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sábado, 3 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21411: Da Suécia com saudade (81): Pragmatismos escandinavos: ligar os crematórios às redes centrais de aquecimento das cidades (José Belo)



Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr"; 
vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da 
Tabanca da Lapónia; tem  170 referências 
no nosso blogue

 
1. Mensagem de José Belo:

Date: sexta, 2/10/2020 à(s) 15:12
Subject: Pragmatismos Escandinavos
 

Caro Luís 

Já decorreu mais de uma década e, curioso, procurei saber como teria decorrido o projeto.

Ingenuamente considerei que o mesmo tivesse sido abandonado devido a "explosão" de abaixo assinados opondo-se ao mesmo. A economia, a técnica, os pragmatismos políticos demonstram mais uma vez serem mais fortes que outros valores... secundários.

Solução económica utilizada por algumas Comunas (nome dado aqui  às Câmaras Municipais) na sua busca de diminuir os elevados custos do aquecimento central, gratuito para o cidadão mas, tendo em conta os prolongados invernos com temperaturas bem negativas, extremamente onerosos para o Estado.

A Comuna da cidade de Halmstad, entre outras, apresentou como solução económica o aproveitamento das elevadas temperaturas produzidas aquando do uso dos crematórios.

Esta energia é enviada diretamente para as redes centrais do aquecimento das cidades que, deste modo, economizam avultadas somas,  tendo em conta ser a cremação a forma de funeral mais utilizado na Escandinávia.

O cidadão, confortavelmente instalado no seu sofá frente a uma TV, com temperatura caseira (gratuita) de 22 graus centígrados, deveria ser levado a meditar que tal bem-estar mais não é que o resultante da cremação da avó, pai, irmão, filho ou neto, amigo ou conhecido.

Mais do que macabro na sua simplicidade económico-funcional será o facto de seres humanos serem mais ou menos usados como "lenha" complementar.

Como seria de esperar, tanto os especialistas técnicos das redes de aquecimento como os responsáveis pela cremação, garantem que a energia reenviada desde os crematórios para a rede central mais não é que o calor resultante das altas temperaturas necessárias sendo a "comparticipação" dos corpos queimados não porcentualmente representativa.

E, muito modernamente, acabam os esclarecimentos com a indispensável referência a quanto de positivo é para o meio ambiente o aproveitamento total deste tipo de energia, diminuindo a necessidade de utilização de complementares poluentes .

Economicamente recomendável!
Tecnicamente recomendável!
Ambientalmente recomendável!

Será exagero sentir um certo "desconforto moral" quanto ao tipo de lenha secundária usada?

Um abraço do J. Belo
__________

Nota do editor:

quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21247: Da Suécia com saudade (80): Um país "neutral" há mais de 200 anos, desde os tempos de Napoleão (José Belo)


Buba, Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref,  jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr"; 
vive na Suécia há mais de 4 décadas; régulo da 
Tabanca da Lapónia; tem cerca de 170 referências 
no nosso blogue
´

1, Mensagem de José Belo:

Date: sexta, 31/07/2020 à(s) 08:29
Subject: Respondendo a pergunta (em comentário) de Valdemar Queiroz (*)

Apesar dos saques efectuados pelas tropas suecas, um pouco por toda a parte no Norte e Centro europeus aquando da Guerra dos 30 Anos [1618-1648], as riquezas obtidas foram delapidadas tanto com o enorme aparelho militar como na aquisição de vastas propriedades e sumptuosos palácios por parte da aristocracia que participara, direta ou indiretamente,  na guerra.

A fome e pobreza, tanto rural como entre o proletariado das cidades, não foi diminuída por esta afluência de capitais.

Esta continuada falta de soluções sociais levou a que, nas décadas que se seguiram à guerra civil Norte Americana (1861-1865),  uns bons milhares de famílias suecas, principalmente rurais, tenham sido obrigadas a emigrar para os Estados Unidos, literalmente para sobreviver à fome!

O censo Americano de 1890 mostra uma população sueco-americana de cerca de 800.000 indivíduos, número muito considerável tendo em conta a população sueca de então.

Curiosamente a maioria das famílias suecas escolheu o Estado da Minnesota para se estabelecerem no novo país. Estado bem a Norte, fronteiro ao Canadá, onde a natureza nos seus inúmeros lagos e rios, assim como frio intenso e muita neve, certamente os fez sentir... em casa!

A influência escandinava continua muito forte neste Estado, tanto racial como cultural. Inúmeras pequenas cidades com nomes suecos, assim como lojas, restaurantes com pratos regionais suecos, dialeto e festas tradicionais, somando-se um actualmente muito forte intercâmbio cultural entre universidades locais e suecas.

A reviravolta económica e industrial sueca surge intimamente ligada à sua "neutralidade". Deve ser recordado não ter o país participado em qualquer guerra desde os tempos de Napoleão, sendo caso único a nível europeu estes 200 anos contínuos de paz.

Neutralidade sempre extremamente armada(!) por uma indústria nacional de guerra a níveis aéreos, navais e terrestres que lhe permite uma independência em relação aos fornecedores destes materiais e a todas as "condições" sempre por eles impostas.

As exportações da vasta indústria de material militar, hoje muito sofisticado a nível aéreo, naval e, não menos, espacial (!), faz entrar nos cofres do Estado receitas importantíssimas... "made in Sverige".

Com o fim da segunda guerra mundial, e enquanto as potências europeias se encontravam com as suas indústrias em condições mais do que precárias, todo o parque industrial, e exploração mineira, da neutral Suécia funcionava em pleno.

Os importantes meios de transportes, marítimos, aéreos, ferroviários, e autoestradas, estavam também intactos.

Muito do material industrial e de construção utilizado pelo plano Americano Marshal na sua reconstrução da Europa (e não menos da fundamental Alemanha) foi comprado na Suécia e por ela transportado para os locais necessários.

A proximidade geográfica da Suécia em relação aos países necessitados vinha diminuir muito consideravelmente os custosos transportes, caso contrário em longas viagens transatlânticas desde os Estados Unidos.

A partir deste importante período, de enormes entradas de capital que vieram permitir toda uma expansão económica e industrial, surge a "revolução" social democrata que acabou por construir a Suécia dos nossos dias.

Com todos os seus defeitos e limitações mas... também com as realidades sociais que a colocam a muitas dezenas de anos (para não escrever centenas!) de avanços em relação a outros países. Os Estados Unidos incluídos!

De resto... Nada de novo sob o Sol.

Um abraço do J. Belo
___________

Nota do editor:

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21210: Da Suécia com saudade (79): Os "espigueiros ou canastros" nórdicos, no museu ao ar livre de Skansen, Estocolmo (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)



Suécia > Estocolmo > Skansen > Uma espécie de espigueiro ou canastro, muito alto,  em madeira, usado na Escandinávia para guardar produtos agrícolas e sobretudo carnes de animais domésticos ou peças de caça.

Fotograma do vídeo  (7' 25'')  SKANSEN - World’s Oldest Open-Air Museum, Stockholm, Sweden, disponível aqui no You Tube.

