, como nunca vi na minha vida”.  não pode resistir e gravou em video o pequeno almoço dos bichinhos no meu quintal no primeiro dia que passou aqui no ano passado.

Que melhor maneira de passar o tempo de confinados? Para ajudar,   montei também um pequeno presépio dentro de casa, que este ano, além de nós, poucos admiradores vai ter, pois não tencionamos convidar ninguém antes que tenha passado esta pandemia. 


Foto nº 9 >Foto nº 1 > EUA > Nova Iorque > Queens > 
Dezembro de 2020 >  João e Vilma com o neto, a filha e o genro

Já o mesmo não sucede com a árvore de Natal que a minha filha montou em sua casa. Para que o meu neto não se sinta traumatizado com o isolamento completo, fomos convidados pela minha filha e aceitámos ir ajudá-lo a enfeitar essa árvore, como temos feito) em anos anteriores. A foto que tirámos então mostra esse feliz momento. (Fot0 nº 9).

A outra foto em que estamos, só eu e a Vilma,  junto do pequeno presépio foi tirada em minha casa (Foto nº 1, em cima).  Na falta de melhor cartão, aceitem este, com as palavras “Merry Christmas” entre nós, como o nosso cartão de Natal para todos os que não terei melhor maneira de contactar.

Como lógico desenvolvimento nesta época, comecei hå muito a chamar os meus amigos por telefone para os tradicionais votos de Natal e ao mesmo tempo para saber deles. Pena é que agora o facebook e outras redes sociais tenham relegado o telefone para segundo ( ou último) lugar. E por isso já fiz cerca de uma centena de tentativas (e muitas mais se seguirão) para os quatro cantos dos mundo do Brasil à Austrália, da Holanda ao Canadá e outros países pelo meio, para aqueles que alguma vez me providenciaram os seus contactos telefónicos e ainda não os mudaram sem me dizer. Entre estes contam-se alguns camaradas da Tabanca Grande, especialmente os da Diáspora. 

Apesar do pouco sucesso numérico, (não chegaram ainda a trinta aqueles a quem consegui falar pessoalmente ) foi para mim uma satisfação muito grande o poder cavaquear com estes meus amigos. 

Uma coisa comum ( além da idade e das mazelas em maior ou menor grau que na nossa idade estão sempre presentes) foi a vontade de partilharem com os outros este sentimento de saudade e de bons desejos.

"Eh, pá, mas que surpresa ouvir a tua voz e ver que te não te esqueceste de mim"...e quando lhes dizia que tento sempre falar pelo telefone e que tinha muitos outros ainda a quem chamar , vinha quase sempre o pedido de uma mensagem : "Olha lá, João, então com que falares, não te esqueças de lhes dar (aos nossos amigos comuns) um abraço meu também".

Portanto, assim como eu na ilha da Madeira, em Portugal, na França, etc,,  eu pedia àqueles a quem falava para partilharem o meu abraço com outros camaradas que eventualmente viessem a contactar e com quem eu não tinha conseguido falar, aqui fica este recado, um abraço de muitos dos nossos amigos comuns com quem falei para todos os que este leiam poste ou deste vierem a ter conhecimento.

Vejo com satisfação pelos postes de todos os dias, dos nossos editores e felizmente de tantos tantos mais ( não vou mencionar nomes pois por falta iria ser terrivelmente injusto como muita gente),     as muitas e variadas contribuições de tantos camaradas e do interesse e intenção evidente de partilharem com outros os seus interesses e até as suas vidas.

Sei que o momento actual quase exige que alguém fale daqui com mais assiduidade. E, de alguma maneira,  como residente em Nova Iorque,  sei que o devia fazer. Tenho pena não saber responder a estas expectativas, que de vez em quando eu sinto existirem . É que ser-me-ia quase impossível falar sem deixar que políticas, crenças e opiniões pessoais, sempre muito subjectivas, mesmo sem eu querer se manifestassem. E eu sei bem que este blogue não é lugar para políticas e similares. 

Mas dentro deste contexto de respeito permito-me partilhar algo que na minha opinião pode explicar e ajudar a compreender o momento em que vivemos, sobretudo aqui nos US. 

A situação actual traz-me à lembrança uma conversa que presenciei, no ano 1977 se me não engano, entre Mrs Jacqueline Kennedy Onassis e o seu convidado de jantar nesse dia, ex-candidato à Presidência dos US em 1972, o   Senador McGovern. Dizia a ex-Primeira Dama, Mrs Onassis,  que a seu ver os Estados Unidos não se podiam comparar com a Europa, onde a acumulação de cultura de muitos séculos tinha resultado numa civilização a todos os níveis extraordinária.  "Nós, os Estados Unidos,  em comparação com a Europa atingimos e estamos já num estado de decadência sem jamais termos atingido uma verdadeira civilização".

Essa conversa ficou-me gravada para sempre. Lembro de na altura me ter dito para os meus botões que não era bem assim. Os Estados Unidos, achava eu, tinham uma civilização essencialmente baseada em valores materiais em que o dinheiro era tudo, muito diferente da europeia, mas de alguma maneira não era caso para se dizer que não tinham uma civilização. 

Verifico agora que estava errado. O decorrer do tempo tem provado que a decadência é um facto real que, com altos e baixos, se tem agravado desde então. A falta em extremo de valores éticos, a existência de um egoísmo muito generalizado e uma ganância desenfreada têm impedido que uma verdadeira civilização tenha florescido nestas paragens, que por outro lado em muitos outros aspectos apresenta 
espetaculares conveniências.

Oxalá esta mentalidade egoísta desapareça em favor de mais senso comum e de maior respeito mútuo. Isto poderá ocasionar que as coisas mudem para melhor. E isso será bem possível, qualquer que seja o partido que traga estabilidade e consiga implantar nos Estados Unidos os valores éticos que estão na base de qualquer comunidade e que possibilitam a existência de uma verdadeira civilização.

De resto foi isso que transmitimos, eu e a Vilma em mensagem de 8 de novembro passado, em mensagem aos nossos amigos e familiares e que tinha por título "Um abraço de alívio de Nova Iorque":

(...) "Não quero deixar de partilhar o que eu e a Vilma sentimos e vivemos neste momento: a grande satisfação por irmos ter brevemente  um novo Presidente. E alívio também, (...) por  sabermos que estamos a chegar ao fim deste confuso e difícil trajecto que temos vivido nestes últimos quatro anos: uma experiência que parece ter tido repercursão e sido vivida de alguma maneira semelhante em muitas partes do mundo. Esperamos confiadamente que todos os habitantes deste nosso pequeno planeta terra que partilhamos, americanos e não americanos pelo mundo fora, possamos entrar brevemente num verdadeiro “Renascimento”, como sucedeu séculos atras após o período negro em que o mundo esteve mergulhado durante grande parte da Idade Média." (...)
 

 
Os meus votos calorosos e um grande abraço (e de minha esposa Vilma também ) para todos.

Nova Iorque, 10 de Dezembro de 2020.
João e Vilma Crisóstomo

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