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sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Guiné 63/74 – P7226: Controvérsias (107): O que era ser ranger entre 1960 e 1974? (José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73)


1. O nosso Camarada José Gonçalves, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER, CCAÇ 4152/73 (Gadamael e Cufar, 1974), enviou-nos, em 30 de Outubro de 2010, a seguinte mensagem:


Camaradas,

Já há muito tempo que estou faltoso em enviar as fotos da praxe, uma das condições do “alistamento” no Blogue.

Aqui as envio agora, com mais uma que já havia enviado, da cerimónia da entrega do aquartelamento de CUFAR ao PAIGC.
O que era ser ranger entre 1960 e 1974?
Camaradas de armas,

Ultimamente tenho estado a pensar nas condições e formação militar que a nossa tropa tinha para enfrentar, um inimigo com uma experiência profunda do terreno, armamento melhor e uma experiência que em alguns casos era superior a 10 anos de combate, assim como uma cultura e formação de guerreiro. Acho que já aqui foi escrito que, para certas tribos na Guiné, um homem, para ser homem, tinha que beber por um crânio humano.

Como todos nós sabemos, os nossos soldados, na sua maioria, eram agricultores, pedreiros, pastores, etc. e iam para a guerra com cerca de 6 meses de treino e os oficiais e sargentos milicianos com cerca de um ano de instrução e uma idade muito perto dos 20 anos.

Na minha opinião este treino era absolutamente inadequado, principalmente quando era administrado por pessoas que não tinham vontade, capacidade nem conhecimentos para o fazer como era o caso dos milicianos.
Muitos dos oficiais milicianos eram recrutados no curso de sargentos milicianos e não tinham idade e, ou, maturidade suficiente para assumirem as responsabilidades de comando.

Vejamos: um alferes miliciano, que era responsável por administrar uma recruta e depois a especialidade aos soldados que eventualmente iam consigo para a guerra, aprendia o “ofício” de militar instrutor e comandante em 6 meses (dos quais 3 eram para a sua própria introdução no Exército e os outros 3 para frequentar um curso intensivo - a especialidade), no meu caso “Operações Especiais”.

A maior parte dos milicianos não tinha convicção para esta guerra e o seu principal objectivo era sobreviver, ele e aqueles que serviam sob o seu comando.

Isto era totalmente demonstrado pela dedicação que a grande maioria dos milicianos dava à formação dos praças, que eventualmente iam arriscar a vida na Guerra do Ultramar.

A formação militar era insuficiente e inadequada!

Isto era sabido pelos escalões do nosso Exército e um dos remendos que tentaram fazer, foi colocar pessoal de operações especiais na formação de companhias para que, estes milicianos melhor treinados mas muito longe de profissionais, conseguissem uma melhor formação operacional nas suas companhias.

Esta filosofia era-nos transmitida em Lamego, mas eu penso que era uma “táctica” muito mal pensada, pois os Rangers nunca foram aceites e não queriam, nem se podiam impor, aos seus demais camaradas e aos capitães milicianos que, na sua maioria, não tinham conhecimento de tal estratégia ou ignoravam-na por completo. Na minha opinião não havia metodologia implementada para esta integração.

Os 10 Mandamentos RANGER lidos todos os dias em Penude, na formatura matinal
Então o que era um Ranger nos anos da guerra?

Um Ranger, era um miliciano recrutado nas fileiras dos milicianos (após prestação de testes às suas capacidades físicas e psicológicas), para serem chefes militares de elite, preparados e treinados para isso, e que no fim de cursos duríssimos e altamente exigentes (a nível de equipa, grupo de combate e companhia de instrução no C.I.O.E.), eram distribuídos pelas diversas unidades de tropa normal.

Esta política, na minha opinião pessoal, não fazia absolutamente sentido nenhum a não ser que houvesse uma estratégia perfeitamente definida e melhor delineada, para que os conhecimentos que os Rangers adquiriam (apesar de eu os achar inadequados), fossem disseminados por todos os militares que compunham uma companhia.

Isto estava muito longe do que acontecia na realidade, pois quando da formação das companhias, aos Rangers eram-lhe atribuídos uma equipa (no caso de um 1º Cabo Miliciano) ou um pelotão (no caso de um Aspirante Miliciano), para serem treinados para a guerra.

Os outros pelotões e equipas eram treinados pelos outros milicianos que não tiveram o treino de Ranger.

Por outro lado muitos dos Rangers que foram integrados nas companhias “de tropa macaca como alguns lhe chamavam”, com as suas melhores formações físicas e psicológicas incutidas na sua especialidade, impunham treino rigoroso e muito exigente a homens mal alimentados que, como é óbvio, os debilitava nas suas melhores aptidões físicas e pior animados nas suas capacidades mentais.

Cometeram-se muitos disparates que, por vezes, resultaram em ferimentos graves nos soldados que estavam sob os seus comandos.

Como devem saber, porque acho que aqui já foi referido, o treino dos Rangers era realizado, na sua quase totalidade, com bala real, mas havia muita preocupação por parte do pessoal instrutor e monitor, altamente competente em minimizar a eventualidade de provocação de acidentes.

Vários Rangers, acabada a especialidade e integrados nas unidades a que eram destinados, decidiam incutir o mesmo treino que lhes foi ministrado em Penude, aos soldados que lhes foram destinados, mas sem as condições (alimentação, equipamento, armamento, munições e outros sistemas de suporte), que lhes permitissem que estes treinos obtivessem os sucessos desejados.

Em diversos casos estes métodos foram completamente desastrosos devido, essencialmente, às faltas de capacidade de transmissão das técnicas e conhecimentos adquiridos, pelo lado dos instrutores e, por outro lado, à falta de poder de assimilação dos instruendos.

