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quarta-feira, 24 de junho de 2009

Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para mundo

Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CCAÇ 2479 (1968/69) > Centro de Instrução Militar > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece...

A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas, a norte: Ginani (17 km), Talicó (22 km), Canhamina (27 km), Fajonquito (30 km), Saré Bacar (39 km), Farim (96 km)...


Foto: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados.




1. Publicação da segunda de cinco pequenas histórias que o Cherno Baldé, novo membro da nossa Tabanca Grande, nos enviou, com memórias da sua infância e adolescência (*):


CAMBAJU: O primeiro contacto com o mundo exterior

por Cherno Baldé


Em Cambajú, pequeno centro comercial, começou o despertar da minha infância, altura em que, saído da pequeníssima aldeia de Sintchã Samagaya, fundada por meus pais, aterrei-me numa aldeia de muito maior concentração de moranças e de gente.

Cambaju estava situada mesmo na linha da fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e o contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras.

O meu pai era encarregado de uma das casas de comércio, e aquele movimento a que não estava habituado, fascinava-me e me prendia a atenção ao lado do meu pai ocupado a atender as pessoas que vinham comprar mercadoria diversa. Ele nunca tinha tempo para mim e as minhas inúmeras perguntas.

Junto ao balcão, havia um velho aparelho de rádio que ora passava músicas do Mali em língua Bambara ora transmitia discursos intermináveis em Surua (Olof). Eu não gostava nem de uma nem de outra, todavia queria saber como é que aquelas pessoas tinham conseguido entrar lá dentro daquela caixa pequena e ficar por lá durante todos esses dias a falar e a cantar sem precisar de água ou comida, era a questão que me intrigava.

Todavia o meu pai não respondia às minhas questões ou porque não tinha tempo a perder comigo ou porque também tinha lá as suas dúvidas não esclarecidas, normais, na altura, para um aldeão iletrado como ele, mesmo trabalhando para gente da cidade. Quando não negociava com os comerciantes ambulantes que traficavam para o Senegal, atendia as mulheres que pediam conselhos sobre a escolha de tecidos para as próximas festas, no meio de risos e galanteios banais.

Ele tinha um jeito especial de atender as mulheres e via-se mesmo que o fazia com muito prazer. As mulheres, também, ao que parece, não eram indiferentes à simpatia do meu pai que todos consideravam um homem bem parecido. Ele raras vezes ficava irritado o que só acontecia quando alguém, de forma inesperada, mudava a sintonia do rádio e sobretudo se calhava que fosse a rádio da Guiné-Conakri onde de repente explodia a voz imponente de Sékou Turé.

Não era segredo para ninguém que as autoridades coloniais portuguesas não apreciavam aqueles que ouviam esta rádio e o meu pai, certamente, fazia parte das pessoas de bom senso. Ele tinha consciência clara da importância da formação escolar, numa altura em que o analfabetismo e o obscurantismo eram dominantes e se fazia sentir a entrada em força da religião islâmica na sua forma mais primitiva e intolerante importada por homens semi-letrados de Futa Toro e Futa Djalon.

Uma vez, ouvi-o lamentar, numa conversa com a minha mãe, a sua condição de analfabeto, pois este facto aprofundava a sua dependência e impotência 'vis a vis' dos seus patrões que vinham executar balanços regulares e que, não raras vezes, elogiavam seu desempenho financeiro, sem qualquer contrapartida, certamente, devido aos enormes lucros acumulados, numa zona de fronteira aberta ao tráfico e contrabando de mercadorias e de câmbio de divisas dos dois lados.

Esta constatação não será alheia ao facto de o nosso pai, insistir mais tarde, apesar da adversidade do ambiente reinante, na nossa educação escolar, já em Fajonquito, para onde o meu pai foi transferido, precisamente para trabalhar numa loja ainda mais importante, em jeito de prenda pela sua dedicação, mas também porque o acesso à localidade de Cambaju estava cada vez mais perigosa devido aos ataques e minas colocadas pelos guerrilheiros na estrada que ligava Fajonquito a Cambajú.

Cherno Abdulai Baldé, Chico
Natural de Fajonquito,
Sector de Contuboel, Região de Bafatá

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4264: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (4): Inauguração em Setembro do Museu Memória de Guiledje


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 15 de Março de 2009 > "Estudando o estado de saúde das crianças " [Foto tirada em 15 de Janeiro de 2009].


"A Drª Vera Bernardino procede, na Escola de Gã Mela, em Cantanhez, à avaliação de parâmetros antropométricos das crianças que a frequentam, com o objectivo de elaborar um programa de prevenção para toda a população desta zona, com base na intervenção que as escolas locais devem passar a fazer.

"Conjuntamente com a Drª Maria Miguel Almiro, estas médicas integram um excelente grupo de trabalho do Centro de Investigação em Saúde Comunitária, [do
Departamento Universitário de Saúde Pública, Faculdade de Ciências Médicas, ] da Universidade Nova de Lisboa que vem trabalhando regularmente nesta zona do país, com o objectivo de encontrar respostas locais às deficiências encontradas para o baixo nível de hemoglobina, os parasitas internos e externos, a suplementação com multivitaminas, ferro e ácido fólico dos alunos, bem como elaborar um programa de formação de professores na área da saúde.

"Pela primeira vez na Guiné-Bissau, as Drªs Bernardino e Almiro elaboraram com os técnicos da Televisão Comunitária Massar, programas sobre cuidados de saúde primários, higiene e nutrição, perfeitamente adaptados às condições e recursos locais. Cinco Estrelas!"


Foto e legenda: © AD - Acção para o Desenvolvimento (2009). Direitos reservados


1. Há dias perguntei por notícias aos nossos amigos da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, ONG com a qual temos uma relação de colaboração e de amizade (*)... Eis a resposta do seu director executuvo, o Eng Agr Carlos Schwarz (Pepito, para os amigos):

Luís: Há trabalho que nunca mais acaba. Em meados de Julho provavelmente estarei aí. Na próxima semana começa a cobertura do museu de Guiledje e na outra o mosaicamento.

abraços para ti, Alice, João e Joana

pepito


2. Esta ONG está na Internet desde Outubro de 2004. Nos dois primeiros anos, o sítio da AD recebeu mais de 8.000 visitantes de países tão diversos como Portugal, Estados Unidos da América, Brasil, França, Espanha, Bélgica, Senegal, Itália, Áustria e Holanda (para além da própria Guiné-Bissau): "Tivémos visitantes de todos os continentes, essencialmente da Europa (74%), América (16%) e África (5%)"...

Em Outubro de 2006, a AD desenvolveu três sítios distintos, contando como sempre com o apoio competente e entusiástico do Prof Filipe Santos, da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria:

i) um portal próprio sobre a Guiné-Bissau, dando a conhecer os aspectos mais importantes deste país lusófoNO (aspectos históricos, culturais e geográficos);

(ii) um portal para a Rede Nacional das Rádios Comunitárias da Guiné-Bissau (RENARC)

(iii) e um portal para a Escola de Artes e Ofícios (EAO), que também pertence a esta ONG.




No sítio da AD - Acção para o Desenvolmento está já disponível o seu relatório de actividades do ano de 2008, onde são feitas elogiosas referências ao nosso blogue e aos nossos camaradas que mais contribuiram para a divulgação e o sucesso do Simpósio Internacional de Guiledje (1-7 de Março de 2008), com destaque para Nuno Rubim, Abílio Delgado, Zé Carioca e Diamantino Figueira, além do Luís Graça e do Eduardo Costa Dias.

Da análise das actividades planeadas e em curso no ano de 2009, destaque-se a construção e a inauguração (prevista para Setembro) do Museu de Guileje, uma iniciativa que tem, desde o início, o apoio do nosso blogue.

2009 - ACTIVIDADES PRINCIPAIS DA AD

1. A nível Global

1.1. Realização do Seminário de Vulgarização de 3 a 6 de Novembro, em
Iemberém.

1.2. Utilização das Televisões e Rádios comunitárias para a vulgarização de
temas agrícolas e de saúde, higiene e nutrição.

