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quarta-feira, 4 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14318: Lembrete (10): Apresentação do livro "As Mulheres e a Guerra Colonial", da autoria de Sofia Branco, hoje, dia 4 de Março de 2015, pelas 19h00, na Associação 25 de Abril (A25A), em Lisboa

Lembrete para a apresentação do livro "As Mulheres e a Guerra Colonial", da autoria de Sofia Branco, hoje, dia 4 de Março de 2015, pelas 19h00, na Associação 25 de Abril, Rua da Misericórdia, 95, Lisboa.





OBS: - Três nossas amigas colaboram neste livro, a saber: Deonilde de Jesus (esposa do nosso camarada Manuel Joaquim), Dulcinea Cerqueira (esposa do nosso camarada Henrique Cerqueira) e Maria Alice Carneiro (esposa do nosso Editor Luís Graça).
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13940: Lembrete (9): Convívo de Novembro, e de Natal, da Tabanca do Centro, dia 28 de Novembro de 2014 em Monte Real

sábado, 13 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14021: A minha máquina fotográfica (10): Cerqueira, a Olympus Pen D3 que tens há 40 anos para entregar a um furriel da CCAÇ 13, a pedido do libanês Alfredo Kali, de Bissorã, deve ser do Alberto de Jesus Ribeiro, de Estremoz ( Carlos Fortunato, ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71; presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga)


1. Mensagem que mandei ontem ao Carlos Fortunato, com conhecimebto ao Henrioque Cerqueira, a propósito de uma Olympus Pen D3,  de um furriel, Guerreiro, da CCAÇ 13:

 Carlos:

Saúde!... Dá uma vista de olhos a este mail e vê se podes ser útil ao nosso camarada Cerqueira, que também esteve na tua CCAÇ 13, em Bissorâ, na parte final da guerra...

Ele anda à procura do fur mil Guerreiro, algarvio, que veio antes dele... Tem uma encomenda para lhe entregar, há 40 anos... Pode ser que tu tenhas alguma pista, já que vais a Bissorã todos os anos e conheces muita malta da CCAÇ 13...

Entretanto, como estão as coisas este ano ? O contentor sempre vai seguir ? Dispõe do blogue para dar notícias da Ajuda Amiga...

Bons augúrios para 2015. Luis



2. Resposta de hoje de manhã do Mensagem de Carlos Fortunato  [ ex-fur mil trms, CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga]  ao Henriqu Cerqueira, com conhecimento ao editor LG, em resposta aos mails que me mandei ontem;

 De: Carlos Fortunato 

Data: 13 de dezembro de 2014 às 06:26

Assunto: Máquina Olympus de Furriel da CCaç 13

 Cerqueira: O Luís Graça deu-me a conhecer o teu email sobre a Olympus
 do furriel Guerreiro, mas não existia nessa altura nenhum furriel
Henriqiue  Cerqueira
 Guerreiro, existiam 2 furriéis do Algarve,  o Eduardo Coelho Silva, mais conhecido por Eduardo, e o José Teodoro Cabrita Vieira, mais conhecido pelo "Russo".

Se a memória não me falha (e às vezes falha nalgumas coisas), o único que tinha essa máquina era o furriel Alberto de Jesus Ribeiro, mais conhecido por Ribeiro, era uma máquina excelente, creio que a comprou em Bissau, tirava melhores fotos que a minha que era mais sofisticada, e que até tinha um sistema reflex, comprei-a em 2º mão em Lisboa.

Infelizmente o Ribeiro perdeu as fotos que tirou.

No último almoço da Ccaç 13 a que fui,  até perguntei ao Ribeiro pela máquina fotográfica, mas já não me lembro bem da resposta, mas creio que foi que ela se avariou.

Não me lembro de ninguém com o nome Guerreiro na CCaç 13 (qualquer que fosse o posto), nem nas minhas listas da CCaç 13 tenho alguém com esse nome.

Por isso tens a minha hipótese de que essa máquina é do Ribeiro (o som do nome até é parecido), mas ele não é do Algarve, creio que é de Estremoz, no entanto o "Russo",  que também era furriel no mesmo pelotão (1º pelotão da Ccaç 13), era do Algarve e talvez na conversa que tiveste com o Alfredo [Kali] ela tinha ido parar ao Algarve.

O fato de ele a dar ao Alfredo faz sentido, pois o Alfredo ia frequentemente a Bissau, coisa que nós não podíamos fazer, e como ela tinha sido comprada em Bissau, o Ribeiro teria tentado acionar uma eventual garantia ou reparação.

O comerciante Alfredo [Kali] continua vivo, quando lá fui este ano em Março/Abril, disseram-me que estava em casa, ele não está lá sempre, tinha lá ido por causa do negócio do cajú, fui a casa dele à tarde [, em Bissorã,] mas disseram-me que estava a fazer a sesta, e depois não tive tempo de lá voltar outra vez, pelo que não falei com ele.

Não tenho email do Ribeiro,  nem dos restantes, mas fica aqui o telefone (919 364 941). Nos emails que trocámos anteriormente,  não sei se ficaste com o do Adriano Silva, que era do pelotão do Eduardo, por isso vou encaminhar este email também para ele, pois ele pode esclarecer se o Eduardo tinha alguma máquina Olympus, é ele quem organiza o próximo almoço da CCaç 13.

Lembro-me de me dizeres que estiveste pouco tempo na CCaç 13, mas aparece no próximo almoço da CCaç 13 e podes falar com o Ribeiro, e entregar-lhe a máquina, ele costuma aparecer.

O almoço da CCaç 13 é sempre no último sábado do mês de Maio.

