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quarta-feira, 1 de abril de 2020

Guiné 61/74 - P20797: O que é feito de ti, camarada? (12): Virgílio Teixeira, "aquarentenado" em Vila do Conde...


Foto nº 1 > Vila do Conde > 15 de março de 2020 >  O Virgílio Teixeira, equipado para furar a "quarentena"...


Foto nº 2 > Vila do Conde > 21 de março de 2020 >  Vista do mar, ao fim da tarde, a partir da Rua da Independência


Foto nº 3 > Vila do Conde > 12 de março de 2020 > Av Júlio Graça, parque, muro exterior,  a caminho do Lidl

Fotos (e legendas: © Virgílio Teixeira (2020). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de 31/03/2020, 19:47, do nosso amigo e  camarada Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, chefe do conselho administrativo, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69), e que vive em Vila do Conde:

Amigos e camaradas,

Depois de ler isto (*) não fico indiferente, comecei a escrever do meu ponto de vista e sem nenhuma ideia em concreto, o que se está a passar agora com esta Pandemia que nos apareceu. É para continuar, pois preciso de desabafar esta dor que nos assola a todos.


Vou juntar algumas fotos de uma série de mais de 500, onde se mostra,  numa pequena localidade [, Vila do Conde,] o desânimo e tristeza deste país e do mundo.
Voltarei com mais,
Até logo,
A COVID-19 não passará!
Abreijos. Virgílio


2. Texto que nos mandou, a seguir, o Virgílio Teixeira, com fotos de que fizemos uma seleção:

A PANDEMIA DO SÉCULO XXI

Chegou lentamente no inicio do ano de 2020, primeiro na China, mas não se deu grande importância, era uma ‘epidemia’ nova centrada na cidade de Whan na China, passou a chamar-se de Corona Vírus, era uma nova forma do antigo Corona SARS, que nunca ouvi falar antes, e tinha passou por cá apenas há alguns anos.

Depressa se estendeu a outros países, devagarinho, e assim em Março de 2020 já estava instalada em muitos países de todos os Continentes, entrou em Portugal, passamos a tratar de ‘Pandemia’ um nome estranho, para mim, mas que significava que atingia todos os países isto é, o Planeta todo.
Matava sem deixar rasto, no principio ninguém ligava muito, mas em breve passamos a ter os números reais de infectados e mortos em todos os países, incluindo Portugal.

O Governo decretou o Estado de Emergência, uma nova realidade, estava tudo confinado a casa e só os operacionais – da saúde, dos transportes, da alimentação e pouco mais – tinham carta verde para sair sem ser apanhado pelo controle que, entretanto, foi apertando, mais e mais. O País parou, tudo o que era actividade não essencial à vida fechou portas, lojas e estabelecimentos foram fechando e colocando os seus papeis de avisos nas portas.

Devido ao COVID-19, uma nova espécie de Corona Vírus, que apareceu no final de 2019, era o nome mau e terrível que passou a chamar-se a este estado descontrolado.

COVID-19

É o nome que está na ordem do dia, não se fala nem escreve sobre mais nada. Os números de infectados, mortos, os poucos que se curavam, são as estatísticas do dia, sobrepondo-se aos números do Orçamento do Estado, à classificação das equipas, aos banais assuntos sem importância a que antes se dava relevo.

Estou a escrever isto, hoje dia 30 de Março de 2020, pois já não sei mais que fazer, para passar o tempo fechado dentro de casa, e sem perceber patavina do que significa, o que é este vírus assassino, que ninguém sabe explicar, cada um lança um palpite, e os debates televisivos acontecem minuto a minuto, sem nada sair de concreto. Eu confesso-me um ignorante de primeira linha, pois nunca dei grande importância a estes coisas de saúde, talvez por felicidade minha, nunca passei, quer em família, quer pessoalmente por uma situação destas, terrível em termos de saúde, daí o meu desinteresse anterior e a minha ignorância, sei que não estou no bom caminho, mas foi assim que vivi até aos 77 anos.

Os dramas acontecem com números diabólicos, não poupam ninguém, esta mortalidade é transversal a todas as classes sociais, religião, raça, sexo, ricos e pobres, famosos e anónimos, novos e velhos, homens e mulheres, jovens e crianças.

Os mortos não têm sequer um funeral, são empilhados à espera de vez para serem cremados, única forma de matar o vírus, os velórios e o luto ficarão para mais tarde, quando tudo passar, se realmente vai passar totalmente.

Vila do Conde > Esplanadas, vazias, da marginal
O isolamento social é uma forma de travar a pandemia, que ninguém já sabe em concreto como se transmite, e agora passou a ter outro palavrão – a mitigação -, o estado em que não se sabe de onde vem a contaminação, pode ser tudo ou nada, é a ignorância e a impotência do ser humano, que nunca se preparou para uma situação destas, pois já se passaram mais de cem anos desde a ultima peste, e os países só pensaram nas defesas da guerra convencional, da guerra biológica, da guerra atómica, de homens contra homens, e não cuidaram de se acautelar contra a mãe natureza, que decide tudo em última instância, não é uma critica a ninguém é apenas a constatação de um facto.

Eu não me dou bem com o isolamento, por isso há 15 dias que ele existe oficialmente, mas não há nenhum dia que não saia de casa, tenho de fazer o abastecimento das necessidades do dia a dia e não quero que falte nada, vivo apenas com a minha mulher nesta chamada quarentena, e ela depende de mim, pois não sai de casa, é oficialmente uma pessoa de risco agravado, não só devido à idade, mas a outros problemas colaterais, por exemplo híper tensão.

Vila do Conde > Café Concerto
Por isso quando saio para as compras diárias, aproveito umas horas, quer de manhã ou de tarde, e ando a fazer quilómetros e a fotografar o «deserto» onde estamos metidos, quero gravar em imagens as lojas e estabelecimentos fechados, as ruas, avenidas e praças desertas, para memória futura. [Fotos nºs 1, 2 e 3]

Dia após dia, mais portas se fecham, até que hoje quase nada está aberto, tirando as farmácias, lojas de pão e supermercados, tudo à fila mas com espaços grandes uns dos outros, dizem, por causa das gotículas que podem andar no ar, que eu não acredito de todo, por isso não ando assim com tanta paranoia, talvez eu ainda não esteja crente do que está a acontecer, mesmo com as centenas de mortes que diariamente são anunciadas pelos órgão de comunicação, mais alarmistas do que realistas, mas têm de vender tempo de antena, em tempos de crise, quando não há mais compradores nem tanto para vender.

Metro de Vila do Conde
Isto tudo vem a propósito que ontem, sexta feira, fiz um esticão maior, fui até à Estação do Metro e vi uma situação nunca vista, sem ninguém, com tantas vagas para estacionar, nas informações avisava que havia em todas as linhas uma composição de meia em meia hora e que não era preciso mais pagar nem validar bilhetes, estava tudo desligado, e as portas abriam-se automaticamente, para ninguém apanhar o vírus por causa disso. E eu que tinha comprado o passe para o mês de Março todo, fiz apenas uma viagem e nunca mais entrei noutro, quer eu bem como a minha mulher, que desde há uns meses tínhamos o passe para as nossas deslocações de lazer ao Porto, já que no carro era impensável, não tenho paciência de filas intermináveis.

Vila do Conde > Espaço da feira semanal, vazio
Antes tinha passado pelo mercado da vila, onde se faz a feira semanal e estava tudo deserto, nem uma pessoa se via, em dias de outrora apinhados de gente. Como vão sobreviver todos os que dependem desta actividade, agora proibida, isto faz-me pensar em cenários brutais, mais para a frente, e não vai levar muito tempo.

Então passei pelo Centro, tem lá um florista, a minha mulher já se tinha queixado que saio todos os dias, duas vezes e nunca me lembro dela, não lhe levo um miminho… Ia comprar uma flor ou um pequeno ramo, mas não o fiz, não queria falar com mais ninguém.

Vila do Conde > A minha rua, Av Baltazar do Couto
Cheguei ao meu empreendimento a caminho de casa, e temos muitas floreiras e jardins com flores selvagens, que afinal são de todos, minhas inclusive. Fui arrancando uma aqui outra acolá, algumas eram difíceis de partir os ramos. Fui à garagem, tenho lá um facalhão, peguei nele e fui arrancar mais algumas, eram pelo menos de 4 ou 5 tipos de flores. Na garagem, inventei um ramo, que nunca tinha feito, mas já vi muitas vezes a fazerem. Juntei aquilo tudo à minha maneira, mas precisava de atar, não tendo nada, foi mesmo com um pedaço de corda grossa.

Cheguei a casa, ofereci-lhe o ramo, acho que ela gostou bastante, colocou num vaso, tirei-lhe uma foto como ela estava vestida e penteada, fiquei com a sensação de dever cumprido. Afinal a necessidade aguça o engenho.

