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terça-feira, 4 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18982: In Memoriam (321): Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018): dois poemas, um de Josema (José Manuel Lopes) e outro, de Luís Graça


Joaquim Carlos Rocha Peixoto (Penafiel, 1949 - Porto, 2018), professor do 1º ciclo do ensino básico, reformado, ex-fur mil ap arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Sare Bacar e Bafat´, 1971/73). Foto: cortesia da Agência  Funerária Santa Marta Lda, com sede em Penafiel.


Penafiel > Cemitério Municiapl > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > A "última morada"....


Penafiel > Cemitério Municiapl > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) >  As flores da nossa saudade


Penafiel >  3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) >  3 camaradas da Tabanca Grande: Zé Teixeira, Álvaro Basto, António Carvalho


Penafiel >  3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > O Silvério Lobo (à esquerda)  e o José Manuel Lopes (à direita)


Penafiel > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > Aspeto parcial da fachada da Igreja das Freiras (ou Igreja do Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição), do séc. XVIII, na Rua Conde Ferreira.


Penafiel > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > Ao centro, o José Rodrigues, da Senhora da Hora, Matosinhos.


Penafiel >  3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > Ao meio o Edurado Moutinho dos Santos,  mais a esposa; à esquerda, o  Zé Teixeira.


Penafiel >3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) >  À esquerda , o Zé Manuel Cancela e o Xico Allen.


Penafiel > Cemitério Municiapl > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Camaradas junto à Igreja das Freiras


Penafiel >  3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) > Mais camaradas, junto à Igreja das Freiras.


Penafiel > Cemitério Municiapl > 3 de setembro de 2018 > Exéquias do Joaquim Peixoto (1949-2018) >  Cerimónia com acompanhamento religioso > Aspeto já do final da cerimónia  > Descansa em paz, camarada!


 As tabancas aqui do Norte, Tabanca de Matosinhos, Bando do Café Progresso, Tabanca dos Melros... estiveram em peso, no funeral do nosso Joaquim. Estimei em cerca de meia centena os ex-combatentes da Guiné que quiseram vir despedir-se do nosso camarada.

No emotivo, intimista e brilhante improviso que fez, ainda dentro da Igreja das Freiras, e que mereceu as palmas dos presentes,  a Margarida mostrou-se grata às nossas tabancas pelo muito bem que fizeram ao seu marido... Alguns camaradas, como  o Zé Cancela, estavam inconsoláveis. O Cancela era provavelmente o melhor amigo  e companheiro de viagens do Peixoto. Chegou a ir aos Açores com ele (e as respetivas esposas) num dos convívios da açoreana CCAÇ 3414.

Se não erro, o único camarada da CCAÇ 3414, que esteve no funeral, foi o Brito da Silva, outro grande companheiro e amigo do Joaquim, natural de Baião (e, portanto, vizinho da Tabanca de Candoz)  e a residir na Madalena, Vila Nova de Gaia, Gostava que ele integrasse a Tabanca Grande, convite que de resto já lhe fiz há anos.

O Manuel Carvalho falou-me do papel "agregador" do Joaquim: ele era contra todas as "clubites", incluindo as pequenas, triviais, anedóticas rivalidades entre tabancas... O Joaquim  pertenceu pelo menos àquelas três tabancas, para além da Tabanca Grande...

Outro grande companheiro foi o Manuel Carmelita, e a esposa, sem esquecer o Zé Manel, da Régua, e a Luísa Valente... Grande parte do seu círculo de amigos eram camaradas da Guiné... 

Na próxima 4ª feira, amanhã, marcámos encontro na Tabanca de Matosinhos, que se fez reperesenta pelos 3 régulos, Zé Teixeira, Moutinho e Álvaro Basto...

Até sempre, Joaquim!... Agora é a altura de tu, lá do alto, velares pela tua Margarida, pelos teus filhos e netos, o que já fazias, como bom marido, pai e avô... Temos o João Rebola, em fase muito adiantada de doença... Temos todos nós, teus camaradas e amigos, a queixarem-se de mil e uma mazelas.  Passas agora para a lista da Tabanca Grande onde estão aqueles que da lei da morte já se foram libertando... E já são 64 contigo, num total de 776 grã-tabanqueiros

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Já no leito de morte, no  IPO do Porto, o Joaquim Peixoto recebeu a visita, por duas vezes, do seu camarada e amigo do peito José Manuel Lopes, um raro privilégio que ele só concedeu a alguns amigos mais íntimos (*).

Numa das vezes, o Joaquim disse que gostava muito do poema "Recuso dizer uma oração / ao deus que te abandonou" (**)... Pediu ao Zé Manel para o voltar a dizê-lo, em volta...  e no fim, uma lágrima furtiva soltou-se-lhe do rosto... 

O Zé Manel contou-me esta "cena", em Penafiel, à hora em que o caixão com o corpo do nosso saudoso amigo e camarada saía da igreja, a caminho do cemitério municipal de Penafiel, a escassas centenas de metros.  E eu prometi logo republicar o poema em memória do nosso amigo e camarada comum... 

Recorde-se que este é um da escassa meia centena de poemas que sobreviveram à fúria autodestruidora do poeta, depois de regressar da Guiné. É assinado pelo Josema, pseudónimo literário de José Manuel Lopes, da Quinta da Senhora Graça, no Alto Douro Vinhateiro,  ex-fur mil op esp, da CART 6250 (Mampatá, 1972/74) (**)


Recuso dizer uma oração
ao deus que te abandonou,
não sei se é do nó
que me aperta a garganta,
ou da revolta que brota do meu peito,
só sei que não consigo
desculpar...

Sinto ganas de arrancar
o fio preso ao teu pescoço
e atirar dentro da mata essa cruz
no local...
onde encontraste a tua,
onde perdeste a vida
e eu a minha fé entorpecida.

Recuso deixar de pensar
no que aqui nos trouxe,
para onde nos levam,
quero encontrar respostas
a todas as perguntas
que se soltam em turbilhão
dentro de mim,
quero encontrar
algo que justifique,
achar uma razão,
por pequena que seja,
irmão,
para acalmar esta dor
e não encontro
e não encontro...não.

Bolama 1972
josema




2. Também eu deixei um poema, meu, na nossa página do Facebook, à memória do Joaquim Peixoto, (1949-2018), ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 3414 (Saré Bacar e Bafatá, 1971/73)

Dies iræ, dies illa!

Cavalgam caudalosos os rios pela terra adentro,
enquanto fluem ruidosos os dias da guerra.

Rios que não são rios, mas rias,
entranhas ubérrimas, fustigadas pelo vento,
rias baixas pela manhã, pedaços, braços de mar,
restos de tsunamis, pontas de fuzis, 
palavras acérrimas, imprecações ao Grande Irã,
picadas minadas de ir e não mais voltar.

Dias que não são dias, circadianos,
mas fragmentos,
ora ledos ora amargos enganos,
estilhaços de tempo,
riscos nas paredes sujas dos bunkers,
repentinas emboscadas, breves finais de tarde,
instantes, flagelações, 
balas tracejantes
sob o céu verde e vermelho
enquanto o capim arde.

Narciso, revejo-me ao espelho, quebrado,
vou nu, de camuflado,
de azul, celestial,
ao encontro do anjo da morte, em Jugudul.
E não há estrelas, à noite,
mas a bússola indica o norte, sideral,
nunca o sul,
nunca o nascer nem o morrer.

