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sexta-feira, 28 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2692: Construtores de Gandembel / Balana (3): Nunca falei em protagonismo pessoal, mas sim da CART 1689 (Alberto Branquinho)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > Ponte Balana (ou sobre o Rio Balana) na estrada de Gandembel-Quebo > 3 de Março de 2008 > No regresso a Bissau, depois da visita, ao sul, dos participantes do Simpósio Internacional de Guileje... O último olhar de Nuno Rubim (tendo a seu lado, a Alice, esposa do editor do blogue) e, noutra foto, do Zé Teixeira... Tudo indica que a construção desta ponte (dinamitada pelo PAIGC, reconstruída pelo menos duas vezes pelas NT, e hoje com tabuleiro em madeira, em risco de ruína) seja da mesma época, princípio dos anos 50, da construção da ponte sobre o Rio Corubal, no Saltinho, que no nosso tempo se chamava Ponte Craveiro Lopes... Mais antiga do que estas, talvez dos anos 40, deveria ser a Ponte, em ruínas, Marechal Carmona, sobre o Rio Corubal, na antiga estrada Quebo-Xitole, visitada em 2001 pelo David Guimarães (1)... (LG)
Fotos: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Alberto Branquinho, ex-Alf Mil, CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

Camarada Luis Graça

Estou profundamente infeliz por ter sido mal entendido pelo Idálio Reis (2), tendo presente o que ele e a sua Companhia terão sofrido durante os muitos meses que terão permanecido naquele inferno depois de 15 deMaio de 1968. Aliás, isso é salvaguardado nos pontos E e H do meu texto. Mas que houve outros homens-toupeira em Gandembel, além dos da CCAÇ 2317, isso houve! E que houve mais outros homens que trabalharam nas obras, também houve ! Mas o nosso mês e meio de Gandembel não se pode comparar com os nove ou dez da CCAÇ 2317.

Quanto ao protagonismo - nunca falei de mim. Falei da minha Companhia - CART 1689.
Quanto ao narcisismo e diletantismo narcisista que encontro ao longo do blogue, nada tem a ver contigo e muito menos com o Idálio Reis, repito MUITO MENOS com o Idálio Reis, que NUNCA fala de si, mas só da sua Companhia e das fotografias que lhe vi já publicadas, ele nunca consta. Se entenderes necessário que eu identifique os casos do «...gosto de falar de mim», eu identificarei.

Não faço questão que este texto seja publicado no blogue (fica ao teu critério ), mas PEÇO o reencaminhes para o Idálio Reis, para que repense o juizo que fez de mim, que me deixou muito infeliz.

Um abraço (e continua a trabalhar NISTO, que é positivo).

Alberto Branquinho

2. Nova mensagem do Alberto Branquinho:

Caro Luis Graça

Obrigado. É verdade. Para completar as informações - conheci o Eng. Carlos Schwarz ( a quem chamam Pepito) em 1999, em Bissau, ao tempo em que era Ministro dos Transportes do governo Francisco Fadul. Fomos com ele por Farim, Susana e Varela, onde dormimos, em casa sua. Essa zona noroeste da Guiné era, afinal, aquela que eu não conhecia do tempo da guerra. Dali fomos (já sem ele) de jeep até Dakar, onde apanhámos um avião para Lisboa.

Para que a nota do Idálio Reis não fique sem clarificação, gostava que publicasses o seguinte texto:


ASS: Construção de Gandembel/Balana


Fiquei mui triste com a parte introdutória do escrito do Idálio Reis. Em primeiro lugar, porque ninguém lhe quer negar o sofrimento e a sobrevivência de nove ou dez meses no inferno de Gandembel; segundo, porque fez de defensor de quem não foi acusado e, em terceiro lugar, porque presumiu que eu conhecia todos os seus textos, quando eu só tinha tropeçado em um ou outro. ( Agora, com os links do comentário final do L.G. fiquei a saber mais ).

Para terminar, pela minha parte, esta troca de notas, venho dizer o seguinte:

- Todos os que fizeram afirmações, ao longo do blogue, quanto à construção de Gandembel/Balana devem considerá-las como corrigidas, referindo que a construção foi efectuada «... pelo capitão F....?.... e pelos seus homens-toupeira da CCAÇ 2317, with a little help from their friends.» ( Que viveram, também, como toupeiras durante quase um mês e meio em Gandembel ).

Este é o serôdio protagonismo que quero para a minha CART 1689, não para mim. Sem voltas e sem amêndoas está explicado.

Nada mais direi sobre este assunto.

Um abraço
Alberto Branquinho

3. Mensagem que mandei ao Idálio Reis (c/c ao Alberto Branquinho e os co-editores do blogue, CV e VB), para fecho desta troca de impressões/recordações entre dois valorosos construtores e defensores de Gandembel/Balana (ou melhor, representantes de duas das nossas unidades que estiveram lá):

A última coisa que eu quero é gente infeliz no blogue e na Tabanca Grande... O Branquinho - que eu sei, pelo Jorge Cabral, que é irmão do outro Branquinho, o ex-Fur Mil do Pel Caç Nat 63, do meu tempo de Bambadinca - já percebeu que entre nós não há ressentimentos: tratamo-nos por tu, como velhos camaradas, e nunca puxamos pela G3 contra um camarada...

Com três anos de comissão bloguística, aprendemos todos a viver e conviver com o que nos identifica e com o que nos separa ou pode ser fracturante... O que temos em comum é um património valiosíssimo que eu quero que o Alberto também partilhe... A partir de hoje ele faz parte integrante da nossa Tabanca Grande, com direito a figurar na lista nominal de A a Z, da coluna do lado esquerdo da página de rosto do blogue... A menos que ele me dê ordens em contrário... Idálio, e os meus caros co-editores, CV e VB, podem dar-lhe as boas vindas... Quem bebeu da água do Balana só pode ser uma camarada fixe... Luís
_____

Notas de L.G.:


(1) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXV: Estórias do Xitole ao Saltinho: duas pontes, um fornilho e uma trovoada tropical (David Guimarães)


(2) Vd. postes anteriores:


terça-feira, 11 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2625: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4): Na Ponte Balana, com Malan Biai, da RTP África



