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sábado, 13 de maio de 2023

Guiné 61/74 - P24311: Homenagem a dois 'guineenses' de adoção e paixão, o algarvio António Camilo e o nortenho Xico Allen (1950-2022): "Diário da Viagem até à Guiné-Bissau por terra e por ela", em 20 dias (Herculano Prado). Parte I: De Portimão a Bambadina, em 7 dias, de 18 a 24 de setembro de 2017


Xico Allen (1950-2022)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Capela > 2010 > O Luís Branquinho Crespo  (advogado, Leiria) e o António Camilo (empresário, Lagoa) colocando a imagem de N. Sra. de Fátima, na sua base. Foi oferecida por ambos,
 
Foto (e legenda):  © António Camilo (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > 1 de Março de 2008 > O António Camilo, empresário, algarvio, natural de Lagoa, na morança que construiu, no Clube de Caça do Saltinho, na margem direita do mítico e sempre deslumbrante Rio Corubal. Ei-lo aqui à porta de casa, e com seu/nosso amigo Carlos Silva (em primeiro plano). O Camilo voltaria, em 2009, à Guiné-Bissu, na sua 8ª expedição. Em 2008 estuvemos aqui com ele por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008). 

Foto: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Tenho, na minha caixa de correio, desde 07/09/2018, 18:21, um texto, longo, com  o diário da viagem à Guiné-Bissau, feita "por terra e por ela" (sic), de 18 de setembro a 6 de outubro de 2017, por 4 portugueses, em dois jipes, o António Camilo, o Xico Allen, o Herculano Prado e a esposa, Luzinha, prima do António Camilo (que foi fur mil da CCAÇ 1565, Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau, 1966/68).

O diário, da autoria de Herculano Prado, chegou-me, reencaminhado pelo Xico Allen, juntamente com o teor do mail em que ele agradecia ao autor e â esposa, companheiros de viagem:

 (...) 28 de janeiro de 2018 às 14:58
 
Boa tarde,  amigos.

Agora mesmo acabo de ver que me foi transmitida a história de nossa viagem á Guiné. Foi muito gratificante ler o que o dr. Herculano Prado escreveu, me fazendo relembrar em pormenor a deslocação até Bissau.

Muito obrigados por tudo e por vos ter conhecido também. São pessoas que ficam no coração. Espero vos encontrar em breve.

Beijos e abraços, Xico.


2. O Herculano Prado, hoje advogado, foi fur mil, CAÇ 3550 / BCAÇ 3885 (Zambué, Tete, Moçambique,  1972/74). Não é membro da nossa Tabanca Grande, mas fica desde já convidado para a integrar, não só por esta viagem e a publicação deste texto (em duas partes), como pela ligação (profissional e afetiva) à Guiné (desde pelo menos 2010), e a amizade que criou e manteve com dois dos nossos tabanqueiros, o António Camilo e o Xico Allen (1952-2023).  

Agora que o Xico nos deixou (a nós e à Terra da Alegria), julgo que será oportuna  a publicação desde "diário" no nosso blogue, partindo do pressuposto que era vontade do Xico que o texto fosse publicado no nosso blogue, com a anuência (pelo menos tácita) do Herculano Prado.  Por outro lado, esta é a viagem que alguns de nós já fizeram, e que a maioria gostaria de ter feito em vida, e que por uma razão ou outra (a começar pelos problemas de saúde e segurança) nunca fez ou nunca chegará a fazer.

Tinha na altura pedido ao Xico Allen para nos enviar fotos da expedição. Por esta ou aquela razão, as fotos nunca chegaram. Vamos ter que recorrer, por isso, a  fotos de outras expedições.  Deixamos aqui a manifestação da nossa gratidão ao Herculano Prado. E damos-lhe os parabéns pela excelència do texto, que ganha em vivacidade, fluência e objetividade (e que por isso seria uma pena ficar na "gaveta"...). Enviamos, entretanto,  um alfabravo fratermo ao Camilo (de quem não temos tido notícias) desejando-lhe saúde e longa vida para poder continuar a fazer as suas expedições à Guiné-Bissau onde tem casa (em 2017 era a sua 22ª viagem).


DIÁRIO DA VIAGEM À GUINÉ BISSAU 
POR TERRA E POR ELA

  © Herculano Prado (2017)

Preâmbulo

O António Joaquim Sousa Camilo, primo da Luzinha, foi um dos primeiros a fazer uma viagem por terra à Guiné Bissau, se não o primeiro, dado não termos conhecimento de viagens anteriores, depois do 25 de Abril, onde tinha cumprido serviço militar.

Na primeira viagem que fez à Guiné, em 1998, o Camilo conheceu o Xico Allen de quem ficou amigo, começando aqui uma amizade que perdura e que os levou a congeminarem uma viagem por terra. 

Quando regressaram a Portugal começaram a fazer os preparativos para fazerem a viagem, tendo procurado alguns patrocínios para a custear, com publicidade no jeep, e aceitando donativos para apoio à população, em especial às crianças. Esta iniciativa começou a ganhar projeção, tendo aparecido um novo interessado em os acompanhar, que era um repórter fotográfico, chamado Artur. As pessoas ao tomarem conhecimento ofereceram donativos, os meios de comunicação pegaram no assunto e foram transmitindo informações sobre o decorrer da viagem, que começou em Lagoa, em frente à Fatacil. 

À partida estiveram presentes dois canais de televisão, a RDP e as rádios locais, com relevância para Rádio Lagoa, que ia acompanhando a viagem, com uma ligação ao Camilo, por volta das 10 horas, todos os dias. Fizeram-se transportar no jeep do Camilo, que ia a abarrotar, inclusive, levavam malas e sacos no tejadilho. Segundo o Camilo, nem mais uma garrafa de água cabia. A viagem demorou dez dias e foi uma aventura e descoberta constante, como normalmente acontece aquando da primeira vez.

O amor àquela terra e às suas gentes levou-o a, posteriormente, organizar algumas caravanas humanitárias, das quais a Luzinha ia tendo conhecimento, através do Facebook. Entusiasmada com as viagens, referiu-me que, por ela, se eu quisesse, poderíamos um dia acompanhar o Camilo. O Camilo, sabendo o nosso interesse, quando teve uma oportunidade convidou-nos, mas, por impedimentos da nossa parte, só agora podemos aceitar.

A viagem, a nossa primeira, a vigésima segunda do Camilo e a décima segunda do Xico Allen, foi iniciada com dois jeeps, marca Mercedes, sendo um ocupado pelo António Joaquim Sousa Camilo e pelo Francisco Jorge Allen (Xico Allen) e outro por mim, Herculano Afonso Lourenço do Prado e pela Luzinha, Maria da Luz Reis Braz Silva Lourenço do Prado, minha mulher.

O itinerário da viagem seria: Espanha, Marrocos, Sara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné Bissau. Na Guiné Bissau ficámos em Bambadinca e não em Saltinho como pensávamos.

O jeep que nos foi destinado ficaria por nossa conta, quer para a condução, quer para todo tipo de despesas com ele relacionadas: combustível, barco, seguros etc.

A ideia do diário surgiu ao fim do primeiro dia de viagem quando, ao estarmos a pernoitar em Marraquexe, enviei um e-mail a alguns amigos, tendo alguns sugerido que fizesse um diário e que lhes fosse dando conhecimento do que se ia passando. Achei a ideia interessante e, por isso, no fim do segundo dia, relatei os factos mais importantes e enviei-os convencido de que teriam chegado aos destinatários. Como não obtive os comentários que seriam expectáveis, enviei o e-mail para o remetente, não tendo chegado, o que me levou a concluir que o mesmo teria acontecido em relação aos outros destinatários e que o mesmo aconteceria com os e-mails seguintes. 

