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domingo, 19 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21185: Efemérides (330): Faz hoje 50 anos que regressou, do CTIG, o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70) (Fernando Calado)


O documento de passagem à disponibildiade. Cortesia de Fernando Calado




Fernando Calado (2013). Foto de LG
1. Mensagem de Fernando Calado, ex-al mil trms, CCS/BBCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)



Data - 19 jul 2020, 15:15


Assunto . Regresso da guerra na Guiné


Caro amigo,

Faz hoje 50 anos que a CCS e outras companhias do BCaç 2852 atracaram na Rocha de Conde de Óbidos,  a bordo do "iate" Carvalho Araújo.

Um grande abraço

Fernando Calado

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Nota do editor:


terça-feira, 24 de março de 2020

Guiné 61/74 - P20766: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (118): A COVID-19 não passará! ...Reclusão... Estamos todos de quarentena... esperando que tudo passe para retomarmos o carreiro da vida (Juvenal Amado, autor de "A Tropa Vai Fazer de Ti um Homem", 2015)


Alcobaça > Cabeço > Cabeço Futebol Clube,  antes de ir para a Guiné talvez no início de 71


Alcobaça > Cabeça > Cabeço Futebol Clube, talvez 74-75 depois do regresso  da Guiné (*)

Fotos (e legendas): © Juvenal Amado (2020) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


RECLUSÃO

por Juvenal Amado

[ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas, CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74; autor de "A Tropa Vai Fazer De Ti Um Homem - Guiné, 1971 - 1974" (Lisboa: Chiado Editora, 2015, 308 pp.)]

Neste momento de reclusão lembro a minha vida passada a forma como enfrentamos obstáculos e os perigos que a vida nos meteu pela frente.

Quando jovens corremos muitos de toda a ordem. Desde pôr em risco a nossa liberdade bem como nas comissões, que cumprimos em terras de além-mar.

Lá fizemos muitos quilómetros sem pensar no que nos poda acontecer com as minas, se na curva não estaria um RPG ou a uma rajada de AK à nossa espera. Ou por um lado pensávamos, mas relativizámos.

Nuns casos assistimos a mortes e feridos em directo, de outros ouvimos falar. No entanto hoje penso como foi possível essa falta de consciência, essa leveza como enfrentámos os riscos, como fomos capaz de ignorar a finidade da nossa vida quando fazíamos colunas em sectores de risco, as picagens onde a morte estava mesmo ali a cada passada, quando fomos socorrer de noite, quando o som das explosões e os incêndios dos ataques ainda não se tinham extinguido. E como voltávamos a fazer tudo outra vez depois de ver o que tinha acontecido na véspera à nossa frente?

Claro que pensava que podiam estar à nossa espera, mas que força nos fazia continuar? Era o dever ou a solidariedade? Não sei responder e tão pouco altura sabia tal, nos meus vinte e dois anos. Depois passados esses momentos para trás ficava só o orgulho de termos sido suficientemente corajosos para nos atrevermos a tal.

Mas hoje é difícil de aceitar quando toda a vida cuidámos dos outros e temos, que deixar que cuidem de nós. A nossa vontade tem que ceder à vontade dos nossos, que até aqui eram nossos dependentes. É frustrante constatar, que não somos hoje autónomos independentes na nossa vontade nas mais pequenas coisas, nós que ainda em muitos casos não perdemos o sentido de que ainda somos capazes de mover e mudar o Mundo.

É como tentar dar a passada maior que a perna. Na nossa cabeça ainda chegamos lá com o salto, mas as pernas não obedecem ou tardam no impulso. Isso causa-nos dor bem no fundo do nosso amago, ficamos insatisfeitos, ansiosos, não raramente espingardamos contra a nossa sorte, ficamos com o rastilho curto, enfim estamos velhos e rezingões e por vezes tratamos por alto da burra quem com quem nós partilha estas novas aflições. Tempos cada vez mais complicados que vamos viver.

Quando jovens esperamos a vida agora o que esperamos?

Quando jovens esperámos a vida militar como forma de transpor um espaço temporal em que depois tudo nos seria mais fácil. Casámos vieram os filhos, uma vida de trabalho e anseios para lhes dar as oportunidades que não tivemos. Os que se formaram e os que não se formaram esperamos que arranjassem um bom emprego, casassem, nos dessem netos, num ciclo sempre renovado de vidas cheias.

Em África ansiávamos pelo regresso. Nas noites de serviço rebuscávamos a nossas recordações de casa, não sabendo que nunca nada tinha ficado igual com a nossa ausência, que nada seria retomado ao tempo da nossa partida.

Por isso aquele fado do “oh tempo volta para trás “ tantas vezes repetido.

Mas naquele tempo estávamos em camaradagem com tudo de positivo isso implicava. Íamos nas colunas comíamos a ração, dávamos ou trocávamos o que não comíamos, bebíamos uma cerveja fresca quando havia, jogávamos à sueca, ralhávamos uns com os outros por causa da carta mal jogada, no fim era só mais um dia passado e vivos.

Foi-se embora a juventude, vive-se mais de contemplações. Mas nestes tempos de incerteza em que um perigo novamente mortal se abateu sobre nossas cabeças e confinados às paredes das casas, aguardamos que sejamos novamente poupados pelo o destino.

Vamos esperar que tudo passe para assim se retomar o carreiro da vida .

Um abraço a todos os camaradas

23/03/2020 Décimo dia de isolamento. (**)

Juvenal Amado
___________

Notas do editor:

(*) Vd. blogue JERO > M 291 - Jogos de futebol únicos... Uma fotografia com história > A malta do Cabeço em 1975

(...) Jogadores em Campo? Muitos…Mais de 40! Arrisco até que são 43!

Os jogos do Cabeço – num campo pelado que tinha erva por todo o lado e que se situava na saída de Alcobaça, a caminho do Casal Pereiro…– tinham regras únicas. Jogava toda a malta .Dez contra dez, quinze contra quinze, vinte contra vinte ou mais. Mesmo com o jogo a decorrer quem chegava ao Cabeço…jogava.

O jogo iniciava depois de uma “primeira” escolha com a malta ainda toda de camisola. Quem sofria o primeiro golo tirava a camisola e passava a jogar de tronco nu… Na fotografia que ilustra o texto há situações de pais e filhos, que era mais uma singularidade destes jogos especiais que duravam toda a manhã. Começavam às 9.00 e acabavam …quando não restava mais ninguém em campo.

