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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3416: Album fotográfico de Santos Oliveira (2): Tite, Tempestade tropical

1. Dando continuidade ao Álbum fotográfico do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, apresentamos estas fotos com o título Tempestade tropical, tiradas em Tite, numa noite do mês de Junho do longínquo ano de 1965.

Todos nos lembramos de quanto eram bonitas e medonhas estas tempestades acompanhadas de violentas trovoadas. Quantas vezes os relâmapagos foram a única luz que tínhamos para nos ajudar nas progressões nocturnas. As fotos não precisam de legendas, mas os nossos camaradas podem comentar, relatando as suas impressões e emoções ao passarem por situações parecidas. CV










Fotos: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados


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Nota de CV

Vd. primeiro poste da série de 15 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3318: Album fotográfico de Santos Oliveira (1): Tite

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3365: O meu baptismo de fogo (18): Cufar Nalu, 15 Maio de 1965 (Mário Fitas, CCaç 763, Cufar)

O meu baptismo de fogo
Mário Fitas
ex-Fur Mil
CCaç 763, Cufar, 1965/66

Um tema aliciante, que em termos psicológicos daria um óptimo estudo. Não só as reacções individuais, mas também aquelas que por vezes se tornavam em cadeia e que geravam situações dignas de um estudo aprofundado por técnicos na matéria.

Baseado na História da CCaç 763 e no meu livro Putos, Gândulos e Guerra, aí envio o meu testemunho, com descrições preparatórias, que julguei convenientes.

A 2 de Março de 1965, quando o 2º Gr Comb da CCaç 763 aporta ao cais de Cufar, no Rio Manterunga, afluente do Cumbijã, as Forças do PAIGC controlavam totalmente o sector, dispondo de um forte acampamento na Mata de Cufar Nalu, a mil e quinhentos metros do aquartelamento de Cufar, onde íamos render a CCav 703, que se encontrava acantonada em abrigos cavados no chão, - cuja temperatura mínima era atingida de madrugada nunca baixando dos trinta graus - ligados por trincheiras, em volta da antiga fábrica de descasque de arroz do madeirense Sr. Camacho.

Abrigos em Cufar. Da esquerda para a direita: Fur Mil Trms Tomás Afonso, Fur Mil Bernardino Pinto, Fur Mil Op Esp Mário Fitas
Fotos (e legendas): © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.


Só em Maio, que será para mim o verdadeiro Baptismo de Fogo, e que à frente descreverei, descobrimos como as Forças do PAIGC, descendo a mata, chegavam à ponta do Manterunga e aí faziam a sua carreira de tiro sobre as Nossas Forças com metralhadoras pesadas e armas ligeiras, precisamente às horas das refeições e quando o corneteiro tocava ao içar da Bandeira. Não dava resultado responder com armas ligeiras. Eles só se calavam, quando o Fernando Santos Oliveira (1) punha a sua malta a bater a zona com os seus morteiros 81.

Mário Fitas na psico e controlo das populações das tabancas a Sul.


O PAIGC controlava as Tabancas a sul de Cufar. A acção subversiva na zona já tinha atingido a fase de criação de Bases e Forças Regulares. Prolongamento do corredor de Guileje, eram comandantes e responsáveis pela Zona 11 João Bernardo Vieira Nino e Joãozinho Guade, encontrando-se este comando na Base Central, entre os rios Cacine e Cumbijã no Cafal Cantanhez.

A 18 de Março, com a chegada do Comando a Cufar a CCaç 763 assume definitivamente a responsabilidade do sector. Recebendo como reforço 2 A/M Daimler, 1 Pelotão de Sapadores, a Secção de morteiros 81 do Fernando Santos Oliveira e 10 guias nativos da Companhia Milícia nº 13, do João Bacar Jaló, Alferes de 2ª. Linha, impôs-se a necessidade do alargamento do aquartelamento, abrangendo toda a antiga quinta incluindo a área residencial.

A par desta actividade, há uma preocupação essencial, de combate à guerrilha: reconquistar as populações a sul, através de uma acção psicossocial avançada.
A preparação operacional continua. Verifica-se um estudo mútuo das forças no terreno, alguns contactos, mas sem significado, como disse, essencialmente de estudo.

A 2 de Abril, a CCaç 763, procura o contacto directo, entrando na Mata de Cufar Nalu e instalando–se emboscada até às 14HOO, sem contacto.


Entrada da mata de Cufar Nalu.

Sabíamos as técnicas e as formas como as forças do PAIGC funcionavam e revelavam na zona. Em Fevereiro, os Comandos tinham andado em Cufar Nalu, e o PAIGC não se tinha revelado. Era necessário conhecer a forma como eles se revelariam.

Continuam os reconhecimentos, batidas, patrulhamentos e golpes de mão nas Tabancas a sul e rios Manterunga e Cumbijã. Mas eles estão lá, nós sabemos que o acampamento de Cufar Nalu é de grande importância para o PAIGC manter a zona de Cabolol e o seguimento do Corredor de Guiledge sem ser molestado.

Começámos a aprisionar os controleiros e controleiras das Tabancas de Iusse, Impungueda, Mato Farroba e Cantone. Agora sim, temos condições para avançar para Cufar Nalu. E agora sim, também será o meu Baptismo de Fogo a sério.

Já tinha feito muito fogo em Lamego, alguns tiritos aqui à volta, mas agora vamos lá e é a sério. Fica registada como a Operação Razia.

A 15 de Maio de 1965 ao romper da madrugada, o 3º Gr Comb em primeiro escalão, com o 2º em segundo escalão, inicia-se uma batida tendo como eixo o caminho que dava acesso da orla à antiga Tabanca de Cufar Nalu.

Ouvem-se vozes na mata. A CCaç pára, em silêncio absoluto. Momentaneamente começa um tiroteio ensurdecedor. Um grupo de reconhecimento do PAIGC foi detectado!

A minha primeira reacção foi deitar e orientar a secção, conforme os acontecimentos. Tudo muito bonito! Só que o meu corpo deitado dava saltos de meio metro de altura.
Não conseguia deitar-me, tinha de estar de pé e tentar ver tudo. Perigoso! Mas era a reacção incontrolável do corpo.

Sofro aqui a maior decepção como comandante de uma secção de homens, que a seguir narrarei.

Continuando a progressão, abatemos um elemento do PAIGC, sendo capturada uma PM 9mm M-25 com carregador e munições.

A partir deste momento, o contacto foi intenso e permanente até às proximidades do acampamento que se deu pelo meio da tarde. Derivado da fortíssima resistência, foi pedido apoio da Força Aérea e da Artilharia.

Agora, sim, com os rebentamentos dos obuses e roquetes parece estarmos envolvidos por enorme tornado com o estrondo dos rebentamentos por cima dos altos poilões. Apercebemo-nos que o efeito prático será mais psíquico do que físico.

Estamos a cem metros do acampamento, e a sua situação está bem definida. Como acontece em África, começa a escurecer, e a noite cairá rapidamente. Ordens para ocupar posições, e evitar o assalto de noite. Mas já nos apercebemos bem da fortaleza que temos pela frente. Mando o Maçarico preparar um local para os dois passarmos a noite, junto a um poilão que teria aproximadamente quatro metros de diâmetro e vou posicionar o restante pessoal, ao regressar o Maçarico olha para mim apavorado e diz-me:
- Meu furriel esta árvore está bichosa!

Nem um obus rebentaria aquela fortaleza e, durante o resto da comissão, o Maçarico foi gozado com a árvore bichosa.

Como irá ser o assalto? De madrugada, com a primeira claridade é dada a ordem de assalto.
Diabólico!

Não sei como aconteceu, uma companhia inteira a gritar e a avançar, fazendo rajadas e lançando granadas defensivas, o pessoal das bazucas esgaçava os altos poilões. Entramos dentro do acampamento. Desilusão!

Durante a noite o pessoal do PAIGC tinha-se escapulido. O barulho que durante a noite ouvíramos não era a reorganização, nem a chegada de reforços, era o abandono do acampamento, levando o que podiam. Destruído e recuperado o material abandonado, esperámos pela chegada de um grupo de combate da 4ª Companhia (4ªCompanhia de Caçadores Nativos de Bedanda) que ficou emboscado no acampamento até ao dia seguinte para não haver reocupação.

Descemos pelo lado onde tinha sido efectuada a fuga do pessoal do PAIGC e onde se verificou a força, a vontade e a forma como seria bastante difícil chegar àquele acampamento. O carreiro era um labirinto em zigzag onde se poderia ver a aproximação de qualquer pessoa sem sermos vistos. Notavam-se os rodados de mais de uma metralhadora pesada. Roupa e material de enfermagem ensanguentada abandonada, mas nem um único corpo. Nisso eles eram extraordinários, não deixavam ninguém para trás.