Dies irae, dies illa,
dia de ira, aquele,
em que subiste o cadafalso do Niassa,
ou do Uíge ou do Ana Mafalda,
dias de ira, aqueles,
os da guerra!
Calai-vos,
rápidos do Saltinho, rápidos de Cussilinta,
vós que mais não sois
do que canoas loucas, desenfreadas,
levadas pelo macaréu da nossa raiva,
entre o Geba e o Corubal.

Braços que não são braços, amputados,
mas apenas tatuagens, traços,
letras de fado pungentes,
pontes que são miragens,
tentáculos, serpentes,
lianas, cortadas pela catana, a eito,
pela floresta-galeria,
inferno tropical, túneis, tarrafo,
bolanhas, lalas, bissilões,
curvas da morte do Cacheu ao Cumbijã,
apocalípticos palmeirais,
pontas de punhais cravadas no peito,
irãs acocorados no alto dos poilões.

E depois o silêncio, o impossível silêncio.
o silêncio das partituras,
dos mapas dos argonautas,
partículas, pausas, pautas,
cartas de tiro com claves de sol,
desidratação,
a ogiva do obus,
o medo da avestruz,
o roncar do helicanhão,
gritos do djambé, e do macaco-cão,
gemidos de kora,
espasmos de balafon,
rajadas de kalash
ecos do bombolom,
bombas de fragmentação
que correm no dorso dos cavalos
desde o Futa Djalon.

Não vou poder ouvir o silêncio do Cantanhez,
nem quero ouvir o grito da morte,
outra vez!


Terras do Demo, 27-29 de dezembro de 2011;
Madalena, Vila Nova de Gaia, 30-31 de dezembro de 2011;
Revisto, Penafiel, 2 de setembro de 2018.
___________

domingo, 2 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18973: In Memoriam (318): O nosso amigo e camarada Joaquim Carlos Rocha Peixoto (1949-2018), ex-Fur Mil da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73), faleceu hoje... O corpo estará, esta noite, em câmara ardente na Igreja das Freiras, em Penafiel, e as exéquias fúnebres serão amanhã, às 15 horas

IN MEMORIAM


Joaquim Carlos Rocha Peixoto 
(Penafiel  1949-Porto, 2018)



Realidade quase impensável e inaceitável quando se trata de um amigo de há tantos anos.

Acabou de chegar ao nosso conhecimento, através do seu inseparavél amigo e vizinho, José Manuel Cancela, a notícia do falecimento do nosso camarada e amigo Joaquim Carlos Rocha Peixoto, natural de Penafiel.

Especialmente à nossa querida amiga Tertuliana Margarida Peixoto, e demais família (filhas e netos), deixamos o nosso mais sentido pesar pela perda do seu dedicado marido, pai e avô.

Voltaremos para dar notícias quanto ao local onde o malogrado amigo estará em Corpo Ardente assim como com pormenores do seu funeral.

Os editores

********************

PS - Acabamos de saber, por notícia das 16h, da Tabanca Matosinhos, que o corpo do nosso querido camarada e amigo Joaquim Peixoto está hoje à noite em Camara Ardente na Igreja das Freiras em Penafiel (Perto da Praça da Feira). 


As exéquias fúnebres estão marcadas para amanhã - segunda feira - pelas 15 horas na referida Igreja.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 12 DE JULHO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18839: In Memoriam (317): João [Alfredo Teixeira da] Rocha (Ilha de Moçambique, 1944 - Porto, 2018), nosso grã-tabanqueiro n.º 775, a titulo póstumo (Luís Graça / Jaime Machado / Carlos Silva / Tabanca de Matosinhos / António Pimentel)

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17976: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 3 e 4: Promovido a 1º cabo condutor autorrodas e colocado no RAL 5, em Penafiel



José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74. Nascido em Penafiel, em 1950, criado pela avó materna, reside em Amarante. Está reformado como bate-chapas. Tem o 12º ano de escolaridade. Foi um "homem que se fez a si próprio", sendo hoje autor, com dois livros publicados (um de poesia e outro de ficção). Senta-se debaixo do poilão da Tabanca Grande no lugar nº 756.

Foto de cima: no Regimento de Cavalaria 6, 1972, depiois de ter feitoa recruta do CICA 1 - Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas, no Porto, junto ao paláciod e Cristal;promovido a 1º cabo condutor autorrodas será colocado em Penafiel, e daqui mobilizado para a Guiné.

Fotos: © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Prosseguimos a pré-publicação do próximo livro do nosso camarada José Claudino Silva:



Sinopse (*): 

(i)  foi à inspeção em 27 de junho de 1970,  e começou a fazer a recruta,  no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1;


(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da Via Norte à Rua Escura.



2. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva,  ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 3 e 4: Promovido a 1º cabo condutor autorrodas e colocado mo RAL 5, em Penafiel


[O autor faz questão de não corrigir as transcrições das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, que o criou. ]


3º Capítulo > UM MILITAR FAMOSO



1972: foi um ano bissexto. Aproveitei o dia 29 de Fevereiro para escrever,  gabando-me tanto que, julgo, passados estes 45 anos, ainda estou todo babado. Nessa semana, soube que passei com distinção no exame de condução. Fui eleito o melhor do pelotão e o segundo da recruta. Senti-me um militar invencível. O Major Alvega que se cuidasse. Recebi uma medalha das mãos dum general qualquer. Cerimónia que foi filmada pela RTP e que foi para o ar, no dia 4 de Março de 1972. Foi o meu primeiro instante de fama.

Tendo o privilégio de poder escolher onde queria continuar a instrução, escolhi o Regimento de Cavalaria Nn 6 que ficava na Constituição, também na cidade do Porto.

Acho agora, a esta distância, que esses acontecimentos fizeram com que o exército me comprasse. Deram-me mais um pouquinho para eu lhes ser fiel, e eu, idiota como sempre fui, fiz exactamente o que esperavam de mim: esforcei-me por ser um militar exemplar, o que na realidade não  era.

Na época, havia três formas de sair da unidade, de forma legal:  (i) dispensa -que servia para algumas horas; (ii) pretensão - para passar a noite fora; e (iii)  passaporte - para passar o fim-de-semana. 

Estes três métodos dependiam sempre de autorização superior. Recordo-me que, devido às dificuldades em se obterem essas autorizações, muitos dos recrutas estavam dispostos a pagar, para poderem sair dos aquartelamentos. Reconheço que fui um oportunista e ganhei algum dinheiro com isso, pois nunca tive grande dificuldade em obtê-las e podiam trocar-se. Eis os preços: 

(i) Dispensa - 50$00 [, equivalente hoje a 11, 62 €, segundo o conversor da Pordata];

(ii) Pretensão - 100$00;[, eqquivalente a 23, 25 €)

(iii) Passaporte - 200$00. [, equivalente a 46,50 €]


Acreditem que era caro. Como quase tudo que é ilegal. A minha medalha e aparecer na TV abrira-me algumas portas e eu passei a lixar alguns camaradas, quando devia ter sido mais solidário com eles. Um dia, precisei de um passaporte, e o Luís vingou os colegas todos, exigindo-me 400$00 [c. de . 93,00 €]. Bem feito! Virou-se o feitiço contra o feiticeiro e acabei com o negócio.

