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domingo, 5 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4643: Blogoterapia (113): Saudades do blogue dos primeiros tempos, em que tudo se contava na primeira pessoa (Vítor Junqueira)

1. Mensagem de Vítor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões, (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), com data de 4 de Julho de 2009:

Carlos, olha o que deu uma noite de insónia!

Agora vou dormir.
Até logo.
VJ


Estimado Carlos Vinhal,
Para ti, aquele abraço que não pude dar-te em Monte Real.

Vai fazendo tempo que me mantenho sossegadito no meu cantinho. Têm aparecido tantos camaradas, com tanto para contar, que as minhas cantigas para além de não adormecerem ninguém, ficam a milhas da profundidade e até da beleza de algumas reflexões expendidas ultimamente no Blog, que continuo a seguir com toda a atenção.

Além disso, o Luís Graça ao nomear-me “Senador”, criou-me uma tremenda responsabilidade. Por um lado, retirou-me a prerrogativa de dizer calinadas, para o que sinto uma natural propensão. Mas por outro, se quis apontar-me como modelo de pessoa assisada, então mostrou que não é assim tão bom psicólogo! Porém, meu caro Vinhal, contigo sinto-me a jogar em casa.

As nossas Companhias eram irmãs. Respirámos o mesmo ar, calcorreamos os mesmos trilhos, descansámos à mesma sombra. Porventura até bebemos água da mesma bolanha. Falar-te dos meus estados de alma, nem necessita de cogitação prévia, porque eu sei que tu sabes aquilo que eu sei.

Hoje, porém, sinto-me um homem novo, liberto. Depois de, já lá vão uns tempos, ter visto na televisão um deputado a mandar outro pr’ó caralho em plena AR, ao mesmo tempo que prometia ir-lhe aos cornos “lá fora”, ontem, numa espécie de remake de baixo custo, vi um ministro a fazer uns cornitos mefistofélicos a um senhor deputado. Isto depois de uma conversa em que se ilustraram as baixezas de uns e de outros, sendo também consensual entre os tribunos que pelo menos alguns eram mentirosos.

Assim sendo, como sou humano e tenho emoções, dos usos e os costumes deste Blog alegremente abusarei e, desde já, requeiro o direito de me arrepender como fez o tal ministro.

Por falar em Blog, o nosso está um must. Pelo número de visitas e de páginas consultadas, podemos aferir da sua popularidade. Aqui bebem mestrandos, Doutorandos, autodidactas, jornalistas e simples internautas. Ainda que o core se centre na guerra da Guiné, a vastidão dos temas vai do segredo do tempero do cabrito que serviu de repasto no convívio dos camaradas da CCaç tal (e preço, porque o carcanhol está curto!) até às elucubrações de cariz sociológico acerca do posicionamento das populações nativas sob o domínio colonial e sua adesão às teses da libertação.

Navegando, ficamos a conhecer tão bem a táctica, a estratégia e os meios do IN, como se nas reuniões do seu Estado-Maior tivéssemos participado. Sim, porque o IN parece que tinha uma táctica, uma estratégia e uma determinação que, segundo alguns, mingavam nas hostes portuguesas. E com esses requisitos obteve brilhantes vitórias sobre as forças de ocupação, exaustivamente explanadas em dezenas e dezenas de páginas deste Blog que, muito justamente glorificam a superior inteligência e bravura dos soldados do IN e seus chefes. Propaganda, dirão alguns.

Mas o Blog também fala de nós. Apresenta por exemplo listas imensas (e inúteis) com nome, número mecanográfico e posto de paletes maralhal que passou pelo CTI da Guiné, fala dos feridos, dos mortos e dos burakos (?) onde vivos viveram enterrados, da alimentação para porcos, dos levantamentos de rancho, da falta de lençóis, da incompetência dos comandantes, de actos de insubordinação dos comandados, da revolta, da angústia e do medo dos soldados portugueses, mobilizados para uma guerra injusta e que não compreendiam, do desespero das famílias e do arrojo daqueles que, em vésperas de embarque, davam ao slaide.

Ficamos a conhecer camaradas que juraram a si próprios nunca disparar um tiro e, galhardamente, se aventuravam pelo mato adentro deixando a canhota pendurada no ferro do beliche, enquanto outros mataram porque sim. Mais recentemente, (post 4634) ouvimos falar do estoicismo do pessoal escalado para operações que nunca passaram do papel, de pessoal desmotivado e psicologicamente destroçado (não confundir com bandos!) que nunca ou raramente saiu dos abrigos, de SITREP’s falsos em que se reportavam acções de patrulhamento e combate que nunca existiram, da suprema humilhação infligida por um reles inimigo que tem o desplante de vir cagar junto ao nosso arame farpado, da mortificação do ego quando palavras como retirar, recuar, abandonar, entram na rotina.

Mas só agora, porque alguém neste Blog ousou abrir-nos os olhos e os ouvidos é que ficámos a saber que situações destas existiram, porque enquanto lá estivemos nunca tal ouvíramos dizer, não é verdade!?

Também tivemos oportunidade de conhecer uma extensa, desapaixonada e ideologicamente isenta filmografia que veio esclarecer aquilo que para os não iniciados parece um quebra cabeças, ou seja, como conseguiu o IN, que pelos melhores números nunca terá ultrapassado os três mil operacionais, pôr em cheque – para não dizer que derrotou militarmente –, uma força armada com o triplo dos seus efectivos, implantada no terreno, com uma capacidade logística incomparavelmente superior já que dominava as principais vias de comunicação incluindo as fluviais, dispondo ainda de meios pesados como artilharia, auto-metralhadoras, aviação e força naval.

Tenho ainda que fazer uma breve referência a alguma bibliografia reproduzida ou publicitada no Blog: Vasta, profunda e sem quaisquer objectivos comerciais, evidentemente. Acho que já só falto eu a dar ao manifesto a minha produção literária. Não tenho palheta para tanto e como tenho dúvidas sobre a firmeza do meu carácter, correria o risco de me transformar a mim próprio em mais um herói ou relatar factos de acordo com alguma inconfessa conveniência. Nessa não caio eu! Porque se a História é sempre escrita pelos vencedores, também é certo que a verdade é como o azeite, mais tarde ou mais cedo, acaba por vir ao cimo.

Ah, quantas saudades do Blog dos primeiros tempos! Tudo se contava na primeira pessoa. Era tão simples, directo e autêntico.

Camaradas, desculpem lá qualquer coisinha.

Para toda a tertúlia, caso o bitate mereça publicação, segue um forte abraço deste que já não tem muito para dar.

Vitor Junqueira

Fotografia do aquartelamento do K3. Por aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vítor Junqueira durante boa parte da sua comissão.

Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.


Mansabá, local e quartel onde a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vítor Junqueira substituiu a CART 2732 do Fur Mil Carlos Vinhal.

Foto: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.



2. Comentário de CV:

Caro Vítor, que bom ouvir-te de novo.
Tínha-me passado ao lado, desculpa a ignorância, a tua promoção a Senador. Se o Luís assim o entendeu, e sabemos como ele sabe avaliar as pessoas, estou inteiramente de acordo.

Dizes que a tua prosa, cantigas como chamas, não adormece ninguém. Pois não, como se pode ficar indiferente à qualidade da tua escrita? Pena que de vez em quando entres em hibernação e deixes de aparecer. Sabes que tens os teus fãs, entre os quais me incluo eu.

Voltando ao título de Senador, não há dúvida que exerces o cargo com alta competência, ou não vinhas junto de nós expôr as tuas oportunas críticas, daquelas que gostamos de ler, porque não ofendem, sendo antes o pensar de alguém com honestidade intelectual, como reconhecemos em ti.

Na verdade calcorreámos as mesmas picadas, refugiámo-nos atrás das mesmas árvores, emboscámos nos mesmos locais e sofremos igualmente pelas desventuras de cada uma das nossas Companhias e dos nossos camaradas. O que de mau acontecia numa Companhia era motivo de preocupação para a outra. Não eram ambas compostas, na sua maioria, por valentes ilhéus? Fomos vizinhos, primeiro, e locatários do mesmo aquartelamento, no fim. Não nos conhecemos então, mas temos a certeza de que faríamos, um pelo outro, na hora, o impossível.

Não comento os teus comentários, mas deixo-os aqui à consideração de quem nos lê.

Esperando que não nos voltes a privar de ti, tanto tempo como fizeste desta vez, deixo-te um abraço em nome dos editores em particular e da tertúlia, em geral.

O teu camarada e amigo desde as terras do Óio
Carlos Vinhal
__________

Notas de CV:

(*) vd. postes de:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753

11 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro


17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz

Vd. último poste da série de 2 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4624: Blogoterapia (112): Saudades de outra idade (Juvenal Amado)

sábado, 20 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4554: Blogoterapia (109): O que leva 130 a reunirem-se hoje, em Ortigosa, Monte Real, no encontro nacional de um blogue ? (Luís Graça)

Já pela madrugada dentro, em Leiria, onde jantei com amigos, abro o meu portátil e vejo que o número de inscritos no IV Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné já atingiu os 130. E que pelo menos houve uns 22 que gostariam de poder vir mas não podem, por conflito de agenda... E que o último camarada a inscrever-se foi o Manuel Amante da Rosa (*), diplomata caboverdiano a trabalhar em Macau e que de momento está de passagem por Lisboa...

Deixem-me começar por dar as boas vindas, ao Manuel Amante e a todos os demais camaradas que se inscreveram no encontro anual do nosso blogue pela primeira vez. Uma saudação especial, naturalmente, é devida a todos aqueles que estão cá este ano e àqueles que nunca falharam nenhuma edição anterior (Ameira-Montemor o Novo, 2006; Pombal, 2007; Ortigosa, Monte Real, 2008).

Um saudação especialíssima é devida ao Paulo Raposo (foto à esquerda) e ao Vitor Junqueira (foto à direita) que realizaram o I e o II Encontros, respectivamente, e que este ano não estarão, fisicamente, junto de nós... (Paulo e Vitor: vocês são já senadores na nossa Tabanca Grande, com aquele estatuto de privilégio de quem pode entrar e sair em qualquer altura sem pedir licença a ninguém... mas vamos ter saudades vossas).

Não é o número que me surpreende e me sensibiliza. Os inscritos podiam aliás ser muito menos ou até muito mais. O que me interpela é o facto de 130 pessoas, dos mais diversos pontos do país (de Trás os Montes aos Açores) quererem estar juntas, almoçar, conviver, conhecer-se (a maior parte, pela primeira), a pretexto de um blogue...

Para já, eu não sei nem não quero dar a resposta à pergunta, formulada no título ou subtítulo deste poste... Ou como logo me dirá o Torcato Mendonça, que vem do Fundão (com memórias de Mansambo...), mais a sua Ana, a resposta é "fácil e longa"... Isto é, a resposta é um paradoxo!!!

Quanto ao Embaixador Manuel Amante da Rosa (vd. foto ao lado) , queria só informar os nossos camaradas e amigos, que ele é actualmente secretário-geral adjunto do Fórum para a Cooperação Económica dos países lusófonos com a China, e está em Macau.

Nasceu em Bissau a 19 de Dezembro de 1952. O pai era proprietário de uma ou mais embarcações, civis, que faziam o percurso do Rio Geba, de Bissau até Bambadinca (ou mesmo Bafatá). Foi militar (1973/74), do recrutamento local, no CIM de Bolama onde fiz a recruta e especialidade antes de ser colocado no QG (Chefia dos Serviços de Intendência) em Bissau.

Graduado pela Academia Diplomática Brasileira –Instituto do Rio Branco – (1977/80), foi (i) embaixador de Cabo Verde em Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, Namíbia, Zâmbia e Zimbabwe, (ii) observador Internacional da OUA no processo de democratização na República da África do Sul (1993-1994),(iii) encarregado de Negócios junto do Governo da ex-URSS, (iv) membro da Missão Permanente de Cabo Verde junto das Nações Unidas em New York, (v) Delegado de Cabo Verde na Segunda Comissão da Assembleia Geral, entre muitas outras funções ou cargos...

Até mais logo, camaradas. São horas de ir escansar um pouco. L.G.

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. de 27 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1787: Embaixador Manuel Amante (Cabo Verde): Por esse Rio Geba acima...

_________

Lista dos 130 magníficos... tabanqueiros e convidados inscritos para o IV Encontro Nacional

Abel Rei e Maria Elisete (Marinha Grande)
Agostinho Carreira Gaspar (Leiria)
Alberto Branquinho (Lisboa)
Alberto Bártolo (Almada)
Álvaro Basto e Fernanda (Leça do Balio)
Amadu Bailo Djaló (Lisboa)
Américo Pratas (Coimbra)
António Barbosa (Gondomar)
António Barroso (Valadares)
António Batista (Matosinhos)
António Carvalho e Maria de Fátima (Gondomar)
António Dâmaso (Odemira)
António Fernando R. Marques (Cascais)
António Graça de Abreu (Cascais)
António J. Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra)
António M. Sucena Rodrigues (Oliveira do Bairro)
António Martins de Matos (Lisboa)
António Paiva (Lisboa)
António Pimentel (Porto)
António Sampaio (Alfândega da Fé)
António Santos e Graciela (Loures)
António Silva e Alvina (Estarreja)
António Sousa (Montemor-o-Velho)
Artur Soares (Figueira da Foz)
Augusto Martins Pacheco (Rio Tinto)
Belarmino Sardinha e Antonieta (Odivelas)
Benjamim Durães (Palmela)
Carlos Marques Santos (Coimbra)
Carlos Silva e Germana (Lisboa)
Carlos Valentim e Margarida (Proença-a-Nova)
Carlos Vinhal e Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Constantino Neves e Judite (Almada)
Coutinho e Lima (Lisboa)
David Guimarães e Lígia (Espinho)
Delfim Rodrigues (Coimbra)
Eduardo Campos (Maia)
Eduardo Magalhães Ribeiro e Fernanda (Porto)
Fernandino Ferreira Leite (Maia)
Fernando Calado (Lisboa)
Fernando Franco e Margarida (Amadora)
Fernando Gouveia e Regina (Porto)
Fernando Oliveira e Maria Manuela (Porto)
Francisco Godinho (Seixal)
Henrique Matos (Olhão)
Hernâni Acácio Figueiredo (Ovar)
Idálio Reis (Cantanhede)
Jaime Machado e Maria de Fátima (Lavra / Matosinhos)
Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria)
Joaquim Peixoto e Margarida (Penafiel)
Jorge Cabral (Lisboa)
Jorge Canhão (Oeiras)
Jorge Picado (Ílhavo)
Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais)
José Barros Rocha (Penafiel)
José Brás (Montemor-o-Novo)
José Carlos Neves (Leça da Palmeira / Matosinhos)
José Casimiro Carvalho (Maia)
José Eduardo Alves e Maria da Conceição (Leça da Palmeira)
José Fernando Almeida e Suzel (Óbidos)
José Manuel Lopes e Luísa (Régua)
José Manuel M. Dinis (Cascais)
José Marcelino Martins e Maria Manuela (Odivelas)
José Pedro Neves e Ana Maria (Lisboa)
José Zeferino (Loures)
João Carlos Silva (Almada)
João Lourenço (Figueira da Foz)
João Seabra (Lisboa)
Juvenal Amado (Fátima)
Luís Graça e Alice Carneiro (Alfragide / Amadora)
Luís R. Moreira (Lisboa)
Luís Rainha (Figueira da Foz)
Manuel Amante (Macau) e Sobrinha (Lisboa)
Manuel Amaro (Amadora)
Manuel António Rodrigues (Mortágua)
Manuel Augusto Reis (Aveiro)
Manuel Resende e Isaura (Cascais)
Manuel Traquina e Fátima (Abrantes)
Miguel e Giselda Pessoa (Lisboa)
Miguel Falcão (Porto)
Nelson Domingues (Monte Real / Leiria)
Pedro Lauret (Lisboa)
Raul Albino e Rolina (Vila Nova de Azeitão / Setúbal)
Ribeiro Agostinho e Elisabete (Leça da Palmeira / Matosinhos)
Rui Alexandrino Ferreira (Viseu)
Santos Oliveira (V. N. de Gaia)
Sebastião Dias e Cecília (Gondomar)
Semião Ferreira (Monte Real)
Tomás Carneiro (São Miguel / Açores)
Torcato Mendonça e Ana de Lourdes (Fundão)
Valentim Oliveira e Maria (Viseu)
Vasco da Gama (Figueira da Foz)
Vasco Ferreira e Margarida (V. N. de Gaia)
Victor Barata (Vouzela)
Virgínio Briote, Maria Irene e Irene Fleming (Lisboa)


Lista dos 22 que já manifestaram o seu pesar por este ano não poderem ir...

Abílio Machado (Maia)
Albano Costa (Guifões / Matosinhos)
Arsénio Puim (S. Miguel / Açores)
Beja Santos (Lisboa)
Cátia Félix (Maia)
Filomena Sampaio (Guimarães)
Helder Sousa (Setúbal)
Humberto Reis e Teresa (Alfragide / Amadora)
Jorge Teixeira (Portojo)(Porto)
José Armando F. Almeida e Teresa (Albergaria-a-Velha)
José Luís Vacas de Carvalho (Lisboa)
José Paracana (Aveiro)
José Teixeira (Matosinhos)
Luís Borrega (Pinhal Novo)
Luís Dias (Lisboa)
Manuel Maia (Matosinhos)
Mário Fitas (Estoril / Cascais)
Patrício Ribeiro (Guiné-Bissau)
Paulo Santiago (Águeda)
Sousa de Castro (Viana do Castelo)

terça-feira, 14 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4186: O Nosso IV Encontro Nacional, Ortigosa, Monte Real, 6 de Junho de 2009 (1): Abertura das hostilidades (Editores)

IV ENCONTRO DA TERTÚLIA DO BLOGUE LUÍS GRAÇA & CAMARADAS DA GUINÉ

DIA 6 DE JUNHO DE 2009 EM ORTIGOSA, MONTE REAL, LEIRIA


Caros Companheiros

Como vos foi dito por mail, não apareceu nenhum voluntário para organizar o IV Encontro da Tertúlia. Compreendo, porque colaboro na organização de pelo menos dois por ano, o nosso e o dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos e sei o trabalho que dá. Que o digam o Paulo Raposo, o Vitor Junqueira e o Joaquim Mexia Alves, homens que tomaram em ombros a organização dos três primeiros. E muito bem, diga-se.

Como nestas coisas há sempre um sacrificado, com pézinhos de lã, não fosse ele zangar-se comigo por tal atrevimento, auscultei o camarada Joaquim Mexia Alves, que se prontificou a organizar de novo este ano o nosso convívio, com a condição de não ser em Outubro, como era a inclinação de alguns camaradas.

Assim, consultando o calendário, achamos que o dia 6 de Junho não é má data. Dias grandes, solarengos e quentinhos. Ser véspera de eleições, julgo não ter inconveniente, porque mesmo quem ficar para o outro dia, ainda vai a tempo de cumprir o seu dever cívico de escolher os nossos representantes na Europa.

Já temos algumas inscrições confirmadas, pelo que apelo aos meus camaradas e amigos que ainda não se inscreveram, que vão pensando no assunto e comunicando a vossa intenção, para que o camarada Joaquim se possa ir organizando. Como se fez o ano passado, convém que as inscrições sejam simultaneamente envidas para mim e para ele. Como em princípio vou secretariar a organização (aceito voluntário(s) para esta missão), se me enviarem só para mim, Carlos Vinhal, encaminharei para o Joaquim.

Quem necessitar de alojamento para pernoitar deverá fazer menção no acto de inscrição.

Oportunamente serão divulgados os pormenores de ementa e preço do almoço, assim como da pernoita.

Quem ficou o ano passada na Pensão Santa Rita não deverá ter tido razão de queixa e o preço foi simpático.

Qualquer um dos nossos tertulianos pode fazer parte do nosso almoço. Nunca tivemos o prazer da presença de um(a) não ex-combatente. Por que não este ano? Seria bem-vindo(a).

Como é costume, também podemos levar convidados.

Acho que o essencial ficou dito.

Lembro que este convívio é fundamental, porque conhecendo-nos pessoalmente, também ajuda a que nos compreendamos melhor. Aos camaradas que este ano se juntaram a nós dou um conselho, não percam o próximo Encontro.

Deixo-vos três recordações dos Encontros anteriores:

Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de Outubro de 2006. Houve magia. Se não há amor como o primeiro, nunca mais esqueceremos este nosso primeiro Encontro.

Pombal, 28 de Abril de 2007. Foi um marco na quantidade, mais de 80 participantes

Ortigosa, 17 de Maio de 2008. Quase, quase 90 participantes, mas este ano vamos atingir os 100. Pena que ninguém se tivesse lembrado da foto de família.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Guiné 63/74 - P3751: Fauna & flora (11): O babuíno da Guiné ou... cabrito pé de rocha (Vitor Junqueira)

Guiné > Zona Leste > Sector L2 > Geba > CART 1690 > Destacamento de Banjara > 1968 > Quando a fome era negra, até cabrito pé de rocha se come... Só que em Bissau o periquito Vitor Junqueira estava longe de imaginar que o dito cabrito era... macaco-cão! (*)...

Nesta foto, um macaco fidalgo caiu numa armadilha dos militares da CART 1690, de trágica memória... (Recorde-se que esta companhia, a que pertenceu o nosso querido amigo e camarada A. Marques Lopes, da Tabanca de Matosinhos, hoje Cor DFA Ref, sofreu 1 morto e 11 desaparecidos - levados para Conacri - num ataque do PAIGC, contra o destacamento de Cantacunda, na noite de 10 para 11 de Abril de 1968).

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.


1. Do Vitor Junqueiro, que é médico, residente em Pombal (não é no Pmbal!), membro da nossa Tabanca Grande, organizador do nosso 2º Encontro Nacional, de saudosa memória (Pombal, 2007), pai e avô babado, portentoso contador de histórias (com H), ex-garboso oficial da nossa ex-gloriosa marinha mercante, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72)... Além disso, um belo amigo e um grande camarada, a quem agradecemos mais este contributo para o nosso blogue:

Caros editores,

A propósito do interesse académico que as nossas lembranças de ex-combatentes da Guiné possam apresentar para os estudiosos do macaco cão (**), aqui vai o meu contributo.

1 - A ZA da minha companhia, incluindo áreas limítrofes, pode definir-se grosso modo como uma faixa de território com cerca de dez quilómetros para cada lado do eixo Mansabá-Farim (região do Oio). Conheci bem a região por tê-la patrulhado inúmeras vezes.

2 - No princípio da década de 70 (70, 71 e 72), um babuíno conhecido pela tropa sob a designação de macaco-cão, proliferava neste território.

Julgávamos nós que o nome do animal teria a ver não apenas com a anatomia do focinho, a fazer lembrar o do cão, mas também pelas vocalizações dos adultos que muito se assemelhavam às dos caninos. Os machos mais corpulentos teriam à volta de 15 a 18 kg, as fêmeas pesariam entre os 10 e os 12 Kg.

3 - As famílias (bandos) eram numerosas constituídas por cerca de vinte a trinta elementos. Numa deslocação em coluna de Farim a Mansabá, podiam avistar-se quatro ou cinco grupos ao longo do percurso. Pareciam não temer os humanos nem tão pouco as viaturas militares, permitindo facilmente a nossa aproximação a menos de cinquenta metros.

4 - Cada família aparentava obedecer a um único macho adulto que, regra geral, "se empoleirava" num ponto conspícuo como por exemplo um baga-baga ou os ramos secos e desfolhados de uma árvore morta. Desse posto estratégico, controlavam a família enquanto esta se alimentava no solo ao mesmo tempo que vigiavam o que se passava em seu redor.

5 - Mais para o interior, grupos com idêntica constituição podiam ser encontrados na proximidade de antigas tabancas onde procuravam alimento com base em plantas de cultivo que cresciam espontaneamente, após o abandono destas áreas pelas respectivas populações. Aí encontravam também abundância de frutos como mangos e citrinos.

6 - O florescimento destas colónias pode atribuir-se ao facto de, o seu predador mais importante e praticamente único - o homem - ter sido desalojado de vastas áreas, quer por iniciativa própria para fugir à tragédia da guerra, quer devido à política de reagrupamento de tabancas. Deste modo, foram abandonados (destruídos) centenas destes aglomerados dispersos por todo o território. Não havendo habitantes não há caçadores e, assim, a pressão sobre o macaco-cão como fonte de alimento aliviou notavelmente.

7 - Para abater um destes animais, não basta ser caçador, tem que se ser um bom atirador! Se o animal não for atingido num ponto vital como a metade posterior da cabeça ou a coluna cervical, o bicho não cai. Atingido por vários projécteis noutra zona, pode até comportar-se como se não fosse nada com ele, acabando por ir morrer longe da vista do caçarreta para sua grande humilhação.

8 - Outro indicador da abundância destes babuínos pode encontrar-se na frequência com que caíam nas armadilhas montadas pela tropa. Quando se tratava de fêmeas com filhotes, estes podiam ficar por longos períodos (dias?), junto ao corpo das mães. Nestas circunstâncias e se encontradas a tempo, as crias eram geralmente adoptadas pelos militares que tinham para com elas cuidados e desvelos de verdadeiros pais!

9 - Confirmo que as manifestações de sofrimento dos bebés babuínos, sejam elas a dor física, a fome, o medo ou outras emoções que na nossa brutalidade estamos a anos luz de entender, são verdadeiramente pungentes.

10 - Pela minha parte, este é o fim da macacada a que me atirei, picado pelo Jorge Picado que no seu último poste me incita ao pronunciamento.

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 11 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1266: Estórias de Bissau (1): Cabrito pé de rocha, manga di sabe (Vitor Junqueira)

(**) Vd. postes da série Fauna & Flora:

16 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3750: Fauna & flora (10): Um par de Macacos à solta em Nova Sintra. (Herlander Simões)

16 de Janeio de 2008 > Guiné 63/74 - P3747: Fauna & flora (9): Do macaco-cão ao macaco-fidalgo... à mesa (José Nunes / Artur Conceição)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3734: Fauna & flora (8): O estudo do Papio hamadryas papio (Maria Joana Ferreira Silva)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3733: Fauna & flora (7): Babuínos, chimpanzés, caçadores, militares, pitéus e... turismo científico (Pepito)

13 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P3727: Fauna & flora (5): Coluna de Macacos Kom dizimada na estrada de Cutia para Mansabá. (Jorge Picado)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3722: Fauna & flora (4): Tudo o que sabemos sobre o macaco-kom (Jorge Teixeira / António Costa)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3721: Fauna & flora (3): Mais histórias de macacos (Henrique Cabral / Luís Faria)

11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63774 - P3720: Fauna & flora (2): Os macacos-cães do nosso tempo (Luís Graça / J. Mexia Alves)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3714: Fauna & flora (1): Pedido de apoio para investigação científica sobre o Macaco-Cão (Maria Joana Silva)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3608: Histórias de Vitor Junqueira (12): O Saco Azul

1. Mensagem de Vitor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões, (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), enviada no dia 11 de Dezembro de 2008, com mais uma das suas histórias, esta integrada nos arranjinhos que se faziam nas nossas Unidades, para haver sempre umas massas de reserva para o que desse e viesse, vulgo saco azul.

Amigos editores, Aleluia! O blog está como eu gosto. Menos erudição e mais histórias com gente lá dentro. Como o Natal do comandante Picado ou o segredo do José Colaço, que acabei de ler. Em tempos, disse ao Luís Graça que mais interessante do que a escrita em si, é, através dela, podermos conhecer o dono da mão que escreve. Esta é a minha onda, reafirmo-me nela através de mais um conto que conta uma cena verdadeira. Com um retrato. A todos os camaradas e amigos, obrigado por gostarem das minhas histórias. Aos que não apreciam, as minhas desculpas.


O Saco Azul

O senhor Manuel Carroça, é um sortudo. Entradote na idade, é proprietário, gerente e assistente de vendas num espaço comercial típico do Portugal da nossa meninice; uma tasca com secção de mercearia. O freguês vai à cata por exemplo, de um quilo – ratado – de prego de solho ou de um fedorento maço de tripa seca para a patroa fazer os chouriços e na volta, bota abaixo um penalty – com gola – do bom tintol da região. Como ainda não foi visitado pela ASAE, mantém-se no seu posto atrás do balcão, até ao dia em que lhe selem a porta. Tem vários problemas de saúde, incomodam-no principalmente as queixas de natureza reumatismal. A propósito, diz ele com a cara mais séria deste mundo, e com toda a propriedade, acrescento eu:

- Ó dótor, eu dos pés ainda tal, tal. Agora das mãos, sou um ladrão!

Quem pensa que foi a simpática presidente de uma ainda mais simpática autarquia do Norte que inventou e deu a conhecer ao mundo essa engenhosa criação que dá pelo nome de saco azul, está enganado. Para os ex-combatentes do ultramar, essa entidade é-lhes familiar, apesar de a maioria nunca lhe ter visto o forro! Para os que não sabem, tratava-se de uma espécie de fundo de maneio clandestino e como tal não escriturado, que servia para suportar contas de pequena ou média importância, despesas não elegíveis ou de difícil justificação.
Quem ficasse na liquidatária, liquidava o saco, sendo o respectivo inventário e processo de partilha top secret, como mandava a ética. Afirmam as más línguas que houve quem, através liquidação do saco, se tenha abotoado com umas massas e assim nasceu a atoarda dos apartamentos nas avenidas novas, tantos quantas as comissões.

Ao contrário do ti Manel Carroça, fui sempre saudável e jeitoso de mãos. Em criança, desmontava e reconstruía, geralmente com grande economia de peças, qualquer apetrecho em que pousasse a vista. Aos 11 anos confeccionei a partir de uma lâmina Nacet, a primeira gazua para a ignição do carro lá de casa. Como a sorte nem sempre protege os audazes, foi nessa idade e na qualidade de condutor que tive o primeiro acidente de viação de que resultou um ferido ligeiro, uma cabeça rachada. Apanhei-lhe o gosto. Qualquer chave comum, amorosa e pacientemente desbastada à lima, um apalpa-folgas e até os plebeus clips e corta unhas me permitiam materializar o sonho de montar tudo o que roncasse e bebesse gasolina. Por puro divertimento, fui-me aperfeiçoando. As viaturas de vizinhos e familiares pernoitavam onde acabava a gasosa, mas também podiam aparecer estacionadas sobre os relvados de jardins públicos ou encavalitadas em degraus de igreja.

Aos 17, já me encontrava num escalão mais especializado e competitivo, o das motos. Pilotando uma dessas máquinas, tive outro acidente que me podia ter custado a viola. Safei-me com uma tíbia e peróneo feitos num oito. Fui superiormente tratado pelo senhor Manuel Coelho de Porto de Mós, na altura o melhor endireita da região e, em dois meses, pude voltar ao activo com notável enriquecimento da minha colecção de automóveis escaqueirados. Até que, um encontro imediato de primeiro grau com o homem vestido de preto, no Tribunal Judicial de Ansião, pôs termo a uma promissora carreira. E ainda há quem diga que a juventude de hoje está perdida!

Como as outras, a CCaç 2753 era uma companhia séria, de gente séria, com uma administração acima de qualquer suspeita. Tirando o caso da trombadinha que o Sant’Amaro deu no baú onde o Santa Maria guardava os dólares remetidos pela família da América para o tabaquito, nunca dei conta de que alguém deitasse a unha ao do alheio. Foi por isso que, com surpresa, tomei conhecimento da presença no K3 de um senhor major vindo de Bissau para uma espécie de auditoria às contas da Unidade.

À porta da secretaria, detecto sinais de embaraço. Mãos nos bolsos, cigarro nos lábios à Bogart, o Leanito parece inquieto. E tem razões para isso. Lá dentro, está em jogo a sua reputação de militar impoluto. O Ribeiro mais o Marques, saem a voar baixinho e assim como quem não quer a coisa, vão até ao bar. Sozinho a enfrentar a fera, fica o Mexia. Senhor de uma barriguita cuja bitola já na altura não lhe permitia ver o coiso, transpira que nem um suíno, salvo seja. De cu para o ar e nariz enfiado nas gavetas da mobília, remexe a tralha. Sentado à secretária, entre o divertido e o furibundo, o major tem o ar de quem não acredita no que está a acontecer... o segredo do cofre levou tal sumiço que ninguém o encontra.

Vitor, eis o teu momento de glória, diz-me uma vozita ao ouvido. Agarra-o rapaz, porque esta merda de guerra pode não te oferecer outro. Decido avançar.

- O meu Major dá-me licença?
- ???
- Se me permitisse, gostaria de tentar abrir o cofre.
- Ah, faça favor.

O cofre, um matacão preto em ferro, deve pesar meia tonelada, seguramente. É do tipo monobloco com chave, tranca accionada por um volante central e fechadura secundária comandada por seis roletes alfabéticos. Isto vai ser canja!
Encosto-lhe o ouvido. Acaricio os roletes enquanto lhes observo as folgas e escorrências de óleo, assim como os movimentos quase imperceptíveis determinados pela pressão da tranca. Em menos de cinco minutos, o sistema rende-se. O major, excitadíssimo, salta como perdigueiro em cima da caça. Era vê-lo a farejar caixas, envelopes, papelada.

Inchado que nem um peru, afivelo uma expressão de fingida modéstia e peço autorização para me retirar. Preparado para receber o aplauso e agradecimento da multidão, muito justamente devidos a quem deu provas de tamanha expertise. Porém, oh mundo ingrato, sinto-me fuzilado pelo olhar reprovador do Leão que, do alto do seu metro e sessenta e cinco, resmunga entre dentes:

- O meu Alferes arranjou-a bonita, arranjou. Olhe, depois não se esqueça de dizer que a comida não presta.

Dizendo isto, saca a mão do bolso e vira-me a palma: R…S…T…
De braço dado com o major, lá se foram até Bissau os oito contitos do saco azul.

Nota: Personagens e glossário, pela ordem em que aparecem no texto:

Carroça – é a alcunha pela qual o senhor Manuel é mais conhecido.
Ratado – roubado no peso.
Com gola – mal cheio. Também se diz com fita.
Penalty – copo de 2,5 dl de vinho
Apalpa-folgas – instrumento semelhante a um canivete suíço com várias lâminas de aço, muito finas. Serve para ajustar a folga das válvulas na cabeça dos motores.
Manuel Coelho – o nome e morada são verdadeiros, assim como o facto de ter sido ele quem me tratou. Se tivesse ido para o hospital, o mais certo seria ter ficado coxo para o resto da vida.
Ansião – concelho do distrito de Leiria a que pertencia a minha freguesia, Chão de Couce. O julgamento deu-se em 1966. Estava relacionado com um passeio numa moto emprestada. Fui julgado à revelia (ai não…) e absolvido!!! E ainda há quem não acredite na justiça.
Sant’Amaro – por razões óbvias, o nome do santo não é este. O rapaz ganhou a alcunha porque logo no segundo dia de recruta, alegando o cumprimento imperioso e urgente de uma promessa ao tal santo, fez um peditório junto dos camaradas cujo produto gastou em vinho, cerveja e cavacos (marisco açoriano). Andou grosso durante uma semana. Após o saque irregular, não se conteve e viajou até Farim onde adquiriu alguns bens na casa Libanesa. A operação policial posta em campo descobriu rapidamente o rato através dos sinais exteriores de riqueza. Teve uma rebanhada de filhos, quase todos a residirem na América, aos quais se juntou recentemente depois de uma vida como pescador em Vila Franca do Campo.
Santa Maria – alcunha verdadeira do soldado Alves por ser natural daquela ilha, único aliás, na Companhia. Era um garnisé, asmático, incapaz de dar dois passos sem ficar com os bofes à boca. Contudo, fumava dois maços de tabaco por dia. Só por milagre é que ainda poderá estar vivo.
Bogart – Humphrey Bogart
Leanito – 1º Sargento Leão. Alentejano de Portalegre, andaria pelos cinquenta anos. Bom homem, faleceu há mais de duas décadas.
Ribeiro – 2º Sargento do QP. Fino que nem um rato, chegou a Chefe. Vive Lordelo do Campo, próximo de Vila Real.
Marques – amanuense, de Rio Maior.
Mexia – 2º Sargento do QP, alentejano de Vila Boím. Um gajo porreiro. Vi-o pela última vez há cerca de quatro ou cinco anos. Devido ao excesso de peso (200kg?), andava a ser seguido numa consulta de endocrinologia em Santa Maria.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3585: Histórias de Vitor Junqueira (11): Um conto (triste) de Natal

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Guiné 63/74 - P3585: Histórias de Vitor Junqueira (11): Um conto (triste) de Natal

1. Mensagem do nosso camarada Vitor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões, (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72), com data de 5 de Dezembro de 2008:

Prezados amigos, camaradas e visitantes;
Caros editores,

Para o vosso sapatão, aqui vai mais uma das minhas histórias. Não sei se devido à quadra que estamos a atravessar, ou porque os velhos se tornam sentimentalões, não consegui fugir ao tema (Natal) nem às minhas memórias. Esta, está tão fresca que me interrogo se os factos narrados ocorreram há quase quatro décadas ou na passada semana. Chamo-lhe conto, mas dado que mexe com acontecimentos reais, construí-a segundo uma estrutura aparentada com a da narrativa. Acho eu, porque não sou muito entendido nessa área. Por isso usei e abusei do modo presente.
Desde já, obrigado pela atenção que quiserem dispensar ao meu escrito e Boas Festas.


Um conto (triste) de Natal

Ao meio dia, o sol impiedoso dos trópicos é avaro quanto a sombras. Como se fossem agulhas, os seus raios trespassam-nos a pele que se defende produzindo rios de suor. Toma-se a chuveirada da ordem e logo a camisette fica uma sopa. Sob uma atmosfera quase irrespirável devido ao calor e humidade sufocantes, homens e animais disputam qualquer nesga de frescura. Aos meus pés passa um lagarto em passo de corrida. Pára subitamente, parecendo hesitar quanto ao rumo. Três flexões rápidas, azimute a uma frondosa mangueira e aí vai ele tronco acima, fugindo à torreira. O desconforto rouba-nos o alento, corrói o moral. Entediado, mantenho uma conversa de chacha com um camarada das transmissões enquanto aguardo a chamada para o almoço.

A parada é um belo largo de terra batida, atravessado no sentido norte-sul pela estrada Farim-Mansabá. Do lado direito de quem sobe, situa-se um abarracamento esquálido coberto a chapas de zinco ferrugento, semi-arrancadas dos cibes e mais esburacadas do que um passe-vite. Alberga uma cozinha onde no meio da maior badalhoquice se enjorcam os mimos do cardápio: Do primeiro ao último de cada mês, batata cozida com cavala de conserva, tripas de vaca holandesa com feijão e gorgulhos e, em dias de cerimónia, estilhaços com esparguete. Contíguos, ficam um chiqueiro que serve de refeitório, a caserna das praças e o paiol. Tenho andado a pensar numas obras de fundo, vou falar nisso à rapaziada(*).
À esquerda, situa-se a única edificação digna desse nome. Trata-se de uma construção rectangular, semienterrada no solo, com paredes erigidas em adobe. Construída perpendicularmente à estrada, apresenta do lado norte um alpendre corrido sob o qual se encontram as entradas para a secretaria, catacumba das transmissões e criptografia, suite do capitão e camarata dos alferes. No topo Oeste, as instalações sanitárias para uso exclusivo da hierarquia. O tecto, dotado de um reforço à base de robustos troncos de palmeira sobre os quais assenta uma camada de cerca de 30cm de material inerte, confere uma razoável protecção aos locatários. Nas traseiras, igualmente protegidas das canhoadas do IN por uma fileira de bidons cheios de terra, fica o espaldão do oitenta e um. Lá mais atrás, a cantina e o furo que abastece a tropa com água potável, tendo ao lado um palanque que suporta o depósito sob o qual se encontra o balde de crivo dos banhos gerais. Este é também um local de derriço, onde certos camaradas(**) se deixaram surpreender pela calada da noite a brincar ao jogo quem apanha o sabonete? Em frente, o mastro da bandeira e no mesmo enfiamento, um campo de volley que tive a honra de construir com os ensinamentos colhidos na universidade de Champigny-sur-Marne. Ao fundo, junto ao arame farpado e de costas para a tabanca, fica a messe de sargentos e oficiais, casino, discoteca e local de eventos.



Aquartelamento do K3. Aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vitor Junqueira, durante boa parte da sua comissão.

Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.


São 12h30. Manuel dos Santos, o corneteiro/despenseiro faz-me sinal para avançar.
Esta manhã fui à caça, estreei uma Winchester. Numa pedreira aqui perto, abati quatro tchócas. Nunca percebi porque é que os nativos se recusam a consumir estas aves, muito semelhantes à perdiz europeia. Vamos lá a ver como é que está o petisco que o Manel confeccionou. Como não chega para todos, ficou reservado para o dente do maior e alferes, os outros terão de contentar-se com o cheiro.

Na secretaria, depois da feijoada do almoço, faz-se por fazer qualquer coisa. Um Primeiro, dois Segundos e o seu escriba, torcem e retorcem números para que dêem certo, retocam ofícios para que pareçam fidedignos, batem-se valentemente em duelos de bocejos.
Abanco numa das cadeiras de balouço situados sob o alpendre. Do meu posto de relax, escuto o zumbido da ventoinha do quarto dos alferes, ligada no máximo, convidando-me para a real soneca da tarde. Felizmente, há certos dias nesta puta de guerra em que não se faz raspas!

Quatro e meia, o calor é muito. A esta hora, ainda assa canas na rua, e à sombra também! Desperto, meio obnubilado começo a fazer planos para a tarde: Banhoca, uma coca fresquinha e duas kingalhadas até à hora de jantar.
No meu campo de visão, passa um pronto. Como um zombie, braços caídos, olhar distante, passadas lentas, vai arrastando, as botas no pó revolvido pelas rodas das viaturas. Aparentemente sem destino nem propósito, faz-me lembrar um jagudi pairando sobre o seu território de caça. E de morte. À esquina do bloco, faz meia volta à esquerda e desaparece nas traseiras. Mal este se eclipsa, logo outro lhe segue a peugada, numa espécie de dança que se há-de prolongar até à hora das lavadeiras.

As rotinas desta companhia, são idênticas às de qualquer outra: Vigilância e defesa das instalações, acções de patrulhamento dentro da respectiva ZA, protecção às populações nos seus afazeres na bolanha. Organiza colunas de reabastecimento civil e militar, executa pequenos trabalhos de limpeza e manutenção, faz recolha de lenhas etc. Sem periodicidade determinada, tanto pode acontecer duas vezes na mesma semana como a espaços de quinze dias, há um serviço cuja ordem de acção emana directamente da Rep Oper. Esse, é a doer. Por norma, com uma antecedência de dois ou três dias, aí pelo meio da tarde, transmissões e criptografia entram em acção. Encafuados no seu cubículo, recebem e decifram uma sequência interminável de pi-pi-pis que desperta a curiosidade irresistível do pessoal. Querem dar fé do que lá vem, eis a razão do rodopio à volta do edifício do Comando.

São dez da noite. Na messe, reina uma falsa descontracção, uma indiferença aparente. No rosto tenso dos furriéis, leio sinais de compreensível ansiedade. Falei com eles antes de jantar, já sabem ao que vamos. Recomendação do costume: O segredo é a alma do negócio. Como se isso fosse possível! O pessoal há-de ser acordado à última da hora. Os que forem à cama. Faço uma retirada estratégica. Trancado nos meus aposentos, miro e remiro cartas e planos até os olhos me doerem. Também eu estou ansioso, não me sinto apavorado mas receio não conseguir descansar a ponta de um corno. Já passa das duas. Terei ainda tempo para um sono povoado de pesadelos?

Contrariando as Népes, a cantina mantém-se aberta noite fora. A malta afoga as borboletas do estômago com chá da Escócia. O Neves tem-no lá e do bom, importado directamente para as FA. Uma suecada, quiçá uma lerpazinha e umas cigarradas ajudam a queimar as horas. Hão-de implicar uns com os outros, contar piadas sem graça e soltar coriscadas à moda açoriana. Mais para a frente, talvez façam uma patuscada com o espólio da caça ao tesouro; dois especialistas surripiaram uma lata com cinco quilos de chouriço em azeite da arrecadação do vagomestre Prates(***). Na hora do embarque estarão tensos como o aço, prontos para o que der e vier.

Os filhos são como os dedos da mão, temos cinco e nenhum é igual. Por estranho que pareça, tenho para com estes rapazes que são praticamente da minha idade, uma relação de grande afectividade. Não será propriamente uma ligação do tipo pai-filhos, mas anda lá perto. Sinto-me responsável por eles, gosto deles. Foram-me entregues pelas famílias, ensinei-lhes tudo o que aprendi em Mafra, acompanhei-os nesta viagem a África, acalmei-lhes angústias e incertezas, escondi-lhes os meus medos para que o não tivessem, prometi levá-los de volta. Como os filhos, são todos diferentes. O tempo, a convivência e os apertos, vão revelando o que de melhor ou menos bom existe em cada um deles.

Picaroto, vinte anos, matulão, dispara o morteirete em andamento como quem dedilha uma viola. O Dutra é um tipo especial. O traço dominante da sua personalidade talvez seja a bonomia, parece um Buda menino. Tão humilde e educado, não há outro. Sempre disponível, a sua presença transmite confiança ao grupo.
Não é o mesmo, ultimamente. Anda triste, meio introvertido contrariamente à sua natureza. Consome-o a lembrança do pai falecido nos Estados Unidos, vítima de acidente de viação. Recebeu a trágica notícia em Madina Fula, quando preparávamos a festa de Natal do ano passado. Penso que tem saudades da restante família, emigrada na América, à qual deseja juntar-se tão depressa passe à peluda.

Alta madrugada, dois porradões na porta fazem-me saltar na tarimba.

- O que é, caralho? Pergunto, estremunhado.

- Meu alferes, temos um problema. Tem de vir ali à cantina, responde-me o furriel Tavares.

Pela hora e pelo inusitado da intimação, o coração dá-me um baque. Penso numa desordem com fartum de pancadaria, um acidente qualquer. De um pulo, ponho-me a pé e, enquanto caminho, o furriel pinta-me a cena.

O quadro é dramático. No chão de cimento, jaz inerte o corpo do Dutra. À sua volta, em lágrimas, os camaradas contemplam-no com olhar incrédulo. Peço-lhes que se retirem. Por uns instantes ficámos a sós. Ajeito-lhe as mãos sobre o peito. Tranquilo, parece sorrir. Acho que o ouço dizer: - Não se incomodem comigo, eu estou bem.

Despeço-me com uma prece silenciosa e rogo-lhe que mantenha o seu posto no nosso GC. Encontrado um local com um mínimo de dignidade onde depor o corpo do nosso malogrado amigo, aí o deixamos, amortalhado num simples lençol. Na volta, cuidaremos dele, como merece.

São 05h50, está a clarear e já se ouve o roncar dos hélis. Um a um, os Alouettes pousam, recebendo um contingente de cinco homens cada. Descolam rapidamente e, progredindo em fila indiana, conduzem-nos a destino pouco seguro. Lá no céu, encomendamo-nos à Senhora do bom regresso. É meu privilégio seguir na primeira leva. Agora é só dar gás às máquinas!

O Dutra não fumava nem bebia. Como os outros, foi até à cantina para não sentir o passar do tempo. Aí, encontrou o seu amigo Araújo, micaelense da Ribeirinha, atirador de LGF. Bom rapaz, um tanto rezingão, mete uns copos em vésperas de saída. Entabulam dois dedos de conversa. Como o camarada se mantivesse murcho, o Araújo desata a provocá-lo. Na paródia, empunha a Walter que usa para defesa pessoal. Em jeito de saque à cow-boy, o cão fica preso na banda do dólmen, recua mas não o suficiente para ficar no trinco. No instante seguinte, o Dutra cai, desamparado, com o coração trespassado por uma bala de 9mm. Não teve tempo nem forças para um ai.

Foi há trinta e sete anos.

Obs: Do ponto de vista disciplinar e criminal, o Araújo safou-se. O processo foi conduzido de modo a não lhe tolher a vida. Foi sancionado pela própria consciência, pela mágoa e certamente pelo remorso. Pagou caro (ainda estará a pagar?) por uma estúpida brincadeira. Emigrou para o Canadá.

(*) As obras foram efectivamente realizadas! Cozinha e refeitório, construídos de raiz com blocos fabricados pelo nosso pessoal, e coberturas requalificadas, como agora é uso dizer-se. Durante a fase de execução, tivemos uma visita do General Spínola.

(**) Um desses homens acabou por falecer muito jovem. Suspeito que terá sido uma das primeiras vítimas do VIH registadas no nosso país.

(***) O furriel Prates, chaparrão de gema, era um deixa andar. Passava umas semanadas em Bissau e regressava de mãos a abanar.
- Meu capitão, não chegou qualquer reabastecimento da metrópole, era o seu rebatido argumento. Nem uma simples folhinha de alface! Atraía raivas, mas nunca quinou. Tive notícia de que faleceu pouco depois da passagem à disponibilidade. Paz à sua alma.
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Vd. poste de 17 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3479: Blogoterapia (73): O blogue do nosso contentamento, às vezes descontente (Vitor Junqueira)

Pombal > 2º Encontro Nacional da Tertúlia bloguística Luís Graça & Camaradas da Guiné > O nosso amigo, camarada e anfitrião, Dr. Vitor Junqueiro, servindo de cicerone na parte velha da cidade.



Foto:© Luís Graça (2007). Direitos reservados.


Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º Encontro Nacional da malta do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné > Restaurante O Manjar do Marquês.

Antes do almoço, o Vitor Junqueiro, na sua qualidade de nosso anfitrião e organizador do encontro, fez o discurso de boas vindas. Homem de princípios e de valores, mas também verdadeira caixinha de surpresas, preparou-nos uma cena que nos sensibilizou a todos: rodeado, à sua direita, por uma das suas três filhas e por uma das suas duas netas, e à esquerda, por mim e pelo A. Marques Lopes, fez questão de ser condecorado, com o atraso de... trinta e três anos. A condecoração, que tem a ver com a sua brilhante folha de serviços como oficial miliciano na Guiné, fora-lhe atribuído pelo Chefe do Estado Maior do Exército, estando prevista sua entrega no dia 10 de Junho de 1974, o que não chegou a acontecer por o 25 de Abril de 1974 ter vindo a alterar o curso dos acontecimentos...

Com escrevi na altura, a entrega da condecoração por dois camaradas seus da Guiné foi um gesto muito bonito num dia muito bonito, em que realizámos, mais uma vez, o sentido da palavra camarada... O Xico Allen estava lá para bater o instantâneo. O que ele seguramente não pôde registar foram as palavras do Vitor para mim:
- Eh!, pá, ó Luís, vê-se mesmo que não tens jeito para esta merda!

(L.G.)

Foto: © Xico Allen (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem, com data de 22 de Outubro de 2008, do Vitor Junqueira, médico, residente em Pombal, membro da nossa Tabanca Grande, organizador do nosso 2º Encontro Nacional, de saudosa memória, pai e avô babado, portentoso contador de histórias (com H), ex-garboso oficial da nossa ex-gloriosa marinha mercante, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72)...

Prezado camarada e amigo Carlos Vinhal,

Há já algum tempo que ando a adiar uma modestíssima e singela troca de impressões contigo a propósito da nossa comunidade virtual, o Blogue. Porque a outra, a dos amigos de carne e osso, está bem, recomenda-se e anda a pedir mais uma almoçarada e uns abraços de quebra-costelas.

Eu já sinto a vossa falta! Tenho andado um pouco mais ocupado do que o costume. Hoje, porém, tive uns minutos para passar uma vista de olhos pelos últimos posts, onde encontrei um comentário teu, aliás, dois, que achei do maior interesse. Num deles expressas a ideia de que devemos congratular-nos por um tão elevado número de visitas que, certamente, se deve à boa qualidade do material "afixado" e à grande categoria dos respectivos autores. Concordo! O outro, transportava nas entrelinhas, pareceu-me, uma subliminar "descasca" ao pessoal por estar a tornar-se preguiçoso. Uma espécie de toque a reunir, com o qual também concordo! Mas, o que está em causa, não é com toda a certeza uma dose exagerada de salutar preguiça. Até porque, os temas que tomaste como exemplo de uma certa hiporreactividade bloguista, são dos mais interessantes, e deveriam ter suscitado uma onda de colaborações.

Entendo por isso que será oportuno fazer uma análise do fenómeno e, partindo de um diagóstico fundamentado, introduzir as alterações que se revelarem mais consistentes com o propósito de manter toda a nossa gente on line. Porque, não reste qualquer dúvida, a escrita é o cimento que nos matém unidos. Para concretizar esse objectivo, nada melhor que cada um de nós assumir claramente as razões da própria desmotivação, chamemos-lhe assim. Se é que ela existe. E como não sou de arcas encouradas, passo a enumerar alguns tópicos de que não sou grande apreciador:

1 - Atrasos na publicação dos textos, algumas vezes por extravio, outras porque se estabeleceram certas prioridades, que não raramente, lhes retiram toda a oportunidade.

Um texto no momento certo pode ser uma pérola, descontextualizado não passará de uma parvoíce ainda que produzido por autor de boa cepa. Tem calma, Carlos, que eu bem vi como te torceste todo na cadeira. Isto nada tem a ver contigo ou com o Briote! Eu conheço muito bem o vosso empenho a favor da causa e o número incontável de horas do vosso lazer que lhe dedicais. O que terá de ser eventualmente alterado é a metodologia. Para issso podemos ter de vir a considerar a postagem directa, com a responsabilização pessoal e jurídica, explícita, dos escribas, e a retirada imediata de um texto, som ou imagem, sempre que se constate existir ofensa à carta de princípios criada pelo Luís. E que tal a criação de um conselho de ética?

2 - Textos fortemente "editados".

Se por um lado podem esconder a alma de quem os concebeu, não terão também o inconveniente desencorajar ou inibir aqueles que se sentem menos à vontade com a escrita?

3 - Transcrições longas e enfadonhas de manuais ou seus excertos.

Aqui incluo a pré-apresentação de livros sob a forma de folhetim que, conjecturo eu, não atrairá o interesse geral. Confesso que nunca tive pachorra para ler nem uns nem outros e não devo ser caso único. A este respeito, o blog apresenta com demasiada frequência muitas parecenças com o site de uma qualquer editora.

4 - O controverso, o contraditório e a polémica são o sal e a pimenta dos nossos cozinhados literários. Ultimamente tem-se notado uma certa falta destes tempêros.

E lá porque um ou outro tem ataques de azia, não será por isso que nos devemos resignar ao desenxabido consensual. Como homens de guerra que somos (fomos), honremos a guerra, agora com a língua e a caneta!

5 - Quase todas as semanas se apresenta mais um camarada, atraído para o nosso convívio. Isso agrada-me. Mas cadê a historiazinha a contar o drama, a peripécia, a barracada de que foi protagonista ou de que teve conhecimento enquanto membro das gloriosas FA de Portugal?

Muitos têm-se esquecido. Mas isto não é o clube dos amigos de Alex, há que apresentar serviço!

Para finalizar, um curto relato. Fui contactado há uns meses por um homem por quem tive sempre muito respeito. E para além do respeito, afeição. O Manuel dos Santos, antes e depois da tropa, dedicou-se sempre à indústria da restauração. Como empregado. Encontrámo-nos pela última vez há-de haver para aí uns cinco anos, em Santa Comba Dão. Sempre muito respeitoso e educado, quase tímido, viu-se que ficou feliz por ter podido reencontrar-se com os seus antigos furriéis e alferes. Prometeu que estaria presente no encontro seguinte, nos Açores, mas não compareceu.

Agora, gravemente doente, abandonado pela mulher, rejeitado pelos amigos da onça, posto de lado por uma filha que formou, estava sem recursos para enganar o estômago e pagar a renda de um barraco que lhe servia de habitação ali para os lados de Leça. Muito envergonhado, pedia-me um pequeníssimo empréstimo que tencionava devolver quando recebesse a prestação seguinte da Segurança Social.

Nunca mais tive notícias suas, nem sequer tive possibilidade de saber se ainda está entre nós.

Durante mais de dois anos, o 1º cabo corneteiro Manuel dos Santos zelou pelo nosso bem-estar. Como responsável pela messe e despenseiro servia-nos, no prato, as melhores refeições que podiam ser cofeccionadas com os parcos meios de que dispunha, procurando sempre que estivessem a nosso contento, tudo fazendo para que estivessem.

Como o do Manuel, haverão imensos casos de camaradas nossos em maus lençois. Dentro ou fora da esfera profissional, será que ainda vamos a tempo de fazer o gesto que se impõe? Em que medida é que através do blog poderíamos chegar a alguns aflitos?

Continuação de um excelente serão.

VJ

2. Mensagem do Carlos Vinhal, com data de 27 de Outubro, remetida aos editores LV e VB:

Caros companheiros:

Para vosso conhecimento e reflexão, já que o Vitor é um excelente crítico. Aguardo as vossas doutas opiniões.
Ab
Carlos

OBS:-Este reenvio tem, como é logico, aprovação do autor, já que não é um mail pessoal.


3. Comentário dos editores LG/CV/VB:

Querido Vitor:

(i) Como há dias escrevia o Luís Graça, tu já tens, no nosso blogue e na nossa Tabanca Grande, o estatuto de senador... Tal significa o direito a algumas prerrogativas (ou, como diziam os romanos, privi + legiu > lei privada);

(ii) Tens, por exemplo, o privilégio de poder falar alto e bom som, enquanto a gente baixa a bolinha (para melhor te poder ouvir);

(iii) Estás isento de horário de trabalho, tens licença ilimitada de entrar e sair a qualquer hora; e de passar, inclusive, longas temporadas fora da nossa Tabanca Grande (temos ciúmes mas não o podemos demonstrar em público...):

(iv) Tens todo o direito de mandar bitaites a estes teus pobres e humildes editores; estás a exercer a tua soberaníssima e inalienável liberdade de expressão;

(v) As cinco críticas que nos fazes, acertaram na mouche: são pertinentes, contundentes, oportunas, etc. ;

(vi) Sem termos a veleidade de te responder nem muito menos contestar, deixamos-nos apenas alegar em nossa defesa o seguinte:

(a) o blogue cresceu demasiado, depois de Pombal, a partir de meados de 2007, e nem sempre, nós, os três, conseguimos dar boa conta do recado; no máximo, podemos publicar 5 postes por dia, com muita coordenação, trabalho, inspiração, transpiração; em média, 2 a 3 por dia; nas férias, 1 a 2 por dia; compare-se, a seguir, a nossa produção bloguística no mês das férias (Agosto) e nos meses de Outubro e Novembro de 2008: no gráfico de barros, pode-se ver a nossa produção semanal (em número de postes), produção essa que depende não só dos textos enviados aos editores como da capacidade de edição destes últimos...




Fonte: Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)


(b) a correspondência recebida (e expedida) é volumosa, a ponto de ficarmos por vezes afogados em mails; estamos, agora, por exemplo, a fazer a limpeza (periódica) à nossa caixa de correio;

(c) há atrasos que, por vezes, podem ser irremediáveis, tirando oportunidade e sentido aos textos que nos são enviados (sobretudo em questões que estão encadeadas, que têm perguntas e respostas, etc.);

(d) procuramos quase sempre manter o espírito da mensagem quando, por mor do português de lei, somos obrigados a corrigir a forma; não queremos o mau exemplo que vai por aí, por essa blogosfera fora; não somos um blogue literário, mas queremos entender-nos... em bom português, entre portugueses e outros lusófonos, incluindo os nossos amigos, camaradas e irmãos da Guiné;

(e) vamos ter em conta o teu reparo sobre o excesso de transcrições (de livros, relatórios, etc.) e de outros sinais exteriores de eventual novo riquismo literário;

(f) não queremos ser um clube dos amigos de Alex (muito menos de poetas mortos...), vamos manter a tarifa 1 homem, 1 história, como preço de ingresso na Tabanca Grande; quem quer entrar, pede licença, apresenta-se e conta história;

(g) e, claro, estamos de acordo: o contraditório, a exposição de pontos de vista contraditórios, a crítica, a discussão de pontos de vista, o debate, a saudável polémica, etc. são o sal da vida bloguística, são o que (também) dá pica à vida e ao blogue; mas, tal como o stress, tem de ser q.b.;

(h) Por fim, e não menos importante, quanto ao conselho de ética... Está prometido há meses, temos que cumprir a promessa... O que tu, no fundo, estás a fazer é o papel de provedor do blogue, uma figura que pode ser individual ou de pequeno grupo de senadores (ou, melhor homens grandes) como tu...

E a solidariedade entre camaradas, sobretudo nas más horas, como no nosso tempo, na Guiné ? Como vamos manifestá-la ? Publicamente, discretamente, efectivamente ? Casos como o António Batista ou do Manuel dos Santos não podem deixar-nos indiferentes...

E pronto. Temos dito. E, com um atraso de quase um mês, publicado. Não cremos que o texto tenha perdido acuidade e actualidade. Mas tu dirás da tua justiça. Aliás, é uma excelente oportunidade para outros camaradas e amigos se pronunciarem também sobre o blogue do nosso contentamento, às vezes descontente, parafraseando o nosso grande lírico, o nosso Luís de Camões, o maior e o melhor de todos nós...

Um Alfa Bravo destes três cavaleiros andantes, nos seus cavalos já velhos, cansados, ronceiros, mas ainda voluntariosos, Luís, Carlos e Virgínio.

PS - Obrigados pelo privilégio de voltarmos a ler as tuas Histórias (com H). Estamos a pensar também em... próximo livro, teu, ou colectivo, de antologia (por exemplo, com as nossas melhores 25 histórias), brochado, de preferência, de capa dura, como deve ser, a um preço razoável, acessível a todos (ou à maior parte de nós)... E, claro, com direito a festa rija, de lançamento, que o texto é também pretexto para a festa da amizade e da camaradagem, festa que o nosso blogue procura celebrar todos os dias... Se nem sempre o consegue, é por culpa dos oficiantes, da comissão de festas, e dos... artistas (que afinal de contas somos todos nós).

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3464: Histórias de Vitor Junqueira (10): Santa Paz


1. Mensagem do nosso camarada Vitor Junqueira, ex-Alf Mil Inf, CCAÇ 2753 - Os Barões (Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá ,1970/72), com data de 13 de Novembro de 2008:

Caros editores,
Fui ao "armazém" e recuperei este naco de prosa que vos envio para análise.
Se acharem que merece honras de Blog... façam favor.

Saudações cordiais,
VJ

Santa Paz!
Por Vitor Junqueira

Apresento-vos o meu amigo Simeão

Existem dentro como fora de fronteiras tantos topónimos de vilas, cidades e aldeias começados por Santa, como por exemplo Santa Maria, Santa Comba, Santa Bárbara; Santa Margarida etc. que, Cutia, bem podia ter-se chamado Santa Paz.

Conheci o Simeão a bordo do NM/TT Carvalho Araújo quando ambos rumávamos à Guiné. Ele, em rendição individual. Eu, com a família toda atrás. Corria o ano de 1970, por alturas de Agosto, o mês das férias e dos cruzeiros. Já naquele tempo, usava uma soberba e reluzente careca que cobria com uma mitra à Che. Com estrelinha na fronte e tudo. De trato afável, não tardou que chegássemos à fala. A princípio, tentámos avaliar-nos mutuamente. Para espantar o tédio e não querendo nenhum de nós perder o pé em temas politicamente quentes, o assunto das nossas conversas girava à volta da kingalhada post prandeal, das banalidades sobre o tempo ou a monotonia da viagem. Depressa me apercebi que do seu ar prazenteiro irradiava uma serenidade e bonomia enganadoras. Por trás do sorriso manso, estava um tipo nervoso, inquieto e, acima de tudo, revoltado. Certo é que, durante os cerca de dez dias que durou a viagem, tivemos tempo para nos tornarmos amigos. Com pontos de vista diametralmente opostos, é verdade, mas com a firmeza e frontalidade que consolida as amizades. Como a nossa, que dura desde esse tempo.

O Simeão estudava medicina em Coimbra quando se deu aquela bronca com o Presidente Américo Tomás. Foi apanhado na lingada da incorporação seguinte e condenado a malhar com os ossos na Guiné.

Como para a maioria dos jovens universitários daquele tempo, a tropa veio deitar por terra planos de vida longamente gizados, tanto pelos próprios como pelas famílias. Filhos de uma pequena burguesia em ascensão e, note-se que Portugal registava um surto de crescimento económico sem precedentes, os futuros milicianos iriam arrostar não apenas com uma longa interrupção dos estudos, porventura o fim das suas carreiras académicas, como expor-se a condições de vida (militar) que nenhuma sociedade acomodada estaria disposta a aceitar. Para já não falar da probabilidade nada desprezível de perder a vida em combate num qualquer sertão africano, em defesa e em nome de causas que se tinham tornado muito difíceis de explicar. E ainda mais difíceis de entender, por estarem nos antípodas das preocupações da maioria dos portugueses de então. Entendamo-nos de uma vez por todas; se este pessoal tinha excelentes perspectivas de futuro, o presente era no mínimo radioso: Namorada (s), tertúlias, noitadas de copos e engate, (em Coimbra, serenatas), boa música, teatro e cinema de qualidade só acessíveis a privilegiados, pândega a dar com um pau. Já não eram raros os que iam para as aulas de automóvel e frequentavam os locais de pouso de uma certa socialite lisboeta.

O Simeão tratava por tu, Marx, Engels e Lenine, que eu suspeitava serem personagens do cinema mudo americano, pois já tinha ouvido falar de um tal Groucho Marx. Para matar o tempo, enquanto eu lia o manual de acção psicológica na guerra subversiva, o gajo atirava-se aos cahiers de socilogie. E se eu me entretinha com as equações das cónicas por causa do tiro parabólico, ele tentava explicar-me detalhadamente o significado contido nas entrelinhas de um manifesto em que se exaltava a justa luta dos povos pela sua autodeterminação. Eu imaginava-me a ganhar a guerra (ah Napoleão!), ele discorria sobre a forma de sair dela vivo. E assim por diante.

O reencontro

Despejados no cais de Pidjiguiti em Agosto de 1970, cada um foi à sua vidinha. Não voltámos a encontrar-nos nem tivemos notícias um do outro até, salvo erro, Novembro desse mesmo ano. Indo eu a caminho não de Viseu, mas de Mansabá, encontro-o a comandar um pelotão de morteiros estacionado em Cutia. Embora a guerra do Simeão se situasse num ponto de passagem obrigatória para todas as colunas que do norte da Província (calma, pessoal!) demandavam Bissau, raras vezes nos encontrámos, até porque, naquele troço, era sempre a abrir. As coisas modificaram-se por volta do princípio do ano de 1971. Nessa altura, reaberta que estava a via Mansabá-Farim, passei a ter o privilégio das visitas do camarada Simeão, dia sim, dia não. Simplesmente porque precisava de água potável e a do K3 era a melhor! Para isso, atrelava um depósito ao burrito do mato, sentava-se ao lado do chauffer seguindo o ajudante atrás, no banco da carroceria, com a G3 bem escondida para não ferir susceptibilidades. Assim, tranquilamente, e nem sequer precisavam de ir na mecha. Para fazer o mesmo trajecto, eu próprio nunca levava menos de dois pelotões reforçados, cerca de oitenta homens, todos com os olhos bem abertos. E mesmo assim apanhava nas lonas. Comecei a desconfiar! Dados os seus antecedentes, seria o Simeão um agente infiltrado? Seria a minha água realmente boa ou seriam as suas intenções pouco líquidas? E se o camarada viesse ao K3 com o intuito de espiolhar o que se passava dentro do arame farpado? Sem melindrar a cordialidade que sempre presidiu ao nosso relacionamento, passei a ser mais cuidadoso quanto à abordagem de pormenores de natureza operacional. Até que um dia…

Fez-se luz

Entre Mansabá e Bafatá, existira em tempos uma boa estrada que, na minha altura, se encontrava totalmente desactivada havia anos, devido às frequentes flagelações da guerrilha. Passava por localidades tão quentes como Manhau, Mantida e outras, onde pude observar as ruínas de antigas instalações ocupadas por guarnições portuguesas. Por outro lado, este itinerário fortemente minado, tornava-se impraticável mesmo para uma força de respeito. A sul, quase paralelamente, corria o trajecto principal Mansoa-Bambadinca-Bafatá. Entre ambos, uma extensa faixa onde o PAIGC tinha uma parte dos seus incontestados domínios. Como sempre fui sortudo (!), calhou-me na rifa uma tarefa muito simples; dar uma saltada a Mantida (vejam no mapa) e correr com uns okupas que lá se encontravam indevidamente. Criteriosamente seleccionados os meus acompanhantes, pois apenas havia lugar para cinquenta, lá embarcámos em dez hélis que nos conduziram ao nosso destino. Viagem rápida e agradável, pior foi o regresso que teve de ser feito à lá patita, a desbravar mato pelas razões expostas. À nossa frente, abrindo caminho, uma parelha de Tigres e outra de T6. Saltar dos helicópteros, já foi difícil dada a oposição dos anfitriões. Fizemo-lo onde foi possível, numa pequena clareira a escassas dezenas de metros do aglomerado de tabancas. Mas entrar lá, ainda por cima sem qualquer espécie de apoio, foi muuuiito complicado. Tomado o objectivo, passou-se a uma inspecção rápida do tabancal antes de o reduzir a cinzas. Para espanto geral, o que é que encontrámos para além dos costumeiros utensílios do quotidiano? Embalagens de tabaco Porto e Português Suave, todo o tipo de mezinhas LM, garrafas (vazias) de cerveja e até pequenos bidões com combustível. Proveniência: Cantina militar, posto médico e depósitos de combustível das viaturas de Cutia! Estava encontrada a explicação para o à-vontade com que o Simeão se movimentava naquelas redondezas. Confrontado com estas evidências, admitiu sem nenhuma dificuldade que tinha perfeito conhecimento do que se passava. Sabia que os elementos do IN, muito activos na região, tinham as mulheres na tabanca de Cutia, onde eles próprios gozavam os seus períodos de férias. E não ignorava que parte dos consumos da cantina iam parar ao mato. Nos dois períodos de licença que gozou na metrópole, abasteceu-se de tudo quanto era ronco para distribuir pela população. Numa ocasião em que nos cruzámos no Biafra, apanhei-o com duas valentes malas carregando quilos e quilos de panos, chinelos, pechisbeque e bugigangas de toda a espécie com que garantiu o seu sossego. Tudo isto com a conivência dos seus próprios soldados africanos e, suponho eu, dos furriéis europeus. Com este procedimento, obteve uma garantia de segurança, tácita, que nem antes nem depois foi outorgada a mais ninguém. E teve razão, fez bem! Dado o isolamento em que se encontravam, qualquer atitude mais belicosa poderia ter provocado um desastre. Para a malta do Morés, apertar-lhes o papo seria como limpar o cu a meninos. Soube-se que algum tempo após a desmobilização, dois alferes que lhe sucederam, teriam sido mortos pelas próprias forças. Sem confirmação. Obteve outras vantagens. Dadas as longas ausências dos militares do PAIGC, sentia-se no direito (e se calhar no dever…) de lhes consolar as mulheres. Confessou-me que tinha uma certa predilecção por grávidas. Seguindo um determinado ritual, sentava-as ou deitava-as por cima, mas antes, aplicava-lhes duas carinhosas palmadinhas na barriga e dizia:

- Minino disculpa e tá quietinho, a mim n’bai fá fudi-fudi co mama di bó.

Mas nem tudo foram rosas na comissão deste nosso camarada. Preguei-lhe duas grandes partidas, uma das quais, involuntária, haveria de levá-lo à baixa.
Hei-de contar-vos.

Até lá, abraços do
VJ

PS: O Simeão Duarte Ferreira, é meu colega, amigo e vizinho. Exerce a sua actividade clínica no Centro de Saúde da Bidoeira-Leiria e reside na localidade de Guia-Pombal

Recorte da Carta da Guiné, onde se podem ver as estradas Mansabá-Bafatá e Mansoa-Bambadinca-Bafatá

Fotografia do Destacamento de Cutia, situado na Estrada Mansoa-Mansabá
Foto: © César Dias (2008). Direitos reservados.


Fotografia aérea de Mansabá, ponto de passagem obrigatório para quem se deslocava de Mansoa para Farim.
Foto: © Carlos Vinhal (2008). Direitos reservados.


Fotografia do aquartelamento do K3. Por aqui permaneceu a CCAÇ 2753 do Alf Mil Vitor Junqueira durante boa parte da sua comissão.
Foto: © Carlos Silva (2008). Direitos reservados.


2. Comentário de CV:

Caro Vitor, como te prometemos e para podermos dar a oportunidade aos nossos leitores de (re)lerem as tuas histórias, criamos uma série chamada Histórias de Vitor Junqueira, similar aliás a algumas já criadas para outros camaradas, destinada a agrupar os teus trabalhos não integrados noutras séries, como por exemplo O nosso baptismo de fogo.

Nesta tua 10.ª história fica em roda-pé a lista das anteriores, já publicadas.
_____________

Nota de CV:

(1) Vd. postes da série de:

18 de Setembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753

23 de Setembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim

27 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas

31 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto

5 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

31 de Janeiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

6 de Março de 2007 >
Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753

11 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3438: Histórias de Vitor Junqueira: (9): O Líbio e o alferes gazeteiro


1. Em 9 de Novembro de 2008, o nosso camarada Vitor Junqueira, Alf Mil Inf da CCAÇ 2753 - Os Barões - Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim/K3, Mansabá , 1970/72, deixou este comentário no P3411:

Carlos,
Muito obrigado pelo teu esclarecimento.

E, sendo assim, prepara-te que aí vai aço! Quero dizer, ainda hoje vou alinhavar mais uma história - com agá e deixemo-nos de tretas -, que te enviarei para publicação, se achares que tem merecimento para tal.

Sabes Carlos, eu não consigo escrever nada em que não ponha um pouco da pessoa que eu sou. Por vezes, uma ponta de ironia ou o linguajar da minha infância, dão aos meus escritos um certo colorido que, ao relê-los (quando o faço), pergunto a mim próprio: Quem é que pode interessar-se por esta porcaria!? E zás, reciclagem com eles! Têm escapado aqueles que, a seguir ao impulso da escrita, seguem imediatamente para o correio. Nesse caso, não há recuo possível! Quanto aos temas, só tenho uma preocupação, a de que tenham subjacente a verdade.

Amigo Carlos, não respondas a este e-mail porque não é necessário. Estou a ouvir-te neste momento.

Até breve,
VJ

2. Caro Vitor, não te respondi, como querias, mas publicamente te digo que vales tanto pela tua coragem, honestidade intelectual, que a outra não é discutível, e franqueza, que só me ocorre dizer que te admiro por seres quem és e como és.

Não deites para o caixote aquilo que expontaneamente te sai pela ponta da caneta. Promete.

Aos restantes companheiros, não me canso de repetir que qualquer trabalho que venha de quem quer que seja, com a qualidade do Vitor ou parecido com aquilo que eu prórpio escrevo, menos boa, mas genuíno, é sempre bem-vindo e será publicado de certeza. Não se acanhem camaradas perante a qualidade de alguns prosadores e escrevam o que sentem e o que lhes vai na alma. Estamos aqui para receber e publicar as vossas histórias, mesmo sabendo que os seus autores jamais serão candidatos ao prémio Nobel da literatura.

3. No dia 10, recebemos do Vitor Junqueira esta reflexão sobre a época de Natal que se aproxima, seguida de duas curiosas histórias.

O Líbio e o Alferes gazeteiro…
Vitor Junqueira

Estimados amigos e camaradas,
Estamos quase chegados ao mês do Natal, como se diz por aqui e em muitos outros sítios. Por um lado é bom. Significa que estamos cá, com mais ou menos achaques completámos outra longa viagem de 365 dias em volta do sol, à velocidade de 29.784,2 Km/seg. Vamos entrar numa quadra que, além de festiva, todos dizem que é mágica, sem que ninguém saiba explicar exactamente porquê. É como o próprio tempo, sentimo-lo, mas quem é capaz de o definir? E como ele corre! Ainda ontem estávamos em fim de Festas e ei-las de novo à porta. Aí reside o por outro lado da questão; para os homens e mulheres da minha geração, torna-se cada vez mais pesado o sentimento de que no contador da vida, a cada Natal que passa, mais um ano é retirado ao nosso prazo de validade. Damos connosco a afirmar com toda a naturalidade: Para o ano, se eu cá estiver... É duro mas é assim mesmo e não há volta que se lhe possa dar. Quem correu, já não tem muito para caminhar.

O Natal toca-me, mexe comigo, como se diz nesta nova linguagem que todos andamos a aprender. Vêem-me à memória recordações de infância, tantas. Repousando ao ar do borralho, o alguidar das filhozes da minha mãe, confeccionadas com muita abóbora menina e açúcar, a tigela com o pão de ló bem batido, de onde eu fanava bocadinhos de massa na ponta do dedo enquanto ela untava a forma. O pirum bêbado, a desfazer-se na assadeira em leivas de carne, batatinhas novas a boiar na sua gordura olorosa. O presépio, construído com tabuinhas das caixas de sabão offenbach e musgo arrancado aos troncos das oliveiras. Até o Menino Jesus deitado nas palhinhas era bem mais simpático do que um empregado Seu que para aí anda, a quem chamam Pai Natal. Empanturra os putos com consolas e telemóveis que eles já têm, Barbies, skates, BTT’s e mais uma montanha de lixo. Coisas pelas quais perdem todo o interesse, mal acabam de as desempacotar. Pode-se dizer que hoje em dia, o êxtase da criançada dura aqueles poucos instantes que levam a abrir os presentes. É o preço a pagar por vivermos numa sociedade consumista. O meu Menino Jesus porém, era bruxo, adivinhava sempre o que eu queria. Tanto me contentava com uma bola, como recebia com enorme excitação, uma caneta de tinta permanente, uma mala nova para os livros ou umas reluzentes botas de ensebar com orelha e rasto de pneu. E a dose de felicidade era tamanha que durava o ano inteiro.

Foram Natais bem mais felizes, os da minha meninice. Como numa conta de somar, junto-lhes a lembrança daqueles que vivi com os meus filhos quando eram pequenos. Quantas saudades, chega a doer! Hoje, depois de tanto peido de cigano e cornadas da vida, é-me cada vez mais difícil libertar a tal criança que supostamente nos acompanha do nascimento até à cova. O Natal já não tem força para me aquecer a alma, talvez a amorne. Entre a excitação e uma espécie de melancolia pegajosa difícil de sacudir, fico apenas contente, é quanto me basta. Evoco memórias de familiares e amigos que já lá vão, dos camaradas dos tempos de emigrante e da tropa. Em breve chegarão à minha caixa do correio os postais da praxe. Eu não escrevo, prefiro o telefone. Mas não para mandar aquelas mensagens predefinidas, idiotas. Uma praga para uns, uma mina para as operadoras. Na noite de consoada, recebo e faço meia dúzia de telefonemas. Gosto de ouvir a voz dos amigos que o são de verdade, sem motivo nem explicação. Daquele amigo em particular que, em dado momento, nos caiu no goto e, passada uma eternidade, continuamos a achar que só por capricho do destino não é nosso irmão de sangue.

Tenho um amigo assim, o alferes Quintas, gazeteiro encartado, o maior que passou pelo exército português, zeloso quanto ao bom estado de conservação da primeira camisa que a mãe lhe deu, contestatário militante, exímio jogador de King, lerpa, sete e meio e montinho, discípulo de Bacco, amparo de solteiras, viúvas, divorciadas e mal casadas.

Mas, permitam-me que antes vos fale de outro amigo e colega (de escola), Kahled o Líbio.

Estava eu a iniciar o primeiro ano do curso superior de pilotagem da Escola Náutica e tendo as aulas começado havia umas duas semanas, aparece na turma um matulão de vinte e poucos anos a falar com sotaque fortemente abrasileirado. Cabelo curto e ligeira carapinha, tez de um moreno carregado e dentes resplandecentes, parecia o Omar Sharif dos velhos tempos. A sua simplicidade, o olhar franco e leal, conquistaram de imediato o resto da turma. Muçulmano fervoroso, frequentava as aulas com assiduidade e nos intervalos, falava-nos da família, dos lugares por onde passara e dos amigos que lá ficaram. O pai tinha desempenhado as funções de Adido Comercial da Líbia no Brasil, nos últimos nove anos, até à sua recente transferência para Lisboa. Tinha dois irmãos, o Sam um pouco mais novo, que enveredou pelo curso de máquinas marítimas e um outro, ainda chavalo com cerca de doze anos de quem não recordo o nome. Relativamente aos costumes, o Kahled era exemplar. Único vício patente: o do tabaquito. Não dizia palavrões, não bebia álcool nem comia carne de porco. Quanto a sexo, seguia à risca os ditames da sua religião. Porque segundo os mandamentos, sexo era uma coisa muito séria e a pila, não era propriamente uma chouriça que se pendurasse em qualquer fumeiro. Estávamos no mês de Outubro. Pois bem, antes do Natal, já o Kahled tratava pelo nome as putas todas do Bairro Alto, comia lentriscas grelhadas acompanhadas com Reguengos e iniciava as suas incursões predadoras pela margem sul, por tudo quanto era bas-fonds onde cheirasse a bichana. Da nacional, porque na altura ainda não se consumia chicha do leste ou sul americana! Não raras vezes, utilizava nesta incursões a viatura CD, onde se fazia transportar com os comparsas para além das galdérias e muito álcool. O que pode explicar nunca terem ido todos parar à choldra. Ou seja, aquilo que os liberais brasileiros não almejaram em nove anos, o tresmalhe de uma boa ovelha, os portugas conseguiram em poucas semanas. Claro que, com o andar desta carruagem, outra coisa não se poderia esperar que não fosse o completo desinteresse pelo curso. Faltas às aulas, as manhãs na choça a curtir a ressaca das noitadas e as tardes passadas a preparar a caldeira para a soiré, acarretaram chumbo atrás de chumbo. O Kahled nunca mais passou do 1.º ano. Um dia de finais de Julho, tendo eu concluído o curso, dirigi-me à escola a fim de tratar da documentação para o meu primeiro embarque. Encontro o Líbio no bar a despejar umas bejecas para cima de um lastro à base de amendoins bem torradinhos.

- Ora viva, Kahled! Estás bom, meu? O que é que estás aqui a fazer?

- Ói cara, tudo jóia. E você?

- Numa boa. Vim pedir a certidão para a capitania. Mas ainda não me disseste porque é que não estás a gozar umas merecidas férias!?

- Fiz hoje o exame de Márinhária – a disciplina mais acessível do curso –. Assim já vou podê mi mátriculár no segundo ano!

- Oh pá, parabéns. Então e a nota, já saiu?

- Saiu não, mas mi correu muito bem, estou contando com uma boa nota.

Uns dias depois volto à Escola para levantar a certidão. Passo pelo bar e encontro o Khaled nos mesmos preparos.

- Olá, companheiro! Tratando da matrícula

- Não, não. Chumbei.

- Não passaste???

- Nããão, o cara mi fodeu!!!

Nota: O “cara” era o comandante Marques da Silva, o mais estimado e justo professor daquela escola. Foi durante mais de trinta anos capitão da pesca do bacalhau tendo comandado algumas das velhas glórias nacionais nas suas derradeiras deslocações à Terra Nova, enquanto navios pesqueiros à vela.

O José Manuel Coutinho Quintas, era um dos alferes de uma companhia a banhos na zona de Bula. Natural de uma aldeia próxima de Barcelos, já era casado e pai de um filho ou dois quando foi bater com os costados na Guiné. Baixote, vivaço, simpático, era o protótipo do bom malandro. Tinha um defeito, estava sempre no contra, pelo menos no princípio. Esperto que nem um rato de celeiro, não tinha dificuldade em enfileirar argumentos para justificar a sua pouca ou nula adesão à causa. Porque a sua mãe não o tinha criado para ir morrer em África, porque aquele país era deles e nós não passávamos de reles ocupantes, à força etc., etc. Possuía retórica extensa, fecunda, e não via com bons olhos aqueles que não comungavam do seu ponto de vista. As críticas e aleivosias que tive que aturar àquele desgraçado!

Fiel aos seus princípios, decidiu em dada ocasião em que estava escalado para uma segurança nocturna nas imediações do quartel em Bula, que o seu sangue, nessa noite, não seria pasto para mosquitos. E vai daí, deu parte de doente. Ficou no quarto e ordenou ao impedido que fosse à messe de oficiais aviar o tratamento adequado à sua situação clínica: uma bifana no pão, uma sandocha mista de queijo e fiambre e duas cervejolas! O coronel não sei quantos, com todo o respeito, chefe daquela guerra, entra no bar e topa o soldado junto ao Balcão.

- O que é que o nosso pronto está aqui a fazer?

O soldado, coitado, todo tremeliques, não sabendo o que fazer com o taleigo onde levava a medicação, responde:

- Meu comandante, eu estou aqui por mandado do nosso alferes Quintas.

- ????

- Então mas não é o pelotão do alferes Quintas que está escalado para ir emboscar?

- Era, meu comandante. Era, mas o nosso alferes está doente.

Ao coronel não passou despercebida a volumosa receita acabada de aviar. Vira-se para o médico que ao fundo da sala seguia a conversa enquanto se batia estoicamente com um interminável crapaud e dá a seguinte ordem:

-Ó Dr, vá lá ao quarto do nosso alferes, veja o que é que ele tem e apresente-me um relatório.

O médico, por mais camarada que desejasse ser, não pôde senão atestar em letra de relatório a saúde de cavalo de que gozava o alfero.

Processo disciplinar em cima e, catrapus, dez dias trancadito no quarto findos os quais, o Quintas recebe guia de marcha e vai de vela até ao K3.

Travámos conhecimento num fim de tarde em que regressava do mato. Roto de cansaço, negro da fuligem do capim e das tabancas a arder, farto de tiros e tiras, avisto-o junto ao quarto dos alferes, à paisana, envergando calções e uma imaculada T-shirt branca. Com um pé em cima de um mocho acompanhava-se à viola, cantando qualquer coisa que soava assim:

Oh when the sens
Oh when the sens
Oh when the sens, oh ma-tchi-ni


- Quem é o artista? Perguntei ao portalegrense 1.º sargento Leão, Leanito para os amigos, já falecido, que me esclareceu.

Na semana seguinte, fomos ambos fazer uma operação. A coisa esteve preta! À chegada, atira-se para o chão à frente da porta da secretaria e diz:

- Oh Junqueira, tu és louco, pá!

Foram cócegas para o meu ego e, o início de uma amizade tão forte quanto improvável.

O Quintas vive na Suiça onde depois de vinte anos a trabalhar na Swatch, se tornou proprietário e gerente do melhor restaurante da região. Veio visitar-me este verão, como faz sempre que vem a Portugal. É um daqueles manos com quem contacto na noite da consoada.

Quando lá forem, batam ao ferrolho e digam que vão da minha parte. Vão conhecer o significado da palavra hospitalidade em Quintanês.

Aqui vai o endereço:

Zé Manel Quintas,
Restaurant Griland
Route Cantonale, 26
1964 Conthey

Obs: Isto fica em Sion a cerca de 150 Km de Genève.

Já agora, toparam a ligação entre estes dois retalhos de vida?
Cá para mim, acho que ambos si foderam!

Espero que tenham apreciado, até breve
VJ

OBS:-Itálicos e negritos da responsabilidade do editor
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Nota de CV

(1) Vd. postes da série de:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1083: Histórias de Vitor Junqueira (1): Os Barões da açoriana CCAÇ 2753 (Madina Fula, Bironque, K3, 1970/72)
e
Guiné 63/74 - P1084: Histórias de Vitor Junqueira (2): O guerrilheiro desconhecido que foi 'capturado' no K3 por um básico da CCAÇ 2753

23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1110: Histórias de Vitor Junqueira (3): Do Bironque ao K3 ou as andanças da açoriana CCAÇ 2753 pela região de Farim

27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74: P1215: Histórias de Vitor Junqueira (4): Irmãos de sangue, suor e lágrimas

31 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1224: Histórias de Vitor Junqueira (5): Não ao politicamente correcto

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1403: Histórias de Vitor Junqueira (6): A açoriana CCAÇ 2753: uma família, uma unidade feita à medida

31 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1475: Histórias de Vitor Junqueira (7): A chacun, sa putain... Ou Fanta Baldé, a minha puta de estimação

6 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1567: Histórias de Vitor Junqueira (8): Operação Larga Agora, na região do Tancroal, com a CCAÇ 2753

(2) Vd. poste da última participação do Vitor Junqueira no nosso Blogue com data de 5 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3411: O meu baptismo de fogo (22): A minha primeira vez... (Vitor Junqueira)