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 1 de Março de 2008 > Caravana do Simpósio Internacional de Guileje... Imaginem quem é que eu deveria encontrar aqui ? O operador de câmara da RDP África, Malam Biai... Nascido em 1965, em Bambadinca, de etnia mandinga, diz que é primo do J.C. Mussá Biai, natural do Xime e membro da nossa Tabanca Grande... Quando puto, ia ao quartel de Bambadinca, à cata dos restos de comida do pessoal da tropa... Lembra-se bem dos militares da CCAÇ 12, unidade de intervenção que esteve em Bambadinca (Sector L1, Zona Leste), entre 1969 e 1973; dos dois ataques do PAIGC ao aquartelamento; da professora Violete (que dava aulas aos putos da 4ª classe) (1); dos fuzilamentos a seguir à Independência (assistiu, aliás, à execução pública de um agente da polícia administrativa de Bambadinca)... Confirmou-me, de resto, a notícia do fuzilamento, na região do Xime, do Abibo Jau, o gigante da CCAÇ 12, e do tenente ou capitão Jamanca, que conheci na 1ª Companhia de Comandos Africanos, e foi depois comandante da CCAÇ 21 (o que vem ao encontro do relato já aqui feito pelo Mussá Biai) (2)...Diz-me, além, disso que o antigo 1º Cabo da CCAÇ 12, o José Carlos Suleimane Baldé, meu guarda-costas, intérprete, guia, cozinheiro, secretário, está vivo, em Amedalai, perto do Xime... Gostaria de o rever...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana > 1 de Março de 2008 > O Coronel Coutinho e Lima, que irá ser o herói do dia em Guileje, faculta-me informação adicional sobre a situação operacional na zona de Gandembel/Balana, entre 1968 e 1973, ano em que comandava o COP5... Na realidade, a ordem para a fixação da CCAÇ 2317, a que pertencia o nosso camarada Idálio Reis, em Gandembel e Balana, não é do Spínola, mas do seu antecessor, em Abril de 1968... E como eu gostaria que o Idálio pudesse estar aqui hoje!


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Rio Balana, visto da ponte > Uma cena quase idílica, e que nos remete ao tempo da guerra colonial: lavadeiras à beira-rio... Era aqui que os homens de Gandembel se vinham abastecer de água e tomar o seu banho (3)... Na época das chuvas, o caudal do rio é seguramente maior...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana, ou Ponte sobre o Rio Balana, afluente do Rio Cumbijã (?)... No tempo da CCAÇ 2381 (Abril de 1968/Janeiro de 1971), um grupo de combate defendia heroicamente esta ponte, vital para o reabastecimento das nossas tropas... A ponte, outrora destruída pelo PAIGC, foi depois reconstruída pela Engenharia Militar... Do lado esquerdo, há uma pequena elevação do terreno...Foi aí que as NT edificaram um fortim, hoje completamente em ruínas. O pessoal de Gandembel vinha aqui abastecer-se de água...


Do outro lado da estrada alguém vai construir uma casa... Continuam a usar-se os materiais tradicionais, o barro, para fazer o tijolo, seco ao sol...
Não sei quantos anos têm estas travessas de madeira do tabuleiro da Ponte sobre o Rio Balana, na Estrada Quebo-Gandembel... Mas não irão durar muito mais... O desgaste provocado pela travessia de veículos automóveis é já evidente...
Em primeiro plano, o editor do blogue, tendo à esquerda um dos elementos da escolta policial da Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria e à direita o escritor Oscar Oramas, embaixador de Cuba em Conacri, antes e depois da morte de Amílcar Cabral.

Uma cena insólita na Ponte Balana... Não é um batalhão, é apenas um magote de fotógrafos e jornalistas tentando ouvir, da boca do editor do blogue, a história da Ponte Balana e dos seus valentes defensores, entre Abril de 1968 e Janeiro de 1969...
O editor do blogue, em cima da ponte de madeira, fazendo um resumo histórico da Ponte Balana, perante as câmaras da RTP - África e outros órgãos de comunicação social, tais como a televisão comunitária do Bairro do Quelélé, TV Klélé... Na imagem, à direita, de óculos escuros, pode ver-se o Califa Soares Cassamá, jornalista, correspondente da RDP-África em Bissau, que ouço, de vez em quando, ao sintonizar de manhã aquela estação radiofónica, a falar com o Guilherme Galiano... Como o mundo é pequeno e a Guiné-Bissau uma tabanca grande: o Califa é primo do meu amigo e aluno de mestrado, o Lázaro Cassamá, médico, filho de um conhecido comandante do PAIGC em Morés, no tempo da luta de libertação...
O pessoal que veio do Porto (juntamente com os de Coimbra) juntou-se a nós em Ponte Balana, a caminho de Guileje... Na foto, a Alice, de costas, do lado esquerdo; o Paulo Santiago, ao centro, e o Álvaro Basto, à direita. Estão alojados em João Landim, a 30 km ao norte de Bissau...

Os nossos queridos amigos e camaradas da Tabanca Grande: Da esquerda para a direita, o Zé Teixeira; o Paulo Santiago, ao meio; o Álvaro Sousa, de costas, à direita. Em primeiro plano, a Alice, a esposa do editor do blogue...

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Ponte Balana / Gandembel > 1 de Março de 2008 > Uma planta chamada matchundadi di branco [ou pila de branco] na expressão bem humorada dos fulas da região (4)...

Fotos, vídeos e texto: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados


Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (4):

Vd. postes anteriores desta série:

9 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2621: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral: 29/2 a 7/3/2008 (Luís Graça) (3): Pequeno-almoço no Saltinho, a caminho do Cantanhez


Sábado, dia 1 de Março de 2008. Partimos hoje de manhã, de Bissau, por volta das 7h30. Seguimos a estrada que vai para leste, ao longo da margem direita do Rio Geba, passando por Nhacra e Bambadinca, flectindo aqui para sul, no sentido do Xitole... Chegamos ao Saltinho às 9h20, sem qualquer paragem anterior. No Clube de Caça do Saltinho fizemos a primeira paragem técnica, para tomar o pequeno-almoço, ou o segundo pequeno-almoço, que isto de andar de jipe em África faz fome e sede...

Às 10h15 a caravana - onde se inclui a Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria, senhora Isabel Buscardini e uma escolta policial - arranca para a próxima paragem em Ponta Balana, perto de Gandembel, por volta das 11h00. Na realidade, chegamos lá just in time, em menos de três quartos de hora. Até agora apanhámos estrada alcatroada, sem curvas...
 
Saltinho, rápidos do Saltinho, Mampata, Contabane (reordenamento do tempo do Paulo Santiago, quando era comandante do Pel Caç Nat 53), Sare Amadi, Quebo (a Aldeia Formosa do nosso tempo, formosa pelas suas bajudas futa-fulas e sagrada pela presença do Cherno Rachid, alto dignatário do Islão em África) (5), Mampatá, Chamarra (estas três localidades, bem conhecidas do nosso Zé Teixeira, quando ele era 1º cabo enfermeiro da CCAÇ 2381, 1968/70)...

A partir de Quebo, o alcatrão foi desaparecendo e entramos em estrada de terra batida... Começa a maldita poeira e aparecem os primeiros buracões, obrigando as máquinas, os pilotos e os passageiros a prodigíos de equilíbrio... No jipe, conduzido pelo Antero, motorista, balanta, da AD, vou eu, a Alice, o Nuno Rubim e a esposa. O coronel vai à frente. Durante o percurso não tiro fotografias. Observamos a paisagem e pomos a conversa em dia. O Nuno e a esposa, que é natural da Guiné, aonde não vinha há trinta e tal anos, formam um casal de cinco estrelas e são uns óptimos parceiros de aventura.