1..3. Desenvolvimento institucional de uma colaboração prática com ONG e organizações dos países vizinhos, em especial das zonas fronteiriças (Ziguinchor e Boké)

2. Programa de Apoio aos Agrupamentos do Norte

2.1. Elaboração de uma estratégia de desenvolvimento da Fruticultura com relevo especial para a Fileira Mango:

-Campanha de combate à mosca da fruta, através de técnicas adaptadas, formação de técnicos e fruticultores, disponibilização de produtos e material de tratamento e
utilização dos meios de comunicação comunitários (rádios e tv)
-realização de um trabalho de tipologia das explorações frutícolas, para melhor identificar as formas de acção para os diferentes níveis de fruticultores


2.2. Consolidação da Rede das Escolas EVA, especialmente nos domínios de:

-Intercâmbios entre escolas e com experiências de países vizinhos
-Formação de professores em ecopedagogia
-Edição de um Jornal da Rede
-Publicação do Repertório de todas as Escolas EVA [Escolas de Verificação Ambiental]
-Apoio à criação da Rede das EVA de Cantanhez


2.3.Repovoamento do Mangal da parte norte do Parque Nacional de Cacheu, estreitando a colaboração com as organizações vizinhas da Casamança

2.4. Início das emissões hertzianas da Televisão Comunitária TV Bagunda (8 de (Maio), do funcionamento do Mercado Comunitário de S.Domingos (Março) e do Laboratório de formação em instalações eléctricas do CENFOR (Setembro)

2.5. Continuação do programa de apoio sanitário animal e de formação de para-veterinários


3. Programa Integrado de Cubucaré

3.1. Consolidação do Programa de Ecoturismo:

-inauguração dos 3 bungalows de Faro Sadjuma (Maio)
-construção do restaurante de Iemberém com a inauguração em Novembro
-inicio da construção de bungalows em Canamine e Ilhéu de Melo
-conclusão dos estudos para a publicação dos Guias da Fauna e da Flora de Cantanhez:
-formação de agentes e trabalhadores do serviço de ecoturismo


3.2. Campanha de combate à mosca da fruta, dos mangueiros e citrinos nos mesmos moldes do PAN (técnicas adaptadas, formação, produtos de tratamento e informação através das rádios e tv

3.3. Conclusão da construção do Museu “Memória de Guiledje” (Junho) e sua inauguração (Setembro)

4. Bairro de Quelele

4.1. A Escola de Artes e Ofícios apostará fortemente nos cursos de Hoteleira e Turismo a iniciar em Fevereiro e em formações descentralizadas através da venda de serviços a outras organizações.

4.2. Programação atempada e organização de uma forte campanha de prevenção e combate à próxima epidemia de cólera da época das chuvas.

4.3. Conclusão da construção (Maio) e início do funcionamento (Julho) do Estúdio Áudio-Visual para a gravação de CD de música de jovens cantores das rádios comunitárias e de tipo tradicional, assim como para a produção de DVD musicais de grupos culturais e de teatro.

________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 15 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3895: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (3): Governo entrega antigo quartel de Guileje e o Pepito chega hoje a Lisboa

Vd. também os dois postes anteriores:

31 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3822: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (2): Segurança alimentar (o mangal que dá de comer...) e turismo de saudade

6 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3573: Notícias dos nossos amigos da AD - Bissau (1): Os elefantes voltam ao Cantanhez

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4123: Ser solidário (33): Ajudem na construção da Escola de Samba Culo (Carlos Silva)

1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2584/BCAÇ 2879, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 28 de Março de 2009, enviada ao Blogue e ao nosso camarada A. Marques Lopes, ex-Alf Mil da CART 1690, hoje Cor DFA Reformado:

Amigos
Luís, Virgínio e Carlos Vinhal
Aqui vai outro artigo sobre Samba Culo, há mais para seguir em lista de espera.

Marques Lopes,
Reli o teu episódio de Samba Culo sobre a morte da professora, mas não falas nos alunos (*).
Havia de facto alunos, tal como diz o Prof Calabus Arreta?

Com um abraço para todos vós
Carlos Silva


2. Resposta de A. Marques Lopes a Carlos Silva, em mensagem do mesmo dia

Amigo Carlos Silva

Foram, de facto, mortos vários guerrilheiros que resistiram de arma na mão,
como a professora. Se eram alunos não sei, não constatei. Mas admito que
fossem, dado que nessas escolas tanto estavam adultos como crianças. No
entanto, garanto-te que não foi morta nenhuma criança! Se as havia, tiveram
tempo de as afastar para reajir contra o nosso ataque. Há uma grande
diferença. Fizeste bem em denunciar a falsidade, pois se corre que eram
crianças é mentira.

Abraço
A. Marques Lopes


3. Guiné-Bissau

Samba Culo, 18-03-2009

Ser Solidário – Ajudem na construção da Escola de SAMBA CULO


No âmbito de mais uma visita de natureza humanitária à Guiné-Bissau para onde a nossa ONGD Ajuda-Amiga Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento enviou um contentor de bens para distribuir pela população guineense e por algumas instituições.

Feita a divisão dos donativos nas instalações do Banco da Cooperação, no dia seguinte, seguimos para o Sector de Farim com algumas caixas que nos foram distribuídas.

Dado que, não havia jangada para atravessar o rio Cacheu do K3 para Farim, tivemos de atravessar a mata do OIO, para chegar aos antigos aquartelamentos de Canjambari, Jumbembem, Cuntima e Farim tendo de percorrer uma picada quase virgem de 50 kms.

Este ano não partimos de Mansabá>Simbor, pois este percurso fizemos no regresso no dia seguinte.

Partimos, então, pela picada que segue de Saliquinhedim-K3 para Biribão; Ionfarim; Câ Samina; Tambico; Samba Culo até Canjambari.

Em Samba Culo, tabanca já conhecida dos Bloguistas, face aos comoventes artigos do nosso camarada A Marques Lopes publicados no Blogue, devido à situação com que se defrontou numa operação ali realizada, quando se fica num dilema “ ou se mata, ou morre-se”, fizemos a alegria dos alunos e do professor Calabus Arreta, apenas com 2 gramáticas, uns cadernos e uma pasta, na medida em que, não possuímos muito material para distribuir, embora ficasse a promessa de talvez se conseguir alguma ajuda no futuro.

Além da troca de impressões sobre as necessidades da escola e dos alunos, pois falta tudo, aliás, como em todas as escolas do interior profundo, o professor informou-nos que iriam construir uma escola com adobes de terra, cimento e telhado de zinco com a ajuda do Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual, em conversa posterior, porque pernoitámos na Missão, me confirmou que efectivamente vai ajudar na construção da escola.

Aliás, já na altura havia a visita de Pastoral, pois A Marques Lopes diz: - Trouxemos também (imaginem!) uns paramentos completos de um padre católico!

Como não podia deixar fantasmas para trás, durante o nosso curto convívio, chamei à colação o “caso da morte da professora” naquele acampamento de casas de mato dos guerrilheiros existente algures naquele local desterrado durante a guerra colonial.

Perguntei, então, ao jovem Prof Calabus Arreta, se tinha conhecimento de tal caso, o qual me respondeu de imediato que efectivamente sabia do triste episódio, que tem sido transmitido às sucessivas gerações, pois tinha sido naquela aldeia que os “tugas” mataram uma professora e os alunos da escola, sendo esta a versão que corre desde há 40 anos.

Tive então, a oportunidade de lhe explicar que de facto mataram a professora, numa situação extrema, isto é, quando se está perante o dilema “ ou se mata, ou morre-se” e foi isso que tinha acontecido, porquanto, a malograda professora tinha agarrado na “Klas” para disparar contra o nosso camarada e que era falso no que se refere à morte dos alunos, pelo que, deveria passar a mensagem de tamanha falsidade e de tal “mito”.

Seguem algumas fotos do nosso fraterno convívio.

Tabanca de Samba Culo

Escola de Samba Culo com o nosso camarada A Seik DFA

WC da Escola ao ar livre

Da dta p/ esqª: A Seik – DFA; Carlos Silva; Prof Calabus e Zé Pereira – DFA CArtª 3360 Cuntima

Prof Calabus Ferreta, e o seu meio de transporte, bicicleta, espelhando a sua alegria apenas com uma gramática

Um livro de ensino na bagagem do Prof Calabus Ferreta

Os cumprimentos da Amizade, uma gramática, uns cadernos e uma pasta

Aspecto da escola

Neste âmbito, recordo ainda, que ano passado, quando um grupo de camaradas durante o Simpósio de Guileje foi recebido em audiência pelo falecido Presidente Nino Vieira, este pediu-nos para transmitir aos nossos governantes para que auxiliassem a Guiné na educação, enviando livros e professores.

Acresce sugerir que quem estiver interessado em ajudar pecuniariamente na construção da escola, pois é necessário comprar o cimento e as chapas de zinco no Senegal e transportá-las para a respectiva tabanca, o que não é fácil, poderá depositar o montante na conta com o NIB 0036 0133 9910 0025 1382 6, da Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento, indicando que o depósito tem por objecto essa finalidade, que por sua vez será remetida através de uma instituição parabancária, para o Padre Carlo Andolfi da Missão Católica de Farim, o qual poderá levantar na hora o mencionado donativo.

