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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Guiné 63/74 - P15750: Questões politicamente (in)correctas (47): o menino guineense, fumador passivo, o militar, inveterado fumador, e o neto holandês que quer que o avô chegue aos 100 anos: "Oh opa, was je in de oolog in Guinee. Wie waas in Guinee leven tot 100 jaar" (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Guiné > Zona leste > Região de Gabu > CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) > O fur mil Valdemar Queiroz, com um menino ao colo, e a fumar...


Foto: © Valdemar Queiroz (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: L.G.]


 1. Mensagem de Valdemar Queiroz [ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]


Data: 14 de fevereiro de 2016 às 03:22

Assunto: O Menino e o fumo dum cigarro


Quando o meu filho mostrou, pela primeira vez, ao meu neto, esta fotografia do avô na guerra na Guiné, o meu neto disse:

De opa's roken net de jongen [ o avô está a fumar junto dum menino!]. 

O meu neto é holandês.

Evidentemente, estávamos em 2009 e o meu neto achou estranho que se fumasse junto dum menino, em 1969.

...Fumar um cigarro é como sentir uma alegria que não fica só em nós......

... Quem me dera fumar dois cigarros, num fim de tarde, em Nova Lamego, ou até três, também, em Canquelifá.

... Quem me dera fumar uns cigarros em Guiro Iero Bocari, com 24 anos, ou já 25. .....

E durante mais de 35 anos continuaram as cigarradas até 2010.

Tinha que dar, no Hospital Amadora-Sintra, com internamento, muito debilitado durante 35 dias, com uma DPOC Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica,

Nuca mais fumei, mas continuo a ter grandes dificuldades em me deslocar pra qualquer lado com obstrução respiratória.

Tenho que me aguentar, vou-me aguentar.

E o meu neto holandês (agora): 

Oh opa, was je in de oolog in Guinee. Wie waas in Guinee leven tot 100 jaar.

Ele diz mais ou menos isto: quem esteve na Guiné vai viver até aos 100 anos.

Merecemos, vamos lá ver se aquele menino, agora com mais ou menos 46 anos,  que nos viu fumar, também vai testemunhar.

Valdemar Queiroz

______________

Nota do editor:

Últimos postes da série:

15 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14617: Questões politicamente (in)correctas (46): "Não sou 'tuga', sou português"... (António J. Pereira da Costa) / "Confesso que nunca me chocou como português e patriota ser chamado por 'tuga' pelos guineenses" (Francisco Baptista)...

24 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11864: Questões politicamente (in)correctas (45): Os dois príncipes: o filho de Kate Middleton e o filho da Fatwa de Catió... (Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52)

7 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P11538: Questões politicamente (in)correctas (44): Há um provérbio fula que diz: "Quando se fala dos maus, os bons sentem-se ofendidos" (Cherno Baldé)

24 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11459: Questões politicamente (in)correctas (43): Meu caro Cherno Baldé, a maioria dos militares da minha companhia não era racista nem se comportava como tropa ocupante (Paulo Salgado,ex-alf mil op esp, CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72)

7 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10632: Questões politicamente (in)correctas (42): As trocas de comissões, por dinheiro, durante as guerras coloniais (Zeca Macedo, EUA, ex-2º ten, DFE 21, Cacheu e Bolama, 1973/74)

5 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10620: Questões politicamente (in)correctas (41): A origem da palavra Turra (António Rosinha)

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15223: Da Suécia com saudade (52): Em 1974, foi criticado, no parlamento, o fornecimento ao PAIGC, sob a forma de ajuda, de produtos como o tabaco e o álcool, considerados nocivos para a saúde e, em 1975, postos na "lista negra" (José Belo)


Página oficial, em inglês, do famoso Systembolaget, o monopólio estatal sueco do álcool.


1. O que é o  Systembolaget ? 

(i)  é uma empresa estatal de lojas de bebidas alcoólicas na Suécia;

(ii) tem o  monopólio da importação, distribuição e venda;

(iii)  é o único sítio onde se podem comprar bebidas com teor alcoólico superior a 3,5%.

O controlo rigoroso da venda e compra de bebidas alcoólicas, assim como a imposição de elevados impostos sobre estas bebidas, faz parte da severa política sueca para evitar os problemas causados pelo consumo exagerado de álcool.

As lojas estatais de bebidas alcoólicas – chamadas popularmente ”systemet” ou ”bolaget” – não vendem os seus produtos a: (i)  menores de 20 anos; (ii) pessoas embriagadas;  ou (iii) suspeitas de venda ilegal. 

Há uma rede nacional de 431 lojas que  vendem cerca de 2400 diferentes bebidas,  da cerveja ao  vinho, do licor à  aguardente, etc. provenientes de cerca de 40 países.  Há cerca de 500 agentes que servem as pequenas comunidades locais. estes agentes não tem "stocks", mas encomendas são feitas através deles... 

Fonte: Systembolaget. [Se quiserem saber mais, têm aqui, em inglês, o "Responsibility Report 2014"]


2. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia...

[ foto atual à direita: José Belo, ex-alf mil inf, CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); atualmente é cap inf ref e vive na Suécia há quase 40 anos]



Data: 2 de outubro de 2015 às 12:29

Assunto: Ainda os "olhos azuis", em perspectivas da raposa e das uvas quanto ao..."estão verdes"?


Uma moção no Parlamento sueco relacionada com a ajuda ao PAIGC, em tabaco e álcool...


Em 1974, foi enviada pela Organizacäo Nacional dos Estudos Relacionados com os Produtos do Tabaco uma carta à ministra responsável pelos auxílios aos países em desenvolvimento, na qual se protestava quanto ao facto da SIDA (iniciais da agência estatal sueca de auxílio aos países em desenvolvimento) estar a fornecer cigarros e bebidas alcoólicas às Lojas do Povo, administradas na Guiné-Bissau pelo PAIGC.

Nesta carta foi sugerida a substituição destes produtos por outros,  não prejudiciais à saúde dos guinéus.

Esta sugestão veio a provocar vivo debate no Parlamento.

Em esclarecimentos prestados perante a Assembleia,  a então ministra Gertrud Sigurdsen salientou dois pontos:

i)  as encomendas em cigarros e bebidas alcoólicas teriam sido sugeridas nas listas de produtos apresentadas pelo PAIGC;

ii)  segundo as informações disponíveis, o valor anual dos fornecimentos destes dois produtos não ultrapassava as 185 mil  coroas suecas, enquanto o auxílio ao PAIGC era de 15 milhões (!).

Foram então colocadas à ministra as seguintes perguntas finais:

(i) seria no futuro tolerado que a Suécia forneça a título de auxílio produtos que são reconhecidos pela opinião pública como causadores de sérios riscos para a saúde?

(ii) seria esta a função do auxílio prestado?

(iii)  quais os resultados perante a opinião pública, até então tão participativa, e as consequências que daí poderiam advir para programas futuros?

Em 27 de janeiro de 1975 o parlamento do Reino Sueco decidiu que produtos prejudiciais para a saúde, como o tabaco e álcool, não poderiam  fazer parte dos fornecimentos de auxílio aos países em desenvolvimento.