Grande quantidade dos soldados que eram incorporados nunca se convenceram que iam lutar feroz e mortalmente contra outros homens, numa guerra (ainda por cima de guerrilha), perigosa e traiçoeira, que os poderia mutilar ou que lhes poderia ser fatal.

Eu tive militares que foram comigo para a Guiné, que não consegui no seu período de instrução que dessem uma simples cambalhota. Ao forçá-los a fazerem isso, caíam mal e, num caso específico, um deles inclusivamente partiu a clavícula.

Pensei na altura que talvez 50% ou 60% tivessem reunidas as capacidades mínimas (físicas e psicológicas), para enfrentar a guerra.

Mas era óbvio que isso, para o poder político e militar, não era importante e o que se pretendia era carne para canhão e formar os tais dispositivos de quadrícula (linha dianteira da guerra espalhada por todo o lado na Guiné).

Era assim que se formava a “tropa macaca portuguesa”, que aguentou 3 frentes de guerra durante 14 anos, apesar de todas as vicissitudes, como treino insuficiente, fraco armamento, péssimas acomodações, transportes deficientes e uma alimentação de bradar aos céus.

Quero só acrescentar um acontecimento que se passou numa das poucas vezes que fui em patrulha, antes do 25 de Abril, e que me foi relatado por um dos oficiais do PAIGC, em Gadamael-Porto, durante uma das nossas conversas.

Qual não foi o meu espanto, quando um chefe do PAIGC nos perguntou, se nos lembrávamos de uma patrulha que tínhamos feito no dia X, pelas tantas horas, na região de Unsiré e Gadamael fronteira.

Respondemos que sim e perguntamos porque nos fazia essa pergunta.

Mais espantado fiquei, quando ele nos disse que, nesse dia, tínhamos passado por uma emboscada montada por eles nessa zona.

Perguntamos logo porque não abriram fogo e a resposta foi algo que ainda hoje me regozijo: “NÃO ABRIMOS FOGO PORQUE PENSAMOS QUE ERAM COMANDOS”.

Como oficial que fui, quero dizer a terminar que nunca mais quero ir para uma guerra, nem comandar ninguém, mas se tivesse que ir de novo hoje só aceitaria desde que me acompanhassem os mesmos militares portugueses desse tempo, porque demonstraram capacidades invulgares de enorme de sacrifício, tolerância e adaptação às circunstâncias mais adversas.

Espero que este texto gere novos “postes” sobre este assunto, pois considero-o como um dos pontos fundamentais, para compreendermos como conseguimos aguentar uma guerra daquelas durante tanto tempo.


Cufar > 07SET1974 > Cerimónia da entrega do aquartelamento ao PAIGC
Cumprimentos para todos
José Gonçalves
Alf Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 4152/73
__________

Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

29 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 – P7190: Controvérsias (106): Venho aqui para vos dizer que estou vivo! (António Matos)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6997: Álbum fotográfico de António Barbosa (2ª CART / BART 6523, Cabuca, 1973/74) (1): Bafatá e o Rio Geba







Foto 1 > O Alf Mil Op Esp 2ª CART / BART 6523 (Cabuca, 1973/74), em Bafatá, capital da Zona Leste, junto ao Rio Geba... Finais de Agosto de 1974.




Foto 2 > Obuses 10,5 junto ao Rio Geba, no Xime... 

 Fins de Agosto de 1974... Estes obuses faziam parte do equipamento retirado do leste.

 



Foto 3 > O Barbosa junto a um dos obuses 10,5, na margem do Rio Geba, no Xime, em finais de Agosto de 1974




Foto 5 > Ponte sobre o Rio Geba, na estrada Bafatá-Bambadinca.



Foto 6 > O Barbosa junto ao seu jipe num troço de estrada,  alcatroada, Bafatá-Bambadinca






Foto 7 > o Barbosa, ao alto da principal artéria de Bafatá...




Foto 8 > O Barbosa e um condutor, possivelmente de chaimite (que faziam as escoltas, de e para Bafatá)




Foto 9 > Bafatá, a catedral católica... Bafatá, ainda hoje,  tem bispo católico, de nacionalidade  brasileira




Foto 10 > Bafatá, a rua principal, com o Rio Geba ao fundo... Do lado direito, pintada a azul, a famosa casa das libanesas (restaurante-pensão)...




Fotos: © António Barbosa (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.

1. O António Barbosa já aqui foi apresentado, à Tabanca Grande (*), pelo nosso editor Eduardo Magalhães Ribeiros: ambos têm o curso de Operações Especiais.  

Há um outro António Barbosa, mas esse foi Fur Mil Cav, Pel Rec Panhard 1106, Os Cavaleiros Blindados (1966/68), é natural de Gondomar, está reformado da Polícia Judiciária, e é visita frequente da Tabanca de Matosinhos. Aquele nosso ranger é natural de Santarém, e comandou, como Alf Mil, o 1º Pelotão da 2ª CART / BART 6523 (Cabuca, 1973/74). 

Temos ainda poucas referências do  BART 6523.

Embora já publicadas (em formato normal), recuperámos algumas dessas imagens, de fraca qualidade, obtidas a partir de diapositivos. Temos fotos de Bafatá e de Cabuca. Infelizmente vieram sem legenda. Vamos republicar as de Bafatá, editadas e inseridas em formato extra-largo, e tentar pôr-lhe legendas... Faremos depois o mesmo em relação às de Cabuca... 

Talvez o nosso camarada  Fernando Gouveia nos possa ajudar, já que lá viveu dois anos, em Bafatá, e conhecia o lugar  (vila no seu tempo; cidade, no tempo do António Barbosa) como ninguém... O próprio António Barbosa pode fazer as correcções ou precisões que entender: por exemplo, em que data  (ano e mês) foram tiradas estas fotos ? L.G.