Skansen é consideraddo o mais antigo museu ao ar livre do mundo  e está localizado na ilha Djurgården, em Estocolmo, Suécia. Foi inaugurado em 1891 por Artur Hazelius (1833–1901) para mostrar o modo de vida nas diferentes regiões da Suécia antes da era industrial. 

É uma das grandes atrações turísticas de Estocolmo,  com mais de 1,3 milhões de visitantes por ano. Situado num terreno de  30 hectares,  inclui uma réplica completa de uma povoaçao de meados do século XIX, na qual artesãos em trajes tradicionais (curtidores, sapateiros, ourives, padeiros, vidreiros, etc.)  mostram  os seus ofícios  Existe também um pedaço de terra onde cresce o tabaco,  usado na fabricação de cigarros. 

Há também um jardim zoológico ao ar livre que contém uma grande variedade de animais escandinavos (bisonte, urso pardo,  alce, foca cinzenta, lince, lontra, raposa vermelha, rena, lobo e glutão) (além de alguns animais não escandinavos, de maior popularidade).  Há também uma quinta onde podem ser vistas espécies raras de animais.

Fonte: You Tube > LIVEst - Estonia / Эстония / Eesti (com a devida vénia...) (Tradução e adaptação LG)


Buba. Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); cap inf ref, jurista, criador de renas,
autor da série "Da Suécia com Saudadr"; 
vive na Suécia há mais de 4 décadas
 1. Mensagm do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:

Data: quarta, 29/07/2020 à(s) 23:08

Assunto: os "espigueiros" nórdicos

Caro Luís 

Depois das referências aos espigueiros nortenhos [do Soajo e do Lindoso] (*), aqui segue um modelo escandinavo usado não só para guardar produtos agrícolas como principalmente carnes de animais domésticos e/ou peças de caça.

Como as temperaturas na maioria dos meses do ano são inferiores às dos frigoríficos funcionavam como tal.

Estes encontram-se no famoso museu, ao ar livre,  de Skansen, em Estocolomo  para onde foram transportadas casas típicas de todas as províncias suecas,mantendo-se os seus interiores ,mobiliários e funcionamento como no passado.

Existem também todos os tipos das casas de comércio das aldeias com os produtos então vendidos, assim como farmácias, correios, padarias, oficinas de  oleiros, ferreiros, ferradores, etc.

Não são reprodução de casas antigas mas sim originais cuidadosamente preservados e...a funcionar com empregados vestidos com os trajos típicos, tanto da época como dos locais de onde as casas foram transportadas.

Os visitantes compram nestas casas os produtos artesanais continuamente criados frente a eles,assim como produtos alimentares típicos.

Ideia de museu vivo (!),abrangedor de todo o país, educacional para os milhares de crianças que o visitam alegremente todos os anos.

Outras gentes...outros costumes. (**)

 (Vale a pena  uma visita na Net, ao sítio oficial  do Skansen/Stockholm,  pelas suas imagens elucidativas: está disponível em várias línguas, incluindo o espanhol, além do sueco e do inglês... Entrada "especial" para os veteranos da guerra da Guiné, individualmente ou em grupo: 200 coroas suecas, menos de 20 euros...)

domingo, 26 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21199: Da Suécia com saudade (78): “O que teria sido se....?” ... A propósito da Bissau dos anos 60/70, recordados por Carlos Pinheiro... (José Belo)


Guiné > Bissau > s/d > "Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção: Agostinho Gaspar (2010).  Digitalização (e legendagem): Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



1. Mensagem de José Belo [. régulo da Tabanca da Lapónia]

Date: sábado, 18/07/2020 à(s) 13:56
Subject: "O que teria sido se....?"

Um interessante texto sobre Bissau, escrito por Carlos Pinheiro e há anos publicado na Tabanca Grande (*), foi agora reproduzido na Tabanca do Centro. (**)

Interessante por conseguir recriar  um certo ambiente,  e mesmo o "ar" que se respirava na Bissau daquela época. [Vd. também a nossa série, "Estórias de Bissau", de que já se publicaram uma vintena de postes, LG]

José Belo, ex-alf mil,. CCAÇ 2381 (Ingoré,
Buba. Aldeia Formosa, Mampaté e Empada,
1968/70); autor da série "Da Suécia
com Saudadr"
Tendo feito parte de uma Companhia Independente de Atiradores [, a CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70];  que passou toda a sua comissão de serviço afastada dos reluzentes centros cosmopolitas , fossem eles a Capital ou outras grandes cidades guineenses,confesso recordar Bissau como uma cidadezinha de Avenida única (esfaltada) ao fim da qual existia um arremesso de cais muito apropriado para navios de pequeno calado e...pouco mais.

Esta aparentemente tão falaciosa recordação é agora completada pelo texto publicado,nas  referências a meia-dúzia de comerciantes "terceiro-mundista", somadas a alguns "restaurantes" que mais não eram do que o que eram, e a uns "night-clubes" capazes de fazer sonhar o aldeão mais empedernido do nosso querido Portugal.

Depois de lidos todos os detalhes apresentados na descrição fica-se quase, quase,com a ideia de que a tão próxima cidade senegalesa de Dakar mais não seria que subúrbio pobre desta pujança social,comercial,e não menos ,intelectual .

O que será perfeitamente justificável. Os colonialistas franceses chegaram a esta Costa africana..... muito depois de nós!

Não será portanto de estranhar que um Senhor  Comentador, sempre atento a todas as oportunidades de "reeducar" politicamente a História e os cidadãos (então muito em uso pelo Oriente,e não menos por alguns dos pseudo revolucionários portugueses), tivesse de imediato colocado a seguinte pergunta: 

"O que teria sido se os malfadados colonialistas lá tivessem ficado mais umas dezenas de anos?" (O termo "malfadados" é obviamente usado com semântica contraditória)

"O que teria sido se....?" ,pergunta o mesmo comentador, se nos tivessem oferecido a oportunidade de mais uma dúzia de anos coloniais.

Se nos tivessem oferecido a oportunidade de conseguirmos (ou sequer tentássemos) fazer nessa dúzia de anos o que não realizamos em seiscentos anos de colonialismo na Guiné?

"O que teria sido se...?" a herança cultural e social que por lá ficou tivesse sido antes em educação de profissionais especializados em Administração, Medicina, Engenharia, Economia, Indústria, Agricultura, Pesca, etc. (E lá volta o Senegal,Dakar, tão próximo e tão distante em tudo o acima referido.)

Os neocolonialismos tão sonhados por alguns dos nossos patrioteiros, ao mesmo tempo que convenientemente esquecem que para tal se torna necessário economias robustas e forças militares significativas?!

A França em relação à África Ocidental,e outros arrivistas mais modernos sem passados coloniais importantes são exemplos interessantes.

"O que teria sido se...?" não tivéssemos sido obrigados pela guerrilha a nos reagrupar estrategicamente, em processo cada vez mais acelerado, abandonando Madina do Boé, Gandembel, Guileje, e outros Destacamentos, menores mas não menos importantes estrategicamente .

"O que teria sido se...?" o mesmo iluminismo-saloio dos geniais políticos, que levou à perda de Goa, se viesse a repetir na Guiné ?!. Marcelo Caetano referiu essa possibilidade. Os Chefes Militares da época também o fizeram.

"O que teria sido se...?"