Um abraço

Carlos Fortunato
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Nota do editor:

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14018: A minha máquina fotográfica (9): a minha "arma de recordações" era uma Chinon M-1... E também tenho uma Olympus Pen D3, à espera, há 40 anos, de ser entregue ao seu dono: o ex-fur mil Guerreiro, da CCAÇ 13, algarvio de Boliqueime, tanto quanto sei... Ele por favor que me contacte... Foi o libanês Alfredo Kali que me encarregou da encomenda... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74)



Esta foto foi tirada pelo Guerreiro, ex-fur mil, CCAÇ 13, que terminou a sua comissão antes do 25 de abril de 1974, e cujo paradeiro o Henrique Cerqueira desconhece (, presumindo-se que viva no Algrave, takvez em Boliqueime). Esta foto tem como centro a máquina do Henrique Cerqueira, a Chinon M-1, e as fotos por ela tiradas... muitas delas já publicadas no blogue. Destaque para a esposa, Maria Dulcineia (NI) e para o filho Nuno que estiveram alguns meses na Guiné com o nosso camarada...


Uma Olympus Pen D3, igual à do Guerreiro...  Uma máquina lançada em 1965. (Fonte:Cortesia da Wikipedia)


Chinon M-1, japonesa, de c. 1972 (segundo informação da Camerapedia Wiki). 


Foto: © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]


1. Mensagem, com data de 8 do corrente, do  Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, e CCAÇ 13, Bissorã, 1972/74; casado com a Maria Dulcinea (NI), também nossa grã-tabanqueira]



Camarada Luís Graça.

Não resisti enviar umas fotos da minha “arma” de recordações da Guiné e ao mesmo tempo fazer a minha “prova de vida”, tal como solicitaste .

Mando assim em anexo duas fotos da minha máquina que ainda hoje a preservo com muito carinho e tentei compor um pouco a imagem com algumas fotos tiradas na altura . Por tal espero assim contribuir um pouco para o relembrar os nossos feitos fotográficos que cada um o ia fazendo conforme as possibilidades que tinha no terreno.

Luís,  foi muito bom que trouxesses este tema porque tenho que te pedir se é possível publicar neste poste um apelo que tem tudo a ver com o tema.

Então é assim: No final da comissão e talvez em junho de 1974,  quando nos preparávamos para regressar, o Alfredo Kali, m comerciante libanês que estava em Bissorã (parece que ainda está), veio pedir-me que trouxesse uma máquina fotográfica “ Olympus” para entregar a um ex-camarada que tinha regressado á metrópole mais cedo e tinha deixado essa máquina a reparar no Alfredo,  com a esperança que ele a enviasse por correio. Mas, e segundo o Alfredo, naquela altura do 25 Abril e com alguma confusão á mistura,  ele  recebeu a máquina de Bissau (por sinal sem reparação da avaria) e, como havia alguma amizade entre nós, ele me pediu se a entregava quando chegasse a Portugal.

Entretanto ficou de me dar a morada desse meu camarada e nunca a deu . Regressei e nunca consegui entrar em contacto com o meu camarada .

Hoje temos o nosso blogue e o Facebook... Na esperança que leia um destes meios e com este tema tão a propósito eu te peço que,  se possível,  publiques este meu pedido .

Bom,  falta pelo menos tentar identificar o meu ex-camarada, dono da Olymopus Pen D3:

Era:

(i) furriel miliciano na CCAÇ 13;

(ii) regressou á Metrópole antes de Abril de 74 (já não me lembro quando…);

(iii)   o seu nome é GUERREIRO (só o conhecia por este nome);

(iv)  natural do Algarve;

 e (v) penso que vivia em BOLIQUEIME.

Ei sei que estes dados são muito escassos, mas a ideia é que se o próprio conseguir ler este apelo e estabelecermos contacto, as coisas se tornarão mais claras.

Gostaria tanto de,  ao fim de 40 anos,  conseguir entregar a máquina ao eu dono. Em anexo envio a foto da máquina que é a Olympus Pem D3. A outra é uma Chinon é a minha.

Luís um abraço e obrigado. Henrique Cerqueira

Nota: a foto P1010311 é a do Guerreiro.

2. Comentário de L.G.:

Henrique, obrigado. A tua história merece ser divulgada. Vamos fazer tudo para encontrar o Guerreiro. És um homem do norte, de grande nobreza de carácter. Um bom Natal e um melhor ano, para ti, a Ni, o Nuno e demais família. LG

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Nota do editor:

terça-feira, 29 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13068: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (27): Guardo Elvas e as suas gentes no meu coração (Henrique Cerqueira)


Foto nº 575


Foto nº 559


Foto nº 568


Foto nº 578


Foto nº 528

Elvas > 2 de março de 2014 > Os fortes de Santa Luzia  (foto nº 575) e da Graça (foto nº  559) e Museu Militar  de Elvas (fotos nº 568, 578 e 528).  Infelizmente, o muncípio de Elvas ainda não tem disponível, na sua página oficial, todas as informações imprescindíveis (história, itinerários, etc.) para se conhecer  melhor e divulgar o seu património mundial, classificado pela UNESCO em 30/6/2012.

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Comentário,   com data de  11 do corrente,  ao poste P12961 (*), subscrito por Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Como eu adorei Elvas!

Eu penso que o meu encanto por Elvas também tem um pouco a haver com a minha nova condição militar na altura. É que era a primeira vez que me via na condição de Cabo Miliciano e para mais logo a seguir a ter estado no CISMI em Tavira. Por tal e logo á partida comecei a gostar de Elvas o único problema era estar muito longe de casa e só me permitia ir a casa de quinze em quinze dias.

Mas Elvas tratou-me tão bem, mesmo o quartel o BC8,  comandado pelo Sr.Tenente Coronel Romão Loureiro,  assim como o meu comandante de companhia de instrução na altura o Sr. Capitão do QP Henrique Cerqueira Barreira . Tudo "gente humana" e sensível para com os novos recrutas e milicianos. 