PS - Em data posterior, o António confirmou que as fotos datam já no final da comissão, Agosto de 1974, quando a sua companhia saiu de Cabuca a caminho do Xime onde se apanhava a LDG para Bissau... Foi o adeus ao leste.

_____________

Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6924: Tabanca Grande (240): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER (1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523 – Cabuca -, 1973/74)


quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P6925: Tabanca Grande (241): Ricardo Pereira de Sousa, ex-Alf Mil Op Esp/Ranger (3ª CART/BART 6522, Sedengal, 1972/74)

1. Mais um Camarada se apresenta nesta Tabanca Grande, o Ricardo Pereira de Sousa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 3ª CART do BART 6522, Sedengal, 1972/74, que na sua primeira mensagem de 31 de Agosto, enviou as fotografias da praxe, deixando-nos na expectativa de que, brevemente, voltará com mais literatura da evolução operacional da sua companhia e da sua comissão:





Camaradas,

Faço a minha apresentação formal com as fotografias da ordem e um pequeno historial da minha passagem por terras da Guiné.

Ora,  se bem me lembro,  fiz o Curso de Operações Especiais no CIOE, no 2º turno de 1972 e parti para Bissau, por via aérea, em Dezembro de 1972,  integrado na 3ª CART do BART 6522.

Segui depois para Bolama para fazer o IAO, já com o conjunto do Batalhão e terminada esta instrução operacional segui para Sedengal, via Ingoré. Após algumas peripécias, bons e maus momentos, que talvez conte um dia se para isso tiver pachorra, memória (infelizmente e ao contrário de outros camaradas não registei esses momentos) e engenho.

Regressei em Setembro de 1974 também por via aérea.

Tinha como Comandante de Companhia o ex. Cap. Mil. Sérgio Faria, de quem prezo ser amigo, e que teve um papel extraordinário na organização do aquartelamento, criando as condições de habitabilidade e de segurança tão necessárias, através da mobilização, em condições muito difíceis e até penosas, dos soldados e graduados.

Conto aqui esclarecer também aquela questão da emboscada com seis mortos, em Julho de 1973, referida no P6004. É que uma acção militar (a história já foi publicada no Expresso) de que resultaram 2 cruzes de guerra e um prémio Governador da Guiné, não deve ser simplesmente referida como “… pessoal que, ao que parece, descontraída e irresponsavelmente ia de viatura para Bissau... desarmado ou sem escolta”.
Com os melhores cumprimentos,

Ricardo Pereira de Sousa
Alf Mil OpEsp/RANGER
3ª CART do BART 6522

2. Começamos por transmitir ao Ricardo de Sousa, que após algumas voltas pelo blogue, descobrimos que temos entre a Tertúlia Bloguista mais 2 Camaradas do seu batalhão:

- o nosso Camarada António Inverno, que também foi Alf Mil Op Esp/RANGER da 1.ª e 2.ª CARTs do BART 6522 e Pel Caç Nat 60 – S. Domingos -, 1972/74. Esteve no CIOE também no 2º turno de 1972;

- No poste P6004 encontra-se informação sobre o Cap Mil Inf Sérgio Matos Marinho de Faria, de quem, do mesmo modo, o António Inverno é amigo pessoal e que foi o comandante da 3.ª Companhia do BART 6522/72, mobilizada pelo RAL 5 (partiu para a Guiné em 7/12/1972 e regressou à Metrópole em 3/9/1974 - Ingoré e Sedengal, na região do Cacheu, a leste de Farim).

3. Amigo e Camarada Ricardo de Sousa, é da praxe (bem mais suave que a do C.I.O.E.), que em nome do Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e demais tertulianos deste blogue, te diga aqui que é sempre com alegria que recebemos notícias de mais um Camarada-de-armas, especialmente, se o mesmo andou fardado por terras da Guiné, entre 1962 e 1974, tenha ele estado no malfadado “ar condicionado” de Bissau, ou no mais recôndito e “confortável” bura… ko de uma bolanha.

Tal como o Luís Graça já referiu inúmeras vezes, em anteriores textos colocados ao longo de perto de sete mil postes no blogue, que todos aqueles que constituíram a geração dos “Últimos Guerreiros do Império”, têm alguma coisa a contar da sua passagem da Guerra do Ultramar, que permaneça para memória futura e colectiva, deste violento e sangrento período da História de Portugal, de que nós fomos protagonistas no terreno, em alguns casos só Deus sabe em que condições o fomos.

Foram 12 anos de manutenção de um legado histórico que muitos ignoram e, ou, ostracizam por motivos diversos (cerca de 500 anos de permanência), à custa de muito sacrifício, privação de toda a ordem, dor, sangue, sofrimento, morte… que envolveu a movimentação de mais de meio milhão de portugueses em armas.

Como se não tivesse bastado, muitos de nós continuam a sofrer, pelo menos psicologicamente, nos últimos 36 anos com o modo ostracista e laxista como os políticos portugueses nos tratam.

Nós que, nos nossos 21/22/23 anos, demos o nosso melhor, como podíamos e sabíamos, muitas vezes mal treinados e armados, sabe Deus como alimentados e enfiados em autênticos buracos, construídos no lodo, embebidos em pó, lama, suor, mosquitos, etc., completamente hostis e perigosíssimos, sob vários aspectos, onde, além dos combates com o IN, enfrentávamos as traiçoeiras minas e armadilhas, as doenças a apoquentar-nos (paludismos, disenterias, micoses, etc.) e as nossas naturais angústias e temores, próprios das nossas tenras idades.

Nós até nem temos pedido muito, além de respeito e dignidade, que todos nós merecemos pelo que demos a esta Pátria, queríamos, e continuamos a querer, no mínimo, que os nossos doentes, física e psicologicamente, sejam tratados condigna e adequadamente, e o tratamento e acompanhamento dos mais carenciados e abandonados pela desgraçada “sorte” da vida.