Site da Ajuda Amiga: http://ajudaamiga.com.sapo.pt/index.html

Massamá, 27-03-2009
Carlos Silva
__________

Notas de CV

(*) Vd. poste de 29 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXX: A professora de Samba Culo (A. Marques Lopes)

domingo, 15 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

1. O Manuel Maia, em Cafal Balanta, no Cantanhez, em princípios de 1973 (à esquerda) (*)... Num raide, feito essa altura a uma aldeia controlada pelo PAIGC, ele trouxe cartas e uma manual escolar (à direita)...

A poesia que hoje dele publicamos não tem, aparentemente, qualquer relação com a Guiné, o Cantanhez, a guerra. Mas na guerra que fizémos, na Guiné do nosso tempo, também havia meninos, de um lado e de outro, e muitos deles conheceram a guerra e os seus horrores.

Também andámos na escola, em finais dos anos cinquenta... E todos temos, dessa época, boas e más recordações: o bibe, a ardósia, o pião, as caricas, a fisga, os berlindes, a menina dos cinco olhinhos, Deus, Pátria e a Família, as poesias do Afonso Lopes Vieira, o Cavaleiro Andante, as histórias aos quadradinhos, as primeiras emissões da RTP, o leite em pó e o queijo da Caritas Americana, as primeiras vacinas em massa...

Em 1961 começava a guerra em África... Muitos vivemos a adolescência com maus pressentimentos: começávamos a ver os nossos irmãos e vizinhos, mais velhos a seguir para África: Angola, depois Guiné, depois Moçambique... E antes de isso, a Índia... A guerra aí estava, muito longe e muito perto... Insidiosa... Será que tivemos tempo para brincar, para jogar ao pião, para lutar aos índíos e cobóis, em suma, para sermos meninos ? (LG)

Fotos e poema: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados


MENINICE (**)
por Manuel Maia

Vivência era de Outono,
o calendário o dizia,
mas... o sol raiava
como se fôra Verão...
Na cama deixara o sono,
na pressa de ver o dia
sorriso aberto espelhava
enorme satisfação...

Às costas, pasta coçada
dum castanho cabedal,
levava o conhecimento
que lhe faltava aprender.
Trazia a alça rasgada,
vergada ao peso brutal,
e o couro, com puimento,
carecia de coser...

Derreado logo a pousa
e...parte a lousa
onde devia escrever.
E agora, vão-lhe bater?

Tantos anos já lá vão
(mais de cinquenta passaram...)
recordo com emoção
as imagens que ficaram.
Primeiro dia de escola
calça curta, camisola...
os bolsos com dois piões
co´a faniqueira enrolada,
e um saquinho de botões,
dúzia e meia, bem contada...
Junto aos livros, a merenda
era um pão com goiabada.
Do Brasil viera a prenda,
goiaba já enlatada...
Éramos trinta talvez,
ou será que um quarteirão?
Da minha rua só três
eu, o Manel e o João...

Há anos, sem ter certeza,
sentei-os à mesma mesa
quase todos ... e falaram...
o pedreiro e o lavrador
o engenheiro e o doutor,
estou certo todos gostaram...



__________

Notas de L. G.:

(*) Vd. postes de:

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72, o Camões do Cantanhez

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

9 de Março de 2009> Guiné 63/74 - P4004: Memória dos lugares (18): Cafine, no Cantanhez, ocupada pela 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610 (Manuel Maia)


(**) Vd. último poste esta série > 9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3928: PAIGC: O Nosso Livro da 1ª Classe (Manuel Maia, 2ª CCAÇ / BCAÇ 4610, Cafal Balanta / Cafine, 1972/74)




Imagens do Livro da 1ª Classe do PAIGC... Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).

Fotos: ©
Manuel Maia (2009). Direitos reservados

1. Mensagens enviadas por Manuel Maia, ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine (1972/74) (*):

Aqui vai uma imagem que carece de comentários, referente à forma de ensino ministrada às crianças das "regiões libertadas"... Trata-se do livro da 1ª classe do PAIGC, feito pelos nossos "amigos" suecos (**). Foram feitos 20.000 exemplares numa primeira edição.

Foi recolhido durante uma operação no Cantanhez (para lá da bolanha...). Neste mesmo dia apanhei ainda duas cartas, uma escrita em árabe e outra em crioulo que reproduzirei noutra altura.

Um abraço.

Manuel Maia

__________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes de:

20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3915: Cancioneiro do Cantanhez (1): De Cafal Balanta a Cafine, Cobumba, Chugué, Dugal, Fatim... (Manuel Maia)

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3890: Tabanca Grande (119): Apresentação de Manuel Maia ex-Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

13 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3886: Tabanca Grande (118): Manuel Maia, ex-Fur Mil, o poeta épico da 2ª Companhia do BCAÇ 4610/72, o Camões do Cantanhez

(**) Já aqui publicámos textos e imagens de outro livro escolar, do PAIGC, de uma edição de 1966, anterior a esta, referida pelo Manuel Maia, que presumimos seja de 1970, a exemplo do Livro da 2ª classe.

Recorde-se que o livro da 2ª classe foi "elaborado e editado pelos Serviços de Instrução do PAIGC - Regiões Libertadas da Guiné" (sic). Tem o seguinte copyright: 1970 PAIGC - Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde. Sede: Bissau (sic)... A primeira edição teve uma tiragem de 25 mil exemplares. Foi impresso em Upsala, Suécia, em 1970, por Tofters/Wretmans Boktryckeri AB.

Vd. postes de:

27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1899: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (1): O português...na luta de libertação

1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

4 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1920: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (3): O mítico Morés

9 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1938: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (A. Marques Lopes / António Pimentel) (4): Catunco

Vd também postes relativos ao livro da 2ª classe, também uma edição sueca, e obedecendo à mesma linha estética do livro da 1ª classe:

27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

31 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2232: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (2): O Morés e os amigos da Europa do Norte (Luís Graça / Paulo Santiago)

16 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3062: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (3): O Dia da Mulher (Luís Graça / Paulo Santiago)

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3889: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (5): Jubi, ala poren, iauliredu... / Miúdo, avião, tem medo...



1. Continuação da publicação do Dicionário Fula/Português, organizado pelo nosso camarada Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922 (Piche, 1970/72).


V (e última) parte da lista de vocábulos em idioma fula (e respectiva tradução em português) (*), recolhidos em resultado de conversas com o seu amigo Cherno Al Hadj Mamangari, que vivia
em Cambor, a nordeste de Piche. Como já foi dito, o título Al Hadj é dado ao crente muçulmano, depois de regressar da sua peregrinação a Meca.

Obrigado, Luís Borrega, camarada e amigo! O teu esforço por tentar comprender o outro (neste caso, os fulas, que eram e são um dos principais grupos étnico-línguísticos da Guiné-Bissau) é, só por sim, um gesto de grande abertura de espírito, de recusa do etnocentrismo, e sobretudo de ternura. Bem hajas! Espero que a tua recolha (que não obviamente não tem a pretensão de ser um dicionário...) possa ser útil a muita gente, os nossos camaradas que voltam à Guiné em 'turismo de saudade', os nossos antigos camaradas fulas que vivem em Portugal, os seus filhos e netos, nascidos em Portugal (que estão em idade escolar, e que já não sabem ao idioma dos seus pais e avós)... Todos os idiomas do mundo fazem parte da riquíssima diversidade cutural da humanidade, diversidade que devemos conhecer, apreciar, manter e preversar... Por que só há uma terra, só há um raça humana... LG

___________

Nota de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores desta série:

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3785: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (1): Nafinda, nháluda, naquirda... Bom dia, boa tarde, boa noite...

24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3786: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (2): Gô, Didi, Tati, Nai, Joi.../ Um, Dois, Três, Quatro, Cinco...

26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3798: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (3): Jungo, neuréjungo, ondo... / Braço, mão, dedo, ...

1 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3827: Dicionário fula / português (Luís Borrega) (4): Nhamo, nano... / Direita, esquerda...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3418: Álbum fotográfico de Manuel Bastos Soares (1): Bambadinca, a festa da comunhão solene, Dona Violete e a malta da CCAV 678 (1965/66)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 5 > Abril de 1965 (?) > Festa da primeira comunhão > A menina branca, filha do chefe do posto de Xitole, ladeada pela Professora Primária Dona Violete (à esquerda, de óculos escuros) e a esposa de um dos comerciantes locais (à direita).




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 3 > Abril de 1965 (?) > Capela local > Um grupo de meninos e meninas (só uma das quais é branca, filha do chefe de posto do Xitole, a frequentar a escola primária em Bambadinca), no dia da comunhão solene, devidamente enquadrados por uma freira, católica, muito possivelmente missionária e estrangeira.
 