O Exército continuava a premiar-me. No RC 6, recebi mais uma medalha e um diploma de 2º classificado na instrução, sendo promovido a 1º cabo C.A.R. [Condutor Auto.Ridas]. Mais uma vez, pude escolher para onde queria ir, tendo três unidades à disposição. Escolhi o Regimento de Transmissões em Arca de Água, no Porto.

Neste aquartelamento, dormi pela primeira vez na vida numa cama de esponja.


4º Capítulo > 1º CABO CONDUTOR AUTORRODAS



Recebi as divisas de 1º cabo, em 19 de Maio de 1972. Nesse dia, completei 22 anos. O meu primeiro serviço como cabo foi de 30 de Abril para 1 de Maio. O quartel estava de prevenção. Foi a primeira vez em que senti ser o 1º de Maio um dia importante; até essa altura não fazia a mínima ideia.

No dia 30 desse mês, fui transferido para o R.A.L. 5 (Regimento de Artilharia Ligeira Nº 5), em Penafiel. Estava em casa. O quartel distava mil metros da minha residência. Dali partiria para a Guiné. Tinha sido mobilizado para ir defender a minha Pátria.

Carlos Mendes tinha, recentemente, representado Portugal no Festival da Eurovisão, com uma canção com música de José Calvário e letra de José Niza. Chamava-se “Festa da Vida”. Eu iria representar Portugal, na Festa da Morte. O meu amigo Fernando já tinha cumprido esse desiderato. Fora precisamente na província da Guiné que dera a sua vida... “Em Nome da Pátria”.

[Continua]

________________

Nota do editor:

(*) Postes anteriores da série:

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17875: Tabanca Grande (449): José Claudino da Silva, ex-1º cabo cond auto, 3ª CART /BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74, escritor, natural de Penafiel, a residir agora em Amarante... Passa a ser o novo grã-tabanqueiro nº 756


Foto nº 1


Foto nº 2

José Claudino da Silva, fotos de hoje (nº 1) e de ontem (nº 2), ex-1º cabo condutor auto, 3ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74), novo membro da Tabanca Grande, com o nº 756 (*).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017), Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. É autor de dois livros, um de ficção, parcialmente inspirtado na guerra colonial (2016), e outro de poesia (2007). Está a preparar um terceiro livro, memorialístico, com base na sua correspondência do tempo da vida militar (1972/74).


UM CERTO JEITO DE MIM

por José Claudino da Silva

Nasci no tempo das flores,
Fruto de falsos amores,
Esse foi o meu dilema.
Vim ao mundo sem cuidado,
Surgi pelo lado errado
Da vida dita suprema.

Descalço me fiz criança,
Comendo frutos de esperança.
Na escola desabrochei,
Voguei num mar de bonança.
Era rica a minha herança
Que ao sonho me entreguei.

Pela vida apaixonado,
Espalhei por todo lado
Meu poder de adolescente.
Fui escravo, fui soldado,
Pela Pátria amordaçado,
Meu poder ficou ausente.

Começo tudo de novo,
Já pertenço a outro povo.
Sou hoje um fruto maduro,
Todos meus sonhos renovo.
Faço planos e aprovo
O meu caminho futuro.

Tropecei, tombei, caí
Nas estradas que percorri.
Fiz coisas boas e más,
Altos castelos ergui.
Alguns sonhos destruí,
Que ficaram para trás.

Formei-me na utopia,
Mas a vida dia a dia
Deu-me lições de rigor.
Mais tarde,  compreenderia
Que viver em fantasia
Não era viver melhor.

Com armas tão desiguais
Lutei sempre muito mais,
A vida me foi madrasta;
Nunca culpei os meus pais,
Afinal tenho ideais
Mais puros que qualquer casta.

Se às vezes o desalento
Me invade um momento,
Logo volto a reagir,
Meus poemas dão alento.
Breve, esqueço o tormento,
Sem precisar de fugir.

Se hoje sou quem eu sou,
Nada troco, nada dou,
Em quase tudo errei;
Sou este que aqui estou,
Que pela vida se formou.
Sou assim. Assim serei.

Se ao longo deste caminho
For caminhando sozinho,
Numa agonia fatal,
Com cicuta, adoço o vinho.
Bebo goles, de mansinho,
Na bebedeira final.

José Claudino da Silva




Título: Desertor 6520


Autor: José Claudino Silva

Data de publicação: Setembro de 2016

Número de páginas: 408
ISBN: 978-989-51-8120-9
Edição: Chiado Editora, Lisboa
Colecção: Viagens na Ficção

Género: Ficção

Idioma: Pt

Preço: 13 € (papel); 3€ (ebook)



Sinopse



“A partir daquele momento, era irreversível a sua partida e tinham a consciência da transformação radical que as suas vidas iriam sentir.” José C. Silva


2. Nota biográfica:





(i) José Claudino da Silva nasceu no lugar das Figuras Marecos Penafiel em 19 de maio de 1950;

(ii) filho de pai incógnito e de Mabilde da Silva;

(iii) foi criado pela sua avó materna. Emilia Queirós da Silva;

(iv) fez a escola primária na freguesia de Marecos, Penafiel, de 1957 até 1961;

(v) fez a comunhão solene na igreja matriz de Penafiel;

(vi) omeçou a trabalhar aos 11 anos na construção civil e posteriormente como chapeiro, na indústria automóvel, onde trabalhou cerca de 50 anos;

(vii)  através do seu professor primário, o professor Cunha, e do reverendo padre Albano,  adquire o gosto pela escrita e pela leitura; para ter acesso gratuíto aos livros inscreve-se na biblioteca  da Fundação Calouste Gulbenkian de Penafiel com o número de sócio  490;

(viii) ingressou nas fileiras das Forças Armadas em 3 de janeiro de 1972 e embarcou para a então colónia da Guiné em 26 de junho de 1972,  regressando à vida civil em 26 de setembro de 1974;

(ix) neste periodo escreveu centenas de cartas;  possui a maioria delas pois pediu que as guardassem (mas com a intenção de  jamais as reler);

(x) casou com Maria Amélia Moreira Mendes em 6 de setembro de 1975;

(xi) têm dois filhos do sexo masculino e uma neta;

(xii) no ano lectivo 1989/90 fez o 6º ano nas aulas noturnas; em 2005 completou o 9º ano através das Novas Oportunidades; em 2009 concluiu o 12º ano;

(xiii) ganhou o primeiro prémio dum concurso televisivo da SIC (Paródia Nacional);

(xiv) em 2007 publicou um livro de poesia e em 2016 um livro de ficção ("Desertor 6520", Chiado Editora, Lisboa); a sessão de lançamento do "Desertor 6520", em Amarante, teve como apresentador o antigo primeiro ministro José Sácrates;

(xv) escreveu dezenas de poemas e artigos de opinião para o jornal da Lixa;

(xvi) está aposentado, vive em Amarante;

(xvii) tem página no Facebook:

(xviii) faz parte de 2 grupos do Facebook:

GUINÉ - Capicuas de Fulacunda-CART 2772 Ano 1970/1972

Antigos combatentes da Guiné

[Fonte: adapt. livre de Chiado Editora, Lisboa, com a devida vénia +  conversa ao telefone + pesquisa adicional na Net]


3. Comentário do editor LG:

José Claudino, sê bem vindo!... Aprecio a tua franqueza e frontalidade, tão nortenhas... Como sabes, tratamo-nos por tu, como camaradas de armas que fomos (e continuamos a ser para  o resto da vida...). É uma das nossas regras básicas: facilita a comunicação, esbate eventuais diferenças que nos separaram no passado e podem separar no presente: por exemplo, postos, especialidades, habilitações académicas, história de vida, etc....