Gente conhecida há muita.Desconhecida também... De pé, da esquerda para a direita, um que não conhecemos.Depois o Calisto, o JERO, N, N ,N, N, Rainho (já falecido), o Palma Rodrigues (sempre a guarda redes) e, entre conhecidos e outros de que não recordamos o nome, o João Manuel, o Basílio Martins (com longas barbas), o Dr.José Pedrosa (que era “bom de bola”) e gente mais nova.

De cócoras e sentados o Ramiro (que em dias bons conseguia acertar mesmo na bola), o António Eduardo, o Pisão (já falecido), o Juvenal Amado (dono da fotografia), diversos “Bibis”, o Nabais e o Diamantino (de barbas),o Pacheco e mais outros.

Quase completamente deitados o Carlos Helder (que foi campeão de salto à vara) e o Teopisto. (...)


(**) Último poste da série > 19 de março de 2020 > Guiné 61/74 - P20748: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (115): A COVID.-19 não passará!... (ou o "cornovírus", como já diz o povo). Pois, cantemos a vida, a alegria, o amor... "Aimons le vin"... Amemos o vinho, o amor e as mulheres: canção tradicional, Normandia, França, interpretada pelo Coro Municipal da Lourinhã (maestro: Carlos Pedro Alves)

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Guiné 61/74 - P20692: Fotos à procura de...uma legenda (127): correção às legendas de fotos do poste P13445, de 1/8/2014: Forte de São Julião da Barra, Oeiras; estação ferroviária, Entroncamento; e estação rodoviária, Rio Maior (Rui Fonseca)


Foto nº 1 > Oeiras > Estuário do  Tejo>  Junho de 1970 > Forte de São Julião da Barra


Foto nº 6 > Entroncamento > Estação ferroviária


Foto nº 9 > Rio Maior >  Av João Ferreira da Maia > Do lado esquerdo, a antiga  estação rodoviária, hoje encerrada [, segundo Rui Fonseca, 2020]


Fotos, originalmente sem legendas, do álbum do Otacílio Luz Henriques, ex-1º cabo bate-chapas.  CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70). Pertencia ao pelotão de manutenção, que era comandado pelo alf mil Ismael Augusto, membro da nossa Tabanca Grande. o BCaç 2852 regressou à metrópole em 28/5/1970, um ano depois, curiosamente, do ataque a Bambadinca...

Fotos: © Otacílio Luz Henriques (2013). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné; legendagem complementar: Rui Fonseca, 2020]


1. Do nosso leitor Rui Fonseca:

Data: sexta, 28/02/2020 à(s) 08:00

Assunto; fotos do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

Boa tarde:

Tendo passado pela vossa Tabanca de memórias da Guerra Colonial, vi uma publicação vossa de sexta-feira, 1 de agosto de 2014 [, poste P13455], onde que têm fotografias lindíssimas do nosso antigo Portugal.

Querendo ser de utilidade, venho por esta via dar as seguintes informações sobre as legendas das fotos da dita publicação na esperança de que sejam de utilidade para uma melhor informação e uma melhor memória ao torná-las mais precisas.

Assim faço as seguintes sugestões para as respectivas fotos:

Foto nº 1;  trata-se de facto da entrada na barra do Tejo. No entanto trata-se da cidadela do Forte de São Gião, actual forte de "S. Julião da Barra", e não da cidadeda de Cascais.

A foto nº 6 é da estação [ferroviária] o Entroncamento.

Na foto nº 9, podemos ver a Avenida Ferreira da Maia em Rio Maior. O edifício da camionagem ainda existe embora esteja encerrado, e o edifício ao fundo da Avenida também ainda existe,  estando ao seu lado um 'mamarracho' enorme com cerca de 13 pisos[, já na Praça da República] [Vd. Goople Maps]

Não posso deixar de expressar o meu agradecimento e apreço por blogues como aquele que dinamiza com os seus camaradas, para memória e registo dos tempos que lá vão. (**)

Bem haja,

Rui Fonseca
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domingo, 9 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19270: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulo 72 (Fim): Fui com a ideia de que aquela terra era Portugal, quando parti para lá; regressei com a ideia de que estava num país estrangeiro.


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª CART / BART 6520/72 (1972/74) > O Dino,  num posto de sentinela

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


José Calduno da Silva, chaperio em Amarante
1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria"), do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*):


Chegamos ao fim da viagem do "Dino" pelas suas memórias de Fulacunda, socorrendo-se do seu "roteiro literário-sentimental".

No capº 72, o último, conta como o exército lhe transmitiu, nove dias depois, a notícia da morte da sua mãe, Mabilde da Silva...

O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. 

Ver aqui nota detalhada dobre o autor e  a sinopse dos postes anteriores.


2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto,
3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Cap 72º (Fim)


72º (e último) Capítulo: A MENSAGEM
José e Amélia


Quando aconteceu o maior drama por mim vivido nessa terra, já não devia estar lá.

Reconhecida internacionalmente por muitos países como Guiné-Bissau desde 1973, ainda hoje há quem pense que aquela terra era Portugal. Foi com essa ideia que parti para lá. Regressei com a ideia de que estava num país estrangeiro.

No dia 10 de Junho de 1974, cerca das cinco horas da manhã, sua excelência o senhor capitão Serrote chamou-me ao seu gabinete para me ler uma mensagem que o Jorge operador cripto decifrara:

- “Saiba nosso cabo que é com imensa pena e pesar que o informamos do falecimento da sua mãe. Condolências em nome do exército português”.


Creio terem sido estas as últimas palavras que ouvi da boca do meu capitão que ficou com o papel na mão.

 “Em meu nome pessoal e de todos os elementos da nossa companhia lamentamos a sua perda. Sentidos sentimentos”.

Devia terminar aqui este livro mas a minha guerra “Em Nome da Pátria” continuou e, embora algumas coisas não as possa provar, por muito inimagináveis que lhes pareçam, são verdadeiras.

Exactamente, no mesmo dia em que recebo a notícia da morte da minha mãe, uma enorme conjugação de casualidades permitem-me fazer algo digno dum filme de James Bond. O meu 1º sargento, um homem acérrimo defensor da lei, acede a um pedido meu.

“Toda a companhia sabe que estou doente, por favor peça uma evacuação urgente e mande-me para o hospital de Bissau”.

Ainda hoje me parece ver a sua cara de espanto ao meu pedido. O que é certo é que, contra tudo e todos, sem tampouco informar o capitão e com a ajuda do meu amigo de transmissões, requisitou uma evacuação urgente. Quatro horas depois, estava em Bissau. Acho que ainda hoje ninguém sabe o que foi aquela avioneta fazer a Fulacunda. Eu pura e simplesmente desapareci. Iria aparecer mais tarde.

EPÍLOGO

Apenas trouxe comigo a farda de saída, o meu correio e fotografias. Tudo o resto, desde a G3 aos artigos do meu negócio, ficaram para trás num canto da cantina.

Mal a avioneta aterrou em Bissalanca, fui de táxi ter com o sargento Leão, pedir-lhe para me arranjar bilhete para a Metrópole. O 1º sargento Leão tinha a mala pronta para partir no dia seguinte, num avião da TAP. Vinha à Metrópole tratar de assuntos pessoais. Ainda teria de regressar. Achava ser impossível conseguir bilhete para mim, a menos que alguém desistisse, mas ia tentar.

Recordo que naquele tempo sair das colónias era uma prioridade para muitos civis, embora na Guiné não fosse tão grave como, por exemplo, Angola. Foi uma senhora vestida com uma saia vermelha e blusa preta, esposa dum oficial da polícia, que ao ouvir o drama que eu estava a passar conseguiu o bilhete. Custou seis contos mas, no dia seguinte, viajei para a metrópole, ao lado do sargento Leão.

Embora eu não tivesse intenção de o fazer, vou dizer-lhes quem era o sargento Leão.  Trabalhei na Garagem Auto Seroa, em Paços de Ferreira, em 1969/70/71. Um dos meus patrões tinha um irmão no exército: era o Sargento Leão que em boa hora encontrei na Guiné.

No dia 11 de Junho, logo que aterrámos em Lisboa, liguei para Penafiel. Foi para a loja do Sr. Amaro que me conhecia muito bem. Identifiquei-me e perguntei se sabia dizer-me o horário do funeral da Senhora Mabilde da Silva, a minha mãe.

"Ó Claudino,  o funeral já foi há dias ela morreu no dia 1, rapaz."

A minha Pátria demorara 9 dias a cumprir a sua obrigação de me informar da morte da minha mãe. Eu cumpri muito melhor a minha parte.

Para mim, a minha mãe viveu mais tempo do que na realidade viveu. Jamais perdoarei os dirigentes do meu país na época me fizeram.

O Leão ficou comigo até há hora do comboio e viemos os dois de Santa Apolónia até Campanhã.

Omiti até agora tudo o que fui lendo em que me referia à minha mãe. Não foi muito. A minha mãe não teve meios de me criar e entregou-me à minha avó. Isso nunca impediu de a respeitar; orgulho-me da minha mãe. Sem ela, eu não estaria aqui. Só passei uma festa com a minha mãe: Foi o último Natal, antes de assentar praça. Ainda bem que o fiz!

Reapareci a 27 de Agosto de 1974 no anexo do hospital militar em Campolide. Deram-me dois comprimidos enquanto lá estive, três semanas. Estava a piorar e os médicos não me ligavam nada. Sem passar cartão a ninguém, mais uma vez desapareci.

A minha companhia foi extinta em 26 de Setembro de 1974. Fui esperá-los a Lisboa. Os meus camaradas estiveram mais 112 dias na Guiné do que eu. Voltei a ser no fim, tal como fora no início, um privilegiado.

Quando pensava que já me chamava José Claudino da Silva, ainda surgiria nova situação caricata.  O meu colega de trabalho (aquele sim!), o Abreu, pintor de automóveis, foi para a tropa alguns meses depois. Especialidade: cabo escriturário, colocado em Penafiel. Foi incumbido, juntamente com um tenente, de trabalhar no dossiê  dos desaparecidos nas províncias ultramarinas.

Foi isto que ele me contou! 

“ Quando vi que o teu nome estava lá, disse ao tenente. Vai-me desculpar, senhor tenente,  mas este nome conheço-o. O 1º cabo 158532/71 José Claudino da Silva não está desaparecido. Ele é chapeiro e trabalha na mesma oficina onde eu trabalho. Sei bem o nome dele José Claudino da Silva”.

Claro que fui chamado e apresentei-me no R.A.L. 5 para esclarecer a minha situação. Na minha caderneta militar, passei à disponibilidade em 23 de Setembro de 1975. Durante o meu “desaparecimento” da tropa, aproveitei para casar com a Amélia.

Na minha caderneta militar e na página das ocorrências extraordinárias, estão as frases:

1975. Transferido para o R.A.S.P. desde o dia 1 de Maio.
Reunida em sessão no H.M.P. confirmo o soldado 158532/71

APROVADO PARA TODO O SERVIÇO MILITAR

(LÁ VAMOS COMEÇAR TUDO DE NOVO)



VENCEU A POESIA

FIM

7 de Outubro de 2017

Texto original da autoria de
José Claudino da Silva

___________

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19219: Os nossos regressos (35): Dia 5 de Novembro de 1968, chegada a Lisboa (Mário Vitorino Gaspar)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68, com data de 5 de Novembro de 2018:

Caro Luís e Carlos
Dia 5 de Novembro de 1968
Faz hoje 50 anos que a minha Companhia de Artilharia 1659 - CART 1659 regressou pelas 17 horas no Paquete Uíge - pasme-se, depois de ir encostar ao cais de Alcântara, Lisboa, recebeu ordens para parar e pouco depois afastou-se para o largo - e foi-nos informado que não desembarcaríamos. É difícil explicar como ficou o pessoal. Pensei logo lançar-me ao Tejo e ir a nado. Aquela noite não se esquece.

Cumprimentos à Tabanca Grande
Mário Vitorino Gaspar


Regresso da Guiné

Mário Vitorino Gaspar

Finalmente no dia 31 de outubro de 1968, embarcámos para Lisboa. Tal como sucedeu, no embarque numa lancha para Bissau, não me recordo de tal, o mesmo sucedeu na entrada no Uíge, nem mesmo de como uma mala de cânfora, fora parar ao porão, com alguma bagagem dentro. Fomos colocados no Forte da Amura. Como sucedera quando vim de férias, fomos colocados de serviço. Não ficámos isentos de Serviços. De qualquer modo houve tempo para tudo – principalmente compras – tinha pensado adquirir uma mala de cânfora, fiz a escolha. A comida em Bissau era diferente, eu e alguns camaradas optámos por fazer as refeições, sempre com a alternativa de uma ou outra fora da Messe.

Bissau era um jornal diário aberto da guerra no território. Inclusive, a pequena informação chegava às esplanadas. Tratando-se da Operação em que Portugal se empenhara – considerada de “Confidencial” – alguma em que nem a Nossa Tropa tinha conhecimento, discutia-se à frente de uma cerveja. O pessoal da Nossa Companhia que envergava camuflados novos, recém-chegados do Casão, e entregues uns dias antes da nossa saída do mato, exibindo no braço o dístico da Companhia de Artilharia 1659 (“ZORBA”). Em qualquer local alguém gritava:
– Salta que é periquito!

Habitualmente o pequeno-almoço era no famoso – lá no burgo – “Zé da Amura”, pombos verdes fritos, sempre acompanhados com cerveja. Bebida nunca esgotada nestas terras. Visitas ao Mercado para ver as novidades do dia. Iam aparecendo peças de pau-preto, principalmente máscaras; punhais e catanas forradas a pele de animais.

Tivemos oportunidade de conhecer melhor Bissau. Grande parte dos Nossos Jovens Heróis nem a cidade conheciam. As noites eram diferentes, nem um não ao convite para conhecer o “Bairro do Pilão”.

Os Militares preparados para tirarem a Carta de Condução lá estavam no dia marcado. Toda a Companhia festejava essa grande vitória, tratava-se de uma boa porta aberta para um emprego.

Por vezes parava no tempo e fazia um balanço desta experiência que nunca iria esquecer. Um primeiro período, após a chegada ao largo de Bissau, recordado sempre a mesquinhez de que ordenava, de fazer o favor de dar viagem de luxo a Oficiais e Sargentos e empurrarem para o porão os soldados, garrafões e garrafas de aguardente. Iria esquecer a dádiva de um quarto de pão, um ovo cozido, uma laranja, uma maçã golden… Um destino incerto. Recordo que no primeiro balanço que fiz após uma semana na Guiné, explica-se com a frase:
– Mais parece ter sido anestesiado!
Agora posso dizer:
– Deixei de estar anestesiado há uma semana, dia em que pensei: – pode ser que saia vivo!

Não sou capaz de me lembrar como entrei na LDM em Gadamael Porto, nem como em Bissau subi para o Paquete Uíge. Resumindo: – continuo na Guiné! Será para sempre.

A viagem de regresso a Portugal foi muito idêntica à da ida para a Guiné. O mar estava mais calmo. Eu só pensava na chegada a Lisboa. Era um milagre este regresso. Ia bebendo mais cervejas que o habitual. Escrevera para casa e pedira que levassem para o cais de Alcântara a bandeira do Alhandra Sporting Club. A maior que existisse, para que eu pudesse vê‑­la do paquete. Continuavam os jogos. Jogava‑­se a dinheiro. Tal como da ida para a guerra, não esquecendo o Bingo.

Os constantes enjoos continuavam. Perto da Ilha do Sal o mar agitou‑­se um pouco, mas existia quem não suportasse os balanços do Uíge. Bebia‑­se, e não só cerveja. E fumar? Cada vez fumava mais.

Fomos assistir a uma sessão de cinema:
– “Festival de Twist N.º 1” e “Negócio à Italiana” (este com Alberto Sordi e Gianna Maria Canale). Foi um momento bem passado, que fez esquecer alguns traumas mal geridos.

Lembrei a morte do Furriel Vítor Correia Pestana e dos Soldados António Lopes Costa e do Manuel Ferreira Silva.
Membros da população civil maior percentagem de mulheres e crianças que tombaram a 4 de julho de 1967? Feridos. Todos os feridos que tivemos. Nunca acreditei que fosse obra do PAIGC.
Ainda estou a ouvir o tiroteio nas emboscadas e ataques aos aquarte­lamentos de Gadamael Porto, Ganturé, Sangonhá (quando lá fomos montar segurança), Cameconde, nas mesmas circunstâncias, Guileje e Mejo. No “corredor da morte”? Aqueles locais sinistros cheiravam a guerra. Tudo parecia um cemitério.
Mas tudo muito difícil de explicar: as crateras das granadas que reben­tavam no chão, as árvores esburacadas pelas balas, estilhaços, ofereciam‑­nos simultaneamente um ar belo. A vegetação era exuberante, eram belos aqueles locais.

A sede, fome, falta de notícias da família, da namorada e dos amigos. A importância das madrinhas de guerra.

Curiosidade: transcrevo a Ementa do Almoço, a bordo do Paquete Uíge, no dia 2 de novembro de 1968 dos Sargentos:
Sopa: Juliana – Peixe – Iroses de Caldeirada; Ovos – Tortilha à Espanhola; Entrada – Favas à Transmontana; Fruta; Chá – Café.





Segundo se dizia, estávamos prestes a chegar a Lisboa. Falava‑­se que seria no dia 5 de novembro de 1968. Eu continuava a fumar cada vez mais.

O Paquete chegou. Segundo informação não íamos desembarcar por já ser tarde. Espreitávamos para a marginal de Cascais e víamos as luzes das viaturas que percorriam a marginal. Gritava‑­se:
– Olhem para os carros!

Fomos deitar‑­nos, a ver se o tempo passava mais depressa. Protes­tava‑­se:
– Ainda é dia! Por que não nos deixam desembarcar?

Deviam ter informado pela televisão e rádio que a tropa, oriunda da Guiné, não desembarcaria no dia 5. Embora estivéssemos bastante afastados do cais de Alcântara, poucas pessoas víamos.
Passámos a noite nesta angústia, até que eu me lembrei de ir tomar um duche, num intervalo de uma ida ao bar ou de fumar um cigarro. Os maços de tabaco que comprara para levar para casa, estavam quase no fim.
Quando vou para tomar banho, eis que verifico que a água estava gelada. Não havia água quente. Tinham‑­na desligado. Lá tive que tomar um banho de água fria, que teve o condão de aquecer a mente.
Depois do banho verifiquei que quase todos se encontravam cá em cima, do mesmo lado do Uíge. O barco estava inclinado, até parecia que se ia virar.

O Comandante da CART 1659 chamou‑­me:
– Mário, você fica responsável pela bagagem de porão. Fica em Lis­boa, a Companhia paga‑­lhe o alojamento e a alimentação e depois segue para casa, – disse.
– Nem pensar, já basta o que já fiz, quero é ir para casa. Capitão, escolha outro!
– Então fica responsável pelo guião da Companhia. Vai haver uma formatura e o Mário forma com a CART, com o guião, depois vai discursar um Oficial.
– Nunca fiz isso, mas está bem. Onde ficar o guião no princípio, con­tinua no mesmo sítio até que termine a parada! – Disse eu.

Fui descendo. Encontrei alguns soldados da minha Companhia que se encontravam mal dispostos. Estive um pouco com eles, e sem dar por isso estava a fumar mais um cigarro. Fui ao camarote onde dormia. Alguns Furriéis estavam deitados.
– Levantem‑­se, estamos quase a desembarcar!

Depois de subir, e espreitar para o cais, vi entre uma multidão a ban­deira do Alhandra Sporting Club. Ali estava a minha família.
No cais estava a Polícia Militar, e no barco os militares gritavam em uníssono:
– Malandros, vão para o mato!...

Bandeira do Alhandra Sporting Club

Até que chegou a hora de desembarque.
Fui ter com os meus, levando a bagagem comigo. Estavam a minha namorada, que viria a ser a minha mulher, o meu irmão José e a minha cunhada Fernanda.
A formatura não se chegou a efetuar e fomos automaticamente trans­portados para um quartel nas imediações de Oeiras, que estava desativado.
Arrumei a minha bagagem. Quando estava indeciso com o guião na mão, coloquei-o sobre a bagagem do Capitão. Fomos almoçar, e engraçado, o prato que naquele momento mais desejava: – carne assada no forno com batatas. Fomos no carro do meu irmão e depois do almoço regressámos ao quartel.

– Então é sempre a mesma porcaria. Colocou o guião por cima da minha bagagem e foi‑­se embora, Mário? – Disse o Capitão.
– Houve azar Capitão? – Respondi‑­lhe.
– Tivemos que entregar o guião, ao responsável do Regimento de Artilharia de Costa, deveria haver uma cerimónia, e nada disso sucedeu! – Retorquiu o Capitão.
– Então ficou entregue! – Disse, sorrindo.
Não se tratava de falta de respeito. Tinha muita consideração pelo nosso Capitão. A verdade é que o Capitão Mansilha estava mesmo zangado.

Depois de trocas de opiniões, e de terem começado a pagar os mon­tantes que o Exército Português nos devia, gritou para o Capitão o Alferes Miliciano Luís Alberto Alves de Gouveia:
– Paguem já ao Mário, não o façam esperar, ele tem a família à espera!
Recebi o dinheiro, despedi‑­me do pessoal, e fui para junto dos meus que se encontravam no exterior, junto ao carro. Fomos até Alhandra.

Chegados a Alhandra, desloquei‑­me a casa para tirar a farda e vestir­‑me com a roupa que a minha mãe tinha deixado em cima da cama e saí.
Em lugar de me dirigir para um jantar que o meu pai organizara, fui na direção do cais “14”, ver o meu Tejo.
Lá estavam as Fragatas, os barcos desportivos que treinavam e os avieiros nas suas bateiras. Fiquei ali, esquecendo completamente, os meus pais, meus familiares e amigos que esperavam por mim.
Foi quando entrei em mim e dirigi‑­me para a Padaria do meu pai, onde era, de facto, a festa em minha homenagem.

Tamanha alegria! Ria‑­se. Chorava‑­se. Meu pai fez rebentar uns dois morteiros, e uns tantos foguetes.
Todos queriam saber de mim. A família grande e os amigos também. Chegou o Cabo da GNR, e quando me viu cumprimentou‑­me militarmente. Olhei para ele e parece que ri ao lembrar aqueles tempos em que ele nos perseguia, e até escondia a roupa deixada em cima da areia. Convidei-o para comer e beber qualquer coisa.

Segundo consta no meu Processo Individual do Exército, depois de ter passado à Primeira Classe de Comportamento em 3 de maio de 1968, em 28 de novembro de 1968 terminei a minha obrigação de Serviço, depois de ter gozado 21 dias de licença. Passei às tropas licenciadas em dezembro de 1978 por ter completado 35 anos de idade.

Reiniciei a minha vida naquele dia. Teria de recuperar o tempo perdido. Esquecer, retirar as folhas dos calendários correspondentes a todos os dias? Pouco provável esquecer, conhecia-me bem e jamais vou esquecer uma guerra.
Os amigos? Como era possível esquecê-los?
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Nota do editor

Último poste da série de 21 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19218: Os nossos regressos (35): 21 de Novembro - o dia do regresso da Guiné… 48 anos depois

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Guiné 61/74 - P19218: Os nossos regressos (34): 21 de Novembro - o dia do regresso da Guiné… 48 anos depois (Carlos Pinheiro)

1. Em mensagem de hoje, 21 de Novembro de 2018, o nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), lembra a sua viagem de regresso e chegada a Lisboa neste dia, há 48 anos.


21 de Novembro - o dia do regresso da Guiné… 48 anos depois

A esta hora, às primeiras horas do dia 21 de Novembro de 1970, estava, aliás estávamos todos perfeitamente acordados a bordo do “CARVALHO ARAÚJO”, mais ou menos ao largo de Cascais, a prepararmo-nos para o assalto às casas de banho dos camarotes para, finalmente, tomarmos um banho após nove dias de mar alto desde Bissau até Cascais. Imagine-se a necessidade de nos apresentarmos de manhã em Lisboa, de cara lavada perante as nossas famílias e os nossos amigos, e as voltas que tivemos que dar para que isso fosse possível. Um banho, como se fosse a melhor coisa do mundo, e naquela noite foi mesmo a melhor coisa só suplantada com a chegada de manhã ao pé dos nossos familiares.

Carvalho Araújo, N/M da Empresa Insulana de Navegação. Tinha lotação para 354 passageiros. Foi abatido em 1973.
Imagem extraída de navios porugueses. Com a vénia devida.

O “CARVALHO ARAÚJO”, apesar de já estar no seu fim de vida naquela altura - esta foi uma das suas últimas viagens - foi um grande navio, o melhor de todos, que nos trouxe de África depois de 25 meses de comissão naquele pedaço de terra e água, mas mais água do que terra, encravado entre o Senegal e a Guiné Conakri.

Falar desse tempo não vem agora aqui ao caso. Há tantos livros publicados que, infelizmente pouca gente lê e por isso se sabe tão pouco daquele período de treze enormes anos que a juventude foi obrigada a cumprir lá longe, em África, e muitos nas piores condições, diria até em condições inimagináveis, para além daquela dezena de milhar cujos restos mortais por lá ficaram para sempre.

Tínhamos embarcado no dia 13 e logo alguns tripulantes nos avisavam que dado o mar picado do Golfo da Guiné, quando chegássemos ao mar da Madeira seria bem pior. Mas nós estávamos por tudo. Só queríamos que aqueles dias passassem depressa. No entanto quando chegámos ao mar da Madeira, tivemos um mar chão contra todas as previsões. Nem tudo podia ser mau.

Foram dias para esquecer. Não havia água disponível, o porão era talvez o sítio menos mau na medida em que o navio tinha andado muitos anos a transportar gado bovino dos Açores para o Continente e tinham-lhe adaptado um sistema de ar forçado nos porões para o gado não enjoar. Também foi bom para nós que nos contentávamos com pouco. Tinham-nos dado um prato à subida das escadas, para que tivéssemos direito à refeição que era comida onde era possível. Depois só tínhamos que lavar o dito prato, com água do mar, para a próxima refeição. A comida era do pior que se pode imaginar. Mas após ter feito o primeiro reconhecimento ao único sitio onde se vendia alguma coisa, tinha constatado que só havia cerveja e Coca-Cola com fartura e também bolachas baunilha. Mais nada. Portanto tudo o que foi aparecendo era comido, por vezes até com os olhos fechados, mas não havia alternativa. Houve porém uma excepção. No dia 19 o navio aportou ao Funchal, ao pôr-do-sol - um espectáculo inolvidável -, para meter água e nafta que na Guiné não havia e nesse dia ao jantar apresentaram-nos um peixe assado no forno com muito bom aspecto. Porém, fartos de comer mal, marcando também a nossa insatisfação pela comida que até aí nos tinha sido apresentada, nesse dia resolvemos ir jantar fora ao Funchal, com o resto do dinheiro que nos tinha sobrado da comissão.

Foi uma noite de festa porque já cheirava a Portugal e o degredo estava a acabar. Lembro-me perfeitamente, o “CARVALHO ARAÚJO” atracado ao Cais do Funchal ao lado dum paquete de luxo, o CHUSAN, penso que inglês, parecia uma casca de noz ao lado dum “cidade iluminada”. Mas não nos enganámos e à hora combinada lá estávamos de novo a bordo a caminho de casa.

A chegada a Lisboa foi de facto alegre mas ao mesmo tempo arrepiante quando nos pudemos aproximar dos nossos familiares que não víamos há mais de dois anos. São momentos indescritíveis onde as palavras nos faltam.

Depois foi embarcar numa camioneta para os Adidos, na Calçada da Ajuda e o espólio foi feito rapidamente.

Passado algum tempo já estava em casa da minha tia Cândida na Avenida 24 de Julho, mesmo em frente à Estação do Cais do Sodré, a voltar a admirar o Tejo de que também tinha muitas saudades.

A minha mãe estava a acabar o almoço - um cozido à portuguesa como deve ser, e o apetite era bastante, só suplantado pelas saudades que se iam matando aos poucos.

Primeiro a sopa do cozido como mandam as regras, depois o cozido propriamente dito. E lá vinha o respectivo arroz a acompanhar. Mas aí, quanto ao arroz, farto de tanta “vianda” da Guiné, disse que dispensava bem o arroz. Mas a minha mãe, com as palavras que só as mães saber dirigir aos filhos, lá me convenceu a provar o arroz e, de facto, estava tão bom que fiquei de novo freguês de arroz que eu pensava nunca mais comer dada a mistela que muitas vezes éramos obrigados a comer em Bissau.

Ainda fiquei uns dois dias em Lisboa a matar saudades e só depois é que viajei até à minha terra, Alcanena, para rever os amigos e outros familiares.

Nesse longínquo dia 21 de Novembro de 1970, o Almirante Américo Tomás foi a Alcanena, mais concretamente a Minde, inaugurar o Museu Roque Gameiro, acompanhado das mais altas entidades do país, da região e do concelho e, claro, de sua esposa a D. Gertrudes.

Mas nesse dia também aconteceu a invasão de Conakry pelas Forças Armadas Portuguesas comandadas pelo Comandante Alpoim Calvão a fim de libertar alguns militares portugueses presos naquele país. Foi uma operação secreta e de surpresa que não terá obtido o êxito planeado mas mesmo assim conseguiram um dos objectivos que foi a libertação dos presos.

Foi de facto um dia muito grande o dia 21 de Novembro de 1970.
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14201: Os nossos regressos (33): Ficámos na Amura, a aguardar embarque no Uíge... Partimos para Lisboa em 30 de outubro de 1968 (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

sábado, 30 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18796: Convívios (864): VIII Encontro da CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, Bajocunda, Copa, Canjadude, 1966/68): os cinquenta anos do regresso, comemorados em 19 de maio p.p., em Abrantes (Jorge Araújo)



(1966) - Destacamento da Ponte do Rio Caium - militares da CCAÇ 1586 (Foto do camarada ex-furriel Aurélio Dinis, com a devida vénia).

Guiné > CCAÇ 1586 (1966-1968) «Os Jacarés» [Piche - Ponte Caium - Nova Lamego - Béli - Madina do Boé - Bajocunda - Copá - Canjadude]


- VIII ENCONTRO -

ALMOÇO/CONVÍVIO COMEMORATIVO DOS CINQUENTA ANOS DO REGRESSO

– Abrantes, 19 de Maio de 2018 –

[Texto do editor Jorge Araújo]


1. – INTRODUÇÃO

Os ex-combatentes da CCAÇ 1586 [Companhia de Caçadores 1586 «Os Jacarés»] reuniram-se no passado dia 19 de Maio, na cidade de Abrantes, para concretizarem mais um Encontro/Convívio entre camaradas que cumpriram o seu Serviço Militar no TO da Guiné, nos já longínquos anos de 1966/1968.

Este Encontro – o VIII consecutivo – juntou também familiares do colectivo mobilizado no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], com relevância para as duas gerações mais novas (filhos e netos), onde se recuperaram e cruzaram memórias desses tempos difíceis, de alto risco físico e psicológico, em que era obrigatório conviver com todas as incertezas, tensões e emoções produzidas por cada uma das diferentes missões que lhes foram sendo atribuídas ao longo dos cerca de vinte e dois meses de guerra.

Para além do objectivo supra, este VIII Encontro/ Convívio anual da CCAÇ 1586 tinha, ainda, um significado muito especial para todos, pois estava associado a uma efeméride: as comemorações do «cinquentenário» do regresso da Unidade à Metrópole (Lisboa), ocorrido a 15 de Maio de 1968, após cumprida a sua missão no CTIGuiné (1966-1968), conforme testemunha a imagem postada acima.

Quanto à minha participação neste Encontro, ela resultou de um convite muito sentido feito pela Comissão Organizadora, na medida em que me voluntariei para ajudar à (re)constituição da sua História, pois no volume 7.º da CECA [Comissão para o Estudo das Campanhas de África], consta que [da CCAÇ 1586] “não existe História da Unidade”.



2. – BREVE SÍNTESE HISTÓRICA DA CCAÇ 1586 NO CTIGUINÉ

A Companhia de Caçadores 1586 [CCAÇ 1586] foi formada e mobilizada no Regimento de Infantaria n.º 2 [RI 2], em Abrantes, tendo embarcado no Cais da Rocha, em Lisboa, a 30 de Julho de 1966, sábado, zarpando rumo à PU da Guiné [Bissau] a bordo do N/M “UÍGE”.

Concluída a viagem iniciada em Lisboa, que demorou seis dias, este contingente metropolitano desembarca em Bissau a 4 de Agosto de 1966, quando o conflito armado registava já três anos e meio.

É destacada para o sector do Batalhão de Caçadores 1856 [BCAÇ 1856], assumindo quatro dias depois [dia 8] a responsabilidade do subsector de Piche [Região Leste do território], substituindo dois GrComb da Companhia de Caçadores 1567 [CCAÇ 1567], e guarnecendo o Destacamento da Ponte do Rio Caium [imagem abaixo] com um GrComb, até 21 de Setembro desse ano.

A partir desta data assumiu, ainda, funções de Unidade de Intervenção na Zona de Nova Lamego, reforçando diversas localidades, nomeadamente: Nova Lamego, Béli e Madina do Boé, entre Outubro 1966 e Maio 1967.

Em 6 de Abril de 1967 foi rendida no subsector de Piche, assumindo o subsector de Bajocunda no dia seguinte [7Abr1967], rendendo a Companhia de Caçadores 1417 [CCAÇ 1417] e guarnecendo Copá com um GrComb, mantendo-se integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 1933 [BCAÇ 1933] e posteriormente do Batalhão de Caçadores 2835 [BCAÇ 2835].

Entre 28 de Outubro e 4 de Dezembro de 1967, integrou com um GrComb o sector temporário de Canjadude. Foi rendida no subsector de Bajocunda a 27 de Abril de 1968 pela Companhia de Caçadores 1683 [CCAÇ 1683], embarcando em Bissau, de regresso ao continente, a 9 de Maio de 1968, 5.ª feira, a bordo do N/M “NIASSA”, com a chegada a acontecer a 15 de Maio de 1968, 4.ª feira [vidé P18518].



3. – O PROGRAMA SOCIAL DO VIII ENCONTRO/CONVÍVIO - ABRANTES


A Comissão Organizadora deste ano esteve a cargo de uma dupla de camaradas – o Eduardo Santos, de Lisboa, e o Manuel Casimiro, de Tomar, que delinearam um programa social adequado à efeméride.

De modo a sinalizar a presença da CCAÇ 1586, em Abrantes, o Encontro iniciou-se com a concentração dos ex-combatentes – Oficiais, Sargentos e Praças – a ter lugar na Porta d’Armas do Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. De seguida, no interior do Quartel, em cerimónia plena de grande significado, o então Cmdt da CCAÇ 1586, Cap António Marouva Cera [hoje, Coronel aposentado], procedeu ao descerrar de uma placa alusiva ao acto, onde constam as datas que balizam a sua Missão Ultramarina – a da partida e a da chegada da Guiné.

Concluída a primeira parte do programa, seguiu-se a organização do cortejo automóvel até ao Restaurante «Quinta d’Oliveiras», onde decorreu o almoço. Para dar sentido ao convívio, este foi reforçado com a degustação de diferentes alimentos colocados à disposição dos presentes, combinados com alguns líquidos e muitas histórias num itinerário de episódios com mais de meio século. A ementa, que se apresenta ao lado, foi preparada para uma centena de participantes, os quais não deixaram de dar o seu contributo para aquela que foi a opinião geral: – A FESTA ESTEVE ÓPTIMA.

Por último, e antes das despedias até ao IX Encontro, a realizar em Maio de 2019, cantou-se os PARABÉNS por este aniversário “redondo”, brindando com espumante a um ano de muitas felicidades e saúde para todos, acompanhado com uma fatia do bolo.


Bolo comemorativo dos cinquenta anos do regresso da CCAÇ 1586 do CTIG, principal efeméride deste VIII Encontro – Abrantes 2018.


4. – HISTÓRICO DOS ENCONTROS

Os Encontros anuais da CCAÇ 1586 foram iniciados no ano de 2011 em Abrantes, cidade onde a Unidade foi mobilizada no Regimento de Infantaria 2 [RI 2]. Desde esse ano até ao presente estão já gravados oito eventos, organizados sempre no mês de Maio, opção fundamentada em relação à data do seu regresso à Metrópole [Lisboa].

Eis, a sequência cronológica dos encontros realizados.










Até ao próximo Encontro… até 18 de Maio de 2019.

Com um forte abraço de amizade
Jorge Araújo
14JUN2018.

[Mensagem de 17 do corrente; Caro Luís, espero que tenhas feito uma óptima viagem.

Na sequência do amável convite formulado pela Comissão Organizadora do VIII Encontro/Convívio da Companhia de Caçadores 1586 (CCAÇ 1586), que aceitei, realizado no passado dia 19 de Maio de 2018 em Abrantes, assumi a responsabilidade pela elaboração de um pequeno relatório alusivo à sua Festa, que anexo para publicação.

De referir que este Encontro anual, o VIII consecutivo, coincidiu com a comemoração do cinquentenário do regresso desta Unidade à Metrópole, depois de cumprida a sua Missão Ultramarina no CTIGuiné (1966/1968).

Aproveitei, ainda, para fazer o seu "Histórico de Encontros" já organizados.

Boa semana. 


Um abraço, 
Jorge Araújo.]
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Nota do editor:

Último poste da série > 26 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18781: Convívios (863): Encontro do pessoal da CCAÇ 2701, com homenagem ao seu Comandante, Capitão Clemente, ocorrido no passado dia 16, em Braga (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf)

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18537: O Cancioneiro da Nossa Guerra (7): "Marcha de Regresso" (Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)



Brasão da CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68). Divisa; "Os Homens Não Morrem".




Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Liga dos Combatentes > 22 de maio de 2014 > 17h30 > Sessão de lançamento do livro do nosso camarada Mário Gaspar, "Corredor da Morte", edição de autor, 2014 > Sessão presidida pelo gen ref Chito Rodrigues, presidente da direção da Liga dos Combatenrtes, com a participação ainda do psiquitra Afonso de Albuquerque (que prefaciou a obra), da prof Ermelinda Caetano, do presidente da APOIAR, Jorge Gouve

"Nesta foto, estou a autografar o livro do capitão [, hoje, advogado,  Manuel Francisco Fernandes de Mansilha,] que fala com o 1.º cabo cripto Mendes, o autor dos versos "Os Homens Não Morrem".1O ex-1.º cabo cripto António Luís Faria Mendes foi funcionário da Ordem dos Médicos na cidade do Porto."


Fotos (e legendas) : © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Marcha de Regresso


Rapazes, cantai cantigas,
Alegres e animadas,
Acabaram-se as fadigas
Das patrulhas e emboscadas.

Bravos rapazes da ZORBA,
Dispostos a trabalhar,
Sejam barcos ou colunas,
É sempre, sempre, a alinhar.

Viemos para a Guiné,
Prontos a combater,
Pica, estiva e sapa até,
Tudo soubemos fazer.

Ao partirmos com saudades…
A saudade é uma mulher,
Que tenha felicidades
Quem depois de nós vier.

CORO

Cá vai a malta da ZORBA,
Toda alegre e sorridente,
Alegria não nos falta,
Que a tristeza mata a gente.
Cá a vai a malta da ZORBA...
Corações cheios de fé,
Depois da missão cumprida,
Gadamael – Ganturé,
Situadas lá no sul,
Da província da Guiné.


Ao regressarmos a casa,
Para nós a vida muda,
O cântaro perde a asa,
Nós ganhamos a peluda.

Já vai chegando o momento
De à Guiné dizer adeus,
De acabar o sofrimento,
Voltar a abraçar os meus.

Mais de vinte meses é vitória,
A ZORBA é das primeiras
E vai constar da história
Lá no RAC, em Oeiras.

A ZORBA cumpriu o seu dever
E seu nome deixou gravado,
Nunca a iremos esquecer,
Honra ser-se seu soldado.

(Recolha de Mário Gaspar, ex-fur mil at art, MA, CART 1659, "Zorba", Gadamael e Ganturé, 1967/ 68)

[Revisão / fixação de texto: MG / LG]


Mensagem, de 17 do corrente, de Mário Gaspar

Luís,

Tenho imensos textos da minha autoria, escritos após o regresso, principalmente aqueles que publiquei no meu livro “O Corredor da Morte” [edição de autor, 2014]. No mesmo livro também constam versos que escrevi em Gadamael Porto para um grande amigo (nalguns casos possuo os aerogramas e cartas). Estes versos possuem a curiosidade de estarem virgens – publiquei-os sem os rever – transmitem o meu estado de espírito da altura.

Ainda existem os versos da autoria da prima da minha falecida mãe, de nome Piedade, que a mesma ofereceu, feitos numa Gráfica Tipografia,  aos convidados (amigos e familiares) no dia do meu regresso a casa, na festa que os meus pais organizaram.

Também os versos da “Marcha do Regresso” da “ZORBA”, que agora junto, Estes foram escritos por vários autores.

Os versos recolhidos no almoço, de 2015, da CART 1659, ZORBA,  “Os Homens não Morrem”, são de António Luís Faria Mendes,  ex-1.º Cabo Operador Cripto, que não esteve nessee  almoço de confraternização.(*)

Julgo não teres dúvidas. Como disse inicialmente,  escrevi muitos versos posteriormente à chegada. Alguns, nunca os publiquei, outros foram lidos em tertúlias de poesia, onde esteve a minha grande amiga Felismina Mealha, membro da nossa Tabanca Grande, tendo ela lido alguns.

Envio, talvez o principal. Como disse,  escrevi já após o regresso da Guiné alguns versos - denomino-os como "POÉSIAS". Possuem o inconveniente de serem longos. Se tiveres dúvidas diz.

Um abraço, Mário Vitorino Gaspar

PS - Lá em Gadamael, criámos  um conjunto musical denominado “Os Caveiras” cujos instrumentos tinham a particularidade de serem feitos com chapa de bidão, peles de cabra de mato, marmitas, colheres, etc. e quase sempre animou os almoços de confraternização realizados mensalmente entre todo o pessoal da Companhia.

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quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18117: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte IV: Bissau, ponte-cais, 4 de agosto de 1969, no regresso a casa.. O fotógrafo estava lá em cima, no N/M Uíge, a ver chegar as lanchas LDG, LDM e LDP, carregadas de tropas vindas do interior e que encostaram ao navio... Vinha tudo ao molhe e fé em Deus!


Foto nº 502


Foto nº 502 A


Foto nº 502 B


Foto nº 507


Foto nº 507 A


Foto nº 505


Foto nº 505 A


Foto nº 505 B


Foto nº 505 C



Foto nº 505 D



Foto nº 505 E


Guiné > Bissau > 4 de agosto de 1969 > Zona portuária > Fotos, tiradas do T/T Uíge, na viagem de regresso.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar_ Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. Continuação da publicação de um conjunto de fotos, selecionadas, do álbum do nosso camarada Vírgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingoa, 1967/69)

Tenho uma série destas fotos... É o dia 4 de Agosto de 1969, o dia da saída da Guiné. Eu tinha passado a noite anterior no Uige, e por isso de manhã cedo est

Tive a sorte de ver algumas e assim fotografei a chegada, o içar da carga para o barco, um momento inesquecível, e como foi tirada com os "slides", só foram revelados em Agosto e iam para França, e assim ficaram quase 50 anos. 

Nunca ninguém do BCAÇ 1933 e BCAÇ 1932 e outras Companhias e Pelotões, as viu, muitos poderão agora recordar a sua chegada em 4 de Agosto e entrada para o Uige, naquelas condições degradantes. 

Esta série de fotos que tenho da chegada das lanchas a encostarem ao Uige e depois a serem içadas, são realmente uma questão de sorte, eu estar no sitio certo à hora certa. Nenhum dos protagonistas, éramos cerca de 700 militares, conhece estas fotos, muitos vão rever-se nelas, um dia que as possam ver. 

Mandarei mais, pois acho que são momentos inesquecíveis, independentemente da força da imagem em si mesma.

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18109: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte III: Foto tirada do T/T Uíge, no nosso regresso, em 4/8/1969: vê-se o T/T Rita Maria atracado na ponte-cais de Bissau, e uma lancha da marinha que nos veio trazer o último militar a embarcar.