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > Foto nº 6 > 1965 > Festa de 1º. aniversário da CCAV 678, em Bambadinca. Na mesa dos oficiais e sargentos, o 1º de frente e da esquerda é o Fur Mil At Manuel Bastos Soares, autor destas fotografias, natural de Vila Nova de Gaia e residente na Maia.


Guiné > Zona Leste > Bambadinca > Foto nº 10 > Fevereiro de 1966 > Vista aérea de Bambadinca, tirada do lado do Rio Geba e da estrada Bafatá-Bambadinca, vendo-se em primeiro plano a tabanca, atravessada a meio pela estrada; e em segundo plano, a íngreme (e poeirenta, no tempo seco) rampa de acesso ao aquartelamento e aos edifícios administrativos da localidade (posto administrativo, correios, escola, capela...); em terceiro plano, a tabanca de Bambadincazinho (à esquerda da estrada) e do outro lado, a pista de aviação e o cemitério local; em quarto plano a bifurcação da estrada: para a esquerda, Xitole (não havia ainda Mansambo, só construído em 1968); para a direita, Xime. Ao fundo, do lado direito, talvez o Rio Udunduma, afluente do Rio Geba...


Guiné > Zona leste > Bambadinca > Foto n º 11 > Fevereiro de 1966 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, à esquerda, e do Geba Estreito, à direita; em segundo plano, o morro, onde se situava o quartel e outras instalações civis e administrativas. Estas duas fotos foram tiradas de um Cessna, dos TAG - Transportes Aéreos da Guiné, fretado pelo Cap da CCAV 678 para trazer víveres, de Bissau, para o pessoal.

Fotos (e legtendas): © Manuel Bastos Soares (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1.Mensagem de Beja Santos, de 4 de Novembro último:


Queridos amigos:

Aqui vão fotos históricas do nosso camarada Manuel Bastos [Soares]. Oxalá ele entre na nossa tabanca grande e nos preste relevantes serviços, como estas imagens abonam. Esta é mesmo a D. Violete, que eu conheci, mais amadurecida. Comoveu-me muito esta lembrança, transfiro-a já para o nosso blogue. 

Até breve, um abraço do Mário.


2. Mensagem de 31 de Outubro de 2008, enviada por Manuel Bastos [Soares] ao Beja Santos:


Assunto: FOTOS DE BAMBADINCA - D. VIOLETE

Caro Beja Santos :

Antes de mais as minhas cordiais saudações. Como é meu dever e obrigação, passo a apresentar-me: de nome, chamo-me Manuel Bastos Soares, sou natural de Santa Marinha, Vila Nova de Gaia (aqui nasceu o nome Portugal), fui militar na Guiné-Bissau de Julho de 1964 a Abril de 1966, e resido na cidade da Maia.

O motivo que me leva a escrever-lhe está relacionado com a sua prosa (dou-lhe os meus parabéns pela mesma), que fui lendo, desde que sou cliente, e assíduo, do
blogue do Luís Graça. 

Tal como eu, o Beja Santos também esteve em Bambadinca e nos seus escritos fala muito de determinada senhora, a D. Violete, com a qual tinha óptimo relacionamento, mas da qual nunca vimos nenhuma foto dela.

Na minha posse, tenho várias fotos, tiradas em Bambadinca no dia da comunhão solene em Abril de 1965 (?), e numa das quais está uma senhora, cujo nome se me varreu por completo da memória, e que na época era a professora da escola primária de Bambadinca.

Será esta senhora a D. Violete? Na hipótese de querer confirmar, se é ou não a dita senhora, terei imenso gosto em enviar-lhe, via e-mail, a foto digitalizada, assim como outras de Bambadinca.

Com os melhores cumprimentos:

Manuel Bastos


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > O nosso fotógrafo-mor, o ex-Fur Mil Op Esp Humberto Reis, da CCAÇ 12 (1969/71), tirou um slide com os memoriais das unidades que passaram por Bambadinca. Havia no nosso tempo vários memoriais, no meio da parada, junto ao pau da bandeira, frente à escola local (onde ensinava e vivia a misteriosa Dona Violete). 

Como a imagem original que possuímos em arquivo, tem uma boa resolução (2,5 Mb), procedemos à sua edição. Neste excerto, o Humberto tem à sua direita o memorial do Pel Mort 1192 (Bambadinca, Maio de 1967/ Março de 1969) e, se não me engano, o da CCAV 678 (que não vem na lista do Benjamim Durães). O Manuel Bastos  Soares também reconheceu, nesta foto, o brazão da sua companhia. Logo me confirmará se o meu raciocínio está certo. Sabemos, pela lista do Durães (**), que nessa altura também esteve em (ou passou por) Bambadinca a CCAV 1482 (Nov-65 Bambadinca Abr-66 Xime Jul-67 / Jan-67 Ingoré).



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Parada do aquartelamento, frente à escola primária > Memoriais de unidades que passaram por Bambadinca > Pormenor: um primeiro plano, ao centro, o momento evocativo da passagem do BCAÇ 1888, o primeiro batalhão com sede em Bambadinca (Mai-66 Fá Mandinga Nov-66 Bambadinca Jan-68), de acordo com a lista do nosso camarada Benjamim Durães (**). A CCAV 678 deve ter sido rendida pela CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Mai-66 Bambadinca Nov-66 Fá Mandinga Jan-68 Fev-67 Xitole).


Por detrás vê-se o monumento do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, Maio de 1968/ Março de 1970). E do lado esquerdo, o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), cuja CCS teve um morto, o Sold Cond Auto Manuel Guerreiro Jorge.

Fotos (e legendas): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legemdagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


3. Mensagem de 3 de Novembro de 2008, enviada ao Beja Santos pelo Manuel Bastos

Caro Amigo Beja Santos:

As minhas cordiais saudações.

Na posse do seu e-mail, cá estou a responder ao mesmo, e naturalmente também
à sua curiosidade e ansiedade. Entretanto vou contar-lhe rapidamente a história destas fotografias.

Corria o Ano da Graça de 1965, e calculo eu, por volta do mês de Abril, realizou-se em Bambadinca a comunhão solene dos meninos e meninas da comunidade católica local.
De entre as meninas do grupo, fazia parte a única menina branca que está em duas das
fotos que lhe envio.

E quem era essa menina? De nome varreu-se-me da memória, mas sei que era filha do chefe de posto do Xitole, e como não havia escola na localidade, o pai colocou-a em Bambadinca. Hospedou-a em casa de uns comerciantes brancos (creio eu, empregados da casa Gouveia), estando a esposa numa das fotos, com uma criança ao lado.

Como eu tinha bom relacionamento com o dito comerciante, pediu-me para tirar as respectivas fotografias da comunhão da menina. Num gesto de retribuição e simpatia convidou-me para o almoço da festa da comunhão. Naturalmente que aceitei e agradeci. Nesse mesmo almoço esteve presente a Professora da escola primária de Bambadinca, que é a senhora que está de óculos escuros na foto nº. 5, e que creio eu será a D.Violete.

Dada a explicação quanto ao motivo que me levou a ser repórter fotográfico, passemos ás fotos.

Já se apercebeu que além das fotografias da comunhão, em anexo tenho o prazer de lhe enviar algumas mais, de locais que lhe farão lembrar os seus tempos passados pelas terras quentes e vermelhas de Bambadinca. Como as fotos não têm legenda passo a descrever:

Foto 3: Meninos e meninas da Comunhão Solene, em Bambadinca com a Irmã freirinha.

Foto 5: A menina filha do chefe de posto do Xitole, com a Professora e esposa do comerciante.

Foto 6: Festa de 1º. aniversário da CCAV 678, em Bambadinca. Na mesa dos oficiais e sargentos sou o 1º de frente e da esquerda.

Fotos 10 e 11: Vistas aéreas de Bambadinca, quando regressava de férias [de Bissau] em Fevereiro de 1966.

Julgo que por agora ser tudo, não deixando contudo de lhe formular um convite: se por acaso viajar cá por estes lados, terei imenso prazer em recebê-lo em minha casa. Em anexo envio-lhe o meu cartão para melhor cá chegar.

Sem mais, um abraço do amigo ao dispor:

Manuel Bastos

P.S. Caro Beja Santos, vai-me desculpar, mas não consigo enviar-lhe as fotos todas juntas, pois os ficheiros são demasiado pesados, por esse motivo vão seguir em vários e-mails.

4. Comentário de L.G.:

Falei, há umas duas ou três horas, ao telefone, com o Manuel Bastos. A cumplicidade da Guiné e o conhecimento de Bambadinca vieram logo ao de cima. Passado 30 segundos, já estávamos a falar como velhos camaradas, e a tratarmo-nos como deve ser, entre camaradas da Guiné, ou seja, por tu...

Fiquei a saber que o novo membro da nossa Tabanca Grande (vai entregar as fotos da praxe e as notas biográficas), andou primeiro por Cacine e Cabedú, no Cantanhez, noutra unidade (cujo não nº não consegui fixar, mas penso que foi a CCAÇ 555, do Norberto Costa) (*), antes de vir para Bambadinca, para a CCAV 678.

Esteve na construção do destacamento da Ponta do Inglês, passou por Fá, pelo Xime e pelo Enxalé. "No meu tempo ainda não havia o cais do Xime, nem a estrada Bambadinca-Bafatá era alcatroada"... Teve mortos no Buruntoni e em Ponta Varela... Fez colunas logísticas ao Xitole, sempre com porrada... Nunca foi ao Saltinho.

As melhores memórias que guarda, são as de Bambadinca... "Ainda gostaria de lá voltar um dia", confessou-me ele ao telefone. Da próxima vez que eu for ao norte, estou convidado a procurá-lo. Mora na Maia, Gueifões, próximo de camaradas nossos como o Zé Teixeira, de São Mamede de Infesta. Incentivei-o a passar a frequentar a Tabanca de Matosinhos, às 4ªs feiras. Está reformado, há 3 anos, depois de 40 e muitos anos de trabalho. Era formador numa escola profissional (CENFIM).

Fiquei com uma bela impressão do camarada Manuel Bastos... Estivemos à conversa mais de meia hora. Disse-lhe que foi comovente para mim e para o Beja Santos revisitarmos Bambadinca, através das suas fotos, a nossa Bambadinca comum... Numa próxima oportunidade ele irá assinalar-nos as diferenças existentes em 1965/66 por comparação com as fotos de 1969/70, do Humberto Reis.

Desejei-lhe as boas vindas ao nosso blogue que ele, de resto, conhece e acompanha há mais de um ano, silenciosamente... (Sentindo-se mais disponível depois da reforma, há um ano escreveu a palavra Guiné no Google e foi dar com o nosso blogue, cuja leitura, frequente, já não dispensa).

Sobre a CCAV 678, tínhamos até agora poucas referências no nosso blogue. Por exemplo, encontrei informação, na lista do A. Marques Lopes, sobre dois mortos desta unidade, que ficaram sepultados na Guiné:

(i) José Augusto Silva Pereira, Soldado / CCav 678 /30.08.65 / HM241, Bissau / Ferimentos em combate / Xime / Vilar da Maçada, Alijó / Cemitério de Bissau, Campa 1953, Guiné.

(ii) Nuno da Costa Moreira, 1.º Cabo / CCav 678 / 10.11.65 / Galomaro / Acidente de viação / Pedorido, Castelo de Paiva / Cemitério de Bissau, Campa 2038, Guiné.

Mas fiquei com a ideia de o Manuel Bastos me ter dito que, no cemitério de Bambadinca, no seu tempo (1965/66), havia pelo menos um morto, branco, da sua unidade ou de outra unidade que passou por Bambadinca (CCAV 1482 ?), e cujo nome não constava da lista dos mortos sepultados na Guiné, organizada pelo A. Marques Lopes.

Pelas fotos que o Manuel Bastos nos manda percebe-se que houve posteriormente uma escalada da guerra que terá levado à saída das famílias portuguesas e ao aumento dos efectivos militares. No seu tempo ainda não havia nenhum batalhão sediado em Bambadinca. O primeiro terá sido o BCAÇ 1888 (1966/68).

_________

Notas de L.G.:

(*) Vd.postes de:






sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3173: Notícias da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra (1): Assembleia Geral Extraordinária, dia 7 de Setembro (Leonardo Pereira)

Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada , > Escola primária > 19 de Abril de 2006 > Meio dia > Uma imagem belíssima do jovem e talentoso fotógrafo Hugo Costa, membro da nossa Tabanca Grande, que revisitou a terra de eleição de seu pai, o Albano Costa, em Abril de 2006 (Já tinha lá estado em Novembro de 2000, com o seu pai e outros camaradas).

Legenda: "O melhor da Guiné-Bissau são as suas crianças, e em especial as que frequentam a escola; e é nelas que podemos depositar a esperança e a confiança no futuro... É também a pensar nelas que foi criada a Casa da Guiné-Bissau em Coimbra, associação que reune maioritariamente estudantes e quadros guineenses da diáspora"... (LG)

Foto: © Hugo Costa / Albano Costa (2006). Direitos reservados


1. Mensagem recebida da Casa da Guiné em Coimbra, através do Presidente da Assembleia Geral, Leonardo Pereira. O presidente desta associação (*) é um nosso amigo, o Doutor Julião Soares Sousa (**), historiador, que conhecemos na sua terra natal, por ocasião do Simpósio Internacional de Guileje (1-7 de Março de 2008), e a quem reiteramos o convite para se juntar à nossa Tabanca Grande:


Caros Associados,Amigos e Simpatizantes da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

Fazendo uso das suas competências estatutárias, a Presidência da Mesa de Assembleia vem por este meio comunicar a todos os supracitados que realizar-se-á no próximo dia 7 de Setembro de 2008 (Domingo) pelas 16 Horas, no Mini-Auditório da AAC [Associação Académica de Coimbra], uma assembleia-geral extraordinária, com a seguinte Ordem de Trabalhos :

1. Discussão e aprovação do valor das quotas e das jóias a propôr pela Direcção;
2. Apresentação de propostas de emendas e alteração nos Estatutos da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra;
3. Apresentação, discussão e aprovação do Plano Anual de Actividades;
4. Informações;
5. Diversos.

É importante a presença de TODOS no arranque final rumo ao futuro.

Com os melhores e respeitosos cumprimentos

Coimbra, 24 de Agosto de 2008

A Presidência da Assembleia Geral da CGC
Leonardo Pereira

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores sobre a Casa da Guiné-Bissau em Coimbra:

8 de Julho de 2008 >
Guiné 63/74 - P3033: Convite (6): Tomada de posse dos Orgãos Sociais da Casa da Guiné-Bissau em Coimbra

28 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3152: Exposição na Casa da Guiné de Coimbra (Julião Soares Sousa)


Recorde-se que a Casa da Guiné-Bissau em Coimbra (CGBC) é uma associação recentemente criada, sem fins lucrativos, religiosos ou partidários, e é constituída por todos os naturais da Guiné-Bissau e pessoas de outras nacionalidades que comungam dos objectivos definidos nos seus Estatutos.

São alguns dos seus objectivos:

(i) A realização de eventos sócio-culturais, tais como cursos de formação, conferências, palestras, seminários, simpósios, criação de áreas de pesquisas, de biblioteca e centro de documentação, intercâmbios culturais com outros países;

(ii) A realização de actividades recreativas e desportivas, apresentação de espectáculos e comemorações;

(iii) Defender e promover os direitos e interesses dos naturais da Guiné-Bissau e seus descendentes em tudo quanto respeite à sua valorização, de modo a permitir a sua plena integração e inserção;

(iv) Promover e estimular as capacidades próprias, culturais e sociais das comunidades dos naturais da Guiné-Bissau e seus descendentes.



(**) Vd. poste de 17 de Janeiro de 2008 >
Guiné 63/74 - P2447: Julião Soares Sousa, o primeiro guineense a doutorar-se pela Universidade de Coimbra (Carlos Marques Santos / Carlos Vinhal)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3170: PAIGC - Instrução, táctica e logística (14): Supintrep, nº 32, Junho de 1971: Educação (A. Marques Lopes)

Continuação da publicação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado na época como reservado (1), de que nos foi enviada uma cópia, através de mais um dúzia de mails, entre Setembro e Outubro de 2007, pelo nosso amigo e camarada A. Marques Lopes, Cor DFA, na situação de reforma. Faz parte da Tabanca de Matosinhos, a maior das tabancas da nossa Tabanca Grande...


1. Mensagem do A. Marques Lopes, de 4 de Outubro de 2007:

[Ao ver este programa escolar, lembrei-me dos anos em que estive sentado nas carteiras das Oficinas de S. José, em Campo de Ourique, durante a minha instrução primária, e não me pareceu muito diferente. Foi meu professor o Padre Serafim Gama, que, depois de muitos anos, encontrei em Bissau como capelão militar (2).

Os alunos do PAIGC tinham incluída a formação política, como se vê, o que é natural, dada a situação em que se ministrava a sua educação e dada a natureza da organização que a orientava. Também, nas Oficinas de S. José, ouvi o Padre Gama falar-me muito de Deus, de Jesus, de Nossa Senhora Auxiliadora, da Igreja, da Sociedade Salesiana, de S. João Bosco, de S. Domingos Sávio, e outros, do pecado... o que era natural igualmente, dada também a situação e a natureza da organização salesiana a que esse meu professor pertencia.

Claro que, quando nos encontrámos em Bissau, o teor da nossa conversa já não foi esse, tendo-se, ao invés, aproximado bastante de alguns aspectos da "Parte Política" deste programa que vos mostro ... - A. Marques Lopes]



PROGRAMA DAS ESCOLAS DO PAIGC


PRIMEIRAS LETRAS


Conhecimento do alfabeto. Leitura soletrada. Conhecimento dos algarismos. Contar até mil.

PRIMEIRA CLASSE

Leitura sem soletrar. Cópias. Tabuada de adição e subtracção. Adições e subtracções e prova dos nove destas operações.


SEGUNDA CLASSE

Ler livremente. Cópias. Prova real da adição. Prova real da subtracção por meio da adição. Tabuada da multiplicação e adição. Pequenas multiplicações e divisões com a prova dos nove. Numeração romana até cincoenta.

TERCEIRA CLASSE

Revisão da matéria dada.

Português

Leitura livre e correcta. Interpretação e comentário breve dos trechos lidos. Ditado. Redacção sobre temas da vida.

Aritmética

1 - Leitura de números inteiros.

2 – Números decimais: leitura de números decimais de duas maneiras. Operações com números decimais.

3 – Medidas de comprimento: o metro, múltiplos e submúltiplos.

4 – Medidas de superfície: o metro quadrado, múltiplos e submúltiplos.

5 – Medidas agrárias: are, hectare, miriare e centiare. Sua equivalência com as medidas de superfície.

6 – Medidas de volume: o metro cúbico, múltiplos e submúltiplos.

7 – Medidas capacidade: o litro, múltiplos e submúltiplos. Equivalência com as medidas de volume.

8 – Medidas de peso: grama, múltiplos e submúltiplos.

9 – Problemas simples aplicando as quatro operações e as medidas.

Geometria

1 - Noção do ponto. Noção da linha. Noção da linha recta. Linha curva e linha quebrada. Noção do ângulo. Divisão dos ângulos. Triângulos. Divisão dos triângulos. Quadriláteros. Polígonos. Circunferências.

Ciências naturais

1 - Os reinos da Natureza. Seres vivos ou animados e seres brutos ou inanimados. Divisão dos seres vivos em animais e plantas. Definição de Zoologia, Botânica e Mineralogia.

2 – Divisão dos animais em vertebrados e invertebrados. Divisão dos vertebrados em Mamíferos, Aves, Répteis, Batráquios e Peixes. Características destes grupos e exemplos.


Geografia

1 – A Terra e o Espaço. Divisão dos astros em estrelas, planetas e cometas. Noção de satélite. O Sol. A Lua.

2 – A esfericidade da Terra. Provas da esfericidade da Terra. Divisão da Terra em parte sólida e parte líquida. Os continentes e os oceanos.

3 – Noções de oceano, mar, lago, rio, continente, ilha, arquipélago, montnha, monte e serra.


QUARTA CLASSE

Português:

Leitura livre e correcta. Interpretação e comentários dos trechos lidos. Ditado.

Redacção sobre temas da vida e da luta.

Revisão da matéria da Gramática dada na 3.ª classe. Estudo da Morfologia e da Sintaxe.

Aritmética:

1 - Noções de fracção. Numerador e denominador. Fracções próprias e inpróprias. Número misto fraccionário. Transformação de número misto fraccionário em fracção imprópria e vice-versa. Adição e subtracção de fracções com o mesmo denominador. Multiplicação de fracções. Divisão de fracções. Adição e subtracção de racções com denominadores diferentes. Transformção em número decimal. Fracções decimais. Sinplificação de fracções.

2 – Multiplicação de um número decimal por 10, 100, 1000, etc. Divisão por 10, 100, 1000, etc. Multilicação por 0,1 – 0,001.

3 – Números complexos. Adição, subtracção, multiplicação e divisão de números complexos.

4 – Divisibilidade. Regras da divisibilidade: por 2, 3, 5 e 10.

5 – Problemas que utilizem as noções dadas.

Geometria:

1 – Sólidos: cubo, paralelipípedo, prisma, pirâmide, cilindro, cone e esfera.

2 – Área das figuras planas: paralelograma, losango, trapézio, polígonos regulares, círculo, coroa circular.

3 – Volume do cubo, do paralelipípedo e do prisma.

4 – Perímetro das figuras planas: do triângulo, quadrilátero, polígono, circunferência e semi-circunferência.

5 – Segmento circular, sector circular, zona circular, circunferências concêntricas e excêntricas.


Ciências Naturais:

1 – Revisão.

2 – Divisão dos invertebrados em insectos, aracnídeos, vermes ou anelídeos, moluscos e crustáceos. Características destes grupos e exemplos.

3 – O corpo humano. Partes do corpo humano.

4 – Esqueleto humano. Caveira. Crâneo e ossos da face. Divisão dos membros superiores em espádua ou ombrio, braço, antebraço e mão. Os ossos dos membros superiores. Divisão dos membros inferiores em anca, coxa, perna e pé. Os ossos dos membros inferiores. A coluna vertebral. As vértebras cervicais, dorsais, lombares, sagradas e coccígeas. As costelas (verdadeiras, falsas e futuantes). O externo.

5 – Aparelho digestivo. Tubo digestivo e órgãos anexos. Partes do tubo digestivo. As glândulas. A transformação dos alimentos ao longo do tubo digestivo.

6 – O aparelho respiratório. Partes constitutivas. Função do aparelho respiratório.

7 – O aparelho circulatório. Partes constitutivas. Divisão do coração. Vasos sanguíneos. O sangue. A grande circulação e a pequena circulação. Função do aparelho circulatório.

8 – O aparelho urinário. Partes cosntituintes. A urina. Função do aparelho urinário.

9 – O sistema nervoso. Centros nervosos e nervos. Divisão dos centros nervosos. Partes constituintes.

10 – Botânica – partes da planta. Distição entre plantas fanerogâmicas e criptogâmicas. Observação de exemplares de plantas.

Geografia:

1 – Revisão

2 – Geografia da Guiné: superfície, população, situação geográfica, clima, fauna e flora. Parte continental e parte insular. Rios: Geba, Cacheu, Corubal e Cacine. Relevo. Produção agrícola e florestal. Exportações e importações. Capital e centros comerciais. Principais portos.

3 – Geografia de Cabo Verde: superfície, população, situação geográfica, clima, fauna e flora. Di visão das ilhas em grupo Barlavento e Sotavento. Produção agrícola. Exportações e importações. Capital e centros comerciais. Principais portos.

PARTE POLÍTICA > SEGUNDA CLASSE

1 – Deveres das crianças para com os pais. O amor filial. Deveres das crianças para com a Pátria. O amor ao Povo. O patriotismo.

2 – Deveres das crianças para com os seus professores. Amizade e camaradagem entre as crianças da mesma escola, da mesma tabanca, da mesma terra; as crianças das nossas terras devem ser amigas de todas as crianças do Mundo.

3 – Necessidade que o nosso povo tem da contribuição que os nossos jovens podem dar à luta de libertação e à construção do progresso das nossas terras. Necessidade e os jovens se prepararem para amnhã contribuir melhor para a realização da felicidade do nosso Povo. O amor ao estudo. O amor ao trabalho e aos trabalhadores. A Juventude como garantia do futuro do nosso Povo.

4 – Exploração do nosso povo pelos colonialistas portugueses. A opressão, como se fazem a a exploração e a opressão. A exploração e a opressão não são do interesse do povo português. Distinção entre povo português e colonialismo português. [negrito meu - A. Marques Lopes]

5 – Condenação do colonialismo e dos crimes dos colonialistas portugueses por todos os povos do Mundo. O nosso Povo e os seus amigos. A ajuda dos outros povos à justa causa por que luta o nosso Povo. O direito do Nosso Povo à Liberdade e ao Progresso. O que é o Progresso.

6 – Necessidade de luta para a libertação das nossas terras, condição de construção de Progresso. Lugar dos jovens nessa luta.

7 – Necessidade de preparação do povo para a luta. Necessidade da mobilização. O que é a mobilização. Necessidade de organização e de direcção.

8 – O PAIGC, Partido do Povo da Guiné e de Cabo Verde. No Partido estão os melhores filhos do nossos Povo. Porque é o Partido a ESPERANÇA do Povo. O dever de defender o Partido. Os inimigos do Partido são inimigos do Povo. O dever de respeitar o Hino, a Bandeira, o Emblema e os dirigentes do Partido.

9 – O aluno e os combatentes da nossa luta de libertação nacional. A estima e o respeito que merecem os combatentes do Partido. As vítimas da nossa luta. As viúvas e os órfãos. Os mutilados. Motrar a importância que tem a ajuda que o aluno pode dar a uma vítima da luta. Glória e imortalidade dos nossos heróis.

10 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO:

a) - O Grupo, organização de base do Partido. Onde se formam grupos, o número mínimo de militantes para que se possa constituir um grupo. O que é a Assembleia de Grupo. Quantas vezes se reune por semana. O que se faz nas reuniões. O Secretariado do Grupo – quem o criou e para quê.

b) - Existência de milhares de grupos, com milhares de militantes, cobrindo as nossas terras. O amor do Povo ao partido é a sua força principal. A direcção do Partido: o Comité Central. O Congresso como reunião dos representantes legítimos do Povo. Os membros do Comité Central como os filhos mais dedicados do Povo e os melhores amigos da Juventude e das crianças. Quem é o Presidente do Comité Central do Partido. Quem é o Secretário Geral do Partido.

PARTE POLíTICA > TERCEIRA CLASSE

1 – Revisão.

2 – ORGANIZAÇÃO DOS PIONEIROS

a) - Necessidade de organização de todo o Povo. A organização das crianças: Pioneiros do Partido. Deveres dos Pioneiros para com a família, a Pátria, e o Partido. A camaradagem no seio da organização dos Pioneiros. Necessidade de as crianças da mesma escola ou da mesma tabanca se constituirem em grupo de Pioneiros.

b) - Idade máxima para um Pioneiro.

3 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO

a) Quem pode entrar para o Partido. O Juramento. Explicar o seu significado. Porque é que nesta fase se dispensa o pagamento das cotizações. As outras formas por que o povo tem contribuído.

b) A Secção – reunião de 5 grupos, sob a mesma direcção.

c) O Congresso como órgão máximo do Partido. Porquê. Quando se reune o Congresso.

4 – PROGRAMA DO PARTIDO:

a) - A felicidade do Povo como objectivo do Partido. A Liberdade como primeira condição da felicidade do Povo. A INDPENDÊNCIA.

b) A necessidade de defender permanentemente a Independênciadepois de conquistada.

c) - Necessidade de impedir que o poder seja tomado por indivíduos que vão exercê-lo no seu interesse, explorando o Povo. Inimigos internos. A Justiça e o Progresso para todos. Os inimigos internos na fase da luta. Os traidores e os oportunistas. O dever de vigilância dos militantes contra os inimigos internos. O direito do Povo de castigar os inimigos internos.

d) - A UNIDADE do Povo como condição da conquista da Independência, da defesa da Independência conquistada e da construção do Progresso. A importância da defesa da Unidade do Povo. Condenação do racismo e do tribalismo. Unidade do Povo na Guiné, unidade do Povo em Cabo Verde e a Unidade do Povo da Guiné e Cabo Verde.

e) - A administração colonialista é contra os interesses do Povo. Necessidade de liquidar a organização política e administrativa dos colonialistas. Necessidade de uma nova organização ao serviço do Povo.

f) - A Liberdade e Justiça para todos. Necessidade de o Povo ser efectivamente quem dirige, através dos melhores filhos do Povo (dos mais honestos, dos mais amigos do Povo dos mais capazes). Necessidade de a Lei ser igual para todos. A emancipação da mulher, exigência da Justiça e do Progresso.

g) - Respeito do direito à vida, à integridade física e à liberdade das pessoas (Direitos do Homem). Liberdade de domicílio, de religião e de trabalho. Necessidade da liberdade no casamento.

h) - Como devem ser tratados os estrangeiros que respeitem o Povo e as Leis.

i) - A instrução do Povo como condição do Progresso. A necessidade de alfabetização das massas. A necessidade de escolarização de todas as crianças em idade escolar. A necessidade da formação de quadros. Ensino primário obrigatório e gratuito. Necessidade da criação de escolas primárias, liceus, escolas técnicas e universidades. Necessidade de desenvolvimento da educação física e dos desportos. O que o Partido já está a fazer no domínio do ensino: alfabetização, criação de escolas e bolsas de estudo para futuros quadros.

PARTE POLÍTICA > QUARTA CLASSE

1 – Revisão

2 – ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO

a) – Quais os órgãos da Secção, da Zona, da Região. Quais os Órgãos Nacionais. A Conferência como órgão máximo em cada escalão. Distinção entre as funções das Conferências, dos Comités e dos Secretariados. As funções das Comissões das Finanças. As funções das Comissões de Controle.

b) – Explicação a competência do Congresso: definição da linha política, aprovação do Programa e eleição do Comité Central. Quem escolhe os delegados ao Congresso. Referência à reunião do 1.º Congresso.

c) – Divisão do Comité Central em Departamentos. O Secretariado Geral como principal Departamento do Comité Central dirigindo os outros departamentos.

d) – Adopção na organização do Partido do princípio da direcção colectiva. As vantagens da direcção colectiva.

e) – Qual deve ser o comportamento do militante para com os seus camaradas. O que são a crítica e a auto-crítica. Distinção entre a crítica positiva e a crítica negtiva. Distinção entre a competição fraternal e a concorrência.

f) – O que é um Responsável do Partido. Qualidades que se exigem a um Responsável.

3 – PROGRAMA DO PARTIDO

a) – Necessidade de todo o Povo trabalhar com entusiasmo para a construção do Progresso das nossas terras. Condenação dos vadios. Os parasitas como inimigos do Progresso e do Povo. O respeito que merece o homem trabalhador. O amor ao trabalho. Heróis do trabalho.

b) – Necessidade de destruir todos os vestígios da exploração colonialista e imperialista, para que o fruto do trabalho do Povo seja para o Povo. Ideia de independência económica e de neo-colonialismo.

c) – Ideia de planificação. Vantagens da planificação.

d) – Bens que devem ser propriedade do Estado e porquê. As vantagens da cooperação e a propriedade cooperativa. Necessidade de acabar com apropriedade privada que não sirva o interesse do desenvolvimento económico das nossas terras. A propriedade pessoal.

e) – Necessidade de desenvolvimento da agricultura. A modernização da agricultura. Os inconvenientes da monocultura da mancarra na Guiné e da monocultura do milho em Cabo Verde. A necessidade da reforma agrária em Cabo Verde.

f) – Necessidade de desenvolvimento da indústria e do artesanato.

g) – O que o Partido tem feito no domínio da produção agrícola e do artesanato.

h) – Organização da assistência social para os que involuntariamente precisarem de ajuda, em caso de desemprego, invalidez ou doença.

i) – Necessidade de uma Defesa Nacional eficaz. Organização da Defesa Nacional a partir das forças armadas combatentes da luta de libertação nacional. Necessidade de apoiar a Defesa Nacional do Povo. Necessidade de disciplina nas forças armadas. A fidelidade e a submição das forças armadas à direcção política.

j) – Unidade Africana. Razão. Condições.

k) – Necessidade de colaboração fraternal com os outros povos. Explicação dos princípios em que deve basear-se esta colaboração: respeito da soberania nacional, respeito pela integridade territorial, não-agressão, não-intervenção em assuntos internos, igualdade e reciprocidade de vantagens e coexistência pacífica.

l) – Referência à UNTG [União Geral dos Trabalhadores da Guiné] e à UDEMU [União Democrática das Mulheres da Guiné]. A UNTG e a UDEMU contribuem para a realização dos objectivos do Partido. As relações entre o Partido e essas organizações. A direcção política pelo Partido. [A 12 de Setembro de 1974, no Boé, foi criada a JAAC - Juventude Africana Amílcar Cabral (LG)].

PARTE POLÍTICA > QUINTA CLASSE

1 – Revisão.

2 – Os outros povos em luta contra o colonialismo português. As organizações que dirgem esses povos. A CONCP [Conferência d das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas, craiada em 1961, em Marrocos (LG)]. O que é, quem nela participa, quais os seus objectivos.

3 – A nossa luta como parte da luta de África pela sua libertação. Os outros povos em luta contra o colonialismo. O apartheid. Os povos em luta contra o apartheid. Os países independentes de África. A existência de países submetidos à exploração colonialista e a necessidade da luta contra o neo-colonialismo. A OUA como união dos Estados independentes de África. Os seus objectivos.

4 – O nosso Partido no Mundo. Os povos e os governos que ajudam a nossa luta. A ajuda da África. Os paízes vizinhos. Os países socialistas ajudam os povos que lutam pela libertação nacional. A ajuda dos países socialistas ao nosso Partido. Organizações anti-colonialistas no Mundo. Sua existência em países cujos governos ajudam os colonialistas portugueses.

5 – Os governos aliados de Portugal. Portugal não pode fazer a guerra colonial sem a sua ajuda. A OTAN [ou NATO]

(Reprodução de documento do PAIGC. In: Supintrep nº 32, Junho de 1971)
______

Notas de L.G.:

(1) Vd. último poste desta série > 7 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3032: PAIGC: Instrução, táctica e logística (13): Supintrep, nº 32, Junho de 1971 (XIII Parte): Armamento (A. Marques Lopes)

(2) António:

Este Padre Gama será o mesmo que a nossa amiga Teresa de Seabra procura ? O que foi capelão militar do BCAV 490 (1963/65)? A ser o mesmo, de certo que não o encontraste em Bissau, nessa época, mas só mais tarde, na altura em que por lá andaste (1967/69)... Confirmas ou infirmas ?

sábado, 23 de agosto de 2008

Guiné 63/74 - P3145: Poemário do José Manuel (22): (...) Como os dias passam devagar / Contados a riscar um calendário...


Guiné > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Na primeira foto de cima, "eu com alguns dos nossos alunos da escola de Mampatá. O Professor Furriel Simões foi o fotógrafo".... Nas fotos a seguir, "momentos de festa e alegria com a população de Mampatá, um batuque onde se misturavam militares e nativos".

Fotos, legendas e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

1. Mais um dos poemas escritos pelo José Manuel Lopes (*), em Mampatá (**), e mais três fotos (enviadas por mails de 24 e 21 de Abril de 2008, respectivamente):


Há momentos aquidifíceis de suportar
numa guerra por razões
que já perdi
por motivos
que não encontro
e assim
como os dias passam devagar
contados a riscar um calendário.

Mampatá 1974
josema
____________

Notas de L.G.:

(*) Sobre o nosso camarada José Manuel Lopes, vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

O José Manuel Lopes, natural da Régua, é um conceituado vitivinicultor, explorando a Quinta da Senhora da Graça, com sede em Senhora da Graça, 5030-429 Lobrigos (S. J. Baptista), concelho de Santa Marta de Penaguião, distrito de Vila Real, Telef. 254 811 609. Faz também turismo de habitação.

O JoséManuel, ex- Fur Mil Inf Armas Pesadas, da CART 6250 (Mampatá, 1972/74), esclareceu-me há tempo que não chegou a completar o Curso de Operações Especiais... Foi tardiamente para a Guiné, em rendição individual.

(**) Vd. último poste desta série > 22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

terça-feira, 22 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3081: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (4): Os meninos à volta da fogueira...


"Encontrei esta fotografia num Boletim Cultural da Guiné Portuguesa de 1972. Lembrei-me logo dos meninos de Missirá educados por Lânsana Soncó,lembrei-me das tábuas com os versículos do Corão que se podiam comprar ao pé de Fá Mandinga.Em Missirá e Finete tínhamos acordado que estas aulas eram complementares às do professor da primária,foi assim que os meninos tinham uma boa parte do dia preenchido"(BS).

Foto (e legenda): ©
Beja Santos (2008). Direitos reservados.


Guiné > Zona Leste > Cidade de Bafatá > Finais de 1969 > Vista aérea da mesquita de Bafatá. A Zona Leste da Guiné (região de Bafatá e Gabu) é aquela onde se pratica mais a Mutilação Genital Feminina (MGF)... As populações islamizadas representam quase metade dos guineenses.Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).


Foto: ©
Humberto Reis (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do Alberto Branquinho, com data de 8 de Julho (Recorde-se que o nosso camarada Alberto Branquinho, hoje jurista de formação e profissão, foi alferes miliciano na CART 1689 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69) (1).


Caro Luís Graça

Junto vai o texto do UMBIGO nº. 4, que fala de religiões. Tem matéria meramente de facto. Não tem juízos de valor. Assim, espero que não levante polémica.

Um abraço e os meus agradecimentos.

Alberto Branquinho
Ex-alferes miliciano
CART 1689 /BART 1913



2. NÃO VENHO FALAR DE MIM … NEM DO MEU UMBIGO (4) > UMA ESCOLA MUÇULMANA
por Alberto Branquinho


Sempre que havia necessidade de fazer colunas auto para abastecimento do quartel, situado a noroeste, o pessoal saía pela porta norte, com os picadores à frente e com instruções para irem ficando abrigados ao longo do itinerário a percorrer, fazendo segurança ao vaivém das viaturas. O movimento da tropa começava somente quando havia já alguma luz, com o sol a tentar romper entre a folhagem da mata e os troncos das árvores.

Isto era o habitual em qualquer aquartelamento, em circunstâncias idênticas. A diferença estava no facto de, no lado norte e nordeste deste aquartelamento, haver uma grande tabanca de população fula e de, junto a essa porta norte, haver uma escola ao pé da casa do padre.

Os alunos, entre (talvez) os sete e os dez anos, com vestes compridas e cabeça coberta, estavam sentados em esteiras à volta de uma fogueira, com labaredas baixas, para afugentar o frio e o cacimbo da madrugada. Cada um empunhava uma tábua de cerca de trinta a quarenta centímetros por uns vinte centímetros, onde estavam escritos textos em caracteres arábicos (excertos do Corão?). A configuração das tábuas era idêntica à das tábuas dos desenhos bíblicos em edições juvenis, que representam o Senhor a entregar a Moisés as tábuas da lei no Monte Sinai, quando o povo judeu transgrediu no peregrinar pelo deserto.

A cena que se nos deparava era um círculo de garotos à volta da fogueira, entoando, em uníssono e a média voz, uma cantilena cheia de aa, acompanhados de sons guturais ou aspirados, enquanto o fumo da fogueira, no centro, subia, se dispersava e os envolvia, misturando-se com o cacimbo. Tudo isto era batido pelos, ainda, fracos raios de sol, rasante, fazendo um quadro quase irreal. Era belo e quase místico, não fosse a perturbação introduzida por alguns soldados que, passando em fila de um, opunham à cantilena:
- Há… há…há… há…
- Gá… gá… gá… gá…
- Olarilálá… olarilálá… olarilálá…

Apesar de os graduados os mandarem calar, o contraponto feito pela tropa continuava, à socapa.

Os garotos, inicialmente divertidos ou espantados, levantavam os olhos das tábuas para observar os intrusos e voltavam à leitura.

Só o padre, postado atrás, em pé, hierático e digno, de boné de lã na cabeça, com uma barbicha que lhe alongava o rosto, olhava fixamente o fogo e, com as mãos dentro das vestes, desconhecia a tropa que passava (2, 3).

_______

P.S. - Este "Post Scriptum" vem a propósito de um "POST ante" (POST 3025 de 5 de Julho último) do Jorge Cabral, para esclarecer que:

(i) O Branquinho que ele refere no nº. 1 desse POST sou eu, que tenho o nome próprio Alberto;
(ii) O Branquinho mencionado no nº. 2 do mesmo POST é meu irmão, de nome próprio António, como o Jorge Cabral sabe.

___________

Notas de L.G.:

(1) Vd. poste de 1 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3011: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (3): Fornilhos e despojos humanos

(2) Esta cena é-nos familiar a todos nós, camaradas da Guiné, que andámos pela Zona Leste, em pleno chão fula... Os meninos à volta da fogueira, decorando versículos do Corão... O contexto é outro, mas lembrei-me do célebre poema e música, belíssimos, do angolano Rui Mingas (Manuel Rui Monteiro), interpretado entre outros pelo nosso Paulo de Carvalho

Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia

Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar

Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade

Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo

(3) Também evoquei esta cena, num poema em falo do ao Iero Jaló, o primeiro homem (da CCAÇ 12) que morreu ao meu lado:

(...) Nascemos meninos,
Mas fizeram-nos soldados.
Azar o meu e o teu,
Por termos nascido
No sítio errado,
No tempo errado.
Imagino-te puto
À volta da fogueira,
Na morança do marabu ou do cherno
Da tua tabanca,
Decorando o Corão.
Uma das cenas mais lindas
Que eu trouxe da tua terra,
E que eu guardo na minha memória,
São os meninos à volta da fogueira,
Soletrando tabuínhas em árabe (4).
Lembro-me de quereres aprender
As letras dos tugas
Para poderes ser soldado arvorado
E um dia chegares a cabo. (...)

(4) Há tempos o António Santos (ex-soldados de transmissões, Pelotão de Morteiros 4574/72, Nova Lamego, 1972/74), mandou-me imagens dessas famosas tabuínhas... Não as localizo, de momento. Recordo-me de lhe ter prometido que ia pedir a alguém (um aluno meu, médico, muçulmano, de origem argelina) para as traduzir, o que nunca consegui... Se ele, António, me estiver a ler, que me mande essas imagens em 2ª via...