Oferecendo-te então aqui as nossas melhores boas-vindas e ficamos a aguardar que nos contes episódios da tua estadia na Guiné, que ainda recordes (dos locais, das pessoas, seus hábitos e costumes, dos combates, dos convívios, etc.) e, se tiveres mais fotografias daquele tempo, que nos as envies, para as publicarmos.

Recebe pois, para já, o nosso virtual abraço colectivo de boas vindas.
O coeditor, Eduardo Magalhães Ribeiro.

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.

Fotos: © Ricardo Pereira de Sousa (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

2 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P6924: Tabanca Grande (240): António Barbosa, ex-Alf Mil Op Esp/RANGER (1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523 – Cabuca -, 1973/74)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6801: O Nosso Livro de Visitas (96): António Inverno, ex-Alf Mil Cav Op Esp, S. Domingos, 1973, amante da "bela" Kalash



1. Foto e mensagem, de hoje,  do nosso leitor António Inverno:


 António Inverno, Alferes miliciano de operações especiais, num afluente do rio Cacheu, em S. Domingos,  1973, eu e a minha inseparável Kalash.

António Inverno
Sumol + Compal
Fábrica de Almeirim
Técnico de service desk local
Estrada Nacional nº 1182080-023 Almeirim

Tel: 243 5944654 Fax: 243 594650

http://www.sumolcompal.pt

2. Comentário de L.G.:

É lacónico este nosso camarada (*). Não nos diz, por exemplo, a que unidade ou subunidade pertenceu e por onde andou... Através do blogue do nosso querido co-editor Eduardo MR, ficamos a saber que o António Inverno pertenceu ao 2º curso de Op Esp de 1972, esteve na Guiné entre 72 e 74, e gostaria de publicar aí uma fotografia,  no blogue Coisas do MR. "Estou aí a vêr fotos de gajos do meu curso, como o Casimiro e o Martins"...

Vejo, pela foto, que o António pertencia à arma de cavalaria, além de ser "ranger"... Fica convidado a ingressar no nosso blogue e a explicar as razões do seu amor pela "bela" Kalash... pondo os c... à "fiel" G3, um tema já aqui polemizado  (**).

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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 7 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6794: O Nosso Livro de Visitas (96): Quem se lembra do Dr. Noronha (de Bafatá), Toscano de Almeida, madeireiro, do Dias Saboeiro, figuras que povoam a minha infância ? (Maria Augusta Antunes, que cresceu no Xitole, na década de 1950)

(**) Vd. poste de

17 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2445: Em louvor da G3, no duelo com a AK47 (Mário Dias)

Sobre a Kalash, vd. os seguintes postes publicados no nosso blogue, I Série:

17 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XX: "Foi você que pediu uma kalash?" (David Guimarães)

Vd. também o descritor AK47

domingo, 17 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5664: Banco do Afecto contra a Solidão (9): Humberto Duarte, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER, BCAÇ 4514/72, 1973/74, trava o seu último combate (2) (Ana Duarte)



1. Recebi hoje, com pedido de publicação, da Ana Duarte, esposa do nosso Camarada Humberto Duarte, ex-Furriel Miliciano do BCAÇ 4514/72, 1973/74, a seguinte mensagem:



Coragem e Dignidade

Magalhães,

A ti só tenho que agradecer, conseguistes uma coisa que vários militares, ainda no activo me diziam ser impossível, honras militares feitas por Op Esp.

Agradeço também ao Pedro Neves e a outros Amigos que souberam do que se está a passar por telefone e ou vieram cá a casa ou telefonaram. O Filipe O.E., que fez o curso em Mafra com o Humberto, está nos Açores e já falaram, e choraram ao telefone, comigo a fazer de ponte. Alguns ex-combatentes que não nos conhecem, enviaram e-mails de solidariedade, houve até quem me telefonasse e alguém que enviou uma música linda!

A todos esses o nosso muito Obrigado. Mas revolta-me ver o Humberto perguntar por este ou aquele, não menciono nomes, e depois ficar magoado porque até agora nada disseram. A maioria são Op Esp e lembro-me sempre de eu dizer tenho mais consideração por qualquer ex-combatente que esteve lá fora fosse qual fosse a sua arma, até o cozinheiro do que tenho por meninos que tiraram o curso de O.E. pós-25 de Abril 74 e só por isso se acham muito importantes.

As pessoa valem pelo que fazem e não pelo que são ou dizem. Percebo que uma pessoa prefira recordar um Amigo como ele era e não quando o físico se está a degradar dia para dia, até consigo aceitar que custe falar directamente com a pessoa, mas nem enviar uma palavra amiga?!

O Humberto tem defeitos como todos, eu mesma tive problemas com ele por causa do seu stress mas tem uma Dignidade e uma Coragem que muitos nunca vão ter.

Peço que todos os que não tiveram coragem de dizer sequer uma palavra por e-mail, que na despedida não venham com palavrinhas mansas para mim e muito menos no dia 10 de Junho.

Não sou uma ex-combatente, nunca fui nem queria ser militar, sou uma entornada de Moçambique com muito mais coragem e dignidade que muitos.

Se quiseres podes publicar este desabafo no teu site e mais onde quiseres, porque o que eu digo, faço-o na cara das pessoas e não por trás.

Um abraço grande de Ana e Humberto.

P.S: Eu tinha escrito "gostava que publicasses isto no teu site" mas o Humberto pediu para pôr "se quiseres". Um pedido dele é uma ordem para mim.



2. Às 13h15, respondi assim à Ana e ao Humberto Duarte:



Coragem e Dignidade - RESPOSTA

Bom dia Amiga Aninhas e Amigo e Camarada Humberto,

Não só vou colocar nos blogues, como vou enviar este e-mail àquele pessoal de quem tenho contactos.