Em face desta situação, continuei a fazer o diário, deixando, contudo, de o tentar enviar para os meus amigos, que estavam à espera de noticias. Assim, os e-mails foram transformados neste diário, que, se outro interesse não tiver, servirá para mais tarde os meus filhos e netos recordarem, que um dia os avós, já no crepúsculo da vida, se abalançaram a uma viagem, que, se já não era perigosa, como aconteceu no passado, era e foi muito emocionante e cansativa.

Aproveitámos a viagem para levarmos os jeeps cheios com donativos para as crianças de Bambadinca, que aguardavam transporte.


Infografia: o percuros habitual das expedições terrestres de antigos combatantes, como o António Camilo, desde o Algarve até à Guiné Bissau, atravessano o sul deEspanha e depois ,a partir de Tanger, fazendo a costa atlântica de Marrocos, Mauritània e Senegal .

Infografia: Visão (3 de fevereiro de 2011) (com a devida vénia...)


1º dia, domingo/segunda-feira, 17/18 de setembro de 2017

A viagem começou em Portimão, às nove e meia de domingo, passando pelo porto de Tarifa, onde apanhámos o barco até Tanger. A passagem, por carro e ocupantes, custou € 200,00. Chegámos ao porto de Tarifa por volta das 5,30 horas, aguardando até entrarmos para o barco às oito horas. As burocracias alfandegárias foram fáceis, porque não precisámos de vistos.

Ao sairmos do Porto, não fomos ao centro da cidade de Tânger, contornando-a em direção ao Sul, mas a vista que dela se tem do barco dá para ver a sua grandiosidade.

Para nós,  portugueses, quando passamos por sítios, que fazem parte da nossa história e olhamos para o passado, não podemos deixar de nos sentir orgulhosos pelos feitos dos nossos antepassados (esquecendo as atrocidades que cometeram e que eram comuns a todos os beligerantes da época). 

A necessidade, porque eramos um pais pobre, com menos de dois milhões de pessoas, o aventureirismo, ambição e visão de alguns, especialmente do Infante D. Henrique e, posteriormente, de D. João II, levaram-nos, inicialmente, para o Norte de Africa, onde ocupámos Tânger, Ceuta e outras praças e, posteriormente, a contornar o continente africano e a chegar à India. O declínio do império começou ali, nos campos de Alcácer-Kibir, quando um rei imaturo e militarmente incompetente não soube comandar um grande exercito, que, com outro comandante, provavelmente, teria vencido.

A viagem até Marraquexe foi feita sempre em autoestrada, não se notando grandes diferenças em relação ao sul de Portugal.

A meio da viagem apanhámos um grande susto, porque entrámos na reserva de combustível e nunca mais aparecia uma bomba para abastecermos. Foi um alívio quando o conseguimos fazer.

Fizemos o nosso primeiro almoço de piquenique, dos abastecimentos de que estávamos providos, até ao fim da viagem e para os dias na Guiné.

No momento em que enviei o primeiro e-mail, estávamos a passar a noite em Marraquexe e na amanhã seguinte continuámos em direção ao Sul, passando por Agadir.

Ao entrarmos em Marrocos perguntaram-nos se trazíamos armas ou drones.


2º dia, terça-feira, 19 de setembro de 2017

No Segundo dia da viagem, saímos de Marraquexe às sete da manha rumo ao Sul, passando por Agadir, Tiznit e outros locais de menor importância.

Atravessámos a cordilheira do Atlas na sua parte mais ocidental e menos elevada, com paisagens agrestes, grandiosas e de grande beleza.

Passámos por Agadir, cidade costeira e moderna, depois de ser reconstruída em consequência do terramoto que a destruiu, em 26 de fevereiro de 1960.

“A intensidade do abalo foi apenas de 5,7 na escala de Richter, mas, por a cidade se situar precisamente sobre a falha geológica e o epicentro do sismo, e por a maioria dos seus edifícios serem velhos e frágeis, a destruição foi quase total. Na Kasbah e nos bairros centrais de Yachech e Founti não ficou nada de pé. Mais de 15 mil pessoas morreram e muitas ficaram feridas e desalojadas. Foi o mais mortífero terramoto da história de Marrocos.”

O porto é muito bonito, como pudemos apreciar de uma das elevações que o rodeiam. Ali, a Luzinha, pela primeira vez, passeou montada num camelo, conjuntamente comigo.

Nesse miradouro, comprámos umas rochas de cristais coloridos.

A viagem até ao meio do dia foi feita por autoestrada, com inúmeras portagens pagas. Porque € 1,00 vale 10,50 dirames, acaba por não ser muito caro. Nestes dois dias já fizemos cerca de 1500 km, sendo mais de mil por autoestrada.

Como fica documentado por fotos, vamos fazendo piqueniques, estando provisionados com o essencial.

Ficámos a pernoitar em Tantan Praia, com a praia ali ao lado, que, tal como em Portugal, já estava em fim da época balnear.

Pernoitamos num hotel baratucho, onde fizemos uma refeição na varanda de um dos nossos quartos. O quarto não tinha água quente, mas estava limpo e nós só pretendíamos dormir, para além de termos acesso à Internet.

A partir de agora as estradas já não são tão boas, mas estão razoáveis, tendo sido mais fácil do que seria expectável. Mais para Sul será mais difícil.

São horas de dormir porque o recomeço da viagem está marcado para as sete e no programa está uma visita ao Bojador.


3º dia, quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Iniciámos o terceiro dia saindo de Tantan, às 6,30, ainda de noite,

Fomos visitar o Bojador, que ficou a fazer parte da nossa história, para as descobertas, a partir do momento em que foi dobrado pelo Gil Eanes, em 1434, acabando com o medo que dominava os marinheiros, que acreditavam que o mundo acabava ali.

Aqui, num restaurante que a ASAE fecharia sem remissão, aproveitámos para comer um pargo frito que estava divinal, acompanhado com pão local e vinho tinto de Pias. Quando entramos ouvimos vozes que nos pareceu serem portuguesas. De facto, eram dois portugueses que estavam a trabalhar para uma firma irlandesa, que está a montar grandes pás eólicas, para a produção de energia elétrica.

A partir daqui, durante muitos quilómetros, fizemos a viagem próximo do mar, já dentro do verdadeiro deserto, não ainda como nos é mostrado nos filmes e postais : grandes dunas de areia fina, mas terra árida, com vegetação dispersa e rasteira

Percorremos cerca de setecentos quilómetros e fomos pernoitar no Barbas, que, no geral, tinha boa aparência para o deserto, mas que considero ter sido o pior quarto de hotel aonde já dormi, que fica a oitenta quilómetros da fronteira da Mauritânia.

Aqui o Hi- Fi não tem capacidade para permitir contactos normais.

Assisti à derrota do Real Madrid com o Bétis, golo marcado na última jogada, e conclui que a maioria dos assistente torcia pelo Barcelona, tendo em atenção o regozijo manifestado com o golo marcado.

Aqui, o Xico deu comprimidos ao empregado da bomba de gasolina, que estava com dores de cabeça.

Como o dia seguinte iria começa cedo, cedo tivemos de ir descansar.


4º dia, quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Saímos, por volta das sete horas, para chegarmos cedo à fronteira, aonde nos esperava o Arturo, um marroquino, que fala português, que nos tratou da burocracia nas duas fronteiras.

Estas ajudas acabam sempre por sair caras e por vezes parecem ainda complicar mais: o seguro por cada viatura, que custou € 40,00, ficou em € 80,00.

Apesar desta ajuda, só nos despachámos depois das duas da tarde.

Aqui deu para sentir o clima do deserto, quente e ventoso. Tínhamos que tapar os olhos porque a areia andava por todo o lado. Na viagem íamos vendo camelos e, infelizmente, vimos alguns esqueletos devido a acidentes. Durante este dia percorremos parte do Sara a que estamos habituados a ver nos filmes e fotografias.