No blogue  Luís Graça & Camaradas da Guiné, partilhamos memórias (e afetos). Temos uma Tabanca Grande onde todos cabem com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar (política, religião, futebol...). Tens aqui as 10 regras editoriais do blogue, que por certo subscreverás inteiramente.

Recebi ontem a tua última mensagem: "Envio então ainda por corrigir, o texto que denominei "EM NOME DA PÁTRIA" baseado no que escrevi há cerca de 45 anos. Sendo a guerra vista por um soldado, a minha maior surpresa, relendo os meus escritos, é a espantosa alteração da minha forma de pensar após aqueles dois anos. Saboreiem um certo romantismo intercalado de dor. Um grande abraço para o Jorge Pinto e todos os camaradas."

O teu manuscrito, ainda sem imagens, tem mais de 70 pequenos capítulos e pouco mais de 80 páginas. A partir das tuas memórias e das cartas que escrevestes à tua futura esposa (e das que recebeste dela), reconstituis a tua passagem pela tropa e pela guerra...

Vou ler com cuidado o manuscrito e dar-te o meu "feedback", mas desde já te digo que é um documento autobiográfico notável. Creio que estás a pensar em publicá-lo em livro (em papel e/ou em suporte digital, o chamado eBook). Mas, ainda antes disso, gostaria de poder publicar alguns dos capítulos mais interessantes no blogue que, como eu te disse,  forma  um grande auditório de camaradas e amigos da Guiné, os quais seriam os teus primeiros e devotados leitores. Pensa nisso!

Para já senta-te sob o poilão da Tabanca Grande, no teu lugar, que passará a ser o nº 756. O teu nome passa, a partir de agora, a constar da lista alfabética, de A a Z, dos membros, formalmente registados, da Tabanca Grande, e disponível na coluna do lado esquerdo do blogue.

Sê bem vindo e traz mais... cinco!
______________

Notas do editor:

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Guiné 61/74 - P17730: Blogues da nossa blogosfera (78 ): "A Minha Cave", de Renato Monteiro: Os gatos pretos, brancos e amarelos...("texto dedicado ao meu amigo Luís Graça")


Guiné > Região de Baftá > Contuboel > A dolce vita dos dois primeiros meses (ou nem chegou a tanto...)  de comissão, passados no Centro de Instrução Militar de Contuboel... Luís Graça (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969; e  CART 2520, Xime e Enxalé, 1969/70), em passeio pelo rio Geba, em junho ou julho de 1969: Passeio de piroga junto à ponte de madeira de Contuboel, sobre o rio Geba... Nunca soube quem nos tirou esta foto... fabulosa.  [Talvez o Cândido Cunha, o "Canininhas", sugere o barqueiro (*)]... Levei 40 anos a tentar recordar-me do nome do barqueiro (**)...

Foto (e legenda) © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Texto do Renato Monteiro, disponível no seu blogue "A Minha Cave" 

28 de julho de 2017 > Os Gatos Pretos, Brancos e Amarelos

Texto dedicado ao meu amigo Luís Graça (***)

De tão densa a floresta, mal o sol penetra. Escura como a galeria funda de uma mina. Húmida e lúgubre, por vezes, apavora!

E que dizer dos ramos e mais ramos espinhosos que nos rasgam a pele? Das ardilosas covas abertas, pelas quais se pode desaparecer para sempre? Das ciladas dos animais? Sobretudo dos gatos brancos, pretos e amarelos, que, eriçados, soltam mios e mostram as garras, quando não se ocultam atrás dos troncos, das pedras e da folhagem. Os que nunca se abstêm de espiar, tanto os nossos gestos, como as nossas falas caladas.

Mesmo assim, não desistimos de cantarolar uma letra infantil que conta a história de um cão felpudo e sem abrigo, abandonado pelo seu dono por um amor havido a uma mulher… E enquanto os mochos, nas copas das árvores, piam, piam incansavelmente, lembrando viúvas a chorar, nós continuamos adiante, sem evitar os espinhos mais agudos, que nos deixam a sangrar. Mas, por muito exânimes, voltamos a repetir cada vez mais alto a cantilena, onde entra a história do cão abandonado… sem que alguma vez os gatos pretos, brancos e amarelos, nos percam de vista e, eriçados, mostrem as garras e espiem, espiem

Apenas a memória do sol nos ilumina um pouco. A estrela que ainda mantém as suas marcas no nosso corpo, sobretudo nas mãos humedecidas, a fecharem-se e a abrirem-se, instintivamente, detendo e largando as ambições de outrora….


Só bem mais tarde, a inesperada clareira de um extenso lago, acaba por nos obrigar a interromper a marcha. E é, então, aí que os gatos pretos, brancos e amarelos, quais guardiões do fogo do inferno, logo se dispõem em volta, tornando impossível romper com aquele anel odioso de felinos! Apenas nos resta a oportunidade de matar a sede e quase fazer ruir o céu, ao cantarmos, de novo, a história aprendida na nossa infância.

Impensável é que, nesse instante, os gatos pretos, brancos e amarelos, fossem levados a distender as patas dianteiras, recolher as garras, inclinar as cabeças redondas, deixando-se, por fim, adormecer…

Quartel de Penafiel, 24- 10 - 1968
_____________

(*) Vd. poste de 23 de junho de  2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

(**) Vd. também poste anterior, 23 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

(***) Último poste da série > 24 de abril de 2017 > Guiné 61/74 - P17276: Blogues da nossa blogosfera (77): Alda Cabrita, em 24/4/2015, à conversa com o gen trms ref Pena Madeira: uma história com h pequeno dentro da História com H grande, a colocação do cabo de transmissões no Posto de Comando do MFA, na Pontinha... (Uma homenagem à arma de transmissões: a não perder, amanhã, às 21h00, na RTP1, o documentário "A Voz e os Ouvidos do MFA")

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17524: Facebook...ando (46): o pesadelo da... festa do carneirinho (Joaquim Peixoto, prof ensino básico, reformado, Penafiel; ex-fur mil MA, CCAÇ 3414, "Os Falcões de Sare Bacar", Bafatá e Sare Bacar, 1971/73)





Penafiel > Corpo de Deus - Festa das Cidade de Penafiel > Cortejo do Carneirinho > 14 de junho de 2017 > O senhor professor Joaquim Peixoto convidou os seus ilustres amigos e camaradas para assistirem ao lindo cortejo e inteirarem-se desta tradição, única no País, "com a promessa de seguidamente rumarmos ao 'Ramirinho' para saborearmos o que de bom há nesta região"...

Fotos e texto: Página do Facebook do nosso camaradas Joaquim Carlos Rocha Peixoto [professor do ensino básico reformado, residente em Penafiel, ex-fur mil inf MA, CCAÇ 3414, Os Falcões de Sare Bacar (Bafatá e Sare Bacar, 1971/73, régulo da tabanca de Guilamilo, freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães].
O casal Peixoto, ambos professores do ensino
básico, reformados, dois dos nossos grã-tabanqueiros:
ele, Joquim, ela, Margarida.
Foto do Manuel Carmelita (2010)

1. Penafiel > O Pesadelo... do Dia do  Carneirinho

por Joaquim Peixoto


Hoje acordei mais cedo e um certo nervoso tomou conta de mim. Sim, era o dia do carneirinho, mas eu já o recebo há tantos anos que não sei por que motivo estou nervoso.