Com tal tipo de pergunta cai-se no que em meios jurídicos norte-americanos se denomina "infantilidade analítica".

Pergunta que,  aplicada a toda e qualquer situação, seja ela pessoal ou coletiva (, histórica no exemplo referido), é verdadeiro exercício de retórica que pode nos levar a qualquer resposta,ao mesmo tempo que não nos leva a resultado algum.

Uma forma de infinito....caseiro.

Um abraço do J. Belo (***)

________________


(**) Vd. Tabana do Centro > quarta-feira, 15 de julho de 2020 > P1241: Já passaram 50 anoss... > A cidade de Bissau em  ‘68/’70, por Carlos Pinheiro

(***) Último poste da série > 18 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21179: Da Suécia com saudade (77): Os Vikings, os capacetes... e os cornos (, que só aparecem em 1820 e que hoje são de plástico, "made in China") (José Belo)

sábado, 18 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21179: Da Suécia com saudade (77): Os Vikings, os capacetes... e os cornos (, que só aparecem em 1820 e que hoje são de plástico, "made in China") (José Belo)

José Belo
1. Mensagem de José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:



Date: terça, 14/07/2020 à(s) 09:58

Subject: Os Vikings...Os capacetes...Os cornos.


Caro Luís 

Estando o mundo,e não menos os Estados Unidos,a atravessar uma situação infelizmente sobre o controle de um daqueles políticos messiânicos que sempre surgem nestas ocasiões, será talvez a altura mais apropriada para esclarecer alguns leitores do blogue (sempre interessados nestas coisas civilizacionais!)quanto ao facto de os Vikings [, ou víquingues,]usarem,ou não,cornos nos seus capacetes de combate. 

Porquê misturar os States nesta Saga?

Simplesmente porque ,nos tempos mais modernos,terem sido as superproduções de Hollywood, e alguns autores de banda desenhada (também),  responsáveis pela mesma.

Sem entrarmos em profundas dialéticas quanto a costumes,necessidades,instintos sexuais dominantes da natureza humana, etc, etc, etc....e nos "etc" está sempre muito do dramático destas coisas...

Será óbvio que as prolongadas e regulares viagens destes heróis destemidos para locais sempre distantes, não só lhes traziam as riquezas e a muito cobiçada fama pessoal,como uma enorme possibilidade (estatística!) de usarem os famosos cornos, não sobre o capacete de combate mas.....por debaixo do mesmo!

Poucos,dos que profundamente se interessam por este particular da nossa cultura tão Ibérica ,terão dificuldades em compreender que as mitológicas mulheres escandinavas durante estas prolongadas e incertas viagens dos seus companheiros, não procurassem "fontes de calor". Gostei desta imagem digna de um Luciano de Castilho!

(E aqui há que relembrar os infindáveis, escuros e gelados Invernos locais que em tudo abonam em favor das virtudes femininas escandinavas.)

"Fontes de calor" certamente fáceis de encontrar entre alguns "chicos espertos" Vikings que sempre se desculpavam com a última gripe para não se ausentarem das quentes lareiras...oferecidas.

E para mais,porque andariam estes guerreiros a navegar de um lado para o outro com tão especiais capacetes, tão fáceis de serem arrancados pelos adversários nos combates corpo a corpo?

Para não referir o facto de serem recebidos com gargalhadas nos campos das batalhas na Península Ibérica,na sua tão única e original cultura sobre o assunto.

Mas facto é que os tais cornos não existiam nos capacetes vikings. Historiadores e arqueólogos estão hoje em total acordo quanto a isto.

Julga-se ter este mito surgido em 1820 com a publicação de uma coletânea de lendas Escandinavas por um artista sueco contratado para ilustrar as histórias.

Teria,erradamente, buscado fontes de inspiração nas roupas típicas de algumas tribos Celtas e Germânicas,entre as quais era comum o uso de peles e cornos de animais nas suas cerimónias ...religiosas.

Anos mais tarde este mito veio à generalizar-se quando, entre 1848 e 1874, o compositor alemão Richard Wagner escreveu uma série de quatro Óperas,  chamadas "O Anel dos Nibelungos " onde as personagens eram originárias da mitologia nórdica e apareciam em cena vestindo peles e usando elmos com cornos.

O resto? Hollywood,autores anglo-saxônicos  de bandas desenhadas,e as nossas imaginações.

A feliz imagens ficou estabelecida,para proveito das lojas de vendas de recordações turísticas em Estocolmo e Oslo, com os seus ridículo elmos de plástico barato adornados com cornos...made in China!

Um abraço do J.Belo

________________


Nota do editor:


quinta-feira, 9 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21155: Da Suécia com saudade (76): A propósito dos 'elefantes brancos' da cooperação sueca com a Guiné-Bissau: o caso do laboratório de saúde pública... (José Belo)






Bandeiras da Guiné-Bissau e da Suécia



1. Mensagem de José 
 Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:


Date: quinta, 9/07/2020 à(s) 08:31

Subject: A propósito do texto publicado na Tabanca do Centro.

O artigo lá publicado sobre a Guiné [, vd. ponto 2] é, infelizmente, mais um dos infindáveis que hoje se podem encontrar nos arquivos da imprensa sueca das últimas décadas.


Saúde Pública, Educação, Agricultura, Pescas, Transportes, Indústria Alimentar, Refrigerantes, Investimentos e outras actividades bancárias..., as conclusões das Comissões Estatais suecas que as analisaram (demasiadamente tarde!) são quase fotocópias nos seus negativismos.

Houve, nos anos sessenta e setenta, um genuíno interesse, por parte das sociedades escandinavas, em preencher os vácuos criados por seis séculos de Administração colonial.

Seria incapacidade? Seria não vontade?

A política spinolista "Por uma Guiné Melhor", surgida a contra corrente de todo o desinteresse anterior, apesar de tardia, limitada por uma situação de guerra então já bem implantada, não dispondo das muito avultadas verbas necessárias, ainda conseguiu por um curto espaço de tempo criar condições sociais únicas cujos resultados nos deixaram antever o que poderia ter sido se a política do governo colonial tivesse seguido o caminho do desenvolvimento.

"Quanto mais atrasados , educacional e socialmente, mais fáceis de governar": poderia ter sido a definição concisa da Administração Colonial. Princípios não só aplicáveis em África mas também em Portugal.

Em ambos os locais os resultados finais desta política de "Iluminismo saloio" falaram por si. 
Muito fácil, e limitativo, o apontarem-se como raízes de todos os erros (muitos e graves) os tempos pós-Abril de 74.

Mas está "bagunceira" final foi criada por uma longa e abrangente história de criminosas incompetências políticas, sendo Goa um bom exemplo das mesmas.

Alguns (!) dos "actores " deste histórico final de época em 74, fossem eles militares ou civis, mais não foram que pequenos palhaços de um vasto circo de interesses internacionais que em tudo os ultrapassava e...ultrapassou!

Apesar de todos os tão saudosistas "velhos do Restelo ", as gerações do nosso querido Portugal de hoje poderão cometer muitos erros e...certamente o fazem! Têm no entanto uma possibilidade não disponível a tantas e tão sacrificadas gerações anteriores: podem fazê-lo em LIBERDADE !

