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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Recomendo sem qualquer hesitação “A Última Missão”, é um depoimento de grande significado, ficará indubitavelmente na galeria da nossa literatura de guerra.
Foi por respeito ao acervo documental e à qualidade narrativa de alguns dos episódios que tomei a liberdade de repartir por três textos as memórias do coronel Calheiros. Talvez depois de lerem este livro concordem que valeu a pena realçar o que há de significado histórico e de timbre na delicadeza de sentimentos do nobre soldado que arrosta levar por diante esta última missão.

Um abraço do
Mário


Das memórias do Cantanhez até às operações de Guidage
"A Última Missão"

Beja Santos

Não é um romance, não é um compêndio de recordações avulsas de diferentes comissões militares, não é um relatório rigoroso de uma missão precisa que levou um veterano dessas guerras até uma povoação da Guiné onde, 35 anos atrás, ocorrera uma tragédia, um supremo sacrifício, embora a coluna vertebral ou o pretexto da escrita seja, em concreto, uma operação de resgate dos restos mortais de três pára-quedistas e de outros sete do Exército. É um livro onde confluem, a pretexto dessa missão, memórias, recordações de todas essas experiências, vividas durante mais de dez anos, em teatros de operações diferentes; é também um registo intimista para onde convergem as lembranças de gente que se preparou para a tropa especial num determinado contexto, um amplo palco onde se vão movimentar muitos combatentes subtraídos à vida real, gente que teve medos, comportamentos heróicos, tristezas infindas. É, pois, uma obra de muitas memórias que afluem num quase presente (Março de 2008) em que um oficial pára-quedista se integrou numa missão da Liga dos Combatentes que tinha o fito de exumar, em Guidage, dez cadáveres. Levavam um croqui do cemitério militar de Guidage e procuraram levar as pessoas certas para o sucesso da missão. É esta a imensa viagem que nos propõe este belíssimo relato onde se misturam o tempo da guerra vivida e a sua memória, a pretexto de um resgate: “A Última Missão”, de José de Moura Calheiros (Caminhos Romanos, 2010).

Na aparência, tudo começa na manhã do dia 7 de Março de 2008, no aeroporto da Portela de Sacavém, é aqui que se inicia a missão de resgate. Um oficial pára-quedista, juntamente com outros pára-quedistas, dirigem-se a Guidage, onde, em Maio de 1973, ocorreu um fortíssimo assédio do PAIGC e se perderam muitas vidas. O autor recorda as suas vivências em Angola e Moçambique, as tropas com quem combateu, a natureza desses teatros de operações, a preparação dos “páras”, entremeia essas lembranças com os preparativos dessa operação de resgate, o avião aterra em Bissalanca, novas lembranças o assaltam, a começar pela sua antiga unidade, o BCP12. Percorre a Bissau de 2008 e confronta-a com a de 1971. O antes e o depois são-nos dados pelo preto e branco do passado e a fotografia a cores do presente, igualmente a composição dos textos também demarca presente e passado. E assim se parte para Farim, local escolhido para a base de operações, a algumas dezenas de quilómetros de Guidage. A própria Farim traz novas recordações, o autor também passara por aqui noutros tempos. Começa a relacionar-se com a população e apercebe-se do drama dos ex-militares das Forças Armadas Portuguesas que continuam à espera que se reponha a justiça nas pensões que lhe são devidas. Insiste-se na precisão do relato, no intimismo das observações, na serenidade dos juízos proferidos, na vontade em interpretar o que se vê à volta. A propósito da preparação dos três pára-quedistas mortos perto de Guidage, o autor descreve o curso de pára-quedismo, a integração do pára nas diferentes unidades. Passa seguidamente para as operações de baptismo de fogo e encaminha o leitor para uma operação extraordinária em que ele participou e que foi a reocupação do Cantanhez.

É um capítulo do maior interesse, descreve a missão que fora atribuída ao BCP 12, o Cantanhez era considerado pelo PAIGC como território libertado, estava ali estacionado o seu 1.º Corpo de Exército, esta operação foi designada “Grande Empresa”, veio a seguir à “Muralha Quimérica” em que o BCP 12 e outras unidades tentaram impedir a visita de uma delegação da ONU. O coronel Calheiros não poupa elogios à prossecução da “Grande Empresa” e descreve-a minuciosamente. Iniciou-se em Dezembro de 1972 e tinha como finalidade assegurar em continuidade a presença das tropas portuguesas em pontos estratégicos da Península do Cantanhez. É um relato de inegável valor e que clarifica o modo como foram criados aldeamentos e aquartelamentos e estabelecida a comunicação com as populações, obrigadas a viver sob a pressão dos dois lados. No final de Março de 1973, o general Spínola reconhecia que a “Grande Empresa” estava a ter sucesso com a instalação de aquartelamentos, os patrulhamentos constantes por terra e nos rios.

Voltando aos três pára-quedistas falecidos na região de Guidage, descreve a primeira operação dos soldados Loureço e Vitoriano que tinham chegado à Guiné em Fevereiro de 1973. Temos aqui igualmente um registo do maior interesse sobre Sargentoxanque e o seu modo de viver, tal como Caboxanque, Cadique e Cafine, entre outros aquartelamentos instalados no Cantanhez. E de novo salta para Março de 2008, está-se no cumprimento da missão de resgate, tudo começa pela incógnita do local onde fora o cemitério militar de Guidage, todos se sentiam desorientados sobre a sua localização. É dentro deste quadro de peripécias que a mente do coronel Calheiros regressa a Abril de 1973, altura em que várias aeronaves são atingidas por mísseis terra-ar. A referência não é inédita, no próprio blogue toda a situação de Guidage tem vindo a ser tratada por diferentes protagonistas. Depois, o autor recorda-se das conversações de Cap Skirring, que envolveram Senghor e Spínola e que culminaram no fiasco, Marcelo Caetano determinou que cessassem aqui os contactos, nada de integrar o PAIGC na vida da Guiné e muito menos criar uma perspectiva de uma total independência a dez anos.

O autor vem de férias em Abril desse ano, apercebe-se que a opinião pública está praticamente alheia ao que se passava em todos os teatros de operações. E observa: “O único local onde na Metrópole se falava abertamente da guerra do Ultramar, naquela altura e com intensidade, era nas universidades. Constatei esse facto no ISCEF, onde tive que ir poucos dias após a minha chegada. Estive lá duas ou três vezes e em todas elas pude verificar que continuava a haver reuniões de alunos e manifestações contra a guerra no Ultramar. A propaganda contra a guerra, abundantemente exposta nas paredes, bem como o fervor das reuniões que pude observar, ainda eram maiores do que antes de ter embarcado para a Guiné. Mas se nessa ocasião tinha uma posição neutra quanto a elas, olhando-as de forma despreocupada, a minha sensibilidade a este problema havia-se alterado profundamente. Agora sentia-me bastante constrangido ao observá-las pois receava muito as suas consequências. Aliás, já a estava a sentir fortemente na Guiné, com a falta de combatividade, mas sobretudo de preparação das nossas unidades de quadrícula, enquadradas quase a cem por cento por oficiais milicianos”. E estamos chegados aos acontecimentos de Maio e ao supremo sacrifício que se viveu em Guidage. Temos pois as ossadas dos mortos. É um testemunho eloquente, o adeus a Guidage e as cerimónias da entrega dos restos mortais às famílias. É matéria para o último texto desta recensão.

“A Última Missão” é uma peça relevante da nossa literatura de guerra, ponho-a sem hesitar ao lado das memórias do Sargento Talhadas e desse Comando de quem aguardamos mais notícias (Virgínio Briote, para quando?), o Amadu Djaló.

(Continua)
____________

Nota de CV:

Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Fevereiro de 2011:

Queridos amigos,
Desde o Amadu Djaló e do sargento Talhadas que não lia algo tão arrancado da alma. O coronel Calheiros é despretensioso, não veio à escrita comandado pelos veios literários mas por uma missão onde pesou o estrito sentido do dever: devolver às famílias os corpos de quem morreu em combate.
Um livro a juntar a outros muito bons que a guerra transforma em escrita de valor indiscutível.

Um abraço do
Mário


Uma memória admirável, pessoal e intransmissível:
“A Última Missão”

Beja Santos

O coronel José de Moura Calheiros cumpriu três comissões de serviço, conheceu os três teatros de operações de risco (Angola, Moçambique e Guiné, respectivamente). Na Guiné (1971-1973) foi 2.º Comandante e Oficial de Operações do BCP 12, COP 4 e COP 5 e ainda Comandante do COP 3. Assistiu de perto aos acontecimentos dramáticos de Guidage e nunca os esqueceu. “A Última Missão” é um título feliz para uma vastíssima e ordenada colecção de memórias que entremeiam as notas de viagem de um grupo que voltou a Guidage, em Março de 2008, para acompanhar a exumação de três pára-quedistas BCP 12, 35 anos depois do cerco à martirizada Guidage. Temos aqui, em grande angular, e numa sinceridade sem nenhuma encenação uma longa viagem de memórias à guerra que ele viveu em África ao serviço das tropas pára-quedistas (“A Última Missão”, por José de Moura Calheiros, Caminhos Romanos, 2010).