Como curiosidade, a Suécia (System Bolaget), a Finlândia (Alko), a Noruega (Vinmonopolet) e a Islândia (Vinbúö) têm um monopólio estatal de todas as bebidas alcoólicas, sendo a Suécia um dos maiores compradores mundias de produtos relacionados

O parlamento sueco.
Foto enviada pelo José Belo
sem indicação de fonte.
Quanto ao tabaco, a Suécia foi o primeiro país a estabelecer um monopólio estatal no século XVI.
A produção de tabaco (na Suécia!) foi iniciada em 1724 por decreto real, sendo todas as cidades obrigadas a reservar terrenos para este fim.

Por volta de 1800 o número de fábricas era superior a 100, tornando-se o tabaco uma produção importante no reino.

A última plantação de tabaco, existente na província da Skåne, foi encerrada em 1964.

Hoje, 81 municipalidades e organizações exigem uma lei parlamentar para proibir totalmente os produtos relacionados com o tabaco até ao ano de 2025.

(A propósito, a produção de fósforos também é propriedade estatal).

Um grande abraço do José Belo.




Fonte: Tor Selltröm, "A Suécia e as lutas de libertação nacional em Angola, Mocambique e Guiné-Bissau". Uppsala: Nordiska Afrikainstitutet, 2008, tradução portuguesa, p. 277" [, disponível aqui, em formato pdf, clicar no link].


Fonte: Ibidem, p. 275

3. Informação recolhida pelo José Belo sobre consumo de álcool na Suécia, em Portugal e na Guiné-Bissau


Relatório da OMS (Organização Mundial de Saúde), de 2010, publicado em 2014,  com projeções futuras, quanto a consumos de bebidas alcoólicas.

Incluem-se  pessoas com 15 anos de idade ou mais. É referido o consumo de álcool puro em litros (!), per capita e por ano: numa vasta lista de consumidores desde os maiores para os menores: Portugal estava em 6º lugar, muito à frente  da Suécia (50º) e Guiné-Bissau (124º).

Outros indicadores de consumo:

(i) Cerveja (litros per capita /ano): Portugal (30,8), Suécia (37), Guiné-Bissau (19,6);

(ii) Vinhos (litros per capita /ano): Portugal (55,5), Suécia (46,6), Guiné-Bissau (14,9);

(iii) Destilados (litros per capita /ano): Portugal (10,9), Suécia (15,1), Guiné-Bissau (22,4);

(iv) Outras bebidas alcoólicas (litros per capita /ano):  Portugal (2,8), Suécia (1,4),  Guiné -Bissau (43) 

Cervejas / cervejas de malte
Spirits / bebidas destiladas
Vinho /feito de uvas
Outros /bebibas alcoólicas feitas de arroz, sake, kumi kumi, kwete e cidra.

Aparentemente a medida Parlamentar Sueca...

Um abraço do José Belo
_____________________

Nota do editor:

Último poste da série > 1 de outubro de 2015 >   Guiné 63/74 - P15184: Da Suécia com saudade (51): Mais um detalhe da pequena história do auxílio sueco ao PAIGC: a emissão, ultrassecreta, de 40 mil selos de correio, para comemorar a independência (unilateral) em 24 de setembro de 1973 (José Belo) 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12188: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (26): Como se faz acabar o vício de cravar cigarros aos outros

1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 14 de Outubro de 2013:

Olá amigos Luís e Vinhal!
Vai tudo bem no reino do Blogue?
Bem me parece que sim!
Para além de vocês Luís e Vinhal, aproveito também para saudar o meu amigo (nosso) Magalhães Ribeiro.

Em anexo aí vai mais um “salpico”.
Rui Silva


Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.


Do meu livro de memórias “Páginas Negras com Salpicos cor-de-rosa”

26 - Como se faz acabar o vício de cravar cigarros aos outros e aproveita-se até para lhe dar a alcunha duma marca de cigarros muito em voga na Guiné, na altura, e que veio mesmo a calhar: “CRAVEN A”

Na Guiné, mais propriamente em Bissau, fomos encontrar coisas boas no comércio. Uma surpresa! Logo ali na rua paralela à marginal, na Casa Pintosinho, haviam as últimas novidades eletrónicas. Os melhores rádios, transistors, pick-ups, aparelhagens de som, máquinas de barbear e todo o mais. Akai e Pioneer era do mais reclamado e moderno. Estavam na moda.
Um rádio para pôr na mesinha de cabeceira era o que se pretendia mais. No mato, já a ventoinha, a 5 dedos da cara, ganhava bem aos rádios. Alguns compraram autênticos rádios de sala e andavam com eles debaixo do braço, como que a dizer que o meu é maior do que o teu, e os donos da música fossem eles; outros ficavam pelos mais pequenos (vulgo transístor) que se levava no bolso e para qualquer lado.

Um camarada comprou um rádio que se transformava em pick-up após uma ligeira articulação. Foi de abrir a boca. Na Casa Pintosinho comprei ali mais tarde um “Mitsubishi”. Este transístor andava em propaganda radiofónica local e assim andou durante bastante tempo. Seduzido por tanta propaganda fui lá buscar um mais tarde, quando passei por Bissau em trânsito para férias na metrópole. Boa compra, durou muitos anos e tocava dentro do carro como se fosse um auto-rádio. Uma relíquia, mesmo depois de deixar de tocar (os tombos foram muitos), posta fora inadvertidamente, para desespero meu.
A Casa Pintosinho era uma casa atualizada e a tropa era lá muito bem recebida e atendida.
Pudera! Sargentos e Oficiais tinham manga de patacão.

Na mesma rua e mais para o lado da Amura, na loja Taufik Saad comprava-se, principalmente, entre outras, louças decorativas, vulgo bibelots, louças de servir à mesa, faianças e porcelanas, louça fina, entre esta bonitos Serviços de chá e café que vinham da China. Louça “casca d’ovo “, louça de fina espessura para não fugir aquele nome, onde no fundo se podia ver recortada na própria louça o rosto de uma linda chinesa. Ainda hoje guardo um serviço destes. Era uma casa requintada ao nível das melhores de Lisboa.



Vendo uma das montras do Taufik Saad. Muita cabeçada ali no vidro. As grades, no lado de dentro do vidro enganavam e a curiosidade levava a bater com a cabeça no vidro. Foram muitos os cabeçudos, daí a curiosidade de incluir isto no texto. Ah(!), o rapazinho a ver a montra sou eu! Turista? Se calhar ao outro dia já estava a atirar-me para o chão, lá bem para dentro do Oio. Engraçado (!) ali vivia-se as duas faces da moeda.

Mais à frente e já virada para a Avenida principal, o Café Bento. Mesas cá fora, em jeito de esplanada e sob árvores bem frondosas. O ponto de encontro da malta da tropa, com boas bebidas e para todos os paladares e com boa vista para a avenida principal.

Em Bissau vendiam-se também Whiskies das melhores marcas, algumas nunca vistas na metrópole, quando muito só faladas: Vat 69, Black and White, o Johnnie o preto e o vermelho, Dimple, o Ballantines, etc, etc. Bons Scotches, bons Licores. O Licor Drambuie que era muito procurado pela malta.

Marcas que nunca tinha ouvido, e eu que não tinha chegado propriamente de um colégio de freiras. Brandies, tabacos, tudo da melhor marca. Terra pobre, muito pobre, mas onde as bebidas espirituosas os apetrechos eletrónicos, os melhores tabacos, os melhores chocolates belgas e holandeses, se viam em algumas casas comerciais. Camisas muito bonitas e adequadas para aquele clima. Dizia-se que vinham da China (ou Taiwan?). Muito contrabando se calhar….
Deu para ver com algum espanto que a Guiné tinha mesmo do melhor para a malta dos vinte anos. Se calhar foi esta que fez trazer as coisas. Sobretudo boas bebidas, do melhor tabaco, e outras coisas, outras coisas.

E na Avenida, também passavam bajudas bonitas e formosas. Mais as cabo-verdianas, de olhos grandes claros e expressivos, mas havia nativas que não ficavam atrás, pelo menos nas três medidas standard para a harmonia feminina. Os bifes na casa de uma senhora mulata que me esqueci do nome, o frango assado no Tropical, etc, etc.

Se lhe juntarmos o bom e diversificado marisco, isto já produto do domínio e captura doméstica, não era preciso mais nada. A guerra, essa podia esperar… Na altura era preciso sair 20 ou 30 Km. de Bissau para entrarmos em contenda. No meu tempo e para o norte, esta só andava para lá de Mansoa. No Sul não seria preciso andar tanto depois de atravessar o Geba. Para Este e Oeste havia já alguns arrufos e não muito longe.

Bom, eu estou a dizer isto do bom de Bissau mas, cuidado, estávamos em trânsito para o mato. Ali em Bissau, melhor, em Brá, estivemos apenas 13 dias. O nosso destino estava traçado: Alancar para o OIO, pois a Ópera era para esses lados. Houve quem fizesse a comissão inteira em Bissau e que nunca tenha ouvido um tiro, mas convém dizer que não faziam nem mais nem menos do que cumprir ali a sua missão porque fora essa a destinada. Sortes!!...

Ainda me lembro e pegando na moda de uma cantiga na altura, que, e quando chegamos ao mato (Bissorã), cantávamos : “beijinhos com beijinhos pra cá… bazocadas e granadas pra lá”. Deixem que digam (!), que pensem(!), que falem (!)… deixa lá”…

Ainda em Bissau começava-se pelas ostras e acabava-se, se é que percebo, isso mesmo, em perceves (!) passando por outros mariscos de nomeada. Nisto de marisco a barriga desligou-se de misérias. O Tropical ali tão perto. E isto a pensar que marisco, na metrópole, só um camarão escanzelado ali pr’as Portas de Santo Antão em Lisboa. Salvo a Solmar, mas aí era preciso mais dinheiro. Aí,“cá tem”.


Na esplanada (passeio na rua) do Tropical. No verso desta foto descobri agora que a tinha enviado na altura aos meus pais em correio. Curioso como escrevio ano (MIL 966)

No café Bento pedi uma cerveja, um pão partido ao meio e o chocolate tal.

O empregado pensou que estava a gozar com ele. Perante a cara dele perguntei-lhe se podia ser ou não e ele meio desconfiado foi para dentro e apareceu-me pouco depois com o que lhe pedi. Vá lá… Sabia bem uma sandes de chocolate a puxar pela cerveja. Essa mania trouxe-a do bar do Niassa. Seria pancada? Julgo que não…

Neste bar também se adquiriam coisas curiosas. Comprei ali uma máquina de barbear “Philips” que trabalhava com pilhas. Ainda hoje a tenho.

Falando dos bons tabacos. Os Três Vintes,  o CT, o Português Suave, etc. tinham ficado na viagem. Os últimos foram queimados no Niassa.

Ali na Guiné a fumaça era feita através de tabacos mais finos e requintados, entre eles o “Craven A” (novidade) que é afinal o protagonista desta história e que eu passo a contar:

À mesa no Olossato, ao serão, jogava-se às cartas e começava-se com a sueca (jogo). Lá por o andar da noite passava-se então à lerpa e acabava-se inevitavelmente no abafa e onde de vez em quando saía um ou outro bem (des)abafado.

A história que eu quero contar era ainda à mesa da sueca. Parceiros habituais na minha mesa, eu, o Carneiro, o Piedade e outro que é o centro do episódio e que passo a chamar-lhe o “nosso amigo” (por razões óbvias omito o nome real).
Portanto parceiros certos ali e acolá nas mesas.

Depois (só) de alguns dias é que nos apercebemos que um dos jogadores da minha mesa fumava os nossos - dos outros - cigarros e à vez:
- Dá-me um cigarro se faz favor.

Ao outro:
- Posso?
- Posso fumar um destes? - ao terceiro.

Dava a volta, pelo menos havia o bom senso (e o cuidado) de não cravar o mesmo duas vezes seguidas. Também a tática era logo ali detetada mais facilmente.

Bem, isto não podia ser assim alvitramos nós os três após a constatação, o que ainda levou tempo.

Sentávamo-nos à mesa e cada um punha à sua frente o seu maço e o isqueiro em cima. Primeiro os isqueiros que tinham vindo connosco da metrópole, mais tarde já usávamos os que as senhoras do Movimento Nacional Feminino, que por ali passaram fugazmente, nos ofereceram.
Isqueiros de pedra a fazer faísca e mecha embebida em benzina impregnada numa espécie de algodão e em depósito para o efeito.

Então teríamos de fazer alguma coisa para que os cigarros não fossem assim tão mal repartidos. O tabaco predominante ali era então o “Craven A”.

Pegamos numa embalagem de cigarros vazia e colamos num rótulo que se podia ver, logo mal abríssemos a caixa, com o dizer. "Vai cravar o car(v)alho". Ver, tal e qual, a figura seguinte.



Tinha no meu pelotão um soldado que se chamava Carvalho (que se calhar até nem fumava), mas não era esse o que queríamos apontar. Era o outro, o mais popular, o do léxico portuga, o que até ficou bem explicado na caixa, claro.

O maço ficou dissimulado em cima da mesa e à frente como era habitual de um dos contendores.
- Posso tirar um? - agora já apontando para o maço armadilhado.
- Podes…

Quando calhou de cravar no maço dito cujo, então o nosso amigo abriu, leu, e discretamente fechou. Como nada tivesse acontecido. Também não havia cigarros. Não sei se o maço tivesse cigarros o rótulo passava ao lado.

Bom, acabou ali o cravanço do nosso amigo e começou a risota, dissimulada, ao mesmo tempo que o nosso ilustre camarada logo “ganhou”, (perdeu nos cigarros) dali para a frente, a alcunha do “Craven A”, visto isso, e para memória futura.

Rui Silva
____________

Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11658: Páginas Negras com Salpicos Cor-de-Rosa (Rui Silva) (25): Os três Hospitais Militares que conheci

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11794: Manuscrito(s) (Luís Graça) (5): fumo, logo existo

fumo logo existo

mais um dia mundial do não fumador.
global, nacional,  regional, local.
só não o foi na minha freguesia.
nem no tasco que eu frequento.
nem na fábrica onde eu trabalho.
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente.
nem na rua do monóxido de carbono que é a minha.
nem na minha casa
em que o tabaco é o xanax do mulherio.

dizem-me que se aperta o cerco aos fumadores.
que pelas estatísticas são
os que ainda não trabalham
mais os que já trabalham
e os que estão na casa dos trinta
e mais os que já deixaram de trabalhar.
(os que ficaram pelo caminho
ou na ponta final da linha de montagem,

ou na autoestrada da vida, ao km 40, 50, 60).
ouvi o telejornalista de serviço
(fez-me lembrar o porta-voz
do tribunal do santo ofício
que condenou à fogueira o tetravô
do meu tetravô, cristão-novo de penamacor).

o inquisidor-mor malha nas mulheres portugas
que estão a estragar as estatísticas sanitárias.
diz o senhor diretor geral:
os portugas ainda podem orgulhar-se,
(ao menos, valha-nos isso!),
de serem os menos fumadores da eurolândia.

repete o loquaz locutor:
não fumar está na moda.

é politicamente correto, é fixe.
faz à bem à saúde e à carteira.
os portugas que não fumam ou deixaram de fumar
estão na moda, são fixes.

eu, fumador, de maço e meio, me confesso.
desde tancos, ou figo maduro, ou bissalanca,
já não sei onde nem quando comecei a fumar,
mas foi na tropa.
não quero estar na moda, não quero ser fixe.
quero e não quero deixar de fumar,
mas temo o cerco,
como em guidaje.
cerco, é isso.
os tempos são bons para apertar o cerco
aos fumantes. aos novos párias sociais,

aos desalinhados, aos marginais-secantes,
às amplas minorias, aos novos inimigos da ordem pública.

o pretexto pode ser a nova peste branca,
a pandemia da gripe,
o direito à saúde,
a economia da saúde,
os direitos e liberdades e garantias dos não fumadores,
o fumo passivo,
mais as contas públicas, o endividamento das famílias,
o exemplo (triste) do cowboy da marlboro
que era gay e morreu de cancro,
a nova ética do trabalho,

ou a falta de ética e de trabalho,
o sobreaquecimento do planeta,
o medo e sobretudo o medo do medo,
a produtividade do trabalho,
a competitividade das empresas,
a identidade da nação,
a incultura do tabaco,

a globabilização, e a verdade trágica das estatísticas da saúde,
os superiores desígnios do estado e o seu biopoder,
enfim, e não menos importante, 

a poluição tabágica,
que além dos pulmões dos colarinhos azuis
e do resto do corpinho da gente,
dá cabo da pintura dos tetos e das paredes,
do sistema de ar condicionado,
dos microequipamentos,
dos circuitos integrados dos computadores,
das mother boards, dos chips,
das placas gráficas,
dos neurónios dos colarinhos brancos e dourados,
da testosterona da dream team,
dos satélites das telecomunicações,
dos estofos do carro do patrão,
da pele de veludo da gaja do patrão,
do clima organizacional da empresa,
da missão, dos valores, da estratégia,
do ranking de portugal no mundo.


o tabaco que mata meio milhão de eurolandeses por ano,
morrem que nem tordos, dizem,
diz o sanitário de serviço,
doze mil, falando só de portugas.

mais num ano do que em 13 anos de guerra colonial,
e o mulherio a dar cabo da estatística,
diz a senhora enfermeira lá da fábrica!

não vi, todavia,
as empresas portuguesas seguirem o exemplo
das suas congéneres multinacionais
que operam cá no burgo,
como a ibm ou a siemens ou a cisco,
não vi os senhores gestores engravatados lá da minha guerra
virem à televisão dizer com orgulho:
somos mais uma smoke free company,

somos amigos do ambiente,
somos gajos decentes,
somos verde-rubros,
somos patriotas,
não fumem, seus idiotas,
criamos riqueza e saúde,
não fume, seus cabrões,
que o tabaco dá cabo do tesão!...

não, eles, os senhores e as senhoras da gestão do pessoal,
os senhores engenheiros da organização e métodos,
eles e elas, não têm lata para o fazer,
porque antes disso teriam que dar o exemplo,
e mostrar que também dão bons exemplos
de boas práticas noutras matérias
como a proteção ambiental,
a ergonomia da minha máquina de comando numérico,
o apoio aos órfãos e viúvas
dos operários que morreram a trabalhar,
a proteção da saúde e segurança dos trabalhadores,
a consulta e a participação do zé portuga,
a cidadania organizacional, 
ou lá o que isso queira dizer,
as boas contas, o blá-blá,  coisa e tal,
a garantia do trabalho decente,
o sentido de responsabilidade social,

e toda blá-blá de merda que os gajos e as gajas usam.

e a propósito:
alguém sabe explicar-me
o que é isso de trabalho decente, vida decente,
salário decente, condições de trabalho decentes,
cuidados de saúde de decentes,
ambiente decente, educação decente, habitação decente, 

saúde mental decente, intimidade decente,
privacidade decente, humanidade decente ?

também eu quero viver
decentemente,
respirar decentemente,
comer decentemente,
amar decentemente,
envelhecer decentemente 
e morrer decentemente.

hoje é dia mundial do não fumador,
uma vez por ano, todos os anos,
só não o foi na minha parvónia dos arrabaldes,
nem na caserna da minha memória,
nem no tasco que eu frequento,
nem na fábrica onde eu trabalho,
nem no meu bairro (social)
onde não há trabalho decente para a gente
nem dinheiro para o tabaco que engana a fome,
e a apagada e vil tristeza do nosso quotidiano.

e a angústia do amanhã sem amanhã,
a falta de graveto, pilim ou guita
para oferecer uma rosa à patroa
que agora vai fazer cinquenta anos 
e é mais nova do que eu.

hoje foi um dia trivial,
como os outros,
não dei por nada de especial.
hoje o estado arrecadou mais de 600 mil euros
de imposto sobre o vício de fumar,
33 homens e mulheres, meus compatriotas,  morreram
de doenças relacionadas com o tabagismo,
não vi nem ouvi os senhores ministros preocuparem-se
com os que trabucam e fumam,
com os pobres que fumam e que vão morrer,
vão morrer do trabalho e do cigarro e do cancro do pulmão,
tal como os outros que não fumam,
nunca fumaram ou deixaram de fumar.
ou que não trabalham.
um dia todos vamos morrerm
conheço essa teoria, a da dissonância cognitiva,
diz-me o doutor médico do trabalho lá da fábrica
e que até é um gajo porreiro
porque fuma,
tem paleio p'ra malta do fato macaco
e sabe que fumar e trabalhar fazem à mal saúde,
a gente precisa sempre de um bom alibi,
quer dizer uma desculpa,
para adiar a puta da morte
ou fintar a morte como na guiné,
a gente precisa de esconjurar a morte,
a malapata, a doença, a dor,
os medos, os fantasmas da noite,
a mina anticarro ou a emboscada na picada para guidaje.
a travessia do cacheu, a subida ao céu na ponte do jagarajá.
a descida ao inferno de gadamael,
o trânsito no purgatório do xime,
o juízo final em guileje,

o helicanhão a varrer o chão no choquemone,
a danação eterna em  canquelifá.
amen, 
padre nosso, avé-maria
que deus tenha em santo descanso 
os meus pobres camaradas que lá ficaram
e que eu tive de deixar para trás.

minto: o senhor ministro da saúde
que também o é da saúde pública,
da saúde da gente,
das crianças que estão no ventre
das mães toxicodependentes e das mães fumadoras
e das mães operárias do vale do ave,
o senhor ministro
acaba de anunciar a sua (dele e do governo) intenção
de aumentar o número de consultas hospitalares
de desabituação tabágica.
eu aplaudo,
com duas mãos e um rajada de gê três
que era  a minha gaja na  centésima vigésima qualquer coisa
companhia de caçadores paraquedistas.
de setenta e dois a setenta e quatro,
na guiné, longe do vietname.

mas quantas (consultas) não disse, o senhor ministro da doença,
nem onde nem com que meiosm
ele há montes de tugas a pedir ajuda,
não há técnicos para as encomendas,
e, os que há, são voluntários.
psicólogos à procura de espaço de trabalho
no mundo das batas brancas.
há listas de espera de dois anos,
para este tipo de consulta,
no serviço nacional de saúde
sua excelência bem sabe melhor do que eu.
e a propósito: diz-se desabituação
ou cessação tabágica ?
cessação, dizem os puristas.

que fumar é uma doença,
uma pestilência,
um pecado mortal,
um gajo morre e ainda por cima vai para o inferno.
mas o que é que um gajo como eu,
ex-combatente,
fumador compulsivo, de maço e picos
(que a guita não dá para mais),
faz em dois anos ?
dá em doido ?
morre de cancro ?
estoira com os miolos ?
trepa pelas paredes acima ?


em dois anos um portuga fumante como eu
acendeu pelo menos 21900 vezes o isqueiro,
fumou pelo menos 21900 cigarros (fora o cravanço).
ficou exposto a 4 mil produtos químicos
vezes 22 mil cigarros,

ou serão 5 mil ?
mais mil menos mil, tanto faz.


por conseguinte, um gajo está arrumado
ao fim de dois anos de espera na lista de espera
e a continuar a fumar,
e a trabucar.

e a pagar o imposto do vício,
a tirar o leitinho àd criancinhas,
e a foder o coirão, como no morés ou no fiofiili.
eu queria deixar de fumar, 

sinceramente queria deixar de fumar,
talvez alguém me possa ajudar,
lá em casa todos fumam.
e as mulheres (a patroa e as duas filhas) 

mais do que os homens.

eu fico, por isso, sensibilizado
com a sensibilidade do senhor ministro da saúde,
que é doutor e é um gajo bestial,
que se preocupa com a gente.

com os que não fumam
e apanham com o fumo dos que fumam,
mas também com os que fumam e trabalham como eu,
que fiz e perdi a guerra dita colonial,
classe operária, malandra, tunante,
grevista, marginal, quezilenta,
todos feios, porcos e maus,
e fumante como eu,
embora em vias de extinção
enquanto classe mal comportada,

e pior qualificada.


no dia mundial do não fumador,
eu  pichei no muro do cemitério, 
a caminho da fábrica,
fumo, logo existo.
imaginem se eu não fumasse:
estava tramado,
ninguém se preocupava comigo,
mas neste dia tenho a certeza que
alguém se preocupou comigo,
um ministro da saúde, 

médicos, enfermeiros, psicólogos.
padres, polícias, jornalistas, amigos.
cangalheiros, coveiros.
educadores, doutores em ética,
teólogos, estatistas, informáticos, 
locutores da TV, radialistas, epidemiólogos,
patrões do século vinte e um,
gestores do capital humano, 

técnicos de seguros,  sociólogos
e até banqueiros,
tudo gente importante e séria e engravatada.


hoje houve gente que se preocupou comigo.
e isso tocou-me,
deixou-me sensibilizado,
senti-me importante, 
mesmo que sozinho no meio da multidão do metro.
de casa para o trabalho e viceversa, cansado.
talvez eu ainda tenha sorte,
e vá a tempo de me inscrever
numa consulta de desabituação
(perdão, cessação) tabágica
em 2005,

mesmo com meio pulmão,
bem humorado,
a sorrir à vida e a piscar um olho à morte,

ou talvez morra antes, de febre hemorrágica.
ou de uma simples constipação,
ou passado a ferro na passadeira para peões,
numa qualquer sexta-feira à noite
onde há gajos, bêbedos, de carro
com licença para matar,
como eu como me deram um gê três

17/11/2003. 

revisto 

Luís Graça

_________

Nota do editor;

Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11723: Manuscrito(s) (Luís Graça)(4): Comment ils sont toujours gais, les portugais!

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Guiné 63/74 - P10916: Postais ilustrados (19): O menino, Augusto, que fumava cigarros "White Horse" (Beja Santos)



1ª Exposição Colonial Portuguesa, Porto, Palácio de Cristal, 16/6/1934 - 30/9/1934.

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Janeiro de 2013:



Queridos amigos,

Eis o resultado de andar a vasculhar caixas com bilhetes-postais, uma atração irresistível em lojas de ferro-velho ou velharias de toda a espécie.

O Augusto a fumar não é para ficarmos indignados, à luz das mentalidades dos anos 1930. Ajuda a refletir sobre o tratamento de uma criança-objeto, uma imagem irrecusável que até talvez causasse simpatia, naqueles tempos em que havia crianças contorcionistas em trupes de ciganos, crianças trapezistas no circo ou a chicotear cavalos.

A exposição do Porto, em 1934, teve como uma das principais atrações os guinéus. Eduardo Malta, convém não esquecer, sentiu-se fascinado pelo régulo Mamadu Sissé, um dos incondicionais do capitão Teixeira Pinto, desenhou-o com imensa beleza. Fazia-se filas para ver os Bijagós desnudados, era um desregramento autorizado.
Para que conste.

Um abraço do
Mário


O menino da Guiné que fumava cigarros White Horse

por Beja Santos



Há, por ora, um embaraçante enigma que alguém, mais avisado, poderá contribuir para esclarecer. O postal que se exibe mostra o Augusto da Guiné, estamos em crer que ele veio na comitiva guineense que se apresentou na 1ª Exposição Colonial Portuguesa, que se realizou no Porto, em 1934. Na verdade, o Augusto aparece noutras fotografias, até tem honras de aparecer estampado no livro “O Império de Papel”. E a Tabacaria Trindade fez nome publicando imensos bilhetes-postais, basta ir ao Google. Como os tabacos White Horse também existiram, basta ir ao Google.

E vamos agora à exposição em que participou o Augusto. Diga-se desde logo que foi um invento com estadão e alto significado político. Uma coisa foi a Exposição Industrial de 1932, no que é hoje o Pavilhão Carlos Lopes, por lá acamparam uns régulos Fulas e respetivas famílias em pleno Parque Eduardo VII, foram tratados com uma atração de feira, era uma chamada de atenção para aquela terra de onde vinha amendoim, coconote, algumas madeiras exóticas, ceras e curtumes, convinha sensibilizar os investimentos para a orizicultura e outras potencialidades agrícolas, o Império não era só Angola e Moçambique, espaços largos, de se perderem à vista.

Em 1934, o regime consagrado pela Constituição de 1933 queria dar provas de que o Império era muito mais do que o imaginário, era obra de missionação, havia para ali recursos a explorar para o engrandecimento da Nação. O capitão Henrique Galvão recebeu instruções para que a encenação ultrapassasse tudo o que até agora fora mostrando dos diferentes povos no vasto Império. E ele não se poupou a esforços. 

O problema foi a moral pública, a reclamar daquelas bajudas com maminhas ao léu, aqueles Bijagós despudorados com saias de ráfia, praticamente nus, e de olhar tão inocente. Faziam-se excursões, rezam as notícias publicadas nos jornais da época, para ver aqueles povos bárbaros, as crianças atiravam pedradas, a polícia tinha que agir, o ministro das Colónias, Armindo Monteiro, não gostou das críticas, ordenou ao capitão Henrique Galvão que acabasse com os desmandos, quem desrespeitasse os guinéus ia para a choça.

O Augusto devia ser uma criança muito dócil, os pais até devem ter achado graça ver o menino a fumar, reproduzido em bilhete-postal. Não vale a pena fazer comentários, fica o registo de um tratamento primitivo. Em muitos domínios, a História não dorme.
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Nota de CV:

sábado, 27 de outubro de 2012

Guiné 63/74 - P10578: Do Ninho D'Águia até África (21): O Tabaco, para alguns (Tony Borié)

1. Mais um episódio da narrativa "Do Ninho de D'Águia até África", de autoria do nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), iniciada no Poste P10177.


Do Ninho D'Águia até África (21)

O Tabaco, para alguns

Já foi dito mais que uma vez que se vivia com alguma angústia e desespero em cenário de guerra, alguns militares pensavam que para atenuar estes factos, o cigarro ajudava, como tal quase todos os militares fumavam em cenário de guerra. Isto já era um hábito. Diziam que dava uma certa auto estima, ajudava a passar as horas e mantinha o militar, um pouco mais ocupado. Talvez, mais distraído.

Não sabiam como explicar, mas talvez fizesse a pessoa mais importante puxar pelo seu cigarro, batê-lo na palma da mão e acendê-lo com o seu isqueiro. Os que tinham vindo da cidade faziam esta operação com uma ligeireza e habilidade de espantar. Os da província, como era o caso do Cifra, aprendiam e depois também se vangloriavam com certas habilidades. Enchiam a boca e os pulmões com fumo, por algum tempo, depois faziam círculos, com esse mesmo fumo, alguns mais habilidosos, colocavam o fumo dentro de um copo, que depois largavam, com destreza tal, que faziam uma coluna de fumo, com várias curvas, em cima de uma mesa, feita com o tampão de um barril de vinho vazio.

Ao acenderem o isqueiro, produziam uma série de malabarismos, uns mais habilidosos que outros. Para o final do mês, alguns andavam “à crava”, que era o que se dizia na gíria, quando alguém não tinha tabaco e pedia a um colega, mas nesse aspecto, havia um pacto entre militares, de nunca deixar um colega sem tabaco.

As marcas que se usavam eram, “Três Vintes”, “Paris” e “High Life”, todos sem filtro, da companhia tabaqueira portuguesa, e “Marlboro”, com filtro, americano, que era só para dias de festa, pois a embalagem, tinha “manga de ronco”, ou seja muita classe, e quando um militar se vestia com roupa lavada, colocava a embalagem de “Marlboro”, no bolso da camisa, às vezes cheia de cigarros “Três Vintes”, de modo a que se pudesse ver, pois era um luxo e dava mais estilo.

O “Marlboro” custava um pouco mais. Depois havia os cigarros que se faziam e que circulavam entre alguns militares, pelo menos os que já se conheciam e estavam ali estacionados há bastante tempo, e às vezes não só, normalmente com o nome de “especiais”. Era um mistura de ervas, um pouco maiores que o tabaco normal, que se amassava com os dedos, fazendo pequenas partículas, que por vezes se misturava com o tabaco normal, outras vezes se faziam os cigarros só com essas ervas.

Esta mistura de ervas vinha em embrulhos pequenos, num papel amarelado, amarrado com um fio, tipo onça de tabaco, mas um pouco maior, que depois se faziam os cigarros com uma mortalha de papel. Quase sempre vinham do norte da província, ou talvez do país vizinho, das terras mais secas. Tinham um aroma delicioso, e quando se fumavam tirava a dor de dentes, relaxava e parecia que não havia guerrilheiros no mundo, custava quase o mesmo preço de um maço de tabaco “Marlboro”, pouco mais, mas tinham que se fazer os cigarros, era mais difícil arranjar as mortalhas de papel, do que própriamente a mistura de ervas, pois só quando passava uma coluna militar, vinda do norte, é que abastecia o pessoal.

Havia um africano que vivia na tal aldeia, com casas cobertas de colmo, próximo do aquartelamento, que fazia estes cigarros, enrolados em folhas de tabaco seco, eram uns charutos pequenos e finos, um pouco maiores que um cigarro normal, esse homem não chegava para as encomendas, mas só vendia aos conhecidos e não cobrava mais caro, por cada cigarro, algumas vezes não queria dinheiro, queria um embrulho de ervas, que depois fazia o preço. Ele dizia mais ou menos isto:
- Antes do pessoal branco, eu ter sempre erva, agora não tenho, pessoal leva tudo. Antes, ia na mata e apanhava erva, agora, vem “homem mau” e leva pessoal.

Com toda a certeza, quando dizia “homem mau”, se referia aos guerrilheiros. Este homem passava o dia deitado na rede, mascando cola, debaixo de uma espécie de alpendre, na frente de sua “morança”, com um rádio portátil ligado com uns fios a uma bateria que o Cifra lhe arranjou de um Unimog que tinha sido quase destruído por um fornilho, e ouvindo música e orações numa língua em que parecia que estavam a chorar, e as suas quatro mulheres trabalhavam na “bolanha”, juntamente com os filhos e as filhas. Só se levantava da rede, para entrar na “morança” e dar continuidade a um pequenino fogo que existia a um canto do principal compartimento, onde ardiam madeira e folhas de cheiro, que ele dizia ser por causa dos mosquitos, mas quase todos sabiam que esse não era o motivo, pois quando se entrava naquele compartimento, havia um odor agradável e ficava-se tonto e a cambalear.

Muitas vezes o Cifra via esse homem na vila, talvez distribuindo o seu produto por alguns residentes, descalço, trajando uma vestimenta branca que o cobria até aos pés, um gorro de lã na cabeça, com cores que iam do amarelo ao preto, o rádio portátil seguro com uma das mãos, no ombro, e com os fios ligados à tal bateria que o Cifra lhe tinha dado, que uma das suas mulheres caminhando atrás de si, carregava à cabeça.

Só se fumava esta mistura de ervas quando alguém não recebia correio, ou se recebia, as notícias não eram as melhores, como por exemplo a namorada ter ido ao baile da paróquia com o vizinho e já não gostar dele como no princípio, ou ter que sair ao outro dia para determinada operação ou andava com dores em qualquer parte do corpo.

Quando se desejava um cigarro destes, com toda a naturalidade se dizia:
- Estou com fortes dores neste maldito dente, tens aí um “especial”?

Às vezes era melhor um cigarro destes do que ir ver o “Pastilhas”, o tal cabo enfermeiro.
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Nota de CV:

Vd. últimos 10 postes da série de:

22 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10419: Do Ninho D'Águia até África (11): Zarco, o combatente (Tony Borié)

26 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10438: Do Ninho D'Águia até África (12): O Madragoa (Tony Borié)

29 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10454: Do Ninho D'Águia até África (13): O Bóia (Tony Borié)

2 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10467: Do Ninho D'Águia até África (14): O herói "Curvas" (Tony Borié)

6 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10488: Do Ninho D'Águia até África (15): O "Caneta" (Tony Borié)

9 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10504: Do Ninho D'Águia até África (16): As notícias (Tony Borié)

13 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10524: Do Ninho D'Águia até África (17): Meia Missão, em África (Tony Borié)

16 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10536: Do Ninho D'Águia até África (18): O clima do Equador (Tony Borié)

20 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10549: Do Ninho D'Águia até África (19): Furriel Roger, o Herói (Tony Borié)
e
23 de Outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10559: Do Ninho D'Águia até África (20): Ida à capital da Província (Tony Borié)

sexta-feira, 14 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P697: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (5) (David Guimarães)

1. Texto do David Guimarães:

A ajuda para deixar de fumar (que coisa chata mesmo!): muita vontade mesmo e nunca por nunca mais pegar nele, no cigarro...

Não sei se serve - um dia alguém me tinha dito que o ti-no-nim (ambulância a tocar) dava uma preciosa ajuda ao abandono do tabaco... Foi mesmo assim que eu consegui: um dia fui parar ao hospital com 6,5 de hemoglobina... Nunca mais peguei no cigarro...

Mas que custa, custa, muito mesmo... Bem, nenhum médico me proibiu, eu é que achei giro deixar de fumar. Curado do hospital da maleita que me chegou, aí vou para casa... Ena, cigarro, não senhor, eu podia, eu queria e eu era forte...

Bem, não dormi uns dias, acordava em sobressaltos, enfim, aos dias 24 de cada mês dava-me cada crise de ansiedade ... Poça, e durou bastante tempo!!!

Vale a pena, a saúde nem sei se ganhei mais, mas uma coisa garanto: fiquei a respirar bem melhor mas só ao fim de um ano é que comecei a ver os resultados... Enrouquecemos, etc., etc., e depois tudo passa.... O cheirinho do cigarro que o meu filho fumava, ui, que me sabia tão bem... Mas não pequei mais e valeu a pena.... É que durante o processo de limpeza tens estes inconvenientes ...

Em religião, para quem acredita, há uma máxima de Cristo no perdão: "Vai e não voltes a pecar".

Eu digo para o Zé: "Vai e não voltes a fumar"... Bom conselho... de quem, como eu, que fumou até aos 47 anos, seguidinhos. E olha que logo bem cedo comecei: com 14 anos já tinha autorização expressa por escrito para fumar no colégio onde eu andava...

Se ajuda alguma coisa, valeu a pena; se não ajudou, paciência... Mas a história é simples, não fomos feitos com nenhuma chaminé na cabeça, para que havemos de fazer de nosso nariz e boca chaminés... à força ?

Um abraço Guimarães.


2. Novo texto do David Guimarães:

Mais uma ajuda, agora volto a ser operacional, vamos para a guerra... Uma das coisas que fiz, mal cheguei ao mato, foi saber onde estavam os cigarros... Muito bem, tomámos conta e haviam lá uns cigarritos ainda da CART [ 2413] que íamos render... Maravilha, dava para quem fumava... Cigarros Porto e Português Suave... Verdade mesmo: não estou a falar de futebol, falo dos cigarros que na altura encontrei no Xitole... picados já pela humidade (enfim, enfim, fumava-se tudo!)....

Rara excepção - mas sempre quando se ia dar um passeio pelo mato... de caçadeira G3, ração reforçada de combate tipo E... E, claro, sempre uns dois ou três macitos de cigarros no bolso... O cantil cheio de água, onde já se tinha metido uma patilha de halozone (creio que é assim que se escreve) e depois uma pastilha antigosto que ia tirar aquele gosto a cloro com que a água ficava, do desinfetante...

Uma preocupação de retirar daquela refeição - aquelas geleias... sim senhor, nunca levei... Não que nem gostasse mas o raio das formigas também gostavam e depois não me deixavam em paz...

Também o cigarro teve uma acção pedagócica de não agressão - eu sempre que ia passear á tabanca lá levava os cigarros no bolso para dar um à mulher do chefe de Tabanca, outro a outra e ainda mais um ao chefe...

- Manga de bom Furrié!
- Jamtum - (a pronúncia é esta, não sei se era assim escrito)...

E pronto, uma conversa e toca a colocar o crioulo em dia.... E Furrié manga de bom - isso interessava: enquanto bom, era bem recebido, mau eu nada ganharia... E era mesmo manga de bom: para me dizerem isso outra vez, mais cigarros se leva para eles.... Quem sabe se algum cigarro substituiu uma bala na minha cabeça no meio do mato... É que lá, eles deveriam me conhecer e bem... Deveriam não, conheciam mesmo, pois eram eles que pela noite viviam juntos de nós ...

Pronto, como posso eu dizer mal do cigarro? Mas vale a pena deixar de fumar, sim. E só sente quem já fumou, mas que custa deixar custa e, cuidado, é que depois para suprir a falta às vezes apetece beber mais um copo ou umas imperiais ou finos (conforme Sul ou Norte de Portugal...) Essa é a pura verdade....

Um abraço.
David Guimarães

Guiné 63/74 - P696: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (4) (Carlos Vinhal)

Caro Luis, parabéns pela luta contra o tabaco.

Fundamentalismos à parte, esclarecimentos quantos mais melhor.

Aqui vai o meu testemunho.

Iniciei aos 16 anos quando comecei a ter algum dinheirito para investir. A média era um maço por semana.

Aos 18 era já um fumador profissional porque, como trabalhava, tinha dinheiro para fumar um maço por dia.

Na tropa já era licenciado na matéria, maço e meio por dia era a média.

Na Guiné a média subiu ligeiramente. Como eu não era 100% operacional, de três em três dias fazia sargento de ronda (voluntariamente) pelo que estes dias tinham exactamente 24 horas de actividade. Logo a média subia para os TRÊS maços. Nos outros dias a média era quase dois.

Voltando à vida civil a dose diária era de quase dois maços. Aos 30 anos tive um problema num restaurante. Enquanto esperava pelo almoço tomei um aperitivo e fumei um cigarro. Antes de começar a refeição, senti-me mal, desmaiando duas vezes em escassos segundos. A minha mulher ficou assustadíssima, foi uma confusão total à minha volta e eu muito envergonhado no meio daquilo tudo.

Nessa hora decidi que iria deixar de fumar. Fora precisos cerca de 15 a 20 dias até deixar abandonar definitivamente. Não fumo há cerca de 28 anos. Nos primeiros tempos tinha pesadelos comigo a fumar. Cafezinho sem cigarro era um verdadeiro martírio. Os primeiros anos de abstinência foram muito difíceis. Ninguém me diga que é fácil deixar de fumar. Disso percebo eu.

Já agora, para ser honesto, fiz duas tentativas anteriores para deixar de fumar. Na primeira tive 1 ano de abstinência e na segunda 2 anos, mas acabei vencido pelo vício.

Há uma ideia de que quando se deixa de fumar há tendência para engordar um pouco. Comigo não aconteceu isso. Mantenho ainda hoje o peso dos meus 20 anos.

Como o nosso tertuliano Hugo Ferreira, quando compro carro novo, a primeira coisa que faço é retirar os cinzeiros amovíveis. Em casa não há cinzeiros porque, não fumando eu, ninguém está autorizado a fazê-lo.

Por favor não fumem. Queimar saúde e dinheiro é mesmo uma atitude estúpida. Quem se lembra disso?

Um abraço e boa Páscoa para todos
Carlos Vinhal

quinta-feira, 13 de abril de 2006

Guiné 63/74 - P693: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar! (3) (Hugo Moura Ferreira)

Amigo José Neto:

PARABÉNS!!

Isso de se conseguir deixar aquele mau hábito de fumar, quando se consegue, é motivo de parabéns!

Espero que a obra seja levada até ao fim. Pela minha parte, com a intenção de ajudar posso contar algo de mim, de forma sucinta.

- Comecei a fumar às escondidas, aos 9 anos;

- Só assumi a qualidade de fumador perante Pais e Sociedade, quando fui para a tropa;

- Deixei de fumar quando os meus filhos mais velhos eram pequenitos por 3 vezes, e voltei sempre no mesmo;

- Há alguns anos (já nem me lembro) quando fumava 3 maços/dia, de Português Suave sem filtro, deixei de fumar de um dia para o outro;

- Hoje o fumo dos outros já me incomoda e sinto-me perfeitamente bem;

- Deixei de ter catarro, a resistência ao cansaço aumentou visivelmente e quando faço os check ups habituais já nada se nota nos pulmões.;

- Passei a sentir-me outro.

Naturalmente que ainda me recordo que quando deixei o tabaco foi difícil mas com uns rebuçaditos (que não custaram nada pois sou um guloso assumido) e uma quanta dose de boa vontade, consegui, posso dizer, sem muito esforço.

E depois vêm os exemplos e os ambientes que nos envolvem...

- O meu filho mais velhos deixou de fumar quando foi para a tropa (Comando);

- Os outros dois nunca fumaram, portanto nem a tropa os afectou;

- As minhas 3 noras não fumam;

- As cunhadas, os sogros e todas as famílias envolventes não fumam;

- Em minha casa não se fuma, nem as visitas (não há cinzeiros);

- Os meus carros, por opção não trazem cinzeiros quando adquiridos.

Mais haveria para dizer, mas como prometi ser sucinto...

Espero que com estes exemplos possa ajudar.

Afinal isto é também uma faceta que nós por lá, nos anos da Guiné adquirimos um pouco. A Psico!

Continue e crie defesas pessoais para não cair na tentação outra vez.

Um abraço.

Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf (1966/1968)
CCAÇ 1621 e CCAÇ 6

Guiné 63/74 - P692: Força, Zé, contra o tabaco marchar, marchar (2) (Humberto Reis)

Texto do Humberto Reis:

Amigo Zé Neto, bom dia!

Vi agora a tua mensagem que me chegou do nosso correio-mor Luís.

Isto do cigarrinho é muito bonito de dar conselhos para quem nunca passou por elas. Eu fumei durante mais de 30 anos e na Guiné então foi uma maravilha. Para uma operação de 3 dias eram 5 ou 6 maços de cigarros nos bolsos e 2 cantis com água. Podia faltar de comer mas água, cigarros e munições é que não podiam faltar.

Há quase 12 anos, num fim de semana, comecei a experimentar (de minha autoria, pois ninguém me encomendou o sermão, nem valia a pena) parar com os cigarros. Foi um corte radical pois não acredito no tratamento com base na diminuição progressiva dos cigarros diários. Até hoje continuo a dizer que não fumo há quase 12 anos, o que é diferente de dizer que deixei de fumar.

Ainda hoje tenho maços de cigarros no carro, em casa e no escritório. Eles a olharem para mim e eu a olhar para eles. Isto só depende do próprio. Não vale a pena os outros andarem a chatear a cabeça. Agora que é verdade que me sinto bem melhor, lá isso é verdade.

Lembro-me de quando passei no Xime em 1969, a companhia que lá estava à espera de ser rendida pela CART 2520, que foi connosco no Niassa, tinha um lençol a servir de cartaz de boas vindas onde diziam que O QUE CUSTA MAIS SÃO OS PRIMEIROS 21 MESES.

Aplicado ao nosso tema (deixar de fumar), não é verdade isso mas de facto as primeiras semanas, ou o 1º trimestre, são um pouco difíceis. Roí algumas pastilhas de chiclets mas nunca fui ao médico procurar qualquer terapia.

Se já conseguiste ultrapassar os primeiros dias ou semanas, FORÇA COM ISSO!

Um abraço
Humberto Reis

Guiné 63/74 - P691: Força, Zé, contra o tabaco marchar (1)

1. Texto de um Zé Neto desalentado...

Luís:

O meu Endereço mudou porque passei para a Clix o mês passado. Julgava que tinhas recebido a mensagem que enviei a todos os meus correspondentes. Falhou... Mas não foi só a tua.

Ando muito chocho com a falta dos cigarros e não tenho cabeça para nada. Mas hei-de conseguir!!!

Um abraço do Zé Neto

2. Comentário do L.G.:

Grande Zé:

(i) Vais conseguir!!! Afinal, já venceste outras batalhas de outras guerras! Há outros prazeres na vida, muito melhores do que o cigarro. Tabaco e saúde não combinam. Mas, como eu costumo dizer, a saúde não é um fim em si, é apenas um meio para a gente ser (ou sentir-se) livre e feliz!

(ii) Obrigado pela tua resposta ao meu mail. Andava preocupado contigo. Não sabia do teu paradeiro. Vou actualizar os teus dados.

(iii) Amigos & camaradas: Actualizem, por favor, o endereço de e-mail do Zé Neto e, já agora, mandem-lhe uma mensagem de apoio. Ele está a precisar de uma palavra amiga. Na Guiné, aprendemos a ser solidários, aprendemos o valor da amizade e da camaradagem. Nas pequenas coisas do quotidiano.