Um abraço do J. Belo.

PS - Aproveitando esta “janela” climatérica criada pelas curtíssimas semanas do Verão lapónica, vou arrancar este fim de semana, com a minha mochila e dois cães, para mais uma longa passeata (aqui chamada de “vandring”) pelos infindáveis rios, lagos e montanhas locais.

Um facto óbvio é o de não haver aqui em todas as árvores uma tomada elétrica para recarregar o telefone que (recomendavelmente!!!) deverá ser usado com prioridades bem escolhidas.

É um pequeno detalhe a acrescer ao facto de por aqui não haver nem casas nem gente, o que torna por vezes as coisas... complicadas... Enfim, é da natureza do Árctico ser “a modos que” imprevisível.

A haver alguns simpáticos “piropos” de alguns comentadores, tentarei, da minha parte e dentro destes condicionalismos, dar a sempre mui respeitosa mas devida resposta.

2. Tabanca do Centro > Quarta-feira, 8 de julho de 2020 > P1240: Desventuras dos Amigos Suecos > Elefante branco em história negra

[Reproduzido com a devida vénia...]
 

Após a independência,  a Guiné procurou obter avultados apoios económicos da Suécia para o sector da saúde. Um moderno laboratório clínico fazia parte prioritária da lista apresentada.

O Departamento Estatal Sueco para o auxílio aos países em desenvolvimento (SIDA) estava dividido entre consultores com opiniões díspares.


Deveria ser um laboratório de elevado nível internacional? Ou antes um laboratório adaptado às realidades guineenses, capaz de funcionar com pelo menos cinco paragens de electricidade diárias e pessoal não especializado?Como o auxílio a ser prestado deveria respeitar os desejos dos recebedores... ambas as sugestões foram apresentadas ao Presidente guineense [, Luís Cabral].

Este, sem o mínimo de dúvida, decidiu-se pelo modelo de laboratório mais avançado… e de custo mais do que duplo!

Argumentou o Presidente ser este o modelo que correspondia ao seu sonho de uma Guiné desenvolvida em futuro próximo.

As realidades vieram dar razão aos críticos:
  • O funcionamento parava continuamente;
  • Os cabos eléctricos e os compressores queimavam-se regularmente;
  • O sistema de refrigeração avariava-se;
  • O fornecimento de água era irregular devido a problemas da canalização...

O laboratório passou a ser conhecido como o elefante branco…

A SIDA.desejava acabar com os apoios mas, graças aos esforços e muita dedicação dos trabalhadores do laboratório, este lá se foi arrastando até 1998.

Dá-se a guerra civil e o laboratório acaba por ser atingido por algumas granadas, iniciando-se um importante fogo.

Como pode o laboratório sobreviver a todos estes incidentes Como são hoje analisados os resultados?

Todos os apoios aos mais variados sectores da Guiné acabaram por falhar, decidindo a SIDA terminar com a cooperação económica no início dos anos 2000. (2,2 mil milhões! Tendo sido a Guiné o país que recebeu maior auxílio económico per capita).

A cooperação por parte do Instituto Sueco da Saúde Pública também terminou então. O laboratório passou a ser financiado por diversos Institutos Suecos de Investigação.

A universidade sueca de Lunde, através de um grupo de investigadores e do laboratório, tem vindo a estudar um tipo especial de HIV/Sida  que existe na Guiné, chamado de hiv-2.

Os resultados foram já apresentados em publicações científicas, tendo gerado grande interesse quanto a vir a ser criada uma vacina.

Hoje considera-se terem sido estes apoios económicos contra-produtivos para o país, o qual, deste modo, não sentiu necessidade de mobilizar os seus recursos próprios.

Ao terminarem os apoios,  criou-se um vazio económico, agora preenchido pelas avultadas verbas do tráfego internacional da droga.

Excerto da revista “OmVärlden”
Texto: Mats Sundgren

UTVECKLINGSSAMTALET
Avsnitt 7: Det svenska biståndets vita elefant
Publicerad: den 31 maj 2015 Uppdaterad: den 31 maj 2015


[Tradução / adaptação livre: José Belo; revisão / fixação de texto para efeitos de publicação no nosso blogue: LG]

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 6 de julho de 2020
Guiné 61/74 - P21145: Da Suécia com saudade (75): Pedagogias várias para proveito do macho-ibérico: as representações sociais das... suecas, "muito dadas" (José Belo)

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21145: Da Suécia com saudade (75): Pedagogias várias para proveito do macho-ibérico: as representações sociais das... suecas, "muito dadas" (José Belo)



A propósito das 'muito dadas'...  Midsummer at Skansen, Stockholm. [ Solstício de verão em Skansen,  Estocolmo].  Source / Fonte: Routes North - Scandinavia Travel Guide / Rotas do Norte - Guia de Viagens da Escandinávia . Bilderna kan vara skyddade enligt upphovsrättslagen / As imagens podem estar  protegidas por leis de direitos de autor.] 

(Cortesia de Joseph Belo. Reproduzido com a devida vénia...)


 
1. Mensagem do nosso amigo e camarada José Belo que continua, "de pedra e cal", como régulo da Tabanca da Lapónia,  em pleno solstício do Verão, não se prevendo, no horizonte ( agora que é dia todo o dia), nenhum "golpe de Estado" que lhe derrube a estátua... 

Pelo sim, pelo não, montou guarda, com as suas renas e os seus cães, à entrada da sua morança,  adiando a sua viagem para o "bem-bom" de Key West, a terra no mundo há mais idosos milionários por metro quadrado:


Date: quinta, 2/07/2020 à(s) 16:21
Subject: Pedagogias várias

Os textos por mim enviados para o blogue sob o título “Da Suécia com saudade” são já numerosos e diversificados.
Um dos camaradas comentadores referiu-se a eles( com muito saudável ironia,  tendo em conta as nossas idades) como...”pedagógicos”.
Fez sorrir os lapöes,o que não é sempre fácil.
Vou enviar-te algumas considerações de macho-ibérico velhote quanto ao meu muito usado termo “Muito Dadas” quando me refiro a  pseudo realidades locais.

Segue em duas partes unicamente para não exagerar o E-mail.
Da Suécia com Amizade ....um grande abraço. (Francamente, Amizade,  muita!...Saudade,  só do nosso mar!)
Pedagogias várias >
Estas curtas semanas em que por aqui existe o Sol da Meia-noite são sempre "criativas ".



Provérbio luso-lapão: "Mas ainda melhor que as mulheres ,é o vodca, que faz esquecer as mulheres". (Luíz Pacheco,  escritor maldito, dixit, ou dizem que disse...)

Comentário de José Belo, criador de renas e pensador nas horas vagas do Círculo Polar Ártico: "Entre os rebanhos de renas, e os não menos numerosos ursos, a profunda e universal filosofia lapónica, há muito que têm vindo a eclipsar os muito menos reconhecidos pensadores das antiguidades clássicas grega e romana"

(Ciortesia de Joseph Belo)








Vinte e quatro horas de luz diária servem para muito! Não será por acaso que daqui a nove meses nasce o maior número de crianças suecas, ano após ano,  confirmado pelas estatísticas.