É um livro de memórias tocante por se sentir que se trata de alguém que se expõe completamente, alguém que se olha ao espelho sem flores de retórica ou à procura da última comenda. A missão é trazer os restos mortais dos soldados Vitoriano, Lourenço e Peixoto, mortos em combate na bolanha de Cufeu, tendo ficado sepultados no interior do aquartelamento. Alguém elaborou um croqui com a localização exacta das campas, dado providencial para o resultado desta última missão.

No acto de embarque, nesse dia 7 de Março de 2008, assalta-lhe à memória a primeira aproximação a África, dá-nos o registo da participação dos pára-quedistas e da sua chegada em Maio de 1963, relata o seu baptismo de fogo, entre outras memórias. A caminho de Bissau, fala-nos do programa “Conservação das Memórias”, criado pela Liga dos Combatentes no sentido de concentrar em alguns cemitérios os restos mortais dos nossos combatentes em África. Assegurado o financiamento para a operação de exumação que decorreu sob o impulso da UPP – União Portuguesa de Pára-quedistas, foram estabelecidos contactos com peritos para se formar a indispensável equipa técnica. Ainda a caminho de Bissau, o coronel Calheiros recorda a sua missão no Norte de Moçambique, entre 1967 e 1969, repertoria momentos de perigo, o sofrimento físico. Refere algo que vi em dois momentos de tormenta, o desespero da sede, militares a molhar os lábios com urina. Dá-nos a descrição de várias operações e é assim que a equipa de missão chega a Bissalanca, onde ficou a aguardar a chegada da equipa técnica.

Dá-nos um registo da sua ida a Bissau e recorda-se da Bissau de 1971, compara o estado da cidade e o viver das populações. De seguida começam os preparativos para a deslocação, a escolha da base para o cumprimento da missão em Guidage. Ponderadas as hipóteses (permanecer em Guidage todo o tempo, aceder a Guidage a partir do Senegal utilizando um hotel de caça próximo ou construir uma base em Farim) optou-se por Farim onde já se tinha alugado duas casas. De novo assistimos ao revolteio da memória, aqueles preparativos do deslocamento para Farim lembraram-lhe as preocupações com as do tempo de guerra em que o kit-bag (saco de bagagem utilizado pelos pára-quedistas) era o albergue com que se podia contar durante o ciclo operacional, a casa ambulante. A coluna segue para Farim, o autor lembra outras colunas, desde a via marítima até à deslocação em Berliet e Unimog, com todas as peripécias imagináveis. Tudo é comparável, buscam-se analogias, pontos de contacto entre o passado da outra missão e esta, apresentada como a derradeira. É um dos aspectos mais atractivos desta prosa eficiente, conduzida pelo olhar, sem sinuosidades nem piruetas líricas. É o que é, o que a recordação consente, como se vivia nas instalações do BCP 12 e que agora está à disposição da missão e assim se vai progredir até Farim, pelo caminho recordam-se minas e emboscadas, a travessia nos rios, assim se chega ao cais de Farim, na margem esquerda do rio Cacheu. Está constituída a equipa, militares, um jornalista e vários peritos indispensáveis para a exumação. A casa de Farim vai detonar memórias sobre o modo de viver dos pára-quedistas, há a nostalgia da base de operações e o repouso físico e psicológico que permitia, ali se jogava às cartas, escrevia os aerogramas, mas também se jogava à bola e até se praticavam os jogos tradicionais que se trazia das aldeias.

Iniciam-se os contactos com agentes de Farim, surgem antigos militares que combateram à sombra da bandeira portuguesa e antigos militares do PAIGC. São relatos humanos, muito humanos, quem escreve está aberto a ouvir e a perguntar, é alguém que toma notas do movimento das ruas e dos usos e costumes. Esse alguém recorda a sua chegada a Bissau, em 1971, a memória põe-no de novo à varanda e então passam em desfile os jovens combatentes, desde os jovens contestatários àqueles que trazem curiosidade e o sentido do dever. Será porventura um dos quadros de memórias mais preciosos e singelos que o autor nos oferece, esse e o das gentes de Farim, desvelando, a propósito, o drama (talvez insolúvel) das pensões de sangue, de invalidez e de reforma daqueles guineenses que combateram ao lado dos portugueses, acreditando ser portugueses. Em torno deste drama (que eu próprio verifiquei em 1991 e 2010) há propostas para desbloquear a situação, todas elas são altamente sensíveis e cheias de riscos se não forem praticadas com o máximo de equanimidade. No seguimento desta dura prova que é mostrar a chaga destes antigos camaradas que continuam a não entender a perda de direitos, o coronel Calheiros debruça-se sobre as famílias dos militares, o seu sofrimento à distância e aqui detém-se sobre aqueles três jovens ainda sepultados em Guidage.

É um relato que impressiona pela ausência de jactância, pelo ânimo da camaradagem e pela franqueza do desnudamento da alma. Já estamos a caminho de Guidage. A última missão, na sua plena acepção, vai agora começar.

(continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7797: Notas de leitura (203) Estudos Sobre o Tifo Murino na Guiné Portuguesa (Mário Beja Santos)

sábado, 27 de novembro de 2010

Guiné 63/74 - P7345: (Ex)citações (113): Para mim, os Páras são os Páras. Vou gostar de ler as histórias d' A Última Missão, de Moura Calheiros (Manuel Amaro)


1. Comentário,  com data de 24 do corrente,  do nosso camarada Manuel Amaro   ao poste P7323


Não vou estar na apresentação [do livro do Cor Pára Moura Calheiros], porque estarei a mais de 300 kms. do local. Tenho o maior respeito e admiração pela Família Pára-quedista.


(i) Em 1970, em Aldeia Formosa, fui chamado a dar uma ajuda às nossas Camaradas Enfermeiras, pois tinham um avião cheio de feridos resultantes de uma operação mal sucedida, no Corredor de Guileje.


(ii) Depois do 16 de Março de 1974 ia sendo informado por um Cap Pára, hoje Major General, sobre o andamento do Movimento e da sua missão quando chegasse o dia certo.


(iii) No dia 11 de Março de 1975, estava ali mesmo, no edificio do Aeroporto que fica mais perto do RALIS.

(iv) No 25 de Novembro de 1975, acompanhei [os acontecimentos] pela Imprensa, Rádio e TV.


Mas, conhecendo as instituições, como conheço, para mim, os PÁRAS são os PÁRAS. E vou gostar de ler as histórias d´A Última Missão.


Manuel Amaro
(ex-Fur Mil Enf da CCAÇ 2615/BCAÇ 2892,
 Nhacra, Aldeia Formosa e Nhala,
1969/1971) (*)

Foto: Manuel Amaro, de pé, ao centro,  em Monte Real, no V Encontro Nacional do Nosso Blogue, 26 de Junho de 2010,  ladeado conversando como o Paulo Santiago (à esquerda) e o Victor Tavares (à direita) (**)

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Notas de L.G.:

(*) Último poste desta série > 22 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7319: (Ex)citações (112): O Simples e o Erudito (na Tabanca Grande) (José Brás)


(**) (2) Vd. postes do Victor Tavares onde se evocam os dias trágicos, para a CCP 121, de Guidaje (Op Mamute Doido, 23-29 de Maio de 1973):



 25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto


9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Guiné 63/74 - P6733: Parabéns a você (132): Recordando outros aniversários (António Dâmaso)


1. Mensagem de António Dâmaso*, Sargento-Mor da FAP na situação de Reforma Extraordinária, com data de 12 de Julho de 2010:

Camarada Vinhal
Agradeço do coração as tuas palavras, também te desejo as maiores felicidades e sobretudo muita saúde.

Agora comprei uma "Tabanca nova" aqui para as bandas de Azeitão.

Um grande abraço
A Dâmaso


Aniversário

Já tínhamos entrado no mês de Julho, verifiquei que a lista dos aniversariantes tinha o dia 12 vago.

Lembrei-me de mandar para o Blogue a minha data de nascimento [12 de Julho de 1940], só para ver o que os meus amigos e camaradas Gisela e Miguel Pessoa me iam arranjar, fiquei com um palpite mas confesso que superaram as expectativas.

Nunca fui ligado a aniversários, mas 70 anos só se fazem uma vez, apesar de todas as mazelas e maleitas, não sinto o peso dos mesmos.

Agora que estava a pensar nos meus aniversários, vieram-me à memória alguns:

17.º Aniversário [, 1957] - Andava a trabalhar com o meu pai e irmãos, desenvolvia o trabalho de dois e tinha de palmilhar duas léguas de ida e volta para o trabalho todos os dias, tinha tido a gripe Asiática [, pandemia de 1957,], estava fraco lembrei-me de pela primeira vez fazer gazeta.

29.º Aniversario  [, 1969] - Estava na Guiné na primeira operação que fiz no Gabú, ficou-me marcado pela negativa porque no final do dia ao chegar a Bafatá, assisti à queda do Heli-canhão e à morte dos seus tripulantes.

30.º Aniversário [, 1970] - Estava em Moçambique no Cabo Delgado na Operação Nó Górdio.

33.º Aniversário [, 1973] - Estava na Guiné no inferno de Gadamael Porto.

70.º Aniversário [, 2010]- Este também me vai ficar na memória mas por melhores motivos.

Aos Editores do Blogue e todos que se lembraram de me dirigir uma palavra de conforto, o meu muito obrigado e desejo tudo de melhor para eles.

Seguem algumas fotos alusivas às datas, como alguém disse, palavras para quê.

17 anos, em 1957, o ano da pandemia de gripe asiática

29.º Aniversário na Guiné,  Gabú, em 1969

30.º Aniversário Moçambique na Operação Nó Górdio (12-07-70)

33.º Aniversário na Guiné em Gadamael Porto (12-07-73)

E para fornecer mais alguns elementos ao Casal Pessoa, vai uma foto do meu último salto na Guiné, fiz 30 segundos de queda livre e fui largado pelo Cap Pára João Costa Cordeiro, segundos antes do seu acidente fatal em 1974.

Salto para 30 segundos de queda-livre

Um abraço
A Dâmaso
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6719: Parabéns a você (129): António Dâmaso, Sargento-Mor da FAP (Editores)

Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6724: Parabéns a você (131): 13JUL2010 - Rogério Ferreira, ex-Fur Mil da CCAÇ 2658/BCAÇ 2905 (Editores)

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6264: Convívios (222): Encontro Nacional de Pára-quedistas, em Cantanhede, dia 3 de Julho de 2010


Encontro Nacional de Pára-quedistas
3 de Julho de 2010


Caro/a Camarada
No próximo dia 3 de Julho de 2010, vai-se realizar em Cantanhede um Encontro Nacional de Pára-quedistas.
Estão convidados todos os Pára-quedistas, respectivos familiares e amigos, para este encontro de confraternização e amizade entre a comunidade pára-quedista.


Sejam todos bem-vindos!


O programa é o seguinte:


09.00 horas – Ponto de Encontro junto ao Monumento dos Veteranos de Guerra do Centro (Junto ao Tribunal Judicial de Cantanhede)
Coordenadas: 40º20’49.53’’N / 8º35’22.04’’W


09.30 horas – Missa na Capela de S. Mateus (junto ao Monumento dos Veteranos), seguida de deposição de Coroa de Flores


13.00 horas – Almoço na Quinta do Brijal (Braganção, Cadima)
Coordenadas: 40º21’07.06’’N / 8º40’46.59’’W


15.30 horas – Passagem dos Caças F16 da Força Aérea Portuguesa


16.00 horas – Saltos de Pára-quedistas na Academia Municipal de Golfe de Cantanhede (Complexo Desportivo de Cantanhede, Zona Industrial de Cantanhede)
Coordenadas GPS: 40º 21' 46"N / 8º 36' 14"W

Para o almoço teremos entradas variadas, Sopa Gandareza, Bacalhau no Forno à Amigo, Leitão à Bairrada, Doces, Sobremesas, Bebidas, cafés e digestivos.


Informações adicionais:


* Para que tudo corra conforme previsto é essencial o cumprimento do horário, que será seguido impreterivelmente, pelo que se solicita pontualidade a todos os participantes. Para os camaradas que venham de mais longe e que cheguem mais tarde, sigam directamente para a Quinta do Brijal, caso cheguem depois das 11h30.


* Todos os pára-quedistas devem trazer a sua Boina Verde.

* Podem trazer os familiares, acompanhantes e amigos que pretenderem, desde que façam referência a eles, e os identifiquem quando fizerem a transferência bancária.
As inscrições só serão consideradas após pré-pagamento por transferência bancária:
Nº Conta: 40235487024 da CCAMCM
Nome Cliente: Licínio Espírito Santo dos Santos
Banco: Crédito Agrícola Mútuo de Cantanhede e Mira
NIB: 004530204023548702446
Valor a transferir: €27,00 para adultos e €13,50 para crianças dos 6 aos 10 anos. Até aos 6 será grátis.
Após terem efectuado o pagamento devem confirmar através do mail paraquedistascantanhede@hotmail.com que efectuaram o pagamento.
Só assim poderemos contabilizar dados e participantes.
É importante referirem o nome do titular da conta de onde é feita a transferência, para que se possa facilmente identificar a proveniência.
Data limite para inscrições/pagamento: 20 Junho de 2010

INSCRIÇÕES para:
paraquedistascantanhede@hotmail.com

Carlos Neto – 918823991
Joaquim Encarnação – 933604460
Licínio Santos – 965842566
Carlos Grosso – 933616525
Tino Reis – 919165533

Comissão Organizadora
Pára-quedistas de Cantanhede
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Nota de M.R.:

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Guiné 63/74 - P6189: Tabanca Grande (214): Sílvio Fagundes de Abrantes, de alcunha o Hoss, CCP 121 / BCP 12, 1970


Guiné > Algures > CCP 121 > BCP 12 > 1970 (?) > Um camarada açoriano do Hoss, num momento de pausa na guerra e com sinais de grande sofrimento estampado no rosto. A seu lado, no chão, uma MG 42, uma poderosa arma nas mãos dos páras...


Foto: © Sílvio Abrantes (2010). Direitos reservados



1.

1. Já aqui falámos do nosso camarada Sílvio Fagundes de Abrantes, conhecido entre os páras e outros camaradas da Guiné como o Hoss. Ele já consta da lista dos membros da nossa Tabanca Grande, mas certamente por lapso nosso ainda não foi apresentado formalmente aos nossos leitores. Em 21/2/2010, ele apresentara-se nestes termos:

Sou o Sílvio Fagundes de Abrantes, o HOSS.


Caro amigo Luís Graça, junto seguem as duas fotos que o amigo me pediu, uma do tempo de tropa e outra actual.


Um abraço, Hoss

Mas já antes tínhamos publicado, dele, o poste P5668, em que veio em defesa do seu "amigo Oitenta" bem como o poste P5580 (*).

Na altura esvrevemos que a alcunha Hoss tenha sido atribuída ao Sílvio por analogia com a figura do Hoss Cartwrigh, da popular série televisiva norte-americana Bonanza...(Quem, da nossa geração, não era fã da família justiceira mas bonacheirona do Faroeste, o pai Ben, e os filhos Adam, Hoss e Little Joe ?... Comecei a vê-los desde 1959, se não me engano, na RTP)...

O camarada Sílvio já leu, compreendeu e aceitou as nossas regras de bom senso e bom gosto (por exemplo, não usamos o termo "preto", pela sua conotação racista...) e manifesta o seu desejo de fazer parte desta já grande e fraternal comunidade de amigos e camaradas da Guiné.

Ele também já sabe que na nossa Tabanca Grande não cultivamos ódio nem raiva por ninguém, incluindo os antigos militares da PM e os homens (e mulheres) que nos combatíam (os guerrilheiros do PAIGC)...

No nosso blogue, simplesmente contamos histórias, partilhamos memórias e até afectos. De imediato o Sílvio, que é natural de Águeda, se mostrou com disposição de nos contar histórias do seu tempo de militar da CCP 121 / BCP 12. Explicita ou implicitamente, o seu padrinho é Paulo Santiago, seu amigo e vizinho, foi a ele que pedimos que apadrinhasse a entrada do Hoss no nosso blogue. O Sílvio é, pois, bem vindo. Já cumpriu as nossas regras formais e, além disso, já nos contou algumas histórias. Aqui vai a primeira, que achei deliciosa, e que passou despercebida, no meio dos comentários a um poste P5568(*).

O Sílvio tanmbém já nos explicou que "era soldado enfermeiro, nunca fui promovido a cabo porque num dia fui duas vezes à missa e tramei-me. Eu era apontador de MG e um colega meu trazia a bolsa de enfermagem"... Da próxima vez, vamos publicar o relato da tremenda emboscada que ele apanhou em 16 de Junho de 1970, na estrada Bissau-Teixeira Pinto, a 3 km do Pelundo. LG


2. O MUNDO É PEQUENO
por Sílvio Abrantes (Hoss)

Na minha terra realiza-se uma festa que é das maiores do distrito da Aveiro. Andava eu na festa e a certa altura com um grupo da amigos fomos beber a uma tasca. Quando lá chegámos estava um negro a ameaçar tudo e todos. A minha caixa dá meia volta e digo ao negro:
- Aqui não fazes barulho, se quiseres fazer barulho vai para a tua terra, aqui nem penses, por este dedo já passaram muitos cães e nunca ninguém foi preso por matar um cão. Desaparece e já.
O pobre não teve outro remédio. Diga-se que era um homem de 1,90 m de altura e com o corpo a condizer. Na quarta-feira a seguir volto à festa e o nosso homem viu-me e veio ter comigo. Diz ele num perfeito português:
- No domingo estavas bravo.

Metemos conversa e eu pergunto de onde era:
- Da Guiné diz ele.

Eu disse-lhe que estive lá como militar.
- E como vieste aqui parar?

Diz ele:
- Eu era turra, como vocês dizem e entrei numa conspiração para matar o Nino Vieira, só que falhou e tive de fugir e vim para Portugal.

Levanta as calças de uma das pernas e diz:
- Vês esta perna esfacelada, foi o filho da p… do Hoss que me fez esta serviço.

Eu pergunto:
- Conheces o Hoss? - e ele diz que sim.

Então pego nele e levo-a para minha casa, onde lhe mostro o meu algum de fotos da Guiné e ele reconhece o Hoss nas fotos. Eu pergunto:
- Onde é que está o Hoss? - E ele continuava a apontar para as fotos, não chegava onde eu queria, então viro a primeira página do álbum onde há uma foto minha de meio corpo, pergunto:
- É este?
- Tu és o Hoss? - Eu digo que sim. Imaginem como o meu amigo Henrique ficou. Esteve uns minutos em silêncio e depois diz:
- Leva-me a casa.

Nunca mais disse nada. Deixei-o em casa. Passados uns meses, veio ter comigo para eu ir a uma festa a casa dele onde estava gente grande da Guiné que está a viver em Lisboa. Lá fui. Quando chegámos à porta de entrada da sala, ele apresentou-me, fez-se um silêncio sepulcral. Aquele gente ficou atónita em ver ao vivo o Hoss. E assim fiquei amigo do ex-turra, Henrique

Como o mundo é pequeno.
____________

Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5902: FAP (48): A guerra Páras-Fuzos, vista por um fuzileiro (Rui Ferrão)

1. Comentários ao poste P5580 (*), feitos em 7, 8 e 10 do corrente, pelo nosso leitor Rui Ferrão, que depreendemos ter estado na Marinha, possivelmente, num Destacamento de Fuzileiros Especiais (DFE), entre 1967 e 1969, sendo portanto contemporâneo dos tristes acontecimentos de Bissau, em 3 de Junho de 1968:




(i) Queria fazer um pequeno reparo àquilo que foi dito em relação aos confrontos entre Páras-Fuzos. Os Fuzos não emboscaram os Páras como aqui é referido no texto do sr. coronel Mira Vaz e noutros que já li.

O que aconteceu foi que o oficial de dia ao quartel Fuzo, nesse mesmo dia, já sobre a madrugada, mandou sair a ronda para verificar se as coisas já estavam mais calmas. A dita ronda ao passar junto aos edíficios em obras teria ouvido uma voz gritar Estes lerpam já todos!, e vai daí um dos elementos da ronda dirige a arma para aquela zona e dispara para o escuro, não se apercebendo de qualquer vulto... Só depois se aperceberam do lamentável acidente.

A outra morte teria sido horas antes à porta do Estádio, também em circunstâncias identicas; há um Fuzo que, ao descer do jipe da ronda, cai e deixa cair a arma, entretanto está ali por perto um Pára e pega na arma, o cabo da ronda naquela confusão (só quem lá estava é que consegue avaliar) vê o individuo com a arma nas mãos, não sei o que lhe passou pela cabeça e atirou segundo informações, para o chão, só que o tiro ressaltou e foi atingir o Pára.

Eu estava lá no início do confronto, mas depois encontrei um filho da minha terra, olhámos um para o outro e interrogámo-nos:
- O que é que nós estamos aqui a fazer? - e saímos para fora.

Foi assim que os acontecimentos me foram relatados por companheiros Fuzos, visto naquela altura estar já na companhia do filho da terra a beber uma cerveja com mais alguns Páras. Estou de acordo que houve negligência dos superiores dos dois lados, julgo que teriam evitado a morte destes dois jovens,camaradas de armas.

Também não estou a ver os Fuzos a montar uma emboscada daquela maneira tão cruel com já foi escrito nalguns locais do blogue. Como disse, essa parte não falo por aquilo que me contaram, logo após os acontecimentos. Foi lamentável e vergonhoso para as nossas tropas.

Um abraço. Sou Rui Ferrão


(ii) Ainda os confrontos entre Pára-Fuzos. Alguém comentou algures no blogue que, havia uma grande rivalidade entre Páras-Fuzos, mas não é verdade. Enquanto eu estive na Guiné (1967-69), para além dos acontecimentos que todos conhecemos, sanados que eles foram, voltou tudo á normalidade, embora tivesse havido um período em que não havia qualquer convívio entre eles, mas depois tudo voltou ao normal como já tinha citado.

Quem passou pela Guiné e teve a oportunidade de privar com a malta da Marinha, estou convicto de que deles tem uma boa impressão. Senão vejamos: Quem nunca foi a bordo de uma lancha, ou de um navio, ou do quartel Fuzo comer um ou dois jantaritos desenrascado por um filho da terra Fuzo?

Eu próprio dispensei a minha cama por diversas vezes a camaradas Páras. Caldeiradas de cabritos "comprados" aos nativos pelos Fuzos e caldeirados e comidos (no quartel Fuzo) entre Pára-Fuzos, isto tudo depois dos confrontos, será isto será rivalidade?

O pessoal da Marinha nunca teve rivalidades com ninguém, inclusive, aconteceu por vezes safar militares do exército com problemas com a PM.

Um abraço, cordialmente sou Rui Ferrão. Voltarei ao assunto.


(iii) Voltando ainda ao incidente Páras-Fusos, quereria dizer ainda o seguinte: O acontecimento criou grande consternação no seio Fuso, nas horas que se sucederam todos se interrogavam:
- Como é que foi possível acontecer uma tragédia desta dimensão?

Todos nós lamentamos. Avançamos: um certo dia andando com alguns colegas Fuzos a passear em Bissau na zona do Pilão já depois da meia noite,(era perigoso andar naquela zona aquela hora da noite) encontrámos um grupo de Páras já com uns copos a mais, onde vinha um com um golpe profundo na cabeça e a sangrar bastante, não sei o que se tinha passado, sei apenas que estava a precisar de ajuda, pedimos aos militares da PM que o levassem ao Hospital, responderam que o jipe não era nenhuma ambulância, entretanto passa a ronda dos Fuzos, apercebendo-se da situação pegaram no ferido e nos restantes camaradas e levaram-nos a Bissalanca, visto que aquela hora já não tinham transporte para lá e ainda eram cerca de 12 Km.

Como estão a ver, meus amigos, não havia rivalidade entre estas duas Forças. Sobre a quantidade de companhias e destacamentos a prestar serviço na Guiné, citadas pelo camarada Jorge Santos, também não está correcta a quantidade nem os seus números. Havia apenas duas companhias e quatro destacamentos.

Um abraço Rui Ferrão

2. Comentário de L.G.:

Obrigado ao Rui pelos esclarecimentos. Fica convidado a ingressar na nossa Tabanca Grande. A representação da Marinha continua a ser escassa. Para não falar dos fuzileiros (**).

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Notas de L.G.:

(*) 2 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

(**) Encontrei, na preciosa página do nosso camarada Jorge Santos,  a indicação de uma Associação de Fuzileiros:

Rua Miguel Paes, nº 25 - 2830-356 Barreiro
Tel.: +351 212 060 079 / Fax : +351 210 884 752
Email: afuzileiros@netvisao.pt

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5802: Álbum fotográfico do Júlio Tavares, Sold Cond Auto, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Parte II) (Marisa Tavares / Victor Condeço)

1. Continuação da publicação da mensagem do Victor Condeço, ex-Fur Mil Mec Armamento,  CCS/BART 1913 (Catió, 1967/69), membro da nossa Tabanca Grande, residente em Entroncamento [ foto à esquerda]:

E agora os comentários às fotos que seleccionei  [do álbum fotográfico da Marisa Tavares, filha do nosso camarada Júlio Tavares, 1945-1986, mais conhecido como o Madragoa: era Sold Cond Auto Rodas, estando-lhe distribuída uma GMC, que ia habitualmente à frente, nas colunas logísticas; foi para o Canadá, em 1975, como emigrante, lá nasceu a sua filha Marisa, em 1978; faleceu em 1986, devido a doença prolongada]: 

- A foto do grupo com o estandarte [, à direita,], era o estandarte particular (ronco) do pessoal da secção de transportes Os Desastrados e que tinham por divisa "SOB O PERIGO RODANDO". 

- As fotos (8 ao todo,  já minhas conhecidas), dos prisioneiros do PAIGC, das armas, do helicóptero, do C47 Dakota e dos T6, foram tiradas em Catió, em 25 de Fevereiro de 1968,  por ocasião da Operação Ciclone II que o BCP12/CCP121 e CCP122 realizaram a Cafal/Cafine, tendo por base de operação a pista de Catió e terrenos adjacentes a sul da mesma pista.

Nota, esta operação é profusamente descrita e documentada no livro da colecção Batalhas de Portugal, Guiné 1968 e 1973 Soldados uma vez soldados sempre!, da autoria  do Coronel Pára  Ref Nuno Mira Vaz. 


  
  

  


- Nas fotos da GMC que já foram publicadas , considerando o à-vontade do pessoal, serão com certeza numa qualquer estrada próximo de Catió, Areia, Sua, Quintáfine, Ganjola, Priame, Quibil, Ilhéu de Infanda, o Mário Fitas que me perdoe, mas não me inclino para a estrada de Cufar, a não ser numa zona muito próximo de Priame, que o pessoal não era louco para se aventurar a maior distância.

 








- A GMC carregada de lenha [ acima, à esquerda] está  a fazer descarga na zona da cozinha, nas traseiras do refeitório geral. A viatura Matador [, foto acima, à direita, ] pertencia à companhia de Cufar, mas foi fotografada em Catió onde terá vindo inserida numa coluna.  

- A LDG 101 pode muito bem ter sido (e com toda a certeza foi) fotografada junto do cais de madeira do Porto Exterior de Catió, no rio Cagopere, único sítio onde era costume a abicagem destas lanchas quando se deslocavam a Catió. 

 (Continua)

Fotos: © Marisa Tavares (2010). Direitos reservados

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Nota de L.G.: (*) Vd. postes anteriores:



1 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5742: Em busca de ... (115): Camaradas de meu pai, Júlio Marques Tavares, CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) (Marisa Tavares)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Guiné 63/74 - P5546: FAP (41): Quem foi realmente o Cabo 80, 1º Cabo Pára-quedista nº 85/RD ? (Pedro Castanheira)


1. Texto de Pedro Castanheira, ex-pára-quedista (*):

Assunto - O famigerado Cabo 80

O Ten Spears,  destemido e bravo oficial pára-quedista norte-americano, distribui cigarros aos 6 soldados alemães, feitos prisioneiros ao 2º dia do desembarque na Normandia. Após ter acendido os cigarros, com toda a lisura, a cada um deles, pega na sua metralhadora, e num impulso de loucura, descarrega o carregador sobre os prisioneiros alemães.

Esta era mais uma história, que circulava entre os homens da companhia Easy, pertencentes à 101ª Divisão de Paraquedistas, criando entre os soldados um misto de temor e admiração pelas suas façanhas, quase no fim da guerra na Europa, já com Spears promovido a capitão.

Lipton, expriente psar da companhia, interroga-o sobre essas "histórias"que se contam sobre ele. Spears sorri, conhecendo de cor todas essas histórias, maior parte delas inventadas, e diz a Lipton:
- Há 2000 anos atrás, havia centuriões à conversa sobre Tercius a dizer que ele decapitara prisioneiros cartagineses. Nunca ouviram Tercius negar as histórias, talvez porque Tercius queria que pensassem que ele era o pior e mais malvado guerreiro de toda a legião romana.

Li neste blogue há algum tempo, excertos do livro do senhor sargento pára Carmo Vicente, em que se refería a "conhecidos arruaceiros, como o famigerado 80", tendo logo aparecido quem defendesse a sua honra e afirmado que era enfermeiro, facto que eu não descionhecia (**).

Já eu nos anos 90, quando cumpria o meu serviço militar nos paraquedistas, ouvi muitas vezes da boca dos veteranos da Guiné, a prestar serviço nos páras, referências ao cabo 80, figura mítica dos páras na Guiné, conflituoso, lixado para a porrada, que partia os bares todos em Bissau, homem que enfrentava tudo e todos... Enfim, também ainda se ouvem sussurros sobre o 80 no dia de unidade dos paraquedistas, entre os páras que prestaram serviço na Guiné.

Mas, o que é feito da nossa personagem? Segundo consta, desapareceu após o fim da sua comissão. Ins dizem que já morreu, mas ouvi também dizer que fugiu do país, após ter morto um polícia, por altura do 25 de Abril... Atenção, são versões não confirmadas.

A certa altura,  estando eu à conversa com um pára de uma associação de paraquedistas, também ele a par da fama do cabo 80, revelou-me o seu verdadeiro nome. Após consulta minuciosa ao livro do BCP12, qual não é o meu espanto, ao ver o famigerado cabo 80 assinalado várias vezes, com reconhecimento por bravura em combate.. . E mais!, na parte das condecorações, lá está o "arruaceiro" Primeiro Cabo Paraquedist nº 85/RD (...) 

MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 2ª CLASSE 

e novamente (...) .MEDALHA DA CRUZ DE GUERRA DE 3ª CLASSE.

Não sei, quem era o comandante de companhia, deste nosso cabo paraquedista (Cap Mira Vaz? Cap Terras Marques? Cap Avelar de Sousa? entre outros). Penso que era interessante saber, da parte dos elementos da sua companhia, quem era realmente o cabo 80. Eu, humildemente, e sem querer ofender, penso que era mais um soldado que queria honrar a sua pátria, e que tinha a sua maneira de o fazer.

Um grande abraço

Pedro Castanheira

[Revisão / fixação de texto: L.G.]
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Notas de L.G.:

(*)  Vd. poste de 22 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5518: Cancioneiro da CCP 122 / BCP 12 (1972/74) , a Gloriosa (Pedro Castanheiro)

(**) Sobre o Cabo 80 e os tristes acontecimentos de Bissau, em Janeiro de 1968, vd. postes de:

10 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1512: Estórias de Bissau (11): Paras, Fuzos e...Parafuzos (Tino Neves)

(..) A estória é-me contada em 3ª ou 4ª mão, foi-me contada por uns amigos pára-quedistas, portanto é a sua versão (deles, pára-quedistas).

Então é assim: Não tenho a data do acontecimento, mas julgo ter sido em 1968. Houve um jogo de futebol de onze no campo do Benfica. Não me recordo, ao certo, do nome completo do clube de futebol. Sei que era de Bissau, só me lembro que era do Benfica.

Os contentores eram obviamente os Fuzileiros contra os Pára-quedistas, o jogo estava a correr muito bem, mas a um dado momento gerou-se uma troca de mimos, na assistência, entre as claques que chegaram mesmo a vias de facto (ou seja pancadaria).

Os Fuzileiros, estando relativamente perto do aquartelamento deles, correram a armarem-se, ou pedir reforços, não sei, mas os Pára-quedistas aperceberam-se disso e foram em seu encalço. A praça que estava de guarda na porta de armas do quartel, apercebendo-se do que se estava a passar, chamou o Cabo da Guarda e perguntou-lhe o que deveria fazer neste caso. Foi-lhe dada ordem de disparar, o que fez, originando a morte de um Pára-quedista.

A partir daí, qualquer Fuzileiro não se podia relacionar com Pár-aquedistas, e vice-versa, pelo que acontecia muitas vezes pancadaria entre ambos e, quando acontecia, cada um ia chamar o seu Camarada protector. O Protector dos Fuzileiros era um Cabo (julgo eu) chamado Lages, e da parte dos Pára-quedistas também havia um Cabo, Enfermeiro, conhecido por Oitenta.

Em café, esplanada ou qualquer espaço onde houvesse confrontos entre Fuzileiros e Pára-.quedistas com os seus respectivos Protectores, não restava nada que ficasse de pé. Quando os dois Cabos se encontravam no mesmo passeio, um deles tinha que mudar, porque ambos não se podiam cruzar.

Uma dada altura os Fuzileiros resolveram vingarem-se do Cabo 80, e sabendo que o 80, quase todos os dias antes de se recolher no quartel de Bissalanca, ia visitar a sua bajuda, que ficava relativamente perto, mas tinha que passar por alguns sítios isolados, resolveram fazer-lhe uma espera.

No dia combinado, o Cabo 80 quando já estava de regresso ao quartel, ouviu um cão a ladrar e, como o seguro morreu velho e o acautelado ainda é vivo, ele agarrou num pilão, não viesse o cão morder-lhe, mas para grande espanto dele, não foi o cão que apareceu, mas sim sete ou oito Fuzileiros armados de facas de ponte e mola.

Ele percebendo-se que também estava armado (e bem armado) com um grande pilão na mão, foi só despachar os Fuzileiros e, quando chegou ao quartel, telefonou para o Hospital para que os fossem buscar. (...).

(..) Junto fotos - eu com o meu amigo de longa data, desde a Metrópoloe, o Rodrigues, mais o Hoss, no aquartelamento de Bissalanca (Companhia Caçadores Paraquedistas nº. 122) em 1970. O Hoss assim como o Oitenta, ambos Cabos Enfermeiros, foram bastante condecorados. O Oitenta não cheguei a conhecer mas conheci (vi várias vezes em Bissau) também um grande Homem e combatente que na altura também diziam que ele tinha a cabeça a prémio. Estou a falar do Capitão na altura, hoje Coronel na reforma, Terra Marques (...).

Vd. também:

11 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1515: Antologia (58): A batalha de Bissau em Janeiro de 1968: boinas verdes contra boinas negras... Saldo: 2 mortos (Carmo Vicente)

(...) Extractos de VICENTE, Carmo - Gadamael: memórias da guerra colonial. 2ª ed. Lisboa: Caso. 1985. pp. 25-30. Selecção e digitalização de Jorge Santos. Subtítulos do editor do blogue. (...)

13 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1522: Bissau em estado de sítio por causa dos graves incidentes entre paraquedistas e fuzileiros em Janeiro de 1968 (Álvaro Mendonça)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)

1. Primeira parte de um trabalho relacionado com a actividade do PAIGC na zona de Guidaje em Abril/Maio de 1973, enviado pelo nosso camarada José Manuel Pechorro, ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73, em mensagem do dia 29 de Setembro de 2009:


O ASSÉDIO DO IN A GUIDAGE

De Abril a 09 de Maio de 1973

Parte I


A partir de Março 1973, o PAIGC na região fronteiriça no Senegal, Cumbamory, a cerca de 5kms, armazenava grande quantidade de diverso material bélico. Algum considerado de elevado nível, pensando-se que o seu destino seria o Oio, no interior da nossa Guiné.

De surpresa, a 03 de Abril (Terça-feira), a FAP cerca das 5 horas da madrugada bombardeou o Cumbamori, causando 5 mortos e vários feridos. Ouvimos e sentimos as explosões. O IN não chegou a utilizar os mísseis que dizia possuir na base. Os aviões passaram pertinho do nosso quartel, contra o vento e a baixa altitude, quase roçando as árvores.


O DIA DOS MÍSSEIS STRELA

Passados três dias, somos atacados em Guidage.
Levantei-me cedo, no dia 6 de Abril de 1973, uma Sexta-feira.
A manhã estava resplandecente, com o Sol a incidir já quente. Os pássaros faziam-se notar. Os lagartos esverdeados apareciam nos troncos das árvores. A população mostrava-se já activa.

As praças ao serviço do BENG 447, adidas à CCaç 19, laborando.
Os carpinteiros tinham iniciado a cobertura das casas com chapa de zinco na tabanca, ouvindo-se martelar. O serralheiro comandava o levantamento e colocação de um depósito em chapa de 5.000 a 10.000 litros, ao lado do motor-gerador, destinado a abastecer o quartel e a população de água.
Defronte da Secretaria, do lado da povoação, observava o esforço de quem trabalhava.

Obs: - O fornecedor da madeira para o reordenamento da tabanca era Carlos Vieira, irmão do guerrilheiro Nino Vieira. Com serração em Binta

Pelas 07,45 horas, o sobressalto! Soam com uma nitidez assustadora as armas automáticas do IN dentro do TN. Muito perto do arame, entre as árvores mais próximas e camuflados no capim, em terreno plano. De local inesperado, de fronte da caserna do 1.º Pelotão e da tabanca, do lado de Fajonquito.

Avistei mulheres e bajudas no carreiro, iam ou vinham da nascente, onde tomam banho e lavam a roupa na bolanha, fora do arame farpado. Muito próximas, atiraram com as trouxas ao chão e fugiram da zona perigosa.

Não recordo o sítio donde copiei esta foto. Com a devida vénia

Alcancei o Posto de Rádio, num raio, que tem defronte os bidons cheios de terra, sobrepostos. A porta estava fechada! Tive dificuldade em abri-la.
Todos reagindo em movimento louco para os abrigos e valas; saltam e deitam-se alguns ao chão, havendo quem choque entre si. Outros rastejam para detrás dos bidons e a parede, e das grossas árvores que estão em frente do edifício do Comando. Começam os rebentamentos dos RPG`s, os estilhaços e balas varrem.
Consegui entrar. Pediu-se apoio aéreo, directamente à BA12 em Bissalanca, mas os Fiat`s não apareceram. Mais tarde pensei que a acção se destinava a atraí-los!

O IN atacou do lado direito. Avista-se a caserna do 1.º Pelotão. Entre esta e o edifício do Comando, a Enfermaria.
Foto cedida pelo 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro, alentejano.


A guarnição respondeu quase de imediato. Ouvem-se as nossas G3 e HK; dilagramas, morteiradas 60 e 81mm, caíram em cima deles. Os obuses 10,5 tentando atingi-los na fuga.
Durou 15 minutos. Retirou o IN não estimado, para Facã – Sambuiá, com cerca de 5 mortos e feridos graves, segundo informações recebidas, possivelmente para o acampamento de Uália, dentro do nosso território.
Voluntariosos, perto de 2 GCOMB, iniciaram uma perseguição imediata ao PAIGC, passando o arame. O nosso comandante Cap Mil Inf José Vicente Teodoro de Freitas sensatamente conteve os restantes.

Sofremos 3 feridos graves e 8 ligeiros. A população sofreu 1 ferido grave e 1 ligeiro. Tivemos sorte. A experiência dos 18 confrontos anteriores com o IN ajudou!
Um dos feridos graves foi o soldado do BENG José Crespo Silva, que se encontrava em cima do telhado de uma casa de chão térreo do reordenamento da população, na tabanca. Pediu-se a sua evacuação para o HM 241.

Ataque emotivo e o mais próximo do arame, de todos os que aconteceram com a CCaç 19.
Terá sido vingança?

Uma DO-27 pilotada pelo Fur PilAv João Manuel Baltazar da Silva, de Santa Isabel – Lisboa, partiu cedo de Bissalanca acompanhado do Alf Mil Médico, do COP 3, João Manuel Cantante Santos Silva, da Amadora e o nosso 1.º Sargento Sapador João Agostinho Gonçalves Oliveira Figueira. Vinham na avioneta do Sector que habitualmente nos visitava, todas as Sextas-feiras, para prestar assistência médica, no posto da enfermaria, aos militares, população de Guidage e Senegaleses que em grande número aqui se deslocam. Entregar também géneros frescos para a cozinha. Pelas 09,45h, deixaram de ter contacto via rádio com os aquartelamentos. Começando logo a temer-se o pior, que se tinha despenhado ou que teria sido alvejada.

Chega uma DO-27 que evacua o militar ferido do BENG 447 José Crespo Silva, para Bissau. Deu apoio a Enf Pára-quedista Giselda Antunes.

Os 2 GCOMB suspenderam a perseguição. Voltam com um civil nativo da povoação, ferido gravemente na coxa, ficou entre o IN e o nosso fogo. Foi encontrado na estrada entre os regos dos rodados das viaturas, onde tentou abrigar-se, atingido por estilhaço de uma das nossas granadas de óbus.

A Enfermeira Giselda voltou num segundo DO-27 que tentou chegar a Guidage, para evacuar o membro da população; no percurso foram alvejados por um missil Strela, que o não atingiu, mas os comandos do avião ficaram danificados pela acção da onda de choque e tiveram que aterrar de urgência em Bigene…

Para evacuar o civil ferido na coxa, outra DO-27 veio de Bissalanca, pilotada pelo Fur PilAv António Carvalho Ferreira, de Paços Ferreira, acompanhado pelo 1.º Cabo Enf Cóias da FAP; na base BA12 encontrava-se na altura de passagem o Maj Inf Jaime Frederico Mariz Alves Martins, natural da Amadora, nosso Cmdt do COP 3, que aproveitou a boleia a fim de visitar Guidage e se inteirar da situação. Pareceu-me um homem voluntarioso e satisfeito com a nossa actuação, do modo como respondemos ao IN. Animou o pessoal, deu-me um aperto de mão e umas leves palmadas nas costas.

Afirmou-se que ouviram o Maj Mariz ordenar ao piloto que iam observar a zona onde se teria despenhado a avioneta ou sido atingida. O Fur António Ferreira respondeu que era arriscado.
Descolaram, entrando no Senegal, fizeram meia-lua e voaram em direcção à mata de Sambuiá (?), em TN, e desapareceram. Nunca mais foram encontrados.

O Pessoal dirigiu-se apressado para o refeitório, ao iniciar a refeição, ouvimos um estrondo, obrigando alguns a tentar de imediato as valas ou os abrigos. Pensaram tratar-se de saída de peça de artilharia do IN, lado do Samoge ou de Sambuiá. Era cerca das 13,15 h.

Nota:
Ao Maj Mariz ouvi dizer, uma vez, em conversa com o nosso comandante que o nosso maior (Gen Spínola) se tinha encontrado secretamente, ali perto numa tabanca, com o Presidente Senghor, do Senegal, a fim de preparar contacto com Amílcar Cabral.

Amílcar Cabral, um tempo antes de ser assassinado, declarou em Cumbamori, devido às lamentações e cansaço da população apoiante do PAIGC, que estava farta de sofrer e cansada da guerra, que ia declarar a independência e, se as potências, não obrigassem Portugal a dá-la, e os portugueses não cedessem, ele entrava em negociações e acabava com a guerra! Pediu que aguentassem mais 1 ou 2 anos.

Uma esquadrilha de 2 FIAT`s G-91 realizou buscas, arriscadas.
Afirmaram que a nossa zona estava operacionalmente relaxada.
Foram também alvejados. Um míssil passou demasiado perto do avião que sentiu a onda de choque. O piloto ao observar a saída, segundo deu a perceber, puxou uma alavanca, levou o Fiat a cair e evitou o projéctil!
Escutando as conversas via rádio, mostraram calma, serenidade e sangue frio.

Veio depois um T6 e quando se preparava para actuar foi atingido, explodindo! Pilotado pelo Oficial de Operações do GO 1201 Maj PilAv Rolando Frederico Mantovanni Borges Filipe, de Socorro – Lisboa. Chegou até nós o estrondo. Apresentou-se na Unidade e voluntariou-se para efectuar a missão em que acabou por perder a vida.

Num só dia e na zona operacional de Guidage morrem dois Furriéis e um Major pilotos da FA; um Major do Cop 3; um Alferes Miliciano Médico; um 1.º Sargento; um 1.º cabo Enfermeiro e um civil nativo: 8 pessoas.
Juntam-se ao piloto do Fiat G-91 atingido na zona de Afiá, no sul, perto de Aldeia Formosa, onde perdeu a vida o Cmdt do GO 1201 Ten Cor PilAv José Fernando Almeida Brito, em 28/03/1973.
O aparecimento dos mísseis terra-ar vem condicionar a acção da nossa aviação nesta guerra de guerrilha na província da Guiné. Criou confusão na FA, quase a tornando inoperacional, notou-se durante alguns dias. Deixa de fazer evacuação de feridos e mortos nos locais mais arriscados.

Seguiram-se várias batidas diárias e exaustivas, efectuadas por todos os aquartelamentos e uma força operacional, a Companhia de Pára-quedistas, ida da BA 12.

A CCP (?)/BCP 12, ao procurar vestígios das aeronaves no solo, sofre forte emboscada, de 0,5 a 1 hora debaixo de fogo nutrido e é obrigada a retirar com um ferido grave, para Bigene. Esta deu-se em terreno plano, à beira de uma bolanha, suponho em Samoge, pelas 14 horas, no dia 09.4.1973. O combate notou-se perfeitamente em Guidage.
Fiquei impressionado com a personalidade do Comandante desta Operação, que dirigiu e apoiou, sitiado em Bigene, via rádio, a acção das NF.
No Posto de Rádio, sempre à escuta, acompanhámos as conversas entre os intervenientes.
Nestes dias, um Destacamento de Fuzileiros de Ganturé teve também um violento confronto e com os mesmos resultados, nesta mesma região, segundo me parece.

No dia seguinte e nesta zona, a referida CCP (a 121?), detectou restos do DO-27 do Sector. Encontrou carbonizados os corpos do Alf Mil médico João Silva, do 1.º Sarg Figueira e do Fur PilAv Baltazar da Silva, em tamanho reduzido.
Numa árvore estava pregada uma ordem de serviço, pertença da CCaç 19.

Até aqui, tenho passado as noites no dormitório dos operadores de Transmissões. Eu e o meu colega Op Cripto Hilário optámos pelo Centro Cripto para onde mudámos as camas com colchão de espuma. Debaixo da placa de cimento é mais seguro, porque as casernas dos 4 pelotões, o Centro de Cripto, o Posto de Trasmissões e a Enfermaria têm placa de betão.


AS NOTICIAS
Algo vai acontecer!


Continua a chegar material de guerra a Cumbamori.
O PAIGC está a retirar a população das regiões onde estão situadas as suas bases, mais 7 kms para o interior da nação vizinha.
Nos primeiros dias de Abril, 9 elementos do grupo do FAI SISSÉ, guerrilheiro combativo e dinâmico, desertaram para a Gâmbia. Motivo: medo das futuras acções contra Guidage, onde costumam ter quase sempre pesadas baixas e mortes.

Um informador de confiança insistiu para que pedíssemos o reforço da guarnição, com uma Companhia e usar de todas as precauções. Foi solicitado, mas não atendido.
Apareceram indivíduos com uma manada de 40 a 50 vacas, a pastar na zona da fronteira, rente à bolanha. Com tantos pastos, porquê ali? Certamente descobrir e accionar possíveis minas por nós plantadas. Cada animal tem 4 patas, aumentando a possibilidade de accionamento. Se alguma ficasse mutilada, o pior que acontecia era ser comprada e transportada pela nossa Companhia. Comprovaram não haver campos de minas.

Um senegalês apresentou-se em Guidage, acompanhado de um milícia das NT. O milícia tinha sido capturado no sul da província, foi levado para Cumbamori e dali para Ziguinchor, onde encontrou o tal sujeito (CONE SANE), rapaz novo e com bom aspecto. Os militares logo afirmaram que era turra. Assim como um refugiado, seu compatriota, que se encontrava havia alguns dias no reordenamento e que voltou para o Senegal. Ambos demonstraram conhecer-se. Percorreu o quartel. Chegou a comer no refeitório das praças, na sua maioria brancos. Presenciou e avaliou o ataque do dia 6 de Abril, examinando a nossa reacção. Entrou no perímetro defensivo do quartel e fingiu ajudar os soldados durante a luta. Foi logo afastado, não passando a sua atitude despercebida. Afirmava ser estudante e ter tido problemas no liceu, em Dakar. Depois de muito insistir foi-lhe passado passaporte para Bissau, via Farim, passando por Binta.

No dia 17 de Abril (Terça-feira), a coluna auto em que seguia, accionou 2 minas anti-pessoais, que causaram a morte ao 1.º Sarg AC, Octávio José Horta, da Secretaria, pertencente à CCaç 19 (CArt 3521), ex-comando em Angola no ano de 1961. Seguia o 1.º Sargento a pé, a corta mato, perto da estrada como precaução, pois tínhamos informação que estava minada. Ao detectarem a primeira todos ficaram imóveis, só o 1.º Sarg Horta se mexeu, num repente desloca-se, deita-se tentando levantá-la. Accionou uma segunda com o peito e, morreu! O estudante senegalês ao presenciar ficou indisposto. Em Farim, ao ser interrogado pela DGS, foi preso, depois de admitir ser agente do PAIGC.

O outro refugiado senegalês foi também detido no dia em que voltou a Guidage (ainda durante o cerco) e confessou ser militante IN. De observar que o Partido mandou dois especialistas e não confiou nas informações obtidas. Notou-se a infiltração na população senegalesa que nos visita de gente suspeita. Vêm em grande número a fim de comercializar, mas principalmente receber assistência médica que na realidade não existe em vastas zonas, do outro lado do território, situação agravada pela seca.

No dia 1.º de Maio (Terça-feira) pelas 18,15h, quando nos preparávamos para jantar, grupo IN não estimado, flagelou com morteiro 82 mm, sem consequências. Segundo fonte aceitável, os atacantes tiveram mortos e também feridos. A nossa reacção fora boa.

Individualidades de certa influência em Farim (homens grandes), especialmente entidades religiosas muçulmanas (Mandingas), reclamaram a substituição da CCaç 19, por uma metropolitana. Mandaram a população realizar colecta, pois Guidage iria passar uma grande provação.

Presenciei actos religiosos: Orações e cinza na cabeça dos jovens; matança de carneiros e deram a carne aos mais necessitados, a fim de Alá ter piedade deles.

Alguns soldados negros abordaram o comando, lamentando:

- Se não efectuarmos patrulhamentos à zona operacional da nossa Companhia, qualquer dia seremos agarrados à mão dentro de Guidage!

De facto, a partir de certa altura pouco saíamos, quase só para realizar colunas auto a Binta.
No dia seguinte aproximei-me de Malan Sissé, soldado da CCaç 19, filho de ex-Régulo Mandinga. A sua família foi maltratada pelo IN, e anda na guerra desde o início. Perguntei o que dizia da situação? Respondeu:

- Oh nosso cabo, os brancos já não querem lutar!

Mostrou preocupação no que se referia à sua família. Casado com 2 mulheres: uma em Binta ou Farim e outra em Guidage. Com um filho, pelo menos; este, na escola em Farim, mostrava inteligência e o pai pensava mandá-lo para a metrópole estudar.

(Ver Guiné 63/74 - P4751: Histórias do Jero (1): João Turé…)
Do sítio -
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Que terá acontecido ao Malan Griffon Sissé e aos soldados da CCaç 19, depois da independência?

O roncar de motores de viaturas à noite, chamou a atenção dos militares, que se referiram a eles como sendo dos turras, dentro do TN. Começaram por se ouvir primeiro na tabanca, local mais silencioso, fora do alcance do barulho do gerador de energia eléctrica.
Ouviam-se rebentamentos de morteiro e canhão sem recuo, as NT não lançaram as granadas, só podiam ter sido os guerrilheiros. Confirmamos, perguntando aos outros quartéis. Devem fazer a regulação de tiro para o lado do CUFEU, a fim de melhorar o rendimento nas futuras acções contra as colunas auto ou movimentos portugueses.
Contrariando o habitual, batia-se a zona quase todos os dias com morteiro 81, explodindo as granadas nos sítios mais prováveis da presença do IN.

Como Operador Cripto notei que algo se iria passar, assim como o pessoal de Transmissões.
Os indícios de uma coisa grave, a Operação Amílcar Cabral do PAIGC

(Continua)
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 1 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5039: Tabanca Grande (176): José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje (1971/73)

sábado, 24 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5155: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (3): Ninguém ficou para trás

1. Mensagem de José Eduardo R. Oliveira*, ex-Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), com data de 21 de Outubro de 2009:

Caro Luís
Estou em casa sozinho porque chove lá fora.
Mas não não durmo na forma.

Vi há pouco um programa de televisão que me impressionou muito.

Depois de leres o anexo vais perceber a frase segiunte:
Se houvesse mais alguns ou algumas como a Conceição ninguém ficaria para trás!

Um grande abraço.
JERO


NINGUEM FICA PARA TRÁS

Ninguém fica para trás é um tema e um título que diz muito aos ex-combatentes.
De vez em quando as televisões e jornais do País pegam nele.
No que nos diz respeito confessamos que nem sempre os compramos. Se é jornal damos uma vista de olhos… Se é televisão dou-lhe uns segundos e se não me agrada passo à frente!

Desta vez fiz uma excepção e não me arrependi.
Está de chuva e estava em casa na tarde de 4.ª Feira, 21 de Outubro.

Por volta das 16H00 passei pela SIC e vi a Fátima Lopes (jornalista que aprecio particularmente pela sua componente humanista) que entrevistava e deixava falar uma senhora de quarenta e poucos anos, que tratava por Conceição.
Rapidamente percebi que se falava da recuperação dos corpos (das ossadas!) dos três pára-quedistas de Guidaje mortos em combate em Maio de 1973.


A Conceição é arqueóloga e nessa qualidade integrou a operação de resgate que teve lugar no Verão de 2008.
A dignidade e coragem com que falava da identificação das ossadas do seu irmão deixaram-me pregado à cadeira… e extremamente comovido.

"Estavam 45 graus de temperatura.Trabalhava perto de uma colega antropóloga. Nunca senti calor, sede ou fome. Sentia-me tranquila e calma. Esperava um “sinal” e aconteceu. Numa comunidade científica eu não podia confessar que esperava “um sinal dó meu irmão"…

As campas já tinham descobertas graças a um velho mapa, e ao equipamento do geofísico, que tinha detectado sinais no subsolo.
À medida que as escavações avançaram, confirmou-se a presença dos esqueletos daqueles soldados e… mais alguns.

Afinal eram 10 campas.

"Ao escavar a quarta campa encontrei uma pequena pedra vermelha muita suja de terra. Limpei-a como arqueóloga mas quando percebi que tinha o feitio de um coração…agarrei-a com mais força. Ali estava “o sinal” do meu irmão! Sem confessar o meu palpite dei a pedra à colega antropóloga e disse-lhe que, depois de identificado o ocupante daquela campa, esse “coração” devia ser entregue à família.
Em Guidage estavam quatro antropólogos, uma arqueóloga, um geofísico, e quatro militares que tinham combatido naquela região, há 35 anos, durante a guerra colonial.
Em 23 de Maio de 1973 tombaram em combate, alem dos três paraquedistas outros cincos militares portugueses e três guineenses
".[1]

"Veio-se o confirmar que as ossadas do meu irmão eram mesmo as da quarta campa, a que tinha o “coração” de pedra, de cor vermelha.
E tive direito a trazê-lo comigo. E hoje uso-o, pendurado num fio de ouro, ao peito. Junto do meu coração
»".

Não era só a entrevistadora que estava comovida. De vez em quando as câmaras focavam a assistência e parecia que as pessoas nem respiravam

Os 3 pára-quedistas que morreram em Maio de 1973 regressaram às suas terras natal um mês depois da Conceição ter voltado da Guiné. No Verão de 2008. Eles e as ossadas dos outros sete militares.

"Não iríamos deixar ninguém para trás", disse convictamente a Conceição.

Finalmente tiveram eles – e as suas famílias - direito a um funeral. Com honras militares e com o preito e homenagem de antigos combatentes.

"As cerimónias fúnebres, com salvas de tiros de canhão impressionaram-nos muito. A minha mãe, hoje com 83 anos, sofreu muito. Mas conseguimos finalmente fechar um capítulo que tinha de ser escrito.
O meu irmão repousa junto de nós
"

E Conceição termina o seu depoimento dizendo:

"Quero participar em mais missões de resgate. Tem que haver vontade de fazer regressar às suas terras natal os militares que morreram na guerra colonial."

[1] O Início do ataque do PAIGC ao quartel de Guidage, no Norte da Guiné deu-se em 8 de Maio de 1973.
Na operação de auxílio, reabastecimento e contra-ofensiva, que durou de 8 de Maio a 8 de Junho de 1973, as forças portuguesas tiveram 39 mortos e 122 feridos. Pelo menos seis viaturas militares de vários tipos foram destruídas e foram abatidos três aviões (um T6 e dois DO27). Só a unidade de Guidaje contabilizou sete mortos e 30 feridos, todos militares. Nos cerca de 20 dias que ficou cercada, Guidaje esteve sujeita a 43 ataques com foguetões de 122mm, artilharia e morteiros. Todos os edifícios do quartel foram danificados. A unidade, que, no conjunto, teve mais mortos foi o Batalhão de Comandos: dez. Sofreu ainda 22 feridos, quase todos graves, e três desaparecidos".
In “Correio da Manhã”, 27 de Julho de 2008



E agora dizemos nós:
Ninguém fica para trás!?
Infelizmente alguns ficaram.
A saga dos pára-quedistas de Guidaje poderia – e deveria – ser o mote para os representantes do Estado Português tratarem com os governos da CPLP(Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) da transladação condigna dos restos mortais dos militares que caíram em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau.

Custará dinheiro? Obviamente.
O nosso Ministério da Defesa não terá disponibilidades para tal!? Sabemos a resposta antecipadamente… Mau grado o interesse… por constrangimentos orçamentais… etc., etc.

Deixamos uma sugestão.
A recente Lei n.º 3/2009, a tal que passou o CEP para SEP, não terá criado algum reforço e/ou disponibilidade orçamental!?

A nossa sugestão é a seguinte. Já que estão com a mão na massa apliquem os valores disponíveis para pagar uma divida de honra que têm com os antigos combatentes.

Há mais de 30 anos que muitas famílias portuguesas esperam o regresso dos seus soldados, da guerra colonial. O Estado português enviou-os para a frente de combate, mas não resgatou os corpos de quem morreu na guerra.

Providenciem pelo seu regresso.
Para que um dia... possamos dizer... finalmente:

Ninguém ficou para trás

JERO
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5134: Blogues da Nossa Blogosfera (20): JEROALCOA.BLOGSPOT.COM, de José Eduardo Oliveira

Vd. último poste da série de 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5054: Blogando e andando (José Eduardo Oliveira) (2): Ponte para o regresso