Entre as duas fronteiras existe uma zona de ninguém, aonde vimos um carro das UN, que ainda se encontra nesta zona, tendo em atenção o conflito existente entre Marrocos e a Frente Polisário, que mantem a luta contra a anexação do Sara Ocidental. Nesta zona, encontrámos muitos carros abandonados, em consequência da falta de documentação e por outros motivos.

Ao longo da viagem vimos inúmeros quarteis, havendo vários em Layunne, pequena cidade, que seria a capital oficial do Sara Ocidental, se fosse independente.

Quando estávamos na fronteira para sair da Mauritânia encontramos um vizinho do nosso casal, em Vale da Laranja, o Sr. Jorge, que também ia a caminho da Guiné, aonde tem negócios.

Durante a viagem fomos mandados parar por dezenas de barragens que controlam a passagem. Para evitar demoras levamos dezenas de impressos preenchidos com os nossos elementos identificativos, que entregamos no ato da abordagem. Muitas vezes são levantadas complicações com o objetivo de nos sacarem dinheiro.

Por volta das oito horas chegamos a Nouakchott, capital da Mauritânia, onde ficámos num ótimo hotel, o Royal Suites Hotels, muito melhor do que os anteriores, onde encontrámos tudo o que tem um quatro estrelas da Europa. Antes de jantarmos no nosso quarto, utilizando o que trazíamos, tomámos um grande banho para nos aliviarmos da grande quantidade de areia que se espalhava pelo cabelo e pelo resto do corpo.

Fizemos uma refeição no quarto com os produtos que levávamos.


Expedição Porto-Bissau, organizada por Xico Allen e A. Marque Lopes... 9 de abril de 2006...Dia 5, De Roc Chico a  Nouakchott, capital da Mauritânia... Um encontro amigável com sarauis e camelos... Fabulosa foto oesta, de um  grande fotógrafo, o nosso Hugo Costa, filho do Albano Costa que, juntamente com a Inês Allen, integrou esta viagem à Guiné, por terra, pelo deserto do Sara...   
 

Porto-Bissau... 9 de abril de 2016...Dia 5, Roc Chico a 
Nouakchott,
capital da Mauritânia... 

























Fotos (e legendas): © Hugo Costa (2006). Todos os direitos reservados.    [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


5º dia, sexta-feira, 22 de setembro

Saímos de Nouakchott, às seis da manha, para chegarmos o mais cedo possível à fronteira com o Senegal, aonde o Camilo, primo da Luzinha, tinha contactos anteriores, para tratar dos seguros das viaturas e das burocracias da passagem entre fronteiras.

Quando estávamos a fazer o controlo na saída da Mauritânia, ao ser necessário entregar os passaportes, passámos por um grande susto, porque o Francisco Allen, não encontrava o seu passaporte. Durante mais de uma hora vimos em todos os sítios possíveis sem sucesso, inclusive, telefonámos para o hotel onde pernoitámos. Depois de uma última busca no jeep, iniciada pelo comandante do posto da Alfandega da Mauritânia, que se mostrou de uma grande simpatia e disponibilidade, muito diferente da maioria dos anteriores, encontrámos o passaporte metido entre uma ranhura do tablier. 

Foi um alívio para todos, o que nos permitiu passar para a fronteira do Senegal, onde surgiram mais complicações e gastos, tendo que pagar gratificações e taxas de viaturas que importaram em cerca de duzentos euros por cada, nos quais se incluiu a comissão do mediador. 

Quando, finalmente, reiniciámos a viagem, continuámos a entregar as fichas identificativas que tínhamos preparadas, até que encontrámos um controlo que nos pediu o passaportes e começou a colocar vários entraves com o objetivo claro de nos extorquir dinheiro, o que me irritou, não sendo muito inteligente da minha parte, porque trazíamos garrafas de vinho escondido, que, se fosse encontrado, nos poderia levar à prisão, atendendo a que os países de religião muçulmana são muito intransigentes, no que diz respeito ao álcool. 

Depois de muita discussão entreguei-lhe três pacotes de leite, tendo sido questionado se aquilo era bom. Em face das dúvidas, pedi-lhos de volta, o que ele não fez. Depois de nos entregar os passaportes arrancámos, quando se preparavam par nos fazerem novas exigências.

Durante o trajeto, o deserto foi-se amenizando até próximo do Senegal, não sendo surpresa encontrarmos a barragem de Diama e um parque protegido, que percorremos por cerca de quarenta quilómetros, por picada, no fim do qual nos foi exigida o pagamento de trinta euros, por viatura, acabando por pagarmos o total de dez euros.

A partir da entrada no Senegal, tendo em atenção o que já acontecia no Sul da Mauritânia, deixamos o deserto e passámos a encontrar a vegetação própria da região subsariana: pequenas árvores e muita vegetação de várias espécies.

Finalmente, já com muitas horas de viagem e de atraso, em relação ao previsto chegámos a Saint Louis, cidade costeira, que, no tempo da colonização francesa chegou a ser a capital do Senegal. Quando atravessamos a cidade para nos dirigirmos ao hotel onde pretendíamos pernoitar, ficámos impressionados com a pobreza e sujidade que encontrávamos, imaginando como seria o Hotel para onde o Camilo e o Francisco nos levavam. Durante o trajeto, ao longo de um grande estaleiro de barcos abandonados coabitavam o lixo, as cabras, os burros e as pessoas.

Depois de o hotel inicialmente escolhido se encontrar fechado para férias, fomos ficar no Diamarek, que lhe fica continuo, acabando por ficarmos num bangaló bastante espaçoso e com dois quartos, ao lado da praia, com um piscina espaçosa e com água morna. Podemos considerar que encontrámos um oásis depois do deserto! Porque gostámos das condições do hotel, porque tinha Hi-Fi de banda larga e porque o preço negociado ficou em 60,00, marcámos mais um dia para disfrutarmos das ótimas condições.


6º dia, sábado, 23 de setembro

Estando em Saint Louis, aproveitámos para visitar a parte antiga da cidade, da época colonial, aonde se encontram dois bons hotéis dessa época e um bom restaurante, bem próximo da sujidade que referenciámos.

Comprámos alguns artigos locais, nomeadamente uma máscara da tradição africana. Depois do almoço disfrutámos da piscina e, eu a Luzinha, demos um passeio pela praia, que é a perder de vista e de areia fina, que se encontrava cheia de lixo

Ao fim do dia, graças à capacidade do sinal Hi-Fi, consegui, através de um site de desporto, o Events Guide, ver o Sporting 1 – Moreirense 1, com pouca atenção, à espera para ver o Benfica 2 – Paços de Ferreira 0. Foram dois bons resultados!

Como eu não abdiquei de ver o jogo do Benfica – Paços de Ferreira, preparámos o jantar com produtos que trazíamos e jantamos à fresca, em frente do Bangaló.

Devo ter um problema no envio de e-mails, porque, apesar da boa capacidade da rede Hi-Fi, não tenho conseguido enviar e-mails, apesar de os receber.

Consegui aceder ao Citius e fiquei aliviado por não ter nenhuma notificação. Uff!!

Deitámo-nos cedo, porque era necessário levantar cedo.


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Outubro de 2015 > Restaurante "Ponte de Encontro", do casal Célia e João Dinis (1941-2021).  

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2016) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


7º dia, domingo, 24 de setembro

Quando me levantei, por volta das cinco horas locais, seis horas em Portugal, estava sem equilíbrio, o que me deixou preocupado. Contudo, pouco tempo depois, recuperei permitindo-nos sair por volta das 5,30 horas. 

Depois de atestarmos os depósitos, pela sétima vez, seguimos em direção ao Sul com o objetivo de irmos pernoitar a Bambadinca, já na Guiné, onde o Camilo tem uma casa. 

A estrada ao longo do Senegal não está má, o que nos permitiu avançar dentro do previsto, fazendo alternância na condução em função do cansaço de cada um. Apesar de tanto eu como a Luzinha também conduzirmos, a maior parte da condução tem sido feita pelo Camilo e pelo Francisco.

Para evitar as muitas complicações e controlos levantados na Gâmbia, fizemos um desvio para a contornar. Seguimos o trajeto de Saint Louis, Kebemer, Touba, Kaffrine, Tambacounda, descendo depois para Velingara, KounKané, Wassadou, chegando, por fim, a Pirada,  fronteira da Guiné, onde se passou com facilidade, porque o Camilo, com a sua capacidade de persuasão, conseguiu passar sem pagar a escolta que nos acompanharia a Gabu. Isto é mais uma forma de extorquir dinheiro aos viajantes, já que não existia escolta para nos acompanhar. O Camilo começou logo ali a distribuir pelo chefe do posto algumas das roupas que trazemos, também como forma de agradecimento.

A estrada de Pirada a Gabu, ou melhor a picada, está num estado inimaginável para quem nunca esteve em Africa. São sessenta quilómetros de buracos uns a seguir aos outros e ainda com água porque a época das chuvas só agora terminou. 

Demorámos mais de duas horas para fazer esta distância. Viemos a saber mais tarde, quando encontrámos o Sr. Jorge, que um dos jeeps que um seu empregado trazia, partiu ali o cárter.

Ao chegarmos a Gabu, o Camilo não parou na alfàndega, o que deveria ter feito, vendo-se obrigado a regressar, porque a nossa passagem foi barrada. Aqui perdemos muito tempo e tivemos que pagar o que não tinha sido pago em Pirada. Penso que, mesmo assim, as coisas podem ter sido facilitadas depois de ter falado com o Tenente Coronel Sado, que é um amigo do meu primo Fernando Mota, Eng.º Silvicultor, que esteve com ele na tropa, aqui, na zona de Saltinho. 

Não telefonei para este amigo do Fernando, até porque perdi o telemóvel, mas a oportunidade surgiu quando veio meter conversa comigo um graduado da Guarda Fiscal, que não é daquele posto e que fez formação na Guarda Fiscal, em Lisboa, juntamente com o Tenente Coronel Sado e com o graduado daquele posto. Ao referir-lhe que trazia cumprimentos para o amigo, de imediato ligou para ele com o qual conversei algum tempo. Após a nossa conversa eles voltaram a falar e o telefone foi passado ao comandante da Alfandega. As coisa resolveram-se e no final, o comandante do posto, deu os seus contactos ao Camilo, o que deixa pressupor que as próximas passagens, se as fizer, já serão mais fáceis.

Reiniciámos a viagem com destino a Bambadinca, pretendendo passar por Bafatá para jantarmos no restaurante da D. Célia, aonde chegámos por volta das nove e meia, à mesma hora em que partimos no domingo anterior. Comemos um estufado de vitela, acompanhado de arroz e batatas fritas e de umas Sagres geladas. Recusámos a salada para evitar problemas de saúde. A comida estava ótima e o restaurante é muito frequentado pela qualidade da comida. As instalações, mesmo aquela hora, estavam limpas, mas os anexos e a casa de banho são uns barracões decrépitos. Se lá voltar, porque os achei simpáticos, vou sugerir que façam umas melhorias nas instalações. 

O marido da D. Célia, o Sr. Dinis, é natural de A. dos Cunhados. Fez cá a guerra, uns anos antes do 25 de abril e por cá ficou. Quando comentei a qualidade das instalações com o Camilo ele deu-me uma justificação que se aplica a este caso: “branco quando está muito tempo a viver entre os nativos fica pior do que eles”. Não direi pior, mas igual.

A parte final da viagem até Bambadinca foi aquela em que tive mais medo de um acidente, atendendo a que nos cruzávamos com outras viaturas com os máximo ligados e o Francisco, mesmo podendo fazê-lo não os ligava, o que só fez mais tarde, o que diminuía o nosso campo de visão, agravado por as bermas serem baixas ou inexistentes e por circularem na estrada bicicletas e pessoas sem qualquer sinalização. 

Finalmente acabámos por chegar bem, tendo percorrido 4 250 quilómetros, mais os que gastámos na travessia do Mediterrâneo até Tanger.

Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Bambadinca > Março de 2007 > As antigas instalações para sargentos, que faziam parte do edifício (integrado) onde estava instalado o comando do Batalhão do Sector L1 (no meu tempo, BCAÇ 2852, 1968/70, e BART 2917, 1970/71)... 

O fotógrafo foi o Carlos Silva, hoje advogado... Segundo ele, "o caramelo que está com o télélé, é o nosso camarada António Camilo, de Lagoa, da CCAÇ 1565 (Jumbembem), que vai à Guiné anualmente, 2 e 3 vezes, integrando expedições humanitárias. O tipo é mais apanhado do clima do que eu"... 

Na altura escrevemos: "Segundo me disse o Xico Allen, em 27 de Dezembro de 2007, quando estive com ele e o resto da minitertúlia de Matosinhos, o Camilo será um dos elementos integrantes da caravana (sete jipes e carrinha, num total de vinte e tal pessoas) que, em princípio, partirá de Portugal para a Guiné-Bissau, por via terrestre. e,m 2008.. O Carlos Silva sei que também vai... Espero que o cancelamento do Rali Lisboa-Dacar, devido à alegada insegurança ma Mauritânia, não venham resfriar o entusiasmo e afectar os planos dos n0ssos camaradas que querem também assistir ao Simpósio Internacional de Guileje".

Foto (e legenda): © Carlos Silva (2007). 
Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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domingo, 30 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24269: E as nossas palmas vão para ... (23): Inês Allen, hoje nossa tabanqueira nº 875: Devolveu a Empada, em fevereiro de 2023, a efígie de "Os Metralhas", divisa da CCAÇ 3566 (1972/74), e nome do clube de futebol local, dando cumprimento à última vontade do pai, Xico Allen (1950-2022)




Guiné-Bissau  > Região de Quínara > Empada > 2005 > O emblema ou efígie da CCAÇ 3566, "Os Metralhas", uma peça em argila que foi encontrada pelo Xico Allen a servir de "tapete" ou "soleira" à casa do administrador local... Fotos do álbum do José Teixeira, que acompanhou o Xico Allen nessa viagem.

Foto (e legenda): © José Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem do José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70)

Data . quinta, 27/04, 15:22 (há 1 dia)
Assunto -  Os Metralhas

Boa tarde Luís

Junto as fotos que tirei em 2005 em Empada com a pedra símbolo dos "Metralhas," que estava a fazer de tapete no acesso à porta da casa do Administrador de Empada. 

O Xico Allen foi cumprimentá-lo e descobriu a pedra e a sua função. Ficou muito aborrecido. e demonstrou o seu descontentamento, pegando na pedra e trazendo-a para o Saltinho. Dois dias depois embarcámos no avião de regresso e a pedra veio conosco.

Quando, no ano passado,  soube que tinha sido criado o Grupo de Futebol "Os Metralhas de Empada" logo se dispôs a ir lá levar a pedra para emblema do clube. Tinha combinado ir com o Silvério Lobo. Infelizmente adoeceu e, ainda antes de morrer,  encarregou a Inês de cumprir a sua vontade.

De recordar que os "Metralhas", a CCAÇ 3566, foram os últimos militares portugueses que estiveram em Empada.

Um xi coração para ti e para a Alice.




2. Resumo da viagem,  à Guiné-Bissau, da Inês Allen, acompanhada do Silvério Lobo (e mais alguns antigos combatentes que se lhes juntaram), em fevereiro de 2023; 

Segundo uma notícia da Agência Lusa, de 14 de fevereiro de 2023, que foi publicada nos jornais (e nomeadamente no "Observador", mas também da Rádio Voz da Guiné, no dia seguinte, no Facebook), "a portuguesa Inês Allen Pereira cumpriu a vontade do pai e entregou em Empada, no sul da Guiné-Bissau, o distintivo da companhia da tropa colonial portuguesa “Os Metralhas” a um clube de futebol com o mesmo nome", que havia sido criado em junho de 2021.

É sabido que o nosso Xico Allen, depois de reformado (era bancário), tornou-se uma "viajante compulsivo", tendo visitado a Guiné-Bissau por diversas ocasiões.  Numa delas, em 2005, e conforme relato acima do nosso camarada Zé Teixeira, encontrou em Empada o emblema ou a efígie da sua antiga companhia, a CCAÇ 3566, cuja divisa era justamente "Os Metralhas”,  

"Nostálgico, Francisco pegou naquele símbolo circular com cerca 50 centímetros de diâmetro, que levou para Portugal." - acrescenta a peça da Agència Lusa - com a ideia de o restaurar. Era uma peça feita de argila, pesando cerca de 19 quilos.

"A ideia, contou à Lusa em Bissau a filha Inês Allen Pereira, era restaurar aquela relíquia feita de argila da Guiné e um dia devolvê-la a Empada. Em outubro passado, quando Francisco tinha tudo planeado para trazer de volta o símbolo de “Os Metralhas”, acabou por morrer de doença".

Conhecedora da vontade do pai, a Inès decidiu viajar até Empada:

“Ele tinha muito orgulho porque soube que há muito pouco tempo tinha sido criado o clube de futebol “Os Metralhas” em Empada e estava a correr muito bem e que tinham subido de divisão”, explicou à Lusa Inês Pereira.

Francisco “tinha muito orgulho” pelo facto de em Empada terem dado, ao clube de futebol local, o nome da divisa da sua companhia, o tempo da guerra colonial, a CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74).

Tão cedo Inês não se vai esquecer da “grande receção” que teve na vila onde o pai foi militar quando no passado domingo, dia 12 de fevereiro, fez 12 horas de viagem entre Bissau e Empada para entregar o símbolo de “Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas.

(...)  "Dauda Cassamá, vice-presidente do Empada Futebol Clube “Os Metralhas”, criado há dois anos e que subiu da terceira para a segunda divisão, explicou à Lusa que o símbolo devolvido por Inês Pereira vai ser colocado numa vitrina no hall de entrada da sede do clube" (...).

O prõximo desafio é fazer "cumprir um desejo dos cidadãos de Empada que querem batizar o campo de futebol com o nome Francisco Allen Pereira"

O acontecimento teve honras de conferência de imprensa Bissau, no dia 14 de fevereiro, em que a nossa Inês foi a "vedeta". E, merece, naturalmente as nossas palmas pelo seu gesto. (*).  



  Guiné > região de Quínara > Empada > Futebol Clube "Os Metralhas de Empada" > Fevereiro de 2023
Leiria > Convívio anual da CCAÇ 1790 > "Mais um convívio muito bem passado! Obrigada à CCAC 1790, 1967/69, por nos receberem e também pelas 150 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do 'Campo de Futebol Xico Allen' ". A Inês Allen aqui com  Silvério Ribeiro Lobo e Liliana Miguel Carvalho Dantas em Leiria.

Fotos: Cortesia da página do facebook da Inès Allen (2023)

3. Ficha da unidade > Companhia de Caçadores nº  3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74)

Identificação:  CCaç 3566
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua | Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento | Cap Mil Inf Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro
Divisa: "Os Metralhas"
Partida: Embarque em 23Mar72; desembarque em 23Mar72 | Regresso: Embarque em 18Jun74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27Mar72 a 22Abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24Mai72, para Empada, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3373.

Em 17Mai72, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3852. 

Em 22Jan73, por remodelação do dispositivo, o subsector passou à dependência do BCaç 4510/72. 

Em 03 e  21Abr73, dois pelotões foram deslocados para Catió, em reforço da guarnição
local, onde se mantiveram até 23Jan74.

Em 25Fev73, a sua zona de acções foi alargada às áreas da península da Pobreza e Cubisseco de Baixo, por reformulação do dispositivo, incrementando então a sua actividade ofensiva, com realce para uma acção imediata sobre Iangué, em 190ut73, com bons resultados.

Em 14Jun74, foi rendida no subsector de Empada pela CCaç 4944/73, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações -  Tem História da Unidade (Caixa n.º 116 - 2.ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 412.
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 19 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23896: E as nossas palmas vão para... (21): o Humberto Reis, que hoje faz anos e é um dos nossos grandes fotógrafos, para além de colaborador permanente e "cartógrafo-mor" do nosso blogue

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24259: Tabanca Grande (548): Inês Allen, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 875... Voltou a Empada, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do pai, Xico Allen, entregar ao clube de futebol local, "Os Metralhas", o emblema da divisa da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)


Inês Allen: de acordo com a informação da sua página do Facebook, (i) é natural do Porto; (ii) vive em Vila Nova de Gaia; (iii) tem uma licenciatura em Design do Produto na ESAD Matosinhos (1998-2004); (iv) atualmente é  Freelancer, Visual Merchandiser + Project Coordinator; (v) em fevereiro de 2023 viajou até à Guiné-Bissau para cumprir uma última vontade do pai. Foto: cortesia da sua página do Facebook.



Brasil > Cidade de Praia Grande > Estado de São Paulo > 2014 > Três "Metralhas": da esquerda para a direita, o António Chaves, o Joaquim Pinheiro da Silva (o "Brasuca") e o Xico Allen, de seu nome completo Francisco Jorge Allen Gomes Pereira (1950-2022).  O Joaquim e o Xico são membros da Tabanca Grande e eram grandes amigos.

Foto (e legenda): © Joaquim Pinheiro da Silva  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Viagem Porto -  Bissau > Abril de 2006 

O   organizador desta viagem por terra, em abril de 2006, foi o Xico Allen (ex-1.º cabo at inf, CCAÇ 3566, "Os Metralhas", Empada e Catió, 1972/74). Levou o jipe, que lá ficaria para futuras viagens. O grupo regressaria depois de avião. Os "aventureiros" foram, além do Xico, e da sua filha Inês, o Hugo Costa (filho do Albano Costa), e ainda o A. Marques Lopes, o Manuel Costa e o Armindo Pereira. 
 
O Xico Allen, nosso grã-tabanqueiro desde 2006 (entrou pela mão do Albano Costa), foi um dos primeiros de nós, antigos combatentes, a voltar à Guiné, depois da independência. E nos últimos anos chegou mesmo a lá viver. De acordo com as memórias da Zélia Neno, também nossa tabanqueira (e infelizmente doente), o casal Allen visitou a Guiné do pós-guerra, em abril de 1992 (eles os dois, mais um outro casal). Voltaram lá em 1994 (desta vez foram 3 casais) e conseguiram ir a Empada, onde o Xico tinha feito a sua comissão.

Uma terceira viagem foi em 1996 e uma quarta em 1998. Temos vários fotos dessa viagem, em que o Xico (e a Zélia) foram inclusive a Madina do Boé. Depois disso, o Xico passou a lá ir regularmente. Perdemos as contas que fez essa viagem,  por terra e por ar...

Por sua vez,o Albano Costa, pai do Hugo Costa e primo do Manuel Costa, tinha lá estado em novembro de 2000 (incluindo o Armindo Pereira, o Manuel Casimiro, o Manuel Costa e mais uma vez o Xico Allen). Foi a sua primeira e única vez. Fotógrafo profissional, fez uma excelente cobertura fotográfica dessa viagem, ele e o filho, Hugo Costa, percorrendo a Guiné de lés a lés, incluindo uma ida a Guidaje, onde ele fizera a sua comissão. (Foi 1.º cabo at inf, CCAÇ 4150, Guidaje, Bigene, Binta, 1973/74).

Fotos (e legenda): © Albano Costa / Hugo Costa  (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A Inès Allen com o "boneco"  
de "Os Metralhas",  exibido no
convívio anual do pessoal,
em Fátima, em 22/4/2023
1. A Inês Allen, filha do Xico Allen (1950-2022) aceitou, "com muito gosto",  o nosso convite para integrar a Tabanca Grande (*), preenchendo assim o vazio deixado pela morte do seu pai e dando continuidade aos seus desejos e sonhos para a Guiné, um deles era ajudar a terra, Empada, onde ele esteve, em comissão de serviço militar (há menos de dois anos foi criado o Futebol Clube de Empada "Os Metralhas", em homenagem aos antigos militares portugueses da CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74).

A Inês entra para a Tabanca Grande de pleno direito: é um lindo exemplo para outros filhos e netos de camaradas nossos que já nos deixaram ou não tem a mesma facilidade de comunicar connosco pelas redes sociais. E, como gostamos de dizer, os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são...

Passa a ser a nossa tabanqueira n.º 875 (**).  E esperamos que ela, por email ou no seu Facebook nos vá dando conta do andamento do seu projeto em Empada.


Muito rapidamente, diremos só que, em fevereiro passado, a Inês, acompanhada pelo  nosso camarada Silvério Lobo,  de Matosinhos,  voltou à Guiné-Bissau, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do Xico, que era entregar, em Empada, o distintivo da CCAÇ 3566, um "relíquia", feita em barro, que ele "redescobriu" em 2005: estava a fazer de degrau para acesso à escada de um edifício administrativo... 

O Xico trouxe-a para Portugal, com a intenção de a restaurar... A doença, e depois a morte, surpreendeu-o antes de ele poder concretizar o seu sonho de devolver, à origem, o símbolo de "Os Metralhas", quando ele soube da existência do clube de futebol local, que tinha o nome da divisa da sua companhia, a última deixar Empada antes da independência... 

"Os Metralhas" subiram, entretanto,  de divisão, da 3ª para a 2ª, mas, como não tem infraestruturas desportivas adequadas, para se manterem na 2ª divisão, a subida não foi homologada...

O emblema  de "Os Metralhas”, com cerca de 19 quilogramas, foi entregue em Empada num domingo,  dia 12 de fevereiro de 2023, depois de uma viagem de 12 horas entre Bissau e Empada.  A Inês teve uma receção emocionante e inesquecível.  A população local quer dar ao campo de futebol local o nome do Xico Allen. Contaremos essa história em próximo poste e publicaremos o "achado arqueológico" que o Xico encontrou em 2005 e que o Zé Teixeira fotografou.

(**) Último poste da série >  4 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24196: Tabanca Grande (547): Rogério Paupério, ex-1.º Cabo Escriturário, CCAV 3404 / BCAV 3854 (Cabuca, 1971/73). Natural de Valongo, vive atualmenmte em Vila Nova de Gaia; passa a ser o membro n.º 874 da Tabanca Grande.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24247: Facebook...ando (26): Homenagem ao Xico Allen (1950-2022): a filha Inês, em Fátima, no passado sábado, no convívio anual da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972-74)


A Inês Allen, filha do saudoso Xico Allen  (1950-2022) com um cartaz com o "boneco" dos "Metralhas", a CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74). Foto: Cortesia da página do Facebook da Inès Allen (2023).





O Francisco Allen, mais conhecido por Xico Allen (1950-2022), e também por Xico de Empada, ex-sold cond auto, da CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74), era um histórico da Tabanca Grande, para onde entrou, em princípios de 2006, pela mão do seu amigo e vizinho Albano Costa. Bancário reformado, vivia em Vila Nova de Gaia.
 

1. Poste do nosso camarada Antero Santos [ex-fur ml at inf MA, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18  (Empada e Aldeia Formosa, 1972/74), publicado ontem no Facebook da Tabanca Grande:

No sábado, dia 22, em Fátima, realizou-se mais um convívio da CCAÇ 3566, Os Metralhas de Empada".

Foi o primeiro convívio em que não esteve presente fisicamente o Xico Allen, o organizador de sempre destes convívios embora estivesse presente no espírito de todos os presentes.

Contámos ontem com a presença da filha do Xico Allen, a Inês, que nos deu conta de várias coisas e especialmente do projecto que já está em marcha para atribuir o nome do Xico Allen ao campo de futebol que o clube de futebol de Empada espera conseguir construir de forma a perpetuar a memória deste nosso camarada, o combatente que garantidamente visitou Empada depois do nosso regresso em 24 de Junho de 1974.

PALAVRAS DA INÊS ALLEN:

"Conheço-vos a 'todos' desde criança, mas hoje foi a primeira vez que estive fisicamente presente no vosso encontro anual.

"O Xico descobriu muitos onde ,'Judas perdeu as bota', visitou alguns no hospital e ia pôr flores à campa de tantos outros…

"Sem internet ou GPS comprometeu-se a dedicar horas e kms a encontrar os cerca de 150 Metralhas espalhados por Portugal e além fronteiras!

"Na estrada, por onde passava, fazia questão de telefonar… fosse para almoçar ou tomar um café!

"Hoje foi difícil…representá-lo foi uma grande responsabilidade, mas… a toda a família Metralhas de Empada - Guiné muito obrigada pelo vosso incrível carinho e apoio.

"O orgulho que me fizeram sentir do meu pai… não cabe no peito.

"Muito obrigada também pelas 375 'empadas' angariadas hoje, por amizade e pela compra de livros, para a concretização do  Csampo de Futebol Xico Allen”.


https://www.facebook.com/15492.../posts/10223198459100347/lp


2. Seleção de alguns comentários a este poste do Facebook:

(i) Manuel Galvão

(...) "Pois eu até fui um dos mais próximos companheiros do nosso querido Xico.  Por vezes tivemos diferenças na forma de viver,mas ele foi realmente um marco da companhia 'Os Metralhas'  do após-Guiné, aonde por meios diversos tentou procurar sempre este e aquele e a mim foi num belo
 de verão, em Agosto, no Gerês: eu pelo meu lado e ele com os seus,  ao passarmos uns pelos outros,uns metros após,ele gritou: 'Galvão, Galvão!'  e eu olhei para trás e deparei-me então com o Xico e os seus todos e eu claro logo o reconheci e então foi logo ali uma emoção de encontro uns oito anos após fim do serviço militar.

Depois, e como eu era emigrante,  continuei a minha vida  e fui o perdendo de novo de vista. Num belo ano de primavera,  ele foi a França ( a Paris, penso que em trabalho,  e lá de seguida ele me voltou a procurar de novo via telefone,aonde telefonou a todos Galvões da lista, até encontrar aquele que era eu e, claro, a partir daí ficámos muito ligados e apenas estávamos  desligados por razões da vida de cada um. Vivemos então muitas e belas coisas." (,,,)

(ii) Manuel Rocha

Eu não pertenço aos "Metralhas", mas permitam que, depois de ler o comovente texto anoto a minha admiração pela vossa amizade. Felicidades para vocês.

(...) Muito obrigado!!... É por estas e outras experiências, que sou adepto do lema.... "Que não sejam outros  a contar a nossa história. (...)

(iv) Manuel Mendes-Ponte

Excelente texto, gostei daquela citação, "conheço-os a todos", faz me lembrar o dia em que Spinola fazia o discurso de boas vindas às tropas chegadas da metrópole, aconteceu comigo em Dezembro 72 no Cumeré.