Não sei o que se está a passar, isto é, não compreendo como tudo isto aconteceu, vejo países como a Itália e agora Espanha, com centenas de mortes por dia, e eu não sei como ajudar, pelo contrário, ainda faço pior, segundo as instruções, a sair todos os dias e não por pouco tempo, ando duas a três horas e uns quilómetros a pé, e faço umas dezenas de novas fotos em todas as saídas.

Sei que tomo as precauções que acho suficientes, visto um blusão de inverno, um chapéu de abas largas de Verão, uma máscara de papel, pois não há outras, luvas de algodão e por cima quando tenho de pegar algo, um par de luvas de borracha, e quando chego vai tudo para a máquina de lavar, faço a limpeza de mãos e cara, e uso o novo sabão azul para me lavar, dizem que é desinfectante e por outro lado faz bem ao meu problema da polpa dos dedos, que me dizem tratar-se de psoríase, mas com isto posso eu bem.

Ninguém sabe na realidade o que se passa nos Hospitais, louvo os profissionais da saúde e todos os que ajudam, no esforço impressionante do dia a dia, para manter vivos a maior parte dos internados, sem condições, pois nenhum sistema foi implementado nem pensado antes para ocorrer a situações destas.

Nunca me passou pela cabeça, que nesta idade viesse a viver uma guerra com um inimigo invisível que mata sem olhar a meios. Vivi, conforme outros da mesma geração, hoje com 65 a 80 anos, uma guerra diabólica em África, fomos requisitados à força e mandaram-nos combater um inimigo a sério, cada um durante dois anos, e sem as condições mínimas de subsistência, a maioria chegou viva, mas muitos ficaram pelo caminho, nunca regressaram, ou vieram em caixas de pinho, do outro lado do mar.

Vila do Conde > O meu Posto de Trabalho.
Troquei o escritório, pela Sala
Outros vieram evacuados com os mais variados ferimentos ou doenças, e todos os que sobreviveram sofrem hoje da síndrome de pós stress traumático, mesmo aqueles que se recusam em reconhecer essa mazela. Durante 13 anos o nosso país enfrentou uma guerra em 3 frentes de combate, coisa que nenhum outro país fez antes nem depois. É uma façanha e um orgulho para a capacidade dos Portugueses se adaptarem a formas de vida que nunca pensaram, foram e não tinha escolhas, a não ser aqueles, que escoltados em fantasias politicas, fugiram do país, e só regressaram quando tudo tinha acabado, estes não são os heróis, mas os cobardes e traidores, eles andam por aí, como se nada fosse e arranjaram poleiros nos organigramas dos diversos governos deste Estado Português.

Agora este Estado, como forma de combater a Pandemia, pede apenas aos jovens que fiquem em casa sentados nos sofás, quando os seus avôs, 60 anos antes, foram obrigados a ir para uma guerra que não era deles.

Mas o que mais me incomoda é mesmo a mudança de hábitos, um deles, deixar os sapatos fora de casa,  os suecos com quem convivi nos finais do ano de 1969, já faziam isso, e eu achava uma mania, nunca aprendi, até hoje. (**)
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Notas do editor:

terça-feira, 31 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20795: O que é feito de ti, camarada? (11): António Graça de Abreu, no seu segundo cruzeiro de volta ao mundo... Fez ontem anos, e manda notícias, a partir do MSC - Magnifica, a navegar no Oceano Índico


MSC -Magnifica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Oceano  Índico > 30 de março de 2020 > "O jantar dos meus 73 anos (...), com dois casais portugueses [, incluindo o Constantino Ferreira e a esposa Elisa, aqui em primeiro plano], no MSC Magnifica, no Oceano Indico, a norte da Austrália. A caminho de Colombo e do Mediterrâneo onde devemos chegar dentro de três semanas. Sem coronavírus. Espero."

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada e amigo  António Graça de Abreu [ ex-alf mil SGE, CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74),  membro sénior da Tabanca Grande, com 250 referências no nosso blogue], começou a "dar sinais de vida" em 22 do corrente... Até então sabíamos apenas que ele andava "embarcado"... Agora sabemos que também está "aquarentenado", não podendo ele e os demais passageiros e tripulantes sair a terra, nos portos onde o MSC - Magnifica tem que aportar para se reabastecer...  Em 28 do corrente, mandou-nos esta nota do seu "diário de bordo".


Em navegação, Oceano Atlântico, 
18 de Janeiro de 2020

por António Graça de Abreu

Este grande hotel flutuante, de quatro estrelas e meio, que dá pelo nome de Magnifica, pertence à MSC, uma das maiores companhias de navegação do mundo e foi construído em 2010 nos estaleiros STX Europe, em Saint Nazaire, colada a Nantes, na França atlântica. 

A madrinha de baptismo deste navio de 95 mil toneladas foi a sempre jovem Sophia Loren. Sob a proteção das estrelas de cinema, vou então fazer um pouco de propaganda ao navio, que me perdoe o leitor que conhece as coisas dos cruzeiros de cor e salteado.(#)

O Magnifica navega, no máximo, a 23 nós por hora, ou seja, a uns 43 quilómetros. Com mar calmo, a velocidade de cruzeiro -  e estamos num navio de cruzeiros - , é mais baixa, uns 35 quilómetros por hora, o que significa que em 24 horas percorremos cerca de 800 quilómetros. 

O paquete - era assim que se chamavam antigamente estes navios - , conta com 1.259 camarotes, distribuídos por dezasseis pisos, e pode transportar 3.220 passageiros. Não vem propriamente lotado porque há resmas de gente, bem abonada em euros,  que, sem se preocupar com gasto, viaja sozinha, ocupando um só camarote. Não querem zangas, nem mau ambiente permanente com o companheiro ou companheira com quem teriam de compartilhar a cama ou o espaço reduzido da cabina. 

Os tripulantes são, no máximo, 945 distribuídos por 52 nacionalidades, A maioria são indonésios, filipinos, indianos, empregados vindos do Brasil ou dos países do leste da Europa, muitos deles com as tarefas mais humildes, não menos dignas mas creio que mais mal pagas, como as limpezas, a manutenção, a restauração. 

Como a companhia MSC é italiana, são dessa origem o comandante e a maioria dos oficiais. Todo este pessoal, muito profissional, procura manter o Magnifica a navegar com perfeição, assegurando os bons serviços de um navio em jornada de quatro meses pelos cinco cantos e mil recantos do mundo. 

Os dois mil e duzentos passageiros desta viagem também correspondem às mais variegadas e díspares nacionalidades, são gente a puxar para o idoso que só agora, após convulsionadas e trabalhosas vidas, tem tempo disponível, problemas familiares resolvidos e uns bons milhares de euros, ou dólares, na conta bancária para viajar durante a terça parte de um ano por terras e mares distantes. 

Há sobretudo franceses a quem sorriu a desejada retraite, alemães sempre metódicos e organizados, italianos e espanhóis, mais alegres e expansivos, aparentemente abertos a todos os prazeres do cruzeiro, mais uns vinte portugueses, às vezes pendurados num fado lacrimejante e triste, com malhão e corridinho à mistura. 

Há ainda suecos, noruegueses, finlandeses, checos, croatas, suíços, austríacos, norte-americanos, chineses, japoneses, etc. Entre os passageiros, não identifiquei pessoas negras, de países africanos, nem me apercebi da presença de muçulmanos. Há bastantes, sim, mas entre os simpáticos tripulantes. Os eventuais passageiros de África não terão poder económico para pagar estas viagens, os seguidores do Islão talvez considerem que este tipo de vida num navio repleto de infiéis, não estará de acordo com os princípios da sua religião, Entre outras preversões, bebe-se muito álcool, comem-se toneladas e toneladas de carne de porco, dança-se e ouve-se muita música decadente. 

Também os mais fundamentalistas defensores do meio ambiente recusariam este cruzeiro. Greta Thunberg, a menina sueca, convidada a fazer-nos companhia durante apenas um dia de viagem, após uma discussão com o comandante do navio, teria talvez vontade de o lançar ao mar. É verdade que o Magnifica, tal como todos os grandes navios de cruzeiro que sulcam os mares, consome uma barbaridade de gasóleo, algumas toneladas por hora, o que polui os oceanos. Para atenuar a malfeitoria, através de uma fundação própria, a MSC criou, com uma pequena percentagem dos seus lucros, um fundação que se destina a gerir a conservação dos oceanos e dos fundos marinhos.

A viagem de Volta ao Mundo é  dispendiosa e cara, no entanto, se considerarmos que são quatro meses cheios de pequenos luxos e mordomias, não haverá motivos para lamentar o dinheiro gasto. São 19 mil euros, num camarote duplo, com varanda, ou, como é o meu caso, são 14 mil euros, por um camarote duplo, com uma janela redonda, com vista de mar. 

Temos quinze excursões para os mais diversos lugares incluídas no preço do cruzeiro, mas há que contar, pelo menos, com outras tantas, ou mais, excursões cujos preços oscilam entre os 60 e os 150 euros, cada uma.

Todas as noites acontecem espectáculos na grande sala do teatro, com mil lugares. Às vezes são shows a moda do Cirque du soleil. com trapezistas. malabaristas, contorcionistas ou então noites mais completas com os bailarinos e bailarinas residentes a imitar o que de melhor se faz na Broadway, naturalmente não tão espectacular. Há cantores de ocasião ou grupos folclóricos contratados nos lugares de paragem do navio. 

O Magnifica trouxe também desde Itália um conjunto de cantores e músicos clássicos, São o Maschera in Musica capazes de encher de suprema qualidade qualquer palco do mundo. O primeiro concerto, com excertos de óperas de Verdi e de Puccinni e o segundo, com uma recolha de canções populares napolitanas, deixaram-me estupefacto de prazer. Ai vão os nomes de alguns dos cantores e músicos: Ivanna Speranza, uma fabulosa soprano nascida na Argentina que foi aluna de Luciano Pavarotti e cantou em tournées com o José Carreiras, o maestro e violinista Michel Manfrin e um virtuoso, um paganinizinho do violino, o baritono Oscar Garrido Bassoco, de voz potente e clara, acariciando as palavras e a rima, faz levitar a melodia e embevece a plateia, Davide Daniels, o pianista, vai buscar ao branco e negro dos teclados harmonias que afagam sensibilidades adormecidas.

Come-se e bebe-se muito bem no navio. Há quatro restaurantes e um buffet no 13.º andar que funciona quase 24 horas por dia. Há jantares temáticos dedicados a comidas dos países ou regiões que vamos atravessando e o vinho branco, tinto ou rosé é servido à descrição nos almoços e jantares. Provém de boas garrafeiras italianas, francesas e argentinas. Lá mais para a frente haverá vinho chileno, neozelandês e australiano. 

Existe um grande número de actividades para entreter o turista. Temos aulas de taijiquan e pilates, de danças de salão, do tango ao foxtrot, da salsa à valsa, quem quiser aprender italiano ou inglês, ou simplesmente recostar-se ao sol dos trópicos, conta com as muitas espreguiçadeiras espalhadas pelo navio. Existem duas piscinas, uma interior outra exterior e seis jacuzzis com água sempre a 37 graus. Temos na proa do navio, um bonito ginásio, muito bem equipado.

Os principais bares tem, ao lado, uma pista de dança onde uns tantos artistas dos acordes entram pela noite dando música a quem estiver interessado. Quase tudo isto acontece em outros navios de cruzeiros, variando no entanto, de acordo com a qualidade do barco e da companhia.
Temos conferencistas em varias línguas que, quase dia sim dia não, nos fazem palestras, com um power point auxiliar, sobre os lugares que vamos conhecer. 

No que nos diz respeito, quando a língua espanhola funciona como charneira com o português, vem um italiano ainda jovem chamado Massimo Cannoleta, com excelente domínio do idioma castelhano, que nos leva com facilidade, entusiasmo e clareza até Cabo Verde ou ao Brasil.

O Magnifica conta ainda com um casino com roleta, black jacket e slot-machines e com lojas onde se vendem desde o trivial necessário para o dia a dia, como pastas de dentes, sabonetes, pentes ou shampôs a relógios caros e baratos, a joias, a whiskies velhos, a charutos do melhor que se fabrica em Cuba ou na República Dominicana. 

Existe uma sala fechada, ventilada, especialmente destinada aos empedrenidos fumadores, grupo a que felizmente já não pertenço há mais de trinta anos. Existe ainda uma biblioteca, uma sala onde se pode jogar cartas ou xadrez, um spa, com tratamentos de pele, cabeleireiro e massagens que costuma ter bastantes clientes com tanta velharia no navio, presa por parafusos e cordéis enchendo os camarotes do Magnifica.
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# O meu primeiro cruzeiro de volta ao mundo aconteceu de 1 de Setembro de 2016 a 18 de Dezembro de 2016,  no navio Costa Luminosa ligeiramente maior do que este Magnifica.
Ver o meu livro Noticias (Extravagantes) de uma Volta ao Mundo, Lisboa, Nova Vega, 2018, doravante citado como Noticias (Extravagantes).

[Revisão e fixação de texto para efeitos de publicação neste blogue: LG]
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sexta-feira, 20 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20753: Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia do COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (1): Sul da Austrália: Sidney e Melbourne





MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Sidney > 16 de março de 2020 > Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Fotos reeditadas pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.





MSC - Magnífica > Cruzeiro de Volta ao Mundo > Austrália > Melbiourne > 19 de março de 2020 > Cortesia da página do faceboook de Constantino Ferreira. Fotos reeditadas pelo Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

[, Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71); trabalhou 30 anos na TAP, como tripulante de cabine; é nosso grã-tabanqueiro desde 16 de fevereiro de 2016.]



1. Os nossos camaradas Constantino Ferreira e António Graça de Abreu  estão a fazer, desde o início do ano de 2020, um cruzeiro de volta ao mundo, a bordo do MSC - Magnifica (*).

A primeira parte correu,como programado. Com o novo coronavírus COVID-19 a alastrar por todo o o mundo, as autoridades da Nova Zelândia e da Austrália, na Oceania, interditaram os seus portos aos navios de cruzeiro. O MSC -. Magnífica tenta agora chegar à Europa, via canal do Suez, quando ainda faltava mês e meio para completar a viagem de volta do mundo. O navio partiu com um total  3 mil passageiros  (e mil tripulantes):  já regressaram a casa, por via aérea, três centenas de passageiros.

Com o acordo (tácito) do nosso camarada Constantino Ferreira, que continua a bordo com a sua esposa, Elsa, vamos a partir de hoje acompanhar o seu regresso a casa, a partir de excertos e fotos que ele vai publicando diariamente na sua página do Facebook. 

Esperamos que os amigos e camaradas da Guiné, nomeadamente os que vivem em Portugal, também eles em "quarentena", na sequência da declaração do "estado de emergência", em vigor de 19 de março a 2 de abril de 2020, lhes mandem, a ele, à Elsa  e ao António Graça de Abreu, uma saudação amiga e solidária. Felizmente que não há até hoje nenhum caso de infeção pelo COVID-19, a bordo.


2. Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia do COVID 19, tentando regressar a casa (Constantino Ferreira) (1): Sul da Austrália: Sidney e Melbourne 

[Os locais e datas são os que constam da página do Facebook do Constantino Ferreira... Com a devida vénia, reproduzimos alguns excertos e fotos, reeditadas]


Sidney, quinta-feira, 19 de março de 2020, 7h12

Dois dias na Baía de Sidney!

Depois de entrarmos na barra, cada minuto conta, para aumentar a beleza da cidade, que se aproxima cada vez mais aos nossos olhos!

 (...) O primeiro dia, ficamos fundeados no meio desta enorme e bela baía, frente a uma das mais bonitas cidades do mundo. No segundo, atracamos no Cais dos Cruzeiros, mas só autorizados até ao fim da tarde.

Foi a saída que mais me fascinou!... A Ópera Hause mesmo ali a uns metros do convés. A ponte ali mesmo ao lado, era um fascínio para tirar fotografias sem parar! Tirei dúzias de fotografias a esta cidade, mesmo sem poder sair a terra.

Mas estes dois icones de Sidney, a Ópera e a ponte, não me cansaram o olhar e, o meu “Ifone” não se cansou de registar esse meu olhar, como que lamentando também, não ter saído a terra, para fotografar esta cidade, de dentro para fora.

Fiquei em escrever o que me faltava dizer, sobre a saída de Sidney. Pois a saída desta cidade, foi como que “forçada”! Saíram apenas cerca de 100 pessoas, do navio para o aeroporto, já com bilhetes de saída de voo marcados.

Quando saímos a barra de Sidney, era apenas para dar lugar a outros navios na baía, nós íamos para o alto mar, para que a companhia;MSC-Cruzeiros, com o nosso comandante, pudesse decidir o destino a dar-nos !

Pois durante a noite, sempre a navegar com rumo a Sul, tivemos apenas conhecimento pelo Diário de Bordo, colocado no camarote, que o nosso próximo destino seria; Melbourne!

Dois dias de navegação, rumo a Sul, entrámos hoje de madrugada, nesta Baía, onde tivemos lugar para atracar, mesmo aqui ao lado de um dos mais modernos navios de cruzeiros, o “Princess of the Seas”! Que não deixarei de publicar na crónica de amanhã, procurando descrever a nossa tristeza e, alegria também, por andarmos “quase” que como à deriva, por estes mares da Tasmânia e Sul da Austrália. (...)

 Melbourne, sexta-feira, 20 de março de 2020, 1h26


Melbourne foi uma escala imprevista, nestas andanças para conseguirmos chegar ao Mediterrâneo! Não sabemos quanto tempo iremos levar para lá chegar, mas a prevenção sanitária a bordo é absolutamente cumprida. Se lá chegarmos sem nenhum caso de Coronavírus, ganharemos esta “batalha” contra este vírus “amarelo”!

Aqui estamos nesta baía de Melbourne para reabastecimento, com o objetivo de se conseguir ir avançando umas boas milhas, de porto em porto, para reabastecimento, mas sem autorização para desembarque dos passageiros, enquanto esta situação se mantiver, de propagação do Coronavirus !

Aqui a bordo, não temos nenhum caso de Coronovirus! No entanto, nenhum porto nos permitiu o desembarque. Desde Hobart na Tasmânia que não nos é permitido sair a terra.

Depois de Hobart já estivemos em Sidney e agora aqui em Melbourne também não nos é permitido sair a terra. Foi uma determinação do governo da Austrália, como medida de prevenção e contenção da propagação desse vírus, que apareceu na China e, agora já se propagou pelos quatro cantos do mundo !

 (...) Ao entrarmos na baía de Melbourne, até esquecemos que estamos prisioneiros desta “nave” magnífica, que depois de fazer “meia” Volta ao Mundo espectacular, agora se encontra nesta situação, neste outro lado do mundo, a navegar de porto em porto, para se abastecer e, seguir para um outro porto até chegarmos ao Dubai ou, ao Mediterrâneo se for possível, os necessários e indispensáveis reabastecimentos, de combustível e alimentos, para cerca 2.700 pessoas a bordo, pois já saíram pelos aeroportos de Hobart, Sidney e hoje; Melbourne, cerca de trezentos passageiros.

Passámos este dia de 19 de Março, (dia do Pai !), aqui em Melbourne no Cais dos cruzeiros, todos a bordo, apenas saíram cerca de 200 pessoas diretamente para o aeroporto, com bilhetes com reservas para vários destinos na Europa, USA, Canadá e Brasil !

Depois do reabastecimento, pelas 18 horas, ouviram-se os tradicionais três apitos, mais parecidos com roncos profundos, saídos do alto do nave.

Mas a habitual música de saída, de André Bocelli, não foi lançada para nossa alegria. Tivemos sim muitos lenços brancos, dos passageiro do Golden Princess, que estava do outro lado do Cais, um dos mais modernos navios de cruzeiro do mundo. Mas, infelizmente, com a bandeira vermelha içada, aqui retido em Melbourne, em quarentena e higienização.

Largamos do cais, sem música e sem a alegria habitual, mas o fascínio das largadas e saídas manteve-se, com a habitual tomada de milhares de fotos, que no meu caso, já aqui estou a publicar, para vosso “regalo” de olhar esta linda baía e imponente cidade, com seus prédios modernos altíssimos, que lhe dão um perfil inconfundível, a esta que é a maior e mais bonita cidade, mais a Sul do Hemisfério Sul.

Navegamos agora rumo West, com destino a Fremantle-Perth, onde esperamos chegar dentro de cinco dias, a 24 deste mês Março, que está a marcar e a modificar todas as nossas expectativas, para esta volta ao mundo, tão bem programada e, agora alterada, por esta luta contra o Coronavirus, que está a levar o mundo inteiro, para uma luta “desigual”, mas da qual irá sair “vencedor”, mas com muitos mortos e, traumas também para muitos, dos milhões que iremos sobreviver.

A vida vai continuar, mas esta provação vai ser dramática. Nós, aqui a bordo ainda com cerca de 2.700 pessoas, sem nenhum caso de Coronovirus, temos que chegar ao Mediterrâneo, para isso termos que ter alguns reabastecimentos, pelo que esperamos que nem todos os portos nos fechem as “portas”!

Habitualmente, nesta “meia” volta ao mundo, tenho escrito apenas dos portos visitados, mas a partir de agora não sei como vai ser.

Mas quando chegar a Fremantle-Perth, já talvez tenha a rota decidida, pela Companhia MSC-Cruzeiros e, pelo nosso Comandante Roberto Leotta. Esperamos que o destino seja o Mediterrâneo e não o Dubai ou qualquer outro porto dos Emirados, ou por aquela região.

Vamos manter a esperança, que iremos chegar sãos e salvos !


[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição no blogue: LG]

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Nota do editor:

(*) Vd. postes de 


16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.

16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

segunda-feira, 16 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20739: O que é feito de ti, camarada ? (10): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira d' Alva, a bordo do MSC Magnifica... Estão impedidos de desembarcar, em Hobart, capital da Tasmânia, e nos restantes portos da Austrália, devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... Estão a um mês e meio de regressar a casa.



MSC Magnifica > 16 de março de 2020 > Austrália > Hobart, capital da Tasmânia

Cortesia de Constantino Ferreira (2020)


1. Último poste  do Constantino Ferreira d'Alva, publicado na sua página do Facebook, há quatro horas. O Constantino, tal como o António Graça de Abreu (*),  segue num cruzeiro de volta ao mundo,  a bordo do MSC Magnifica (, MSC é a sigla da multinacional Mediterranean Shipping Company, com sede na Suiça)...

A frota da MSC Cruzeiros está praticamente parada devido à pandemia do Coronavírus COVID 19... O MSC Magnifica deve ser  o único navio que ainda está a operar, segundo nos informa o Constantino, devendo chegar à Europa daqui a mês e meio...

Esta volta ao mundo, que era pressuposto ser uma viagem de sonho, pra muitos dos seus passageiros,  está a tornar-se um pesadelo, devido á pandemia do Coronavírus COVID 19, ... Deve levar a bordo muitos mais portugueses, além dos nossos camaradas Constantino Ferreira d'Alva e António Graça de Abreu, e suas esposas.

A todos desejamos o melhor regresso possível a casa, com saúde e em segurança.

Facebook > Constantino Ferreira > segunda-feira, 16 de março de 2020, 1:52:

Isto foi o Diabo 👿!

Pois foi! ..... Mas não o Diabo da Tasmânia, que nós muito carinhosamente pretendíamos ir conseguir ver, na nossa visita de hoje !

Não! ..... Aqui o Diabo 👿 foi outro ! Foi o “coronavirus” que já apareceu em cinco casos na Tasmânia, que nos impediu a visita programada.


A notícia, foi-nos dada pelo Comandante no Royal Theatre esta manhã, acompanhado pelo segundo comandante, pelo médico-chefe de bordo e o director de comunicação a bordo. (Conforme fotografias que publico!)

As autoridades de fronteiras da Austrália, fecharam todos os portos, por razões de segurança pública! Foi assim, que recebemos a notícia.

No entanto, teríamos que descer a terra para a formalidade de controlo de vistos e passaportes! Uma vez que iríamos passar por mais três portos na Austrália; Sydney, Cairns e Darwin! Podendo a situação modificar-se, para melhor ou ... para pior !

Pois foi para pior, porque também já têm mais casos dentro da Austrália.

Estivemos atracados no cais, durante todo o dia, a cidade e as montanhas lá estavam à nossa frente, fomos tirando umas fotografias, ouvindo as notícias da Europa, tomando consciência da gravidade a nível Mundial, lamentando esta situação, mas sempre com alguma esperança de melhores dias !

A vida a bordo continua, não temos nenhum caso de “coronavirus”, lagarto,... lagarto,.... lagaaarto! Mantemos todas as regras e disciplina de segurança, para que isso não aconteça !

A boa disposição também se mantém, até com algum humor, (é o meu caso!). Mas a “Volta ao Mundo”...... já não vai ser como até aqui !

Tem sido verdadeiramente uma maravilha, em todos os aspectos ! Pelo menos, esta “meia-volta”, foi um espetáculo!
Agora, temos que concluir o que falta, com a máxima segurança, procurando mesmo assim, usufrui o melhor possível!

De toda a frota da MSC-Cruzeiros, este “nosso” navio, MSC-Magnífica, é o único a navegar, toda a frota parou ! Na Europa, América, Caraíbas, China, Japão, ..... tudo parou e “encostou”!

Mas a decisão da companhia, de não nos desembarcar, foi bem acolhida, pelos cerca de três mil passageiros e tripulantes!

Assim, a decisão da MSC e do nosso comandante, é seguirmos nesta “nave”, até á Europa, onde esperamos chegar dentro de um mês e meio, com paragens para reabastecimento de combustível e alimentos.

Se a situação, entretanto melhorar, até podemos manter a esperança de ir ver o Dragão de Cômoro, como estava planeado, mas as belezas de Bali, ainda na Indonésia, ficam para outra oportunidade, assim como todos os outros portos planeados, “nesta” nossa Volta ao Mundo”!

A ver vamos! Como vai ser este mês e meio, aqui a bordo !

Na “nossa” Carreira da Índia, nos Séculos XVI, XVII  e .... XVIII, .... não tinham este conforto a bordo e, ... faziam muito mais tempo em mar alto !

Se pensarmos “assim”, isto vai ser uma festa a bordo ! A “fé”... é que nos salva! ..... Não è o pau da barca !

Até sempre!

(Com a devida vénia ao nosso camarada Constantino Ferreira, tripulante da TAP,  reformado)
____________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 16 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (8): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!

Guiné 61/74 - P20738: O que é feito de ti, camarada ? (9): António Graça de Abreu e Constantino Ferreira D'Alva, andam a fazer a volta ao mundo num cruzeiro, no MSC Magnifica... E ainda falta metade do percurso, com o cenário da pandemia do coronavírus COVID 19 na linha do horizonte mais próximo... Boa continuação da viagem e melhor regresso a casa!



Oeiras >Algés > Restaurante Caravela de Ouro > Tabanca da Linha > 42º Convívio > 21 de março de 2019 > À mesa, o Constantino Ferreira d'Alva e o António Graça de Abreu. Na altura soubemos que iam os dois fazer um cruzeiro de volta ao mundo, no princípio do novo ano de 2020, com regresso em finais de abril (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. O António Graça de Abreu, ex-alf mil,  CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), nosso camarada e amigo, membro da nossa Tabanca Grande de longa data, com mais de 240 referências no blogue,  cofundador, em 14/10/2010, da Magnífica Tabanca da Linha, já não nos dá notícias desde o fim do ano passado... 

O último poste que li dele, da sua autoria, na página do Facebook, é de 31 de dezembro passado. É um excerto do seu "diário secreto de Pequim" dos anos 80... Sabemos, pelo Constantino, que ele vai a bordo do MSC Magnifica, mas que não escreve para o Facebook, até porque a ligação à Net, a bordo, é lenta e cara.

Pequim, 1 de Setembro de 1981

Um dos meus grandes prazeres, nestes últimos tempos, é atravessar meia Pequim ou perder-me deliberadamente pelos milhentos atalhos e recantos dos arredores da cidade, aos comandos da minha mota, a pequena Peugeot 102 que fura com facilidade por dentro destes imensos pelotões de ciclistas que pedalam, pedalam e eu acelero, acelero levado pelo motorzinho do meu extraordinário velocípede.


No fim do ano passado, trouxe de Macau algo que, tal como a moto, é diferente de quase tudo o que os chineses possuem, um Walkman, marca Toshiba, azul, maneirinho que prendo no cinto das calças, meto a cassete, coloco os auscultadores, ligo e aí vou eu, singrando na minha Peugeot 102, por tudo quanto é avenida, rua ou caminho de terra batida, ultrapassando todos os ciclistas (as motas são raríssimas, estão ainda quase proibidas para os chineses), circundando carroças, autocarros, furando entre as gentes. 

Tenho estereofonia, som total a cantar-me aos ouvidos e toda a imensa cidade de Pequim a perpassar diante dos meus olhos. Tenho os cinco concertos para piano, de Beethoven, e que prazer a grande música na minha cabeça, ressoando em mim, atravessando Pequim. 

Tenho a batida fantástica do álbum The Wall, dos Pink Floyd, com palavras sábias do Roger Waters e do David Gilmour que bem podem ser adaptadas às realidades chinesas que me enchem os olhos e que a minha costela, meia anarca, hoje já acaricia:

We don't need no education
We don't need no thought control
No dark sarcasm in the classroom
Teacher leave the kids alone,
Hey, teacher! Leave the kids alone!
All in all it's just another brick in the wall
All in all you're just another brick in the wall.



Nova Zelândia, Napier, 14 de março de 2020 > O Constantino Ferreira d'Alva, desembarcando do MCS Magnifica. 

Fonte: página do Facebook do nosso camarada.



2. O Constantino Ferreira d'Alva foi fur mil art da CART 2521 (Aldeia Formosa, Nhala e Mampatá, 1969/71), é um camarada do meu tempo (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12): viajámos juntos, no T/T Niassa, em 24 de maio de 1969.... e penso que regressámos juntos, no T/T Uíge, em 17/3/1971. A CART 2521, mobilizada pelo GACA 2, esteve em Aldeia Formosa.

À  conversa com ele,  à mesa,  no 42º convívio da Magnífica Tabanca da Linha, em 21 de março de 2019 (*), disse-me que era natural de Arganil, e trabalhara na TAP como tripulante de cabine, estando reformado há uns largos anos... Naturalmente que conhecia (e era amigo de) o José Brás e de outros amigos meus da TAP, como é o caso do Jorge Mateus... Confidenciou-me, na altura, que tinha intenção de fazer uma "cruzeiro de volta ao mundo", no princípio do ano de 2020, juntamente com o António Graça de Abreu, que acabara de conhecer num outro cruzeiro.

Eu não tinha a certeza se esses planos se tinha concretizado, e se tinham chegado a  partir juntos, no mesmo navio, até em dezembro passado começaram a surgir notícias de mai agoiro, provenientes da China... Nas a MSC manteve os seus cruzeiros para aquelas bandas...

Pela consulta que fiz à sua página do Facebook, verifiquei que  o Constantino deve estar hoje no hemisfério sul, na Oceania, já na Austrália, a bordo do MSC Magnífica, depois de terem parado na Nova Zelânida. E, com ele, ficamos a saber que está... o António Graça de Abreu.

Escreveu o Constantino anteontem, às 5h45:

(...) Cá estamos a entrar na Baía de Napier! Hoje a entrada faz-se já com o luz do Sol a iluminar esta Baía, larga e profunda, com a cidade lá ao fundo, já bem visível com a luz do Sol.

Logo que atracamos ao cais dos cruzeiros, o grupo que vai na excursão de visita com recepção pela chefe indígena, de uma aldeia do povo Maori, está pronto para seguir no autocarro. (...)


(...) Assistimos a todo o cerimonial de aproximação de um povo estranho. A recepção dos indígenas era feita com aproximações e afastamentos, até que se realizava o contacto, mas com os Maoris sempre à defesa e desconfiados !

De seguida, as demonstrações guerreiras, os seus cantares e danças rituais. A demonstração num lago ou ribeira, da pesca ás enguias, como sobrevivência deste povo na sua alimentação, foi tema de uma palestra à beira do lago. A visita termina com a venda de alguns produtos de seu artesanato. (...)


(...) Ficamos com uma ideia bem formada, da vida e cultura deste povo guerreiro, que quase foi apagada pelas políticas britânicas, nos últimos duzentos anos ! Agora em tentativa de recuperação, por pessoas como a nossa guia, mas também com o apoia do Parlamento da Nova Zelândia.

Regressamos a Napier, novamente por montanhas e vales, em que pastam milhares de ovelhas e carneiros, mas nos vales e terras chãs, lá estão as plantações de kiwis e maçãs, a perder de vista.(...) Foi um dia de vistas largas, de cultura e de reflexão sobre a destruição da cultura Maori , pela Europa colonizadora do Mundo, nos séculos de descobrimentos e encobrimentos !

Embarcamos no MSC-Magnífica, e assistimos á saída lenta do navio, ao som da magnífica voz de Andrea Bocelli.(...), 
O nosso próximo encontro, será na Baía de Wellington. Já amanhã de manhã ! (...)

Por uma rápida visita ao último poste,  de ontem, às 15h. Confirmo, pela leitura, que o MCS Magnífica está a dar a volta ao mundo... e ainda falta metade do percurso (com mês e meio para voltar à Europa) , mas já com o fantasma da pandemia do coronavírus  COVID 19 na "agenda de bordo"... O Constantino, bem humiorado, bem disposto,  tem escrito uma espécie de "diário de bordo" que partilha com os seus amigos do Facebook

(...) Largámos de Wellington  [, capital da Nova Zelândia,] ao fim do dia, navegamos pelo Canal Cook rumo West, durante toda noite. Mas pela madrugada já levamos o rumo Sul, tendo a ilha a bombordo, lado esquerdo.

Pelas 3 horas da tarde, damos entrada no Fiorde Milford Sound. Um outro navio de cruzeiro, navega lentamente à nossa frente. Mas outros pequenos barcos e lanchas, passam por nós nos dois sentidos. São turistas amantes da natureza, que viajam em pequenos aviões, que aterram numa pista lá ao fundo, onde o Fiorde acaba e tem uma pequena planície antes das montanhas.

As margens apresentam algumas cascatas e, lá nos cumes das montanhas algumas têm neve outras não. Os pequenos aviões passam por cima de nós, o som com a ressonância das montanhas, multiplica-se com os ecos repetidos e multiplica-se, criando um ambiente de guerra “pacífica” !

Lá está o pequeno aeroporto, com alguns aviões estacionados, anunciando o fim do Fiorde. Inverter o rumo para a saída é uma manobra delicada, pois o navio tem mais de 300 metros e este fiorde tem pouco mais de 700 metros de largura neste local da manobra! Esta pequena localidade de apoio ao aeroporto, está absolutamente isolada por ausência de estradas, só se tem acesso a esta localidade de barco ou de avião pequeno.

Navegamos agora rumo West e, ao sairmos do fiorde, tomamos o rumo Noroeste, navegando no mar da Tasmânia, rum
o a Hobart [, a capital e a maior cidade do estado australiano da Tasmânia], a nossa próxima escala, onde chegaremos com dois dias de navegação. 

Quando lá chegarmos, é que veremos o Diabo da Tasmânia, ou será que o Coronavírus é que vai ser o nosso Diabo?!

Teremos que enfrentar os dois “bichos”, com muita calma, disciplina, saber e segurança sanitária. Consta que o coronavírus já se manifestou em cinco pessoas na cidade de Hobart. A confirmar-se estes casos, não sabemos se seremos autorizados a desembarcar!

Daqui a dois dias, saberemos a confirmação ou não, destes cinco casos de coronavirus, que aguardamos com alguma ansiedade, mas com calma e esperança, nestes próximos dias e, da Volta ao Mundo,  apenas temos metade realizada.

Aqui a bordo, não temos, felizmente, nenhum caso de coronovirus. Quando chegarmos á Tasmânia, a ver vamos que “Diabo” iremos ver. Esperamos que seja o Diabo  da Tasmânia! (...)


Há dias, a 10 de março, o Constantino tinha respondido ao Manuel Resende, régulo da Tabanca da Linha, nestes termos, tranquilizando-o sobre a saúde do pessoal a bordo e dando notícias do António Graça de Abreu:

(...) Depois, vamos ver o Diabo na Tasmânia e os cangurus na Austrália! Mesmo agora estive com o António Graça de Abreu, que está muito bem, a escrever um novo livro !... Aqui a bordo não tivemos nada de Coronavírus! (...)

Desejamos, a estes nossos amigos e camaradas  boa continuação da viagem de volta oa mundo e bom regresso a casa!... Ficamos mais tranquilos por saber notícias deles!...

Mas quando chegarem, à Europa [, a Génova ? a Marselha ?],  deve estar a pandemia, aqui em Portugal,  no seu pico e a nossa vida feita... num pandemónio... (Esperemos que não, e que saibamos todos dizer, em voz alta, com determinação e coragem: O COVID 19 não passará!... Mesmo à custa de sangue, suor e lágrimas.)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19612: Tabanca da Linha (1): 42º convívio, Algés, 21 de março de 2019: Caras novas: o Constantino Ferreira d'Alva, nosso grã-tabanqueiro nº 711, desde 16 de fevereiro de 2016Último poste da série > 

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20416: O que é feito de ti, camarada (8): Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74, membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde... Está a escrever dois livros, um sobre a história da morna; outro sobre as suas memórias dos anos de 1973/75... E precisa de duas fotos: uma do QG em Santa Luzia, e outra da messe de sargentos no QG...

1. Mensagem do nosso editor Luís Graça , dirigida ao Carlos Filipe Gonçalves, ex-fur mil amanuense, QG/CTIG, Bissau, 1973/74 ), foto à esquerda), membro da Tabanca Grande, com o nº 790; jornalista aposentado, vive na Praia, ilha de Santiago, Cabo Verde (*)

Data - quinta, 14/11/2019, 15:01

Assunto - A morna imortal "Maria Barba"



Carlos: Como vais ? Não tens dado notícias... Mas imagino que, como bom cabo-verdiano, deves estar muito feliz com a perspetiva de, em dezembro próximo, termos a tua/nossa morna como "patrimonio imaterial da Humanidade"...

Eu estou feliz, sou fã da vossa música, e não só da morna, desde há muito tempo. E tenho dedicado aqui, no blogue, alguns postes à Maria Barba, nome mítico da morna da Boavista... Talvez possas e queiras fazer aqui uma mãozinha...

Não sei se chegaste a conhecer a Nha Maria Barba, em Bissau, na rua eng Sá Carneiro (hoje, rua Eduardo Mondlane).  Era morava em frente à messe sargentos da FAP, e era vizinha da família do Nelson Herbert Lopes. O Nelson diz que cresceu com os netos.

O pai do Nelson e o meu, Luís Henriques, ambos futebolistas, ainda estiveram no Mindelo, em 1943, no mesmo regimento, o RI 23. O meu regressou em setembro, esteve 30 meses em São Vicente. E cantarolava-me esse morna, a "Maria Barba", razão por que me é tão querida, a letra e a música... Só agora vim a saber quem era esta mulher da Boavista...

Dá notícias. Um alfabravo, Luís


2. Resposta do Carlos Filipe Gonçalves, com data de 14/11/2019, 18:24


Olá, caro amigo:

Acabo de receber com muito prazer esta tua mensagem e sobretudo estas informações sobre a Maria Barba. Vem tudo a calhar, pois, estou em vias de edição de um livro sobre a Morna que justamente traz informações sobre as «cantadeiras» de que Maria Barba é uma das últimas representantes. O livro – que sairá por ocasião da proclamação da Morna Património Mundial em Dezembro próximo – traz uma biografia e a história dessa cantadeira e a história da Morna que leva o seu nome… e claro muito mais informações sobre a Morna. 

Agora, informação precisa sobre ela e local onde morava na Guiné, tenho é de agradecer: MUITO OBRIGADO. O livro chama-se «Capítulos da Morna» do qual constam excertos de outro livro meu – "Kab Verd Band AZ Dicionário da Música de Cabo Verde", com edição prevista para 2020. 

Quando o livro sobre a Morna sair, envio-te por email as história da Maria Barba e da Morna que dele constam… Portanto lembra-me disso com um email… OK?!

Bem, outra notícia é que já finalizei a parte sobre a Guiné, daquele meu livro de memórias (1973-1975). Estou a agora a escrever a parte sobre Cabo Verde para onde vim em Agosto de 1975… Olha, para ilustrar o livro, preciso de uma foto do QG em Santa Luzia e,  se possível, também uma foto da messe de sargentos em Santa Luzia… A verdade é que eu tirei algumas fotos logo depois da minha chegada a Bissau em 1973 – como aquelas que publiquei no blogue  – mas depressa deixei de utilizar a minha máquina fotográfica… Se os camaradas do Blogue puderem ajudar ficaria muito grato… Já fiz pesquisas tanto no Blogue como no Google, mas não encontro nada…

Bem.  o que te posso adiantar sobre este novo livro: é o depoimento de um militar que sou eu (e de outras pessoas, nomeadamente o Nelson Herbert)… e eu na qualidade de homem da rádio, dou importância ao que acontece ao nível da rádio e também outros acontecimentos… até que, depois do 25 de Abril, acabo por ingressar na Rádio Libertação, depois de passar à disponibilidade no mês de Setembro de 1974. 

Assisto então ao conturbado processo que decorreu na Guiné depois da saída da tropa e administração portuguesa… No ano seguinte acabo por ser destacado na equipa de reportagem que cobre a Independência de Cabo Verde em 5 de Julho de 1975… Destacado para um nova missão em Cabo Verde em Agosto de 1975,  acabo por ficar e não regresso mais a Bissau. Em Cabo Verde no seio da Revolução em curso, continuo o trabalho na rádio…

Bem, terminei já os capítulos sobre a Guiné… estou agora a recolher depoimentos para a parte sobre Cabo Verde de 1975 a 1980… quando vou estudar em Paris. Curioso sobre o titulo? Aqui vai: "Heróis do Mar – Bombolom – Cimboa"… depois de ser ler o livro, entende-se o porquê do título…

Carlos Filipe Gonçalves (**)

Jornalista Aposentado

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

14 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19783: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (65): Pedido de autorização para citações a inserir no livro sobre a guerra colonial, de Carlos Filipe Gonçalves, jornalista, cabo-verdiano, que foi fur mil, na chefia da Intendência em Bissau, de março de 1973 a agosto de 1974

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17971: (De) Caras (99): Saia uma sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira, ex-alf mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim / K3, Mansabá, 1970/72; médico reformado, Pombal)

1. Já não temos notícias, desde 23 de setembro de 2011, há seis anos (!), do nosso camarada Vítor Junqueira (ex-alferes miliciano da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá, 1970/72), hoje médico, reformado, e a viver em Pombal.  Foi o organizador do II Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2007, em Pombal.


Ele tem 64 referências no nosso blogue e escreveu alguns dos nossos melhores postes...  Em 30 de novembro de 2010 disse-nos, numa nota deixada na caixa de comentários (*) que estava bem de saúde e "conectado"... Sabemos pelo seu gosto pelas viagens, ou não fora ele, noutras vidas, oficial da marinha mercante. É seguramente um  daqueles nossos camaradas que já deu várias vezes a volta ao mundo...

Lembrei-me dele e, sem pedir-lhe licença, vou republicar aqui um dos textos mais saborosos que ele nos deixou e que os nosso "periquitos" (os membros da Tabanca Grande entrados nos anos mais recebtes) têm também o direito (e a obrigação) de conhecer...

Já na altura, considerei a história da sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" como  uma daquelas histórias dos nossos encontros e desencontros com aqueles povos amigos e hospitaleiros da Guiné, que um dia teria de figurar na antologia do nosso blogue!...  (Ele não me chegou a mandar, e ainda bem, a receita do "cabrito pé de rocha, manga di sabe"). (**)


2. Cabrito pé de rocha, manga di sabe

por Vítor Junqueira


Quando a minha Companhia [, a CCAÇ 2753,] aterrou em Bissau, após uns dez dias de viagem no velho N/M T/T (era mais ou menos esta a sigla para navio motor  de transporte de tropas) Carvalho Araújo (#), fomos acolhidos no cais do Pidjiguiti por malta que eu não conhecia de lado nenhum, que soltava uns piu-piu esquisitos cuja razão de ser não entendia. 

Soube ali que eram os choferes, velhinhos, das camionetas que nos haveriam de conduzir ao destino. As viaturas, alinhadas em coluna ao longo do cais, estavam a ser carregadas enquanto as entidades superiores tratavam da papelada. Até ao desembaraço da Companhia, e enquanto carrega, não carrega, os piu-piu acossavam-nos de todos os lados. Comecei a ficar enervado e com apetite!

Naquela zona portuária, que se poderia chamar marginal da Amura, existiam umas tabernas semelhantes às que poderíamos encontrar em qualquer lugar do Portugal de então: um garrafão de cinco litros ou um ramo de louro pendurado na frontaria, e uma tabuleta com os dizeres "casa de pasto, vinhos e petiscos".

Seriam para aí umas quatro da tarde quando entrei numa delas. Pela primeira vez na vida dirigi-me a alguém de outra... etnia. A situação era nova para mim e um pouco estranha. Meio tonhó, perguntei num português escorreito e pausado a uma negra, com estatura de bisonte, que se encontrava sentada num mocho do lado de dentro do balcão:
– Boa tarde, minha senhora, tem alguma coisa de que possa fazer uma sandes?
– Tem. Tem sim. Olha, tem cabrito pé de rocha, tem...
– Cabrito?
– Sim, cabrito, é muito bom. Ainda está quente.

Virou-me as costas e dirigiu-se para um canto da baiúca de onde regressou com um pequeno tacho de barro na mão contendo uns pedacitos de carne guisada, com bom aspecto e um cheiro capaz de fazer um morto babar-se. Perguntou-me o que queria beber e falou-me em coisas estranhas, Fanta, Coca-qualquer-coisa... Pedi uma laranjada.

Ali fiquei encostado ao balcão a vê-la rasgar a carcaça e nela acomodar o conduto. Ia magicando com os meus botões o quanto as aparência iludem. Aquela mulher enorme era um monstro de simpatia, nos gestos, no brilho do olhar, na doçura da voz. Acho que começou ali a minha paixão pela Guiné. Serviu-me com delicadeza numa pequena mesa de pinho, carunchosa e coxa, que só se mantinha de pé porque estava encostada à parede.

Comi. E que bem me soube. Ao fim de tantos dias a comer a lambeta de bordo, que nem era má, mas à qual o balanço do navio retirava todo o requinte, aquele petisco caiu-me que nem ginjas. Paguei em escudos, recebi o troco em pesos e saí animado com a perspectiva das vindouras patuscadas de cabrito pé de rocha que já se perfilavam no meu horizonte de expedicionário. Fosse parar aonde quer que fosse, não faltaria caça daquela, pois se até na cidade se encontrava ao dispor... Aquele cabrito era mesmo delicioso. E o apelido pé de rocha? Devia estar relacionado com o habitat do animal. Altas montanhas com os picos cobertos de neve, pensei eu. O Kilimanjaro devia ficar ali perto, provavelmente.

Juntei-me ao resto da guerra, a quem dei conta das minhas descobertas e lá vou com a tropa toda, sob um altíssimo astral, direito ao AGRBIS (eu sabia lá o que isso era!). À nossa espera estava um hangar, sem portas, sem janelas, sem luz e com milhões de mosquitos, gordos e ferozes. Nos oito dias seguintes dormimos em cima dos ferros das camas porque colchões também não havia para distribuir. E quanto à bianda, ração de combate ao almoço, ração de combate ao jantar. Sobremesa, sempre à base de mancarra que umas garotas apareceram por ali a vender dentro de uns penicos que transportavam à cabeça.

O problema maior era a água. Na altura grassava uma epidemia de cólera no território pelo que nos aconselharam a beber só água engarrafada. Resultado, ao terceiro dia estava não só falido, como via as dívidas a acumularem-se. É que a única água engarrafada disponível que havia era a Perrier, usada no tratamento do whisky, que eu comprava a oitenta mil réis cada garrafa, no bar dos oficiais do Depósito de Adidos que ficava ao lado. Escusado será dizer que, por essa razão ou outra qualquer, houve caganeiras monumentais.

E eis que recebo guia de marcha para ir comandar os destacamentos de Safim e João Landim.

Força instalada, faço o reconhecimento da zona e concluo que no que respeita a infra-estruturas de apoio como tasca, restaurante, animação (batuque e bajudas), posso considerar-me um homem de sorte. Tenho ao dispor um fundo de maneio e o seu parente, o inevitável saco azul. Agora sim, tinha qualidade de vida. Permitíamo-nos comer quase à la carte. Além disso, por ali não se ouviam tiros. Perfeito...

É neste contexto que, estando um dia a bater uma galharda sesta, sou acordado subitamente por um militar que me vem perguntar se pode ir lá fora dar um tiro com a G3...
– A quem? – perguntei.
– Não sei bem de que se trata – diz ele – É um gajo da população que está ali à porta de armas a pedir que vá alguém à tabanca abater uma peça de caça.
– Alto e pára o baile – disse eu, meio desconfiado. – Quem lá vai sou eu.

Visto os calções num ápice, enfio os chinelos, pego na canhota que tinha dependurada à cabeceira da cama e, todo nervoso, antecipando um presunto de gazela para o tacho, dirijo-me ao cavalo de frisa que servia de porta de armas.

Lá estava o homem. Pareceu-me inofensivo. Pediu-me que o seguisse, enquanto, num crioulo que eu já começava a entender, me explicava que se tratava de um cabrito pé de rocha que andava por ali a vaguear. Nisto aponta para o cocuruto de uma árvore e diz:
– Pessoal, olha ali. Por favor mata ele...

Fiz um único disparo. Aos meus pés caiu um bruto babuíno (macaco-cão) que devia pesar para aí uns trinta quilos. 

Dispensei a minha quota-parte da caçada! (##)

Vítor Junqueira (***)

[Revisão / fixação de texto: LG]
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Notas do autor:

(#) Esta foi a última viagem do Carvalho Araújo. De Lisboa para Bissau, navegou notavelmente adornado a estibordo. No regresso, ouvi dizer que chegou pelo seu pé a Cabo Verde, tendo sido depois rebocado até ao seu destino final.

(##) Voltei a comer cabrito pé de rocha, muitos meses depois e, desconhecendo a ementa, numa acção de Psico. Outra delícia! Um dia destes mando a receita.
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Notas do editor:

(*) 30 de novembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7363: Que é feito de ti, camarada ? (1): Prakistou, diz o Vitor Junqueira, mas não desconectado

(...) Pois, meus caros, eu prakistou, mais ou menos bom de corpo, de cabeça, dirão vocês e, não é verdade que ande por aí, meio perdido, meio desconectado. Estou convosco todos os dias, normalmente mais do que uma vez por dia! Aprecio a matéria dada, revejo-me nalguma prosa e, tacanho que sou, apenas pressinto na verve a corda lírica, vibrante e fácil, dom de apenas alguns tertulianos. (...)

(**) Vd. poste de 11 de novembro de  2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): "Cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira)

(***) Último poste da série > 24 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17901: (De)Caras (99): o comandante do BCAV 2868 (Bula, 1969/70), o ten cor cav Carlos José Machado Alves Morgado, mais o com-chefe António Spínola, em Pete, em 9/11/1970 (Victor Garcia, ex-1º cabo at cav, CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71)

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17777: O que é feito de ti, camarada (7): Coelho, meu colega de escola (até à 3ª classe, nos Casais da Vestiaria, Alcobaça), e que fez comigo a recruta, em 1971, no CICA 4 (Centro de Instrução de Condução Auto), Coimbra... Depois perdi-lhe completamente o rasto (Juvenal Amado)


Foto nº 1 A


Foto nº 1 B


Foto nº 1 - Coimbra > CICA  (Centro de Instrução de Condução Auto) 4  > 1971 > Camaradas da recruta.  Ao meu lado (foto nº 1 A), o Coelho, meu colega de escola (até à 3ª classe), nos Casais da Vestiaria, Alcobaça.

Foto (e legenda) © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em mensagem de 17 de julho de 2017, o nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74),  enviou-nos um poema de sua autoria, "Tempo" (*), e a seguinte nota:.

"Carlos e Luís,  nesta foto tínhamos dias de recruta no CICA4 em Coimbra.

Só me lembro do nome do camarada mesmo ao meu lado direito. Chamava-se Coelho, andamos os dois na escola primária até à 3ª classe,  nos Casais da Vestiaria, deixei de o ver quando vim morar para Alcobaça onde fiz a 4ª a classe e me empreguei.

Reencontrei-o na recruta em 1971, depois voltámo-nos a perder de vista nas voltas que a vida dá."


2. Comentário do editor:

Juvenal,  está tudo dito no belo poema que escreveste sobre o "Tempo" (*)... Muita da poesia que os poetas escrevem é sobre esta "matéria", o tempo que nos escapa das mãos, como areia do deserto, e as nossas memórias esburacadas e doridas...  

O que é será feito do Coelho, teu colega de escola  (**) ?  Tu foste parar à Guiné, e o Coelho (e outros "filhos  dos monges cistercenses de Alcobaça") ?  Foi mobilizado, para Angola, Guiné ou Moçambique ? Foi para a peluda ?  Regressou  "são e salvo" do ultramar ? Emigrou ? Casou, teve filhos ? É vivo ? Se sim, por onde pára ?... É muito pouco provável que conheça o nosso blogue e te/nos descubra... A tua foto tem 46 anos... Mas, mesmo assim, "o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca.. é Grande!",,, 

(...) Na neblina julgo ver vultos,
fugazmente vislumbro algo indefinido,
vejo jovens enlaçados que flutuam,
não sabem ainda que a juventude
é um momento fugaz,
é uma pétala que se solta,
que se esmaga entre os dedos
e solta a fragância.
Esse é o aroma do tempo que passa,
e os cemitérios são os nossos fieis depositários (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17604: Blogpoesia (520): Não é possível conservar o tempo (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto)

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16615: O que é feito de ti, camarada ? (6): Carlos Filipe Coelho (ex-Soldado Radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74)... Um resistente, duplamente resistente... Faz hoje anos... Parabéns, amigo, e até sempre! (Juvenal Amado)



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, à civil... Um homem gentil que aqui aprendeu a amar aquela terra e aquela gente...




A caminho da Guiné, num dos navios da nossa marinha mercante, o "Angra do Heroísmo", que largou do Tejo em 18/12/1971, cheio que nem um ovo...

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador, uma especialidade pouco usual...



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) > Carlos Filipe, radiomontador 




Guiné > Bissau > Hospital Militar 241 > O Carlos Filipe, radiomontador, da CCS/BCAÇ (Galomaro, 1972/74) esteve internado 32 dias em Bissau, antes de ser evacuado, com hepatite,  para o Hospital Militar da Estrela em Lisboa, onde esteve 173 dias.


Fotos © Juvenal Amado (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.  Mensagem, com data de 9 do corrente, do  Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas,  CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974"  (Lisboa: Chiado Editora, 2015, 308 pp.)


Carlos,  mando aqui alguma coisa escrita para o poste do Carlos Filipe. Também envio fotos que tenho dele e junto a talhe de foice,  porque falo do Jamba,  uma foto em que o Catroga trata do filho dele.

Um abraço, Juvenal
Encontramo-nos a miúde na Amadora [,onde vive, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente...]

Bebemos um café numa esplanada muito agradável perto da casa dele. Falamos de tudo mas em especial da Guiné, da sua situação interna, da sua classe politica, do seu injustiçado e sofrido povo.

Não consegue esconder desgosto por ver o partido de Amilcar Cabral não ser melhor que os demais, depois de tantas lutas, também ele se afunda na corrupção, no lodo dos interesses instalados e dos que se querem instalar.

Soubemos há tempos que o quartel de Galomaro foi transformado em armazém serração, que faz parte da praga que abate as suas florestas e que por isso não se pode filmar nem fotografar. As provas do crime, aguardam por embarque para Bissau em Bambadinca, ou no Xime. No Geba,  rio que cruzamos cheios de dúvidas e ansiedades das chegadas e alegrias das partidas, cumprirão mais uma etapa que levará a madeira das milhares de árvores abatidas para a China.

Para trás fica a destruição do meio ambiente, a sua fauna e flora. A Guiné que nós conhecemos, é só um resquício na nossa memória, é como vermos alguém morrer jovem e belo, vamos sempre lembrá-lo assim.

Acabamos por lembrar Galomaro mais o Regála, o Jamba [, foto à esquerda,] que era do PAIGC na clandestinidade, andava dentro do quartel por onde queria e lhe apetecia, a alegria das lavadeiras, Bafatá com os seus restaurantes e o seu comércio vibrante, a piscina, a praça, os vendedores de óculos de sol e relógios das melhores marcas “suíças” que só trabalhavam o tempo de sair da cidade....

As loucuras dos almoços às 10 da manhã, com whisky e charutos para rematar, pois a coluna tinha que sair com o correio o mais tardar às 11,30. Bebíamos mais uma para a viagem no caminho já à saída de Bafatá à esquerda,  numa tasca que,  segundo diziam.  eram de um individuo de Alfeizerão, que jogava com um pau de dois bicos e nem um copo de água dava à malta. Mandava-nos ir beber ao poço e era se queríamos.

Carlos ri-se da minha forma de falar, relembrar,  e dos rodeios que faço para lá chegar. Há dias levei-lhe um emblema do nosso batalhão. Só para ver aquele olhar iluminar-se e aquele corpo magro que resiste ao sofrimento crescer um palmo, metaforicamente falando, valeu apena.

Telefonou-me no dia 4 deste mês e eu não dei por isso. Quando reparei telefonei-lhe logo mas já não me atendeu. Tenho-lhe telefonado todos os dias sem conseguir falar com ele. Não me admiro,  pois por vezes está semanas e meses sem falar comigo, até que um dia vejo que é ele,  atendo, fico a saber, pela sua voz sumida e fraca, que esteve internado, ou que a quimio o deitou abaixo de tal maneira que nem comer nem beber consegue.

Volto-me a encontrar com ele e lá voltamos à Guiné e ao blogue dele,  Bissau Resiste, onde ele se digladia com guineenses e não só, de tendências e religiões várias. Facto que lhe grajeia amigos e possivelmente mais inimigos.

Fico a pensar onde vai buscar semelhante força.

Não sei quando vou falar com ele novamente, não sei se lhe consigo dar os parabéns pelo seu aniversário pessoalmente, mas nem por isso quero deixar esquecido e vou beber um copo à sua resistência e força, que o faz vencer todos os dias mais um dia.

Parabéns, Carlos Filipe.  recebe um abraço deste teu camarada, que o 3872 juntou e a Guiné uniu.

Até sempre, amigo.

Juvenal


Um resistente: o Carlos Filipe Coelho (ex-soldado radiomontador, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74) ... Foto atual... Vive na Amadora, sozinho, viúvo, com uma filha a viver no Cacém, e doente, doente de longa duração, mas resistente, duplamente resistente, um lutador...Tem 22 referências no nosso blogue.... Mas no seu blogue, "Bissau Resiste", tem mais de 7 mil postes publicados, em 4 anos, desde meados de 2013...




Cabeçalho do blogue do Carlos Filipe, "Bissau Resiste", criado em agosto de 2013 e atualizado até ao início de outubro de 2016. Tem mais de 70 seguidores. O nº de postes anuais é notável:  2016 (926); 2015 (3215); 2014 (2391); 2013 (790).


 2. Comentário do editor:

Caro Juvenal, és um grande ser humano. O que fazes pelo teu (e nosso)  amigo e camarada, é digno de registo, é um exemplo para todos nós, É isso a camaradagem e a solidariedade humana. É também esse espírito da Tabanca Grande.

Sim, eu sabia que Carlos Filipe estava (ou esteve) doente, há uns anos atrás.  Mas não sabia era o resto da história nem lo prognóstico da doença...  Há estoicismo e dignidade na maneira como o Carlos tem enfrentado a adversidade e fintado a morte.

Se conseguires estar com ele,  hoje, no dia do seu aniversário natalício, dá-lhe um abraço, de todos nós,  do tamanho do poilão da Tabanca Grande e bebe um copo com ele, por ele, por ti  e por todos nós, que merecemos viver mais uns aninhos cá na terra, para compensar os que perdemos na guerra... Mesmo de muletas... por que como diz o provérbio popular "mais vale andar neste mundo de muletas  do que no outro em carretas"... (LG)
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