A verdade é que convidei alguns amigos para virem apreciar este cortejo. Queria que os meus amigos, tudo pessoas ilustres, vissem o carneirinho que os meus alunos me iam oferecer. O grupo de amigos era composto por um ilustre escritor, com alguns livros publicados, três fotógrafos (um deles fotojornalista desportivo), um Presidente de um Bando, um ex-enfermeiro, outros que vinham por curiosidade e outros que vinham “ só “ para comer.

Queria que os meus amigos ouvissem os meus alunos a gritarem bem alto:
- Viva o Professor Peixoto!!!

Como estava a dizer, levantei-me cedo e fui para as ruas de Penafiel escolher o melhor local para ver o desfile. Ainda o trânsito não estava interrompido e as ruas muito desertas. Passado muito tempo começaram a aparecer os meus amigos. Escolhemos um local estratégico. Finalmente o desfile dos alunos com os carneirinhos ia começar. À frente vinha a Serpe e os bombos. Embora o barulho fosse ensurdecedor lá expliquei aos amigos o que era e representava a Serpe.

Passaram, em primeiro lugar, os alunos dos infantários. Carneirinhos muito bem enfeitados e os miúdos a darem “ vivas “ às Educadoras de Infância.

Iam passando os carneirinhos. Uns iam em carros de supermercados, outros em tractores engalanados com bandeiras e flores. Cada vez que passava um carneirinho bem enfeitado, eu dizia para os amigos:
- Quando vier o meu, vão todos ficar admirados.

Passaram os alunos do meu amigo Carlos Rocha. O carneirinho ia muito bem ornamentado. Os fotógrafos não paravam de tirar fotos. Eu ia avisando:
- Não gastem o rolo todo. Esperem que venham os meus alunos.

Não valeu de nada este meu aviso. Continuavam a fotografar tudo. O cortejo ia passando há muito tempo, e os meus alunos não apareciam com o animal. Comecei a ficar preocupado. Cartazes a falarem dos Professores José, Isabel Laura, Miguel etc… Do Professor Peixoto … nada.

Passou o último… As lágrimas vieram-me aos olhos. Estava desanimado e envergonhado. Desanimado por não ver os meus alunos a compreenderem o meu trabalho. Envergonhado, porque o que iriam dizer os meus amigos. Tentaram animar-me. Dizia um:
- Talvez o carneiro tenha fugido e os alunos andem a procurá-lo.

Logo outro dizia:
- Devem-se ter enganado no caminho e ido para outro lado.

Um enfermeiro das Medas queria dar-me uma “pastilha” para me acalmar. Nada disto me animava até que veio o Zé Manel da Régua com a piadinha do costume:
- Seria o Cancela que o apanhou?!!!

Não gostei nada da piada. O amigo Cancela não era capaz de me roubar o carneirinho (*). Ele não estava na Guiné. Para me animarem iam-me dando palmadas nas costas. Uma, talvez fosse com mais força chamou-me a atenção e ouvi a minha mulher a dizer:
- ACOOOOORDA!!!. Estás a ter um pesadelo!

Acordei. Claro que tinha que ser um pesadelo. Já estou reformado há seis anos. Virei-me para o outro lado para tentar dormir. Não conseguia adormecer. Porque seria? Levantei os olhos. Olhei para o relógio da mesinha de cabeceira: onze horas da madrugada. (**)

2. Nota do editor:

Segundo a página oficial da Câmara Municipal de Penafiel,  "o cortejo do Carneirinho, tradição única no país, que remonta ao ano de 1880, [marca] o início das festas da cidade [, que são na semana do feriado no Corpo de Deus], onde centenas de crianças, de várias escolas do 1.º ciclo do concelho, [percorrem] as avenidas principais da cidade. Cada turma leva consigo o seu carneirinho, enfeitado, que por sua vez, será oferecido ao seu Professor, como sinal de gratidão e respeito. O cortejo concentrar-se-á no Largo Conde Torres Novas, vulgarmente designado por Campo da Feira, percorrendo depois as principais ruas da cidade, enchendo de cor e alegria o primeiro dia de comemorações da festa da cidade."
_______________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17438: Memórias boas da minha guerra (José Ferreira da Silva) (43): O Zé Manel dos Cabritos e os amigos invejosos

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15733: Memória dos lugares (333): Antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

 Antigo Quartel do RAL 5 - Penafiel
Foto retirada da internete, com a devida ao seu autor


 

1. Em mensagem do dia 22 de Janeiro de 2016, o nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) fala-nos do antigo RAL 5, Unidade Mobilizadora da sua Companhia.


O antigo Quartel do RAL 5 de Penafiel

A cidade de Penafiel, detentora de uma unidade militar denominada Regimento de Artilharia Ligeira N.º 5 (RAL 5), onde deu formação correspondente àquilo a que se chamava Especialidade as vários Batalhões e Companhias, entre elas a minha CART 1742, local onde recebeu ordem de embarque após mobilização para a Província da Guiné Portuguesa, onde chega em 30 de Julho de 1967, conjuntamente com a CART 1743 do mesmo RAL 5.

O Regimento de que estou falando formava também militares com a Especialidade de Ajudante de Cozinheiro, alguns desses camaradas foram colocados nas companhias que dali partiam para o Ultramar Português, entre elas a CART 1742, onde o Albino, o Silva e o Guilherme, dentro dos condicionalismos de então, nos prepararam algumas deliciosas refeições.

Sem mais, um Alfa Bravo para todos.
Abel Santos
____________

Nota do editor

Último poste da série de 26 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15672: Memória dos lugares (332): Camajabá do tempo da CART 1742 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13033: Convívios (585): XXXI Almoço do pessoal da CCCAÇ 2317 / BCAÇ 2835, dia 7 de Junho de 2014 em Penafiel (Joaquim Gomes Soares)

1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Gomes Soares (ex-1.º Cabo da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835, Gandembel / Ponte Balana, 1968/70), com data de 11 de Abril de 2014:

Amigo Carlos Vinhal,
Como de costume envio-te em anexo as informações do meu almoço para que seja publicado, se possível, no site do Luís Graça.
O almoço realizar-se-á no dia 7 de Junho pelas 12h.

Um abraço,
Joaquim Soares





AMIGO E COMPANHEIRO:

NO ALTO DE UMA ELEVAÇÃO NÃO MUITO PRONUNCIADA, NUM LOCAL QUE SEMPRE CONSTITUIU IMPRESCINDÍVEL PASSAGEM PARA QUEM VAI DO PORTO PARA VILA REAL, A 2 KM DO RIO SOUSA BANHADA A NASCENTE PELO PEQUENO TÂMEGA, SITUA-SE A PEQUENA E REQUINTADA CIDADE DE PENAFIEL.

A ORIGEM DO NOME PENAFIEL É DIFERENTE EM DIVERSAS LENDAS, SENDO NO ENTANTO A MAIS COMUM A QUE AFIRMA QUE A ORIGEM DO NOME SURGIU DE FORTIFICAÇÕES EXISTENTES NA LOCALIDADE. QUANDO SE DEU A FUNDAÇÃO DA CIDADE, ERGUIAM-SE AQUI DOIS CASTELOS. UM DELES SITUAVA-SE JUNTO AO RIO SOUSA, A NORTE DO SEU LEITO, E CHAMAVA-SE CASTELO DE AGUIAR DE SOUSA. O SEGUNDO NA MARGEM SUL DO RIO CAVALUM, E A POUCOS KMS DA MARGEM DIREITA DO RIO, DENOMINAVA-SE CASTELO DA PENA (PENNAFIDELIS). ATACADO DIVERSAS VEZES PELOS MOUROS, ESTA ÚLTIMA FORTIFICAÇÃO NUNCA SE RENDEU, O QUE LHE VALEU O EPÍTETO DE "FIEL" PASSANDO ASSIM A SER CONHECIDA POR CASTELO DE PENAFIEL.

ESTE ANO PARA O NOSSO ALMOÇO DE CONVÍVIO, ESCOLHI O RESTAURANTE TRÊS MIGUÉIS, LDA. ESTE RESTAURANTE, COMO JÁ É CONHECIDO PARA ALGUNS DE VÓS, SITUA-SE NA RUA PADRE LOPES COELHO 4575-267 OLDRÕES. TEL 255612465.

O ALMOÇO DESTE ANO REALIZA-SE DIA 7 DE JUNHO, UM SÁBADO, E CONTAMOS CONTIGO A PARTIR DO 12H.

COMO DE COSTUME DEIXO-TE O MEU CONTACTO, PARA QUE POSSAS MARCAR A TUA PRESENÇA, DAR NOTÍCIAS OU SABER INFORMAÇÕES:

TEL 225 361 952 OU 224 015 462 
TELM: 936 831 517
Email: joaquim.gomes.soares@hotmail.com

SE PUDERES, NÃO PERCAS MAIS UM DIA DIFERENTE, CHEIO DE ANIMAÇÃO E DE CONVÍVIO. 
AGRADECIA QUE ME CONFIRMASSES A TUA PRESENÇA LOGO QUE POSSÍVEL, DE PREFERÊNCIA ATÉ DIA 31 DE MAIO.

UM ABRAÇO,
Joaquim Soares



EMENTA

APERITIVOS E ENTRADAS VARIADAS

BEBIDAS: 
Vinho maduro da casa branco ou tinto 
Vinho verde da casa branco ou tinto 
Água Sumos Cerveja

SOPA: 
Sopa de legumes 
Canja de galinha

PEIXE: 
Bacalhau à Liberdade 

CARNE: 
Borrego Assado/ Lombo de Porco 

SOBREMESA: 
Buffet de bolos 
Fruta da época 
Bolo Festivo 

CAFÉ 

DIGESTIVOS DA CASA: 
Aguardente da casa 
Brandy 
Vinho do Porto 
Whisky Novo
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Nota do editor

Último poste da série de 23 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P13023: Convívios (584): 11º Convívio da CCAÇ 2527, próximos dias 11 e 12 de Maio em Buarcos (Miguel Soares)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11668: Blogoterapia (227): É por tu que se entendem os tabanqueiros (Joaquim Cardoso)

Penafiel - Jardim do Sameiro
Com a devida vénia ao site da CM


1. Mensagem do nosso camarada Joaquim Cardoso (ex-Soldado de TRMS do Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74), com data de 31 de Maio de 2013:

Caríssimos amigos,
Luís Graça e Carlos Vinhal:
Dando cumprimento à regra, (é por tu que se entendem os tabanqueiros), escrevo com o total à-vontade que por vós me foi dado, para agradecer terem-me aceite como novo tabanqueiro*.
O meu muito obrigado a todos.

Dirijo-me agora ao Luís Graça para dizer que fico contente em saber que conhece e gosta de Penafiel. Não é a minha verdadeira terra, (nasci em Carvalhosa-Marco de Canaveses) mas, vivendo há cerca de 37 anos em Castelões-Penafiel, (Terra do Zé do Telhado!) e, sendo estas duas freguesias separadas apenas pelo pequeno rio Odres, é propriamente a mesma coisa.

O conteúdo seguinte é para o C.Vinhal
Compreendo a frustação de quem, tem por norma estar sempre atento ao "serviço," perca de vista algo que, não sendo nada de especial, lhe tenha passado despercebido. Porém, o simbolismo do velhísssimo episódio de Egas Moniz a que recorreste, trazido ao caso, só se tornaria aceitável por mim se invertidas as personagens, ou seja: tu o rei Afonso VII de Castela e eu, Egas Moniz aio do primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques, que já de corda ao pescoço, te dava toda a liberdade para a apertares, não como resgate da falta à palavra dada mas sim, como merecido castigo de ter sobrecarregado com mais trabalho alguém já de si muito carregado.
Peço desculpa a todos, especialmente aos professores de história que certamente na tabanca os haverá, por estar a brincar com coisas sérias mas, aproveitei o momento para exercitar a minha fraca memória.

Mudando para outros assuntos, quero também agradecer o facto de teres enviado o meu primeiro mail ao amigo A. Santos que prontamente me ligou e com muito entusiasmo trocamos as primeiras impressões. Falámos dos convívios para nos encontrarmos, mas desta vez não me é possível por motivos que lhe expliquei. Ficará para outra vez.

Aproveito para dizer que tenciono brevemente escrever a minha historieta militar para vos enviar.

E por hoje acho que chega de conversa.
Despeço-me com um abração para todos não esquecendo os amigos José Saúde e José Colaço que me enviaram e-mails de felicitações pela minha entrada na tabanca.

Até breve.
J.Cardoso
____________

Nota do editor

(*) Vd. poste de 29 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11651: Tabanca Grande (401): Joaquim Moreira Cardoso, ex-Soldado TRMS do Pel Mort 4574 (Nova Lamego, 1972/74)

Último poste da série de 10 DE ABRIL DE 2013 > Guiné 63/74 - P11368: Blogoterapia (226): Aos 60 regressam em força as amizades, principalmente entre combatentes (Joaquim Mexia Alves)

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10332: Blogpoesia (198): Uma estranha maneira de dizer adeus (Luís Graça)



Lisboa > Cais da Rocha Conde Óbidos > Meados de 1965 > Embarque, no T/T Niassa, do pessoal da CCAÇ 1426 e de outras unidades para o TO  Guiné. Ao fundo, o tabuleiro da ponte sobre o Rio Tejo ainda em construção. Compare-se, entretanto, esta foto com as cenas dos dois primeiros minutos do vídeo feito pelo Henrique Cardoso com a história da CART 2339 (Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69): embarque do pessoal, no N/M Ana Mafalda, em 14 de janeiro de 1968.

Foto: © Fernando Chapouto (2006). Todos os direitos reservados.




O meu país megalítico > Penafiel > Oldrões - Galegos >  25 de agosto de 2012 > Castro de Monte Mozinho > Povoação castreja, da época da romanização ( Sec. I d.C. e seguintes). A acrópole (o "terreiro do povo") ao centro, assinalado a tracejado.