O tema "Suécia ", já demasiado repetitivo para este tipo de blogue, terá para muitos ..."o interesse que tem ". Para outros nada diz. Há ainda os que ,aparentemente , se sentem quase provocados.

Interessante verificar que as asserções tiradas por alguns são sempre mais radicais quanto menor é a altura do campanário da igrejinha. Natural.

Para uns a Escandinávia é um mítico paraíso social, enquanto que para outros mais não é que um pântano de promiscuidades várias.

A Suécia como um país que sempre procurou ajudar os que lutam pela liberdade e justiça social (utilizando os milhões mensalmente pagos ao  Estado pelos cidadãos com os seus impostos), ou a Suécia constituída por idealistas ingénuos,sempre facilmente enganados nos seus investimentos e negócios por esse mundo fora?

Pouco tem sido referido nestes "diálogos" a enorme indústria de guerra sueca e suas exportações que formam boa parte das receitas. Um pouco como quanto ao caso da Suíça.., muitos confundem a palavra "neutralidade " com a palavra "pacifismo".

Desde satélites com fins militares,a aviões de combate e reconhecimento dos mais sofisticados, corvetas, submarinos, mísseis, blindados ligeiros e pesados, artilharia,viaturas todo o terreno,todo o tipo de armamentos ligeiros,etc,....tudo fabricado no país e continuamente exportado.

Como explicar que tão ingénuos "nabos" tenham conseguido a riqueza e realidades sociais do país actual?

E por muito difícil que seja compreender aos nossos mais "estremados patrioteiros", os seus correspondentes suecos também, como eles, se embrulham frequentemente em bandeiras nacionalistas de conveniências várias.

Mas, e regressando aos profundos pensamentos pedagógicos da cultura clássica lapónica tão bem espelhada nestes textos.....não queria terminar esta série sem procurar desmistificar (!) as minhas continuas referências às míticas suecas como sendo,,, "Muito Dadas".

E é sempre muito limitativo isolar as suecas das restantes escandinavas. Um bom exemplo será a vizinha Noruega. Precisamente o mesmo grupo étnico, a mesma cultura, as mesmas tradições, a mesma língua (com a mesma variante de entoação como entre o português e o brasileiro), a somar-se a uma independência da Suécia de unicamente 150 anos, Wm claro, e....as mesmas lindas mulheres!

Mas na mitologia do Sul, e apesar da total inexistência de distinção, as suecas são sempre....as mais "dadas"!

Recordo que, quando já a viver na Suécia, ao tirar o meu curso nos States, verifiquei um dia que tudo o que de pornografia se tratava, fossem filmes, revistas, etc, para ter venda em quantidade,  tinha sempre que ter uma pequena bandeira sueca no canto superior direito.

Curiosamente todo este material era produzido,,, na Dinamarca!

Historicamente as sociedades escandinavas nunca consideraram a sexualidade com as fortes características e "lastros" pecaminosos das culturas católicas.

O forte puritanismo luterano não conseguiu sobrepor-se a toda uma histórica tradição de muitos séculos de igualdade de procedimentos  entre ambos os sexos. Igualdade de procedimento quanto a uma atitude activa por parte de ambos os sexos. A componente pecaminosa não faz parte desta 
tradição.

Nas culturas do Sul apoia-se e encoraja-se o activismo masculino quanto às buscas de relações sexuais, enquanto  na cultura nórdica este "activismo " é olhado como iqualitário.

O menino Zezinho será olhado, invejado e admirado pelos amigos da sua rua ao ter já "engatado" duas dúzias de raparigas. A menina Zezinha, tendo em conta duas dúzias de rapazes, mais não é que uma promíscua.

Na Escandinávia duas dúzias são duas dúzias. As da Zezinha não são maiores que as do Zezinho!

Este pequeno-grande detalhe cria a tal ideia quanto às..."Muito Dadas".

Desde que saí de Portugal,  há mais de quarenta anos, muita água terá corrido sobe as pontes. Mas ao comparar as escandinavas de hoje com as minhas amigas do Estoril, Cascais, Liceu Francês de Lisboa, dos finais dos anos sessenta, o conceito de "muito dadas" torna-se muito relativo.

Voltando às saudáveis ironias quanto a pedagogias várias,  seria muito recomendável que alguns dos nossos jovens machos-ibéricos ouvissem os comentários das jovens suecas quando regressam a casa depois de umas férias felizes no Sul da Europa. Na maioria dos casos a IRONIA em relação aos muitos "mal-entendidos ", e "importâncias" das situaçõesm é demolidora. Faz doer ao ego deste Lusitano.

Um abraço do J. Belo

2. Comentário do editor LG:

José, também é do "mar do Cerro" (onde se apanhm as "sardinhas de Peniche") que eu vou ter saudades quando morrer... Sim, isto das saudades, tem muito que se lhe diga... É o sentimento mais ambivalente que um "tuga" pode experimentar... Há sempre, na saudade, um relação de amor-ódio...que é o que sente um "emigra" em relação ao seu país que ficou para trás...a "pátria que te pariu"

Mas aceita, com bom humor e uma ponta de ironia, este título, "Da Suécia com saudade"... Tem ajudado a "vender o blogue" e a bater audiências... 12 milhões, é obra, mano!

Fico à espera do próximo "material"... Um abraço, aqui do Douro Litoral, da Tabanca de Candoz... Luís

PS - Sim, confirmo que,  "este artista quando jovem",   o primeiro filme pornográfico que viu, nos idos 60, em oito milímetros, era "dinamarquês", mas tinha a bandeirinha da Suécia para enganar... o macho-ibérico!... E mais: embora gostasse mais de "francesinhas", teria sido capaz de desertar (das fileiras da tropa) para a Suécia, só por causa da (afinal, falsa) propaganda de que as "suecas eram muito dadas"... Eu acho que esse mito foi construído só para desmoralizar o Salazar, o Cerejeira e os seus "muchachos"... E, claro, a nossa querida Cilinha!... Mais houve quem lá fosse "ver para crer",,,
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quarta-feira, 1 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21126: Da Suécia com saudade (74): A raposa, as uvas e... o solstício do verão na Tabanca da Lapónia (José Belo)


Tabanca da Lapónia > "O solstício do verão, sempre!...Nestas curtas mas fantásticas semanas do Sol da meia-noite, o lugar para se estar será sempre a Laponia! O Key West [, na Florida,]  está “guardado” para quando começar a escurecer por aqui...e então não são unicamente umas curtas semanas. Um grande abraço. J. Belo, 28/6/2020"

Foto gentilmente cedida por J. Belo [e editada pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Belo [, régulo da Tabanca da Lapónia, a mais setentrional das tabancas da Tabanca Grande;  o sueco mais português do mundou ou o "tuga" mais assuecado da nossa tertúlia]


Date: domingo, 28/06/2020 à(s) 16:44
Subject: A raposa e as uvas

Um pequeno anexo ao...vírus. (*)

Sendo um facto a não existência de paraísos terrestres, a Suécia,  como outras sociedades, tem as suas limitações aqui, ali e acolá.

Sem ter qualquer procuração jurídica para defender o  reino sueco, ou qualquer interesse pessoal, sinto no entanto que alguns agem mais com o coração do que com razões factuais ao compararem o liberalismo e a social democracia da moderna Suécia com o nacional socialismo da Alemanha nazi dos anos trinta/quarenta.

As realidades actuais suecas não se espelham de modo algum nelas.

Dispondo de uma muito forte economia com avultados excedentes orçamentais, existem condições que criam possibilidades de regalias sociais quase inacreditáveis noutros países.

Quanto a mim, é de salientar o apoio à educação. Apoio que permite uma mobilidade social ascendente aos que nascem em situações mais desfavorecidas.

Educação gratuita desde o infantário até ao fim de um curso universitário, ou técnico equivalente. Todos os auxiliares, livros e materiais de estudo incluídos, assim como um empréstimo bancário estatal aos estudantes universitários, em condições de reembolso muito vantajosas, que lhes permite viver independentes da economia familiar até terminarem os seus estudos.

Infelizmente, cria-se em alguns,  em relação a estas realidades escandinavas, a atitude da raposa da fábula ao olhar as apetitosas uvas inatingíveis... Estão verdes!

Mas as uvas não são inatingíveis,  se as sociedades se organizarem e trabalharem para lá chegar com políticas eficientes e dirigentes competentes.

Um abraço do J. Belo

2. Nota do editor LG:

Fábulas de Esopo > A Raposa e as Uvas

Chegando uma Raposa a uma parreira, viu-a carregada de uvas maduras e formosas e cobiçou-as. Começou a fazer tentativas para subir; porém, como as uvas estavam altas e a subida era íngreme, por muito que tentasse não as conseguiu alcançar. Então disse:
— Estas uvas estão muito azedas e podem manchar-me os dentes; não quero colhê-las verdes, pois não gosto delas assim.

E, dito isto, foi-se embora.


... Moral da história:  É fácil desprezar aquilo de que não se consegue alcançar...

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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de junho de 2020 > Guiné 61/74 - P21117; Da Suécia com saudade (73): A raposa, as uvas e... o vírus (José Belo)

domingo, 28 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21117; Da Suécia com saudade (73): A raposa, as uvas e... o vírus (José Belo)

1. Mensagem do José Belo [, régulo da Tabanca da Lapónia, a mais setentrional das tabancas da Tabanca Grande]:

Date: domingo, 28/06/2020 à(s) 14:05
Subject: A raposa, as uvas, e.....o vírus.

Um certo tipo de jornalismo cria e espalha notícias menos corretas nos seus fundamentos. (Como diz o nosso António Aleixo, "P'ra mentira ser segura,/ E atingir profundidade, / Tem que trazer á mistura, / Qualquer coisa de verdade...)

Um bom exemplo são as notícias relacionadas com a excessiva mortandade, por Covid-19,  entre os mais idosos na Suécia.

Sendo esta mortandade um facto incontroverso há que analisar cuidadosamente as razões do mesmo.
Como em muitos outros países ocidentais,  os casos mortais provocados pelo vírus entre os idosos vivendo em lares foi muitíssimo superior  ao dos idosos vivendo nas suas habitações particulares.

Na Suécia, onde a longevidade é das mais elevadas a nível mundial, os lares para idosos são inúmeros e enormes.

Sabe-se hoje terem sido as razões do contágio, e consequente mortalidade, o facto de muitos dos empregados estarem contaminados pelo vírus antes de o mesmo ter tido resultados significativos na sociedade envolvente.

Daí os resultados predominantes deste grupo etário no topo das estatísticas e subsequentes números finais. 

Ao contrário de muitos outros países, o responsável pelo combate à pandemia na Suécia é uma Instituição Estatal de Saúde, independente (!) do Governo e respondendo unicamente perante o Parlamento.

Facto "conveniente" tanto para os políticos governamentais, como para a oposição, que deste modo podem "lavar as mãos " das decisões tomadas por este Departamento Estatal independente e, principalmente, das consequências das mesmas.

Alguns grupos de conhecidos cientistas suecos, médicos, jornalistasm e outros intervenientes sociais têm vindo a pressionar o Governo quanto a uma intervenção nas decisões do Departamento, mas até hoje sem resultados.

Não tendo havido qualquer tipo de "confinamento " obrigatório da população,  todas as recomendações tem sido...recomendações!

As fortíssimas tradições locais quanto a liberdades individuais,transparência governamental, confiança,e sentido de responsabilidade perante o interesse comum estão ligadas a esta atitude...muito incompreensível em sociedades não escandinavas.

Teatros, cinemas, restaurantes, bares, discotecas, centros comerciais, infantários e escolas, todos continuam a funcionar normalmente, procurando respeitar as regras do distanciamento entre indivíduos. (Mesmo que em alguns casos sejam evidentes as dificuldades quanto a um distanciamento  efectivo.)

Deste modo a generalidade da economia tem sido muito menos afectada, podendo o país usar as avultadas reservas económicas existentes em suporte das actividades industriais e sociais mais importantes.

Segundo os últimos testes efectuados em Estocolmo julga-se que entre 17% a 20% da população local terá desenvolvido anti-corpos quanto ao vírus.

São números sempre passíveis de discussão quanto a uma não suficiência.

sábado, 27 de junho de 2020

Guiné 61/74: P21113: Da Suécia com saudade (72): Guiné-Bissau: milhões e milhões de ajuda sueca desperdiçados: resumo de artigo de Peter Bratt, "Dagens Nyheter", 1994 (José Belo)

1. Mensagem do José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia:

[(i) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70;

(ii) manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década;

(iii) está reformado como capitão de infantaria do exército português;

(iv) jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, nem como nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, mas também Key-West, Florida, EUA;

(v) é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca da Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães. dos seus alces e dos seus ursos)]

Date: quarta, 24/06/2020 à(s) 15:50
Subject: Suécia / Guiné

Mais uma auto-crítica significativa por parte dos Serviços Estatais suecos quanto ao seu programa de auxílio económico à Guiné-Bissau de 2,2 mil milhöes [de coroas suecas]. (*)

Um abraço.
J. Belo
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**O projecto do auxílio sueco funcionou mal, foi extremamente custoso,e procurou resultados irrealistas***

(Resumo de um artigo de Peter Bratt, publicado no "Dagens Nyheter". em 1994)

O auxílio económico à Guiné-Bissau desde 1974 (2,2 mil milhöes de coroas suecas) [, cerca de 460 milhões de euros, 1 euro=10,47 coroas suecas, ao cambio atual] foi em termos gerais capital perdido. (**)

Pode-se hoje verificar que a totalidade do auxílio internacional ao país acabou por provocar mais danos do que bons resultados.

São as conclusöes de um inquérito efectuado pelo Secretariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros Sueco (Secretariado do Auxílio e Cooperação para o Desenvolvimento, SAU).

O relatório deste Secretariado apresenta uma fortíssima crítica quanto ao auxílio prestado pela Agência Estatal responsável pelo auxílio aos países em desenvolvimento (SIDA, em sueco).

Este relatório foi efectuado sob a direção do Ministério dos Negócios Estrangeiros e é da responsabilidade do Prof. Peter Svedberg.

Após a independência, baseando-se fundamentalmente em razöes ideológicas, a Guiné-Bissau passou a fazer, muito rapidamente, parte do programa de auxílio estabelecido pela SIDA.

O que este relatório diz, já há muito que era do conhecimento de todos os implicados no assunto, só que ninguém  foi suficientemente corajoso para o dizer em "voz alta". Um auxílio que,  nas suas "razöes ideológicas", há muito que tinha sido ultrapassado quanto aos enquadramentos políticos iniciais.

O relatório demonstra que o auxílio internacional,  em vez de criar desenvolvimento,  acabou por causar graves entraves quanto ao sistema económico do país. Gigantesco afluxo de capital que acabou por não provocar qualquer crescimento económico. Os investimentos internos acabaram por näo surgir quando as rendas do capital de aforro se tornaram negativas.

Colocar-se capital no Banco tornou-se perca óbvia.

Mais tarde, por razões políticas e para manter a população calma, o Regime apoiou uma enorme
importação de arroz aos preços do mercado internacional.(Importação paga pela Suécia.)

Deste modo,e com estes preços, acabou-se por impedir o desenvolvimento da agricultura interna.
Na práctica o auxílio económico estrangeiro acabou por paralisar a produção alimentar. É um pouco como dar esmola a um pobre em vez de lhe criar condições de trabalho.

Pode concluir-se que o auxílio económico acabou por provocar efeitos negativos abrangedores,entre outros, extensíveis à área da educação.

Näo existem exportações para financiar as importações necessárias. Näo existe uma economia privada funcional em escala representativa fora do sector estatal, sendo este totalmente dependente dos auxílios internacionais.

As disparidades económicas entre rurais e citadinos têm vindo continuamente a agravar-se em resultado destes programas.

Uma análise profundamente negativa que nos leva à conclusão de não ter sido exclusivamente o auxílio sueco a merecer as críticas mais severas,mas sim todos os auxílios económicos internacionais prestados à economia da Guiné-Bissau.

Os resultados a níveis sociais,políticos,e do bem estar das populações,  infelizmente comprovam-no.

Peter Bratt
(Dagens Nyheter)

[Tradução livre / adaptação: JB]

2. Nota do editor:

Peter Bratt , nascido em 1944, é um jornalista sueco, trabalhou, até 2003, para o jornal de referência "Dagens Nyheter". Escreveu muitos textos críticos sobre o partido social-democrata. Em 1974 teve problemas com a justiça, tendo sido condenado a um ano de prisão por espionagem.

Não encontrámos o artigo a que se refere o J. Belo, mas pode ser este: "GUINEA-BISSAU: Svenskt miljardbistånd bortkastat", Dagens Nyheter. 2 de junho de 1994. Não conseguimos confirmar, porque o acesso ao jornal é pago... (Em português, o título seria qualquer como Guiné-Bissau: milhões e milhões de ajuda sueca desperdiçados).

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Nota do editor:



4 de movembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13847: Da Suécia com saudade (41): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte II)... Um apoio estritamente civil, humanitário, não-militar, apesar das pressões a que estavam sujeitos os sociais-democratas, então no poder (José Belo)

5 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13849: Da Suécia com saudade (42): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte III)... Pragmatismos de Amílcar Cabral e do Governo Sueco, de Olaf Palme, que só reconheceu a Guiné-Bissau em 9 de agosto de 1974 (José Belo)


7 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13859: Da Suécia com saudade (44): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte V): Quando se discutia, item a item, o que era ou não era ajuda humanitária: catanas, canetas, latas de sardinha de conserva... (José Belo)


11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)

segunda-feira, 8 de junho de 2020

Guiné 61/74 - P21055: Da Suécia com saudade (71): O colonizador, o colonizado, a língua materna, o "pretoguês"... O caso da escrita do Luandino Vieira (José Belo)

1. Mensagem do José Belo, com data de 25 de maio p.p.

[José Belo: (i) ex-alf mil inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; (ii) manteve-se no ativo, no exército português, durante uma década;; (iii) está reformado como capitão de infantaria do exército português; (iv) jurista, vive entre Estocolmo, Suécia, nem como nas imediações de Abisco, Kiruna, Lapónia, no círculo polar ártico, já próximo da fronteira com a Finlândia, mas também Key-West, Florida, EUA; (v) é o único régulo da tabanca de um homem só, a Tabanca da Lapónia (, mas sempre bem acompanhado das suas renas, dos seus cães. dos seus alces e dos seus ursos)]

Assunto: Colonialismo e língua materna

Não recordo se já terei enviado esta perspectiva quanto aos efeitos "paralelos" do colonialismo quanto a algo täo importante como a língua materna como forma de expressão íntima.
Os membros do blogue,principalmente escritores, certamente terão opiniões interessantes sobre assunto tão sensível mas täo pouco analisado.
Um abraço,

J. Belo

2. Segunda mensagm, com dat de 4 do corrente:

Meu Caro Sr. Editor

E eu que julgava que iríamos ter uma troca de ideias interessante sobre o texto da brasileira Tânia Macedo sobre o Luandino Vieira quanto à "linguagem do colonizador imposta ao colonizado".[Publicado na revista de linguística "Alfa", de São Paulo Brasil; o artigo completo está disponível aqui.]

O preço da integração social à custa da destruição das culturas inferiores aos olhos dos civilizados.... Exemplo mais próximo do que o Ibérico näo podemos ter...Só os Bascos mantiveram a sua língua.
Os Romanos não os colonizaram como aos restantes.

Como se diriam na Lusitânia, ou em outros locais da Península,  as palavras "mãe", "pai" ,"irmão", "amor",   "ódio", "saudade", "casa"..., antes da língua latina dos senhores que nos... civilizaram?

Havendo no Blogue escritores ,historiadores,e outros amadores,(e não escrevo "poetas",  por não rimar com escritores, historiadores, amadores) certamente que opiniões díspares existem.

Um abraço do J. Belo

José Luandino Vieira. Cortesia do
portal Wook
3. Excertos do artigo  "O  'pretoguês' e a literatura de José Luandino Veira"
Alfa, Sào Paulo. 36: 171-176,1992 171

por Tânia Macedo 

[Departamento de Literatura - Faculdade de Ciências e Letras - UNESP -19800 - Assis]

RESUMO: O texto examina a elaboração artística do 'pretoguês' - forma pejorativa com que os colonizadores portugueses denominavam a linguagem híbrida português/quimbundo utilizada pela
população angolana - na obra do escritor angolano José Luandino Vieira. (...)

O jogo de forças e tensões presente na situação colonial é marcado por dois pólos antagônicos: colonizador e colonizado. O primeiro, como conquistador, impõe a uma maioria numérica seus valores, línguas, técnicas e estruturas socioeconómicas sob a lógica da unidade: uma só lei, uma só língua (obviamente a sua). O colonizado, em conseqüência, passa a constituir uma minoria sociologicamente dada, a qual será submetida e, constantemente, espoliada de seus valores em nome da 'civilização' do outro.

A essa luz, não se pode esquecer que do quadro de contradições engendrado pelo colonialismo avulta o "drama do bilinguismo": o colonizado deve assumir a língua de seu conquistador e, paulatinamente, distanciar-se de sua própria forma de expressão, conforme muito bem salientou Albert Memmi [, 1977,]: "A língua materna do colonizado, aquela que é nutrida por suas sensações, suas paixões e seus sonhos (...), enfim, aquela que contém a maior carga afetiva, essa é precisamente amenos valorizada (...). Se quer obter uma colocação, conquistar seu lugar, existir na cidade e no mundo, deve, primeiramen aplicar-se à língua dos outros, a dos colonizadores, seus senhores". (...)

Lembre-se, todavia, que os danos causados pelo colonialismo não se restringem apenas a esse fato: se por um lado temos uma língua imposta a uma população, por outro, a escolarização dada na língua de maior prestígio é reduzida. Estamos frente, portanto, a mais uma das contradições do sistema, pois fazer do colonizado um indivíduo que dominasse totalmente o sistema lingüístico do colonizador seria incluí-lo nos seus mecanismos de poder e, destarte, selar a sorte do próprio sistema. (...)

Temos, dessa maneira, uma população condenada a renunciar a seu código valorativo, ao mesmo tempo em que lhe é vedado o inteiro domínio de outro código. Em resumo, se o bilíngüe colonial conhece duas línguas, nenhuma domina totalmente.

A literatura efetuada sob tal situação contraditória, desde que não seja uma literatura do colonizador, será, necessariamente, a veiculação da carência da população marginalizada na luta por sua forma própria de expressão e deverá forjar-se sob o signo da dualidade.

No caso da literatura angolana, por exemplo, os cinco séculos de dominação colonial portuguesa constituíram forte entrave à sua sistematização, pois apenas na década de 50 de nosso século toma corpo um sistema literário coerente no país, integrando a tríade autor-obra-público. Sistema esse que se traduz em autores conscientes de seu papel, nas obras veiculadoras de conteúdos eminentemente acionais sob aspectos codificados de linguagem e estilos e no conjunto de receptores,
ainda que pequeno, formado por angolanos alfabetizados e preocupados com sua especificidade cultural. 

Conforme bem assinala Carlos Ervedosa [, 1979,], "enquanto [os escritores] estudam o mundo que os rodeia, o mundo angolano de que eles faziam parte mas quemntão mal lhes haviam ensinado, começa a germinar uma literatura que seria a expressão da sua maneira de sentir, o veículo de suas aspirações, uma literatura de combate pelo seu povo". (...9

Ora, a literatura oriunda de tal tomada de consciência de seus produtores não Estava dissociada da certeza de que o sistema colonial deveria ter termo. Dessa forma, autores como Agostinho Neto, Costa Andrade, Luandino Vieira ou Jofre Rocha têm seus nomes ligados tanto às melhores produções literárias angolanas quanto a um combate direto pela independência de seu país. (...)

Português e quimbundo construindo a angolanidade

Dentre os escritores da moderna literatura angolana, José Luandino Vieira  (#) é, sem dúvida, um dos ficcionistas mais significativos. Seus textos revelam, nos níveis temático e estilístico, as contradições do sistema colonial, apresentando uma linguagem que acaba por tomar o partido dos que, à força de conhecerem duas línguas, a nenhuma dominam totalmente. É assim que suas estórias tematizam os musseques de Landa - bairros pobres equivalentes às nossas favelas - e sua população bilíngüe
português/quimbundo, majoritariamente negra.(...)

 Dessa forma, Luandino ousa levar para as páginas da literatura - em plena vigência do regime colonial português emAngola - (...)  'o pretoguês', ou seja, a forma híbrida de expressão dos bilíngües coloniais, a qual constituía motivo de freqüente menosprezo destes e, portanto, uma das fontes alimentadoras do racismo do colonizador em relação ao colonizado. 

Sob esse aspecto, a escolha do material lingüístico efetuada pelo autor redunda em uma reivindicação
de prestígio para a fala híbrida do homem do povo, dando-lhe status literário. Vale notar que a escrita de Luandino Vieira, apesar da forte vinculação ao falar dos musseques luandenses, vai além, pois seus textos não se constituem apenas em registros literais da forma de expressão de uma parte da população angolana. Ao criar neologismos e subverter a estrutura da língua portuguesa através do uso do quimbundo e do 'pretoguês', ele detém o mérito dos grandes empreendimentos da literatura
de nosso tempo: obriga a avançar devagar. 

Ou seja, a ficção luandina força o leitor a rever seus conceitos de literatura, arte e linguagem, em um esforço de dupla orientação: tomar distância dessa ficção, vinculando-a a valores universais, ao mesmo tempo em que busca a sua localização em uma geografia literária. Assim, sem se Aperceber, o decodificador das estórias do autor angolano vai sendo mobilizado a repensar seus códigos estéticos, suas estruturas lingüísticas, em um esforço de entendimento do universo narrativo apresentado.

Destarte, verifica-se que o trabalho artístico efetuado a partir do 'pretoguês' nos textos de Luandino Vieira vincula-se à recusa e à denúncia da situação colonial, afirmando uma 'angolanidade' ao mesmo tempo em que se inscreve na corrente da modernidade, convergindo pois para a realização literária plena de nosso tempo.

Façamos referência a alguns aspectos lingüísticos da ficção do autor, a fim de explicitarmos como se constroem a modernidade e a recusa ao colonialismo nos seus textos.

O substantivo quimbundo muxima (coração) pode nos servir como excelente início, já que em várias oportunidades o mesmo apresenta-se como base para a formação de neologismos, recebendo desinências da língua portuguesa que irão se desdobrar em outros matizes de significação:

(...) lhe traziam sussuradas palavras dela na hora que as mãos dele muximavam ou serebelavam nas fronteiras, queriam mais demarcar na leia mata de se corpo, descobrir e abrir
picadas. (Vieira, 1974, p. 32)

(Traziam-lhe suas palavras sussurradas no momento em que as mãos dele a acariciavam
ou se rebelavam nas fronteiras, no momento em que elas desejavam demarcar a estranha mata
de seu corpo, descobrir e abrir picadas.)

(...) não conseguiu de fugir no quinzar, lhe falou até, lhe muximou perdão, (p. 71)

(Não conseguiu fugir do monstro antropófago, chegou a falar-lhe, pediu perdão.)

(...) mas o Mangololo afirmava, cada vez mais mwúmadoi, que o bilhete recebera-lhe do
Joaquim Ferreira. (Vieira, 1978, p. 60) (##)

(Mas Mangololo afirmava, cada vez mais adulador, que recebera o bilhete de Joaquim
Ferreira.) (...)
____________

 Notas da autora:

(#) José Luandino Vieira passou onze anos nas cadeias do colonialismo português. Em 1965, seu livro Luuanda foi agraciado com o Grande Prêmio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores, o que provocou o encerramento daquela Sociedade, bem como o assalto e depredação de sua sede pela PIDE.

(##) VIEIRA, J. L.

João Vêncio: os seus amores. Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1979.

Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto e eu. Luanda: União dos Escritores
Angolanos, 1981.

Macandumba, Luanda: União dos Escritores Angolanos, 1978.

Velhas estórias. Lisboa: Plátano, 1974.

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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de maio de 2020 > Guiné 61/74 - P20970: Da Suécia com saudade (70): O verdadeiro rei das florestas escandinavas, o alce ("älg") (José Belo)