(v) Florinda Sousa

Conheço esta menina, Inês Allen,  desde que nasceu. Conheço o Xico desde 1974, depois do fim da sua comissão na Guiné , por intermédio da que mais tarde foi sua esposa e mãe de seus filhos a minha querida amiga Zélia Neno .

O Xico deixou os genes da aventura, do empreendedorismo e da vontade de conviver na sua querida filha Inês que tão bem tem dado continuidade aos seus desejos.

É com muita emoção que vou seguindo os seus objectivos - o ansiado Campo de Futebol.
Saudações para todos os seus "Amigos da Tropa".~

Na minha única mas emocionante viagem à Guiné, em 2009, foi o Chico o guia e impulsionador. Tive com ele convivências inesquecíveis. Louvo a filha por dar continuidade à obra solidária do pai.

(vii) Teixeira Jteix

Os 'Metralhas' não mereciam a fatalidade da perda do seu maior impulsionador, pós- "guerra", felizmente que tem na sua filha Inês a continuidade da sua obra. Parabéns!... Fazia parte do "Bando do Café Progresso" e acompanhou-nos sempre que possível. Descansa em paz amigo,  Xico!...


 
Justa homenagem, Inês. O Xico Allen, teu pai, continua connosco como grande amigo e camarada da Guiné!...Vou fazer um poste no blogue.

É uma "mulher de armas", a nossa Inês, que acompanhou o pai, Xico Allen e um grupo de antigos combatentes, numa das suas muitas idas à Guiné-Bissau, em 2006... Aqui em Jugudul, em Abril de 2006, na casa do empresário Manuel Simões (1941-2014). 

Olha, Inês, gostávamos que aceitasses o nosso convite para te sentares, aqui à sombra do nosso fraterno e simbólico poilão da Tabanca Grande, ajudando-nos a matar as saudades que sentimos pela falta do Xico Allen, um dos históricos do nosso blogue, tal como a tua mãe Zélia Neno

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Nota do editor:

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Guiné 61/74 - P23802: In Memoriam (461): Braima Baldé morreu, aos 78 anos, no passado dia 18, foi meu soldado em Cufar, na CCAÇ 1621 e um amigo para a vida(Hugo Moura Ferreira)

 

Tabanca da Linha > Algés > Restaurante Caravela De Ouro > 48º Convívio > 19 de maio de 2022 > O Braima Baldé (1944-2022) e o Hugo Moura Ferreira.


Foto (e legenda): © Manuel Resende (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


Lisboa > Chelas > Restaurante "Pelicano Dourado" > 1 de dezembro de 2007 > Almoço-convívio  de antigos combatentes da Guiné (de um lado e do outro).   O restaurante "Pelicano Dourado" era então propriedade de Joaquim Djassi  (imfelizmente já falecido em 19/12/2010)  ficava na Zona J de Chelas, em Lisboa. A cozinheira era a esposa do Djassi, a dona Leontina Pontes, natural de Catió.

Da esquerda para a direita: A. Marques Lopes, o António Pimentel, o Xico Allen (falecido esre ano), o Braima Baldé, o Hugo Moura Ferreira. A foto deve ter sido tirada pelo Joaquim Djassi com a máquina do Hugo Moura Ferreira..



Lisboa > Chelas > Restaurante "Pelicano Dourado" > 1 de dezembro de 2007 > Almoço-convívio de antigos combatentes.

Na foto, da esquerda para a direita: António Pimentel, Marques Lopes, Braima Baldé (de pé) e Joaquim Djassi. A foto deve ter sido tirada pelo Xico Allen. Inimigos de ontem, amigos de hoje: o fula Braima Baldé foi ferido em combate em Buba, foi soldado na CCAÇ 763, entretanto substituída pela CCAÇ 1621 onde esteve o Hugo Moura Ferreira... Por sua vez, o biafada Joaquim Djassi foi um guerrilheiro do PAIGC

Foto (e legenda): © Hugo Moura Ferreira  (2007). Todos os direitos reservados.  



Cascais > Carcavelos > Junqueiro > Hotel Riviera > Magnífica Tabanca da Linha > 32º almoço-convívio > 20 de julho de 2017 > Em primeiro plano, o Braima Baldé, seguido do Hugo Moura Ferreira e o Marcelino da Mata (1940-2021)... O Zé Manel Diniz (1948-2021), de pé, em segundo plano. Náo sabemos de quem é a foto. E
m princípio, deve ser atribuída ao Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil CCAÇ 1621, Cufar, CCAÇ 6, Bedanda, e 1º Rep/QG/CTIG, Bissau, 1966/68.


1. A triste notícia foi-nos dada pelo o nosso camarada Hugo Moura Ferreira, na sua página do Facebook,  em 18/112022, às 00:01:

Caros Amigos,

Estou triste! Faleceu hoje o meu Amigo, que também fazia parte deste "Magnífico Grupo de Pessoas". [Referência à Magnífica Tabanca da Linha]. O Baima Baldé, que faria 79 anos em Janeiro de 2023. Tenho conhecimento que faleceu em casa, sem sofrimento, na Paz de Deus.(*)

Foi meu soldado em 1966, em Cufar, na CCaç 1621 e mantivemos uma amizade profunda e longa que envolvia as respetivas Famílias.

Deixo-vos 3 fotos de confraternizações, acima reproduzidas

(i) Uma em Chelas, há uns anos, no restaurante "O Pelicano Dourado" (**), do Joaquim Djassi, que já partiu (***), onde alguns de nós fazíamos encontros, com receitas guineenses.

(ii) Outra de um dos nossos convívios em que ainda tínhamos entre nós o José Diniz e o Marcelino da Mata [Achamos que a foto é do 32º almoço-convívio da Tabanca da Linha, realizado em 20 de julho de 2017 no Hotel Riviera, Junqueiro, Carcavelos, Cascais.. O editor LG ];

(iii)  e mais uma do nosso 48º Convívio, no Restaurante Caravela d' Ouro, em Algés

Pode ser que se encontrem no Além e consigam fazer uns Convívios de vez em quando!

2. Comentário do editor LG:

Em nome de toda a Tabanca Grande, apresento os meus sentidos pêsames à família do Braima Baldé e aos seus camaradas e amigos mais íntimos, a começar pelo Hugo Moura Ferreira. 

Embora fosse membro da Tabanca da Linha, o Braima não pertencia formalmente à Tabanca Grande, como a generalidade dos nossos amigos e camaradas guineenses, que vivem na diáspora, e momeadamente em Portugal. 

Há barreiras a vencer, a começar pela tão falada "infoexclusão"...Há barreiras económicas, técnicas, sociais, culturais, linguísticas, que os impedem de participar das nossas iniciativas, dos convívios ao blogue... 

Sabem lidar com o telemóvel, mas têm mais dificuldade em chegar ao nosso blogue. Se calhar, devíamos fazer muito mais por eles...que nem sequer sabemos por onde andam, onde vivem, o que fazem, como vão sobrevivendo. 

Têm  que ser os seus amigos, e antigos camaradas dearmas, como o Hugo Moura Ferreira, a dar-nos notícias deles... Infeliuzmente, esta é muito triste. A da última despedida do Braima Baldé. Fica, em todo o caso, registada no blogue dos amigos e camaradas da Guiné.

Há 3 referências, no nosso blogue, a um outro Braima Baldé, que foi alf mil 'comando', na 1ª CCmds Africanos e depois na CCAÇ 21,  citado pelo Amadu Djaló (aqui n blogue, em depoimento recolhido pelo Virgínio Briote).

O Braima Baldé (1944-2022) será referenciado no nosso blogue como Braima Baldé (II) (descritor). Mas como não teve qualquer interaçao directa connosco,  não tomamos a liberdade de o integrar na Tabanca Grande, a título póstuo, como temos feito nalguns casos. A menos que o Hugo MouraFerreira tenha fotos e histórias do Braima como combatente,  que queira e possa partilhar connosco. De qualquer modo, o Braima não fica na vala comum do esquecimento. 

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quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23721: In Memoriam (458): O nosso Xico Allen (1950-2022) será cremado amanhã, dia 20, depois das cerimónias fúnebres na igreja de Lordelo do Ouro, Porto, às 14h30... Lembrando aqui os versinhos que ele fez em Empada quando era "Metralha" da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)


Xico Allen (1950-2022) (*): Cerimónias fúnebres amanhã,  quinta feira, dia 20, na igreja de Lordelo do Ouro, Porto.  Informação da agência funerária. 


Francisco Allen Pereira (para nós será sempre o Xico Allen), numa das suas últimas viagens à Guiné-Bissau.  Aqui, em Agadir, Marrocos, 19/09/2017.  Foto da sua página do Facebook.


Guarda >27 de abril de 2019 >  Convívio de "Os Metralhas" (CCAÇ 3566, Empada e Catió, 1972/74) 
> "Alguns dos oficiais que prestaram serviço na Companhia dos Metralhas, com o Xico Allen, na ponta esquerda, que foi sempre o maior dinamizador destes convívios". Foto e legenda do médico Henrique Pinheiro Machado. Fonte: Página do Facebook do Francisco Allen Pereira.
 

1. Quando, em abril de 2006, o Xico Allen  (1950-2022) (*) voltou à Guiné, de jipe, e revisitou Empada, pela enésima vez (a primeira fora no ano já distante de 1992),  mas desta vez com a sua filha Inês e o Marques Lopes,  ele que era um homem de ação, pouco ou nada dado às escritas, mostrou uma outra faceta que, se calhar, nem a filha conhecia de todo, a de poeta popular, nortenho, tripeiro, ao rapar de uma folha de papel onde tinha rabiscado uns  versinhos, umas quadras de pé quebrado,  no seu tempo de Metralha, em Empada ... 

Nessa altura, em 2006, divulgámos, no nosso blogue, esses versos, sem qualquer retoque. E considerámo-los como mais uma pequena amostra do nosso Cancioneiro da Guiné (**), neste caso dedicado a Empada (***). 

Voltamos a reproduzi-los (com pequenos retoques nossos), como uma singela homenagem a este camarada e amigo  que, a partir de hoje,  se vai juntar aos amigos e camaradas da Guiné, membros ds Tabanca Grande, "que da lei da morte já se foram libertando"... Com ele, são já 125, o que não deixa de ser arrepiante: qual de nós será o próximo da lista?

 
Cancioneiro de Empada

por Xico Allen (1950-2022)
  
I
Antes d'chegar à Guiné,
Recebi uma medalha,
Hoje ainda a conservo
Com o nome de... Metralha (****)

II
Viajei de avião,
Rumo à cidade de Bissau,
Às primeiras impressões
Não me p'receu muito mau.

III
E depois de lá chegar
Segui para o Cumeré,
Fui conhecer o mato
Para saber como é.

IV
Quinze dias durou o estágio
P’rá condução na picada,
E depois fui obrigado
A juntar-me à macacada.

V
Quando cheguei a Bolama,
Muita fome lá passei,
De fome julguei morrer
Mas desta 'inda escapei.

VI
Bolama ficou p'ra trás
E rumei para Empada,
Lá iria ser melhor
Era o que tudo pensava.

VII
Empada estava à vista,
Qu'era o nosso destino
Andei pela mão dos grandes
Como se fosse um menino.

VIII
D'noite cheguei a Empada,
Estava tudo iluminado,
De manhã fui passear,
Fiquei decepcionado.

IX
Comecei a c'mer melhor
Depois que aqui cheguei,
Mas foi à minha custa
Pois cá me desenrasquei,

X
Houve cabritos e cabras,
Mortos a tiro e paulada,
Que, p'ra matar a malvada
Até nem custava nada.

XI
Neste rol de matanças
Também há porcos, leitões,
O que para nós mais tarde
São grandes recordações.

XII
Nos dias de avioneta,
Anda tudo em reboliço
Não só esperamos correio
Como presunto e chouriço.

XIII
Agora que somos velhos,
Esperamos rendição
Porque estamos quase, quase,
No fim desta 
 comissão.

XIV
E o tempo vai passando
Com muita dificuldade,
E eu vivo ansiando
Voltar à minha cidade

XV
Mas nas noites de Inverno,
Mil amarguras passei,
E nas horas de reforço
Muita chuva apanhei.

XVI
Trovoada e relâmpagos
Iluminavam com'o dia
Não desejo que tu passes
Aquilo que eu não queria.


Xico Allen

(Revisão / fixação de texto / título: LG)


s/l > s/d  > Da esquerda para a direita: Abel Moreira Santos, Francisco Allen Pereira, José Casimiro Carvalho e  José Vilas Ribeiro. Foto de J. Casimiro Carvalho, régulo da Tabanca da Maia, que comentou, na página do Facebook do Xico Allen, ontem, dia 18: "Partiste. O Régulo-Mor estará à tua espera. Foste sempre um bom camarada. Estiveste à espera em 2010 na Guiné, do Avião, para nos acompanhar e ajudar, foste sempre um Grande Homem e um "Homem Grande".  Adeus, Xico". https://www.facebook.com/fapereira1.  

Por sua vez, o Abel Moreira Santos comentou: "Estamos a ficar cada vez menos, desta foto de quatro só restam dois, o último que partiu que descanse em paz, até já camarada e amigo".
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Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores > 


19 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23720: In Memoriam (457): Xico Allen (1950-2022), ex-Soldado Condutor Auto, CCAÇ 3566, "Os Metralhas" (Empada e Catió, 1972/74): A minha homenagem ao amigo Xico Allen, como sempre o tratei (Albano Costa)

(***) Vd. poste de 9 Vd. poste  1 de junho de  2006 > Guiné 63/74 - P829: Cancioneiro de Empada (Xico Allen)

(****) Ficha da undade: Companhia de Caçadores n.º 3566

Identificação: CCaç 3566
Unidade Mob: BC 10 - Chaves
Cmdt: Cap Mil Inf João Nuno Rocheta Guerreiro Rua | Cap Inf Herberto Amaro Vieira Nascimento | Cap Mil Inf Pedro Manuel Vilaça Ferreira de Castro
Divisa: "Os Metralhas"
Partida: Embarque (nos TAM) em 23mar72; desembarque em 23mar72 | Regresso: Embarque em 18jun74

Síntese da Actividade Operacional

Após realização da IAO, de 27mar72 a 22abr72, no CIM, em Bolama, seguiu em 24mai72, para Empada, a fim de efectuar o treino operacional e a sobreposição com a CCaç 3373.

Em 17mai72, assumiu a responsabilidade do subsector de Empada, ficando integrada no dispositivo e manobra do BCaç 3852. 

Em 22jan73, por remodelação do dispositivo, o subsector passou à dependência do BCaç 4510/72. 

Em 3 e 21abr73, dois pelotões foram deslocados para Catió, em reforço da guarnição
local, onde se mantiveram até 23jan74.

Em 25fev73, a sua zona de acções foi alargada às áreas da península da Pobreza e Cubisseco de Baixo, por reformulação do dispositivo, incrementando então a sua actividade ofensiva, com realce para uma acção imediata sobre Iangué, em 19out73, com bons resultados.

Em 14jun74, foi rendida no subsector de Empada pela CCaç 4944/73, recolhendo seguidamente a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n." 116 - 2ª Div/4ª  Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 412