Também tenho um bloguesito dedicado aos RANGERS na net:


Basta clicares duas vezes sobre o endereço indicado e vais lá directamente.

Da vossa coragem conjunta não tenho palavras para definir.

Peço-vos que mandeis os nomes do pessoal com quem o Humberto gostava de falar, pois de muitos não tenho qualquer contacto, mas vou tentar arranjar.

É bem provável que muita malta ainda não saiba da situação de saúde do Duarte.

Um beijo para ti Aninhas e um abração Amigão para o RANGER Humberto.

P.S. - Amanhã ligo-vos ok!



3. Às 13h37, tive que complementar o meu anterior e-mail, para repor uma verdade inequívoca:



Coragem e Dignidade - RESPOSTA

Mais uma vez Bom dia, Amiga Aninhas e Amigo e Camarada Humberto Duarte,

Peço desculpa mas, nas pressas de ir colocar a vossa mensagem nos blogues, deixei por esclarecer um facto fundamental.

O seu a seu dono deve pertencer!

Por favor não digas que fui eu que consegui as cerimónias militares de Op Esp, mas sim pelo menos a 3 pessoas, com maior ou menor grau de responsabilidade na imediata e inequívoca decisão desta prestação.

Um foi o nosso bom amigo comum, o Sr. Coronel António Feijó, que sei, logo que soube do estado de saúde do HD, se apressou a enviar um reforço solidário do vosso pedido ao Exmo. Sr. Comandante do CTOE.

Depois a resposta imediata e afirmativa, do Exmo. Sr. 2º Comandante do CTOE, TCOR Valdemar Lima, que tenho a certeza absoluta, em pleno acordo e anuência com o Exmo. Sr. Comandante do CTOE.

Deixo aqui um grande abraço AMIGO para estes três HOMENS.

Por motivos óbvios, envio este e-mail com conhecimento a todos os meus contactos a quem havia enviado o anterior e-mail.

Para vós, mais um beijo para ti Aninhas e outro abração Amigão para o RANGER Humberto



Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.

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Notas de M.R.:

terça-feira, 30 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4612: Contraponto (Alberto Branquinho) (2): Não vale a pena chorar

1. Mensagem de Alberto Branquinho, (*), ex-Alf Mil da CArt 1689, Guiné 1967/69, com data de 24 de Maio de 2009:

Meu Editor Carlos Vinhal

Espero que o nosso Editor e os demais co-Editores não fiquem zangados comigo, pois dirijo este mail ao pai dos CONTRAPONTOS, pois sem o estímulo do camarada-Editor Carlos Vinhal, eles não teriam visto a luz do dia (ou da noite, que é quando escrevo).

Aí vai o CONTRAPONTO (2) - "Não vale a pena chorar".

Um abraço para todos
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (2)

NÃO VALE A PENA CHORAR


Teria eu doze ou treze anos e estava em Lamego. Deveria ser Primavera, porque o tempo estava soalheiro, embora instável.

Depois do almoço, o meu Tio disse-me: - Rapaz, se logo à noite estiver bom tempo, vamos ali à Avenida ver a tropa chegar das manobras.

Não chovia. Sob a luz difusa dos candeeiros formavam-se pequenos grupos de pessoas, que, repetidamente, olhavam para o lado de quem vem da Senhora dos Remédios. A ideia que tenho é que não foi uma espera muito longa.

Começou a ouvir-se um sussurro ao longe, lá para o fundo escuro da Avenida. Um barulho surdo e contínuo aproximava-se.

Surgiram os primeiros homens, em formatura, batendo pesada e ritmadamente com as botas no chão, com capacetes na cabeça, armas em bandoleira, vestidos com uns capotes castanhos cor-de-terra quase até aos pés, carregando alforges da mesma cor. E passavam, passavam, passavam, pareciam nunca mais acabar. A imagem que guardo de cada um deles é a mesma da estátua do “Soldado Desconhecido”.

Marchavam com aspecto cansado, como condenados à morte. Mas o espanto maior não foi esse aspecto da formação militar que passava, batendo com as botas no chão. Não! O espanto maior foi porque eles CANTAVAM ao ritmo das passadas. Ainda recordo duas quadras, que o meu Tio me repetiu mais tarde:

Oh Laurinda, oh Laurinda
Não vale a pena chorar
Tu já sabias, Laurinda
Que eu ia p’ra militar.

Que eu ia p’ra militar
Que eu ia p‘ró Regimento
Oh Laurinda, oh Laurinda
Não me sais do pensamento.


E passavam, passavam sempre. E cantavam, cantavam sempre.

Passaram os últimos. Acabou-se o espanto.

A guerra acabou. Voltou o silêncio à Avenida.


Recordei isto dias depois de me obrigarem a ficar no CIOE, em Lamego – para fazer o chamado “Curso de Operações Especiais” (não “Ranger”, porque é marca registada nos Estados Unidos da América).

Não imaginara em criança que um dia seria tropa em Lamego, mas que, no final das manobras, não cantaria à Laurinda para não chorar.


Ora, a finalidade do “Curso de Operações Especiais”, segundo nos transmitiram logo no primeiro dia, era atingir a “DUREZA 11” – portanto um grau acima do diamante! No final do curso era entregue aos instruendos (alferes e furriéis milicianos na mobilização) uma fita escura, levemente arqueada, com as palavras “Operações Especiais”. (Parêntesis: Como haveria só um alferes e um furriel por cada Companhia mobilizada, ver-se-iam, mais tarde, impossibilitados de – somente a dois – fazerem qualquer operação especial).

O uso dessa fita, cosida ao alto da manga (direita ou esquerda?) do uniforme garantia “urbi et orbi” a “Dureza 11” do utente.