A população de Elvas era altamente simpática e até á semelhança de Tavira tinha muito comércio gerido por militares do QP, mas tinham um comportamento diferente dos seus congéneres de Tavira.
Enfim amei Elvas e guardo no meu coração aquela cidade alentejana e suas gentes. (**)

Henrique Cerqueira

Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

8 de abril de  2014 > Guiné 63/74 - P12948: Fotos à procura... de uma legenda (26): Mais um sítio de passagem, para alguns de nós, no tempo de tropa... Qual ? (Luís Graça)

10 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 9 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12956: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (26): Leiria, o pior tempo do meu início de vida militar; Santarém onde a Cavalaria não é melhor nem pior, é diferente; Tavira, onde ia morrendo; Carregueira do bidonville; Mafra onde a instrução era levada a sério (Augusto Silva Santos)

domingo, 20 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13010: 10º aniversário do nosso blogue (13): falar ou não falar, da guerra, aos nossos filhos... A alguns de nós foi o blogue que nos tirou a "rolha" (Luís Graça / Jorge Cabral / Vasco Pires / Antº Rosinha / António J. Pereira da Costa / Henrique Cerqueira / Manuel Reis)

1. Comentários diversos ao postes P12966 e P13000 sobre o tema da última sondagem "Camarada, com que regularidade falas, da guerra, aos teus filhos" (*) (**):

(i) Luís Graça:

O meu pai, Luís Henriques (1920-2012), também andou "lá fora", a defender o Império, a Pátria, durante a II Guerra Mundial: Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43...

Cresci, fascinado, a folhear o seu álbum de fotografias, que andava por lá escondido numa gaveta, entre papéis velhos... Mas ele nunca me sentou ao colo e me explicou, tim por tim, por que terras e mares tinha passado,  por que é que andou a "engolir pó" durante 26 meses, lá nessa terra distante, enfim, não me contou histórias desse tempo, ainda eu não era nascido...

Mas era eu que as tinha que adivinhar, criar histórias, mesmo se muitas das fotos tinham legendas, lacónicas no verso... Mas, como era puto, e mal sabia ler, não entendia nada...

Um dia tocou-me a vez de ir para a tropa e também de ir "defender a Pátria", neste caso, ainda mais longe, lá na verde e rubra Guiné, em 1969/71... Nunca falámos, nem ele me deu conselhos: olha isto, olha aquilo... Por pudor ? Sim, por pudor...

Luís Henriques (c. 1941)
Voltei, "são e salvo" (?), e continuámos sem falar, da tropa, da guerra, das áfricas... Veio o 25 de abril, esqueci (?) a guerra, por um estranho sentimento de culpa, por pudor, por estúpido preconceito talvez... Era politicamente incorreto, nesse tempo,  falar-se da (ou até pensar-se na) maldita guerra colonial, ou do ultramar, ou de África...

Passaram-se os anos até que, em 1980, comecei a interessar-me pelas minhas vivências da Guiné, publiquei uma série de escritos no semanário "O Jornal"... e por tabela fui "redescobrir" o velho álbum do meu pai, já desconjuntado. amarelecido, comido pela humidade...

Com o blogue, há 10 ano atrás, começámos a ter conversas de grande "cumplicidade",  eu e o meu pai, como dois bons e velhos camaradas... Publiquei com ternura as fotos dele, em São Vicente, Cabo Verde,  (as que restaram, ao fim de tantos anos...) e fiz diversos vídeos com entrevistas com ele, sobre esses tempos de "expedicionário"...

Criei, no nosso blogue, uma série "Meu pai, meu velho, meu camarada"... Tenho pena de, por razões de saúde, nunca ter podido levá-lo em viagem de saudade, de regresso, a São Vicente... Teimoso, ele nunca quis fazer uma artroplastia das ancas... A velhice (e o blogue) aproximou-nos... Tarde, mas valeu a pena...

Provavelmente, sem o blogue, ele teria morrido, como morreu, há dois anos atrás, sem eu ter sabido mais nada sobre os três anos e tal de vida que ele passou na tropa e na guerra, os seus medos, temores, amores, desamores. problemas de saúde, amizades, histórias de vida dos seus camaradas, etc.

Jorge Cabral, c. 1970
Com os meus filhos passou-se o mesmo, foi o blogue que nos aproximou...  Só posso, por isso, estar grato a todos os camaradas que me ajudaram a construir o blogue e que me honram hoje com a sua presença (ou a sua memória) à sombra do mágico e fraterno poilão da Tabanca Grande... Nunca o teria feito sozinho, nunca o teria conseguido fazer sozinho...

  (ii) Jorge Cabral:

Um milhão de homens foram para África. Mais de 1 milhão de filhos. Talvez 2 milhões de netos...Que  os jornalistas peguem no tema, acho bem. Só que, para o fazerem, devem estudar o Portugal dos anos 60 e perceber que guerra existiu e como eram os rapazes que a fizeram. 

Luís Graça, Contuboel. junho de 1969
com Renato Monteiro, no Rio Geba
Há quem não tenha nada para contar...e quanto ao medo, só os que viveram situações de perigo podem falar...Entre ser contabilista em Lourenço Marques e operacional no Guiledje, as diferenças são óbvias...

(iii) Luís Graça

Além disso, Jorge, "um homem não chora"... Não se queixa, não grita, não tem dores, não tem medo, não tem angústias, não sente, não pensa, não faz perguntas... E, "se tem medo, compra um cão"!

Não era assim, no nosso tempo ? Nas nossas casas, nas nossas igrejas, nas nossas escolas, nos nossos quartéis, nas nossas empresas ?

Concordo contigo, o Portugal salazarento dos anos 60 não tem nada a ver com o Portugal de hoje... Quem tratava o pai por tu ? Além disso, para muitos dos nossos camaradas, sobretudo do meio rural, pai era pai-e-patrão... Para fugires à sua autoridade, ou emigravas ou te casavas, às vezes "à força" (, por exemplo, "raptando a noiva", no Alentejo)...

(iv) Vasco Pires [, foto à esquerda, Ingoré, c. 1972]

Mas como vejo aconteceu com muitos, a "rolha" só saiu há pouco.

Não só deixei de falar da guerra com meus filhos, mas também com outras pessoas, durante mais de quarenta anos; o Blog que tirou a "rolha".

Quantos aos nossos escritos, acredito que poucos além de nós os leem, contudo, certamente, mais na frente, algum antropólogo vai dar vida aos nossos relatos.História dos "vencidos", já que os que não seguiram o nosso caminho em Portugal, assumiram o controle, me parece que até hoje; e as verdades e as mentiras quando repetidas, e ampliadas pelos mídia, tornam-se verdades(quase)absolutas.

(v) Antº Rosinha [, foto a seguir, à direita, Angola, 1961]

O J. Cabral diz que os jornalistas "devem estudar o Portugal dos anos 60 e perceber que guerra existiu e como eram os rapazes que a fizeram. Há quem não tenha nada para contar..."

E digo eu que os jornalistas devem também estudar os rapazes que se furtaram à guerra, tanto os que tiveram a coragem de ir para o bidonville de Paris, como certa burguesia, tanto dos meios citadinos como provincianos, e até de certos filhos cujos pais lhe mandavam a mesada a partir das próprias colónias em guerra.

Estas burguesias tinham em geral uma motivação muito semelhante à esperteza nacional e cultural que é a eterna fuga aos impostos e contribuições... para os malandros do Estado!

Mas claro, essa fuga à guerra era pela precocidade política do jovem de 19/20 anos, não era por uma mesquinha "esperteza" à maneira nacional.  Esses jovens tremendamente precoces é que precisam de ser bem estudados, porque gritaram tanto todos estes anos, que não tem dado espaço para se lhes fazer perguntas. E muitos têm andado de partido em partido, de governo em governo, de administração em administração de Empresas Públicas.

Essa precocidade também tem que ser bem compreendida, para não se perder a tradição.

J. Cabral, de facto há mais gente sem nada para contar, como tu dizes, por isso poucos aparecem a falar, era interessante um dia alguém tentar encontrar uma percentagem dos que não ouviram qualquer tiro...como eu, em 13 anos de guerra (,no mato e nos muceques de Angola e nas praias de Luanda).

(vi) António J. Pereira da Costa [,. foto a seguir em Cacine, c. 1968, com a enf pára Maria Ivone Reis]



Parece-me que esta questão, por si própria, levanta uma ainda mais importante: como é que, no fundo, lidamos com a guerra?

Parece-me que cerca de 50% de nós não temos a nossa relação com a "guerra" devidamente arrumada. De outro modo teríamos falado dela com desassombro com os nossos filhos e teríamos conseguido sensibilizá-los para o que ela foi e o que passámos/fizemos.
Não me parece que tivéssemos tido grande êxito nesta matéria. Ou estou enganado?


(vii) Henrique Cerqueira

Eu já votei... No entanto,  e a verdade seja dita,  eu tive alguma dificuldade para votar numa das opções.É que actualmente estou mesmo quase a fazer 65 anos e já não dá para falar assim tanto com os filhos, pois que eles andam tão ocupados a não perder os empregos que nem tempo têm para grandes conversas e muito menos para conversas com o pai sobre o ex-Ultramar.

Eu até entendo. Quando eu estava no Ultramar, só queria que o tempo passasse para poder regressar ao trabalho activo e ao melhoramento da minha vidinha tanto em formação como em apostar numa carreira de trabalho.

A NI e o puto do Henrique Cerqueira, Nuno Miguel, na estrada de
Biambe-Bissorã, c. 1973
Os meus filhos já pensam o contrário.Ou seja: já só pensam se no final do mês o patrão abre ou não a fábrica e pensam ainda se não será melhor fazer o percurso inverso do pai, que é ir para África, ex-ultramar...(Isto é uma porra, meus camaradas!)

Bom,  pelo menos e para já,  vou falando ao neto sobre a guerra do ultramar e mais especificamente sobre a Guiné. Pois que por acaso o pai dele (meu filho), até esteve na Guiné em criança. Mas quando me alongo de mais e me perco em "devaneios" sobre a Guiné,  o "puto" começa logo a bocejar e desvia a conversa para os interesses dele. É que os programas escolares sobre a história ultramarina e em especial as guerras coloniais não se alongam muito e quanto a mim dando a entender existir alguma "vergonha" em aprofundar mais os conhecimentos da nossa participação na Guerra Colonial.

Foi a minha opinião.

(viii) Manuel Reis [, foto a seguir,. Guileje, c. 1972]


Amigo Luís, é um facto que " o baú está um pouco mais rapado" mas longe de estar esgotado. Continua a ser útil para todos os camaradas e ex-combatentes, de modo especial, aqueles que tardiamente se aperceberam desta ferramenta, que os pode aliviar das tormentas da guerra.

Falo na guerra aos meus filhos nos momentos em que os vejo interessados e receptivos a ouvir as estórias em que, na Guiné, muitos ex-combatentes foram protagonistas. 

O convívio é indispensável, é o agrupar das tropas e já sentimos a sua falta. Vamos a isso Luís.
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

17 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13000: 10º aniversário do nosso blogue (9): Sondagem: resultados finais (n=129): mais de um terço dos respondentes nunca falou da guerra, ou só muito raramente, aos seus filhos... Comentário da jornalista e escritora Catarina Gomes: "não esperem por perguntas, digam filho, anda cá que eu quero contar-te uma coisa"

11 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...

(**)  Último poste da série > 18 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13006: 10º aniversário do nosso blogue (12): Faz hoje 2 meses que o Pepito nos deixou... Em sua memória reproduzimos aqui um vídeo de 2012, em que ele relata, com humor e boa disposição, uma das cenas de violência de que foi vítima, na sua casa do Quelelé, ao tempo de Kumba Ialá (c. 2000)...

sábado, 12 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12973: 10º aniversário do nosso blogue (6): A propósito da nossa sondagem... "Ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Migel Nuno que aos dois anos esteve comigo e com a mãe em Bissorã, de set 73 a jan 74, o significado destas fotos e de quando em vez faço o mesmo com o seu filho, meu neto" (Henrique Cerqueira)


Guiné > Região do Oio >  Biambe > c. set 73 / jan 74 > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe... O Miguel  Nuno e, à frente, do lado esquerdo, a sua mãe, a  Maria Dulcinea (NI)" [, nossa grã-tabanqueira]



Guiné > Região do Oio >  Estrada de Biambe- Bissorã > c. set 73 / jan 74  > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe, na companhia do Miguel  Nuno e da mãe... O Unimog 411, "burrinho", pertencia à companhia "Já Está no Papo" (são ainda percetíveis os dizeres pintados no capô).




Guiné > Região do Oio >  Bissorã >  c. set 73 / jan 74 > "O Miguel  Nuno, sentado na carcaça de um 'fusca' que era pertença de uma escola de condução... Atrás os seus amigos de brincadeira".

[O Nuno e a mãe embarcaram na TAP em finais de Setembro de 1973 até Bissau, de seguida seguiram com o Henrique Cerqueira  no interior de uma ambulância do Exército até Bissorã.  Regressaram à Metrópole em 29 de Junho de 1974, tendo o nosso camarada regressado a casa em finais de Julho de 1974.]

Fotos (e legendas):  © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Henrique Cerqueira, Porto
1. Mensagem de hoje do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Assunto: Nosso 1º filho e a Guiné

Camarada Luís Graça:

Vem a propósito do inquérito sobre o falar com os nossos filhos da Guiné e da guerra colonial (*).

Vem também a talho de foice o teres comentado que as nossas estórias da Guiné estarão esgotadas. 

Na realidade uma das coisas boas que todos nós tivemos na Guiné ,foi que tiramos muitas fotografias de muitos e diversos momentos passados lá e sempre que damos uma olhadela a essas fotos descobrimos que há sempre uma pequena estória associada às mesmas.

Bom e para "alimentar" o nosso blogue com mais alguma matéria relacionada com a nossa passagem pela Guiné,  eu resolvi enviar-te estas duas fotos do meu filho Miguel aquando a sua permanência com a mãe junto de mim em Bissorã.

Ele era uma criança muito sociável, embora nos seus dois anitos de vida, tinha uma grande capacidade de comunicação e inclusivamente já falava muitas palavras em crioulo. Também era muito bem tratado pelas crianças naturais Bissorã tal como documenta a foto em que está sentado na carcaça de um "fusca" que era pertença de uma escola de condução.

Na foto a preto e branco, demonstra,  uma vez mais, a sua adaptação a todos os ambientes, pois que se tratou de uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe e claro que depois de uma visita guiada ao tabancal em Unimog (identificado como sendo da companhia "Está no Papo"),  impunha-se a foto da ordem.

Claro que mais tarde, e ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Miguel o significado destas fotos e de quando em vez o faço com o seu filho, meu neto, e para isso tenho que lhe explicar o porquê de termos ido à Guiné.

Agora lamentável é que as nossas 
escolas não sejam mais contundentes no estudo e ensino sobre a
permanência dos Portugueses e a participação nma guerra colonial, chegando ao ponto da maioria dos jovens e até menos jovens de hoje quase nada saberem sobre as guerras coloniais dos anos 60/70.

Bom, qualquer dos modos, nós, os Camaradas da Guiné lá vamos contando alguma coisa e quem sabe algum dia servirá para instruir as gerações futuras.

Luís, esta pequena estória vale o que vale, no entanto se achares algum interesse publica, mas o nosso blogue não se pode esgotar por aqui. (**)

Um abraço a todos os camaradas da Guiné.
Henrique Cerqueira
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Notaa do editor:

Vd. poste

(*) Vd. poste de  11 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...

(**) Último poste da série > 12 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12972: 10º aniversário do nosso blogue (5): A propósito da sondagem que eestá a correr:... "Os nossos filhos e netos estão muito mais preocupados com o seu presente e o seu futuro do que com o nosso passado" (João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12961: Fotos à procura... de uma legenda (27): Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista!... (Parte I) (Luís Graça)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 663 > Aqueduto da Amoreira (1)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 441 Aqueduto da Amoreira (2)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 444 > Aqueduto da Amoreira (3)



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 445 Aqueduto da Amoreira (4)


Aqueduto da Amoreira:

(i) Desde sempre a população de Elvas teve problemas com o abastecimento de água; a sua posição estratégica no alto de uma colina levou a que desde a ocupação islâmica os elvenses sobrevivessem através de poços situados intra-muros e de fontes nas redondezas que em caso de guerra se tornavam inacessíveis;

(ii) com o aumento populacional a situação tornou-se gravíssima durante a segunda metade do séc. XV. É em 1498 que os procuradores de Elvas pedem a D. Manuel I que lhe resolva o problema; seria então lançado na povoação o imposto do Real d’Água que recaía sobre bens de consumo para futuramente ser construído um aqueduto; a obra seria monumental e dirigida por Francisco de Arruda já no séc. XVI, que ao mesmo tempo trabalhava também na futura Sé da cidade;

(iii) as despesas enormes da construção fizeram com que ela pouco avançasse até 1537; a obra só estaria pronta em 1622 quando a água começou a correr na Fonte da Misericórdia; nos anos seguintes as obras de manutenção ao nível dos contrafortes aumentou o custo já por si enorme da construção;

(iv) O Aqueduto da Amoreira é um verdadeiro ex-libris da cidade (....):; trata-se de uma obra gigantesca que se desenvolve desde a nascente principal em galerias subterrâneas numa extensão de 1367 metros e depois ao nível do terreno e em arcadas por mais de cinco quilómetros e meio que chegam a superar os 30 metros de altura. (Fonte: Adpat. do sítio CM Elvas > Turismo > Lociais a visitar > Património civil) (com a devida vénia).


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral  e praça da República


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 497 > A praça da República, vista da antiga Sé Catedral.


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 > A belo calçada portuguesa da praça da República



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 487 > Antiga Sé Catredral > O magnífico  silhar de azulejo policromo  do séc.XVII



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 468 > Antiga Sé Catedral 


Antiga Sé Catedral, hoje Igreja de N.Sra. Assunção


(i) A construção da então igreja de Nossa Senhora da Praça foi principiada em 1517 segundo o traço do arquitecto régio Francisco de Arruda que trabalhava ao mesmo tempo no Aqueduto da Amoreira;

(ii) o espaço ocupado pela nova igreja tinha-se erguido até então a igreja de Santa Maria dos Açougues; a nova igreja abriu ao culto finalmente em 1537 mas tendo continuado as obras até final do século sob a direcção do mestre pedreiro Diogo Mendes;

(iii) a mestria de Francisco de Arruda fez com que fosse possível a construção de um majestoso edifício com um carácter fortificado e uma torre como fachada; Francisco de Arruda teve ainda a ajuda de outros mestres (...);

(iv) em 1570 com a criação do bispado de Elvas pelo Papa Pio V, a igreja de Nossa Senhora da Praça transformou-se na Sé de Elvas, título que viria a perder em 1881;

(v)  em termos artísticos a Sé de Elvas é um templo originalmente manuelino mas que perdeu alguma desta traça durante os séculos após alterações mandadas fazer nele pelos bispos da cidade; são de salientar no exterior o seu portal neoclássico e os portais laterais manuelinos; no interior, em redor de todo o corpo da igreja corre um silhar de azulejo policromo mandado ali colocar no início do séc. XVII pelo Bispo de Elvas D. António de Matos de Noronha; a capela-mor, mandada construir em 1734, é da autoria de José Francisco de Abreu em mármore de várias cores e em estilo barroco;

(vi) uma palavra como não poderia deixar de ser para o soberbo órgão situado no coro-alto mandado elaborar pelo bispo D. Lourenço de Lencastre em 1762 ao organeiro italiano Pasqual Caetano Oldovino que o completa em 1777. 

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 599 >  




Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 513 > Igreja do antigo convento das domínicas... A sub iddae à sua torre sineira é obrigatória...  Um dos melhores miradouros das cidade...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 533 > Um dos sinos da torre sineira da igreja das domínicas...



Elvas > 2 de março de 2014 > Foto nº 523 > Pormenor do centro histórico da cidade, vista da torre sineira da igreja das domínicas...


Igreja das Domínicas

(i) Antigo convento feminino da Ordem Dominicana fundado em 1528;

(ii) a igreja que hoje observamos foi principiada em 1543, tendo as obras terminado em 1557 no local onde outrora se situava a Igreja da Madalena;

(iii) é um edifício de rara planta octogonal com um pórtico renascentista e um interior completamente revestido a azulejos;

(iv) a talha dourada dos altares é obra do final do séc. XVII;

(v) Com a  extinção das ordens religiosas em 1834, levou ao o abandono do convento que no entanto viria a durar até 1870, altura em que falece a sua última freira Ana Inácia de Gusmão;

(vi) No início do séc. XX é decidida a demolição do convento, excepto da igreja; no seu lugar foram construídos um cine-teatro, casas particulares e uma escola primária; 

(vi) Da sua torre sineira tem-se uma vista magnífica sobre Elvas e redondezas.

(Fonte: Adapt do sítio CM Elvas > Turismo > Locais a visitar > Património religioso) [Com a devida vénia].


Fotos (e legtendas): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Pois, claro, que "as fotos á procura de legenda"... que publicámos no poste anterior (*), só podiam ser de Elvas, a "raínha da fronteira!... A bela cidade raiana do alto Alentejo, rica de história e património (civil, religioso e militar), tem hoje cerca de 16 mil habitantes.

Foi considerada a cidade mais fortificada da Europa. Orgulha-se de possuir o maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo. As muralhas de Elvas, em conjunto com o centro histórico da cidade,  são Património Mundial da Humanidade, de acordo com a classificação da UNESCO em 30/6/2012.

No tempo do escudo e da peseto, do Salazar e do Franco, Elvas eram apenas uma porta de entrada em Espanha (e na Europa) por Badajoz...Tempos duros, de repressão, de guerra civil espanhola (1936-1939), de contrabando, de emigração clandestina (anos 60/70,), de serviço militar obrigatório... Alguns de nós, como o Hernrique Cerqueira, passaram, por lá (BC 8)...

Passei por lá, mas desta vez com olhos de ver... Não é uma cidade para ... mancos!... Quando lá fui ainda não tinha a "anca nova"...Deixo aqui algumas fotos dessa visita "turístico"...

No passado, a caminho do "estrangeiro de fora", passei por lá, a correr, como cão por vinha vindimada... Era no tempo em que os portugueses, pobretes nas alegertes,  pouco ou nenhum valor davam a si próprios, à sua história e ao seu património cultural...E de Elvas sabíam o refrão da canção "A minha cidade", do elvense Paço Bandeira (n. 1945) e nosso camarada (fez o serviço militar em Angola, como 1º cabo trms inf, CCS/BCAÇ 1903, 1967/69, segundo li algures na Net):

(...) Ó Elvas, ó Elvas
Badajoz à vista.
Sou contrabandista
De amor e saudade,
Transporto no peito
A minha cidade,
A minha cidade,
A minha cidade, (...)


Excertos de comentários ao último poste da série, organizados por ordem lógica e  cronológica (*)

Veríssimo Ferreira:;

(...) Sobre as fotos, sei mas não digo, para que a rapaziada descubra. Talvez todavia e plagiando se possa dizer para a 1ª "tocam os sinos na torre da igreja". (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Quanto ás fotos em busca de legenda: Pois a verdade é que mais uma vez são fotos de grande qualidade e a fortificação que se vê ao fundo tanto pode ser no Alentejo como no Alto Minho. Em fortificações o nosso país é tão rico que de repente eu dou comigo a pensar que nos habituamos tanto a essas belezas arquitetónicas que nem reparamos devidamente nelas.

Bom, mas não serve de desculpa e vê lá se dás uma dicazinha. (...)

Luís Graça:

(...) Obrigado, Veríssimo, obrigado, Henrique...  O Veríssimo, que joga em casa, já descobriu. Não é difícil... A terra tem sido. até agora, uma daquelas de "passagem" onde a gente nunca para(va)... Há agora motivos de sobra para a gente a redescobrir e saborear, com tempo e vagar... Toda ela é amuralhada... E hoje é motivo de orgulho para todos os portugueses., pelo seu pattrimónio edificado...

Sim, a arquitetura militar (no caso do forte...) não é medieval...

Mais dicas para o Henrique: fica naquela parte do país que tem mais de um terço do território (é equivalente à Guiné) e pouco mais de 7% da população...

Não te vou dizer o nome da igreja... Subi à torre sineira, a coxear de uma perna, para tirar estas e outras fotos... Justamente a pensar em camaradas, como tu, que por lá passaram, no tempo da tropa, há manga de tempo...

Henrique, também estás a jogar em casa, que eu sei!... Só me falta dizer o nome da terra, pá! (...)

Manuel Joaquim:

(...) Quanto às fotos, conheço bem o sítio: "Ó El... ó El..., ...oz à vista!" ... A foto dos sinos da Igreja de Nossa Senhora da Assunção (Sé) recorda-me que alguém "cá de casa" foi responsável por obras de conservação e restauro realizadas no seu interior há poucos anos atrás, altura que aproveitei para visitar a cidade. (...)

Henrique Cerqueira:

(...) Luís Graça: É imperdoável da minha parte não ter identificado de imediato a localidade e qual o campanário que utilizaste para tirar as fotos.

É claro que foi na Cidade de Elvas e na Igreja da Nossa Senhora da Assunção.

Na verdade eu estive no BC8 em Elvas e também é verdade que quando lá estive eu via a cidade com outros olhos que não hoje em dia. Passados muitos anos, voltei a Elvas e fui visitar com a família essa igreja e lembro-me de ter subido umas escadas apertadas até ao campanário para admirar as vistas que são maravilhosas.

Também nunca tinha visto a fortificação de Elvas do mesmo modo que a vejo agora e até tive de me socorrer do Google para melhor compreender as imagens.

Bom um grande abraço e continuação das tuas melhoras e espero que quando coxeavas ao subir a torre sineira não nos chamasses muitos nomes feios. (...)

sábado, 1 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12784: A cidade ou vila que eu mais amei ou odiei, no meu tempo de tropa, antes de ser mobilizado para o CTIG (18): Tavira, o CISMI e o meu "santo sacrifício da missa dominical"... Fazia parte do coro [da Igreja de São Francisco] para ter direito a uns "desenfianços" (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)





Tavira > CISMI > Igreja de São Francisco > Grupo coral do CISMI > c. 1972 > O Henrique Cerqueira é o da terceira fila de óculos escuros... O guitarrista Jales (?), com aquela guedelha e bigode (!), de repente parece-me um sósia de um dos Beatles... (LG)

Foto © Henrique Cerqueira  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]



Tavira > Igreja de São Francisco > Ficava pertíssimo do quartel da Atalaia e nela dizia-se missa ao domingo e dias santos, às 12h,  a que podia assistir  o pessoal militar. (No verão, era às 19h) (Fonte:: Guia do Instruendo, Tavira, Quartel da Atalaia, CISMI, 1968).


Foto © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:


Data: 28 de Fevereiro de 2014 às 19:23

Assunto: Tavira, CISMI


Camarada Luís Graça:

Desde que se tem falado sobre Tavira, e mais propriamente sobre o CISMI,  eu tenho sido muito negativista tanto em relação ao quartel como propriamente a Tavira e à sua população da altura. Daí os meus comentários, que têm sido na generalidade desfavoráveis.

O certo é que na altura,  e devido á minha condição económica e deslocação regional, e sendo eu do Porto, só tive a possibilidade de vir uma vez de fim de semana enquanto estive em Tavira.

Ora quer isto dizer que, ao estar tanto tempo em Tavira,  poderia ter aproveitado para desfrutar das belezas naturais da cidade . Só que,  sendo eu um homem casado,  o dinheiro era extremamente curto para tal disfrute. A juntar a todas as dificuldades de logística (e de dinheiro), a vida no CISMI era do pior que me poderia ter acontecido.

No entanto não foi tudo assim muito mau, só que até estava esquecido. E sendo assim eu passo a explicar:

Como a vidinha no quartel era "madrasta",  foi necessário que eu pusesse em prática alguma situação de desenrasque ,pois nisso o Portuga é "rato". Ora vai daí,  descobri um meio de ter alguma mordomia na balda a algumas formaturas da noite e vir até á cidade . Ou seja, descobri que fazendo o "Santo Sacrifício" Dominical, ou seja, indo á missa, me proporcionava uns desenfianços, mas para isso tinha que pertencer ao grupo coral da Igreja. Tal pensei, tal executei,  passei então a cantor de igreja ao domingo. E á semana,  uma ou duas vezes áimos ensaiar.

Daí,  não foi assim tão mau e na verdade até se tornou agradável pertencer ao dito coro . Só lamento de não me lembrar dos nomes da malta, talvez com exceção de um guitarrista de farto bigode,  que acho se chamava Jales. Poderá ser que apareça algum nosso Tertuliano que se lembre desta foto [, acima].

Bom,  assim sendo,  e como não tenho jeitinho algum para a escrita,  vou terminar e reconhecer que as fotos que tens publicado sobre Tavira,  me têm aguçado o apetite para um dia visitar Tavira e de certeza fechar o ciclo de más memórias que essa cidade me traz.

A foto que envio em anexo não tem lá muita qualidade  mas penso que irá avivar mais algumas memórias de malta que passou pelo CISMI.

Um abraço a todos.

Henrique Cerqueira

PS - Na foto eu identifico-me lá na fila de trás com uns óculos mais escuros


2. Dois de diversos comentários anteriores do Henrique Cerqueira sobre o seu tempo, no CISMI, Tavira:

26/1/2014

(...) Já agora e a talho de "foice" eu também nunca mais visitei Tavira no Algarve porque tal como a Guiné me foram impostos e não gostei mesmo nada de lá ter passado parte da minha vida. Já Caldas da Rainha, Elvas e Évora que também me impuseram eu guardo gratas recordações de acolhimento e até de vida militar. (...)


13/2/2013

(...) Eu já sei que haviam praxes e "praxes", e em especial na Guiné normalmente os "piriquitos"eram praxados com simples brincadeiras. No entanto mandar um militar em operação para o mato não perece sêr uma simples brincadeira. Mas o meu único "ódio de estimação" vai para praxes de autentico rebaixamento humano que sofri em Tavira.

Exemplos: constantes idas ás salinas para enlamear o fardamento e logo depois nas formaturas de refeição sermos castigados porque não tínhamos fardamento que resistisse a tanta lama.No final do dia a estória se repetia. De seguida e após o jantar obrigaram-nos a fazer cambalhotas e flexões até vomitar o parco jantar que era servido na Unidade. Mais tarde na semana de campo no Caldeirão os senhores oficiais e alguns palermas de cabos-milicianos passaram duas noites a "praxar" os instruendos,  usando muito recriativamente o insulto aos casados e aos que tinham namoradas, ainda por cima eu numa dessas noites estava com 40º de febre e só depois de muita insistencia minha é que resoveram me "internar numa tenda enfermaria", não antes de me chamarem de filho da pu..armado em doentinho.
(...)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12774: Estórias avulsas (75): Quando, em 18/12/1976, na fronteira de Valença, ia eu comprar à vizinha Espanha o bacalhau p'ro Natal e os caramelos da ordem, e me exigem a famigerada Licença Militar... Dois anos depois de eu passar à disponibilidade... (Henrique Cerqueira, ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74)



Licença militar, passada pelo comandante militar de Viana do Castelo, em 18 de dezembro de 1976, autorizando o fur mil Henrique Jorge Cerqueira da Silva, do RI 16, na situação de disponibilidade, a passar a fronteira, em Valença, "por espaço de tempo não superior a 10 dias"...


Imagem digitalizada: © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados.~~



Um "santo antoninho", uma nota de 20 escudos... Foi quanto custo o "passaporte militar", para o Henrique poder ir a Espanhar comprar bacalhau e caramelos para o seu Natal de 76...Na fronteira, em Valença, as autoridades do lado de cá não foram em cantigas: imaginem se ele fosse um perigoso desertor da guerra colonial..."Vais à Viana, trazes um papel da tropa, pagas lá um santantoninho e a gente deixa-te passar para ires comprar caramelos... Tens 10 dias para vadiar"... Era assim, não há muito tempo, em finais de 1976, já a guerra da Guiné tinha acabado há dois anos... Os "regimes" passam, a "burocracia" fica... (LG)

Fonte: Notas da República Portuguesa (com a devida vénia...).


 1. Menasagem do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Data: 25 de Fevereiro de 2014 às 19:45

Assunto: Licença Militar


Olá,  Camarada e amigo Luís Graça.

Andava eu numas arrumações de gavetas e porque não tinha nada mais que fazer (isto já começa a ser hábito),  encontrei este documento que achei muita graça para os tempos que correm.

Pois é,  estava eu em 1976,  já quase dois anos passados após a minha desmobilização e em plena disponibilidade . Ora, pensava eu que nessa altura, e para mais já em período pós-revolução,  que estava livre da tropa. Ou seja, eu já nem sequer pensava na tropa, quando próximo do Natal de 1976 e, como qualquer Português da altura, toca a pensar em ir comprar o Bacalhau a Espanha e claro fazer um passeio até á estranja.

Para minha surpresa,  quando ia todo lampeiro para atravessar a Fronteira em Valença, foi-me negada a passagem por falta de Licença Militar. Atenção,  que estou a falar do ano de 1976. É claro que eu é que fui um "nabo",  porque quando na fronteira me perguntaram se era ou fui militar eu poderia ter aldrabado. Mas não,  quando questionado,  eu todo orgulhoso disse que tinha servido a Pátria na Guiné e já tinha sido desmobilizado em 1974.

Vai daí as autoridades (Portuguesas) me disseram :
- Não senhor, não pode passar a fronteira sem a "Licença Militar" e nós sabemos lá se não é um desertor ou coisa parecida.

Ora,  eu aí comecei a ver a vidinha a andar para trás, é que tínhamos o farnel no carrito (era um Morris Mini, que saudades do meu primeiro carro!), com ideias de o comer em Espanha e depois então ir comprar o bacalhau e talvez uns caramelos para a família. 

Então um oficial aduaneiro,  ao ver o meu desgosto,  é que me disse:
- O senhor pode ir a Viana do Castelo, que é aqui bem perto, e arranja lá a Licença.

Bom, lá virámos as "roditas" do Mini e viemos a Viana,  ao comando militar da localidade, e lá me passaram a famosa Licença ,mas tive que pagar 20$00 (, era uma nota Santo António, parecendo que não,  ainda dava para comprar uns saquitos de caramelos e claro também para pagar a Licença).

E,  prontos,  munidos do precioso documento lá rumámos até á fronteira novamente, e para grande desgosto meu,  nem sequer quiseram ver o documento que atestava que eu nem era militar nem desertor. Mas pelo menos lá comprei o bacalhau e até os caramelos, mais uma garrafita de brandy que também era de bom tom comprar em Espanha.

Olha, camarada Luís, hoje achei piada a este documento que encontrei e como tal resolvi partilhar com a tertúlia. Se achares alguma piada,  publica, senão já sabes,  "arquiva".

Um abraço

Henrique Cerqueira

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de fevereiro de  2014 > Guiné 63/74 - P12746: Estórias avulsas (74): Balas de raiva: uma emboscada que deixou marcas (José Saúde)