O carreiro no fim da mata de Cufar Nalu divergia para a orla desta mata junto ao rio Manterunga de onde era feita a carreira de tiro e para a mata de Cmaiupa/Afiá.

Não recordo as vezes que voltei a passar por aquele acampamento, até Novembro de 1966, mas nunca mais vimos indícios do PAIGC, parece ter ficado assombrado aquele acampamento.

Estava o Baptismo de Fogo a sério efectuado.

Tomaram parte nesta operação de apoio à CCaç 763 a 728 e a 764.



2º. Grupo de combate da CCaç 763. O Mário Fitas é o 1º da esquerda.

a) Desilusão do comportamento de alguns homens da minha secção. Como era de Operações Especiais, tinham ido parar à secção os problemáticos e valentões dentro do arame farpado. Só que cá fora no duro, tudo mudou:

(i) O Velhinho, refractário com trinta e poucos anos já, gordo suando gordura por todos os poros, nem para a frente nem para trás, foi parar à cozinha por troca com o Orlando;

(ii) O homem da bazuca ficou, mas tinha de ser seguro até acalmar, pois sempre que havia tiroteio, atirava com o cano para o lado e fugia para a frente ou para trás, um perigo. Depois de calmo metia uma granada de bazuca no raminho que lhe indicasse;

(iii) O Matacanha, vindo do Forte da Graça em Elvas, por utilização de arma branca que ficava estático como o Velhinho, foi para padeiro e veio o Amadu Baldé do recrutamento da província;

(iv) O Vendedor de jornais, ali do Chile, o terror dos sete mares dentro do Aquartelamento, atirou com a G3 para o lado e tentou esconder-se debaixo dos camaradas. Começou a andar sempre bêbedo e agora a ser espancado por todos. Foi evacuado para o Júlio de Matos. Foi substituído pelo Mamadu do recrutamento da Província;

(v) O Maçarico ficou, mas para ser utilizado como carregador, derivado do forte físico.

(vi) Os restantes eram bons, e ajudaram-me muito. Vieram todos, o Ferreira que nas emboscadas fazia uma fita da MG-42 de pé em tiro instintivo, veio mais cedo com uma hepatite, fez falta.

Mário Fitas

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Notas de vb:

1. Fernando Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66.

2. artigos da série em

24 de Outubro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3352: O meu baptismo de fogo (17): Morés, 8 Agosto de 1972 (Amílcar Mendes, 38ª CCmds)

sábado, 18 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3332: O meu baptismo de fogo (13): Tite, 1964 (Santos Oliveira)


1. Mensagem de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66 (*), com data de 16 de Outubro de 2008, com a sua contribuição para a série O meu baptismo de fogo:

Vinhal

Não sei se o meu ou os meus baptismos de fogo interessarão a alguém. Estão encadeados noutros episódios e isso (ainda bem) parece ter diminuído todo o impacto que a cada um de nós causou (ou causava).

Se bem te parecer não tenhas qualquer relutância em fazeres censura. Eu entendo. Talvez por isso não tenha escrito nada.
Não estou distraído com o Blogue nem com o que por lá se vai passando. Quando tiver de intervir, bem sabes que o farei.

Um abraço a esse nosso Mundo
Santos Oliveira

PS: Depois dá uma qualquer dica sobre o que se te oferecer dizer

2. Comentário de CV

Peço ao Santos Oliveira e a todos os camaradas que não usem a palavra censura. É ofensiva a quem, por carolice, mantém o Blogue activo, dando voz a quem talvez não tenha outro meio para poder trasvazar os seus recalcamentos, desabafar e criar amizade com aqueles que sentiram os mesmos problemas, que melhor os compreendem, os seus camaradas.

Volto a repetir o que tantas vezes já disse. Se não dermos seguimento a alguma mensagem portadora de textos ou fotos para publicação, mandem outras de protesto, de lembrança, mas não nos acusem de censura. O que não publicarmos não é por motivo de censura, mas por esquecimento ou incompetência.

OBS:-Sublinhados da responsabilidade do co-editor


3. O meu baptismo de fogo
por Santos Oliveira

Se der para sorrir, já é um grande serviço prestado à nossa Comunidade de Veteranos.

Cheguei a Bissau a Bordo do N/M Manuel Alfredo, no dia 19 de Setembro de 1964.
Após a transmissão de poderes de Comando das mais de 60 Praças (como eu, em Rendição Individual), lá fui encaminhado, com o meu assessor, Fur Mil At Infª Carlos A.S. Costa Brito (Pel Ind Caç 956) paro o QG, a fim de fazer as Apresentações da praxe.



Próximo, como foi, da hora de jantar, lá me apressei, com as condicionantes ridículas de ainda não poder ser contemplado com o devido repasto. Depois de algumas fricções lá tive direito à minha refeição de... muitas espinhas e pouco bacalhau.
Novo problema surgiu quando me foi comunicado que só pelas 6 horas da manhã do dia imediato é que teria maré e barco, para me levar na travessia do Geba, até ao Enxudé (mais ou menos 14 Km).

Do mesmo modo também não havia alojamento para nos receber por uma noite.
Puxa para aqui, puxa para ali e lá nos foi disponibilizado um colchão para que pudéssemos encostar a um qualquer canto. Isto demorou imenso e a noite já começava a ser longa.

O primeiro ataque, o grande ataque, foi dos mosquitos, que nos mantinha, obrigatoriamente alerta; é que nem dava para se ter a cabeça debaixo do lençol, pelo calor e pela inabituação climática.

Eis que se começam o ouvir os primeiros rebentamentos e tiros isolados, depois umas quantas rajadas, toda a gente a correr numa desordem mais que caótica, mais uns rebentamentos e... o silêncio.

Parece que os Camaradas do BCAÇ 600, ou da Companhia que lá estava (agora não recordo) já estavam habituados a estas recriações.
No final, quase na hora de ter que vir para o barco, fiquei a saber que as Tropas Nativas levavam para a Tabanca as suas armas e munições e o Copilão não era um local muito sossegado pela noite.

E estive eu a interrogar-me que se o IN era assim no QG e em Bissau, como seria quando chegasse ao Mato?

Lá embarquei para Tite, cheguei ao Enxudé e logo tive contacto com os que seriam os meus Companheiros do Pel Mort 912 que aí estavam em Destacamento; mas havia que fazer as formalidades de apresentação ao CMDT do BCAÇ 237/599, Ten Cor Hipólito e Maj D Gama. Para isso teria que aguardar a coluna que, diariamente, fazia aquela ligação.

Tite > Na foto, a messe de Sargentos reporta a 1964, ainda com o BCAÇ 599.

Apresentado em Tite, logo se me deparou o mesmo improviso tanto na alimentação como no alojamento. Desta feita, nem tive direito a um colchão, mas a uma maca de enfermaria.

Lembro-me que me valeram os Fur Mils Miguel Silva e José Manuel Concha, ao improvisarem um mosquiteiro para que não fosse mais comido por esses malfadados amigos picadores e zumbidores.

Quando, finalmente tudo parecia ir dar uma boa noite de sono, o IN fez a rebentar, a festa do costume.

Lembro ter dito ao Miguel:

- O que fazemos, pá? Eu nem tenho arma distribuída!

Ele disse para o seguir e ficar próximo.

Lá corremos para trás dos bidões cheios de terra até tudo terminar.
Ou não tive medo ou não tive consciência da gravidade do que se passava.
Mas foi extremamente útil para mim ver que a impreparação militar e psicológica das NT e, isso, eu teria de corrigir. Até se me tornou muito positivo.

Tite > Foi por trás destes Bidões que me fiquei com o Miguel.

Fotos: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados.


E foi assim que entendo ter sido um (ou dois?) baptismo de fogo, onde outros factos mais marcantes, apagaram toda a expectativa desse momento solene.
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Nota de CV:

Vd. poste de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3318: Album fotográfico de Santos Oliveira (1): Tite

1. Damos início à série Álbum fotográfico de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66, com umas fotos de Tite.


Guiné > Tite > Julho de 1965 > Santos Oliveira passeando na tabanca

Guiné > Tite > Julho de 1965 > Uma DO27 (Dornier) na pista de reabastecimento.

Guiné > Tite > Julho de 1965 > Santos Oliveira no alto do Bagabaga.

Guiné > Tite > Julho de 1965 > Santos Oliveira

Guiné > Tite > Julho de 1965 > Lavadeiras

Guiné > Tite > Agosto/Setembro de 1965 > Caçada

Guiné > Tite > Agosto/Setembro de 1965 > Santos Oliveira no banho

domingo, 21 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3222: Convívios (84): Pessoal dos BCAÇ 237 e 599, Pel Mort 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807 (Santos Oliveira)

1. Mensagem, com data de 17 de Setembro de 2008, do nosso camarada Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66, dando conta do Convívio dos BCAÇ 237 e 599, Pel Mort 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807, no dia 6 de Setembro de 2008


Convívio dos BCAÇs 237 e 599, Pel Mort 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807, comemorando o 43.º aniversário do regresso.