Era o mês de Novembro ou Dezembro de 1966

Acabado o curso, houve formatura para entrega das referidas fitas. Foram chamados quatro ou cinco, com ordem para darem um passo em frente. E frente a toda a formatura foi comunicado que, a esses quatro ou cinco, não lhes era atribuída a referida fita. Eu estava entre eles, com fundamento em qualquer coisa como resistência passiva.

Apesar do comportamento que lhe era exigido em formatura, um dos excluídos desatou a chorar lágrima a lágrima e, depois, em choro abundante e notório.

Mais tarde soubemos que a decisão fora reconsiderada e, consequentemente, lhe tinha sido atribuída a almejada fita. Chorando, terá conseguido a “Dureza 11”?

Ao contrário da Laurinda, valeu a pena chorar.
(Se é que valeu a pena fazer uma fita por uma fita).

Alberto Branquinho
__________

Notas de CV:

(*) Alberto Branquinho é o autor do livro "Cambança - Guiné, morte e vida em maré baixa" e da série do nosso Blogue "Não venho falar de mim... nem do meu umbigo", que por sua vez deu lugar à série "Contraponto"

Vd. primeiro poste da série de 18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4371: Contraponto (Alberto Branquinho) (1): Mudam-se os tempos

domingo, 26 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3358: Cancioneiro de Mansoa (11): Zé, um rapaz castiço (Magalhães RIbeiro)

Marca de cigarros, de fabrico soviético, que eram distribuídos aos guerrilheiros do PAIGC, durante a guerra colonial / luta de libertação. "Nô pintcha", em crioulo, quer dizer Avante!

Anti-repelente, de marca Hunter (caçador) usado para para afugentar os mosquitos, uma das medidas de protecção contra o paludismo usadas pelos tugas na Guíné...

Fotos: ©
Magalhães Ribeiro (2008). Direitos reservados.


1. Duas mensagens do nosso prezado amigo e camarada, Magalhães Ribeiro, mais conhecido por pira de Mansoa (O Eduardo Magalhães Ribeiro foi Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612, 1974; é autor e animador do blogue Coisas do MR (Operações especiais, rangers de Portugal, guerra do ultramar...).

(i) Amigos Vinhal, Luís e Briote

Envio aqui anexo mais algum material que poderá ficar bem no blogue.

Um abraço amigo do Pira de Mansoa,
M.R.


(ii) Boa noite amigos Vinhal, Briote e Luís

Entre as coisas e loisas do meu espólio da Guiné, que de vez em quando vou limpando e conservando, encontrei mais três peças que me lembrei de vos enviar, para eventual colocação no blogue, um pela sua graça escrito numa folha de papel quando me encontrava no Cumeré (que vou integrar no Cancioneiro de Mansoa), outro pela recordação que nos traz, uma caixa do famoso HUNTER (com as dimensões C x L x H = 120 x 120 x 30 mm), com que matávamos os mosquitos à noite nas camaratas e um terceiro pela sua curiosidade, um maço de tabaco NOPINTCHA (com as dimensões C x L x H = 70 x 55 x 20 mm), fabricado na ex-USSR e utilizado pelos homens do PAIGC.


2. Cancioneiro de Mansoa > Um rapaz castiço
por Magalhães Ribeiro

Rapaz castiço... o Zé?
Ninguém sabe dizer como é!
O que confundia a cabeça do moço
Que se dava pelo nome de Zé.

Um pouco arisco e quezilento,
Só tinha como amigo o Barnabé.
Não gostava da boina nem do quico,
Na cabeça só um pequeno boné.
E ocupava os seus momentos livres
Entretido num improvisado balancé.
Uns dias antes de embarcar… irritado
Trepou p’ra cima da chaminé,
Repetindo em altíssimos berros:
- Não quero ir para a Guinééééé!

Valeu-lhe então, coisa incrível,
Jamais ter faltado ao pré,
Ficou conhecido além disto
Por sempre caminhar a pé,
E um vício agora pouco usual
Cheirar uma caixinha de rapé!

Tinha uma "alergia" muito comum,
O horror ao cheiro a chulé
E outros “aromas” mal cheirosos…
Não era o caso do verniz do rodapé…
Nem do agressivo diluente…
Nem tão pouco do café.
Um gosto porém ele denunciava,
Comer um bom bife, com ovo e puré.

Diz um dia o comandante desconfiado:
- Este gajo gosta de fazer croché?
O moço reguila e lesto respondeu:
- Eu não gosto imenso é do lamiré!

Ninguém percebeu tal dica ,
Muitos soldados riram-se até,
Também eu sorri, baralhado.
Deixei-me ir nesta maré
E respondi em sua defesa:
- Tem crer em Deus e… muita fé.
- Como sabe isso, Ribeiro?
- Vejo-o ir às missas à Sé...
- Chegue-se à frente, seu maçarico.

Ele aproximou-se, pé ante pé:
- Vinte completas para ganhar juízo!
- Quere-as em silêncio ou grito… olé!
Diz o capitão com ar conclusivo:
- Este desgraçado está meio cheché!
Era assim um dos nossos "rapazes"
Que reencontrei no quartel do Cumeré.
Nesse dia de calor... mergulhou no rio...
E quase foi engolido por um jacaré:
- Juro, nunca mais me atiro para a água...
Daqui p'rá frente só se for num bidé!

Magalhães Ribeiro

PS - Em anexo a caixa do famoso HUNTER e do maço de tabaco NÔ PINTCHA.
___________

Nota de L. G.:

(*) Vd. postes desta série:

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá

7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...

10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3286: Convívios (88): Confraternização de Asp Of Mil do 2.º Curso de Rangers de 1967, CIOE, Lamego (Idálio Reis)


1. Mensagem do nosso camarada Idálio Reis, ex-Alf Mil da CCAÇ 2317, Gandembel/Balana, 1968/69, com data de 6 de Outubro de 2008:

Assunto: Uma saudosa confraternização de aspirantes milicianos que integraram o 2.º Curso de Rangers de 1967, no CIOE em Lamego.

Indelevelmente, quanto mais este vagar do tempo se prolonga, maior um ror de saudades se nos afaga.

Essa estulta armadilha que nos agrilhoou quando muito jovens, em plena flor da idade em que se começa a tactear o destino da Vida, é espectro que jamais se sume, tantos foram os companheiros que então se nos atravessaram naquela curta encruzilhada temporal.

Efectivamente, com alguns desses sobejou laços de apertada amizade, que depois do ciclo da tropa, circunstâncias inerentes vieram a esvaecer, por força de porfiados afãs que a cada um houve então que encetar. O recomeço foi tão difícil ...

Hoje, com mais tempo livre, porventura mais propensos para readquirir essa comunhão de afinidades imperecíveis, procuramos apaziguar as dolentes saudades restadas, e assim dando azo ao reencontro, passados 41 longos anos, juntámo-nos para o amplexo do reconhecimento e da renovação, e fundamentalmente, relembrar os que foram brutalmente excluídos por um perecimento antecipado, onde uma guerra imposta fez semear dor, martírio, sangue.

Um dos elementos do grupo, o António Brandão, viria a sofrer um profundo choque, quando soube da morte do Almeida Fonseca, um cabo-verdiano com quem privara muito de próximo, e que acabaria por rumar até Moçambique. Aqui, a cerca de metade da comissão, morreria em combate no dia 5 de Janeiro de 1969, na Serra do Mapé, com mais 6 companheiros da CCaç 2321; este trágico desastre, está bem expresso no melhor Blogue referente à guerra naquela Província.

À sua memória, prometeu-lhe que haveria de raiar um dia para lhe prestar a homenagem, que em seu entendimento merecia, pois sentiu que fora injustiçado por omissão, ao ser um dos que no fim do Curso não fora merecedor da entrega do crachá "Operações Especiais".

Empenhou-se pois este velho Companheiro, que fez a sua comissão em Angola, na tarefa de ir ao encontro dos paradeiros dos que com ele tropeçaram no CIOE, ainda no quartel antigo, onde fomos então escolhidos 70 aspirantes, a dividir por 2 turmas.

Neste seu porfiar, acabou por já encontrar uma parte substantiva. E com a prestimosa ajuda do António Albuquerque, um homem do distrito, entenderam que estava chegado o o momento adequado, e vão ao encontro do Comandante da Unidade, dando-lhe a conhecer que aí desejariam perpetuar as memórias dos companheiros mortos.

E assim, no pretérito fim-de-semana, aglutinou-se um grupo de 20 cidadãos (18 ex-militares do Curso, a que com muito agrado se juntaram 2 instrutores), que foi recebido e homenageado com enorme nobreza pela Unidade, ante uma parada de honra presidida pelo seu militar mais graduado - o Comandante.

Tratou-se de um acto de sublime dignidade, perpassado por um forte e comovente sentimento de saudade, em que pudemos recordar os que tombaram em África: o Rogério de Carvalho, da CART 2338, na Guiné, em 17 de Abril de 1968 (nas imediações de Canjadude), o Almeida Fonseca e o Eusébio Silva (8 de Março de 1969) em Moçambique. Também foram lembrados os já ausentes, subtraídos pelo determinismo da força da Lei da vida.

Após este honroso acto, seguiu-se um suculento almoço, em que satisfeitos pela forma como a jornada decorrera, nos reapresentamos, e com a óbvia conclusão que os anos começavam a pesar e os cabelos a branquear, foi entendido por unanimidade, que seria de bom grado que este convívio se repetisse para sempre.

Em anexo, envio 3 fotografias: numa delas, está presente o Comandante da Unidade em amena cavaqueira com alguns (i) ; uma outra, representa o grupo que esteve presente (ii); outra, apresento à Tertúlia, um dos homens de Guileje, o alferes Torres Veiga da CCaç 2316/BCaç 2835 (iii).

Um forte abraço a todos,
do Idálio Reis.


Lamego > CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais > Foto 1 > O comandante da unidade em amena convaqueira com o grupo

Lamego > CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais > Foto 2 > O grupo de antigos Asp Of Mil do 2.º Curso de Rangers de 1967.


Lamego > CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais > Foto 3 > Um dos homens de Guileje, o alferes Torres Veiga, da CCaç 2316/BCaç 2835.

Fotos e legendas: © Idálio Reis (2008). Direitos reservados.

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Notas de CV:

(1) - Vd. postes de

5 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3113: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (4): As exéquias fúnebres (Idálio Reis)

4 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2718: Fórum Guileje (11): Relembrando a velha Guileje do Zé Neto e do Eurico Corvacho, onde perdi 2 soldados em combate (Idálio Reis)

1 de Abril de 2008 > Guíné 63/74 - P2708: Construtores de Gandembel / Balana (5): Ponte Balana não era dos piores sítios do Tombali... (Idálio Reis)

26 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2689: Construtores de Gandembel / Balana (2): O papel da CART 1689 (8 de Abril a 15 de Maio de 1968) (Idálio Reis)

3 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2326: O Hino de Gandembel e a iconografia do soldado atormentado pelo desassossego (Idálio Reis)

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Guiné 63/74 - P2963: No 25 de Abril eu estava em... (4): Gadamael e a vontade de lutar do PAIGC também era pouca (Anónimo, Alf Mil Op Esp)

1. Trata-se de um comentário ao poste anterior (1), que merece ter mais visibilidade no nosso blogue, escrito por um Alf Mil Op Especiais que estava em Gadamael , no sul da Guiné, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, em 25 de Abril de 1974. Por não ter conta no Google, e provavelmente viver no estrangeiro (o texto não tem os caracteres portugueses), este nosso camarada não assinou o comentário.

É contra as nossas regras publicar comentários e postes anónimos. Abro aqui uma excepção, porque acho este comentário oportuno e autêntico. Espero que o nosso camarada, que nos lê habitualmente, possa dar a cara e escrever algo mais - se possível acompanhado de documentação fotográfica - sobre este período final da guerra, em relação ao qual sabemos pouco (2). Gostaria, nomeadamente, de saber qual a unidade a que ele pertencia, quanto tempo permaneceu em Gadamael, e se tem mais recordações dos contactos com os guerrilheiros do PAIGC no período a seguir ao 25 de Abril. Revisão e fixação do texto: LG.


Camarada Graça Abreu:

Li o teu comentário e estou totalmente de acordo contigo. A guerra não estava militarmente perdida. Eu era alferes miliciano de Operações especiais e estava no aquartelamento de Gadamael em 1974. Apesar de muitos bombardeamentos que tivemos, estes foram inconsequentes pois raramente acertavam no Quartel e o fogo deles era sempre por nós respondido, inclusive para o outro lado da fronteira. Fazíamos regulamente batida de fogo para zonas onde tínhamos informações sobre [as posições onde] o inimigo poderia estar.

Apesar de estarmos a 6 Km da fronteira, íamos regularmente para o mato fazer protecção ao quartel sem nunca termos encontrado o PAIGC (também para nossa sorte).

A realidade era que estávamos todos cansados daquilo (nós e eles) e a vontade de lutar não existia mas defender-nos-íamos, se fosse necessário, como sempre o fizemos quando por lá andámos.

A questão principal que se tem levantado aqui é a passagem a uma guerra convencional com tanques e aviões a jacto. Na minha opinião se o PAIGC tivesse esta capacidade, isto traria muitos problemas para nós e talvez até uma revés nos acontecimentos, de início, mas não acredito que o PAIGC tivesse capacidade de ocupar terreno dentro da Guiné por muito tempo.

Depois do 25 de Abril nós tivemos muitos encontros com quadros do PAIGC em Gadamael e é óbvio, pelas nossas conversas, que o poder militar deles não era assim tão superior ao nosso assim como não era a vontade [de] luta[r].

No meu parecer Portugal teria arranjado meios de defesa para uma guerra convencional porque esta envolveria seguramente a Guiné Conacri e os nossos aliados (se é que os posso chamar assim) enviariam material.

Para terminar, na minha opinião se o 25 de Abril não tivesse acontecido, a guerra duraria muito mais tempo até uma solução política ser arranjada e muitos de nós por lá teriam ficado.

Uma guerra de guerrilha não se ganha nem se perde desde que haja interesses dos dois lados a financiá-la.

Um abraço a todos

(Não assinado)

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Notas de L.G.

(1) Vd. poste de 14 de Junho de 2008 >
Guiné 63/74 - P2939: No 25 de Abril eu estava em... (1): Guidage (João Dias da Silva, CCAÇ 4150, 1973/74

(2) Vd. poste de 19 de Junho de 2008 >Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um fraco rei faz fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

domingo, 9 de dezembro de 2007

Guiné 63/74 - P2338: Álbum das Glórias (35): O Grito dos Rangers, em Pombal (28 de Abril de 2007)

Pombal > 28 de Abril de 2007 > 2º encontro da malta do nosso blogue (1) > Restaurante O Manjar do Marquês > Para a posteridade, aqui fica a foto dos rangers, ali presentes: Da esquerda para a direita, na segunda fila, de pé: F. Chapouto, J. Mexia Alves, E. Magalhões Ribeiro, A. Pimentel; na primeira fila, J. Parreira, J. Casimiro Carvalho, H. Reis...

O Grito dos Rangers ainda hoje ecoa pelo casarão de O Manjar do Marquês:

Ranger YYYYAAAAAAAAAAA
Ranger YYYYAAAAAAAAAAA
Ranger YYYYAAAAAAAAAAA


Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts sobre o encontro:

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)

29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74: P1710: Tertúlia: Encontro de Pombal (2): Saudades (João Parreira / António Pinto / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1712: Tertúlia: Encontro em Pombal (3): Obrigado e até ao próximo, em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1713: Tertúlia: Encontro em Pombal (4): O nosso bom humor (Tino Neves / Vitor Junqueira)

30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1714: Tertúlia: Encontro em Pombal (5): Perdidos & achados (Carlos Vinhal / Vitor Junqueira)


30 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1716: Tertúlia: Encontro em Pombal (7): Camaradas radicais (Paulo Santiago / Vitor Junqueira)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1717: Tertúlia: Encontro em Pombal (8): Ah, tigres! Ou uma dupla de fadistas (J.L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

1 de Maio de 2007 Guiné 63/74 - P1720: Tertúlia: Encontro em Pombal (9): (Não) me tirem daqui (Sousa de Castro / Vacas de Carvalho / Mexia Alves)

3 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1725: Tertúlia: Encontro em Pombal (10): O nosso bom gigante J. Mexia Alves (Vitor Junqueira)

3 de Maio de 2007 > Guine 63/74 - P1728: Tertúlia: Encontro em Pombal (11): A parábola do porco e da tesoura de barbeiro (David Guimarães / Vitor Junqueira)

5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1733: Tertúlia: Encontro em Pombal (12): Lições para o futuro (Raul Albino)

5 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1734: Tertúlia: Encontro em Pombal (13): Paco Bandeira: Lá longe, onde o sol castiga mais.. (J. L. Vacas de Carvalho / J. Mexia Alves)

6 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1735: Tertúlia: Encontro em Pombal (14): Vídeo do Hugo Moura Ferreira

16 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1762: Tertúlia: Encontro de Pombal (15): Estórias do Caco Baldé (Spínola) (J.L. Vacas de Carvalho, J. Mexia Alves e outros)