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


Uma estranha maneira de dizer adeus

por Luís Graça (*)

uma estranha maneira de dizer adeus.
um estranho povo este
que vem ajoelhar-se
no cais da partida,
não em oração,
para aplacar a ira dos deuses,
mas vergado,
vergado à toda poderosa razão
de Estado.

a tentacular força centrífuga
que de há séculos
te leva os filhos teus,
para fora.
paridos e expulsos da mátria,
para longe.
bem para longe.
muito para lá do mar.

uma despedida breve,
com lágrimas salgadas no rosto
e lenços brancos em fundo preto.

todas as despedidas são breves e tristes,
o momento
em que o niassa apita três vezes
e levanta a âncora,
nunca se poderia eternizar:
diz o capitão de mar e guerra,
lencinho ao pescoço,
cheirando a vate 69,
fotocine, 

cinéfilo,
garboso, 

charmoso,
pronto para a acção.

há um briefing às cinco da tarde,
já em velocidade de cruzeiro,
depois do bugio,
no mar alto português,
anuncia o capitão,
pouco ou nada miliciano,
que serve de mordomo,
pequeno-burguês.
vai na segunda comissão,
o oficial provinciano,
que nunca ouviu falar
da batalha de dien bien phu

nem da operação tridente 
na ilha do como.

e o filme da noite é
uma comédia,

do cinema mudo,
acrescenta o nosso primeiro,
a servir de porteiro
do cais do sodré.
um gajo bacano,
num país de bacanos,
de soldados rasos, 

primeiros cabos,
furriéis 

e segundos sargentos.

uma tragicomédia,
escreverás tu
no teu diário
a que mais tarde chamarás
o diário de um tuga.
cadé os oficiais ?
cadé a elite da nação ?
os filhos-família,
os primeiros,
a fina flor,
os morgados,
os primogénitos,
os fidalgos,
a casta,
a raça,
o sangue azul,
o pedigree,
os melhores de todos nós ?
morreram todos
em alcácer quibir.

lisboa revista
em filme de oito milímetros.
a preto e branco.
ou a preto e negro.
uma só nação,
valente mas mortal,
ironiza alguém.
o niassa colonial
na azáfama do seu vai-e-vem
antes de ir parar à sucata.
inglória a sucata da história
que eu perdi
aos dezoitos anos,
quando dei o meu nome para as sortes.
estranha palavra esta, 

das sortes,
que rima com desnortes
e com mortes.

a despedida breve e triste
do niassa
e ainda mais triste é o filme.
sem som.
sem palavras desnecessárias.
a preto e branco
que alguém terá feito
no cais das sete partidas.
talvez a noiva
que ia vestida de branco
com xaile preto.

a ponte de salazar,

ainda reluzente.
o velho abutre 

que alisa as suas penas,
dirás tu, sophia, pitonisa,
quase morto mas não enterrado.
os últimos golfinhos do tejo.
a última fragata de vela erguida,
a última caravela,
o último império.

o cristo rei em terra que outrora foi de infiéis,
o terreiro que continua do paço, não do povo,
lisboa e o seu casario,
branco.
o filme a preto e branco.
um gato preto à janela.
lisboa e as suas ruínas
pré-pombalinas.
o poço dos mouros.
o poço dos negros.
o lundum.

a umbigada.
a procissão
da nossa senhora da saúde.
a santa inquisição,
zelando pela pureza do sangue,
o cemitério dos prazeres
ao alto,
com os seus altos ciprestes negros.
os mastros dos navios
da carreira colonial.
o império por um fio.
a vida que se recapitula,
de fio a pavio,
no último comboio da noite
que veio do campo militar
de santa margarida.

ah!, e as santas das nossas mães
que ficaram em casa,
a acender a vela à santa das santas.
um fado que tu ouviste no bairro alto
e que já não era batido
nem dançado 

nem cantado.
um fado apenas gemido.

ordeiros os soldados
como os cordeiros da matança da páscoa.

anhos, dizem no norte.
alinhados
no cais da rocha conde de óbidos,
como os eléctricos amarelos
que vão para a cruz quebrada.
empilhados. 

aboletados.
requisitados
às mães para servir
a pátria,
o pai-patrão
que lhe cobra o dízimo
em sangue, suor e lágrimas.

mudos, agrilhoados, os básicos,
uns refractários,
outros desertores,
cozinheiros, 

magarefes,
corneteiros,
apontadores de dilagrama,
municiadores de metralhadora,
atiradores,

sacristães,
coveiros.


coitadas das mães que tais filhos pariram,
diz a letra do ceguinho.
subindo o portaló,

 o cadafalso,
com um nó na garganta
bem disfarçado.
os lenços brancos
como em fátima no 13 de maio.
algumas bandeiras verdes-rubras,
poucas e loucas,
que os tempos não são
de exaltação
patriótica.
o hino
canta-se com voz rachada,
em disco riscado
por senhoras
do movimento nacional feminino.

a mesma atitude
admirável
de patética resignação
perante o arbítrio dos deuses
que tudo pedem e podem,
diz o capelão,
cheio de unto e de virtude,
que este é um povo religioso
porque tem o sentido do pathos.
leia-se: da tragédia inelutável.

senhora minha, protege-me,
das minas e armadilhas,
dos fornilhos 

e das bailarinas,
das canhoadas e roquetadas,
das morteiradas,
dos estillaços
e dos tiros de costureirinha.
protege-me do IN,
dos esquentamentos e das sezões,
dos ataques de abelhas
e das formigas carnívoras.
mas também do cone de fogo
das nossas bazucas e canhões sem recuo.
das piçadas e dos louvores dos meus comandantes.
e sobretudo de mim mesmo,
soldado malgré moi
soldado à força
arrebanhado, arregimentado, aboletado,
requisitado, condenado, ameaçado,
camuflado.
livra-me, senhora minha,
da fome, da peste e da guerra,
e do inimigo da minha terra
que me manda para tão longe.


lisboa e as suas sete colinas
perdem-se na linha de água.
puseste o combate do possível
na tua agenda
de expedicionário da guiné.
puseste o fio com a medalha de ouro
ao peito.
que te deu a namorada,
coitada.


não, não uso a cruz. 
o crucifixo.
não vou para a guerra santa,
senhor capelão.
alguém há-de rezar por mim
para que eu volte
são e salvo.
do regulamento é apenas
a chapa de zinco
com o número mecanográfico
13151468
e o picotado ao meio.
para mais facilmente ser cortada
em duas partes
que seguirão caminhos distintos
tudo isto face ao risco,
bem real e concreto,
de eu morrer longe.
bem longe

da pátria,
para lá do mar,
em terra que não me viu nascer.


descansa, camarada,
alguém fará o teu espólio.
cerrará os teus dentes,
fechará os teus olhos
e engraxará as tuas botas.
se não morreres de morte súbita.

levarei comigo a pedra-chave
que me liga ao além.
uma chapa de zinco,
picotada ao meio.
outrora era de xisto ou de grés,
entre o meu antepassado 

calcolítico,
castrejo,
romanizado.

camaradas
(que colegas é só nas putas):
se eu morrer, que me enterrem,
numa anta do meu país megalítico. (**)


luís graça
lisboa-bissau / niassa, 24-30 de maio de 1969 / 
revisto e aumentado: lisboa,  março de 2007 / abril 2021

________________


Notas do editor:

(*) Uma primeira versão foi publicada na I Série do blogue >  16 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DXL: o meu país megalítico


(**) Último poste da série > 24 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10297: Blogpoesia (197): O trabalho, por António Peres, poeta popular (José Colaço)

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guiné 63/74 – P9565: Convívios (398): Pessoal da CART 3567 (Mansabá, 1972/74), Penafiel, dia 24 de Março de 2012

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Valdrez que prestou serviço na CART 3567, Mansabá, 1972/74:

Caro amigo
Vivi os anos de 1972 / 1974 na Guiné.
Dia 24 de Março vamos fazer um encontro com quem estiver disponível. 
Será possível divulgar no blogue a existência desse encontro?


Dia 24 de Março os camaradas da CART 3567 - 1972/74 - Mansabá, promovem um encontro de amizade. 40 Anos depois.

Concentração Quartel RAL 5 - donde partiram para a Guiné há 40 anos.

Os meus contactos: Manuel Valdrez - 939 026 434 e Facebook - https://www.facebook.com/manuel.valdrez

Obrigado pela disponibilidade
Manuel Valdrez
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9517: Convívios (318): Comemoração do Dia do Combatente de Gondomar, dia 3 de Março de 2012 (Carlos Silva)

domingo, 12 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6978: Convívios (270): Tabanca de Guilamilo, Polvoreira, Guimarães, 30 de Agosto de 2010,com o Joaquim e a Margarida Peixoto (Luís Graça)




A festa do carneirinho é uma tradição única no nosso país. Em Penafiel, o carneirinho é festejado na véspera o dia do Corpo de Deus. Em que consiste ? Nesse dia as crianças do 1º ciclo do ensino básico  (antiga 4ª classe) fazem um desfile,  ao longo das ruas de Penafiel. À frente seguem os bombos e os divertidos gigantones. Cada turma leva consigo um carneirinho, um anho,  enfeitado com flores de papel multicolores, oferenda ao seu(sua) professor(a)... Os miúdos vão vestidos com roupas tradicionais, levam bandeiras de papel e cartazes com frases alusivas aos professores. Desfilam entoando canções feitas por eles sobre o carneirinho, a escola e os professores. E no passado, a palmatória... Como recordam, aqui, os nossos amigos Joaquim e Margarida Peixoto, ambos professores, residentes em Penafiel. Ele, membro da nossa Tabanca Grande.

Esta tradição remonta a 1880, segundo Teresa Soeiro, autora do livro Penafiel. Nesse ano “um grupo de alunos da Casa Escolar do Sr. Henrique de Carvalho resolveram brindar o seu professor com um carneiro e fizeram-no por modo vistoso (…) indo na frente montado num jerico um aluno tocando corneta, e o carneiro muito enfeitado entre duas alas de pequenos estudantes vestidos a capricho. Todos acharam graça à lembrança.”

A nossa amiga Guida lembra-se, do seu tempo de menina e moça, das quadras que os  alunos cantavam durante o desfile, frente à casa da professora:

Viva o Carneirinho, / Viva a Professora, / Morra a palmatória, / Morra!

... No dia 30 de Agosto de 2010, nasceu mais uma Tabanca, a de Guilhomil, nome da quinta do Joaquim, sita na freguesia de Polvoreira, concelho de Guimarães. Fui lá, com familiares, almoçar, em resposta a um convite a este simpatiquíssimo casal de quem,  eu e a Alice,  já nos tornámos amigos.


 Vídeo (3' 38''): Luís Graça (2010). Alojado em You Tube > Nhabijoes




Guimarães, berço da nacionalidade, património mundial da humanidade... preparando-se para ser  a Capital da Cultura 2012...


Guimarães > Centro histórico, zona intra-muros (Classificada como património mundial da humanidade)  > Os antigos paços do concelho




Guimarães > Centro histórico > O célebre Largo da  Oliveira...



Guimarães > Centro histórica > Cada recanto, um encanto...



Guimarães < Polvoreira >  Quinta de Guilamilo, doravante Tabanca de Guilamilo ... A nobreza do granito esconde um antigo convento, de cuja história se sabe pouco... A casa está assombrada por vários fantasmas: o do Zé do Telhado, que a terá assaltado em emados do Séc. XIX; a de um frade que lá foi assassinado, possivelmente depois da extinção dos conventos em 1834... Mas foi lá que o Joaquim conheceu a Guida, numa festa que ele organizou depois do seu regresso da Guiné, creio que na passagem de ano de 1974...


Em casa é em U... Um pormenor do pátrio exterior, visto do 1º piso...


Vista para o pátio de entrada da quinta e da casa...


A belíssima cozinha do convento, que chegou a ter três fornos... Restam agora dois...


O oratório... e alguns dos livros que sobreviveram ao passar dos anos...


Fazendo as honras à casa: o Joaquim é exímio na arte de bem receber... O Joaquim e a Guida fazem, de resto,  uma belíssimo par.


Ainda em obras, a casa (o casarão) é um encanto... Da direita para a esquerda, o Joaquim (que a Guida trata por Carlos), a Alice, e os meus cunhados (e sócios de A Nossa Quinta de Candoz) Gusto e Nitas.


Vamos lá então ao cabritinho... com o estômado já bem composto pelas magníficas entradas confeccionadas pela Guida... Os vinhinhos eram verdes, monocastas, não da quinta (que produziu 40 pipas no tempo do pai do Joauqim) mas da  Região Demarcada dos Vinhos Verdes: um azal, outro avesso...À mesa estavam apenas, além dos anfitriões, a minha mulher Alice, e os meus cunhados, Ana Carneiro e Augusto Soares... Foi uma tarde de amena cavaqueira... Ainda iríamos depois à Penha (Guimarães) e ao Santuário de São Bento (Vizela)... Com esta história regressámos, eu e a Alice, a Candoz (e os meus cunhados ao Porto) já no dia seguinte...




A Guida, aliás Margarida... que na infância viveu em Angola.


Depois de uma magnífica refeição, ficámos os dois, eu e o Joaquim, a lembrar as coisas e as loisas da Guiné, com o Old Parr como digestivo...



 
A chave da nova Tabanca... de Guilamilo



O portal da casa do caseiro...



O velho brasão... A quinta foi herança do Joaquim, por via paterna... O pai foi nado e criado em Penafiel.




O senhor professor Joaquim Carlos Rocha Peixoto... ainda no activo...  A Guida já está reformada...

Recorde-se que era foi Fur Mil, da CCAÇ 3414, Sare Bacar, Cumeré, Brá, tendo estado no CTIG entre Julho de 1971 e Setembro de 1973.

A CCAÇ 3414 era uma companhia açoriana, comandada pelo Cap Inf Manuel José Marques Ribeiro de Faria... Unidade mobilizadora, BII 17. O Joaquim era amigo do Fernando Ribeiro, morto já no final da comissão...Falámos disto, das peripécias da Guiné, das (des)venturas dos nossos camaradas (alguns velhos, gastos, doentes, solitários, e com dificuldades financeiras, garante ele que é um homem atento, observador e sensível). Falámos das nossas Tabancas, a Grande e a Pequena (a de Matosinhos, de que o Joaquim é presença habitual nos almoços de 4ª feira)... O Joaquim fez o antigocurso do magistério primário já depois de regressar da Guiné... A ele e à Guida o meu muito especial Oscar Bravo (obrigado) pela hospitalidade e a amizade com que me honraram, a mim, à Alice e aos meus cunhados.





Vizela > Santuário de São Bento, a 410 acima do nível do mar, ao pôr do sol... Dois camaradas da Guiné, Joaquim Peixoto e Luís Graça, os dois primeiros inscritos na Tabanca de Guilamilo (e não Guilhomil...). Obrigado, Joaquim, por esta bela jornada...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados

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Nota de L.G.: