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terça-feira, 14 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25519: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (26): Um símbolo, não de guerra, mas de ecumenismo, reconciliação, paz, cooperação e tolerância ? (António J. Pereira da Costa / Luís Graça / Carlos Afeitos / José Teixeira)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 5 de maio de 2013 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Aspeto exterior


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 5 de maio de 2013 > Núcleo Museológico Memória de Guileje > A capela, do tempo da CART 1613 (1967/68), restaurada.

Fotos: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guileje > 2011 > Placa indicativa do antigo heliporto


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guileje > 2011 > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guileje > 2011 > O trajeto do quartel para o heliporto, feito com garrafas de cerveja


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guileje > 2011 > Sinalização, com garrafas de cerveja, da entrada do posto de socorros

Fotos (e legendas); © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > 5 de maio de 2013 > Recordações guardadas em vitrina: objetos do quotidiano recuperados, provenientes das escavações do antigo quartel das NT, foto aérea do quartel, pista e tabanca, pratos de alumínio, emblemas, resto de vestuário...

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje > Visita ao sul > 2 de Março de 2008 > Três camaradas nossos com um ar de felicidade... Ei-los aqui fotografados com um tesouro, a estatueta, em metal, da santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje... Da esquerda para a direita os valorosos representantes da penúltima subunidade quadrícula de Guileje, a CCAÇ 3477 (Nov 1971 / Dez 1972): José Carioca, Abílio Delgado e Sérgio Sousa... O Zé Carioca foi actor de teatro (amador ), vive em Cascais e é membro também da Tabanca da Linha.


Foto (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados [ Edição : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje ou a caminho de Guileje > 2010 > "A Nossa Senhora de Fátima de Guileje"... A última doação à Capela de Guileje, uma imagem de N. Sra. de Fátima, trazida de Portugal por António Camilo e Luís Branquinho Crespo. 

Recordamos aqui uma mensagem do nosso saudoso amigo Pepito (1947-2014), com data de 16/3/2010:

"Luís: Mais uma importante contribuição dos nossos amigos da Capela de Guiledje, o António Camilo e o Dr. Luis Branquinho Crespo (na foto), que fizeram questão de se deslocarem a Guiledje para doarem a imagem da Nossa Senhora de Fátima à Capela. Este gesto tão bonito, foi acompanhado pelos votos de que esta oferta ajude a Guiné-Bissau a encontrar rapidamente os caminhos da Paz. Abraço. Pepito."

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [ Edião e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Cópia da factura, emitida pela Impar Lda, discriminando as despesas da reconstrução do oratório e a capela, num total de  387 mil CFA, o que corresponde a 589,98 €. (Para converter o CFA em euros, carrega aqui). 

Para se ter uma ideia dos preços de bens e serviços rtelacionados com a construção civil,  na Guiné Bissau, tomem como referência estes indicadores: 

(i) o transporte do material de Bissau a Guileje representou 26,5% do total;

 (ii) a mão de obra, 43,9%; 

(iii) os materiais custaram o resto (29,5%), com destaque para a tinta  branca (14,1%) e o cimento (4,8)...



Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem : Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Numa "contabilidade criativa" a reconstrução da capela de Guileje (e do oratório  construído pelos Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, que esteve lá entre nov 1971 e dezembro de 1972, comandada  cap mil e nosso tabanqueiro Abílio Delgado) custou 589,98 euros, totalmente cobertos pelos fundos recolhidos, em espécie (dinheiro), pelo Manuel Reis (590,00 euros) e entregues à ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, na pessoa do Pepito, na Tabanca de  São Martinho do Porto, em 21 de agosto de 2010. (O Manuel Reis  foi alf mil, da CCAV 8350, a última unidade de quadrícula de Guileje, 1972/73.)

Outros camaradas e amigos  contribuiram (e muito),  não em espécie mas em géneros (incluindo horas de trabalho), para estas obras:


Há ainda que fazer justiça a dois homens, nossos amigos, membros da nossa Tabanca Grande, e grandes guineenses, como o Pepito e o Domingos Fonseca, da AD- Acção para o Desenvolvimento, que estiveram de alma e coração neste projecto.



"N. Sra. de Fátima de Guileje".
Foto do António
Camilo (2010)
1. A criação do Núcleo Museológico Memória de Guiledje, no antigo 
 aquartelamento de Guileje, inaugurado em 20 de janeiro de 2010 (e que o nosso blogue acompanhou  pormenorizadamente), não terá sido totalmente consensual para todos os membros da Tabanca Grande, independentemente de conhecerem ou não aquele espaço (que não se resume às instalações do museu, p.d., ou melhor, do pequeno núcleo museológico; inclui também parte do antigo aquartelamento de Guileje,  objeto de escavações arqueológicas, inventariação, limpeza, desminagem, recuperação de armas e munições, objetos do quotidiano, documentos, etc.,  restauro  e reconstrução, como o foi o caso da capelinha erigida no tempo da CART  1613 (1967/68 e do oratório dos "Gringos de Guileje"). 

Eis aqui quatro pontos de vista:

(i) António J. Pereira da Costa (*):

(...) Um das coisas que mais me irrita é o facto de os portugueses andarem sempre a celebrar derrotas militares. Há mais de 400 anos que Portugal não ganha uma guerra, mas celebrações é mato.

Era evidente que a celebração de uma derrota em Guileje era mais uma espécie de paisagem em miniatura (diaporama) reconstituindo o sucedido. Também era de esperar que a Guiné não se preocupasse muito com uma vitória de há mais de 50 anos e à qual não dá hoje muita importância. Terá motivos para celebrar? Quais? Porquê?

Eu sou estrangeiro e nada tenho a ver com o "museu" de Guileje. Mas não gosto de ver o meu país aviltado desta maneira. Mandar uma equipa de militares e ex-militares
 construir um museu em que se celebra uma derrota (nossa) e uma vitória do inimigo e depois deixá-lo cair por falta de 
manutenção é gozar e apoucar o inimigo e ele prestar-se a isso. (...)

11 de maio de 2024 às 16:57 

(ii) Luís Graça (*):

Tó Zé, permito-me discordar de ti. Esse Núcleo Museológico, tal como foi pensado e montado, não celebra a derrota de ninguém nem é uma glorificação de uma das partes do conflito. Simboliza, isso, sim, a paz, a reconciliação, o ecumenismo.

O espaço museológico vale pelo seu conjunto, e preserva elementos importantes da nossa presença naqule local ao longo de toda a guerra, como por exemplo a capela de Guileje ou o oratório dos Gringos de Guileje...

Houve uma recolha de fundos no blogue, para esse efeito. Diversos camaradas participaram com entusiasmo, mesmo nunca  tendo posto os pés em Guileje. Outros sofreram duramente quando por lá passsaram. Em suma, é uma obra de paz, não é um monumento bélico.
 
11 de maio de 2024 às 23:28

(iii) Luís Graça (*):

No tempo do cap Eurico Corvacho e do 2º srgt Zé Neto (que exercia as funções de 1º srgt), da CART 1613 (1967/68), já se rezava, em Guileje, num espírito de ecumenismo e de tolerância religiosa entre cristãos e muçulmanos.

Daí ter-se erigido uma capela que, quarenta anos depois, será reconstuída de acordo com as fotos da época, capela essa que faz parte integrante do Núcleo Museológico Memória de Guiledje. A viúva do Zé Neto, a nossa tabanqueira Júlia Neto, esteve na inauguração e benção da capela, em 20 de janeiro de 2010.

Recorde-se que foi criado um grupo "adhoc", o Grupo dos Amigos da Capela de Guileje, que angariaram fundos, em dinheiro e em géneros, para este projeto, em parceria com a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento.

O Pepito pôs todo o seu entusiasmo neste projeto, sabia que ele era um traço de união entre portugueses e guineenses, incluindo os "inimigos de ontem" que se haviam combatido de armas na mão"...

(iv) Carlos Afeitos (**):

 [professor de matemática, cooperante na Guiné-Bissau, durante 4 anos (2008-2012), e nosso grã-tabanqueiro, com nº.  606, que nos mandou mais de uma meia centenas de fotos recentes de Guileje. ]


 (...)  Durante o tempo que estive na Guiné passei por Guilege duas vezes. A primeira vez foi a caminho de Cantanhez, região lindíssima e que vale a pena visitar. A segunda vez foi quando convidei a minha irmã para ir conhecer a Guiné em 2 semanas. Fiz questão de levá-la um bocado ao sul e ficar a conhecer um bocado mais da história que une os dois países.

Pelas conversas que tive com um homem a viver e a recuperar o antigo aquartelamento, está previsto edificar um complexo que irá servir de escola profissional no sítio da pista de aterragem de helicópteros, relembro que isto segundo as informações.

O senhor serviu de guia e explicou-nos como estava ordenado o quartel e como viviam os militares que estavam destacados para lá. O museu relembra muito bem da vida e da luta de ambas as partes envolvidas no conflito. À entrada podemos ver uma antiaérea e um Unimog, lado a lado. Fizemos uma visita à pista de aterragem exactamente pelo caminho feito de garrafas e depois mais umas voltas pelos pontos assinalados. 

Na minha segunda visita também tive uma conversa muito amigável com uma pessoa que estava a viver na tabanca no interior do quartel aquando da retirada. Ele contou-me alguns dos momentos complicados que passou e recordou com alguma angústia e nostalgia. As memórias ainda fazem chorar...

Uma das coisas curiosas que eu reparei é do carinho que a população tinha por alguns militares portugueses, pois é uma das coisas que todos falam é nos nomes deles. Depois de tantos anos ainda os recordam e sabem exactamente quem são, a graduação que tinham e de onde eram. (**)

(v) José Teixeira (***):

[O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, foram de Iemberém, onde estavama hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partinso  depois para o Xitole, convidados para um casamento ] 


(...) O dia nasceu suavemente, com um mango a acordar-me ao cair encima do telhado de capim e rolar até ao chão. Talvez um dos macaquitos que estava a tomar o seu matabicho se tenha descuidado. Estes macacos, de pelo cinzento, não armam aquela gritaria a que nos habituamos em tempos idos com o macaco cão. Habituaram-se a viver com o homem e passeiam-se nas árvores por cima de nós, pacifica e calmamente. Certo é que neste dia 5 de Maio, o sol já ia alto quando me sentei para tomar o pequeno-almoço, que começou por um mango madurinho e saboroso.

(...) Partimos (de Iemberém) com destino a Bissau. Duas horas depois estávamos a admirar o Museu Memórias de Guiledje (****), inaugurado em 2010 e que pretende documentar todo um passado de luta pela independência da Guiné-Bissau. À nossa espera estava o diretor, Domingos Gomes, como tinha prometido, para uma visita guiada. Foi um regresso ao passado para mim e para o Francisco Silva no reencontro com as armas e canhões, com as viaturas, com as imagens da guerra que ambos vivemos em locais e tempos diferentes.

Em cada visita que faço, noto com alegria que o museu vai crescendo. Há outras partes do antigo quartel levantadas. No pavilhão principal estão os instrumentos de guerra portugueses, bem como as armas que o PAIGC usava, as fotografias da guerra e outros memoriais. Livros, poucos, sobre a guerra, são o princípio de uma biblioteca que se pretende seja enriquecida com todos os livros e documentos possíveis para enriquecer a história do conflito que existiu para separar e afastar os portugueses da Guiné e de facto separou-nos com muito sangue derramado, dor e pranto, mas creio que estranhamente nunca os guineenses estimaram tanto os portugueses como agora que estão livres da sua tutela política.

Um Unimog bem conservado transportou-nos ao tempo das colunas por aquelas picadas inóspitas atapetadas de perigosas minas. Transportou-nos até ao grupo de picadores que, à sua frente e com todo o cuidado, picavam a terra, centímetro a centímetro, na esperança de as detetar e assim salvar possivelmente algumas vidas. Transportou-nos a um tempo que já passou, mas as suas marcas continuam bem presas na nossa mente e só desaparecerão com o pó da terra que nos há-de tragar.

A capela com a imagem de Nª Senhora de Fátima no seu altar, tal como no tempo da guerra, e o oratório do Santo Cristo dos Milagres construída pelos devotos Gringos açorianos. Locais, onde os mais devotos se ajoelhavam a pedir por seu intermédio a bênção de Deus para os momentos difíceis que a guerra e agradecer os perigos passados dos quais se livraram com vida.

O Museu foi enriquecido com um novo auditório onde está patente, onde foi instalado o Museu de Cultura e Ambiente onde se pretende espelhar o ecossistema da mata do Cantanhez e as culturas dos diferentes grupos étnicos que habitam a região.

O tempo não tem paciência para esperar e os ponteiros do relógio vão marcando as horas. Tínhamos encontro marcado na tabanca do Xitole para participarmos na festa do casamento da filha do nosso amigo Mamadu Aliu que há três dias atrás atuou de cicerone na visita/peregrinação que o Francisco Silva ali fez em busca do seu passado.

Com pesar para o Domingos Gomes, que bem insistiu para ficarmos mais um pouco e havia muito para ver e refletir, mas não queríamos ficar mal com a família da noiva que tão amavelmente nos tinha convidado. (...)

Excertos de: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte VI (***)

(Excertos, revisão e fixação de texto: LG)



(***) Vd.  poste de 22 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11745: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (6):De Iemberém a Guileje, a caminho de um casamento no Xitole

(****) Um "visita virtual" ao Núcleo Museológico Memória de Guiledje pode ser feita através dos  postes a seguir.  (Este descritor tem 40 referências no blogue.)


Vd. também poste de 4 de fevereiro de 2010 > Guiné  63/74 - P5761: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (13): Iintervenção da Presidente da AD , Osabel ;Miranda, no dia 20 de janeiro de 2010  

(...) "O  'Museu 'Memória de Guiledje' é, antes de tudo, uma homenagem à geração de Cabral, a todos os que com o seu exemplo escreveram uma das mais belas páginas da nossa História. Mas é também um lugar de confluência de rios anteriormente desencontrados que hoje procuram um caminho comum.

"Encontro com os militares portugueses, aqueles que, embora em campo oposto, aprendemos a respeitar pela sua coragem e capacidade militar numa luta de longa duração e que, afinal, partilham os mesmos sentimentos de amor pela Guiné-Bissau e pelo seu povo, pela sua humildade, dignidade, valentia e determinação, os quais sempre souberam distinguir o povo português do regime colonial que a ambos oprimia .

"Hoje, em liberdade, reencontramo-nos com emoção, com vontade de juntar memórias, recordações, encontros e desencontros, voltar a caminhar juntos num caminho de respeito e progresso.

"Saudamos a presença da Srª Julia Neto, esposa do capitão José Neto que tanto amou este canto e que tanto contribuiu para que o Museu 'Memória de Guiledje' fosse um êxito. Poucos dias antes de falecer, deixou-nos o seu desejo mais profundo: 'hei-de voltar a Guiledje', disse. A sua esposa, Srª Julia Neto, está hoje entre nós para realizar esta sua última vontade. Através dela saudamos todos os militares portugueses das 12 companhias que passaram por Guiledje e que quiseram deixar um pouco das suas recordações (aerogramas, fotografias, filmes, contos e narrativas). (...).

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25517: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (46): Viva o po(l)vo... da Lourinhã!


XV Quinzena Gastronómica do Polvo, Lourinhã, 10-24 de maio de 2024. Fonte: CM Lourinhã


1. Por estes dias, e até 24 do corrente, decorre a XV Edição da Quinzena Gastronómica do Polvo, no concelho da Lourinhã, a 70 km a norte de Lisboa...

O nosso vagomestre de serviço, que esteve 22 meses na Guiné, em 1969/71,  sem provar um arrozinho de polvo, um polvo à lagareiro  ou as patanicas de polvo (sabores da sua infância, quando o polvo era a comida dos pobres), não podia deixar de assinalar na agenda este evento gastronómico, que já vai na 15ª edição.

Não lhe pagam para fazer publicidade, mas o nosso vagomestre não pode deixar de prestar um serviço público aos seus conterrâneos que do mar à mesa nos oferecem estes pesticos... São 25 restaurantes com um cardápio de mais de 6 dezenas de receitas de povo:

 (...) "Desde os clássicos e tradicionais Polvo à lagareiro, Arroz de polvo ou Salada de polvo, até opções mais inovadoras e arriscadas, os restaurantes locais não se deixaram intimidar pela exigência do público e, mais uma vez, aprumaram a arte de cozinhar o polvo. 

"Os visitantes poderão mergulhar na onda de sabores de entradas como Carpaccio de polvo trufado, na fusão de técnicas culinárias italianas com sabores tradicionais presentes numa Bruscheta de polvo ou numa Polpette de polvo com maionese de polvo e alcaparras. 

"Ainda neste mar de irreverência, marcam presença pratos como o Cachorro de polvo com bacon fat mayo, pickle de couve e batata palha, Francesinha de Polvo com Aguardente DOC Lourinhã e Polvo com açafrão, risotto preto e frutos do mar. Para terminar, um Brownie de café com creme de Mascarpone e chantilly de polvo deixa a vontade obrigatória de guardar espaço para a sobremesa.

Os amantes de boa comida terão a oportunidade de explorar uma variedade de pratos de polvo confecionados por 25 restaurantes da região da Lourinhã. Cada espaço terá o desafio de apresentar as suas propostas únicas, destacando as diferentes e criativas formas de cozinhar este prestigiado ingrediente." (...) (Fonte: 
CM Lourinhã)

Este ano, a Quinzena Gastronómica do Polvo conta com a participação dos seguintes restaurantes (passe a publicidade):

2. Já em tempos o nosso "vagomestre" homenageou este evento que leva à mesa do povo...  o polvo da Lourinhã


O polvo que, no tempo dos reis,  ia à mesa do povo...

por Luís Graça

Agora o polvo, o povo, serve-se
com batatas assadas a murro, pum!!!,
anuncia o cozinheiro-mor do reino.

Já lá vai o tempo das favas contadas,
do bico calado e pé ligeiro,
a era do cheiro a esturro,
o regime do come e cala-te,
e do lápis-lazúli do censor.
Agora a dieta é chique, é mista,
cale-te e não comas,
muito menos fillet mignon,

Nem sequer rosbife,
que já não há almoços grátis, avisa o vedor,
ameaça o almoxarife, aconselha o dietista.

Urra!, sim, senhor,
pois se o reino é porco e glutão,
e se o tesouro está sem tostão,
então que viva o polvo, o povo,
à lagareiro, alarve,
e que à sobremesa se sirvam passas do Algarve,
manda sua alteza, el-rei,
de todos o primeiro cãocidadão.

Mas agora quem está no pedestal, e mija de alto,
é o Burnay, o banqueiro, croupier do casino real.
Viva o povo dos polvos,
o terceiro estado da nação,
morra o polvo dos povos,
sem eira nem beira.
O polvo apanhado nos covos,
nas minas e armadilhas
dos senhores da terra e do mar,
e depois afogado em puro azeite virgem de oliveira,
no caldeirão de todas as batalhas,
travadas e por travar.

O polvo, o povo,
apanhado nas malhas da história, em contramão,
nos buracos negros da memória,
nas falhas da terra opaca, nas marés rasas.
Sem honra, sem glória, sem grandeza!

Bom povo, grande besta de carga,
pobre polvo, cuja rede neuronal tentacular
é comida à mesa, de garfo e faca,
p'lo pregador predador.
Resta-te a triste consolação
de seres tema de quinzena, patriótica e gastronómica.
E quiçá a vitória amarga de ires à mesa
do senhor comendador, industrial de exportação,
que fez do globo uma banda filarmónica.

Acabaram-se os privilégios do sangue,
morte ao arroz de cabidela,
morte ao frango, morte ao capão,
E que o coelho não se zangue
por ser roubado e despromovido
no tacho e na panela.
Ladrão mais finório é larápio,
diz o léxico do tempo novo que aí vem,
viva o funcho e a beringela!

E vai de frosques, o senhor doutor,
dos cânones e das leis,
que de fraque senta-se o regedor,
no chão do piquenicão,
onde quem mais ordena é o polvo, o povo,
no cardápio, democrático, do barracão do petisco.
Mas, atenção, mais vale prevenir o risco
de o poder cair na rua,
sob o tentáculos do inteligente polvo
e os alvoroços do estúpido povo.

Produto gourmet, produto manufaturado
de todas as maneiras e feitios,
batido, dançado, cantado,
algemado, açoitado, degradado, 
exportado, e outrora (em)bebido
em sangue suor e lágrimas.
Povo desalmado, acéfalo,
povo (en)cantado, afadistado, cefalópode,
grelhado, alimado, escalado, 
escalfado, esfolado, escalpelizado,
salteado em fricassé e até enlatado 
em óleo vegetal na ração de combate
do soldado da guerra colonial da Guiné.
Ou era óleo de fígado de bacalhau, camaradas ?
Que a gente sempre ouviu dizer mal
do rancho, do vagomestre, e do comandante...
Mas quem diz, ufa!, que não aguenta,
na tropa amocha, na terra ou no mar,
que, quando bate na rocha,
quem se lixa é o polvo, o polvo!

Enchamuçado, encapuçado, emboscado,
enforcado, fatiado, espalmado em filhós, 
embrulhado em pataniscas,
frito, fuzilado, seco ao sol no telhado,
teso que nem um carapau.
E até, imagine-se, pizzado!,
sim, muitas vezes pisado, humilhado e ofendido.
Que o polvo, o povo,
pouco esquelético mas mimético,
na ausência de espinha (dorsal),
adapta-se bem à nouvelle cuisine
e aos caprichos dos novos chefs.

Mas, o que mais irrita,
o amigo secreto do polvo, do povo,
que não tem limousine e anda a pé,
são os donos da cozinha, os magarefes,
mal entroikados,
que falam em nome dele, o povo,
e que, de garfo e faca em riste, ou até à espadeirada,
o imolam pelo fogo,
e o guarnecem, com a batata frita de Bruxelas!...

Abaixo o fascismo sanitário,
viva o cardápio proletário!,
glória ao arroz de polvo,
malandrinho, de coentrada...
E saúde e longa vida para o povo, agora pobrezinho,
que dantes também comia iscas... com elas!

Lourinhã,
Quinzena Gastronómica do Polvo,
10 de junho de 2014,
revisto em 13 de maio de 2024.
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 12 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25376: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (45): "Chef" Alice, guardiã dos saberes (e dos sabores) culinários associados ao sável do Douro (que já não há): frito com açorda de ovas com com arroz de feijão, era a comida dos pobres, que não tinham a "burla", na Quaresma...

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25502: Tabanca Grande (556): o malae Rui Chamusco, cofundador e líder histórico da ASTIL - Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste, passa a sentar-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 886

Lourinhã > Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > Convívio anual > 18 de agosto de 2017 > O novo membro da Tabanca de Porto Dinheiro: natural de Malcata, Sabugal, vive parte do ano na Lourinhã, professor de Educação Musical no ensino oficial, reformado,  e de Português, Filosofia e Latim no ensino Particular. ativista da causa de Timor-Leste (lidera um projeto de construção de escolas nas montanhas de Timor Lorosae e apadrinhamento de crianças)... E a partir de agora, 10 de maio de 2024, novo membro da Tabanca Grande, nº 886.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2024). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Escreveu o nosso editor LG (*):

Rui, "I want you for the Portuguese Armed Forces"... Não cometeste nenhum crime (nem sequer um pequeno delito) mas estás "desterrado" (por uma boa causa...) em terra que outrora foi de "desterro e encarceramento" , Timor-Leste, a ponta mais extrema, no sudoeste asiático, do nosso ex-glorioso império... (Terra de desterro e encarceramento desde, pelo menos, o séc. XVIII, o nosso século barroco e extravagante, até à II Guerra Mundial.)...Àparte o "humor negro de caserna" (negro, sem conotação racista), decidi dar-te "honras de Tabanca Grande"... Passas a ser o nosso grão-tabanqueiro nº 886 (**).

Afinal, faltava cá um "lince" da serra da Malcata... e um "cônsul em Dili"... Morreu o império, viva Timor e as demais novas nações lusófonas, filhas também do 25 de Abril de 1974.

Já cá tens amigos: estou eu, o João (que é o "cônsul de Nova Iorque" e o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófono), o Eduardo (que é agora, infelizmente a contragosto e tristeza de todos nós, o nosso "assessor junto de São Pedro", faz-nos muita falta cá em baixo)... Tens outros "lourinhanenses": o Pinto Carvalho, o Jaime Silva, o Carlos Silvério...

Contigo, encaminhamo-nos para os cerca de 900 "amigos e camaradas da Guiné"... que se sentam, os vivos e os mortos, à sombra de um mágico, secular, simbólico, fraterno poilão (a árvore sagrada da Guiné-Bissau, de presença obrigatória em qualquer tabanca).

Já sei, pelo teu "padrinho" João, que aceitas o meu convite... Não são "honras de Panteão" (bolas, felizmente estás vivo!, e para o Panteão, na pior das hipóteses, só daqui a duas décadas depois de comeres o teu primeiro, único e último cogumelo venenoso da serra da Malcata)...

Não é o Panteão, é ainda muito melhor: afinal, "o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!"...

Tu não nos lês, estás longe com Net limitada nas montanhas de Liquiçá, mas ficas a saber que tenho publicado excertos das tuas crónicas, de que sou fã (*) ...

E vou fazendo figas para que não venhas desta vez com as mãos a abanar...(isto é, resolvas de vez o momentoso e aflitivo problema da falta de professores na tua/ vossa escola de São Francisco de Assis.


(Lourinhã, Vimeiro, 1952- Torres Vedras, 2019).




Nova Iorque > 6 de outubro de 2019 > João Crisóstomo (1) e Vilma Kracun (Crisóstomo, por casamento) (2) recebem na sua casa em Queens a embaixadora de Timor nas Nações Unidas, Milena Pires (3) e o embaixador de Portugal nas Nações Unidas, Francisco Duarte Lopes (7), bem como o nosso amigo e agora membro da Tabanca Grande Rui Chamusco (5) e ainda Graça Dinis (4) e Rosa Henriques (6).

Foto (e legenda): Edgar João, página pessoal do Facebook (2019), com a devida vénia...[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Fundadores: Rui Chamusco,
Glória Sobral e Gaspar Sobral
2. Rui, contigo fica melhor composta a nossa Tabanca Grande... 

Aprendi, na escolinha do Conde de Ferreira da Lourinhã, que o meu Portugal ia do Minho (onde nunca tinha ido antes do 25 de Abril) a Timor (que eu não sabia nem era capaz de imaginar que ficava a 14 mil km de distância da minha casa...).

Ora, embora este blogue tenha um especial enfoque na Guiné-Bissau (e na partilha da experiência da guerra colonial / guerra do ultramar), nada nem ninguém nos impede de falar das outras terras do planeta onde houve e há presença de Portugal e dos Portugueses. E depois ainda sabemos pouco da história 
(mas também da geografia e da cultura) de Timor-Leste, hoje país independente, membro da CPLP.

Por outro lado, e como podes ver, temos publicitado a vossa (da ASTIL) conta solidária nos "teus" postes... Já te pedi o nº fiscal da ASTIL para, ainda até ao final de Junho, alguém de boa vontade e retardatário poder transferir os 0,5% do IRS para a ASTIL. (Mas, se bem me lembro, dado o estatuto da ASTIL, vocês não podiam, ou ainda não podem,  aproveitar esse benefício fiscal, o que é pena. )


 Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > 2018 > Escola de  São Francisco de Assis (ESFA), obra da ASTIL  e da comunidade local.
 
Foto (e legenda): © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


No nosso blogue (que já fez 20 anos) procuramos ajudar algumas ONGD, com sede em Portugal,  que fazem trabalho sério e solidário na Guiné-Bissau, e prestam contas, como a Ajuda Amiga ou a Afectos Com Letras...

Tu, que sempre foste "paisano", há uns anos atrás, dizias-me que eras um "malae", um estrangeiro (em tétum), para mais branco e de cabelos brancos (não é o que te chamam os putos em Dili e em Liquiçá ? )

Querias dizer um "malae" em relação à tropa, à guerra, à Guiné... Mas isso é superável. E já tens mais de 3 dezenas de referências no nosso blogue. Afinal, pelo menos deste 2017 que colaboras connosco e fazias parte da Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã, quando o Eduardo Jorge Ferreira , estava vivo e era o régulo. E sempre gostaste de lá ir aos nossos convívios (***).

Foi aí que nasceu, da nossa comum amizade com o Eduardo Jorge e o João Crisóstomo, o nosso interesse por (e o  nosso apoio a) o trabalho que tu e a ASTIL estão a fazer "por mor das crianças timorenses mas também da língua que nos serve de traço de união".   

Pessoas como tu e a famila luso-timorense Sobral são um exemplotter para todos, portugueses. E, no teu caso,  com os teus 77 anos, fazes-me "inveja":  estás em Timor pela 5a. vez, desde 2018. São pelo menos 150 mil km feitos de avião, fora as horas, dias e semanas a calcorrear Timor , de carro, moto ou a pé, montanha acima, montanha abaixo...

Em suma, estás apresentado à Tabanca Grande, não digas mais que és um "malae", um estranho, um estrangeiro,  no blogue dos "amigos e camaradas da Guiné".

E aproveito para te desejar boas notícias e bom regresso, por estes dias, à "casinha lusitana".
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Observações: Malae, s. Estrangeiro, pessoa que não pertence à "raça" parda ou malaia; malae mutin, branco, europeu, português; malae sina, chinês; malae metan, africano, holandês; adj. estrangeiro, importado, que não é nativo; cf. timur.

Fonte: Adapt. de Mendes, Manuel Patrício,  e Laranjeira, Manuel Mendes (1935). Dicionário Tétum-Português. Macau: N.T. Fernandes & Filhos. (Para os interessados: há um dicionário de Português. Tétum e de  Tétum - Português, da Porto Editira, 2017, 416 pp.)

PS - O Rui nasceu em 2 de janeiro de 1947. E tem página no Facebook.

(...) Antes de mais quero agradecer-te o agradável encontro de tabanqueiros em Porto Dinheiro.

(...) Estar convosco foi um privilégio, que lembrarei para sempre. É a segunda vez que participo em encontros de camaradas de guerra colonial (por sinal o primeiro também perto daqui, no restaurante "O Pardal", com um batalhão que combateu em Moçambique), e desde então admiro e respeito, com conhecimento de causa, os valores de camaradagem que estes encontros transmitem. Obrigado por me terem incluído no vosso ambiente.

Como me foi pedido, deixo aqui o IBAN da conta aberta na CGD - agência do Sabugal - com destino à angariação de fundos para o Projeto de Solidariedade "Uma Escola em Timor Lorosa'e" e apadrinhamento de crianças em bairros pobres de Dili. (...)


Vd. também postes de: 


(****) Vd. postes de 


Guiné 61/74 - P25501: Facebook..ando (54): as lindas e gentis mulheres Tandas, de Imberém, Cantanhez: foto da semana de 20 de junho de 2011, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento

 

Guiné-Bissau > Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 20 de junho de 2011> 


"Um grupo de 'caltambas' acompanha as mulheres Tandas na sua colheita de arroz, manifestando a sua alegria pela boa produção obtida e dando coragem para que o trabalho se faça com sucesso. 

"O 'caltamba'representa a força da natureza que promove uma boa lavoura e produção, fazendo com que chova bem, haja paz e que as doenças sejam afastadas. As suas danças e especialmente as vestes baseadas na utilização de produtos da floresta como casca de árvores e folhas, são muito bonitas".

(https://www.facebook.com/adbissau)


Foto (e legenda): © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  Visita ao Cantanhez dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1-7 de março de 2008) > 2 de Março de 2008 >

O Zé Teixeira, no tchon nalu, em pleno Cantanhez, no meio de duas mulheres da população local, e etnia tanda. Belíssimas, gentis e vistosas ("todas bem  produzidas", diria o nortenho do Zé Teixeira), de porte altivo e de grande dignidade. (Na carta de Cacine, a toponomia é Jemberem, a norte de Madina de Cantanhez... Hoje todo o mundo diz e escreve Iemberém. De resto, um dos afluentes do Rio Cacine é o Rio Iemberem... Será que terá havido um erro dos nossos cartógrafos ou uma gralha tipográfica ?...Não, o mesmo topónimo, mas o povo é que fa< a língua... Iemberém foi o local onde a comitiva do Simpósio Internacional de Guileje pernoitou dois dias... Fica em plemo coração do Parque Nacional do Cantanhez.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quem os Tandas, de Iemberém ?

É um minoria que habita o Cantanhez, "chão nalu", a que se juntaram outros povos (fulas, balantas, sossos, etc.)-

Escreveu o Pepito em 2008 (**):

(...) "Relatos orais dão os Tandas como originários de Kindou, na região de Tambacunda, Senegal oriental, de onde se terão deslocado inicialmente para Badjar, região de Koundura, atual Guiné-Conacri, à procura de bons solos para a prática da agricultura. 

"Mais tarde foram para Kakalidi, zona de Boké, onde começaram a negociar com os Nalús a concessão de terras, tendo-lhes sido atribuído uma área onde fundaram a sua primeira tabanca na Guiné-Conacri: Madina.

"Na atual Guiné-Bissau, Cassimo Camará criou a primeira tabanca que foi designada de Lamoi, na área de Quitafine. Seguiu-se Cambraz, fundada por Danim Marena, igualmente em Quitafine. Já em Cubucaré, Adulai Cumpon criou Bomani, a que se seguiu Madina, na área de Guileje, por Umarú Nangacum. Caboxanque Tanda, em Quitafine é fundada por Umarú Galissa.

"Acabam finalmente por chegar a Iemberém, em 1930, através de um grupo de seis pessoas, constituído por Umarú Camará, Pedjedibi Camará (pai de Umarú), Issufo Galissa, Mutaro Galissa, Mamadú Nhabali e Alfa Galisssa. 

"Por último, Umarú Galissa funda a tabanca de Cambeque, na linda mata com o mesmo nome.

"De todas estas tabancas apenas existem atualmente quatro: três em Cubucaré (Iemberém, Cambeque e Cambraz) e uma em Quitafine (Caboxanque Tanda).

"No seu seio os Tandas têm seis sub-grupos: Aiendja, Aban, Abangar, Assóssó, Aiés, Abucul e Adjar." (**)

A  "foto da semana" de "20 de junho de 2011" já a conhecímos, do poste P10108 (***). Afinal, a página do Facebook da  ONG AD continua "on line" e já tinha sido criada no tempo do Pepito.  Em 12 de julho de 2012, escrevia-nos o seguinte:


(...) Há oito anos atrás, a AD inaugurava a sua presença na Internet, através do seu site institucional. Temos procurado, aos poucos, fazer mais e melhor e, recentemente, atingimos dois objectivos há muito desejados: por um lado, conseguimos que o site já seja integralmente dinamizado e alimentado por quadros guineenses da AD; por outro, começámos a apostar nas redes sociais (Facebook) e explorado como podemos usar estas plataformas para dar voz aos nossos parceiros e colaboradores. " (...).

Sobre a legenda da foto da semana, acresecente-se que as palavra "caltamba"  e "tanda" não estão grafadas nos nossos dicionários, pelo menos no que está mais à mão, o Priberam. O que é lamentável, sendo o português língua oificial da Guiné-Bissau. Os semhores lexicógrafos da Porto Editora deviam visitar mais vezes o nosso blogue...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série >7 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25351: Facebook...ando (53): Joaquim Garrett procura camaradas que andaram com ele na EINAT n.º 2052 (1968/70)

(**) Vd. poste de 18 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3070: Antropologia (6): O povoamento humano da zona do Cantanhez: apontamentos (Carlos Schwarz, Pepito)

(***) Vd. poste de 3 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10108: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (24): questionário de opinião sobre o seu sítio na Net (que tem 8 anos) e sobre a sua página no Facebook (que tem 2 anos)

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25485: Os 50 anos do 25 de Abril (17) : Conversas sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra", com Marta Martins Silva e 3 antigos combatentes, Hélder Sousa, Luís Graça e Jaime Silva. 3ª feira, dia 7 de maio, no ISCSP-ULisboa, Campus Universitário do Alto da Ajuda

 


Cartaz do evento "Vozes e Pensamento em Torno de uma Revolução", a ter lugar no auditório Oscar Soares Barata, ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 

Campus Universitário do Alto da Ajuda
Rua Almerindo Lessa - 1300 - 663, Lisboa
+351 213 619 430 | +351 213 619 442 



Às 16h00 de amanhã, 3ª feira, dia 7 de maio, haverá uma conversa sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra". Os convidados são Marta Martins Silva (jornalista e escritor), e os antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial  Hélder Sousa e Luís Graça (TO da Guiné) e Jaime Silva (TO de Angola).

A participação destes três membros da nossa Tabanca Grande nasceu de um desafio (e convite) lançado ao "régulo" da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, no passado dia 14 de março de 2024. A professora associada, especialista em antropologia,  do ISCSP, Sónia Frias, esteve pessoalmente com alguns de nós, já no fim do almoço do 55º convívio, em Algés. 

Originalmente estavam previstos 3 nomes,  o Hélder Sousa, o Luís Graça e o Virgínio Briote. Por razões de datas, o Virgínio Briote (que previa por esta altura ter que fazer uma operação a uma catarata) foi substituído pelo Jaime Bonifácio Marques da Silva (que vem trazer outra experiência como antigo alferes miliciano paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72). A conversa entre os três é centrada sobre a sua experiência pessoal como antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial. 

O evento é aberto ao público. A conversa é moderada por dois alunos da prof Sónia Frias (cremos que um da licenciatura de antropologia, e outro de serviço social). 

Segue-se, às 18h00, uma conferência sobre a "componente externa" do 25 de Abril, a cargo de Fernando Jorge Cardoso (UAL).

Recorde-se que o ISCSP (que tem diversos cursos e programas de licenciatura, mestrado e doutoramento em antrolopologia, serviço social, sociologia, ciência política, ciênicas da comunicação,  relaçõe internacionais, gestão de recursos humanos, administração pública e políticas do território) é uma instituição já centenária, com forte ligação aos países de língua portuguesa.

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25469: Os 50 anos do 25 de Abril (16): O fotornalismo da guerra, que os senhores do lápis azul deixavam passar, às vezes, em revistas como a "Flama", órgão oficial da JEC-Juventude Escolar Católica (1937-1983)

domingo, 28 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25454: Notas de leitura (1686): Timor Leste, que já foi lugar de desterro e encarceramento (Luís Graça)


Timor Leste > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Independente desde 2002, esteve sob a brutal ocupação da Indonésia durante 24 nos.   




Timor Leste > 2005 > A Ilha de Ataúro, vista de Dili >  Foto de Hu Yui. Fonte: Wikipédia (com a devida vénia...)


Nota de leitura > Marisa Ramos Gonçalves: 

«A ilha-prisão de Ataúro durante a ocupação indonésia de Timor-Leste: histórias de encarceramento, resistência e legados contemporâneos»

e-cadernos CES [Online], 37 | 2022, posto online no dia 02 novembro 2022, consultado o 18 abril 2024. URL: http://journals.openedition.org/eces/7084; DOI: https://doi.org/10.4000/eces.7084

Marisa Ramos Gonçalves é investigadora do CES - Centro de Estudos Sociais | Universidade de Coimbra | marisagoncalves@ces.uc.pt

Fez o seu doutoramento, em 2016, na Universidade de Wollongong, Wollongong, Australia.  (Título: “Intergenerational Perceptions of Human Rights in Timor-Leste: Memory, Kultura and Modernity” (Perceções Intergeracionais de Direitos Humanos em Timor Leste: Memória, Cultura e Modernidade).  Tese de Doutoramento em Filosofia, Faculty of Law, Humanities and the Arts, School of Humanities and Social Inquiry, University of Wollongong, Wollongong, Australia.)

 
I. Da leitura deste artigo, interessa-nos, no âmbito do nosso blogue, destacar as referências, que ainda são muito escassas, a esta antiga colónia portuguesa que foi Timor. E mais ainda,  Timor como lugar de desterro e encarceramento, desde o séc. XVIII (quando há notícias dos primeiros desterrados, se bem que nenhum ainda fosse europeu). 

Muitos portugueses sabem da brutal  invasão, ocupação e anexação  de Timor Leste com a consequente tentativa de genocídio do povo maubere,  em finais de 1975, tornando-se o território na 27ª província da Indonésia.

Mas muitos  desconhecem que "durante o período colonial indonésio" (sic),  "os colonizadores usaram a ilha para confinar as famílias de membros da resistência em campos de concentração abertos, mas com vigilância militar apertada. Estima-se que, entre 1980 e 1987, tenham sido presos cerca de 6000 timorenses, tendo algumas pessoas morrido devido à fome e má-nutrição."

Por outro lado, mesmo habituados, desde os bancos da escola, a repetir "ad nauseam" que vivíamos num Portugal, que ia "do Minho a Timor", nós sabíamos muito pouco (e continuamos a não saber) da história e da geografia de Timor e da presença histórica dos portugueses naquela ilha do sudoeste asiático, de resto escassa até ao séc. XIX, circunscrita a alguns pontos no litoral e sobretudo à ação de missionários e militares.

Este artigo centra-se neste período  da invasão, ocupação e anexação indonésai (1975-1999), sobre o qual vamos passar por alto (o leitor interessado tem acesso ao artigo completo) , bem como sobre a parte teórica ( "estado da arte sobre o tema", a colónia penal como sistema carcerário ou concentracionário e as memórias das suas vítimas ),  a parte metodológoca (utilização dos testemunhos das vítimas do conflito e entrevistas de história oral) bem como a bibliografia. 

Interessa-nos recuar até Ataúro do tempo dos portugueses, e nomeadamente nos anos 20/30 do séc. XX.

Vamos citar algumas excertos,  mais extensos,  e elaborar uma primeira nota de leitura deste artigo,  dispensando as referências bibliográficas,  dada as limitações de espaço num blogue como este, dirigido não a académicos e especialistas mas a antigos combatentes das guerras coloniais.


II. Vejamos o resumo do artigo:

(...) "A ilha de Ataúro, situada a norte da capital de Timor-Leste, funcionou como ilha-prisão durante o período colonial português e, de forma mais intensa, a partir dos anos vinte do século passado. 

"Durante o período colonial indonésio (1975-1999), os colonizadores usaram a ilha para confinar famílias de membros da resistência em campos de concentração abertos, onde centenas de pessoas morreram devido à fome e má-nutrição. 

"Partindo de uma análise de entrevistas e de material de arquivo sobre as/os antigas/os deportadas/os em Ataúro no período indonésio, este artigo conclui sobre a relevância da preservação das histórias orais sobre as/os prisioneiras/os, bem como da memorialização das histórias desta ilha. 

"O texto reflete, igualmente, sobre memórias e legados coloniais, partindo da observação de que algumas ilhas da região do Pacífico permanecem territórios considerados depósitos e locais de detenção de pessoas que fogem à repressão e violência de regimes ditatoriais e coloniais." (...)

E aqui fica também o índice do artigo (com os respetivos links), para o leitor que tiver mais tempo e vagar:

Introdução
Conclusão

O  texto integral pode ser aqui descarregado, em formato pdf.  PDF 340k. E pode ser utilizado sob licença CC BY 4.0


III. Insularidade e desterro
 
A autora começa por lembrar que a "insularidade", ao longo do tempo e nos mais diversos lugares, tem sido  um "meio de confinamento natural", adoptado por regimes ditatoriais e coloniais,  para deportar e banir inimigos políticos, muitas vezes "sem direito a julgamento ou condenação formal!"...Mas também presos de delito comum.

Os desterrados (muito mais homens do que mulheres) eram, além disso, uma preciosa  fonte de mão-de-obra nas colónias, em todos os impérios coloniais, a começar pelo Britânico.

No nosso caso, "Timor-Leste integrou, desde o século XVIII, o sistema carcerário do império português" (a par das ilhas atlânticas, bem  como Angola e Moçambique):  para lá,  eram enviados militares e civis,  opositores políticos, mas também prisioneiros de delito comum ("deportados sociais)".

A ilha de Ataúro fez parte deste sistema carcerário  durante os vários  períodos coloniais:  português (1702-1975), indonésio (1975-1999), sem esquecer o curto mas não não menos brutal período de ocupação japonesa (1942-1945).  

(...) "A ilha de Ataúro funcionou como ilha-prisão, em particular nos anos vinte e trinta do século XX, quando foi usada como local de deportação de opositores políticos e prisoneiros de delito comum, denominados deportados sociais" (...)  

Ataúro, sendo uma ilha, a norte de Dili, separada por 25 km de mar, não precisava de arame farpado nem muros. Era difícil, ou quase impossível, escapar.

 Na segunda parte do artigo,  a autora apresenta  uma sucinta introdução histórica da colónia penal de Timor , durante o século XX, "em particular os campos de internamento de deportados políticos e sociais provenientes da metrópole e de outros locais do império,  na ilha de Ataúro e no enclave de Oécussi."  

Mas o objetivo principal do artigo é mostrar "a relevância da memorialização das histórias da ilha de Ataúro, através da preservação das narrativas orais" quer dos prisioneiros quer dos seus  habitantes.
 
IV. Ilhas-prisão – Políticas carcerárias dos impérios à atualidade

Algumas ilhas que hoje aparecem nos cartazes das agências turísticas como "paradisíacas", foram no passado espaços carcerários ou concentracionários, criados  pelos sistemas coloniais.  

Os vários  impérios europeus  fizeram dessas ilhas (em geral tropicais ou subtropicais) lugares de desterrro e encarceramento:
  • a França criou as ilhas-prisão da Nova Caledónia, da Cayennne ou Ilha do Diabo na Guiana, das ilhas Reunião e Côn So’n no Vietname;
  • a Grã-Bretanha fez uso da Tasmânia, na Austrália; 
  • a Holanda,  da ilha Nusakambangan nas Índias Orientais Holandesas, atual Indonésia...

 Havia várias tipologias destes lugares:
  • colónias penais, 
  • colonatos,
  • entrepostos, 
  • colónias agrícolas, etc.

No arquipélago dos Bijagós, havia por exemplo a colónia penal e agrícola da Ilha da Galinhas, criada em 1934 (ou pelo menos já existente nessa data), Em Cabo Verde, foi criado o "campo penal" do Tarrafal (1936-1957), reaberto depois como "campo  de trabalho" de Chão Bom (1961-1974) ...


A investigadora  debruça-se depois sobre a ilha-prisão  de Ataúro como local de deportação e degredo no século XX, e nomeadamente nas décadas de 1920 e 1930,   periodo sobre o qual há "mais dados e estudos académicos".

Ficamos a saber que Timor só obteve o estatuto de distrito autónomo em 1896: dependia originalmente do Estado da Índia (Goa) e, posteriormente, de Macau.

Situado na periferia do império, no sudoeste asiático, era visto "como um espaço insular e longínquo da metrópole e de outros centros administrativos do império, como Goa e Macau".

Ser desterrado para Timor  era, pois,  uma condenação pesadíssima, tanto para civis como para militares.

Em 1897 já existia uma cadeia civil, na comarca de Díli, para presos não- indígenas. Dezasseis anos depois, em 1913, foi criado o Depósito dos Degredados de Timor, que recebia maioritariamente macaenses, que vão representar uma importante força de mão-de-obra.  

 Em 1927, existiam três estabelecimentos prisionais:  o depósito de degredadas de Aileu, a colónial penal de Taibesse e a Cadeia da Comarca, em Díli,  para além de três presídios militares (Aipelo, Batugadé e Baucau) e os “campos de concentração” de Ataúro e Oécussi.

No período de 1927-1931, os deportados portugueses  distribuíam-se por várias colónias do império:
  • S. Tomé e Príncipe (29),
  • Guiné-Bissau (46).
  • Angola (456),
  • Cabo Verde (334),
  • Timor (500)
 
(...) Na ilha de Ataúro e no enclave de Oécussi, os denominados 'campos de concentração', foram considerados 'locais malditos', onde os prisioneiros estavam expostos às chuvas e temperaturas elevadas, com dietas pobres, muitos morrendo de malária e desnutrição" (...)
 
Entre 1927 e 1933, e na sequências das revoltas contra a Ditadura Militar e o Estado Novo, chegaram ao território timorense  algumas centenas de jovens,  socialistas, comunistas e anarcossindicalistas, acusados de serem os principais instigadores e participantes no atentado ao comandante da polícia de Lisboa, João Maria Ferreira do Amaral (1876-1931), alguns por alegadamente pertencerem  à rede bombista "Legião Vermelha", e outros na sequência do movimento revolucionário de 26 de agosto de 1931.

Sabe-se, oor outras fontes, que no ano de 1927, a população europeia de Timor era de 11 ocidentais estrangeiros e 378 portugueses, grande parte funcionários estatais, ou elementos das missões católicas,  além de 155 naturais originários de outras colónias.

Ora entre 1927 e 1933, terão passado por Timor  cerca de 600 deportados, quase o dobro da população civil europeia  ali residente.
 

Houve, entretanto,  uma  amnistia política geral, em 1932, para os vários deportados políticos nas diferentes colónis. A maioria  dos  prisoneiros em Timor regressou à metrópole, mas outros puderam ficar em liberdade no território.  


De fora ficou uma lista dos 50 prisioneiros considerados  “mais perigosos”, bem como os "deportados sociais" (presos de delito comum).

(...) "110 homens deportados originalmente em 1927 ficaram dispersos pelo território, constituindo famílias das quais descendem várias figuras da elite política atual de Timor-Leste.(...)

A ilha de Ataúro continuou a servir de prisão depois da ocupação japonesa de Timor, no pós-guerra. Os presos passaram a ser os timorenses que colaboraram com os ocupantes.

 A talhe de foice refira-se, por fim,  que durante a 
  ocupação indonésia de Timor-Leste " estima-se que entre 100 000-200 000 timorenses tenham perdido a sua vida em resultado do conflito e das políticas repressivas da administração militar indonésia, marcada por massacres, assassinatos de membros da resistência militar e civil, práticas planeadas de deslocação forçada e fome das populações, prisões arbitrárias e tortura." (...) 

Como é dos manuais da guerra contra-subversiva,  o governo de Suharto , através do seu exército invasor e ocupante, procurou retirar o apoio que a população dava às FALINTIL  – Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste, a resistir nas zonas montanhosas, para isso criando "campos de trânsito e internamento para essa população".  E, entre outras medidas repressivas, proibiu o uso da língua portuguesa. (**)

O maior destes campos era o da ilha de Ataúro. (A ilha tem 25 km de extensão por 9 km de largura, cerca 117 km² de superfície, e uma população atualmwnte  à volta de 10 mil habitantes.)

Para saber mais ler: A ilha-prisão de Ataúro no período da ocupação Indonésia
 
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 26 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25448: Notas de leitura (1685): O Santuário Perdido: A Força Aérea na Guerra da Guiné, 1961-1974 - Volume II: Perto do abismo até ao impasse (1966-1972), por Matthew M. Hurley e José Augusto Matos, 2023 (22) (Mário Beja Santos)
 
(**) "Os 24 anos da ocupação indonésia tornaram o bahasa a língua do ensino e da administração. O português foi banido, e a forma de resistir à total aculturação foi desenvolver a mais disseminada das línguas locais, o tétum. Fê-lo, principalmente, a Igreja Católica, que assumiu o protagonismo da resistência cultural e simbólica.'

"Chegada a independência, há uma geração (todas as pessoas com menos de 30 anos, o que constitui a esmagadora maioria da população) que não fala português. Aprendeu bahasa Indonésia e inglês como segunda língua e fala tétum em casa, além de alguma outra língua timorense, como o fataluco ou o baiqueno. É a chamada geração 'Tim-Tim, do nome Timor-Timur, que os indonésios davam à sua 27.ª província." (...)

in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/artigos/rubricas/idioma/portugues-tetum-ou-tetugues/1178 [consultado em 27-04-2024]