Mostrar mensagens com a etiqueta Mig. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Mig. Mostrar todas as mensagens

domingo, 6 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15077: FAP (84): a ameaça dos MiG na guerra da Guiné (José Matos, Revista Militar, nº 2559, abril de 2015) - Parte I





"A Empresa da Revista Militar foi fundada no dia 1 de Dezembro de 1848 por um grupo de 26 Oficiais do Exército e da Armada, dirigido pelo então Tenente do Real Corpo de Engenheiros Fontes Pereira de Mello [1819-1887].

"A Revista Militar - com o primeiro número publicado em Janeiro de 1849 - foi um dos primeiros títulos da imprensa militar portuguesa, sendo actualmente o mais antigo Órgão da Imprensa Militar Mundial com publicação ininterrupta.

"Os estudiosos do seu acervo confrontam-se com a influência exercida pelos Fundadores e por grande parte dos colaboradores da Revista na dinamização das Forças Armadas, e do próprio País, desde 1 de Dezembro de 1848, quando se assinou o Contrato.

"O século em que vivemos tende, sem dúvida,
a consomar o grande pensamento humanitário,
que tem por base o predomínio da inteligência
sobre a força".

"(Tenente Fontes Pereira de Mello, Introdução, do Primeiro Número, Janeiro 1849)"

(Reprodução,. com a devia vénia, da página da Revista Militar, que está "on line" desde 17/2/2013)


1. O José Matos mandou-nos há dias (a 25 de agosto último), este seu artigo ("A ameaça dos MiG na guerra da Guiné"), para divulgação no blogue. 

Agradeci-lhe e dei-lhe os parabéns, dizendo.lhe que tinha "muito gosto em publicar o artigo no nosso blogue, em dois ou mais postes, já que é extenso", mas que precisava também da "autorização do editor (, a Revista Militar)"... Embora o artigo esteja "on line" na Net, insistismos na questão da autorização do editor. O autor respondeu-nos em 4 do corrente: "Olá, Luís. Pode avançar com a publicação do artigo....esta foi a reposta da RM: Não há qualquer problema desde que seja citada a fonte de onde é extraído o artigo, no caso em apreço a Revista Militar nº 2559 de abril de 2015, pp 327-352."

O José Matos é filho de um camarada nosso, o ex-fur mil José Matos, da CCav 677 (São João, 1964/66), já falecido em 1998. Em tempos (23/11/2008) publicamos um poste dele, em que procurava camaradas do tempo do seu pai. O nosso camarada Santos Oliveira respondeu-lhe e pô-lo em contacto com camaradas do seu pai. É sabido que muitos camaradas desse tempo não vão à Net nem conhecem o nosso blogue. De qualquer modo, espero que o José Matos, que mora na região de Aveiro,  tenha encontrado alguns camaradas que conheceram o seu pai. Investigador, especialista em aviação militar, o José Matos já nos tem mandado mais artigos ou links para artigo seus .  Recordo, por um exemplo, um anterior sobre o Mirage, em 16/10/2012:

 Caro Luis Graça: Como o tema dos Mirage na FAP já foi debatido uma vez no vosso blogue, aproveito para chamar a atenção que a revista inglesa Aviation Classics publicou este mês um artigo da minha autoria sobre o tema [vd. links aqui], que aconselho a quem se interessa pelo assunto. Julgo que a revista se vende em Portugal.  

 Vamos publicar o artigo, em português, sobre os MiG, em quatro postes, seguidos. E aproveitamos para convidar, formalmente, o José Matos a integrar a nossa Tabanca Grande. Ele sabe que os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são.  Por outro lado, tem fotos do seu pai, no TO da Guiné, que ele gostaria de partilhar connosco. A melhor maneira de honrarmos a memória do seu pai, é pedir-lhe que se sente, connosco, à sombra nosso mágico, fraterno, inspirador e protetor  poilão. Se ele aceitar o nosso convite, será o grã-tabanqueiro nº 701.


2. Revista Militar, nº 2559, abril de 2015, pp. 327-352 > A ameaça dos MIG na guerra da Guiné, por José Matos (Parte I)

por José Matos


No dia 26 de Julho de 1963, um caça português F-86F Sabre destacado na Guiné fazia um voo de teste na região do rio Corubal. A bordo do aparelho, o piloto esperava um voo calmo e sem incidentes, contudo, tem um encontro imprevisto. Enquanto testa o Sabre, avista à distância um jacto desconhecido e, quando muda de rota para tentar verificar a identidade do avião, este foge rapidamente, não permitindo a sua identificação. A única coisa que consegue perceber é que se trata, provavelmente, de um MiG ao serviço da Força Aérea Guineana (FAG) [1].

Este primeiro contacto com um caça guineano é muito raro, ao longo da guerra, embora o comando militar em Bissau receba, com frequência, das tropas terrestres, relatos sobre o avistamento de aeronaves não identificadas. Contudo, convém referir a este propósito, que estes relatos eram baseados em observações visuais feitas pelas forças terrestres, que nem sempre conseguiam identificar correctamente o que viam no céu, sendo difícil saber se os relatos correspondiam efectivamente a voos hostis.

Era sobretudo no sector oeste da colónia que se registava o maior número de avistamentos, o que leva o Exército a deslocar, para Mansoa, em Agosto de 1963, um radar móvel nº 4 Mark VI, que já estava na Guiné nessa altura. Trata-se de um radar de aviso prévio montado num atrelado e que pode facilmente ser deslocado. Durante cerca de um mês de funcionamento detecta oito alvos não identificados, todos a baixa altitude e a baixa velocidade, tratando-se muito provavelmente de helicópteros, sendo, no entanto, difícil de determinar qual a origem dos mesmos [2].

Atento à situação, o Exército já tinha enviado para a capital da Guiné, em Janeiro de 1962, um pelotão de artilharia antiaérea (AA) equipado com peças AA 40 mm Bofors M-42/60, de forma a garantir uma defesa antiaérea mínima contra qualquer acção aérea hostil [3]. Este envio de peças antiaéreas para Bissau, indicava já uma preocupação das chefias militares quanto a uma eventual acção aérea contra as forças portuguesas estacionadas na capital, que só podia ser protagonizada pela aviação militar dos países vizinhos.


Os testes com o radar AN/TPS-1D

Além do envio de armamento AA, o Exército estuda também a expedição de radares AN/TPS-1D, um radar ligeiro transportável, que o Exército Português tinha comprado, em 1960, mas que já estava obsoleto, nessa altura [4].

Nesse sentido, são feitos testes de detecção, na Escola Militar de Electromecânica, em Paço de Arcos, em meados de Maio de 1962, com vista a “avaliar as possibilidades de detecção do radar com aviões de pequena superfície reflectora”. Para o efeito, são usadas duas parelhas de jactos F-86F da base de Monte Real (BA 5), voando uma parelha à altitude de 20 mil pés e a outra a 5 mil pés. Conclui-se então que o radar “é susceptível de permitir a detecção de alvos aéreos de pequena superfície reflectora (parelha de aviões F-86F ou alvo equivalente) embora não garanta a continuidade de detecção quando se afasta, segundo uma linha de rumo que intercepta a estação de radar, dentro dos alcances das experiências (até 100 milhas)”.

Além disso, o AN/TPS-1D é também “capaz de fornecer resultados satisfatórios na detecção de aviões convencionais (de hélice) de média ou grande envergadura dentro dos seus alcances de operação (até 160 milhas).” Em suma, “na falta de equipamento mais adequado, os radares podem ser de grande utilidade no Ultramar para efeitos de vigilância aérea” [5].

Entretanto, no âmbito do Secretariado Geral da Defesa Nacional (SGDN), é dada prioridade ao estudo da defesa área de Cabo Verde e Guiné, em virtude do perigo que pode advir de possíveis ataques aéreos contra os aeródromos destes dois territórios, fundamentais nas ligações aéreas entre Portugal, Angola e Moçambique. Este trabalho é produzido por uma comissão que já existia no SGDN para o estudo da defesa aérea do Ultramar [6].

Em termos gerais, a comissão do SGDN considera que o Aerodrómo Base nº 2 (AB2), em Bissalanca, deve ser dotado de várias estruturas de controlo e comunicações para a gestão do tráfego aéreo civil, mas também para operar um sistema de artilharia antiaérea que seja credível. O estudo considera ainda que as estruturas a criar devem ser apoiadas por radares de vigilância do tipoAN/TPS-1D, além de radares tácticos ligados às baterias de artilharia AA e pelos respectivos meios de comunicação e apoio [7].

No entanto, o estudo aponta também várias limitações para a defesa aérea, que terá de incidir sobre um pequeno número de objectivos, não sendo possível aos F-86 conduzir intercepções por ausência de radares altimétricos. Além disso, “a vigilância exercida pelos radares de cobertura AN/TPS-1D não permitirá mais de 4 a 7 minutos de aviso prévio para aviões de jacto voando a 3000 pés e a artilharia AA disponível não poderá actuar em relação a aviões com velocidades superiores a 800 km/h e a altitudes acima de 2300 pés”.

O estudo refere também a existência no inventário da FAG de alguns caças MiG-15, não havendo qualquer referência à existência do MiG-17 na ex-colónia francesa. No entanto, neste capítulo, existia alguma dificuldade em obter informações fidedignas sobre a existência ou não de jactos de combate no país vizinho. Em Setembro de 1962, uma informação do Ministério do Ultramar português dava conta que, numa parada militar em Conakry, realizada a 19 de Agosto desse ano, tinham desfilado onze caçasMiG-15, embora não tivesse sido possível confirmar essa informação [8].


A retirada dos F-86 da Guiné


Obviamente que a presença dos F-86 na Guiné tinha um efeito dissuasor em relação a qualquer tentativa de incursão aérea. Estes caças tinham chegado a Bissalanca, em Agosto de 1961, e eram usados em vários tipos de missões sobre a colónia, sendo o principal avião de combate da Força Aérea Portuguesa (FAP) na Guiné. Porém, os caças tinham sido cedidos a Portugal para a defesa da OTAN na Europa e os Estados Unidos começam a exigir que os jactos regressem à metrópole [9].

O assunto vai-se arrastando ao longo de 1963, sem que o governo português acate as exigências norte-americanas. O próprio Ministro dos Negócios Estrangeiros português, Franco Nogueira, tem uma longa conversa, em Junho de 1964, com o embaixador americano em Lisboa, George Anderson, em que o problema é novamente abordado. Nogueira argumenta que os F-86 não estavam na Guiné em operações, mas que serviam apenas como factor dissuasor contra possíveis ataques aéreos vindos dos países vizinhos. Anderson concorda com o argumento, mas considera que não era de prever qualquer ataque aéreo estrangeiro e que, “no caso de tal ataque, criar-se-ia uma situação política nova que alterava os dados do problema, mesmo para os Estados Unidos”. Nogueira pergunta então se “Washington tomaria uma posição de activa reacção contrauma agressão aérea provinda de fora”, ao que o embaixador americano responde que “não podia prever como reagiria o seu Governo, e muito menos assumir compromissos”. Anderson insistiu que o problema dos F-86 na Guiné “se tratava de uma questão de princípio” e que era um tema muito explorado pelos inimigos de Portugal, ao que Nogueira comentou que deviam de existir muitos no Departamento de Estado, “porque todos pareciam aferir a política dos Estados Unidos para com Portugal pelo que sucedesse aos F-86” [10].

Pouco tempo depois deste encontro, a pressão americana aumenta, de tal forma, ao ponto dos americanos se recusarem a fornecer sobresselentes para a Força Aérea, caso os portugueses não retirem os caças da Guiné [11]. Para resolver o problema, Lisboa manda retirar os F-86 e compra, na Alemanha, 40 aviões Fiat G-91 R/4 fabricados em Itália, mas ao serviço da Luftwaffe. No Verão de 1966, os G-91 já estão na Guiné em missões de reconhecimento e de apoio às tropas terrestres, mas nunca encontram qualquer jacto da FAG.

Ainda em 1964, são enviados para Bissalanca dois radares AN/TPS-1D para assegurar a vigilância aérea desta base, no entanto, em virtude da dificuldade na obtenção de peças sobressalentes, um dos radares é logo canibalizado para a manutenção do outro, ficando apenas um radar operacional [12]. Com a antena instalada numa torre metálica com cerca de 32 metros de altura, o AN/TPS-1D, porém, nem sempre funciona, devido a problemas de manutenção ou então devido a falta de energia nos geradores de apoio. Para colmatar estes problemas, são enviados outros dois radares do mesmo modelo para a Guiné, mas também acabam canibalizados ou então avariados [13].

Durante os períodos de funcionamento, o AN/TPS-1D faz várias detecções, mas que correspondem provavelmente a aviões civis transitando entre o Senegal e a Guiné-Conakry. O espaço aéreo da Guiné Bissau, acima dos 5 mil pés estava englobado na FIR [14] de Dakar e havia mesmo um corredor aéreo apoiado no VOR [15] de Bissau que vinha de Banjul, na Gambia, e passava à vertical da BA12. Não admira, por isso, que o radar detectasse alguns alvos.


A surpresa dos MiG
O MiG 17 - Cortesia de Wikipedia... [Edição: LG]


Como já foi dito, os Fiat de Bissalanca nunca encontram qualquer caça guineano, mas, em Abril de 1968, dois aviões ligeiros de ataque T-6G Texan são surpreendidos aparentemente por dois caças MiG, a poucos quilómetros de distância da fronteira com a Guiné-Conakry. O incidente ocorre no dia 24 de Abril, quando os T-6 voavam numa missão de escolta a uma coluna do Exército no corredor de Guileje, muito perto da fronteira guineana. Aos comandos dos T-6 iam o Tenente Arantes de Oliveira e o Alferes Oliveira Couto, e o voo decorria sem incidentes quando, subitamente, os dois aviões são surpreendidos pela passagem rápida de dois caças a jacto. Incrédulos, os pilotos observam os dois jactos de asas em flecha, a curvarem, para fazerem uma segunda passagem.

Um dos caças ascende ficando numa posição de ataque, enquanto o segundo passa novamente perto dos aviões portugueses de forma provocatória destabilizando os T-6 devido à deslocação de ar. Os portugueses não reagem e, após mais uma ou duas daquelas manobras, os caças desaparecem no horizonte. Os pilotos julgam inicialmente que foram surpreendidos por dois Fiat vindos de Bissalanca da BA12 e, quando finalmente aterram em Bissalanca participam a ocorrência ao comandante do Grupo Operacional da BA12, o Tenente-coronel Costa Gomes, porém, ao fazerem a descrição do que se passou, Costa Gomes diz-lhes que estão equivocados, pois nenhum G-91 tinha descolado naquele dia. Os dois pilotos percebem então que foram surpreendidos por dois MiG [16].


Medidas de defesa

Em Março de 1969, o Chefe de Estado-Maior da Força Aérea (CEMFA) solicita à “BA12 um estudo urgente das medidas de protecção das aeronaves estacionadas contra eventuais ataques do exterior”, devendo o estudo ter em grande atenção a possibilidade da dispersão dos aviões, pois, em Bissalanca, estavam sempre demasiado juntos, devido ao elevado número de aviões estacionados na base. A preocupação do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA) assentava no facto de surgirem, com alguma frequência, notícias sobre a possibilidade da guerrilha guineense ter meios aéreos e alguns pilotos para usar contras as forças portuguesas, nomeadamente contra Bissalanca [17].

Em resposta, o comando de Bissalanca refere que “as possibilidades de dispersão das aeronaves na BA12 são nulas, pois que as áreas consolidadas nem sequer são suficientes para todas as aeronaves existentes no arranjo normal do estacionamento” pedindo que, como primeira medida, sejam aumentadas as áreas de estacionamento. Refere ainda que “a execução dessa área de estacionamento deve ser, não como placa contínua, mas à base de placas para 1 ou 2 aviões, devidamente protegidos”.

Além destas medidas, os responsáveis da base preconizam ainda que, para protecção contra ataques aéreos do inimigo, deve ser montada “uma estação de radar mais adequada à detecção à distância”, além da aquisição de redes de camuflagem, do reforço dos meios de artilharia AA e a introdução de mísseis Sidewinder no Fiat, ou pelo menos, de um visor próprio para tiro ar-ar. Relativamente à ameaça aérea, o comando da BA12 considera que esta pode concretizar-se na forma de um avião isolado, partindo da República da Guiné (Boké ou Conakry) voando a baixa altitude, sendo provável que o ataque ocorra ao cair da tarde ou da noite [18].

Fiat G 91 R/4 , uma versão que equipaou a FAP na Guiné
durante a guerra colonial... Hoje peça de museu...
Cortesia de Wikipedia... [Edição: LG]
No seguimento deste estudo são enviados à Guiné quatro oficiais (dois da Força Aérea e dois do Exército) para, in loco, estudarem o problema da defesa aérea da colónia. Este grupo elabora depois um vasto relatório no âmbito do SGDN em que preconiza diversas medidas que, em linhas gerais, passam pela dispersão e protecção dos meios aéreos em abrigos ligeiros a construir; o reforço do serviço de incêndios da BA12 em pessoal e material; o provimento de material electrónico e de apoio para o bom funcionamento dos dois radares AN/TPS-1D, já instalados na base, e formação do pessoal especialista para operação destes equipamentos; a criação de um Centro de Aviso Aéreo (CAA) e de um Centro de Operações AA (COAA) e respectivas ligações telefónicas com os radares, torre de controlo e baterias AA; a efectivação do programa dos mísseis AIM-9B Sidewinder no G-91 e também uma eventual aquisição futura de mísseis antiaéreos ligeiros do tipo Redeye.

Em resposta a este estudo, o chefe da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea (EMFA), Coronel António da Silva Cardoso, submete ao CEMFA a “Informação nº 104” em que descreve as medidas preconizadas pela referida comissão procurando depois definir quais as medidas exequíveis sem grandes custos para a Força Aérea e quais as que exigem encargos vultosos. Silva Cardoso considera que o fornecimento de alguns componentes electrónicos e de apoio ao bom funcionamento dos radares já está em curso, no entanto, a satisfação de outras necessidades implicará custos não suportáveis pelas verbas normais da Força Aérea, como é o caso da protecção dos meios aéreos, o reforço do serviço de incêndios em pessoal e material, a criação do CAA e do COAA e o reforço da ZACVG com o pessoal necessário à operação dos radares e COAA.

No mesmo documento, Silva Cardoso informa também o CEMFA sobre os testes realizados nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA) para a instalação dos mísseis Sidewinder no Fiat e a mudança do visor de tiro usado pelo avião. “No que respeita ao visor, constatou-se ser possível equipar os G-91 com qualquer outro tipo diferente do que actualmente possuem”, procedendo-se à instalação de um visor giroscópico K-14 de origem americana. “Contudo, o material disponível apenas permitirá equipar 3 aviões e, por se tratar de material muito antigo, a aquisição de mais material não será fácil, mesmo através da USAF por intermédio do adido em Washington”, conclui Silva Cardoso.

Quanto à avaliação do AIM-9B no Fiat, nas condições tácticas previstas para o seu emprego na Guiné, os testes não conduziram a resultados satisfatórios. “Numa primeira fase dos testes de verificação de captação de radiação infravermelha produzida por aeronaves de motor convencional, constatou-se que o míssil não capta qualquer radiação quando apontado a aviões convencionais, monomotores ou bimotores, manobrando o avião nos sectores de cauda e entre o nível do mar e os 10 mil pés.

Paralelamente, a utilização dos G-91 em combate aéreo, equipados com Sidewinder, contra aviões do tipo MiG revela-se altamente duvidosa, porquanto as características de utilização do míssil estão em nítida desvantagem face às performances dos prováveis inimigos. Estas restrições de utilização dos Sidewinder contra aviões de maior performance assumem maiores dimensões se o combate aéreo se travar a baixas ou médias altitudes porquanto o míssil será inoperante. Daqui se deduz ser altamente duvidosa a utilização operacional dos G-91 equipados com Sidewinder” [19]. Em suma, Silva Cardoso desaconselha a utilização do AIM-9B no Fiat devido aos condicionalismos detectados nos testes.

(Continua)

 ________________

Notas do autor:


[1] PERINTREP n.º 9/63, de 4 de Agosto de 1963, Arquivo da Defesa Nacional (ADN) /F2/02/01/6.


[2] Perintrep n.º 13/63, de 25 de Setembro de 1963, ADN/F2/02/01/6.

[3] Processo P.2.103.1.5/62 do Chefe de Estado-Maior do Exército para o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, 11 de Janeiro de 1962, Arquivo Histórico Militar AHM/FO/29/1/351/51.


[4] Estrato do Relatório da visita à Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné (ZACVG) do Chefe da Secção de Comunicações, Coronel Albuquerque e Castro, Serviço de Documentação da Força Aérea/Arquivo Histórico (SDFA/AH), 1ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[5] Relatório das experiências com o radar AN/TPS-1D, realizadas na Escola Militar de Electromecânica, em Paço de Arcos, 20 de Julho de 1962, AHM/FO/29/1/351/51.


[6] Memorando da 3ª Repartição de Operações do Estado-Maior do Exército sobre a Defesa AA de Cabo Verde e Guiné, 18 de Outubro de 1962, AHM/FO/29/1/351/51.


[7] Estudo da Defesa Antiaérea de Cabo Verde e Guiné, 1963, AHM/FO/29/1/351/52.


[8] Informação n.º 283/62 da 1ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Lisboa, 12 de Outubro de 1962, ADN F2/92/306/1.


[9] Nota nº 94 do Chefe de Estado-Maior da Força Aérea para a Secretaria de Estado da Aeronáutica, 30 de Julho de 1963, SDFA/AH.


[10] Nogueira, Franco, Diálogos Interditos, Volume II, Editorial Intervenção, Braga, 1979, pp. 58-60.


[11] Matos, José, A saga do Sabre Mk.6, 1ª parte, Mais Alto nº 394, Novembro/Dezembro de 2011, pp. 37-38.


[12] Estrato do Relatório da visita à ZACVG do Chefe da Secção de Comunicações, Coronel Albuquerque e Castro, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201.


[13] Relatório da Secção de Radar da BA12, Bissalanca, 23 de Março de 1970, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430.201


[14] Flight Information Region.


[15] VHF Omnidirectional Radio Range.


[16] Informação fornecida ao autor pelo Alferes Oliveira Couto.


[17] Verbete n.º 1592/RB da 2ª Repartição do Secretariado-Geral da Defesa Nacional, Assunto: Defesa Aérea da Guiné, 16 de Junho de 1969, ADN, Fundo Geral SGDN 6861/3.


[18] Informação n.º 169 da 3ª Repartição do Estado-Maior da Força Aérea para o CEMFA, Assunto: Medidas para protecção de aeronaves da BA12, 26 de Setembro de 1969, SDFA/AH, 1.ª Região Aérea, Cx. 102, Processo 430-201.


[19] Informação n.º104 da 3ª Repartição do EMFA para o CEMFA, Assunto: Defesa Aérea da Guiné, 28 de Abril de 1970, SDFA/AH, 1ª Região Aérea, Cx. 64.

___________


quinta-feira, 8 de março de 2012

Guiné 63/74 – P9584: (Ex)citações (176): Aristides Pereira e os MIGs - revelações ineditas (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso tertuliano Nelson Herbert*, jornalista na Voz da América, enviada ao nosso Blogue no dia 6 de Março de 2012:

Caros Editores
Ainda na linha do debate sobre a tal "estória" dos MIGs... se existiam ou não... se estariam a caminho... em anexo envio estas duas paginas do livro "Aristides Pereira, Nossa Historia, Minha Vida" do jornalista cabo-verdiano, José Vicente Lopes, recentemente lançado em Cabo Verde. O livro (em estilo entrevista aquele líder nacionalista) resulta de meses de conversa entre o autor e Aristides Pereira, versando por assim dizer praticamente todas as zonas até há bem pouco, "sombras" da luta pela independência e pela afirmação da Guiné e Cabo Verde como estados soberanos... nomeadamente das contradições internas do PAIGC, do assassinato de Amílcar Cabral a ruptura do processo de Unidade entre os dois países.

E Aristides Pereira fê-lo de forma desabrida... quiçá para muitos de forma inconveniente. Mas diria finalmente fez-se luz sobre alguns dos controversos momentos e episódios do pré e pós independência da Guiné e Cabo Verde!

Mas voltando à "estória" dos Migs, eis o que vem registado no livro:

"JVL: - Ainda a propósito do 25 de Abril, vendo documentos portugueses dessa altura e até mesmo alguns depoimentos - caso do Salgueiro Maia, por exemplo - havia um grande temor: que o PAIGC conseguisse a aviação. Havia essa possibilidade?

Aristides Pereira: - Sim. Aliás na altura da proclamação da independência, já estavam estudantes nossos a formarem-se para pilotos de MIG e helicópteros. Tanto assim que, logo após a nossa entrada em Bissau, esses jovens regressaram e fizeram demonstrações (com Migs). Portanto já eram pilotos. Com a independência, mais tarde, esses pilotos foram desviados para a aviação civil"

Quanto ao resto, nomeadamente o incremento do apoio bélico soviético aquela guerrilha independentista (os blindados e os mísseis strela) e o que se pode ler nas páginas 212/213 da obra que envio anexadas !!!

Uma obra a todos os níveis e vertentes desse capitulo da história comum entre Portugal e essas suas duas colónias africanas, de leitura obrigatória !!!

Mantenhas

____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 10 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9470: Notas de leitura (332): Quatro obras de autores africanos com interesse para a história recente de Cabo Verde e da Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

Vd. último poste da série de 28 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9546: (Ex)citações (175): Não canto loas ao inimigo para apoucar os meus (António J. P. Costa)

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9475: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (8): Boatos, em Lisboa, de ameaças de ataques a aviões da TAP... e de bombardeamentos aéreos aos nossos aquartelamentos

1. Na guerra o boato também é (ou pode ser utilizado como) uma arma... De referências a boatos também é feito o Diário do nosso amigo e  camarada António Graça de Abreu (AGA)...  

Por gentileza e generosidade suas, aqui ficam mais uns excertos do seu Diário da Guiné, 1972/74, de que temos um ficheiro em word, o mesmo que serviu de base à edição do seu livro Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp) (*).
 
(...) Cufar, 27 de Junho de 1973

De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacri, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.

De Lisboa, dizem-me também que o Eng. Vaz Pinto se demitiu de presidente da TAP por causa de um ultimato do PAIGC, mais ou menos nestes termos: se os aviões da TAP voarem para a Guiné, serão abatidos, se transportarem militares dentro da Guiné, também serão atingidos pelos mísseis terra-ar. Ora isto nada tem a ver com as realidades que aqui vivemos. Deve ser invenção.

Os aviões da TAP vindos de Lisboa e de Cabo Verde entram e saem da Guiné voando sobre as ilhas dos Bijagós e a chamada ilha de Bissau. Com 99,9% de certeza posso garantir que os guerrilheiros não controlam nem têm efectivos militares nessas regiões. São as zonas mais seguras de toda a Guiné. Os aviões da TAP também não fazem qualquer transporte de tropas dentro da Guiné. Os transportes via aérea são assegurados pelos três Nordatlas e pelos dois DC 3 da Força Aérea. Nada têm a ver com a TAP, nem sequer quanto à manutenção. Depois, creio que os homens do PAIGC não estão interessados em atacar aviões civis, grandes ou pequenos. Não atacam os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e vão atacar a TAP?... 



Os TAGP são a linha civil, comercial da Guiné. Têm quatro avionetas Auster de cinco lugares e transportam sobretudo civis. Em Abril e Maio, no período crítico a seguir à queda das cinco aeronaves militares, os TAGP ajudaram na evacuação de feridos porque a Força Aérea Portuguesa não voava. Os pilotos dos TAGP não são suicidas, também voam ou muito alto ou muito baixo, mas as suas avionetas vermelhas e brancas, mais pequenas do que as DOs, são facilmente referenciáveis cá de baixo. Quem sabe se os TAGP, mesmo colaborando com as NT, não são também úteis ao IN?

Agora em Cufar, volto a lidar diariamente com os pilotos, almoçam comigo, conversamos bastante. Creio estar bem informado do que se passa na Guiné, em termos de aviões.

Em Portugal, as “bocas”, os boatos são galopantes. Pela ponta de um dedo, toma-se o braço todo.

(...) Cufar, 13 de Agosto de 1973


O Chugué já não “embrulha” há dezassete dias, Cufar há quatro meses. Estamos felizes.

Mas fala-se em aviões para o PAIGC, Migs e tudo! Pelo sim, pelo não estou a arranjar, ou melhor, a mandar os soldados arranjar o abrigo subterrâneo nas traseiras da minha tabanca. No caso de guerra aérea, Cufar pode ser um alvo importante, temos uma grande pista de aviação e reabastecemos os aquartelamentos no sul da Guiné. 


Se o PAIGC, a partir do Senegal ou da Guiné-Conacri, conseguir meter aviões dentro desta sagrada parcela da Pátria, vai ser um sarilho monumental, inclusive a nível internacional. Há quem diga que o domínio português na Guiné está por um fio. Eu digo que está por uma corda. Os guerrilheiros lá vão roendo a corda, no entanto são incapazes de a transformar num fio.

O evoluir da situação depende de Portugal e do maior auxílio internacional dado ao PAIGC. As coisas tendem cada vez mais para o lado dos guinéus, mas os guerrilheiros não vencem contando apenas com umas ajudazinhas externas. Se receberem umas ajudazonas, por exemplo, aviões equipados com o que de mais moderno existe, o caso muda de figura. Os nossos Fiats não são capazes de responder a aviões do topo da tecnologia, têm raios de acção curtos, só com dificuldade poderiam ir bombardear bases aéreas do PAIGC no Senegal ou na Guiné-Conacry, correndo ainda o risco de serem abatidos.

Se vêm aviões IN, será talvez a debandada das nossas tropas, com muitos mortos, muito medo, uma desmoralização ainda maior. Abandonaremos a Guiné com os fundilhos das calças todos rotos e um buraco fechadinho ao fundo das costas.

(...) Cufar, 14 de Janeiro de 1974

Por aqui, a nossa insegurança e incerteza face ao futuro próximo gera boatos e mais boatos.


Diz-se que o PAIGC mais a República da Guiné-Conacri vão lançar um ultimato. Ou começam negociações de paz para se acabar com a guerra ou eles avançam com aviões e bombardeiam os nossos aquartelamentos. Diz-se também que o general Bethencourt Rodrigues pediu a demissão ao Marcello e vai embora em Fevereiro. Enfim, bocas, o cagaço, a imaginação a bulir dentro das pessoas, talvez sobre fundos de verdade.

A minha vida na Guiné, eu, o móbil, o centro. Não apenas eu. Tudo o que vejo e sinto começa e acaba no meu eu pessoal, limitado, egoísta. Os olhos são meus, o coração é meu. E escrevo. Há muita gente em meu redor, interveniente, que também escreve cartas, não sei se diários secretos. O que sinto é que a minha caneta pode talvez ser a voz de muitos outros. Porque eles é que são o todo, o fulcro dos dias. (...)

______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 2 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9437: Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (7): Andava-se de sintex, com motor de 50 cavalos, no Cumbijã, nas barbas do PAIGC... e fazia-se esqui aquático no Cacine... 

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4423: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (2): Parte II

Guiné > Bissalanca > Base Aéreas nº 12 > 1969 > Linha da Frente dos Heli Al III. Foto de António Silva Vieira, Ex-Esp MMA 2ª/67, Guiné (BA12, 1968/70). (O nosso camarada Vieira, de 61 anos, alistou-se na Força Aérea na BA-2, no 2º turno de 1967, como recruta para especialista, jurou bandeira em 25/08/1968, ficou na BA-2 para tirar a especialidade de MMA, foi mobilizado para a Guiné, para prestar serviço na BA-12, embarcou em 02/10/1968, foi integrado na Esquadrilha de manutenção dos Allouette III, teve como Comandante da Base o Cor Tir Pilav Manuel Diogo Neto, ficou no CTIG até 17/05/70, coincidinmdo portanto a sua comissão com o Gen Spínola, enquanto Com-Chefe e Governador Geral).

Foto: Cortesia do blogue do Victor Barata, Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 1965/74


Continuação da publicação das versões, em português e em inglês, do paper que o Matt Hurley, Ten Cor da USAF (na foto, à esquerda), teve a gentileza de nos enviar, com o resumo da sua tese de doutoramento, a decorrer na Universidade do Estado de Ohio, EUA. Tradução do nosso camarada e amigo Miguel Pessoa (na foto, à direita), antigo Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, Guiné (1972/74).

O nosso reconhecimento também aos membros do nosso blogue Alberto Branquinho, João Seabra e Vasco da Gama que puseram à nossa disposição as suas competências linguísticas e deram uma ajudinha ao Miguel, com sugestões de melhoria do texto, em português (*):

Súmula da tese de doutoramento de Matthew M. Hurley,Ten Cor da Força Aérea dos EUA:Departamento de HistóriaUniversidade do Estado de Ohio
Data: 23 de Fevereiro de 2009
Orientador: Prof Guilmartin John F., Jr.

Título do Trabalho:

"O ímpio Grail: O Poder Aéreo do Governo e a Defesa Aérea dos revoltosos na Guiné Portuguesa, 1963-1974". (**)


(...) 4. Questões para orientar a investigação.


A primeira questão que pretendo abordar diz respeito ao valor do Poder Aéreo numa campanha de contra-insurreição. Para atingir este objectivo, irei primeiro analisar os papéis e as missões da FAP na Guiné-Bissau, bem como as provas relativas ao sucesso ou insucesso das operações aéreas.

Talvez mais importante ainda, deve ser considerada a percepção do Poder Aéreo que existia por parte das forças terrestres, especificamente até que ponto elas contavam com o apoio da FAP, e o impacto subsequente, quando esse apoio foi retirado ou reduzido.

Correspondentemente, deve ser também considerada a importância da defesa aérea para os insurrectos. A percepção que o PAIGC tinha do Poder Aéreo Português - e a sua reacção a ele - pode dar-nos a bitola o proporcionar-nos talvez o melhor meio de medir a eficácia das operações da FAP.

Claramente, o PAIGC atribuía uma importância considerável à necessidade de defesa aérea, o que irei esforçar-me por demonstrar na dissertação. A título de exemplo, o PAIGC e o seu líder, Amílcar Cabral, investiram um capital diplomático considerável na aquisição de armas de defesa aérea.

Por conseguinte, também pretendo explorar o impacto do apoio externo aos movimentos insurrectos, bem como as razões que motivaram nações como a União Soviética a fornecer armas cada vez mais sofisticados a grupos de guerrilheiros no território de um membro da NATO.

De uma forma mais crítica, pretendo tentar avaliar a forma como a perda de um punhado de aviões da FAP provocou um impacto tão profundo nas operações aéreas dos portugueses, na guerra na Guiné-Bissau, e em toda a estrutura do império.

Esta questão torna-se ainda mais embaraçosa se se tiver em conta o número muito maior de perdas sofridas pela aviação americana devido ao SA-7, no Vietnam durante o ano de 1972, mas sem qualquer efeito apreciável no seu comportamento global na guerra naquele país.

Algo provocou este impacto diferente nos dois casos, suspeitando eu que envolve uma complexa interacção entre a política nacional, a vontade militar, considerações tácticas, a tecnologia do armamento, a rivalidade das superpotências, a motivação dos insurrectos.

A guerra na Guiné-Bissau, tal como qualquer outra insurreição, foi ricamente complexa, porém cada insurreição é complexa à sua própria maneira. Ao desvendar alguma dessa complexidade, pretendo demonstrar a ligação entre o emprego de um míssil portátil de defesa aérea e o colapso de um império.


5. Esboço dos Capítulos.

Os dois primeiros capítulos de fundo irão explorar as motivações e os objectivos dos antagonistas a um nível global, institucional. No que diz respeito ao lado Português, vou basear-me fortemente na apresentação que escrevi para o mais recente seminário de História 801.2, do Prof Beyerchen, intitulado "A Metáfora do Império: Fazer Identidade, Guerra, e Revolução durante o período do Estado Novo em Portugal".

Este capítulo irá examinar as razões que levaram Portugal a combater para manter o seu Império Africano, com a convicção aparente do Estado Novo de que a futura sobrevivência de uma política portuguesa independente passava pela manutenção da estrutura do império.

Um capítulo idêntico, explorando as motivações do PAIGC, irá analisar o desenvolvimento dos seus programas político e militar, a sua campanha para mobilizar o apoio das populações, e o deliberado desenvolvimento de um nacionalismo inter-étnico para unir etnias antagónicas guineenses contra o inimigo comum colonialista.

Usando o programa do PAIGC como um trampolim, o terceiro capítulo de fundo analisará o início e a condução da guerra a partir de uma perspectiva macro. Em particular, este capítulo analisará as estratégias políticas e militares das forças Portuguesas e do PAIGC, detalhando a forma como as estratégias em conflito se influenciaram mutuamente ao longo do conflito.

O capítulo seguinte irá fazer o mesmo numa perspectiva centrada no campo aéreo. Com base nos trabalhos em curso para o seminário de História 767 do Prof. Mansoor, este capítulo analisará a evolução das operações aéreas da FAP e as actividades de defesa aérea do PAIGC. Requisitos operacionais e estratégicos fluidos, e a resposta do inimigo, todos eles condicionaram as actividades aéreas, com cada lado tentando obter ou manter um controlo suficiente do ar para permitir alcançar os seus objectivos estratégicos mais importantes.

O quinto capítulo irá divergir ligeiramente da narrativa global e examinar a guerra a partir da perspectiva das potências exteriores, sobretudo no que diz respeito ao Poder Aéreo.

Para os portugueses, este foi principalmente um estudo das limitações, dadas as restrições impostas pelos E.U.A. e NATO quanto ao material que a FAP podia desviar para a luta na Guiné.

Para o PAIGC, por outro lado, é essencialmente um avolumar de oportunidades à medida que Amílcar Cabral e os seus sucessores travavam uma cada vez mais bem sucedida campanha pela ajuda militar por parte do bloco comunista.

Este capítulo analisará também o desenvolvimento de sistemas específicos de defesa aérea que foram mais tarde usados na Guiné-Bissau, incidindo sobre a sua adequação à guerra de guerrilha e o seu uso em conflitos anteriores, a fim de fornecer uma perspectiva para o seu posterior emprego pelo PAIGC.

Esta utilização final é objecto do sexto capítulo, que vai analisar a guerra aérea na Guiné-Bissau de 1973 a 1974. Este foi o período em que o PAIGC usou pela primeira vez o míssil portátil soviético ZPRK Strela-2M (Código NATO SA-7 Grail), que inicialmente reduziu a eficácia da FAP; embora as tácticas usadas mais tarde limitassem a eficiência dos mísseis, as perdas sofridas inicialmente e o seu impacto na eficácia da FAP continuaram a limitar as operações aéreas dos portugueses até ao fim da guerra.

Também durante este período, Portugal recebeu relatos de que a União Soviética estaria a treinar pilotos do PAIGC para pilotar MiGs baseados na vizinha Guiné-Conakri, um programa que teria neutralizado definitivamente a superioridade aérea dos portugueses se fosse implementada (a FAP não dispunha de aviões específicos para o combate ar-ar).

O capítulo seguinte, que é o capítulo de fundo final, irá explorar o impacto desses acontecimentos no moral dos militares portugueses, na estabilidade política e no golpe de estado de Abril de 1974 que praticamente trouxe um fim à guerra.

Um capítulo conclusivo tentará retirar lições relevantes para o actuais desafios de insurreição com que se defrontam hoje os Estados Unidos e os seus aliados.

6. Bibliografia corrente.

Por favor, veja o apêndice em anexo, "Bibliografia Provisória."

APROVADO:

O professor John F. Guilmartin, Jr. Professor Alan Beyerchen (...)

[A continuar - Parte III]
______

[Versão original, em inglês. Continuação]

Dissertation Prospectus for Matthew M. Hurley, Department of History, The Ohio State UniversityDate: 23 February 2009. Advisor: Prof. John F. Guilmartin, Jr.

Working Title: The “Unholy GRAIL: Government Airpower and Insurgent Air Defense in Portuguese Guinea, 1963-1974.”

(...) 4. Questions to Guide Research.

The first question I intend to address regards the value of airpower in a counterinsurgency campaign. In order to assess this, I will first examine the FAP’s roles and missions in Guinea-Bissau, as well as evidence pertaining to the success or failure of air operations. Perhaps most importantly, the Portuguese ground forces’ perception of airpower must be considered, specifically the degree to which they relied on FAP support, and the subsequent impact when that support was withdrawn or curtailed. Correspondingly, the importance of air defense to the insurgents must also be considered. The PAIGC’s perception of Portuguese airpower—and their reaction to it—provide perhaps the most persuasive metric by which to measure the effectiveness of FAP operations.

Clearly, the PAIGC attached considerable importance to the requirements of air defense, which I will endeavor to demonstrate in the dissertation. By way of example, the PAIGC and its leader, Amílcar Cabral, invested considerable diplomatic capital in the acquisition of air defense weaponry. Consequently, I also intend to explore the impact of external support to insurgent movements, as well as the factors that motivated nations such as the Soviet Union to provide increasingly-sophisticated arms to guerrilla bands in a NATO member’s territory.

Most critically, I intend to try to assess how the loss of a handful of FAP aircraft exerted such a profound impact on Portuguese air operations, the war in Guinea-Bissau, and the entire imperial enterprise. This question becomes more perplexing in light of the fact that US air arms suffered far more losses to the SA-7 system in Vietnam during 1972, but without any appreciable effect on its overall conduct of the war there. Something accounts for this difference in impact, and I suspect it involves a complex interplay between national policy, military will, tactical considerations, weapons technology, superpower rivalry, and insurgent motivation. The war in Guinea-Bissau, like any other insurgency, was richly complex; however, like Tolstoy’s unhappy families, each insurgency is complex in its own way. By unraveling some of that complexity, I intend to demonstrate the link between the employment of a shoulder-fired air defense missile and the collapse of an empire.

5. Chapter Outline.

The first two substantive chapters will explore the motives and objectives of the antagonists from a macro, institutional level. Regarding the Portuguese side, I will draw heavily from the paper I wrote for Prof. Beyerchen’s latest History 801.2 seminar, entitled “The Empire Metaphor: Making Identity, War, and Rebellion during Portugal’s Estado Novo Era.” This chapter will examine Portugal’s rationale for fighting to maintain its African Empire, including the Estado Novo’s apparent conviction that the future survival of an independent Portuguese polity necessitated the maintenance of imperial stature.

A similar chapter exploring the PAIGC’s motives will examine the development of its political and military programs, its campaign to mobilize peasant support, and its deliberate development of an inter-ethnic nationalism to unite antagonistic Guinean ethnicities against a common colonialist foe.

Using the PAIGC program as a springboard, the third substantive chapter will examine the initiation and conduct of the war from a macro perspective. In particular, this chapter will consider the evolving military and political strategies of the Portuguese forces and the PAIGC, detailing how the contending strategies influenced each other over the course of the conflict.

The following chapter will do much the same from an air-centric perspective. Drawing on work currently in progress for Prof. Mansoor’s History 767 seminar, this chapter will examine the evolution of FAP air operations and PAIGC air defense activities. Available equipment, fluid operational and strategic requirements, and enemy response all conditioned these aerial activities as each side attempted to gain or maintain sufficient control of the air to enable the attainment of their larger strategic aims.

The fifth substantive chapter will diverge slightly from the overall narrative and examine the war from the perspective of outside powers, particularly where airpower was concerned. For the Portuguese, this was largely a study in constraints, given US and NATO restrictions on what the FAP was able to bring to the Guinean fight. For the PAIGC, on the other hand, it is primarily a tale of expanding opportunities as Amílcar Cabral and his successors waged an increasingly successful campaign for military aid from the Communist bloc. This chapter will also examine the development of specific air defense systems that were later used in Guinea-Bissau, focusing on their suitability to guerrilla warfare and their use in earlier conflicts in order to provide context to their later employment by the PAIGC.

That later employment provides the sixth substantive chapter, which will examine the air war in Guinea Bissau from 1973 to 1974. This was the period when the PAIGC first used the Soviet ZPRK Strela-2M (NATO SA-7 GRAIL) shoulder-fired missile, which initially hindered the FAP’s effectiveness; although subsequent Portuguese counter-tactics later curtailed the missile’s efficiency, the initial spate of losses and their impact on FAP effectiveness continued to limit Portuguese air operations for the remainder of the war.

Also during this period, Portugal received reports that the Soviet Union was training PAIGC MiG pilots to be based in neighboring Guinea-Conakry, a program which would have definitively neutralized Portuguese air superiority if implemented (the FAP had no dedicated air-to-air fighters in Guinea-Bissau). The following chapter, the final substantive one, will explore the impact of these events on Portuguese military morale, political stability, and the April 1974 coup d’etat that for all intents and purposes brought the war to an end. A concluding chapter will attempt to distill lessons relevant to the current insurgent challenges facing the United States and its allies today.

6. Current Bibliography.

Please see the attached appendix, “Provisional Bibliography.”

APPROVED:

Professor John F. Guilmartin, Jr. Professor Alan Beyerchen

ADVISOR COMMITTEE MEMBER

[To be continued - Part III]
__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste 26 de Maio de 2009 >Guiné 63/74 - P4418: O poder aéreo no CTIG: uma pesquisa de Matthew M. Hurley, Ten Cor, USAF: Trad. de Miguel Pessoa (1): Parte I

Vd. também poste de 16 de Abril de 2009 >Guiné 63/74 - P4197: FAP (23): O poder aéreo no CTIG, 'case study' numa tese de doutoramento nos EUA (Matt Hurley / Luís Graça)

(**) Em inglês, "unholy Grail" também poderia ser traduzido por "ímpio Graal", por oposição a Santo Graal... O autor faz aqui uso de um trocadilho: Grail, nome de código do Strela soviético no campo da Nato, é também Graal... Nas lendas e na literatura da Idade Média, o Santo Graal pode designar várias coisas, mas normalmente refere-se ao cálice usado na Última Ceia por Jesus Cristo. Nas lendas do Rei Artur, cabe aos Cavaleiros da Távola Redonda encontrar o Santo Graal, talismã que vai permitir devolver a paz às terras do Rei... No caso da Guiné, para os portugueses o Graal (o Strela) não é santo mas ímpio, porque traz com ele não a paz, mas a escalada da guerra...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2932: A guerra estava militarmente perdida? (15): Uma polémica que, por mim, se aproxima do fim (Beja Santos)

A Guerra Estava Militarmente Perdida?

Fixação e revisão de texto: vb


1. Esclarecimentos de Mário Beja Santos em mensagem de 3 de Junho.

Caros Luís Graça e Graça Abreu, muito prezados tertulianos,

Creio que esta polémica se aproxima do fim. Pela minha parte, trago hoje como postulados:

1. O frenesim político para encontrar um cessar-fogo;
2. O plano de abandono de quartéis junto às fronteiras por incapacidade de responder à supremacia do armamento do PAIGC;
3. Testemunhos de protagonistas da época.

Para último apontamento, a enviar na próxima semana, vou alinhavar a bibliografia que reputo como fundamental para apreciar o período crítico de 1973 a 1974 e a leitura que faço da derrocada da Guiné no contexto do 25 de Abril.

Primeiro, Rui Patrício esclareceu em 1995 as negociações em curso ("A Guerra de África", por José Freire Antunes, volume II, Círculo de Leitores, 1995):

"Fui defensor das negociações secretas com o PAIGC, já em 1974... Eu nunca fui partidário de que a derrota militar seria o melhor. Quando se está com o canhão e espingarda diante de nós, chama-se a isso estado de necessidade... Qualquer explicação era possível porque qualquer coisa era melhor que a derrota militar. A estratégia que levou às conversações de Londres foi só conduzida pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros. Era uma negociação para discutir o futuro político da Guiné".

Cabe perguntar, no âmbito desta polémica, porque razão desesperadamente fomos para a mesa de conversações quando, a acreditar nos argumentos do Graça Abreu, não estávamos a caminho da derrota.

Segundo, quer o comandante-chefe da Guiné, quer o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas referem, na obra acima citada, que havia um programa de abandono de quartéis, atendendo à situação crítica que se vivia graças à modernização do equipamento do PAIGC.

Diz Bettencourt Rodrigues (Volume I, página 112):

"Estava também a ser ponderado um certo retraimento do dispositivo, afastando da fronteira as guarnições militares, como já se havia feito em Madina do Boé. Deste modo, para as flagelações, o PAIGC teria de instalar os seus meios em território da província... O PAIGC recebia material de guerra moderno e eficiente em quantidades vultosas destacando-se nesse material os foguetes terra-ar, que determinavam alterações na conduta das operações, os RPG2 e 7, com significativo efeito psicológico sobre o nosso pessoal e os materiais de artilharia e morteiros".

Quanto ao General Costa Gomes, as suas observações aproximam-se das do comandante-chefe (Volume I, página 121):

"O Ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que eu tinha dito numa reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional que a Guerra na Guiné se podia ganhar. Mas o que eu de facto disse foi que a guerra na Guiné podia durar um pouco mais se modificássemos o dispositivo e o concentrássemos... Eu preconizava esta alteração do dispositivo que nos permitiria reunir e ter à disposição do comando forças que pudessem ser empregues em caso de ataque...".

Alguns comentários a estas declarações:

o que estes dois militares não dizem é que o abandono de aquartelamentos significava o desaparecimento de povoações, e terá sido esta uma das razões fundamentais pela qual o general Spínola se demitiu.

Nesta já tão ventilada reunião do Conselho Superior de Defesa Nacional, Marcello Caetano, segundo escreveu no seu primeiro livro no Brasil terá perguntado se a Guiné era defensável e se não o fosse haveria que retirar, deixando um oficial na comissão liquidatária.

Costa Gomes teria retorquido que a Guiné era defensável desde que se fizessem alterações ao dispositivo, insinuando que a guerra estaria perdida se acaso fosse verdade que o PAIGC dispusesse de MIGs e os utilizasse.

Ora nesta altura já havia informações que o PAIGC possuía aviação, razão pela qual andávamos febrilmente à procura de adquirir um sistema defensivo compatível para Bissalanca e procurávamos comprar a que preço fosse mísseis terra-ar, depois da formidável negativa de Washington.

Terceiro, Silva Cunha, então Ministro da Defesa, no seu depoimento nesta obra (volume I, página 341) refere compras de armamento e pasma a ingenuidade das suas afirmações:

"A África do Sul tinha comprado duas baterias de mísseis terra-ar Crotale em França - eu consegui que eles desistissem de uma, e comprámo-la nós, directamente aos franceses. Pagámos a bateria aos franceses, os trinta por cento que estavam no contrato, e chegámos a mandar o pessoal para ser treinado. A bateria dos Crotale era para proteger o aeroporto de Bissau. Havia na Guiné aviões MIGs, mas podiam ser usados lá. Conseguimos artilharia em Israel, porque uma das coisas de que se queixava na Guiné era que a artilharia deles tinha alcance superior ao da nossa. Conseguimos os Red Eye na Alemanha. Não sei quem os vendia, só sei que eles nos forneciam 500 Red Eye americanos".

O ministro Silva Cunha refere igualmente que o Governo português esteve à beira de comprar aviões Mirage. Escapou-lhe a boca para a verdade, afinal sempre havia aviões MIG de uma república independente chamada Guiné-Bissau. Gostava de saber se nas contas de armamento do Graça Abreu aparece artilharia israelita, a bateria dos Crotale e os aviões Mirage. Provavelmente não, já tínhamos entrado na espiral demencial da tomada de medidas sem quaisquer consequências.

Quarto, porque numa polémica é mister facultarmos a quem está de fora o pensamento dos outros que, desta ou daquela maneira, intervieram nos acontecimentos em análise, oiçamos alguns testemunhos.

O General Diogo Neto (Volume I, página 321) refere-se aos mísseis Strella, dizendo que a reacção da Força Aérea foi péssima quando eles apareceram, e escreve:

"O míssil actuava a partir dos 250 pés até aos 8000. Como o bombardeamento de Fiat era feito a partir dos 8000 pés, ficava sempre na mira dos mísseis. Evidentemente que foram afectadas as unidades do exército que estavam isoladas e que dependiam do apoio logístico dos aviões pequenos e até dos próprios helicópteros... A parte final da Guiné correu mal. O PAIGC teve um incremento muito grande ao nível das acções. Tudo isto veio afectar o moral e a capacidade da Força Aérea".

Carlos Fabião, um dos oficiais mais conhecedores da Guiné, também depõe (Volume I, página 374):

"Quando apareceram os Strella, a guerra da Guiné acabou. Deixámos de ter possibilidades de acção. Não é fácil dizer que a situação estava perdida, embora haja gente que faça análises pouco sérias, na minha opinião. Se me disserem que a Guerra colonial estava perdida na Guiné, eu digo que estava. Se me disserem que a guerra colonial não estava perdida na Guiné, eu digo que não estava. E não estava a que preço? O regime mandava para lá aviões, helicópteros, mas homens não sei aonde é que os iria buscar".

Oiçamos Jaime Neves (Volume I, página 400):

"A minha convicção pessoal era de que a Guiné estava perdida... A Guiné estava arrumada. O que era a Guiné? Era uma machamba da CUF, estávamos lá a guardar os amendoins da CUF".

Oiçamos Almeida Bruno (Volume II, página 722):

"Nós só abandonámos Madina do Boé e Beli, não abandonámos os quartéis portugueses. Houve, no Sul uma debandada de um quartel, que depois foi reassumido com a colocação lá do capitão Manuel Monge. Foi em Gadamael. Guilege, por exemplo, nunca foi abandonado e o PAIGC nunca entrou em Guilege. Se saíssem aviões da Guiné-Conacri para nos bombardear, lá teríamos que fazer a segunda Operação Mar Verde. E se viessem MIGs da Guiné-Conacri, o Governo teria de comprar Mirage que pudessem ir à Guiné bombardear. E estavam a ser negociados".

Não que estes depoimentos sejam concludentes, mas o mínimo que se pode dizer deles é que insinuam que se estava num fim de época.
A derrota militar na Guiné é contemporânea de múltiplos factores que a interseccionam: o isolamento diplomático, o abandono dos principais aliados, o aparecimento da crise petrolífera, a criação do Movimento dos Capitães, uma estratégia defensiva para tentar resistir ao armamento sofisticado do PAIGC, o reconhecimento da República da Guiné-Bissau com consequências gravíssimas a prazo na natureza do tratamento do beligerante (metade da comunidade internacional deixara de aceitar existirem terroristas a combater as tropas portuguesas).

Fernando Rosas refere na obra "Marcello Caetano - A Transição Falhada", Circulo de Leitores, 2003, que o regime entrara na esquizofrenia, prometendo continuar a lutar e, pela surda, negociava e cessar-fogo e a independência da Guiné e de Moçambique, para salvar as outras colónias.

Prometo para a semana concluir estes apontamentos, agradecendo antecipadamente as observações e comentários que me permitam rectificar as análises incorrectas.

As saudações tertulianas do

Mário Beja Santos
__________

Notas de vb:

Vd. artigos relacionados em:

12 Junho > Guiné 63/74 - P2929: A guerra estava militarmente perdida? (14): Estávamos fartos da guerra e a moral nã era muito elevada. A. Graça de Abreu.

3 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2913: A guerra estava militarmente perdida? (13): Henrique Cerqueira.

31 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2907: A guerra estava militarmente perdida? (12): Vítor Junqueira.

29 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2899: A guerra estava militarmente perdida? (11): Correspondência entre Mexia Alves e Beja Santos.

28 de Maio > Guiné 63/74 - P2893: A guerra estava militarmente perdida? (10): Que arma era aquela? Órgãos de Estaline? (Paulo Santiago)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2890: A guerra estava militarmente perdida? (9): Esclarecimentos sobre estradas e pistas asfaltadas (Antero Santos, 1972/74)

25 de Maio > Guiné 63/74 - P2883: A guerra estava militarmente perdida ? (8): Polémica: Colapso militar ou colapso político? (Beja Santos)

[Por lapso, houve um salto na numeração, não existindo os postes nº 7 e 6 desta série ]

22 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2872: A guerra estava militarmente perdida ? (5): Uma boa polémica: Beja Santos e Graça de Abreu

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

30 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

17 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2767: A guerra estava militarmente perdida ? (1): Sobre este tema o António Graça de Abreu pode falar de cátedra (Vitor Junqueira)

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados

1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves, com data de 14 do corrente, em resposta ao Beja Santos (1)

Meu caro Mário Beja Santos

Li atentamente o teu texto, que constituiu o post 2838 e não concordo com as conclusões que do mesmo retiras, ou seja, "que a guerra na Guiné estava militarmente perdida" (1).

Partes, julgo eu, de um pressuposto que os Mig iriam entrar na guerra da Guiné e então pode perguntar-se porque o não tinham feito até então.

Não tinham pilotos para eles, como dizes, mas repara que a entrada de pilotos russos na guerra poderia "internacionalizar" e abrir portas ao Estado Português, que até então estavam fechadas.

Uma coisa eram os cubanos, outra bem diferente eram pilotos russos a pilotarem aviões russos, por isso, e por muito mais razões, tenho sérias dúvidas que isso alguma vez fosse acontecer.

Mas se consideramos esse pressuposto como real, então temos de considerar também a possibilidade então muito falada e dada quase como certa de que o esforço de guerra em Angola, começaria a ser desviado para a Guiné, com a possível chegada também dos F 84, que são do mesmo tempo dos Mig.

Realmente, sei-o por experiência própria, a guerra em Angola praticamente já não existia, a não ser algumas acções esporádicas que se destinavam a tentar manter "vivos" os movimentos de libertação.

Sabemos bem que, à data do 25 de Abril, o MPLA era muito mais um partido político do que um movimento de guerrilheiros. Ao que se sabe, e agora se vai tornando cada vez mais claro, foram as Forças Armadas Portuguesas saídas do 25 de Abril que armaram este movimento na sua chegada a Luanda.

Falas em diversos documentos, reuniões, avisos, etc. mas nós sabemos por experiência própria que a informação que chegava a Lisboa, e até a Bissau, estava carregada de informações erradas, umas propositadas e outras não, apenas por incompetência.

Sabemos bem, e já foi dito no blogue, que havia informações "aumentadas" sobre o esforço de guerra tendo em vista a obtenção de mais meios militares para a Guiné.

Dizes também:

«Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.»

Meu caro Mário, sabemos que a compra de armamento nestas condições não se faz "governo a governo", mas sim por intermediários que a tudo têm acesso, e não constam obviamente das actas de qualquer reunião.

Aliás é do conhecimento geral que, na "voz do povo", poderia estar iminente a compra de Mirages para a Guiné, claro está, não ao Governo Francês.

Mas mais do que tudo isto fala a guerra no terreno!

Já o disse e repito, que "tiro o chapéu" ao PAIGC que soube unir esforços à volta de, essencialmente três quartéis das nossas Forças [, Guileje, Guidaje, Gadamael], criando nesses três espaços situações de terrível pressão e com isso transmitir uma sensação de que era o que se passava no resto do território.

Nada mais falso!

Com efeito na zona Leste circulava-se com relativa facilidade entre Xime e Nova Lamego, Bambadinca, Xitole, Saltinho, Galomaro, abria-se a estrada Jugudul/Potogole/Bambadinca, fiz não sei quantas seguranças a colunas de Mansoa para Mansabá sem uma única intervenção de guerra e por aí fora, numa situação que poderíamos dizer de guerra mas sem constrangimentos sérios.

A guerra estava perdida sim, mas não militarmente, e com isto não quero dizer que gostava ou quereria que ela continuasse.

Quero apenas fazer jus ao esforço extraordinário dos portugueses anónimos, que mais de vontade própria, ou mais obrigados, se empenharam em defender uma Pátria, (discutível na sua extensão), e que hoje são tão mal tratados pelos poderes públicos.

Não lhes retiremos ao menos a dignidade de saberem que não foi por não terem lutado, que a guerra se perdeu, mas sim pela politica errada de a mesma ter sido travada.

E não me apetece escrever mais nada agora, porque isto ainda mexe muito comigo.

Tomo a liberdade, que sei não levas mal, de dar conhecimento deste mail aos editores da nossa Tertúlia.

Um abraço amigo até Monte Real

Joaquim Mexia Alves


PS. Não revejo o texto que escrevi, não estou para isso, por isso mesmo desculpa o "atabalhoamento" que o mesmo possa conter!


2. Resposta do Beja Santos, na mesma data:

Assunto - Perguntas a um amigo querido, que vou rever em breve

Joaquim, meu querido penúltimo Comandante [do Pel Caç Nat 52]:

Desculpa ser breve,os funcionários públicos trabalham, tenho que seguir para Sintra, quando voltar vou para o computador escrever sobre a Operação Macaréu à Vista, é a minha sina.

Primeiro, peço-te que refutes Caetano, Spínola, Costa Gomes. Abandonar quase dois terços da Guiné, segundo Caetano, para quê? Costa Gomes propôs a retirada dos aquartelamentos limítrofes, Spínola recusou,tinha assumido compromissos com as populações, passou a batata quente ao seu sucessor.

Segundo, desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os «órgãos de Estaline" quando queriam, sem resposta das nossas tropas, era uma nova inferioridade.

Terceiro, Marcello Caetano queria agir com legitimidade, em cooperação com os Aliados. Os Aliados abandonaram-no, não há qualquer referência na literatura disponível à compra no mercado negro de armamento, aliás fomos pesadamente afectados pela inflação, a partir de Setembro de 1973. No 1º trimestre de 1974 a taxa de inflação já estava elevadíssima, o dinheiro tornou-se caro e escasso.

Quarto, não entendo como vens invocar o heroísmo das nossas tropas quando o problema era tecnológico, tinha a ver com equipamento para o qual não havia resposta. Sim, fazíamos as estradas que referes,mas havia bolanhas cultivadas a 4 km do Xime ou Missirá. O IN nunca desarmou, nunca perdeu posições. O IN era uma república reconhecida por mais de 80 países, em finais de 1973. A nossa diplomacia tinha perdido tudo, na Guiné.Vamos conversar mais, em Monte Real.

Um abraço do Mário

3. Contra-resposta, rapidinha, do JMA:

Mário, meu comandante:

Resposta rápida também.

Quanto a Caetano, Spinola e Costa Gomes, não faço ideia que informações deram a Caetano que o levassem a propor tal coisa.

«Segundo,desenhava-se uma guerra convencional «à carta», as tropas do PAIGC despejavam os«órgãos de Estaline quando queriam, sem resposta das nossas tropas,era uma nova inferioridade.»

Porque é que não havia de haver resposta das nossas tropas? E onde é que estavam os órgãos de estaline?

Com certeza que não há referência a compras de armamento o que não quer dizer que não existissem.

As bolanhas seria no teu tempo, porque no meu nem pensar.

O IN nunca perdeu posições?

Falaremos então em Monte Real.

Abraço amigo do
Joaquim
_________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 13 de Maio de 2008 > Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Guiné 73/74 - P2838: A guerra estava militarmente perdida ? (3): Sabia-se em Lisboa o que representaria a entrada em cena dos MiG (Beja Santos)

Um exemplar do caça MiG 15, de origem soviética. Em 22 de Novembro de 1970, um dos objectivos da Op Mar Verde, era a destrição dos MiG 15 e MiG 17 estacionados no aeroporto de Conacri. Era uma ameaça real para a nossa Força Aérea e para os nossos aquartelamentos no sul da Guiné ? A siga MiG quer dizer, em russo, Gabinete de projectos aeronáuticos da URSS, que se especializou no desenho e construção de aviões de caça e de intercepção. Mikoyan e Gurevich são os apelidos dos seus dois primeiros engenheiros-chefes. O MiG 15, monolugar, com uma máxima de 1076 km/hora, tornou-se célebre durante a guerra da Coreia. O MiG 17 combateu na guerra do Vietname... O MiG 19 já era supersónico... Fonte: Wikipedia (Foto: copyleft).


1. Mensagem de Beja Santos, dirigida ao Antóno Graça de Abreu, com conhecimento aos nossos editores:

Meu prezado António Graça Abreu e prezados tertulianos:

Enviaste ao Luís Graça, enquanto eu estava de férias, uma apreciação a uma recensão que fiz a um dos livros mais tragicómicos que me foi dado a ler nos últimos anos, acerca dos fuzilamentos dos Comandos guineenses. Aí teceste considerações de elevado teor crítico ao conteúdo da minha recensão, chegando a referir que eu tinha feito declarações infelizes.

Por razões da vida profissional e que também se prendem com a conclusão do segundo volume [do meu Diário da Guiné, 1969/70], não pude responder ao azedume do teu mail. Serei breve. Por favor, estuda. Estuda o que escreveram Marcello Caetano, Spínola e Costa Gomes. Estuda os livros dos diplomatas que de 1972 a 1974 procuraram comprar armamento em Washington, Londres, Bona e Paris.

Quando um Presidente do Conselho propõe em plena sessão do Conselho Superior de Defesa Nacional, em 1973, que a maior parte do território da Guiné não é defensável, na actual conjuntura, a retirada estratégica para os territórios da península de Bissau, que guerra não está perdida?

Quando, nesse mesmo ano de 1973, o general Spínola depois dos acontecimentos relacionados com a chegada dos mísseis terra-ar e com a tentativa bem sucedida do PAIGC em atacar quartéis na Zona Norte com foguetões refere ao ministro do Ultramar que é indispensável armamento compatível sob pena de se entrar em colapso militar, qual a situação risonha de que dispunham as Forças Armadas, quando foi respondido que não havia armamento compatível?

Quando o Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Costa Gomes, que se opôs à tese drástica do abandono da maior parte dos aquartelamentos, sugere superiormente a retirada de um conjunto de quartéis das Zonas Leste e Norte, que atmosfera de vitória, com que entusiasmo era possível combater?

Tudo isto está documentado, é público, é acessível a quem quiser ir às livrarias. O que ainda falta saber são duas coisas: a primeira, tem a ver com a documentação de chancelaria entre o Governo, as embaixadas e os representantes pessoais que dirigiram missões para adquirir armamento, essa documentação só estará disponível dentro de décadas; a missão secreta, em Londres, em Janeiro de 1974, entre representantes de Marcello Caetano e uma delegação do PAIGC continua por desvendar, por ambas as partes.

As guerras não se ganham nem se perdem quando as forças em contenda têm equilíbrio no que pensam e na força de que dispõem. Qualquer história da civilização explica como um avanço tecnológico pode levar à derrota de uma das forças em presença. A armada turca era muitíssimo mais forte que a frota de Afonso de Albuquerque. Só que este tinha as bombardas e a frota inexpugnável dos turcos foi desbaratada à entrada do Mar Vermelho. O mesmo se sabia em Lisboa do que representaria a entrada em cena dos MiG, era uma questão de meses (2).

Se subsistirem dúvidas sobre os livros que aqui refiro, posso levá-los para Monte Real. Aceita os melhores cumprimentos do

Mário Beja Santos.
_____________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 30 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2803: A guerra estava militarmente perdida ? (2): Não, não estava, nós é que estávamos fartos da guerra (António Graça de Abreu)

(2) Já em 22 de Novembro de 1970, aquando da temerária invasão de Conacri, um dos grandes objectivos era a destruição da frota de MiG 15 e MiG 17, de origem soviética, que constituíam uma potencial ameaça às NT no CTIG. O PAIGC nunca teve aeronaves, ao que parece. Mas o regime de Sékou Touré, um dos aliado da União Soviética em África, poderia decidir em quakquer altura pô-los ao serviço do PAIGC... Felizmente, para nós, que nunca o fez. Também, ao que parece, nunca teve pilotos devidamente treinados. É possível que os MiG de Conacri não passassem, na época, de um tigre de papel... No entanto, a não-destruição dos MiG terá levado o comandante Alpoím Galvão a alterar os planos e a regressar à base, de imediato, depois de conseguida a libertação dos prisioneiros portugueses, a destruição das lanchas do PAIGC e de outros objectivos menores.

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verd- 2ª Parte- A decisão e a preparação
(...) "Mas em Lisboa surgiram dúvidas quanto à validade da operação, nomeadamente da parte do Ministro do Ultramar, Joaquim da Silva Cunha. Ao mesmo tempo, em Bissau, Spínola e Calvão mudavam de planos quanto à operação. Alpoim Calvão propôs que já que se fazia um incursão a Conakry, se devia aproveitar a ocasião para libertar os militares portugueses feitos prisioneiros pelo PAIGC (cerca de vinte) e que eram mantidos na cidade. Spínola concordou e os planos para a operação foram sendo feitos.

"No entanto, começaram a ser equacionados outros objectivos. Se para a Marinha existiam as lanchas Komar e P6, para a Força Aérea existiam os caças MiG-15 e MiG-17 da Guiné-Conakry que, se pilotados por soviéticos devidamente treinados (como acontecia frequentemente em países aliados da URSS) poderiam tirar partido das limitações da Força Aérea Portuguesa, cujos Fiat G-91 não estavam vocacionados para o combate aéreo. Destruir os MiG da mesma forma como se destruiriam as lanchas eliminaria esta ameaça à supremacia aérea portuguesa" (...).

Vd. Fórum Armada: Fórum Não-Oficial da Marinha de Guerra Portuguesa > Operação Mar Verde > 3ª Parte - A operação
(...) "A esta mesma hora é comunicado desde as equipas em terra que, segundo os soldados feitos prisioneiros, os Mig foram enviados para o aeródromo de Labé no dia 20, devido a uma remodelação ministerial. Uma falha da intelligence.

"Este é um grave revés para a operação já que a segurança das forças será seriamente comprometida pela possível entrada em acção dos MiG. As únicas armas anti-aéreas disponíveis são os canhões Bofors de 40mm que equipam as lanchas. Num espaço aéreo limitado como é o caso, com 10 canhões até há razoáveis hipóteses de atingir os aviões, mas os navios são alvos fáceis para um ataque aéreo. Alpoim Calvão dá ainda ordem à equipa SIERRA para destruir a pista antes de retirar, mas já não têm o morteiro e as minas de fragmentação para o poder fazer. A equipa reembarca na Hidra pelas 04h15.

"Falhada a destruição dos MiG, subsistia ainda a esperança de se encontrar Sékou Touré" (...).