Ponte Balana... Aqui estiveram os homens-toupeiras, os homens de nervos de aço da CCAÇ 2317 (6). Aqui e em Gandembel. Menos de nove meses, de Abril de 1968 a Janeiro de 1969. O tempo suficiente para apanharem com quase três centenas e meia de ataques e flagelações. Por aqui passaram muitas colunas logísticas, vindas de Aldeia Formosa ... Aqui houve muitos combates, feridos e mortos, entre as forças do PAIGG, as nossas tropas especiais e as unidades de quadrícula de Guileje, Quebo, Gandembel... Aqui um dia uma GMC carregada de bidões foi parar ao rio (7)... Falamos da petite histoire da História com H grande... É preciso escrever as duas... É urgente que os próprios guineense conheçam a sua história recente... Um povo sem história é um povo acéfalo, sem memória, sem identidade, sem raízes...

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 11 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2431: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (15): Oficial e cavalheiro em Bambadinca, às ordens de Dona Violete

(2) Vd. poste de 12 de Maio de 2006 >
Guiné 63/74 - DCCXLIX: O fuzilamento do Abibo Jau e do Jamanca em Madina Colhido (J.C. Mussá Biai)

(3) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

(4) Vd. poste de 22 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P895: 'Matchundadi di branco' e o sentido de humor da nossa caserna

(5) Sobre o famoso dignatário religioso Cherno Rachid, da Aldeia Formosa (ou Quebo), vd. postes de:
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)
16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).

(6) Vd. postes de:
16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2489: Estórias de Guileje (4): Com os páras, na minha primeira ida ao Corredor da Morte (Hugo Guerra)




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 /CART 2410 (1969/70) > Saídas para o mato. Fotos de Armindo Batata (que esteve em Guileje como Alf Mil do Pel Caç Nat 51, no tempo da CART 2410, de Jun 1969/Mar 1970) (1).

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.



1. Texto de Hugo Guerra, enviada a 25 de Janeiro de 2008, e dedicado aos "caro Luís e camaradas que um dia destes vão passar neste local"... O Hugo Guerra foi Alf Mil (sendo hoje hoje Coronel DFA, na reforma). Comandou os Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70) (2):



Estórias de Guileje > A minha 1ª ida ao Corredor da Morte (Gandembel-Guileje) (3)




Mal tinha acabado de chegar a Gandembel (que me parecia uma Praça de Touros, vista de cima), e já estava à pega brincalhando claro, com o Alferes Artilheiro com quem tinha estado em Vendas Novas.

Achei estranho que ele tivesse um obus municiado e colocado na horizontal para a mata. Ele lá devia saber porquê e se todos os outros camaradas achavam bem, quem era eu para comentar. Mas quis saber o que ele queria fazer.

Foi-me dito então que a rapaziada já estava farta de levar porrada, com tanta precisão que era lógico pensar que o PAIGC teria por ali perto um ponto de observação e comunicação com as bases deles, para se servirem à vontade.

Era mesmo verdade. Nessa manhã a rapaziada que fazia limpeza de capim no exterior dos arames farpados, tinha descoberto um balcão de 1ª onde o IN se instalava e que dominava todo o perímetro do aquartelamento. Era uma alegria... Para eles, claro!

A aposta era se o Artilheiro conseguia ou não deitar a árvore abaixo à primeira obusada. Mais sabia eu que sim, mas como estava em jogo uma garrafa de uísque e eu sempre tinha que lerpar com uma por ter acabado de chegar, acabei por apostar contra e perdi mesmo... A árvore foi mesmo parar ao chão. E nessa noite Gandembel não foi flagelado.

Feita a apresentação da praxe ao Cap Pára Mário Pinto e, porque além de estar a escurecer, o meu Pel Caç Nat 55 estava em Ponte Balana, foi considerado mais oportuno só ir pra aí no dia seguinte e .......Vivós copos!!! E, como nem arma tinha distribuída, o Cmdt convidou-me para dormir no abrigo dele e de rajada perguntou-me se na madrugada seguinte não queria ir com eles (Páras) ao Corredor ?!.

Meio acagaçado, e perante o ar de gozo daqueles velhinhos todos, pensei que podia despachar aquilo mais depressa (com sorte, ficava ferido) e lá disse destemidamente ao Cap que estava no ir. Possivelmente com receio que eu me desenfiasse, convidou-me para dormir no abrigo dele que o Reis já mostrou em foto no Blogue e que tinha ligação directa ao morteiro 81 (4).



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Foto 217 > "O Comandante da Companhia pernoitava junto a este morteiro 81. O seu guarda-costas, Albino Melo, está atento. O fio ligava-se ao posto-rádio, ali bem perto".


Foto e legenda: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados.


De madrugada, e sem qualquer respeito pelas visitas, atiraram-me para cima um camuflado de Pára-quedista e em menos de cinco minutos já estávamos formados e prontos a seguir. Eu só sabia que tinha que ser a sombra do Cap, não fosse perder-me e lá fomos mata fora no mais completo silêncio até atingirmos um carreiro bastante largo que era o famoso corredor.

Porque já havia luz da madrugada e a nossa missão não era o contacto, inflectimos para a esquerda até encontrarmos a Estrada que vinha do Guileje. O corredor seguia em frente e vim a saber que mais à frente se internava na Guiné - Conacri.

O que nos levara ali nessa operação era tentarmos descobrir os cabos de transmissão e trazê-los de volta a Gandembel. Encontrá-los não foi difícil porque estavam à vista e corriam ao lado da fantasmagórica estrada que ligara em tempos Guilege e Gandembel.

As crateras dos fornilhos eram enormes e muitas delas ainda tinham lá dentro uma ou mais viaturas carbonizada…. Pobres rapazes da 2317 (4)...

Resumindo: voltámos ao aquartelamento pela hora de almoço e carregados com umas centenas de quilos de cabo telefónico……Nos dias que se seguiram, passámos a usar os capacetes da 2ª Guerra Mundial até mesmo dentro do arame farpado. Não fosse o Diabo tecê-las….


Hugo Guerra (5)

____________

Notas dos editores:

(1) Vd. poste de 28 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCX: Ex- Alferes Miliciano Batata (Guileje e Cufar, 1969/70): Pel Caç Nat 51, presente!

(...) De início foi um grande esforço para esquecer o mais rapidamente possível. Agora é a sensação das memórias que se vão esbatendo. Fui Alferes Miliciano Atirador de Artilharia. Estive em Guileje (de Janeiro de 1969 a Janeiro de 1970) e em Cufar (de Janeiro de 1970 a Dezembro de 1970), comandando o Pel Caç Nat 51 (...).

(2) Vd. postes anteriores do Hugo Guerra:

7 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2415: Uma guerra entregue aos milicianos: onde estavam (estão) os nossos comandantes ? (Hugo Guerra, Coronel, DFA, na reforma)

22 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2374: O meu Natal no mato (10): Bissau, 1968: Nosso Cabo, não, meu alferes, sou o Marco Paulo (Hugo Guerra)

29 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 50 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

(3) Corredor de Guileje (Ou de Guiledje)... Corredor da morte, para os soldados portugueses... Caminho do Povo e Caminho da Liberdade, para o PAIGC... Estendia-se de Kandjafra, Simbel e Tarsaiá (Guiné-Conacri) a Gandembel, Balana, Salancaur e Unal (Guiné-Bissau). Para a guerrilha do PAIGC, constituiu o maior e mais importante corredor de infiltração e de abastecimento durante guerra. Sabe-que que a sua manutenção teve um elevado custo em vidas humanas e perdas materiais que acarretou.

Este corredor passou a ter uma importância, a partir do momento em que, depois da batalha do Como (Janeiro/Março de 1964), o PAIGC foi obrigado a abandonar o eixo Canafá-Quitafine-Cassumba-Canamina e Cubucaré.

Através do Corredor de Guileje, foi possível ao PAIGC - apesar das linhas de defesa e da contra-ofensiva das tropas portugueses - garantir, de maneira praticamente contínua, desde 1964 a 1974, a realização de colunas logísticas que levavam o armamento, as munições e outro material indispensáveis à prossecução da luta no interior da Guiné.

(4) Vd. poste de 2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras


(5) Vd. postes anteriores desta série Estórias de Guileje:

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2483: Estórias de Guileje (3): Devo a vida a um milícia que me salvou no Rio Cacine, quando fugia de Gandembel (ex-Fur Mil Art Paiva)

23 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2473 - Estórias de Guileje (2): O Francesinho, morto pela Pátria (Zé Neto † )

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2312: Tabanca Grande (43): Hugo Guerra, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 55 e 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)

Hugo Guerra, ex-Alf Mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 60 (Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70)


1. Mensagem do nosso camarada Hugo Guerra, em 24 de Novembro de 2007, para Luís Graça

Ainda e sempre Gandembel


Caro camarada e, desde já amigo, Luís Graça

Chamo-me Hugo Guerra, nasci em Estremoz em Abril de 1945 e estudei na Escola de Regentes Agrícolas de Évora onde acabei o meu curso em 1964.

Em Agosto de 1968, sem perceber bem como (depois hei-de contar), estava no Ana Mafalda a caminho da Guiné em rendição individual e, como a sorte nunca me bafejou, quando desembarquei já tinha guia de marcha para Gandembel onde fui comandar o Pel Caç Nat 55 que estava adstrito à CCaç 2317 [, Gandembel/Balana, 1968/69].

Passei por Aldeia Formosa, num heli, e aterrei, ainda em Agosto, em Gandembel.

Passei a maior parte do tempo em Ponte Balana e estava lá quando fechámos a porta em Janeiro de 1969 (1).

Nessa altura, e porque a sorte continuava alheia à minha odisseia, fiquei num destacamento logo a seguir, de nome Chamarra.

A CCAÇ 2317 foi para Buba e mais tarde foram acabar a sua martirizada comissão em território menos hostil.

Eu tive, mais tarde, uma passagem rápida por S. Domingos no comando do Pel Caç Nat 50 mas o suficiente para ficar ferido com o rebentamento duma anti-pessoal, salvo erro a 13 de Março de 1970.

Sou hoje DFA e Coronel.

Este é o meu primeiro contacto para ser admitido na tertúlia que acompanho há bastante tempo, mas sempre de longe porque os fantasmas ainda me provocam grandes pesadelos.

Qualquer dia farei uns relatos complementares aos do [Idálio] Reis sobre o inferno do Corredor de Guiledge onde fiz algumas incursões com uma Companhia de Páras que aceitaram levar o periquito para ver como era.

As fotos que junto foram tiradas nos seguintes locais:


(i) à esquerda, com uma granada ao cinto e toalha ao
ombro e sabonete na mão, ia tomar banho num regato
perto de Gandembel;

(ii à direita, junto ao paiol onde dormíamos em Ponte Balana;





(iii) à esquerda estou na Chamarra com um Alferes
que fui substituir;

(iv) à direita, em S.Domingos, com o 1º Cabo Seleiro
que ficou gravemente ferido no mesmo rebentamento que eu.

Por agora é tudo.

Se não tiver muitos pesadelos, esta noite prometo voltar. Moro em Lisboa e o meu contacto de email é: guerra68@tele2.pt e o Telemóvel 960085289.

Talvez nos encontremos em Março com o Pepito, de quem sou amigo e que me convidou; vamos ver se consigo ir.

Um abraço do
Hugo Guerra

2. Comentário de Carlos Vinhal:

Caro Hugo Guerra

Em nome do Luís Graça, Virgínio Briote, meu e de todos os tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, quero dar-te as boas vindas à Tabanca Grande.

Pelo que nos contas, foste um dos companheiros bafejados pela pouca sorte, ao seres apanhado pela arma mais traiçoeira que qualquer um dos lados de uma guerra pode utilizar, uma mina, contra o seu antagonista.

Estás connosco, o que é pelo menos um sinal de que estarás bem, neste momento, e pronto para nos dar a conhecer as tuas experiências. De um modo geral todos temos recordações mais ou menos pesadas, em termos psicológicos, dependendo do que cada viu, viveu e sofreu, mas se é verdade que falar nelas contribui para uma certa descarga emocional, falemos pois então.

Ninguém, a não ser outro camarada, pode entender e compreender o que vai no nosso interior. Para isso existe este blogue, para que cada um, à sua maneira, faça a sua catarse ao mesmo tempo que contribui com o seu testemunho para a História da Guerra Colonial que queremos deixar aos nossos vindouros.

A partir de agora estás mais acompanhado. Participa.

Recebe um abraço de boas vindas de todos os tertulianos.

___________

Nota de CV:

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

domingo, 18 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2277: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) - Anexo II: Gandembel/Balana, Março de 2007 (Pepito)

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 1 > Restos do brazão da CCAÇ 2317 (Abril de 1968/Janeiro de 1969), Os Dragões Dourados....

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 2 > Um antigo abrigo, vendo-se restos das estruturas metálicas que sustentavam o tecto.

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 3 > Mais restos do aquartelamento

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 4

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 5

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 6

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 7

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 8

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 9

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Gandembel > 2007 > Foto 10>

Imagens de vestígios do antigo aquartelamento de Gandembel, outrora guarnecido pela CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69), tendo sido abandonado em 28 de Janeiro de 1969 (1).


Fotos: © Pepito / AD - Acão para o Desenvol vimento (2007). Direitos reservados


1. Imagens que nos foram enviadas pelo Pepito, fundador e director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, em 13 de Março de 2007:


Caro Luís Graça:

Seguem 10 fotos do antigo aquartelamento de Gandembel/Balana, que tirei há dois dias no sul.

Se todos estarão interessados, o Idálio Reis, mais ainda. Ele terá é que redescobrir o aquartelamento, pois o que sobrou foi pouco.

Abraços

Pepito


2. Comentário do Idálio Reis,


Meu caro Luís


Há itinerários pessoais particularmente difíceis de definir e perceber, quando reclamam o fulgor da plenitude, porquanto muito poucos a conseguem atingir. É o caso do Pepito, que um dia teve um forte apelo, para dar cumprimento a uma singular missão. Este seu apego à Guiné, um dos países mais pobres do Mundo, para se empenhar em acções de ajuda filantrópica aos seus naturais, sem nada reivindicar, merece um hino de louvor. Para ele, uma dedicação muito carinhosa, e que possa continuar por muitos anos, esse seu aliciante e abnegado préstimo ao povo-irmão guinéu.

As imagens que se revelam ante o meu olhar, sufocam de estupefacção. Causam-me um pesado sentimento de perda, ainda que reconheça que elas são circunstanciadas pela voragem avassaladora do binómio tempo/homem.

Passaram-se já 4 decénios, é certo, mas o que apenas resta, são fantasmas de uma obra tecida com muito sofrimento. Soerguida por um denodado esforço braçal, sofrida e chagada pelo fenecimento de tantos.

Reassumem estas fotos, a quem agradeço muito sensibilizado ao Pepito, também uma incontida emoção, porque me confrontei com aqueles recônditos, onde sobrevivi uma parte bastante curta, mas crucial da minha vida. A acção de existir é uma dádiva, e esta minha passagem por Gandembel/Ponte Balana, teve a particularidade de sublimar num jovem, a verdadeira dimensão da vida e o real significado da sua importância.

Com as fotografias que em tempos te enviei, tentarei inserir estas que como o Nuno Rubim me referiu, são “fresquinhas...acabadas de chegar”.


Eis então:

Foto 1 > [Minha foto 412] (1)

Sobre uma camada de betão fresco, pode surgir um mosaico gravado, que pode ser essoutro ou um bastante similar.

O que nos interessa é que possa e deva ser uma lápide a colocar no museu de Guileje, de forma a perpetuar no interminável, a presença dos Dragões Dourados da CCaç 2317.

Foto 2 > [Minhas fotos 301 a 308] (1).

Há uma visualização das estruturas metálicas que sustentavam as casernas-abrigo, e que na sua parte exterior eram colocadas: como paredes laterais, troncos de árvores justapostos e uma camada de pedras (bem visíveis), e na parte superior, uma forte camada de betão assente em aplainadas chapas aproveitadas dos bidões, as quais assentavam sobre cibes.

Há ainda uma parede adobada, que julgo ser parte integrante do forno, e que teve de ser refeito parcialmente pelo menos 2 vezes (as minha recordações!), em virtude de ataques ao aquartelamento.

Foto 3 > [Minhas fotos 419 a 421] (2)

Um achado mais complexo. Mas, porque o Pepito também refere o destacamento de Ponte Balana, a minha inclinação propende para este belo sítio. Este destacamento tinha 2 entradas: a nascente, a própria ponte; do outro lado, vislumbro os restos de um pequeno fortim aí situado.


Foto 4 > Uma inscrição, como a de milhares que devem estar espalhados por esse País. Consigo ler: VISEUS,..., GLOB-TROTTERS.

O que se me afigura dizer?. Havia cerca de uma vintena de militares deste distrito, que como se testemunha, se consideravam vagamundos de um destino cruel e incerto.

Mas estes Viriatos também se dignaram fazer a sua história, à maneira do seu antepassado, deixando as suas marcas ao tempo, numa terra tão diferenciada da que os viu nascer.

Foto 5 > Numa outra qualquer parede, um paraquedista também quis deixar o seu registo. Foi um Barreto. E também os que por aqui tiveram uma passagem mais efémera, mas de uma enorme valia, dedicados, valentes e intemeratos, quiseram deixar gravado que Gandembel também lhes foi ponto de passagem e encontro.

Foto 6 > Parece que esta infra-estrutura tomou a intenção de melhor resistir, onde inclusive, na parte superior de uma parede lateral, sobressai ainda a concavidade onde assentava a trave mestra.

Era o armazém dos víveres, uma das últimas construções a substituir uma tenda de campanha.

Foto 7 > Sombras do passado..., mas há aqui restos de uma caserna-abrigo. E à sua direita, um muro de formato circular, que me leva a apontar que era aqui que esteve postado o ninho da metralhadora pesada Browning.

Foto 8 > Parece manifestamente ser o resto de uma edificação mais isolada, a brotar do subsolo. E por isso, só pode ser o paiol, onde milhares munições de todo o tipo, foram guardadas.

Já não espera nenhum SOS, para que um helicóptero se desloque de Bissau, a aportar mais uns cunhetes em falta.

Foto 9 > Uma estrutura metálica que servia de viga, o que indicia que aqui se implantou mais uma das 8 casernas-abrigo.
De pé, eventualmente o resto da parede posterior, que ainda resiste, porventura como cofre-forte a resguardar alguma mágoa mais dolente.

Foto 10 > Trata-se de uma outra perspectiva do local da Foto 2. Esta caserna-abrigo parece tenazmente guardar as suas estruturas metálicas. E como se trata da última fotografia, deixem-me exorcizar os meus fantasmas, e digam da vossa justiça. Aqueles 3 pilares mais seguidos, hoje colocados numa rotunda de uma nossa qualquer cidade ou vila, não daria um belo monumento aos combatentes da guerra colonial?

E se fosse possível transmutá-las, tal e qual, para a nossa Guileje?

É tudo caro Luís. Em nome da minha Companhia, ficam estes 2 pedidos. Sê o mediador com o Pepito, a quem reitero os meus agradecimentos.

E o resto por lá ficará!

Com uma imensa cordialidade, Idálio Reis.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

(2) Vd. post de 18 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2276: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) - Anexo I: Destacamento da Ponte Balana

Guiné 63/74 - P2276: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) - Anexo I: Destacamento da Ponte Balana

Guiné <> CCAÇ 2317 (1968/69) > O pequeno destacamento de Ponte Balana, foi um bastião na defesa de uma ponte que a engenharia militar recuperaria, mas que também acabaria por ruir

Foto 422 > Aproveitando os restos da antiga ponte, davam-se belos mergulhos para banhos retemperadores



Foto 419 > Ponte Balana: Uma visão do destacamento

Foto 420 > Um aspecto interior de Ponte Balana

Foto 421 > Uma vista da entrada contrária à ponte

Guiné > Região de Tombali > Gandembel / Balana >CCAÇ 2317 (1968/69) >

Foto 423 > A retirada de Gandembel, deixa para a posterioridade, este facto pungente, ainda que nenhum documento oficial o revele: 372 ataques e flagelações ao aquartelamento...

Nota de L.G.: Na parede, o seguinte grafito: 17-1-68. [CCAÇ] 2317, A Velhice de Gandembel. 372 ataques. É Pouco ? É!...

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2007). Direitos reservados (1).
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Nota dos editores:

(1) Idálio Reis, engenheiro agrónomo, reformado, foi Alf Mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69)
Vd. post de 10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)



Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > Depois do abandono de Gandembel/Balana em 28 de Janeiro de 1969...

Em Buba, [, Região de Quínara,] durante os 3 meses de permanência [de 8 de Fevereiro a 14 de Maio de 1969], tomámos parte das forças de segurança na construção da nova estrada [Buba - Aldeia Formosa].

Foto 603 > Um camião-zorra para transporte das máquinas serviam de poiso ao pessoal apto para qualquer contrariedade.




Foto 601 > Um elevado número de nativos limpavam as bermas, com o uso de catanas.




Foto 602 > E dois tractores de rodas com bulldozer regularizavam os terrenos da faixa de implantação da estrada.





Foto 604 > Uma vista de Samba-Sabáli, uma antiga tabanca abandonada, que servia de posto avançado e permanente na segurança



Foto 605 > Aqui, já a estrada tinha sido beneficiada de uma primeira camada. Este morteiro fazia parte de uma segurança de rectaguarda.




Foto 606 > Todos os dias se deslocava um T-6. Esta aeronave aterrou coxa, e o seu piloto pode considerar-se um homem feliz, pois as bombas que se postavam sob o bojo, não rebentaram.




Foto 607 > E as minas anti-pessoais pareciam continuar em nossa perseguição...


Fotos (e legendas): © Idálio Reis (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Assunto > A Companhia continuaria no Sul, bem próximo de Gandembel/Ponte Balana. Buba, a necessitar de grandes efectivos, foi o nosso destino, a perdurar até 14 de Maio de 1969. E finalmente o sossego de Nova Lamego, até ao regresso definitivo.




XI (e última) parte da história da CCAÇ 2317, contada pelo ex-Alf Mil Idálio Reis (ex-alf mil da CCAÇ 2317, BCAÇ 2835, Gandembel e Ponte Balana 1968/69)


(1).Texto enviado em 28 de Fevereiro de 2007.

Caros Luís e demais companheiros da Tertúlia.

Chegados a Aldeia Formosa [actualmente, Quebo], foi-nos propiciado uns dias de descanso. Pela forma afectuosa como fomos recebidos, foram dias de expurgo, e também de recuperação. Também o da fuga à solidão, o do reencontro com nós mesmos, e estes poucos dias, de um maior convívio e solidariedade, soube-nos particularmente bem.


Segurança à construção da estrada Buba-Aldeia Formosa


Havia uma fundamentada esperança que a Companhia iria ser colocada num local de maior sossego, mas o que é verdade, é que a 8 de Fevereiro, parte-se para Buba.

E o objectivo estava definido, que era o de manter segurança aos trabalhos relacionados com a pavimentação da estrada de ligação entre estes 2 aquartelamentos [Buba - Aldeia Formosa].

E a execução desta empreitada, antevia-se desde logo, bastante complexa, pois que requereria grandes efectivos militares, a fim de manterem a necessária segurança às máquinas operadoras.

E os locais de implantação da estrada, vinham sendo fortemente fustigados por uma actuação empenhada e sistemática do PAIGC, que intentava contrariar, de todo, a realização dessa infra-estrutura rodoviária.

O bastião de Salancaur, como local de refúgio dos guerrilheiros do PAIGC, não era distante, e as suas acções de armadilhamento e de contacto directo com as NT, apareciam com bastante frequência, o que demonstrava uma forte obstinação tendente à sua não concretização. E agora, despreocupados de Gandembel, até podiam agir com maior poderio.


Buba: Sede do COP 4, sob comando do saudoso major Carlos Fabião


Buba era um pequeno agregado de população indígena, com uma larga rua de permeio, como que a ligar a pista de aviação com o rio Grande de Buba.

Os edifícios militares estavam na parte mais baixa, juntos ao rio. As instalações eram substancialmente melhores que as deixadas atrás, com pavilhões prefabricados a servirem de casernas, e onde todos os militares tinham direito a uma cama com colchão. Também a qualidade da alimentação, em nada se comparava com a que nos fora ofertada noutros tempos.

Estava sedeada em Buba um grande efectivo militar, onde se incluía uma das Companhias de Comandos, salvo erro a 15ª CCmds, para além da Companhia que aí estava há mais tempo — a CCAÇ 2382 —, a que se viriam juntar a minha e a CCAÇ 2381.

Todo este efectivo militar, estava sob o comando do saudoso major Carlos Fabião (2), que detinha o COP 4.

E durante estes 3 meses de permanência [de finais de Janeiro a Maio de 1969], a nossa acção incidiu na segurança da estrada, com as tropas a permanecerem em Buba, com excepção de algum tempo (cerca de 2 semanas) em que cada grupo de combate se deslocou por Nhala e Samba Sabáli.



De novo as minas e as emboscadas, mas sem consequências para a malta da companhia


Estivemos, por 3 vezes, directamente envolvidos com o inimigo, em forma de emboscadas, mas as consequências dos confrontos não foram graves. Recordo que num ataque a Samba Sabáli (uma das tabancas abandonadas, e que foquei atrás, quando me referi a essa data de 15 de Maio) haver 2 feridos, um dos quais com uma certa gravidade e que viria a ser evacuado para Lisboa.

Os patrulhamentos tinham a sua origem em Buba, faziam-se incidir essencialmente nas imediações da frente dos trabalhos da estrada, e eram realizados ao princípio da noite ou então antes do alvorecer. Desenvolviam-se a nível de Companhia, portanto com quantitativos considerados suficientes.

No que se relacionou com os trabalhos, era desenvolvido um grau de segurança da estrada, de cada lado da mesma, com um algum afastamento do seu eixo. Nestas andanças deste tipo, o meu grupo, foi apanhado mais uma vez por um enxame de abelhas, que se encontrava num carcomido tronco de uma velha árvore. Alguns foram picados por várias vezes, onde me incluí, e que o inchaço nos desfigurou durante um certo tempo.

Todos os dias, na deslocação para a frente dos trabalhos, havia que proceder à picagem da velha estrada. Num dessas vezes, levantámos 38 minas anti-pessoais.


Os cataneiros chegaram a recusar a ida para a mata


As máquinas, montadas as seguranças, começavam então a funcionar. A limpeza de uma larga berma era levada a efeito por um grande grupo de nativos não autóctones, cujos utensílios eram as catanas.

Estes grupos de cataneiros eram em geral bastante sacrificados, pois as armadilhas e as minas anti-pessoais eram sempre em grande número, e era raro o dia, que não houvesse feridos muito graves. Até que chegou um dia, que recusaram a ida para a mata.

Os ataques ao aquartelamento de Buba faziam-se com alguma frequência. E os abrigos eram apenas umas valas abertas para esse fim. Recordo, num desses ataques, a morte de um soldado da Companhia residente, que quando fugia para se refugiar nos abrigos, foi apanhado por um rocket, que o estropia muito marcadamente.

Das contrariedades provocadas aos cataneiros, assim como dos ataques perpetrados ao aquartelamento, Carlos Fabião considera que alguém da tabanca presta informações para o exterior. Era quase certo que no dia em que a tropa não se empenhasse nos patrulhamentos, que o PAIGC ousava enfrentar mais próximo do aquartelamento.


Spínola expulsa toda a população civil de Buba, acusada de traição


Este recado chega a Spínola que num certo dia chega a Buba, reúne a população para que fosse reconhecido os que transmitiam informações ao PAIGC. Perante o mutismo desta gente, Spínola considera-a traidora e, no dia seguinte, 2 LDG encostam a Buba, e toda a população é coagida a abandonar as suas casas. O destino que tomaram, não o sei, mas disse-se então que foram para o arquipélago dos Bijagós.

Mau grado esta afronta, a situação que se começou a viver em Buba, pareceu melhorar.


A recuperação da nossa auto-estima e a ida para o Gabu


Não se pode afirmar que a Companhia, durante este tempo de permanência em Buba, conheceu um clima de paz e serenidade. Havia por aqueles sítios, uma outra faceta da guerra, bem distinta da vivida em Gandembel, e que, em abono da verdade, não foi demasiado provocante, fundamentalmente porque já éramos gente mais crescida, só porque nos era fornecido o essencial: comida bastante e uma cama decente. Quanto foi importante a conquista desta emancipação!

Julgo, inclusive, que a Companhia recuperou muito a sua auto-estima, e algumas energias mais abaladas, iam-se revigorando.

De todo o modo, o dia 14 de Maio, com partida aérea para Nova Lamego, onde sempre permaneceu a CCS do Batalhão a que pertencíamos (o BCAÇ 2835) [então sob o comando do tenente-coronel Pimentel Bastos, o Pimbas] (3), representou para esta plêiade de homens sacrificados, o fim definitivo das hostilidades.

Por lá nos quedámos até ao fim da comissão, melhorando infra-estruturas no aquartelamento, fazendo pequenos patrulhamentos, mas nunca mais ouvimos o mínimo silvar de uma bala inimiga.

Aqui, encontrámos serenidade, e tornámo-nos outros, perdemos timidezas e inibições, ainda que sempre conscientes e previdentes. E também um certo bem-estar, um lenitivo fundamental para o encontro das estabilidades, da emocional à física, e que durante tanto tempo se tinham arredado de vez, inclementemente.

E aqui, fomos gente feliz, sem lágrimas! (4) ... E sobre os momentos de dor e de sofrimento, a CCAÇ 2317 nada mais tem a narrar. E porque considera que a guerra com que se confrontou, termina em Nova Lamego, também finda aqui a sua história.

E só me resta acrescentar, o quanto custou a esta Companhia, em termos humanos, o nosso sacrifício. Da frieza dos números, que agora aponto, talvez um dia me debruce com uma leitura mais atenta.

A Companhia sai para a Guiné, com 158 homens: 5 oficiais, 17 sargentos, 35 cabos e 101 soldados. A bordo do Uíge, a 10 de Dezembro de 1969, sob o comando de um único oficial (este escriba), chegam à unidade mobilizadora, o RI 15 de Tomar, 121 militares, com 11 sargentos, 29 cabos e 80 soldados; ficaram na Guiné, para a entrega do material, 1 alferes e 3 sargentos.

Há as perdas: 9 mortos (1 alferes, 1 furriel e 7 soldados), 18 evacuados para Lisboa (7 feridos graves, 5 por doença e 6 feridos menos graves), e 4 não regressam por mudança de Companhia. Há ainda 2 elementos, que saem antecipadamente: 1 cabo — o nosso Lamego e o Comandante de Companhia, para continuar a sua carreira militar como oficial superior de Infantaria.

Não nos foi possível contabilizar os evacuados para Bissau, e que iam regressando mais tarde ao nosso seio, mas as estimativas de quem viveu sempre de perto os 23 meses de comissão, apontam para valores da ordem das 4 dezenas.

Com imenso gosto, procurei corresponder ao que tinha prometido. É uma narração sucinta, mas que terei oportunidade de vir a pormenorizar muitas das facetas aí insertas. Continuarei sempre atento ao blogue, que considero de excepcional valia para o conhecimento da guerra colonial na Guiné, dos seus tempos e dos seus sítios.

Por isso, em nome da minha Companhia, um firme agradecimento ao nosso editor.
Bem hajas, Luís.

Só mais dois aspectos finais:

(i) Amiudadas vezes me têm afirmado, que a nossa ida para Gandembel, é resultado de uma oferta voluntária por parte do Comandante da Companhia. Por desconhecimento, não posso, nem devo confirmar. O que sei, é que este oficial do quadro, não possuía nenhuma comissão em teatro de guerra.Contudo, o que sempre me causou uma certa perplexidade, é que as Companhias do Batalhão se esparsaram pela Província, sem dependência da CCS, o que não era usual.

(ii) O feitiço lançado a este vosso escriba, que no seu itinerário como militar, passou por duas Lamegos. A serrana Lamego, num curso de operações especiais, ainda no quartel velho, e onde morreram 2 companheiros que tombaram do alto da torre da igreja, quando faziam o slide. E esta Nova Lamego, hoje Gabú, da ardente e multifacetada Guiné.E se não fora as saudades a minarem e a proximidade do regresso, a passagem por esta última, saber-me-ia bem melhor que as piratarias da dureza 11 e quejandas, só suplantadas devido à porfiada ajuda prestada pelo meu velho parelha Amaro.

Para todos, um cordial abraço do Idálio Reis.


Comentário do editor L.G.:

Querido amigo e camarada Idálio: Não há, na guerra, um fim feliz, como no cinema. Mas gostei de saber que os últimos meses dos homens-toupeiras de Gandembel/Balana permitiram-vos retemperar as forças para o regresso à Pátria, à Mátria ou à Madrasta da Pátria...

Continua a dar-nos notícias da tua/nossa gente, cuja epopeia tão bem soubeste evocar e descrever nesta fotobiografia... O teu testemunho honra-nos a todos e orgulha os editores e autores do blogue bem como todos membros da nossa Tabanca Grande. A fotobiografia da CCAÇ 2317, escrita pelo teu punho, foi um dos momentos altos do nosso blogue.

Faço daqui um veemente apelo a um editor português que arrisque publicar, em livro, esta extraordinária aventura de 9 meses no corredor da morte. Porque não o Círculo de Leitores ? L.G.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

16 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1530: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (1): Aclimatização: Bissau, Olossato e Mansabá.

(...) A CCAÇ 2317 chega a Bissau a 24 de Janeiro de 1968. Uma aclimatação de 2 meses, o quanto bastou para enveredar por um sinuoso rumo, a uma fatídica zona do Sul da Província. Aí, num local estranho da região do Forreá e apenas no efémero prazo de 11 meses, houve lugar às facetas mais pérfidas da guerra, em que do mito e do mistério sobrou só o nome: Gandembel/Ponte Balana (...).

9 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1576: Fotobiografia da CAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (2): os heróis também têm medo

(...) Após o Treino Operacional, a Companhia segue rumo ao Sul da Província. Poucos dias em Guileje, para então nos coagirem a ir para as cercanias do "corredor da morte", a fim de se construir de raiz, um posto militar fixo, em Gandembel e Ponte Balana Em Guileje, a guerra não se fez esperar, e dolosamente começou a insinuar as suas facetas mais pérfidas, com as ocultas ciladas montadas na vastidão dos nossos olhares e a espreitarem o horror a todo o instante (...).

12 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1654: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (3): De pá e pica, construindo Gandembel.

(...) Em Gandembel, vinga a insensatez, a obrigarem-nos a penar um inextinguível tempo de arrastados sacrifícios. Do período mediado entre o início da construção do aquartelamento e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio (...) O dia 8 de Abril de 1968 alvoreceu para um conjunto de homens inquietamente sós, desunidos de um futuro confiante, porque, por mais que se procurasse predizer, não lhes era possível reconhecer se se podia atingir. Um imenso manto de silêncio ali estava especado, com secretas sombras negras a envolver-nos (...).

2 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1723: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (4): A epopeia dos homens-toupeiras.

(...) Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel. Ilustração fotográfica: Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e a chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968(...).

9 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1743: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (Idálio Reis) (5): A gesta heróica dos construtores de abrigos-toupeira em Gandembel.

(...) Instalação e início da construção do aquartelamento de Gandembel (continuação) > Ilustração fotográfica: Incluí o período de tempo entre 8 de Abril de 1968 - partida de Guileje para Gandembel e início da construção do aquartelamento de Gandembel - e chegada da energia eléctrica, a 9 de Maio de 1968 (...).

23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço.

(...) A generosidade de um punhado de gente jovem, onde os ecos dos seus ais de desespero e dor, não ressoavam para além da região do Forreá. Gandembel/Ponte Balana, de 9 de Maio a 4 de Agosto. (...) A época plena das chuvas aproximava-se, começava a fazer surtir os seus benéficos efeitos, o que para nós incidia muito especificamente na água que o rio Balana pudesse debitar. Este, logo que retomasse alguma capacidade de vazão, significaria que a tão ansiada água já abundaria, e as restrições ao consumo que tinham prevalecido até então, evolavam-se no tempo (...).

21 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1864: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (7): do ataque aterrador de 15 de Julho de 1968 ao Fiat G-91 abatido a 28.

(...) Os ataques e flagelações mantinham-se a um ritmo praticamente diário, a que nos íamos habituando, pois que a generalidade das detonações era resultado da acção de morteiros 82, e a maioria das granadas continuava a deflagrar na periferia. Os morteiros ainda não estariam devidamente assestados, e tornava-se necessário e urgente ter que acabar as obras do aquartelamento, com condições mínimas de segurança (...).

8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968.

(...) Uma longa vida em Gandembel suspensa da decisão do Comandante-Chefe. E ante tantas adversidades, num ápice tudo se esfuma da forma mais indigna: o abandono. Gandembel/Ponte Balana, de 4 de Agosto às vesperas do Natal de 1968. (...) A catástrofe de 4 de Agosto foi demasiado punitiva e voraz, criando um profundo sentimento de perda. E, atendendo às circunstâncias com que nos deparávamos no quotidiano, reconheci na pungente dor do luto, que a Companhia perdia temperamento e vivacidade, com as vontades a fenecerem. (...) A deslocalização de um permanente efectivo de pára-quedistas foi fundamental para o surgimento de uma fase de muita maior tranquilidade, que resultou numa acentuada diminuição belicista por parte do PAIGC (...).

19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1971: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (9): Janeiro de 1969, o abandono de Gandembel/Balana ao fim de 372 ataques

(...) Seria uma lembrança do Natal, que se aproximava? Não o foi, pois que até lá não recordo qualquer confronto, mínimo que seja. Pelo Natal, dada a solenidade do dia, chegam 2 helicópteros: um trazendo o bispo de Madarsuma, vigário castrense das Forças Armadas e um repórter do extinto Diário Popular, de nome César da Silva; outro, com Spínola e elementos do Movimento Nacional Feminino. (...) À alvorada do dia 28 [de Janeiro de 1969], o armamento pesado é desactivado, a bandeira nacional é arriada, o gerador é colocado num Unimog, e eis que partimos em definitivo de Gandembel, passámos por Ponte Balana (ali ao lado) a buscar o grupo que aí estava e seguimos para Aldeia Formosa. (...)

18 de Setembro de 2007>Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)

(...) As colunas de reabastecimento para Gandembel / Ponte Balana. Tanta ousadia cerceada no passo incerto, e a folha fustigada pelo sopro de um fornilho, já não encontra outro sítio para cair, senão em corpos dilacerados (...).

(...) As colunas de reabastecimento que se contextualizam com Gandembel, ficaram gravadas nos caminhos do desalento, do pesadelo e horror. E por isso, procuravam protelar-se até soar o grito da clemência, pois os bens essenciais estavam a esgotar-se, e o espectro da fome, em forma de um tipo de alimentação quase intragável, pairou algumas vezes em Gandembel.E esta desapiedada e frustrante sensação de um forçado isolamento, também contribuiu em muito para o alquebramento das forças físicas e morais, tão vitais para ousar enfrentar com denodo as vicissitudes que se nos deparavam quotidianamente.

(...) Restar-me-á apenas tentar alinhavar o último capítulo, que se prende com a permanência da Companhia em Buba, e que se prolongou até 14 de Maio de 1969 (...).



(2) Sobre o major Carlos Fabião em Buba:

4 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2080: Estórias do Zé Teixeira (22): Tuga na tem sorte

4 de Abril de 2006 > Guine 63/74 - DCLXVIII: O major Fabião e o furriel Samouco, da CCAÇ 2381 (1968/70)

Vd. também, entre outros, os posts:

17 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1436: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F.Sousa) (1): Perguntas e respostas

8 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXIV: Antologia (37): Carlos Fabião, o conciliador

5 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 : DCLXXV: O outro Carlos Fabião (3) (Rui Felício)

5 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXIII: O outro Carlos Fabião (1) (J. Vacas de Carvalho)

2 Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Depoimentos sobre Carlos Fabião (1930-2006)

(3) O tenente-coronel Pimentel Bastos foi originalmente o comandante do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), antes de ser alvo de punição disciplinar por parte do Com-Chefe:

22 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1304: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (21): A viagem triunfal do Pimbas a terras do Cuor

28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1124: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (2): A vida boa de Bambadinca, no tempo do Pimentel Bastos

30 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1041: O Pimbas e os outros (Jorge Cabral)

16 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1035: Ainda sobre o Pimbas, com um quebra-costelas para o Beja Santos (Paulo Raposo)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1028: O Pimbas que eu (mal) conheci (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1012: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (3): Eu e o BCAÇ 2852, uma amizade inquebrantável )

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1008: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (2): o saudoso Pimbas, 1º comandante do BCAÇ 2852

(4) Por analogia com o título do romance de João de Melo, Gente Feliz com Lágrimas, Grande Prémio de Novela e Romance APE, 1989. João de Melo, nasceu nos na Ilha de S. Miguel, Açores, em 1949, pertencendo à geração da guerra colonial (esteve em Angola, entre 1971 e 1974, como furriel miliciano enfermeiro).

"A experiência da Guerra Colonial foi pela primeira vez tematizada em 1977, com A Memória de Ver Matar e Morrer. Em 1984, publicou Autópsia de um Mar em Ruínas, onde a barbárie da guerra é filtrada pelos olhos de um furriel enfermeiro, cargo que assumiu em Angola.Os livros de contos Entre Pássaro e Anjo e Bem-Aventuranças completam o testemunho apresentado nos romances".