Camaradas

Como foi anunciado através do Post P3107: Convívios, no passado dia 6 de Setembro, foi realizado, em Espinho, o Almoço/Convívio dos BCAÇ’s 237 e 599 e respectivas Sub-Unidades, Pel Mort 912, Pel Caç955 e Pel AM Daimler 807, comemorando o 43.º aniversário do regresso.

Infelizmente, foram imensos os camaradas ausentes, por razões que a cada um diz respeito.

Pessoalmente notei um envelhecimento no entusiasmo, que diria demasiado precoce, a infirmar as justificações apresentadas, ou o tempo que já se esvai.

A verdade é que responderam à chamada bem poucos dos que conhecemos muito activos. E dos que participaram, notória é a juventude dos setenta e... mais alguns anos, do nosso Coronel Agostinho Dias da Gama fazendo conjunto com a presença sempre fiel do Ten Médico Dr. Agostinho Furtado, que em permanência nos honram com as suas presenças.

Para a Foto de Família, apresentaram-se trinta elementos o que não é justificativo do total dos que se estiveram no Repasto; foram muitos mais.

No habitual discurso, que o nosso Cor Gama proferiu, não faltaram alusões ao verdadeiro patriotismo e aos valores por que se regia a juventude do nosso tempo.

Foi-nos facultado um artigo que havia sido inserto num dos últimos números do GUIÃO, Jornal do Núcleo de Coimbra da Liga dos Combatentes e que não posso deixar de apresentar, pela sua oportunidade e actualidade

O Cor Dias da Gama em plena Oração. Ao fundo o Agostinho Carneiro (organizador do Evento). Meditativo o nosso Doutor Furtado.

Eu próprio, o Cor Gama (meu Director de Instrução, em Mafra, depois 2.º CMDT do BCAÇ 599, Unidade a que estive Adido) e o Manuel Pinto, meu Soldado e companheiro do Pel Mort 912

Um aspecto parcial da Sala de Repasto.

Finalmente, cabe-me referir que para o ano há mais, embora a extinção do CONDOR, seja um caminho a considerar. (Com dor aqui, com dor ali…)

Abraço, do
Santos Oliveira

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2008). Direitos reservados

sábado, 2 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3107: Convívios (78): BCAÇs 237 e 599, Pel Mort 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807, dia 6 de Setembro de 2008, Espinho (S. Oliveira)

1. Em 29 de Julho de 2008, em troca de correspondência entre o nosso camarada Santos Oliveira, (ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite, 1964/66) e Joaquim Dias que procurava companheiros de seu pai, constava este convite que passamos a divulgar.

Almoço/Convívio dos BCAÇ 237 e 599, Pelotão Morteiros 912, Pel Caç 955 e Pel AM Daimler 807, a realizar no dia 6 de Setembro de 2008 em S. Martinho de Anta, Espinho.

Espinho, 24 de Julho de 2008

A exemplo dos anos anteriores, mais uma vez iremos realizar o nosso Almoço Convívio, comemorando o 43.º aniversário da nossa chegada da Guiné.

Como até à presente data, ninguém de disponibilizou para o fazer, decidi avançar mais uma vez, para que não se disperse o que custou a juntar. De acordo com algumas informações recolhidas, chegamos à conclusão que a data mais própria seria o primeiro sábado de Setembro pelo que passamos a apresentar o seguinte programa:

Dia 6 de Setembro pelas 10,30h, concentração no Largo do Souto, junto à Igreja Matriz de S. Martinho de Anta, onde estaremos até cerca das 12,30h. De seguida partiremos para o Almoço que será a escassas centenas de metros, nas instalações do Campo de Tiro do Club de Caçadores da Costa Verde e próximo da Nave Desportiva Polivalente.

A ementa será dentro do habitual com uma ligeira alteração que penso para melhor.

O preço será de 30€.

Agradeço a confirmação das presenças até 25/08 para:

- Agostinho Rocha Carneiro
Travessa do Pelourinho, 28
Anta
4500-114 Espinho
Telem 914 421 071
ou
Manuel Paiva
telefones: 938 526 228 e 220 808 693

Se és verdadeiramente caçador e se estás com a pontaria desafinada, traz a arma, não hesites que terás ocasião de a afinar e com esta idade e a pontaria afinada, não há caça que nos escape.

Espero ser merecedor da tua presença, vem, conto contigo cá, estarei para te receber e fazer o possível para que Espinho te entre no coração.

Com um abraço e um até sempre, fica a aguardar as vossas confirmações o companheiro e amigo de armas

Agostinho da Rocha Carneiro

A vida passa depressa
Todos nós bem o sabemos
Lutar para a prolongar
É um dever que todos temos

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3021: Os nossos regressos (6): Regressei a olhar para trás... (Santos Oliveira)

Tenho alguma dificuldade em dar um contributo que tenha algum interesse de divulgação. Foram momentos estendidos pelo tempo, que se amalgamam em contraditórias alegrias e profundas desilusões.
Não entendo que possuam estatuto de serem publicados. Entretanto assim se passou.



O meu regresso não foi interessante nem romântico


Fui mobilizado no regime de rendição individual, com destino ao Pel de Morteiros 912.

Oito dias no N/M Manuel Alfredo, a magicar sobre a Guerra que ainda não conhecia e levando sob Comando noventa praças que foram distribuídas por Cabo Verde e a maioria para Bissau.


Não fui abrangido no tempo de regresso conjunto, por um escasso mês (o Pelotão regressou aos 22meses), pelo que fiquei órfão dos meus Camaradas.

O Cmdt do BCaç. 1860, Ten.Cor. Costa Almeida, tudo fez para que continuasse sob as suas Ordens no Bat. que Comandava em Tite. Porém o CEM entendia que já tinha decorrido demasiado tempo de permanência pela Ilha do Como, por Cufar e Tite (Zonas de intervenção activas), pelo que havia que me dar descanso.
Sinceramente, era-me penalizante ter tempo para pensar no Passado, Presente e desconhecer o Futuro.
Fiquei em Bissau, a aguardar e a "construir" o tempo de embarque. Uma verdadeira "seca". A ansiedade matava-me lentamente. Sem acção militar e sem mais nada para fazer, Bissau foi um tormento, ou um pesadelo…

Como as Rendições individuais normalmente se prolongavam no tempo em mais 4 a 6 meses (aos 28 a 30 meses), requeri o meu regresso na data do final de Comissão (24 meses) sendo a viagem paga a minhas expensas. Deste modo, obtive a aprovação e fui "corrido" do alojamento por conta do Estado.
Regressei, extremamente ansioso e, recordo-me, sempre a olhar para trás. Não se me afigurava a minha partida como real.


Com o Sr. Taufic Saad no avião para Lisboa

No mesmo avião um velho conhecido, o Senhor Taufik Saad, que tentou, insistentemente (sem sucesso), que aceitasse o seu convite que me formulara tempos antes, para reconstituir e dirigir a sua equipa de Segurança Pessoal que tinha no Líbano. Apenas queria o meu "método de organização", que nem sequer precisava de me expor, etc, etc. O vencimento era mesmo tentador, mas não pude e nem queria aceitar porque, alegava, estava cheio da Guerra, não tinha aceite as condições do Exército, mesmo com as benesses que oferecia (eram também do seu conhecimento) e a minha Família me aguardava para constituir um Lar.
Lá se ficou no Aeroporto de Lisboa com a oportunidade de emprego. Nunca mais soube dele e tenho imensa pena.

Promovido no DGA

Apresentado no DGA, fui conduzido ao Oficial de Dia, um Tenente, que, com a minha Guia de Marcha na mão e para meu espanto me interpelou deste modo:

- O nosso Sargento não acha que tem as divisas ao contrário?. Mesmo em sentido (que já não fazia sentido nenhum) não resisti a olhar para os ombros. Que não, as Divisas (de Furriel) estavam correctamente colocadas, disse. Ele, muito sério, ordenou que o seguisse. Atravessámos a parada na diagonal, ele abriu uma porta, entrou (era tudo escuro, muito escuro) e mandou que eu também entrasse e…fez-se luz conjuntamente com um grande grito de Parabéns, colectivo, de camaradas, Oficiais e Sargentos.

Chorei como um velho, mas tive uma festa única, em todo o tempo de tropa, também por não ter que pagar nada. Impuseram-me uma nova Boina Preta já com o Emblema Ranger (a que usava tinha o de Artª) e umas divisas igualmente novas correspondentes ao meu fardamento (fundo preto).

Recordo-me que recebi esta honra das mãos dum Sarg Ajudante, por ser o mais velho na idade, segundo os oficiais presentes. Ali mesmo fui informado da minha promoção no CTIG, um mês antes (que desconhecia por completo), mas que os papéis e a OS (Ordem de Serviço) não estavam de acordo. Fiquei perplexo.
Só que, por isso, teria de ficar pelo DGA até à resolução do problema.
Uns dias depois, nada resolvido, fui chamado ao Cmdt e informado do pagamento de 8 dias de Sargento acrescidos do diferencial de um mês do que deveria ter auferido no CTIG.
…Dinheirito saboroso!...

Fiquei expectante e a minha preocupação aumentou com a informação de que para não se criarem outros problemas, a Guia de Marcha do CTIG (que indicava Furriel Miliciano) seria a que apresentaria na GNR cá da Terra.
O que queria era vir embora e assim se fez.

O meu regresso não foi interessante nem romântico… mas a Vida continua até aqui e agora.

A todos, o abraço, do

Santos Oliveira
__________

Adaptação e substítulos: vb

(1) Fernando Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf.ª, Como, Cufar e Tite, 1964/66

(2) Artigos relacionados de:





sábado, 16 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2542: Em busca de... (20): Camaradas da CCAÇ 1487 (José Jerónimo)

José Jerónimo
ex-Alf Mil
CCAÇ 1487
Fulacunda
1965/67

1. Aqui ficam, para leitura atenta, diversas trocas de correspondência a propósito do pedido do nosso camarada José Jerónimo para encontrar camaradas seus da CCAÇ 1487.

Mais uma vez ficou demonstrado o espírito de camaradagem, (à moda antiga) que ainda perdura entre nós.
Desta vez a estrela foi o Santos Oliveira que levou a peito ajudar José Jerónimo que, por se encontrar no Brasil há 27 anos, perdeu o contacto com os seus antigos companheiros.

Esta ajuda do Oliveira ao Jerónimo, provocou uma reacção nunca vista, acho eu, até hoje, que foi um Oficial bater pala a um Sargento.

Esta homenagem, simbólica e não atentatória ao RDM, reforça a ideia de que nesta altura, a camaradagem é aquilo que perdura e une os ex-combatentes da Guiné.
C.V.

2. Em 26 de Janeiro de 2008, José Jerónimo dirigia-se a Luís Graça

O meu nome é José Amadeu de Jesus Jerónimo.
Fui Alf Mil da CCAÇ 1487, comandada pelo (naquele momento) Capitão Alberto Fernão de Magalhães Osório.

Comigo estiveram o Alf Mil Marques Lobato, Alf Mil Freitas Soares e Alf Mil Castro.

Pertencemos ao RI 15 - Tomar e estivemos em Fulacunda.
Actuamos como Companhia de Intervenção do Batalhão de Tite e várias vezes com a Companhia do Cap Fabião (Tite) e Companhia de Comandos do Cap Leandro (que nos comandava nas férias do Cap Osório).

Vivo no Brasil há 27 anos e perdi todos os contactos.
Gostaria de voltar ao contacto, pelo menos com os alferes meus colegas e sargentos, já que o Osório morreu na sua outra comissão com General Spinola (1).

Você pode ajudar?
Também posso colaborar no seu Blog com depoimentos sobre momentos vividos naquele tempo.
Façamos a nossa história

Meu contacto:
josama@uol.com.br
Tel. móvel; 00 55 11 8432 9647

Abraço,
José Jerónimo

3. Em 26 de Janeiro, CV enviava uma mensagem à Tertúlia no sentido de se encontrar alguém que pudesse ajudar o nosso camarada

Caríssimos companheiros e amigos:

Mais um pedido nos chegou. Desta feita do José Jerónimo que nos lê no Brasil, onde está há 27 anos.

Perdeu o contacto com os seus camaradas da CCAÇ 1487, onde esteve como Alf Mil.
Pergunta da ordem. Quem pode ajudar este nosso camarada?

Eu já fui à Pagina do nosso amigo Jorge Santos na espectativa de encontrar por lá alguém da CCAÇ 1487 a pedir contactos, mas infelizmente não há lá nenhum pedido.

Se alguém tiver uma dica para ajudar este nosso amigo, por favor informem-no directamente ou por nosso intermédio.

Desde já muito obrigado.
Um abraço e bom domingo para todos.
Carlos Vinhal

4. Os efeitos não se fizeram esperar e em 27 de Janeiro, o nosso Sarg Mil Santos Oliveira entrava em contacto com o José Jerónimo.

José Jerónimo:
Estou a envidar esforços para te poder ajudar.
Vou continuar a tentar, agora, junto de Companheiros da CCAÇ 797 do Carlos Fabião.

Seguem nomes idênticos aos que referes, mas faltam os nomes próprios e, isso, só tu podes decifrar.

Do Alf Castro, apenas com esta referência nominal, teríamos uma enciclopédia.
Se conseguires alguns elementos identificativos mais precisos, por exemplo, dos sargentos ou furriéis, podes ajudar-te imenso.
Por agora, o que consegui saber:
[...]
Paz à alma deste valoroso filho da Nação Portuguesa, cujo local de sepultura se indica a seguir:

- Major de Infantaria N.º 50972511, do Comando de Agrupamento Operacional / CTIG, Alberto Fernão Magalhães Osório: Cemitério Paroquial do Baraçal, Celorico da Beira [...]

De possibilidades de serem quem procuras, vê se é um destes nomes (*):

[...] Podes contar comigo

Um fraterno abraço, do

Santos Oliveira
Sarg Mil Armas Pesadas
Do Extinto Pel Ind Morteiros 912

5. Em 28 de Janeiro, José Jerónimo dirigia-se assim a Santos Oliveira

Santos Oliveira,

Muito obrigado também pela tua ajuda.
Vamos a ver no que eu posso ajudar também, depois das muitas andanças pelo Mundo, em que fui perdendo documentos que agora nos poderiam auxiliar.
A memória, depois de todos estes anos por longes terras, também não está tão clara quanto eu gostaria.
Mesmo assim lá vai o meu primeiro contributo, para ver se começamos por alguma ponta do fio para desenrolar o novelo, até que a minha memória comece a ficar um pouco mais clara.
Estou copiando o Briote, o Luis Graça, o Henrique Matos e o Henrique Cabral, porque também eles me estão ajudando.
Talvez em conjunto consigamos.

Estive em Tite com o (naquele momento) Major Jasmim de Freitas (2.° Comandante do Batalhão de Tite e antigo Comandante do meu Curso de Oficiais em Mafra).

1 - Informações sobre o Ten Cor Alberto Magalhães Osório, estão de acordo com o que sei.

2 - Quanto ao António F Freitas Soares - [...] estou quase certo que seja este.
Um dos furriéis do seu Grupo se chama Moniz e o Sargento Costa

3 - Quanto ao Alf Mil Marques Lobato. Estou quase certo que se chama José Marques Lobato e vivia em Penafiel em 1964 (filho de um Major do Exército)

4 - Quanto ao Alf Mil Castro. Não lembro se o nome era Sousa e Castro (é de Vila Nova de Famalicão)

5 - Furriéis do meu Grupo: Murça (acho que de Vila Nova de Famalicão) e Freire (Golegã

6 - Actuei inicialmente como Companhia de Intervenção no Batalhão de Bissau, actuando nesse curto espaço de tempo, pelo menos, em Mansabá e Mansoa.
Depois de chegar a Fulacunda actuei várias vezes em Gã Pedro, Gã Chiquinho, Braia, Tite, Louvado e Bila, Gandua Porto, Bária, Jufá, etc. e, na região de Jabadá, onde existia um Pelotão de Armas Pesadas de Infantaria comandado pelo Alf Mil Basílio (meu Curso em Mafra).

7 - Em Tite o (naquele momento) Major Jasmim de Freitas era o 2.° Comandante do Batalhão e antigo Comandante do meu Curso de Oficiais em Mafra).

Bom, estou certo que vamos conseguir muito mais informações e que nos encontraremos na minha próxima viagem a Portugal.
Obrigado pela ajuda.

Meu endereço actual é:
Rua Palacete das Águias, 842 - Apto. 53 Vila Sta. Catarina (ao lado do Aeroporto de Congonhas).
Codigo Postal 04635-023 São Paulo - SP - Brasil
Telemóvel: 00 55 11 8432 9647

Um grande abraço para todos
José Jerónimo

6. No mesmo dia Virgínio Briote mandava esta mensagem a Santos Oliveira

Caro Santos Oliveira,

Tenho estado a acompanhar o teu notável trabalho.
Quando penso que quem esteve no Cachil naqueles difíceis tempos, e quem o defendeu naquelas condições, bate certo, é o mesmo gajo que está a ajudar o Jerónimo a reencontrar os Camaradas, a reencontrar-se com ele próprio.

Eu sei, pelo que me lembro, que o que vou fazer não faz parte das etiquetas militares do nosso Exército. Mas tenho formação comando e nestas condições o que é bem feito deve estar acima de todas as praxes.

Deixe que lhe faça a continência, meu Caro Furriel Santos Oliveira,
vb

7. Ainda em 28 de Janeiro José Jerónimo dirigia-se a Santos Oliveira e a Virgínio Briote, assim:

Amigos,
Gostei desse fora das praxes militares sugerido pelo Briote. E também eu, saindo dessas mesmas praxes, vos faço a continência, pela ajuda que me estão dando. O que puderem fazer, é para mim muito importante. É como diz o Briote, um reencontro, pelo menos, com uma parte que estava perdida de mim mesmo.
Abraços para os dois.

J.Jerónimo


8. Santos Oliveira contactava de novo José Jerónimo

Amigo e Camarada

Tenho metade da CCAÇ 797 e da CCS do BCAÇ 1860 a procurar contactos. Passou muito tempo, não é? Também estive por Tite.

Bem, quero dizer-te que o Pelotão de Morteiros que encontraste em Jabadá, deveria ser o meu, o 912, sem uma Secção, que era a minha e que havia estado noutro lugar e noutra Missão.

O período, ou a data que lá passaste deve ter sido até Novembro de 1965.
Nesse caso, o Alferes que contigo Cursou não seria o Alf Mil Basílio, antes o Alf Mil António Fernandes O. Rodrigues [...] de Vila Nova de Gaia

Este, como tu e eu (EPI-1963) também teve por Director de Instrução o Major Jasmim de Freitas; mais tarde reencontrado como 2.º Comandante do BCAÇ 1860 em Tite.

Tenho estado a tentar ligar ao Freitas Soares (se é que é o mesmo). Vai para o Voice Mail onde deixo recado, mas que até agora, ainda não resultou.

Estou com esperanças de vir a ajudar.
Aguardemos mais um pouco.

Um abraço, do
Santos Oliveira

9. Resposta ao mail anterior de José Jerónimo

Amigo Santos Oliveira,

A minha memória parece querer clarear.
Lembrei de mais um nome. O do Sargento do Grupo do Alferes Castro de V.N.Famalicão. Se chama Sargento Gaspar (acho que era também do Minho e já tinha estado em Angola. Era o fotografo de todos nós e um militar destemido - Cruz de Guerra).

Aquele a quem eu chamo de Alferes Basilio é Indiano. Será que é ele a quem tu te referes?

Passei umas três vezes em Jabadá.
Uma, vindo de Gã Pedro (a primeira quase logo quando cheguei em Fulacunda.

Duas semanas antes tinha estado em uma Operação em ???? junto com a CCAÇ 797 . Foi quando conheci o Cap Fabião e a CCAÇ 797, que se encontrou com a nossa CCAÇ 1487 em Fulacunda, de onde saimos para a Operação)

Outra, a segunda vindo de Jufá. Nessa o Alferes Basilio (??? ou António Fernandes) com uma parte do seu Pelotão, nos esperava fora do quartel de Jabadá. Chegámos debaixo de fogo.

A terceira vez não lembro mais.

O meu cabo da bazuca, o Cerqueira, também tem uma Cruz de Guerra.

Conto contigo nesta tentativa de descoberta.

Abraços
J.Jerónimo

10. Em 29 de Janeiro, Santos Oliveira contactava Virgínio Briote com esta mensagem:

Caro Briote:

Obrigado pela tua consideração para comigo. Eu ajudo qualquer um de nós, porque um Ranger com preparação especial para ser infiltrado sozinho, é sempre um Homem solitário.

E se isso parece não me ter perturbado (pela preparação que então tive), com o passar dos anos vai-se tornando um enorme e gigantesco problema psicológico em que o pivot principal é a solidão.

Disso, creio, não me livro mais. É demasiado profundo. Portanto só resta abrir um pouco a mente e tentar ser o Eu original (sensível, atento, prestável, etc.).

Fiquei em sentido (e com as lágrimas nos olhos) com a continência que me fizeste.

Fizeste-me lembrar um episódio que se passou em Catió, em finais de 1964, quando aí me desloquei para assistência Médica mais especializada (urinava sangue, porque apenas bebia água, a qual era transportada em pipos de tinto e que a tinto sabia e cheirava).

Estava encostado ao muro da Messe de Sargentos e vejo, vindo desde o Quartel, um Militar Nativo, que, uns dez passos antes, se perfila e me faz continência, conforme os Regulamentos.

Olhei para um lado e para o outro, não vejo ninguém ali perto, correspondi à mesma e só então reparei que era um Alferes (segundo os galões que ostentava).

Hesitei, mas acabei por ganhar coragem e chamei: - Oh, meu Alferes! Por favor. Eu sou quem tem de lhe fazer continência.

Atrás de mim uma risada colectiva de vários camaradas.

-Ele não te conhece e por isso é que te fez continência.
-Porquê, perguntei.
-É que ele é Alferes de Segunda Classe.
-Segunda Classe? O que é isso? - Retruquei.
-Os nativos, quando comandam tropas, são uma espécie de Graduados, mas são sempre inferiores (esta doeu-me e ainda me dói) aos brancos.

Eu, nunca havia ouvido tal e fiquei escandalizado.

Voltei-me para o meu Alferes (de 2ª) e disse:
-Meu Alferes, quando se cruzar comigo, sou eu quem lhe deve continência. Está bem?
-Sim, meu Furrié.

Ali, fiquei a saber (o que era normal em Portugal, mas não desta forma) que havia, classificados, Portugueses de primeira e de segunda.

Foi deste modo que conheci, pessoalmente, o saudoso João Bakar Djaló, a quem, postumamente, homenageio.

Palavras para quê? Assim, já não tenho palavras.

Um enorme abraço, do
Santos Oliveira

11. E contactava também José Jerónimo

Amigo J.Jerónimo

Acabo de olhar vários mails e vou, por ordem de chegada, prestar as minhas informações e comentários.

Fico contente com o abrir da tua memória; é o que estou tentando fazer com a minha. É, seguramente, a melhor terapia, falar e ouvir os que por lá passaram e bem entendem e subentendem os nossos sentimentos, medos, frustrações, alegrias e tristezas. Por isso estou aqui e te disse: conta comigo.

O indiano Basílio, não é, com toda a certeza o Rodrigues. Esse, conheço bem demais e também não o estou a ver a sair do seu reduto para cobrir a segurança de quem quer que fosse. Por isso, a tua passagem por Jabadá, ter-se-á dado depois de Novembro de 1965.

Sem mais comentários sobre o indivíduo.

Não sei se existe listagem sobre as Cruzes de Guerra que foram atribuídas em Campanha; vou averiguar e se possível encontrar o Sargento Gaspar e o Cabo Cerqueira.

Vou dando notícias conforme forem aparecendo.

Um abraço, do
Santos Oliveira

12. Em 30 de Janeiro Santos Oliveira mandava nova mensagem a José Jerónimo

Amigo Jerónimo:

Creio que o meu percurso Militar foi um tanto diferente do teu.

Fiz todo o Curso de Sargentos Milicianos e a Especialização de Armas Pesadas de Infantaria em Mafra (seja: Canhões S/Recuo, Morteiros e Metralhadoras – tudo os tipos classificados Pesados).

A minha paixão era os Canhões S/Recuo, mas não foi por aí que andei.

Acabado o Curso de Sargentos Milicianos, como fui muito bom aluno e dedicado (naquele tempo os nossos destinos eram determinados pelas habilitações escolares e não pelos psicotécnicos) fui promovido a 1.º Cabo Miliciano (o Sargento económico da época; possuía Instrução de Oficial, tinha Responsabilidade de Sargento, Regalias e Pré, igual às dos Praças).
Isso, tu deves conhecer.

Talvez pelos resultados dos psicotécnicos ou pelas classificações obtidas, pude escolher uma Unidade pertinho de casa; escolhi o GACA3, em Espinho.

Três dias depois da minha apresentação, sem qualquer aviso prévio, fui carregado numa GMC com toldo, a juntar-me a outros, poucos, Cabos Milicianos e um Furriel do QP.

Na cabine, além do condutor, iam dois Oficiais: um Tenente do QP, com farda Portuguesa e um outro com farda estranha.

Para onde nos levavam era a pergunta que cada um de nós fazia ao outro. Mas ninguém sabia e o Furriel não se descosia. Sempre que tentamos espreitar pelas frinchas do toldo, éramos impedidos pelo nosso Furriel.

Ao fim dumas horas, já de noite, creio que estávamos nas traseiras do CIOE, em Lamego.

Ali mesmo, sem mais, começou o nosso Curso de Tirocínio de Rangers de Infiltração.

Eu nunca havia ouvido infiltração associado a Rangers.

O Oficial de farda estranha, era um Capitão dos Rangers Americanos, que havia feito duas comissões no Vietname, estava em Portugal como Conselheiro Militar(???), falava um espanhol abrasileirado no seu sotaque.

Partimos, de imediato, sei lá para onde naquela região; tínhamos, além da arma e ração de combate, uma corda de uns 10 metros, um mapa com os objectivos assinalados, uma bússola e uma lanterna militar. Quase nunca mais nos voltámos a ver; era um por si.

Claro que alguns trajectos finais passaram pelos esgotos (aí pude olhar gente).

A higiene era apenas quando se caía ao Rio e mais não estou a lembrar.

Altos e baixos, rochas e monte, apenas se ouviam os cães e se viam ovelhas ou carneiros e, aqui e ali se ouvia o assobiar típico dos pastores. Gente, não.

Sofri bem mais em Mafra, acredita.

E com a mesma e única porca farda malcheirosa, uma certa madrugada, lá voltamos a ser carregados na GMC com o toldo que já conhecíamos e nos transportaram para Tancos; aqui não havia engano possível.

Viam-se Boinas verdes por todos os lados.

Novo Tirocínio, desta feita para a preparação de Salto.
Nada de especial a não ser a velha torre, em cima da qual a nossa visão lateral não enxergava o patamar... apenas o chão cá em baixo.

Mais medos tive das águas do Douro.

Um salto dum velho Junkers e de novo o regresso à nossa conhecida GMC e... às nossas novas Unidades.

Era suposto ter dado uma Recruta (fazia parte dos Regulamentos) mas eu fui convidado pelo 2.º Comandante a formar uma equipa, ao lado da Sala do Comando, uma Secção Técnica onde abri a comunicação da minha própria Mobilização, em rendição individual, para a Guiné.

Antes disso, estava cumulativamente a fazer Sargento de Piquete e, porque a porta se encontrava aberta (a Secretaria Técnica era na Torre de Controle do aeródromo de Espinho - tudo vidro e calor insuportável) abusivamente, um Oficial entrou para saber assunto classificado e eu não lhe dei a informação que pedia e solicitei que se retirasse, porque a zona era Classificada.

Ele resistiu e apontei-lhe a FBP e perguntei se saía pelo seu pé, ou se de maca.

Ele participou de mim e eu apanhei oito dias de Detenção, que foram oito Sargentos de Dia que fiz pelos camaradas solidários.

Só passado o castigo é que apresentei, de acordo com o RDM, a minha parte do caso.

Foi anulado o meu Castigo e recebi um Louvor.

Igualmente não fui incomodado, quando algum tempo depois da tentativa de assalto ao Quartel de Beja, quando Sargento de Dia, durante a ronda nocturna, um das sentinelas disse ter ouvido restolho no meio do milheiral.
Tomei a Mauser e disparei depois de dizer que esta era para perto a próxima seria para acertar.
Acordei o Quartel às 4 da manhã.

Do resto, podes, no Blogue, clicar, Sábado, 15 de Dezembro de 2007
Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)
que, no essencial está lá.

Vamos deixar esta longa História, noutros pormenores que te podem fazer avaliar se vale a pena… “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena"
Luto pelo que acredito, crê

Santos Oliveira
___________
Notas dos editores:

(*) - Foram removidos endereços e números de telefones, por não ser ter a certeza de que as pessoas citadas eram as procuradas.

(1) - Vd. post de 11 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLIX: Antologia (15): Lembranças do chão manjaco (Do Pelundo ao Canchungo) (João Tunes)

(...) Quanto ao Major Osório, sempre de t-shirt branca, pouco falava mas era muito respeitado. Aquilo era gente de acção e quando a não tinham, cediam à espera tensa e ansiosa de mais acção. Em resumo, eram guerreiros em descanso forçado. (...)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2359: Dando a mão à palmatória (4): Afinal, não era só em Bissau que se gozava as delícias do sistema (Santos Oliveira / Editores)

Guiné > Bissau > Amura > Dezembro de 1965 > Um turista [o 2º Srgt miliciano Santos Oliveira, do Pel Ind Mort 912], "gozando as delícias do sistema"...

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do do Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66):

Digníssimo Chefe da Tabanca Grande:

Saudações!

Obrigado pela referência aos Bravos do Pelotão que não existiu (1). No entanto o seu ao seu dono: o Alferes Cmdt do Pel Mort 912 não estava nas delícias de Bissau, mas pela Região de Tite, algures num dos Destacamentos que o Cmdt do BCAÇ 1860 gentilmente lhe ia destinando ao ter conhecimento do que nos estava acontecendo no desterro e pela sua própria inércia e falha de iniciativas de Comando.

Gostaria que fosse dado conhecimento, aos Tabanqueiros, deste pormenor menos exacto.

Aqui fica a rectificação. Desculpa-me.

Santos Oliveira

2. Comentário dos editores:

Santos Oliveira, herói do Como: A verdade dos factos acima de tudo. As nossas desculpas a ti e ao teu comandante (ausente, mas pelo RMD, e para todos os efeitos legais... teu superior hierárquico, que o respeitinho era muito bonito!) pela nossa frase menos exacta (e quiça infeliz), insinuando que ele teria ficado por Bissau, "gozando as delícias do sistema"... Afinal, ficou por Tite, que ficava em frente a Bissau, do outro lado do Rio Geba...

Sem queremos fazer um juízo de valor sobre o comportamento do teu alferes (coisa que evitamos fazer no nosso blogue, já que não somos tribunal, e muito menos tribunal militar), é costume recordar aqui que, na guerra e noutras acções humanas organizadas, há chefes e chefes, há líderes e líderes ... A chefia (que tem a ver com penacho, coroas, penas, galões, palanques...) uma atributo da organização, a liderança é uma relação... Não é líder quem quer, nem quem pode, mas sim quem se assume como tal e é reconhecido como tal... Etimologicamente falando, líder, no inglês antigo, quer dizer aquele que vai à frente mostrando o caminho...

E falando agora de camaradagem entre milicianos e soldados do contingente geral: a verdade é que, na Guiné, eramos todos camaradas, mas havia sempre uns mais camaradas do que outros... Sempre foi assim, em todas as guerras, em todas as sociedades: não havia só heróis, não havia só homens, não havia só camaradas, também havia vilões e filhos da mãe...

Damos a mão à palmatória, pelo erro factual: de facto, não era só em Bissau que se podia gozar as delícias do sistema... A comprová-lo, temos inúmeras fotos tuas do resort de Tite para o Carlos Vinhal publicar em tempo oportuno...

___________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

(...) Ensaiei e esperei. Nessa Noite não tivemos visitas. Passados sete meses (sem sequer ter obtido qualquer resposta, ou comunicação do Cmdt do Pel Mort 912, acerca do que quer que fosse, inclusivamente dos Vencimentos e Pré dos Militares que estavam sob o meu Comando, desloquei-me a Catió, sendo recebido pelo 2.º Cmdt do BCAÇ 616 (?), confrontando-o com os três meses de Missão, com os Vencimentos, com a Disciplina (já não cortava o cabelo há 4 meses) e com a ameaça de agredir um qualquer Oficial, porque se isso resultou com o meu antecessor colocado em Bissau, no BSM (Furriel Miliciano Contente – já falecido), certamente também iria resultar comigo (...).

(...) Fizemos abrigos subterrâneos e aí colocávamos as nossas reservas. Nas rotações das Unidades as coisas ficavam um pouco feias. Continuava a reclamar o Pré e Vencimento, até que, finalmente, talvez pressionado por outro alguém, o nosso Alferes Rodrigues, dito Comandante do Pelotão, nos deu o ar da sua graça e enviou-nos os nossos bem merecidos Vencimentos, mas … em cheque.

Ficamos perplexos e até o 1.º Sargento da Companhia (?) ficou abismado e andou pelo aquartelamento com o braço erguido a mostrar o cheque. Só não conseguia ter um encontro, de amigos, com o Comandante Nino para lhe pedir o favor de descontar, o dito, lá por Conacri, onde ia regularmente. É de loucos. (...)

(...) Do meu Cmdt de Pelotão, nem sequer a dignidade duma referência, no seu Relatório Final, pelo desterro de 10 homens de quem se deveria sentir responsável. Para ele, não existimos nunca. (...).

24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

sábado, 15 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

1. Mensagem do Santos Oliveira ( 2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf, Como, Cufar e Tite, 1964/66) (1), enviada para Mário Fitas, em 11 de Novembro de 2007:

Revisão e fixação do texto: CV


Caríssimo Amigo Vicente [ou Fitas]:

De acordo com a nossa conversa telefónica de ontem, vou tentar escrever o que sei dizer, mesmo com imprecisões cronológicas, datas e ausência de muitos nomes, que durante cerca de 40 anos procurei varrer das minhas lembranças.

No entanto, os factos vividos jamais foram esquecidos, sobretudo os que foram menos maus, pelo que te narrarei e documentarei, sempre que possível, o que tu próprio testemunhaste, embora num período curto (do mesmo modo que todas as Unidades que por mim passaram, ou eu por elas passei).

Gostava ainda de referir que passei, entre a minha chegada e a despedida, cerca de 20 dias com o Pelotão Independente de Morteiros 912 e que não sei distinguir quem foram os militares (afora os 2 Cabos e 7 Soldados que sempre estiveram comigo) que pertenciam à minha Secção de 20 homens.

Após a apresentação no BCAÇ 599 e depois ao Pel Mort 912, foi-me ordenada a Missão de, por três meses, render a Secção da mesma Unidade que estava há 4 meses na Ilha do Como.

Na passagem por Bissau, foi-me ordenado, verbalmente, por Sua Ex.ª o CEM, Ten Cor Rebelo de Andrade, que:

1) - A posição do Cachil (Ilha do Como) era vital para as NT; por isso teria que usar todo o meu potencial material e humano, com os critérios que eu próprio estabeleceria;

2) - Operacionalmente, reportar-me-ia exclusivamente a Sua Ex.ª e que ninguém interferiria comigo;

3) - Que, no exterior, me aguardava um condutor para me fazer transportar ao Palácio do Governo, para receber o aval de Sua Ex.ª o Governador, Gen Arnaldo Schulz. Sua Ex.ª informou-me que, tudo quanto o CEM tinha dito, era para ser cumprido, mas que continuaria a ser ordem verbal.

Efectuei a instalação de três Morteiros, em posição adequada, após ter analisado todas as probabilidades da situação militar e do terreno, aliei os conhecimentos adquiridos e aperfeiçoados em Lamego.

Criei a minha própria Carta de Tiro para o local, inventei um transferidor de tiro (tudo tosco como o só o Português sabe fazer).


Foto 1 > Como> Carta de tiro para a Posição ocupada no do Cachil



Foto 2 > Como> Transferidor de tiro que parece ter sido adaptado oficialmente e agora se denominará M1o


Ensaiei e esperei. Nessa Noite não tivemos visitas. Passados sete meses (sem sequer ter obtido qualquer resposta, ou comunicação do Cmdt do Pel Mort 912, acerca do que quer que fosse, inclusivamente dos Vencimentos e Pré dos Militares que estavam sob o meu Comando, desloquei-me a Catió, sendo recebido pelo 2.º Cmdt do BCAÇ 616 (?), confrontando-o com os três meses de Missão, com os Vencimentos, com a Disciplina (já não cortava o cabelo há 4 meses) e com a ameaça de agredir um qualquer Oficial, porque se isso resultou com o meu antecessor colocado em Bissau, no BSM (Furriel Miliciano Contente – já falecido), certamente também iria resultar comigo.


Foto 3 > Como> Estava na moda ser Beatle, vejam o meu cabelo


Tive a promessa de que iria resolver o nosso problema da Ilha do Como e a meia verdade é que apenas fomos deslocados, dois meses depois, para Cufar. Já não era tão mau, embora durasse mais quatro meses...

No Como, se exceptuássemos as rendições periódicas de Unidades, éramos flagelados todas as noites. Já nem dávamos muita importância. Apenas era muito útil para o açambarcamento de munições de morteiro, já que eram fictícios os números de disparos, porque, raciocinava eu, estávamos completamente à nossa mercê; só podíamos ter LDM durante o dia e se houvesse maré; similarmente se passava com os meios aéreos que só faziam Missões de Apoio de Fogo de dia.

Fizemos abrigos subterrâneos e aí colocávamos as nossas reservas. Nas rotações das Unidades as coisas ficavam um pouco feias. Continuava a reclamar o Pré e Vencimento, até que, finalmente, talvez pressionado por outro alguém, o nosso Alferes Rodrigues, dito Comandante do Pelotão, nos deu o ar da sua graça e enviou-nos os nossos bem merecidos Vencimentos, mas … em cheque.

Ficamos perplexos e até o 1.º Sargento da Companhia (?) ficou abismado e andou pelo aquartelamento com o braço erguido a mostrar o cheque. Só não conseguia ter um encontro, de amigos, com o Comandante Nino para lhe pedir o favor de descontar, o dito, lá por Conacri, onde ia regularmente. É de loucos.

Outrossim, ouvíamos alternada e quase continuamente a Rádio Moscovo e a Rádio Portugal Livre, esta a emitir a partir de Argel e apresentada por um distinto militar português, que havia desertado [, o Manuel Alegre].

Oficialmente, era proibido escutar estas emissoras, mas o facto é que ali se ouviam algumas verdades; era uma questão de saber separar o trigo do joio.

A 16 de Novembro de 1964, avistei dois charutos estampados no escuro do céu, de forma difusa, que aparentavam dois cigarros acesos atirados ao ar, desde o fundo do aquartelamento. A recriação, mais ou menos fiel dos Fortes de defesa contra os Índios, em que a paliçada era construída de troncos de Palmeira, que, como se sabe, são moles e duram cerca de três meses; aquelas tinham mais que isso. Portanto, eram apenas uma defesa psicológica.

Acordei. A Rádio Portugal Livre havia sido extremamente suave e comedida no seu estilo linguístico.
-Fogo! Rápido!

Os objectivos estavam todos (todos, mesmo) planeados, para obstar a continuação do fogo de Morteiro. E assim foi. Mas o caso era muito mais sério, porque deslocaram para a orla da mata muitas metralhadoras pesadas (incluindo quádruplas, destinadas a tiro antiaéreo) que nos fizeram lembrar que o pior estava para vir. A densidade de fogo era tamanha que a iluminação e as antenas do Posto de Transmissões foram destruídas. Chegaram a ter metralhadoras pesadas no perímetro interior do arame farpado (havia duas barreiras aos 30 e 60 metros).

Bem, chuva miudinha, molha tola, e as calças do camuflado completamente secas. Demos o nosso melhor, fazendo tiro, a olho, para os locais em que as pesadas cantavam e chegamos até ao incrível (perigoso e inseguro, embora tivesse a consciência disso) de fazer fogo para as pesadas, dentro do perímetro de segurança. Tínhamos os Morteiros sobreaquecidos, alaranjados…

O inesperado aconteceu. Uma granada não percutiu. Tirei o blusão do camuflado e fui afastado pelo cabo e dois soldados que me pediram para continuar com os outros dois Morteiros. A munição foi retirada com sucesso; no entanto, por precaução, colocamos a arma fora de serviço. Quando arrefecesse, logo se veria.

Foram 216 granadas, durante as duas e horas e vinte que durou o ataque. Depois, de repente, o silêncio expectante e caricato da noite africana.

Apenas nos restavam munições para, naquele rimo de fogo, mais cerca de 15 minutos. Se não fora a batota calculada... Aguardámos algum tempo e tentámos, mais vigilantes pela falha na iluminação exterior, retomar o nosso ritmo normal no meio dum escuro e sepulcral silêncio.

Voltamos ao Noticiário da Rádio Portugal Livre, que estava prestes a começar. Uma gargalhada geral ecoou por aquelas bandas. Não é que o ilustre locutor nosso conhecido, acabara de declamar: ”A Ilha do Como acaba de ser libertada. As tropas colonialistas foram completamente derrotadas. Não há sobreviventes.
- Então, eu estou morto!


Foto 4 > Como> Os que "morreram" na noite de 16 de Novembro de 1964. Em cima: Soldados, João Marçal, João Paulo, Manuel Pinto, 1.º Cabo António Gomes e eu. Em baixo: 1.º Cabo Abílio Marques; Soldados, Amélio Fernandes, Carlos Mosca, Eduardo Martinho e Artur Rodrigues.


Foto 5 > Como, Novembro de 1964> Pormenor do cartão onde, a giz, se indica foram só 216 granadas. Lê-se mal, mas com esforço percebe-se; na Op Tridente, em mais de 70 dias, apenas gastaram cerca de 500 granadas.


De Catió, soubemos depois, expectantes, viram os clarões, ouviram os rebentamentos e não fizeram nada; absolutamente nada, embora tivessem um Pelotão de Artilharia com duas Peças de 8.8cm e com alcance mais que suficiente para, pelo menos, desmoralizar o inimigo. Não havia comunicações, mas nada ???!!!...

Conjecturas foram mais que muitas, mas que caíam sempre no mesmo: Não se safou ninguém!”. Eu tinha um soldado que estava em Catió, porque havia ido ao médico.

O balanço do dia seguinte, era dantesco. Massa humana com fragmentos de armas, pedaços de armas, ausência do arame farpado nas duas fiadas, a orla da mata tinha recuado uns 30 a 40 metros, porque as palmeiras ou não tinham ramagem ou estavam partidas, apenas um corpo em muito mau estado, uma PPSH e o mais espantoso, entre três poilões dispostos em triângulo e que formavam uma espécie de salão inexpugnável e a que denominávamos Enfermaria, recolhemos 2 unimogues de ligaduras sanguinolentas e alguns apetrechos médicos.

Mais nada, porque quem conhecia a mata teve todo o tempo para efectuar a sua limpeza de corpos, feridos e armamento.

Em Tite, (estive a acumular operações no BCAÇ 1860, sob as ordens do Ten Cor Costa Almeida e Major Jasmim de Freitas) procurei e descobri que o Comandante Nino levara mais de três mil homens para aquela missão. Pouca sorte a dele...

Quando foram restabelecidas as comunicações, a Guiné, no seu todo, regozijou. Dezenas de mensagens de felicitações… A esta distância, no tempo, a minha gratidão a todos os que compartilharam da nossa alegria. Já havíamos sobrevivido...

Os louros foram todos para a Companhia residente. Afinal, duma Secção de Morteiros, de dois (2) morteiros e vinte (20) homens, apenas havia dez (10) homens e três (3) Morteiros.

Que falem os responsáveis da Companhia que lá estava na época. Sinceramente gostava de conhecer o teor ou o ponto de vista tida do lado da Companhia destacada. Já foram questionados, os meus subordinados, mas nenhum se lembra da identidade da Unidade (tantas foram, as que por nós passaram…)

Os meus três Morteiros estavam com a cor característica de terem sido destemperados (anéis azulados de tons vários) cerca da zona de percussão. Valeu-nos o Mec Auto da Companhia para nos desenrascar lixa de água (a única que dispunha) e tinta dos Unimog.

Nada grave se não se soubesse. Mas com aquela cadência de tiro, cerca de cinco vezes superior ao normal, era, além de anti-regulamentar para a especificação da Arma (disciplinar, também), era esperado acontecesse, mesmo visto por um leigo.

No entanto, com ferramenta improvisada, lá estivemos todo o dia, a rectificar (com lixa de água) o tubo da arma, porque havia apertado e riscado, com o forte aquecimento que teve, e a granada não descia ao percutor.

Para testar, retiramos a espoleta e o cartucho propulsor a uma granada; quando esta começou a passar livremente, demos por terminado o trabalho. Estava como nova, operacional, e foi reintroduzida no Serviço. Nada se soube a nível oficial.

Em Cufar, repeti o estudo pormenorizado do terreno, instalei os Morteiros no local que entendi ser o adequado, ensaiei e, à semelhança da Ilha do Como, elaborei uma Carta de Tiro para os objectivos assinalados.


Foto 6> Cufar> Carta de tiro de morteiro para a Posição de Cufar


A situação era incómoda para a CCAV 703 (?). Tivemos um primeiro ataque e, como o terreno era bem mais aberto que no Como, tudo resultou pela positiva. A guerra desvaneceu-se.

Tentaram jogar com a CCAÇ 763 (era sempre assim, quando rodavam as Companhias).

Para mim, já era tudo automático (não simplista), porque os trabalhos de casa eram feitos previamente. Sei que causava muita confusão, mesmo a Companheiros da Especialidade, verem-me fazer fogo sem colocar o aparelho de pontaria (só era utilizado quando se alterava a posição do Prato). Sempre foi uma questão Geométrica, de pontos de referência, estacas, etc.

Tive muitas cumplicidades com o Cap Costa Campos, com quem tive o gosto e a honra de partilhar pontos de vista acerca do modo de fazer a Guerra (firmeza, flexibilidade e humanidade). Foi um grande oficial (um dos poucos oficiais que, frontalmente, valorizava e apreciava o meu trabalho e era humilde para ser capaz, com a sua formação castrense, de mo dizer de viva voz).

O que se passou para a frente, enquanto estive em Cufar, considerava eu, serem pequenas escaramuças; 4 ou 5 granadas bastavam para fazer a paz (excepções para as intervenções que a CCAÇ 763 onde tive que fazer Apoio de Fogo).

Voltei a Tite, não por vontade própria, mas porque o tempo de regresso dos meus homens chegou ao fim.

Comparativamente com o Cachil (Como), a nossa estadia em Cufar, igualmente sem qualquer conforto, eram como que de férias, descanso, tranquilidade, paz interior.


Foto 7 > Cufar, Abril de 1965> Abrigo-Suite que através de trincheiras nos tinha em ligação com os abrigos de morteiros

Fotos e legendas: © Santos Oliveira (2007). Direitos reservados.

Tive saudades daquela gente, naquele lugar, que respeito e admiro muito e que igualmente muito me acarinharam (eles nem sabiam quanto…)

Do meu Cmdt de Pelotão, nem sequer a dignidade duma referência, no seu Relatório Final, pelo desterro de 10 homens de quem se deveria sentir responsável. Para ele, não existimos nunca.

Estas são amostras dos episódios por que passámos.

Santos Oliveira
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Nota de CV:

(1) Vd. post de 24 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2301: Tabanca Grande (41): Santos Oliveira, 2.º Sarg Mil de Armas Pesadas Inf (Como, Cufar e Tite, 1964/66)

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2282: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (7): A revolta do pessoal da geração de 1961/66 (Santos Oliveira)

Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317, BCAÇ 2835 (Gandembel e Ponte Balana 1968/69) > Um espaldão de morteiro 81. Não temos aqui falado muito dos nossos camaradas de armas pesadas de infantaria... Curiosamente, o fundador do nosso blogue tirou essa especialidade que nunca chegou a exercer... no TO da Guiné. (LG)

Foto: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.

1. O nosso camarada e amigo Torcato Mendonça acaba de reenviar, para o blogue, a mensagem que recebeu, ontem , do Santos Oliveira, que foi Sargento Miliciano Apontador de Armas Pesadas de Infantaria, Pelotão de Morteiro 912 (Guiné, 1964/66)


Caro companheiro:

Acabo de ler o teu comentário no “post” [de 1 de Novembro de 2007], Guiné 63/74 - P2234: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (5): Os bons, os maus e os vilões (Torcato Mendonça)

Tens a minha concordância, o meu louvor e o meu apoio incondicional.

Sou um principiante na Net, pelo que apenas quero agradecer-te, em nome dos da minha geração (talvez), a clareza que colocaste no teu comentário; é que das classes de 61 a 66 (mais os de 61 a 64), pouquíssimos camaradas disseram de sua justiça. Pelo menos, não são muito visíveis (como eu).

Saí de Tite por 3 meses e passei 9 na Ilha do Como (após a OpTridente), mais 4 em Cufar. A minha Unidade (???) foi o extinto Pelotão de Morteiros 912 (adido ao BCAÇ 599, Tite) e regressei a Tite ao BCAÇ 1860; não consta que o Pel Mort 912 saísse do BCAÇ 600, ou mesmo que tivesse tido um Pel de Mort, como se diz.

Sou Sargento Mil A.P. de Inf (Tirocinado Ranger), do extinto Pelotão de Morteiros 912, Guiné 64/66. Chamo-me: Santos Oliveira.


Contactos:
Rua do Rochio, 94 – Vilar do Paraíso
4405 VILA NOVA DE GAIA
Tel.: 227112117 e 914001255
Correio electrónico: santosoliveira912@gmail.com

Aproveito para te desejar um óptimo e Feliz Natal, como a todos os Camaradas.

Um abraço, do
Santos Oliveira

2. Comentário dos editores:

Santos:


És bem vindo à nossa Tabanca Grande, e ainda para mais pertencendo tu a uma camada, mais velha, da chamada geração da guerra colonial... De facto, a malta de 1961/66 está menos representada no nosso blogue... Em número, não em qualidade...

Podes pertencer à nossa tertúlia, juntando aos teus elementos de identificação (que tiveste a gentileza de nos mandar) mais duas fotos (digitalizadas, em formato.jpg), uma do teu tempo de Tite e do Como e outra actual...

Já agora, e como é da praxe, escreve mais umas tantas linhas sobre o teu Pelotão, a tua actividdade operacional, a Operação Tridente (1), os teus camaradas, a Guiné do teu tempo, etc. Se tiveres fotos e/ou estórias de Tite, manda, que é raro aparecerem referências a essa terra onde, oficialmente (segundo o PAIGC e as autoridades portuguesas da época), a guerra começou, a 23 de Janeiro de 1973 (2)...

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Notas dos editores:

(1) Sobre a Operação Tridente, pdoes ler (se ainda não leste) os textos que publicámos em primeira mão do sargento comando Mário Dias que esteve contigo no Como: