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quarta-feira, 29 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4261: Parabéns a você (7): Giselda Pessoa, ex-Srgt Enf Pára-quedista, sobrevivente a um ataque de míssil SAM-7 Strela (Editores)

Hoje, dia 29 de Abril de 2009, a nossa querida camarada Giselda Pessoa acrescenta mais uma Primavera à sua vida.


A sua condição de mulher neste mundo de homens é singular, mas de pleno direito. Não fez a guerra como nós. A sua missão era bem diferente, bem mais nobre.

No dia do seu aniversário, queremos a homenagear também as suas companheiras de missão e todas as mulheres da nossa vida.

Nós, homens de barba rija, heróis de ocasião, resistentes a todas as privações impostas pelas degradantes condições próprias de uma guerra subversiva, em terras de uma África até então desconhecidas, somos afinal tão dependentes deste ser, que nós consideramos mais frágil, diria menos forte. Afinal, somos gerados no seu ventre, o seu sangue é o nosso primeiro alimento, o bater do seu coração é o primeiro som que ouvimos e o seu colo o nosso primeiro refúgio. Quando já autónomos e em crescimento, não fossem os cuidados da mãe, que seria de nós? E quando já velhotes, e elas nos tratam como se ainda fôssemos pequenos? O eterno feminino sempre presente na vida do homem.

Alguém falou da visão quase celestial de uma enfermeira pára-quedista em teatro de guerra. Naqueles momentos elas eram o prolongamento das nossas mães, esposas, irmãs e namoradas. Já foi aqui dito, mas nunca é demais repetir.

A Giselda Pessoa, no nosso Blogue, tem um estatuto especial por ser a única tertuliana, participante da Guerra Colonial, por ser uma das raras presenças activas da FAP, na nossa página, e por ter sobrevivido a um ataque de míssil Strela, tal, curiosamente, como o seu marido Miguel Pessoa, em ocasião diferente.

Do poste 3859

(...) 5. Em 6 de Abril de 1973, agora no Norte do território da Guiné, a fortuna foi ainda mais madrasta para o Grupo Operacional 1201 da Guiné. Nesse dia, muito cedo, um DO-27 pilotado pelo Furriel Baltazar da Silva partiu de Bissalanca para uma missão de apoio a um sector de Batalhão, a norte do rio Cacheu. Numa das movimentações, transportando um médico e um sargento de Bigene para Guidaje, o avião não chegou ao destino.

Tendo-se perdido o contacto com aquele avião, de Bissalanca descolaram meios aéreos para tentar localizá-lo e, quase em simultâneo, descolou outro DO-27 incumbido de proceder a uma evacuação sanitária pedida pelo aquartelamento do Guidaje. O avião era pilotado pelo Fur Carvalho e levava a bordo a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes.

Também este avião não chegaria ao seu destino: alvejado por um míssil Strela, que o não alcançou por muito pouco, os comandos do DO-27 ficaram tão danificados pela acção da onda de choque, que teve de regressar à base de origem. [Giselda Antunes e Miguel Pessoa vieram a casar mais tarde, tornando-se, com toda a probabilidade, num casal único em todo o mundo: ambos foram alvejados por mísseis terra-ar Strela, e escaparam os dois à morte.]
(**)

À Giselda, ao Miguel e à restante família desejamos as maiores felicidades. Que este dia se renove a cada 365, junto de todos vós.

Em nome da Tertúlia, deixo à Giselda 321 beijinhos, multiplicados muitas vezes, tantos serão os seus reconhecidos admiradores entre os nossos leitores ex-combatentes.

Deixamos algumas fotos publicadas no nosso Blogue, assim como a listagem de postes da Giselda ou a ela e às suas camaradas relativos.

A Enf.ª Srgt Pára-quedista Giselda Antunes, na Guiné, colhendo limões

Giselda Antunes, algures na Guiné.

Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. O destino acabou por juntar para toda a vida a Giselda e o Miguel.

Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.


Base Escola de Tancos > 1971 > 7.º curso de pára-quedismo, para enfermeiras civis. Foto de grupo.

Guiné > Bissalanca > BA 12 > 1972 > A Giselda (à direita), com um militar do Exército e a enfermeira Rosa Mota (Mendes pelo casamento).

Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > 1972 > A Gidelda junto do AL-III, com a respectiva tripulação, durante um alerta a operações, com base em Aldeia Formosa.

Guiné-Bissau > 1995 > Giselda Pessoa entre os despojos do Império

18 de Outubro de 2006 > Casal Pessoa no Museu das Tropas Pára-quedistas, no dia em que o Cor Miguel Pessoa ofereceu o seu pára-quedas àquele Museu.

A ex-Enf Pára-quedista Giselda Antunes recebendo das mãos do, então CEMFA, General Taveira Martins, um Diploma de agradecimento e reconhecimento pelos serviços prestados em prol dos combatentes feridos em combate, e não só. Esta homenagem que ocorreu em 20 de Junho de 2006, foi feita a TODAS as Enfermeiras Pára-quedistas, com a entrega de diplomas individuais.

Diploma de agradecimento entregue à Srgt Enf Pára-quedistas pelo CEMFA, devido ao serviço que prestou à FAP entre Agosto de 1970 e Maio de 1974.

Giselda e Miguel Pessoa, dois tertulianos que muito honram o nosso Blogue. Não haverá, seguramente, no mundo outro casal sobrevivo após ataques, em diferentes ocasiões, com mísseis Strella, às aeronaves em que seguiam.
__________

Notas de CV:

(*) 20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3916: Tabanca Grande (121): Giselda Antunes Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista (Agosto de 1970 / Maio de 1974)

(**) Vd. postes de:

9 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)
e
14 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

Sobre a série "As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas", Vd. postes de:

20 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3914: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (1): Uma brincadeira (machista...) em terra dos Lassas (Mário Fitas)

24 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3931: As nossas queridas enfermeiras pára-quedistas (2): Elementos para a sua história (1961-1974) (Cor Manuel A. Bernardo)

28 de Fevereiro de 2009 >
Guiné 63/74 - P3952: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (3): No fim do mundo (Giselda Pessoa)

7 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P3994: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (4): Uma civil, e transmontana de Sabrosa, na tropa (Giselda Pessoa)

8 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)

14 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4029: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (6): O anjo da guarda do Zé de Guidaje (Giselda Pessoa)

21 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)

14 de Abril de 2009 >
Guiné 63/74 - P4181: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (8): A dar ao Ambu (Giselda Pessoa)

27 de Abril de 2009 >
Guiné 63/74 - P4255: Parabéns a você (6): Hugo Guerra, o homem que foi evacuado duas vezes e meia, faz hoje anos (Editores)

quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23903: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (14): "Cobarde num dia, herói no outro" (João Seabra, ex-alf mil, CCav 8350, 1972/74)


João Seabra, hoje advogado;  foi alf mil, CCAV 8350 (1972/74). Tem apenas 15 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 3/2/2009.


1. Carta ao Director do Público, enviada pelo João Seabra, advogado com escritório em Lisboa, ex-alf mil, CCAV 8350 (Guileje, 1972/73); não sabemos se chegou a ser publicada naquele jornal, nem quando. 

Ele facultou-nos uma cópia, que publicámos em 27/1/2009, sob o poste P3801 (*). Por ocasião da morte do cor art ref Coutinho e Lima (Viana do Castelo, 1935 - Lisboa, 2022), justifica-se plenamente voltar a dar a conhecer, sobretudo para os mais novos, alguns dos acontecimentos de maio / junho de 1973, relatados na primeira pessoa do singular por aqueles que os viveram. No próximo ano comemoraremos os cinquenta anos da chamada batalha dos 3G (Guidaje, Guileje e Gadamael) (**).

Escusado será lembrar as regras do nosso blogue: as opiniões aqui expressas, sob a forma de postes ou de comentários, assinados, são da única e exclusiva responsabilidade dos seus autores, não podendo vincular o proprietário e editores do blogue e demais colaboradores permanentes. Mantemos o subtítulo original: "Cobarde num dia, herói no outro"... E quem o ler percebe que é um documento para a história, desassombrado,  frontal e corajoso.. 

Senhor Director,

Tendo lido as peças de Eduardo Dâmaso “A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos” e “Ninguém entregou a condecoração ao coronel”, publicadas no “Público de 26/6/2005”, achei conveniente pôr à sua disposição as tardias considerações que se seguem, às quais dará o destino que bem entender.

Fui alferes miliciano na CCav 8350, retirada de Guileje, em 22/5/73, por sensata decisão do comandante do então COP5, sr. major (coronel) Coutinho e Lima.

Nunca estive a bordo da “fragata Orion” (não seria uma LFG – lancha de fiscalização grande?), pela simples razão de que nunca me ausentei de Gadamael na sequência dos ataques dos dias 1/6/73 (uma quinta-feira) e seguintes.

Escreve-se numa das peças em causa: “os três ou quatro soldados que sobraram da tropa comandada pelo recém-chegado capitão Ferreira da Silva, ficaram sem artilharia, sem apoio aéreo, sem oficiais, sem posto de rádio ...”.

Não foi assim. Para além de mim próprio, permaneceram no interior do destacamento, o alferes Luís Pinto dos Santos, comandante do pelotão de artilharia do Guileje e o alferes Rocha, comandante de um pelotão de canhões sem recuo 57 mm (e já vão três oficiais), e ainda, pelo menos, um furriel, e algumas (poucas) praças desta mesma unidade e da CCaç 4743 (a companhia originariamente de guarnição a Gadamael).

Além disso, encontravam-se em patrulha próxima do aquartedamento um pelotão da CCaç 4743 (com o seu alferes) e outro da CCav 8350 (alferes Reis).

Sou portanto uma das raras pessoas, que reúne em si a dupla qualidade de “cobarde” que, sob as ordens do major (coronel) Coutinho e Lima, retirou do Guileje,  e de pretenso “herói” de Gadamael. Nesta última condição fui louvado por despacho do General Comandante-Chefe de 28/8/73.

E não saímos de Gadamael por razões de decência básica (havia mortos e feridos que não podiam ser abandonados) e de elementar sensatez (uma retirada, devidamente comandada, é uma manobra militar, mas não consigo imaginar nada de tão perigoso como uma debandada).

Acontece que, na situação que se gerou em 1/6/73, só por comodidade de expressão se poderá falar em “tropa comandada pelo recém-chegado capitão Ferreira da Silva”.

Para o perceber, há que retroceder às peripécias que determinaram a retirada de Guileje, e às que se lhe seguiram.

Ao contrário de Guileje, Gadamael era uma posição sustentável, com poços de água potável muito próximos do perímetro exterior do aquartelamento, dotada de um cais acostável, acessível por via fluvial através de LDM, que na praia-mar navegavam sem dificuldades no braço do rio Cacine em cuja margem se situava.

Já Guileje era um destacamento absurdo, necessitando de organização de colunas escoltadas para reabastecimento de água a 3,4 Km, dependente, para o seu aprovisionamento, de complicadas colunas rodoviárias múltiplas, de e para Gadamael, com uma pontualidade que poderia servir de exemplo à CP, e que ficava completamente isolado na época das chuvas.

O inimigo (termo convencional pelo qual designarei a entidade que nos pretendia matar, estropiar ou capturar, e a quem, se tivéssemos oportunidade, faríamos outro tanto) conseguiu conjugar duas vastas operações, praticamente simultâneas, ao norte sobre Guidage e ao sul sobre Guileje.

A primeira dessas operações, quase esgotou a chamada reserva do Comando-Chefe, em tropas especiais.

Os meios utilizados pelo inimigo, tanto em artilharia como em infantaria, eram quantitativa e qualitativamente muito superiores aos das nossas guarnições de quadrícula.

A este propósito, tem interesse a leitura do artigo, publicado no Público, de 26/7/2004, pelo comandante Osvaldo Lopes da Silva do PAIGC, se bem que a desenvoltura com que este oficial transita da astronomia para a geografia e da geografia para a topografia, me sugira não ter sido ele o autor do plano de fogos na operação sobre Guileje.

Seja como for, dada a prioridade à defesa de Guidaje, Guileje foi isolado mediante a interdição dos seus acessos rodoviários a Gadamael e à água potável, através de emboscadas permanentes, por unidades de infantaria do inimigo, numerosas e dotadas de superior poder de fogo, minagem em profundidade dos itinerários, e sujeito a contínuo bombardeamento por todas as armas pesadas de que o inimigo dispunha.

Retirada a guarnição, e população, de Guileje, através de um itinerário ainda não reconhecido pelo inimigo, foi recebida em Gadamael, pelo então coronel (agora brigadeiro na reserva) Rafael Durão 
 [Comandante do CAOP 1, e não 3 (lapso do autor) ], com sede em Cufar). Esclarecido oficial, cuja primeira medida consistiu em promover uma formatura da CCav 8350, para ademoestar os respectivos oficiais, sargentos e praças, em bom vernáculo militar. O major Coutinho e Lima foi enviado para Bissau, onde permaneceu detido, pelo menos até ao 25/4/74.

Ainda hoje estou para perceber por que razão, confirmada a sua evacuação, o aquartelamento de Guileje não foi imediata e intensivamente bombardeado pela Força Aérea. Provavelmente havia quem acalentasse a fantasia de uma reocupação imediata. Certo é que o inimigo continuou a flagelar a posição após a nossa retirada, e só nela entrou dois a três dias depois (como diria Alves a C.ª: “ que coisa prudente é a prudência!”).

Dir-se-ia que, naquela conjuntura, se afigurava, pelo menos, bastante provável que o inimigo procurasse balancear, sobre Gadamael, os abundantes e sofisticados meios que tinha reunido para a operação de Guileje.

Nessa eventualidade – e sem prejuízo do indispensável patrulhamento em profundidade – eram necessárias providências urgentes.

Antes de mais – porque em Gadamael não havia obras ou abrigos adequados a uma guarnição entretanto duplicada – impunha-se a necessária actividade de organização do terreno, fortificando o destacamento, reforçando os espaldões de armas pesadas, abrindo trincheiras eficientes, enquadrando as subunidades, dotando-as de postos de combate defensivos bem determinados e interligados entre si e com o comando.

Em vez disso, o pessoal da CCav 8350 foi caoticamente disperso, em alojamentos de ocasião, pelos cerca de 40.000 m2 do aquartelamento, sem contacto com os seus oficiais e com o comando. Não se iniciaram quaisquer obras defensivas.

Por iniciativa de alguém que não consigo identificar, nas semanas anteriores operou-se uma radical alteração do material à disposição dos pelotões de artilharia de Guileje e Gadamael: as peças 114 mm (Guileje) e 105 mm (Gadamael), foram substituídas por obuses de 140 mm.

Ora, tanto as peças de artilharia de campanha como as próprias armas pesadas de infantaria, quando instaladas numa dada posição, necessitam de regulação do tiro, mediante a observação dos respectivos pontos de impacto, geralmente através de observação aérea, que já se sabia ser impraticável a partir do momento em que o inimigo passou a dispor de misseis solo-ar Strela-SA7.

As causas da desregulação são variadas, tendo a ver, designadamente, com choques sofridos pelas armas durante o serviço, com as condições meteorológicas, com insuficiências de cartografia, etc..

Os nossos obuses 140 mm (modelo 1943), tinham portanto a interessante função de fazer barulho e, nos casos em que abriam fogo de noite, de fornecer indicações de ajustamento do tiro do inimigo.

Nesta prometedora situação, o coronel Durão – certamente a benefício do brio e da disciplina – pôs de parte qualquer trabalho de organização defensiva, determinando um patrulhamento que se pretendia agressivo e que envolvia, em permanência, dois a quatro pelotões de entre as duas companhias.

De tal actividade resultaram dois contactos com pequenos grupos de reconhecimento do inimigo (os quais, por definição, evitam empenhar-se em combate), a quem foram capturadas três espingardas automáticas Kalashnikov.

No dia 31 de Maio de 1973 (uma quarta-feira), de manhã, o coronel Rafael Durão, retirou-se para Cufar, tendo chegado à lúcida conclusão que o inimigo, em consequência dos nossos “sucessos”, tinha retraído o seu dispositivo, sendo improvável um esforço sério da sua parte sobre Gadamael. Tratou-se evidentemente de uma bazófia só comparável com a sua idílica ignorância das intenções e do sistema de forças do inimigo.

Em sua substituição deixou o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva. Nesse mesmo dia, à tarde, iniciou o inimigo uma forte flagelação sobre Gadamael, utilizando, sobretudo, morteiros 120 mm, mas também foguetões Katyusha de 122 mm e peças de 130 mm, com uma qualidade de tiro surpreendente.

No dia 1 de Junho, o fogo da artilharia do inimigo intensificou-se qualitativa e quantitativamente e, entre as 10 e as 13 horas, uma área de 20.000 a 30.000 m2 do destacamento de Gadamael encaixou, seguramente, entre 350 e 400 impactos de morteiro 120 mm, provocando consideráveis baixas na guarnição.

Os dois capitães (comandantes, respectivamente, da CCaç 4743 e da CCav 8350), foram evacuados entre as 10,30 e as 11,00 horas, e não “ao princípio da tarde”.

Apercebendo-me de que se estava a gerar uma debandada, tentei impedi-la, pelas razões acima expostas, com resultados muito limitados.

O pessoal estava completamente entregue a si próprio e a falta de condições de comando era total: só conseguíamos transmitir ordens a quem nos passasse ao alcance da voz.

Dois dos três espaldões das peças de artilharia receberam granadas de morteiro 120 mm, que feriram, mataram ou dispersaram a totalidade das respectivas guarnições.

O pessoal que ia debandando dizia-me que o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva tinha dado ordens para se “sair do quartel”.

Dirigindo-me a uma das posições da artilharia, encontrei o alferes Luís Pinto dos Santos, que sobreviveu, com ferimentos ligeiros, e resolvemos ambos procurar o capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva, para lhe perguntar se tinha ordenado a evacuação do aquartelamento. Respondeu-nos que tal não era a sua intenção, tendo apenas recomendado ao pessoal que se deslocasse temporariamente “para fora do arame”, isto é, para o exterior do perímetro do destacamento, uma vez que o seu interior estava a ser intensamente batido pela artilharia inimiga.

Fizemos-lhe saber que tal “deslocação temporária” tinha degenerado em debanda incontrolável.

O alferes Pinto dos Santos, com a minha ajuda, conseguiu improvisar um mínimo de serventes (entre os quais o furriel de transmissões da CCav 8350) para activar um dos três obuses 140 mm, à cadência de um tiro de quarto de hora em quarto de hora.

Tudo visto, recolheram-se os mortos, evacuaram-se os feridos por via fluvial, e garantiu-se, com fogo esporádico de obus 140 mm, de morteiro de 81 mm e de canhão sem recuo de 57 mm, uma aparência de capacidade de reacção que dissuadisse um eventual reconhecimento em força por parte do inimigo (que aliás não se mostrou muito afoito).

Enfim: o trivial. As munições para as armas pesadas eram transportadas do paiol em uma viatura Berliet temerariamente conduzida por um cabo escriturário (Raposo) da CCaç 4743, o qual, na volta, também transportava feridos para locais de embarque.

Nesse mesmo dia 1 de Junho à tarde:

Reentraram no quartel os dois pelotões que estavam em patrulha exterior; desembarcaram, de helicóptero, dois oficiais de confiança do Comando-Chefe (capitães Caetano e Manuel Soares Monge) e o coronel Rafael Durão (pessoa dotada de coragem física em proporção inversa à do respectivo discernimento).

No dia 3 de Junho (Sábado), desembarcou a companhia 122 de paraquedistas (capitão Terras Marques), e no dia seguinte a 123 (capitão Cordeiro).

Uns dias mais tarde chegou a companhia de paraquedistas nº 121 (comandatada pelo então tenente, e hoje tenente-general, Hugo Borges), o que significa que foi deslocado para Gadamael um batalhão completo de paraquedistas (BCP 12).

Entre sexta-feira, dia 2/6/73 e o domingo seguinte, a presença do major Pessoa, do BCP 12, pôs termo ao efémero comando do capitão (coronel /dr.) Ferreira da Silva) no, assim chamado, COP5.

Um verdadeiro e próprio comando das forças de Gadamael foi estabelecido no domingo (4/6/73) na pessoa do tenente-coronel Araújo e Sá (comandante do BCP 12).

Nesse mesmo dia – por razões que, para mim, permanecem obscuras – o major Pessoa (era o 2º comandante do BCP12) retirou-se de Gadamael.

Apesar de não figurarem habitualmente como “heróis de batalha de Gadamael”, as operações das diversas companhias paraquedistas, em cerca de duas semanas, desarticularam o dispositivo inimigo, sofrendo baixas moderadas (uns 25 a 40 feridos, na maior parte ligeiros, com estilhaços de RPG 7).

Nunca será demais sublinhar a qualidade destas tropas de elite. Recordando os contactos que mantive com os seus oficiais (designadamente os capitães Terras Marques e Cordeiro), anoto, como curiosidade, que se mostravam extremamente críticos (no limiar do humor negro) em relação aos fundamentos e à condução da guerra, sendo a sua considerável eficiência, fruto exclusivo de um extraordinário brio profissional.

O corpo de tropas pára-quedistas – das melhores que se poderiam encontrar, inclusivé a nível da NATO – foi destroçado, como unidade combatente, em 1975. Ao que me consta o brigadeiro Rafael Durão e o major Pessoa tiveram, nessa meritória obra, a sua função, cada um do seu lado, respectivamente, no “11 de Março” e no “25 de Novembro”.

Não sei se o tenente-coronel Fabião tinha condecorações para atribuir. Recordo que o alferes Pinto dos Santos e eu próprio fomos ouvidos como testemunhas num processo de averiguações para atribuição de condecoração militar ao capitão (coronel/dr.) Ferreira da Silva, pelo major (brigadeiro) Manuel Soares Monge, no quartel general do Comando-Chefe, em Bissau.

A nenhum de nós dois pareceu que fosse caso de condecorações a propósito do que se passou em Gadamael no dia 1 de Junho de 1973 (excepção feita ao cabo Raposo, atentos o seu posto e especialidade).

Recordo-me que, na altura, o então capitão Caetano me disse que tinha chegado a “fase dos baldes de plástico” (brinde comercial muito apreciado à época). Temíamos o aproveitamento de tal “fase” para transformar o capitão Ferreira da Silva numa espécie de contra-exemplo, em relação ao major Coutinho e Lima.

A serem atribuídas condecorações, deveriam elas ser, obviamente, atribuídas a oficiais, sargentos ou praças das tropas paraquedistas.

A partir da chegada do BCP 12, a CCav  8350 e a CCaç 4743 não tiveram qualquer actividade operacional de relevo.

Aliás nem poderiam ter, uma vez que não tinham treino, nem armamento, para se defrontar com a infantaria inimiga em reconhecimento avançado, do que foi feita a (desnecessária) demonstração no dia 4 de Junho, quando um pelotão da CCav 8350, reduzida a uma dúzia de elementos, caiu numa emboscada a menos de 1 km do aquartelamento, sofrendo quatro mortos (entre eles o respectivo alferes) e cinco feridos graves.

Será a este episódio que o dr. Ferreira da Silva, por equívoco, se quererá referir quando alude a “seis paraquedistas mortos no mesmo dia” (os cadáveres foram efectivamente recuperados por um pelotão de paraquedistas).

O objectivo desta pretensa patrulha era o de “descongestionar” o aquartelamento da sua, por assim dizer, densidade humana, face à eficiência do tiro da artilharia inimiga. Em suma: a CCav 8350 e a CCaç 4743 tinham passado a desempenhar a proverbial função de carne para canhão.

Note-se que a nossa tropa de quadrícula (companhias tipo caçadores), nem sequer estava dotada de uma metralhadora ligeira decente (a nossa inacreditável HK-21 encravava ao fim de cinco ou seis tiros).

As tropas especiais usavam as metralhadoras ligeiras MG 42 e, em considerável quantidade, equipamento capturado ao inimigo: metralhadoras ligeiras Degtyarev, lança granadas RPG 2 e RPG 7, espingardas automáticas Kalashnikov. Excelente material que, ainda hoje, está ao serviço, do Iraque ao Afeganistão, do Sudão à Libéria.

Tive a inspiração de selecionar, de entre os meus pertences, que carreguei de Guileje, um grande livro: Bouvard et Pécuchet, de Gustave Flaubert.

Quando saí de Gadamael, faz agora trinta e dois anos, tinha chegado a uma passagem célebre: “alors une faculté gênante se développa dans leur esprit, celle de percevoir la bêtise e de ne plus pouvoir la tol
érer.” [“então uma faculdade embaraçosa se desenvolveu em suas mentes, a de perceber a estupidez e não mais ser capaz de tolerá-la.” [tr. do editor LG ]

Dê a este enfadonho relato, Sr. Director, o destino que bem entender.

João Seabra

Antigo Alferes Miliciano da CCaV 8350 (1972/74)

P.S. - Porque, em certos aspectos factuais, confirma algo do acima relatado, junto segue extracto da minha folha de matrícula. 

[Revisão e fixação de texto / Negritos , para efeitos de publicação deste poste: LG]



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 1969 > Álbum fotográfico do João Martins > Foto nº 135/199 > O temível obus 14... mais um elemento da guarnição africana do Pel Art ali destacado.

Foto (e legenda): © João José Alves Martins (2012).   Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

__________

Nota de L.G.:

 (*) Vs. poste de 
27 de janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

)**) Último poste da série > 21 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23633: Guidaje, Guileje, Gadamael, maio/junho de 1973: foi há meio século... Alguém ainda se lembra? (13): Cumbamori, uma das mais violentas acções das NT em território estrangeiro e um dos maiores desaires do PAIGC... Mas falta-nos a versão do outro lado...

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4160: Parabéns a você (4): No dia 9 de Abril de 2009, ao camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (Editores)

Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Reformado.

Hoje, 9 de Abril de 2009, está de parabéns o nosso camarada Miguel Pessoa.

Ao nosso tertuliano Miguel Pessoa desejamos muitos anos de vida, na companhia de sua esposa, Giselda Pessoa, filhos, netos e demais familiares e amigos.

O Miguel faz parte da nossa Tabanca Grande há relativamente pouco tempo, mas a sua colaboração no Blogue tem sido intensa, e como elemento da Força Aérea, tem trazido até nós outras histórias e outra forma de ver e viver a guerra da Guiné (*).

Tem a particularidade de ser uma das poucas pessoas no mundo sobreviventes após impacto directo de um míssel terra-ar SAM-7 Strella na sua aeronave.

Foi uma sorte excepcional o míssil não ter atingido o avião de modo a impossibilitar tempo a sua ejecção. O de ter sido encontrado e recuperado no solo, são e salvo, antes do aparecimento do IN, após uma noite passada em vigília ao relento, em que os minutos terão parecido horas foi um facto invulgar.
Uma perna fracturada na chegada ao chão, obrigou-o a uma imobilidade forçada e a uma espera de evacuação assistida pelo Serviço de Saúde das Forças Armadas. Quis o destino que uma das pessoas intervenientes na sua recuperação fosse a que hoje, e desde há décadas, é a sua companheira de vida. Dizem os crentes que Deus escreve direito por linhas tortas. Ao Miguel e à Giselda desejamos as maiores felicidades.

Casal Giselda e Miguel Pessoa. Muito nos honra tê-los como camaradas e tertulianos no nosso Blogue.

Nunca é demais falar do trabalho destes nobres e valentes camaradas da FA que abnegadamente voaram nos céus da Guiné em prol da nossa segurança. Aos Pilotos, Especialistas no ar e em terra e às nossas queridas Enfermeiras Pára-quedistas, a nossa eterna gratidão.

Atentemos agora às suas palavras, quando pela primeira vez se nos dirigiu:

Para começar, apresento as minhas credenciais: Miguel Pessoa, à data Tenente-Piloto-Aviador do Quadro Permanente da Força Aérea. Cumpri a comissão na Guiné no período de 18NOV72 a 14AGO74, com um intervalo passado em Lisboa (entre 7ABR73 e início de AGO73) para recuperar das mazelas sofridas quando da minha ejecção de Fiat G91, depois de atingido por um SAM-7 Strella durante um apoio de fogo ao aquartelamento do Guileje.

À chegada ao Teatro de Operações estava apenas qualificado para voar o Fiat G-91 mas rapidamente o saudoso Ten Cor Almeida Brito ministrou-me um curso intensivo de DO-27 que me habilitou a operar este avião por todas as pistas ali existentes (64, se bem me lembro, que as contei na minha carta de voo). Assim, até Abril de 1973 dividi a minha actividade de voo entre o Fiat G-91 (1/3 das horas) e o Do-27 (os restantes 2/3).

A partir daí e até ao fim da comissão a minha actividade de voo foi essencialmente feita no Fiat G-91.
[...]

A melhor maneira de conhecermos e reconhecermos o trabalho meritório do Miguel como Piloto da FA, na Guerra da Guiné, é reler os seus postes abaixo identificados.

Deixamos também algumas das suas fotos e respectivas legendas que representarão alguns dos momentos mais importantes e mais dramáticos da sua passagem pelos céus e pistas de aviação de toda a Guiné.









Sequência fotográfica, mostrando a recuperação do Pilav Ten Miguel Pessoa, ejectado sob os céus de Guileje, depois do seu Fiat G-91 ter sido abatido por um Strela

Lisboa > AFAP - Associação da Força Aérea Portuguesa > 18 de Dezembro de 1995 > O reencontro de dois Mata: Marcelino da Mata (hoje, Ten Cor Ref) e Kurika da Mata (nome de guerra por que também era conhecido o Miguel Pessoa, na BA 12, Bissalanca, Guiné, 1972/74)

Guiné > Bissalanca > BA12 > O Ten Pilav Miguel Pessoa (1972/74). O Miguel foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido por um Strela (em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje) (1). Efectuou mais de 400 missões no TO da Guiné. Esteve 4 meses em Lisboa, hospitalizado, a seguir à queda do seu Fiat.

Guiné > Bissalanca > BA12 > 1974 > O então Ten Pilav Miguel Pessoa... Uns meses antes, em 25 de Março de 1973, num domingo e em pleno dia, o aquartelamento de Guileje fora duramente atacado durante cerca de hora e meia. Foram usados foguetões 122 mm. A parelha de Fiat G-91 que estava de alerta em Bissalanca, nesse dia e hora, veio em apoio de fogo. A aeronave do Miguel Pessoa, que vinha à frente, foi atingida por um Strella, sob os céus de Guileje... Foi o primeiro Fiat G-91, na história da guerra da Guiné, a ser abatido pela nova arma, fornecida pelos soviéticos ao PAIGC, o míssil terra-ar SAM-7 Strella (de resto, já usada e testada na guerra do Vietname)... O Ten Pil Miguel Pessoa conseguiu, felizmente, ejectar-se. Vinte quatro horas depois, era resgatado, são e salvo, pelo grupo de operações especiais do Marcelino da Mata, conforme se pode ler numa das cartas do nosso amigo e camarada J. Casimiro Carvalho, já aqui publicadas na série Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) ... (1)
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

14 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3892: FAP (12): O Fur Mil Pil Mota, e as Enf páras Giselda e Natália, caídos no Como em 1973 e salvos pelos fuzos (Miguel Pessoa)

18 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3911: Dossiê Madina do Boé e o 24 de Setembro (1): Em 1995, confirmaram-me que o local da cerimónia foi mais a sul (Miguel Pessoa)

27 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3948: FAP (14): Um dia rotineiro na Base Aérea nº 12, em Bissalanca (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, 1972/74)

8 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P3999: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-quedistas (5): Justamente recordadas no Dia Internacional da Mulher (Miguel Pessoa)

13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4024: FAP (16): O reencontro, 22 anos depois, de Kurika da Mata com o Marcelino da Mata (Miguel Pessoa)

19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4051: FAP (18): Kurika da Mata (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4065: As Nossas Queridas Enfermeiras Pára-Quedistas (7): Os tomates do Capelão da BA 12, Bissalanca... e outras frutas (Miguel Pessoa)

28 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4088: FAP (20): Efemérides: 36 anos após a morte do Ten Cor Pilav Almeida Brito, abatido por um Strela em Madina do Boé (Miguel Pessoa)

1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)


Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19273: (Ex)citações (346): Frases politicamente (in)corretas de um dos bravos dos céus do CTIG, o ex-ten pilav António Martins de Matos (BA 12, Bissalanca, 1972-74) - Parte II -Tenho saudades do meu Caco Baldé


Capa do livro"Voando sobre um Ninho de Strelas", de António Martins de Matos (Lisboa: BooksFactory,  2018, 375.pp.)


António Martins de Matos, ex-ten pilav, 
Bissalanca. BA 12, 10/5/1972 - 4/2/1974;
 ten gen ref.
1. Continuaçã da publicação de algumas notas de leitura do livro  "Voando sobre um Ninho de Strelas", do ten gen pilav ref António Martins de Matos, membro da nossa Tabanca Grande (desde 2008, com 90 referências no nosso blogue), amanhã,  3ª feira, dia 11, às 18h00, em Lisboa  (*). 

Seleção,  da responsabilidade do nosso editor, de algumas frases e pequenos excertos, dando um a ideia do conteúdo, memorialístico, do livro (**)

‘Não tenhas medo, pá [, cabo mecânico,], estás a voar com um piloto dos jactos!’ (p. 143).

‘Meu tenente, os fios das antenas dos rádios lá dos FTs vêm presos à cauda do avião, DO-27]’… Desculpem lá o incómodo, (...) oxalá o correio tenha valido a pena (p. 144).

A área que me tinha sido atribuída para patrulhamento e identificação de eventuais alvos era a zona Norte da Guiné. Fiz inúmeros voos de DO-27 sobre o Morés e a Caboiana, às voltas e mais voltas e à procura das tais “áreas libertadas”, nunca tive qualquer problema e… nunca as vi. (…) Tínhamos uma regra que, pelos vistos, o PAIGC respeitava (quem tem c…, tem medo), se disparassem um tiro contra uma aeronave não demorava mais de quinze minutos até essa área ser completamente bombardeada. Era assim em toda a Guiné, fosse no Choquemone, Morés, Caboiana ou Cantanhez (pp.145/146).




Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > A mesa dos "pilotaços", Miguel Pessoa e António Martins de Matos, dois ex-ten pilav, da Esquadra de Fiat G-91 "Os TIgres",  Bissalanca, 1972/74.

Foto (e legenda): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Em 25 de março de 1973, nas imediações de Guileje, foi abatido o primeiro avião [por um Strela]. Era tripulado pelo tenente Miguel Pessoa (Fiat G-91, nº 5413), a Esquadra [121, ] passou a contar com apenas 3 pilotos (p. 147).

(...) A morte do tenente coronel Almeida Brito[, em 28 de março de 1973,] foi um duro golpe no moral dos pilotos, já que, para além de ser o piloto mais experiente na Guiné, era igualmente o nosso Comandante (p. 150).

A morte do tenente coronel Almeida Brito incomodou-me na altura, voltou a incomodar-me quinze anos depois e… ainda hoje me incomoda (p. 151).

Durante a manhã de 6 de abril de 1973 foram abatidos o furriel João Baltazar (DO-27) e o major Rolando Mantovani (T-6), tendo igualmente desaparecido o furriel Fernando Ferreira (DO-27) (p.152).

No dia seguinte vários acontecimentos ocorreram: (i) um piloto de Fiat G-91 “adoeceu” (…), dos 6 pilotos que a Esquadra devia comportar, já só restavam dois, um capitão (comandante da Esquadra) e um tenente; (ii) um piloto de AL-III arranjou uma maneira simples de terminar a sua Comissão de Serviço, estava a limpar a pistola, ela disparou-se, um tiro numa perna; (iii) alguns dos pilotos de AL-III recusaram-se a voar enquanto não lhes fosse explicada que arma era aquela (p. 152).

(…) De súbito e sem que ninguém o esperasse, apareceu nas Operações do GO12 um documento de origem americana com a T.O. (Technical Order) do míssil soviético SA-7 Grail, designado com o código NATO de ‘Strela’. Nunca acreditei em milagres, mas que os há… há (…) (p. 152).

Foi preciso morrerem pilotos, mecânicos, enfermeiros, militares do Exército, para que finalmente soubéssemos que arma nos alvejava e pudéssemos estudar as respetivas contramedidas (p. 153).

Com a aplicação das contramedidas estudadas (e não obstante o PAIGC ter disparado cerca de 60 mísseis), a FAP apenas teve mais um avião abatido, a 31 de janeiro de 1974 (, Fiat G-91, nº 5437), na região de Canquelifá-Copá, tendo o piloto sido recuperado na manhã seguinte (p. 157).

No meu entender o míssil Strela influenciou de algum modo a guerra mas não teve o papel determinante que alguns teimam em lhe querer dar (p 157).


(...) O que perturbou a atuação da FAP não foi o míssil em si mas sim o período em que desconhecíamos que arma era aquela, que foguete era aquele que nos perseguia (p. 13).

Por mim, (…) a arma que mais influenciou a guerra na Guiné, não foi o Strela, arma de defesa antiaérea, mas sim… o morteiro 120 mm (p. 158).

Também tínhamos uma outra maneira de demonstrar que continuávamos a voar, na volta das missões [, incluindo o ataque a bases como Kambera, em território da Guiné-Conacri, finalmente com a autorização de Spínola] passarmos uma rapada sobre os telhados de Bissau só para animar a malta… Grande gozo nos dava, passar a raspar os telhados da cidade a 400 Kts (740/km hora). O ‘Caco’ logo nos proibiu tal manobra (…) (p.162).




Cor pilav Manuel Bessa Rodrigues de Azevedo (1938-2014) 

Blé [, capitão Bessa], eu sei que, lá por
onde andas, estás em boa companhia, com os amigos pilotaços Brito, Moura Pinto, Mantovani, Gil e as enfermeiras Manuela e Piedade. Um dia, os da Tertúlia, que ainda estamos cá em baixo, vamos visitar-te. (…). Prepara-te, vai ser uma festa de arromba!!! Até sempre, companheiro(p. 171).

O “randar fantasma”… Também me constou que o homem que zelava pela sua manutenção acabou por ser promovido a “gerente de messe” (p. 184).

A Operação Ametista Real foi um marco importante na história da Guiné, mas não foi tão limpa quanto se propagandeou no briefing nem à posteriori, já que, ao contrário do que tinha sido prometido, alguns dos Comandos Africanos foram mortos e deixados no terreno. Pior,alguns foram deixados feridos e abandonados, vindo a ser executados no próprio local pelos guerrilheiros do PAIGC (p. 189).


“Não é minha intenção julgá-lo [, ao comandante do COP 5 que deu ordens para abandonar Guileje,] mas confesso que me incomoda as várias tentativas que vêm sendo feitas de o apresentar como um herói, que não foi. A sua retirada, apresentada por alguns como uma manobra bem executada, não foi mais que uma simples fuga, tivesse o Guileje efetivamente cercado, e teria sido o maior desastre das nossas forças em África” (p. 200).

(…) A minha homenagem ao BCP 12 (CCP 121, CCP 122 e CCP 123). Sem eles, Gadamael tinha seguido o destino de Guileje (p. 203).

Há muitos anos que continuo a ver e ouvir os “meus fantasmas”, em fuga de Gadamael, a pedirem-me ajuda e… continuam mortos e entalados no tarrafo do rio Cacine (p. 204).

Uma nova verdade aflorava, como se costuma dizer, clarinha para militares. Não iria ser por culpa dos homens no terreno que a guerra iria ser perdida mas sim pelas manobras e omissões político-militares das cúpulas em Lisboa (p. 210)

Na Força Aérea sempre foi assim, “serviço é serviço, conhaque é conhaque” (p. 216).

‘Em vez de andarmos à procura das formigas, o melhor será encontrarmos o formigueiro’. Estava lançado o mote para destruir Kandiafara (p. 223).

A mais famosa e importante base de apoio do PAIGC acabara de ser destruída [em 19 de setembro de 1973, data em que Spínola já tinha partido e o novo Com-Chefe ainda não tinha chegado]. E tinham razão os da Força Aérea, o novo comandante chefe [, general Bettencourt Rodrigues,] nunca mais nos deixou ir ao estrangeiro (p. 229).



Tenho saudades dos bons tempos passados na Guiné (p. 13)


Tenho saudades do meu Caco Baldé (p. 239)

Amo a minha Força Aérea (p. 299)
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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3948: FAP (14): Um dia rotineiro na Base Aérea nº 12, em Bissalanca (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav, 1972/74)

Guiné > Bissalanca > BA12 > O Ten Pilav Miguel Pessoa (1972/74). O Miguel foi o primeiro piloto de Fiat G-91 a ser abatido por um Strela (em 25 de Março de 1973, sob os céus de Guileje) (1). Efectuou mais de 400 missões no TO da Guiné. Esteve 4 meses em Lisboa, hospitalizado, a seguir à queda do seu Fiat.

Foto: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados


1. Mensagem de Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanaca, 1972/74):

Luís: Aqui vai um texto para o blogue, se quiseres publicá-lo. Podes pensar que soa a romance barato, mas foi a maneira que arranjei de exorcisar os meus fantasmas, sem falar deles directamente...
Abraço, Miguel


2. FAP (14) > UM DIA ROTINEIRO NA BA12
por Miguel Pessoa

O mecânico acompanha-me enquanto faço a inspecção de 360º ao Fiat G-91 estacionado na placa, na BA12. Sinto a ansiedade habitual nos últimos voos. Também não admira - quando sabemos que vamos encontrar fogo de anti-aérea e possíveis Strela, é natural que fiquemos preocupados.

Como tem vindo a ser habitual, a tensão dá-me voltas ao estômago enquanto continuo a inspecção exterior ao avião. Parece que tenho vontade de vomitar mas nada sai. Tento disfarçar, que o mecânico continua ao meu lado e ninguém gosta de dar parte de fraco ao pé dos outros.

Mas os antecedentes não ajudam muito... Já fui ao charco uma vez e não gostei. E o problema é que matematicamente tenho as mesmas hipóteses que os outros de ser abatido - não me parece lá muito justo! Só voltei à Guiné há poucas semanas e a readaptação tem sido difícil; é muito penoso para mim recordar o tempo que estive sozinho no mato, depois da minha ejecção, sempre na iminência de ser apanhado à mão, por isso é natural que esteja preocupado.

Aliás, também os mecânicos andam preocupados. É grande a sua responsabilidade - o avião tem que funcionar que nem um relógio, o armamento não pode falhar, a Martin-Baker (*) tem que funcionar se tudo o resto correr mal - nenhum quer ser responsável pela perda de um piloto.

Logo hoje, que era o meu dia de folga! Bom, nesta bagunçada nada é garantido e temos que ser adaptáveis às mudanças... Mas a Esquadra foi solicitada para uma série de missões importantes que podem contribuir para diminuir o fluxo de pessoal e material que se interna na Guiné, vindos do exterior. Se resultar, poder-se-á reduzir a intensidade das flagelações aos nossos aquartelamentos; este esforço já se prolonga há dois dias e todos juntos não somos demais.

Neste momento sou o oficial mais antigo (um tenente!) a seguir ao Comandante de Esquadra, por isso, como oficial de operações (nome pomposo!) cabe-me a mim indicar os pilotos para as missões. Naturalmente, o meu nome tem que aparecer lá (o exemplo tem que começar por nós) e a folga, paciência!, fica para outro dia.

O avião está OK, o armamento pronto, como normalmente - o pessoal da linha não falha, como de costume - e eu dirijo-me para a escada para ocupar o meu lugar no cockpit - controlo um último espasmo e, enquanto subo a escada verifico, penduradas nela, as diferentes cavilhas de segurança que o mecânico retirou.

Coloco o capacete, o mecânico ajuda-me a colocar os cintos. Percorro com os olhos o check-list para confirmar que fiz todos os procedimentos correctamente antes de pôr em marcha. O chefe da formação, no avião ao meu lado, faz sinal com a mão para pormos em marcha. Primo o botão do cartucho de arranque do motor, este começa a rodar e estabiliza nas rotações normais. Executo os restantes procedimentos, acciono a descida da canopy (**) e faço sinal ao mecânico para tirar os calços das rodas.

Tudo OK! Aumento as rotações do motor para sair do estacionamento e inicio a rolagem do meu avião atrás do outro, fazendo antes um aceno de despedida ao mecânico que me deu a saída.

Toda a excitação acumulada anteriormente parece abandonar-me. Estou ali só, dentro do avião, controlando os meus medos de modo a que não interfiram com o cumprimento da missão. Temos de esquecer tudo e concentrarmo-nos totalmente no voo que temos pela frente, vigiando o espaço à nossa volta, tentando detectar alguma ameaça para o nosso ou para os outros aviões.

Finalmente estamos no ar e dirigimo-nos para o alvo definido no briefing antes do voo. Tudo corre normalmente e sinto uma estranha sensação de calma que contrasta com o nervosismo anterior. Os Tigres da Esquadra 121 estão no ar para mais uma missão de rotina nos céus da Guiné...


Miguel Pessoa
(Cor Pilav Ref)
_______

Notas do autor

(*) Cadeira de ejecção do Fiat G-91 R4

(**) Cobertura da cabina

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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

19 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1675: 28 de Março e 5 de Abril de 1973: cinco aeronaves da FAP abatidas pelos toscos mísseis terra-ar SAM-7 Strella (Victor Barata)

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91

29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strelado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strelas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

1 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3826: FAP (3): A entrada em acção dos Strella, vista do CAOP1, Mansoa, Março-Maio de 1973 (António Graça de Abreu)

4 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3859: FAP (6): A introdução do míssil russo SAM-7 Strela no CTIG ( J. Pinto Ferreira / Miguel Pessoa)

(2) Vd. último poste da série FAP > 16 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3904: FAP (13): Nha Bolanha, o Ramos, o Jorge Caiano, o Manso, o corta-fogo do AL III, Bissalanca... (Jorge Félix)

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Guiné 63/74 - P15948: Notas de leitura (825): "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", de Jorge Sales Golias (a lançar na 5ª feira, dia 14, em Lisboa): pré-publicação de um excerto por cortesia do autor: A perda da supremacia aérea – Março de 1973


Guiné > Pós 25 de abril > Primeiro encontro entre as NT e o PAIGC > O Cap Silva Ramalho, companhia de Saré Bacar [, na fronteira com o Senegal, a 39 km a nordeste de Contubole], sentado à direita, de óculos escuros, a falar com um representante do PAIGC, através de um intérprete.

Foto (e legenda): © Jorge Sales Golias (2016). Todos os direitos reservados



Capa do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016), a ser lançado no próximo dia 14 deste mês, 5ª feira, às 18h, na CPHM - Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, Largo de São Domingos, 11, Lisboa. (*)


1.  Mensagem de Jorge Sales Golias, do dia 5 do corrente:

Boa noite, camarada Luís,

Agradeço-lhe as suas palavras e, bem assim, toda a explicação detalhada sobre a perfomance do blogue.

Não lhe vou prometer grande colaboração porque estou envolvido numa teia de compromissos que me esgotam os tempos livres. Mas quem corre por gosto não cansa.

E para prestar a minha homenagem a este site extraordinário que o camarada  coordena.  vou então mandar-lhe para pré-publicação um extracto do texto do  livro "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães". 

Mando  também uma foto não publicada sobre o 1º Encontro NT-PAIGC.

Abraço do Jorge Golias,

Jorge Sales Golias,  transmontano de Mirandela, nascido em 1941, ex-cap eng trms, licenciado em engenharia electrónica pelo IST - Instituto Superior Técnico, membro do MFA, Bissau, adjunto do CEME, gen Carlos Fabião em 1974/75, cor trms ref, administrador de empresas].



2. Excerto do livro "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016).  Cortesia do autor (**)


(...) A perda da supremacia aérea – Março de 73

As comunicações mais críticas no TO eram, sem dúvida, as de pedido de apoio aéreo (APAR). A rede de APAR de VHF funcionava nas frequências exclusivas de 49,0 e 51,0 MHz. Em combate, as ligações faziam-se entre os E/R AVP-1 e os E/R ARC-44 do aéreo (59).

Esta ligação era dificultada pela não total compatibilidade dos rádios do Exército e da Força Aérea, mas sempre se fazia satisfatoriamente, o que era vital, pois em situações de combate, nomeadamente de emboscadas, o apoio aéreo era prestado em poucos minutos, dadas as curtas distâncias em jogo.

Tal status garantia às NT que as situações de confronto eram relativamente curtas, pois os guerrilheiros do PAIGC sabiam que rapidamente ficavam sob fogo aéreo dos aviões T-6 e Fiat G-91 e retiravam, dispersando antecipadamente.

Outro apoio vital era o das evacuações por helicóptero (Allouette) directamente do mato para o Hospital Militar de Bissau (HMB). Os pedidos de apoio aéreo feitos para a Base Aérea Militar eram em HF, com os AN/GRC-9 (60) e os RACAL TR-28.

No entanto, o status da supremacia aérea, determinante para as NT desde o início da guerra em 1963, viria a perder-se em 1973, dez anos depois, com a introdução no campo de batalha, pelo IN, dos mísseis terra-ar SAM-7 (STRELA), de fabrico soviético. Estes eram portáteis a dorso e actuavam orientados por raios infravermelhos e visando a fonte quente do aéreo.

Registo a este respeito os primeiros abates no TO de FIAT G-91, em Março de 1973, um com o tenente Miguel Pessoa em Guileje (61)  que se ejectou e foi recuperado pelas NT (através de uma operação especial no dia seguinte) e outro, dias depois, pilotado pelo tenente-coronel Almeida Brito, no Sul, que foi a primeira vítima desta nova arma.

Dos vários aviões alvejados, cito o do capitão piloto aviador Pinto Ferreira, do meu curso da AM [, Academia Militar], que viu sair o míssil e através de uma acrobacia o conseguiu despistar.

O comandante da Zona Aérea era o coronel piloto aviador Lemos Ferreira, que nesta altura, em face da recusa de alguns pilotos em voar, ele próprio desempenhou algumas missões. (...)

______________


Notas do autor:


(59) Também havia pedidos de APAR pelas redes de HF, High Frequency, Alta Frequência, de 3 a 30 Mhz, que permitia uma comunicação a maiores distâncias, mas cuja ligação na Guiné nem sempre era possível.

(60) Army Navy/Ground Radio Communications, de origem Americana.

(61) O PAIGC usou aqui pela 1ª vez o Strela. Para tal atacou de dia a guarnição para a obrigar a pedir apoio de fogos. Apoio pedido, foi o avião atacado logo que chegou e deu-se o 1º abate no território.




de que o Jorge Sales Golias é coborador


3. Nota do editor:

Agradecemos a gentileza do camarada Jorge Sales Golias, que não conhecemos pessoalmente, e a quem saudamos pelo lançamento do seu livro. Oportunamente, será feita a  devida "nota de leitura" ou recensão bibliográfica a cargo do nosso colaborador permanente Mário Beja Santos ou por iniciativa de qualquer outro dos leitores do livro que o queiram comentar publicamente, aqui no nosso blogue.

Apraz-nos registar que os camaradas da Guiné, independentemente da época em que lá estiveram, da sua condição militar (arma, especialidade, posto, etc.) têm vindo a escrever e a publicar livros sobre os acontecimentos em que participaram, nesta antiga província (ou colónia) portuguesa, entre 1961 e 1974. 

Nunca é demais recordar  que o nosso blogue não tem nenhum bandeira, a não ser a da camadaragem e da verdade. Somos um blogue de memórias e de afectos. E é importante que todos os camaradas da Guiné  se sintam aqui tão confortáveis, neste espaço plural, a Tabanca Grande,  onde todos cabemos com tudo aquilo que nos une e até com aquilo que nos pode separar.  

Jorge, parabéns, boa sessão de lançamento e boa sorte para o livro. LG

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de 


3 de abril de 2016 > Guiné 63/74 - P15932: Agenda cultural (472): sessão de lançamento do livro de Jorge Sales Golias, "A descolonização da Guiné-Bissau e o movimento dos capitães" (Lisboa, Edições Colibri, 2016, 385 pp.), dia 14 de abril de 2016, 5ª feira, às 18h, na Comissão Portuguesa de História Militar, Palácio da Independência, largo de São Domingos, 11, Lisboa. Prefácio: cor Carlos Matos Gomes; apresentação: cor Aniceto Afonso

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Guiné 63/74 - P16496: FAP (98): Pedaços das nossas vidas (2): "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel", por TGeneral PilAv José Nico - II Parte (José Nico / Miguel Pessoa)



1. Segunda parte do trabalho intitulado "Marte, saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!", da autoria do TGeneral PilAv José Nico, relatando o abate, em 28 de Julho de 1968, do avião pilotado pelo então TCor PilAv Costa Gomes, Comandante do Grupo Operacional 1201, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Miguel Pessoa, Cor PilAv Ref (ex-Ten PilAv, BA 12, Bissalanca, 1972/74)




PEDAÇOS DAS NOSSAS VIDAS[1]

Cumpri muitas missões durante a minha carreira na Força Aérea Portuguesa. A comissão na Guiné, porém, sobrepôs-se a todas as outras e marcou-me indelevelmente para o resto da vida. A mim e certamente a todos os que, de algum modo, partilharam a mesma experiência. É dela ou de acontecimentos com ela relacionados, que vos irei dando conta… 


VII – “Marte[2], saia a Força Aérea, o Pirata[3] ejectou-se em Gandembel!”

Por TGeneral José Nico

II Parte

Gandembel 

Gandembel era um aquartelamento que tinha sido montado com o propósito de servir de base a uma companhia do Exército cuja missão era interditar o caminho de infiltração/exfiltração do PAIGC, conhecido como corredor do Guilege. Existiu desde princípios de Abril de 1968 até Fevereiro de 1969.

A ideia do Brigadeiro Arnaldo Schulz, na altura Governador e Comandante-Chefe, era boa mas o conceito operacional revelou-se um desastre e nunca foi corrigido satisfatoriamente. Participei na Operação Bola de Fogo com que se deu início à construção do aquartelamento e posteriormente efectuei numerosas missões de reconhecimento e de ataque na zona de Gandembel e no corredor do Guilege. Corredor que nas memórias de muitos ex-militares tem sido promovido ao estatuto de “corredor da morte”, certamente para enfatizar o sofrimento de quem serviu de alvo aos guerrilheiros em Gandembel ou ainda, para outros que insistem em vitimizar-se e, em última análise, a vitimizar-nos a todos nós perante os nossos inimigos da altura e que é uma qualificação da qual discordo completamente. Decorre do politicamente correcto com que os vencedores do 25A nos vacinaram e que ensombra a dignidade desse esforço sublime que foi a defesa do Portugal pluricontinental e multirracial cujos benefícios civilizacionais poderiam ter trazido muito mais vantagens a todos os povos envolvidos do que o que temos testemunhado nos últimos quarenta anos com as independências.


O aquartelamento da CCaç 2317 em Gandembel

Foi sempre muito difícil descobrir vulnerabilidades que pudessem ser exploradas para quebrar a capacidade militar do PAIGC. Tal como os outros movimentos que nos combateram, o PAIGC era apenas a ponta da lança de um vasto sistema adversário, de natureza quase global. Sistema que entroncava no programa de descolonização da ONU mas que era potenciado por diversos interesses, uns de natureza ideológica, outros económica, outros pura e simplesmente de afirmação no concerto das nações. Neste âmbito, refiro por exemplo o papel do que na altura acreditava ingenuamente ser um país irmão, o Brasil e, no fim de contas, de todos os países das Américas. Nenhum deles foi descolonizado nos moldes em que a descolonização foi imposta a Portugal visto que a administração dos respectivos territórios passou para as populações colonizadoras em vez de ter sido transferida para os autóctones. Tornaram-se independentes das metrópoles mas não foram descolonizados segundo os princípios do programa da ONU. Todavia foram activamente solidários com os movimentos de libertação anti-Portugal como se se tratasse de uma obrigação entre pares: apoiamos a vossa luta porque sabemos o que isso é, também fomos colonizados!

No sistema adversário que enfrentámos na Guiné tínhamos no terreno o PAIGC e os cubanos mas o determinante foi que a sua liberdade de acção para nos atacar foi sempre promovida por uma amálgama de entidades em que pontuavam as oposições internas, a URSS, a China, Cuba, os países do Norte da Europa, Senegal, Guiné-Conacri, Republica do Congo, Republica Democrática do Congo, Zâmbia, Tanzania, movimento dos não alinhados, Organização de Unidade Africana, Organização das Nações Unidas, etc.. Se não fossem estes apoios os movimentos de libertação, por si sós, nunca teriam sido capazes de lançar e manter operações de guerrilha sustentadas durante um período tão longo nem alcançar os seus objectivos como de facto aconteceu. No caso do PAIGC uma capacidade relevante foi a concessão de santuários nos territórios envolventes onde se reabasteciam, treinavam e organizavam para lançar ataques às posições portuguesas e para onde depois retiravam para se furtarem a eventuais perseguições.

Ao invés, do lado português não havia santuários de refúgio. Todo o território da Guiné-Bissau era uma responsabilidade nacional, as posições ocupadas eram bem conhecidas e por isso podiam ser atacadas sempre que o PAIGC quisesse e quando quisesse. Pudéssemos nós fazer o mesmo e a guerra certamente teria sido diferente embora nunca pudesse ser ganha dado o potencial estratégico do sistema adversário.

Neste quadro, as vulnerabilidades do PAIGC não eram muitas nem significativas. Tudo jogava a seu favor. Todavia, as linhas de infiltração para dentro do território nacional, apesar dos percursos relativamente curtos, ainda assim eram uma vulnerabilidade e ofereciam-nos algumas oportunidades. Se tivéssemos sido capazes de montar operações eficazes contra os movimentos de infiltração e exfiltração, portanto quando a guerrilha era vulnerável, podíamos ter desequilibrado pontualmente o inimigo. Foi essa a ideia que presidiu à construção de Gandembel que foi instalado a cerca de 4 Kms em linha recta do corredor do Guilege. O corredor do Guilege podia por isso ter sido um corredor da morte para o PAIGC mas não foi e, certamente, também não foi para nós. Para as guarnições do Exército, na área a haver um corredor da morte, só poderá ter sido a picada que unia Gadamael, Guilege, Gandembel e Aldeia Formosa. Foi nesses caminhos, onde transitavam as colunas de reabastecimento, que tivemos mortos e feridos em consequência das minas e das emboscadas. Não na linha de infiltração do PAIGC, conhecida por corredor do Guilege, como muitos parecem querer dar a entender.

Coube à Companhia de Caçadores 2317 guarnecer Gandembel mas, em vez de se constituir como ponto de apoio para o lançamento de operações de interdição no corredor do Guilege, a capacidade da unidade esgotou-se na defesa imediata do aquartelamento e na protecção das colunas logísticas vindas de Gadamael ou de Aldeia Formosa. Na prática oferecemos de bandeja um alvo vulnerável ao PAIGC que imediatamente concentrou numerosos efectivos na área e ficou a sitiar o aquartelamento até ser abandonado, menos de um ano depois. Apenas o reforço com grupos de combate do batalhão de pára-quedistas permitiu aliviar a pressão a partir de Agosto de 1968.

No dia 28 de Julho de 1968, quando o Tenente-Coronel Costa Gomes se ejectou, o aquartelamento de Gandembel estava praticamente deserto. Os grupos de combate da CCaç 2317 estavam na estrada para Aldeia Formosa, em apoio a uma coluna de reabastecimento que se aproximava. Alguns dos militares que estavam fora ouviram os disparos das AA e chegaram a ver o avião em chamas. No aquartelamento apenas se encontrava pessoal dos serviços, as guarnições dos dois obuses de 10,5, que eram negros do recrutamento local[21], e o Comandante da Companhia, o Capitão Barroso de Moura. O comandante da companhia também foi alertado pelo fogo AA e viu o avião libertando inicialmente fumo negro que foi evoluindo para um rastro de fogo. O mesmo aconteceu com o pessoal dos obuses e todos foram seguindo a trajectória até à ejecção que se dá para sudeste, acabando o pára-quedas por desaparecer por entre as árvores, a muito curta distância[22]. A reacção deste pessoal foi muito rápida. Barroso de Moura dá ordem para fazer soar as buzinas das viaturas e para serem lançadas granadas de fumo e sai com um pequeno grupo, em que sobressaíam os homens da artilharia, em direcção ao local da aterragem. Embora progridam com cautela demoraram apenas cerca de dez minutos até encontrarem o pára-quedas pendurado numa árvore e, apesar do comandante da companhia ir gritando repetidamente “piloto, somos nós, nossas tropas!”, não conseguiram dar com o piloto.


Afinal o inimigo não era ou “à noite todos os gatos são pardos”… 

Durante a descida em pára-quedas o Tenente-Coronel Costa Gomes memorizou a posição do aquartelamento de Gandembel em relação ao sol e à picada que passava a menos de 100 metros a este. Por isso, quando chegou ao chão, não tinha dúvidas que se caminhasse em linha recta paralelamente à picada Gadamael Porto-Aldeia Formosa, mantendo o sol à sua esquerda, iria literalmente chocar com o aquartelamento. A aterragem também tinha corrido bem apesar de ter caído em cima de uma árvore alta e ficado suspenso pelos cordões do pára-quedas a cerca de um metro acima do solo. Não teve porém muita dificuldade em desembaraçar-se do arnês e deixar-se escorregar para o chão.

Logo a seguir procurou orientar-se para determinar a direcção a seguir. Ao pesquisar o local onde se encontrava vislumbrou, por entre a vegetação, a picada e todas as dúvidas sobre a direcção a tomar se desvaneceram. Começou a andar o mais rapidamente possível mas passado pouco tempo sentiu vozes à sua frente. Parou imediatamente e manteve-se imóvel perscrutando nessa direcção e logo a seguir reparou na oscilação de alguns arbustos. Agachou-se e procurou a pistola Walter que trazia no cinturão sobre o fato anti-G mas o coldre estava vazio[23]. A cerca de trinta metros de distância descortinou então um preto de tronco nu, em calções, com uma fita de munições a tiracolo. Avançava cuidadosamente afastando a vegetação com as mãos. Atrás deste apareceu outro homem também preto e foi aí que o Tenente-Coronel pensou que estava perdido. Praticamente ficou deitado no chão e manteve-se assim, imóvel, durante alguns minutos. Depois, quando pensou que o “inimigo” tinha passado, começou a progredir a quatro, em direcção ao aquartelamento. Foi um esforço desgastante debaixo de enorme tensão. O Tenente-Coronel Costa Gomes, embora tivesse estado por diversas vezes em Gandembel, não sonhava que os obuses 10,5 cm eram operados por pessoal do recrutamento local. Ficou por isso convencido que os pretos armados que tinha avistado só poderiam ser guerrilheiros. Por acaso não eram, eram os homens do Capitão Barroso de Moura[24] que, apesar de ir gritando: “piloto, somos nós!”, nunca foi ouvido. Inicialmente a distância e a vegetação e depois talvez alguma desorientação induzida pela situação em que se encontrava terão impedido que o Tenente-Coronel se apercebesse dos chamamentos. Ele ouviu qualquer coisa e foi isso que permitiu detectá-los mas não entendeu o que era e depois de ter avistado aqueles dois homens armados só pensava em afastar-se deles, o que é lógico. Diz ele, com toda a razão que, mesmo que soubesse que existiam militares pretos em Gandembel, nunca podia ter corrido o risco de se revelar. Então e se eles não fossem dos bons?

Por precaução arrancou os galões e o nome que tinha cosidos no fato de voo.

Entretanto tinham começado a chegar os aviões que se encontravam mais próximo. Uma parelha de T-6 que se preparava para bombardear um alvo, possivelmente em Salancaur, cerca de 12 km para oeste de Gandembel, abortou o ataque quando ouviu a comunicação do Tubarão. Olhando na direcção de Gandembel o Alferes Miliciano Marinho de Moura[25] ainda viu o pára-quedas do Tenente-Coronel Costa Gomes penetrar na floresta e desaparecer. Demorou cerca de 5 minutos a atingir esse ponto e ao circular na zona acabou por detectar o piloto no chão muito próximo da picada, do lado oeste. Foi esta informação que passou a outro piloto que também se aproximava no DO-27 3333 e que, por isso, tinha melhores condições para manter contacto visual com o alvo, coisa que não era fácil de fazer com o T-6. Vindo de sudoeste, quando se encontrava a efectuar o “sector” de Buba, o Furriel Miliciano Graciano Gomes da Silva apanhou a estrada para Gandembel no cruzamento para o Guilege e terá chegado à zona cerca de cinco minutos depois dos T-6. Recorda-se que a informação que o Melro lhe passou foi que o Pirata se encontrava do lado esquerdo da estrada, relativamente perto desta e a sul de Gandembel. Desceu então para uma altitude adequada para melhor detectar os detalhes do terreno por entre o arvoredo que deslizava por baixo e, por sorte, avistou-o logo, de relance, numa pequena clareira, a cerca de 30/40 metros da estrada e a não mais de 200 da cerca exterior do aquartelamento. Lá em baixo, o Tenente-Coronel Costa Gomes sentira a aproximação do avião e procurara rapidamente um espaço com pouca vegetação, onde pudesse ser avistado do ar, no que foi bem sucedido. A seguir, o piloto do DO-27 iniciou imediatamente uma volta e preparou-se para passar novamente na clareira, desta vez a baixa velocidade. Foi assim que o ex-Furriel Gomes da Silva me relatou essa manobra:
“Dei início à segunda passagem, com tudo o que tinha para garantir o contacto: 
- Altitude quanto baste, flaps, baixa velocidade, janelinha de ventilação aberta e toda a carga emocional para visualizar e tentar ajudar o Pirata. 
- À vertical passei com o braço esquerdo fora da janelinha a apontar ferozmente a direcção do quartel. 
- Foi de tal forma convincente a informação que o Pirata, de braços erguidos na vertical a pedir ajuda, partiu sem hesitar, sensivelmente para norte, a corta mato na direcção do quartel. 
- Nesse momento o Pirata estava só e não avistei mais ninguém.” 

No solo, o Tenente-Coronel Costa Gomes percebeu claramente a sinalética do piloto do DO-27 que coincidia com a direcção que estava a seguir. Tendo-se desembaraçado dos presumíveis guerrilheiros, e agora sentindo o apoio do DO-27, o nível de confiança aumentou. Apressou então o passo mas entrou numa zona de mato cerrado e o Furriel Gomes da Silva deixou de o ver. Estava nessa altura já muito próximo do aquartelamento e poucos minutos depois desembocou na envolvente desmatada e ficou com o aquartelamento à vista. Ao aproximar-se deu depois com o caminho que ligava a “porta de armas” à picada Gandamael-Aldeia Formosa. Seguiu então por esse caminho e entrou sozinho na “parada” do aquartelamento que, à primeira vista, lhe pareceu deserta. Reparou depois num pequeno grupo de militares que olhavam para o exterior e um deles quando deu com ele ali especado terá exclamado para os outros: “Olha, o piloto está ali!”

Neste espaço de tempo o Furriel Gomes da Silva tinha iniciado uma volta mais larga no DO-27 para não denunciar a posição do Pirata e, quando pensa estar novamente a vê-lo, a cerca de 50 metros da clareira inicial, diz “que o vê a caminhar devagar já acompanhado de alguns “militares”, cerca de quatro, todos com andamento calmo, ligeiramente afastados uns dos outros.”

Confessa que não detectou o encontro do Pirata com o grupo porque isso deu-se numa zona arborizada mas recorda-se de os ver “semi-fardados”, alguns em calções e apenas com a arma, em campo aberto na zona desmatada e à vista, a caminhar em direcção ao quartel e que por isso não poderiam ser inimigos. Acrescenta que quando confirmou via rádio que tinha o Pirata à vista, o Melro avisou que se retirava da zona, e nos minutos seguintes, por se encontrar a baixa altitude e fixado naquele grupo, deixou de avistar os T6. Lembra-se também que ainda viu alguns elementos da guarnição fora do arame e na zona compreendida entre a estrada e o aquartelamento a caminharem ao encontro do grupo que rodeava o Pirata, tendo todos entrado para o interior do arame farpado, sem incidentes.

O que aconteceu na realidade foi que o Alferes “Chico” Trindade[26], que comandava um dos grupos de combate da CCaç 2317, tinha entretanto chegado ao aquartelamento, vindo da direcção da Ponte Balana, e foi ele que avisou, por rádio, o Capitão Barroso de Moura de que o piloto já lá estava. Como já referi, Barroso de Moura e os artilheiros tinham encontrado o pára-quedas em parte suspenso de uma árvore, mas não deram com o piloto. Ainda lhe seguiram o rastro durante algumas dezenas de metros mas depois perderam-no e já vinham a regressar quando receberam essa comunicação. É, portanto, o grupo do Capitão Barroso de Moura que o Furriel Gomes da Silva vê a aproximar-se do aquartelamento. Por essa altura o Tenente-Coronel Costa Gomes, completamente desgastado pela intensidade da odisseia que o acabara de atropelar bebia uma água “Perrier” que os militares lhe tinham oferecido e tentava recuperar o ânimo deitado num colchão de espuma de borracha, na caserna para onde o Alferes Trindade o levara.

Diz o ex-Capitão Barroso de Moura que talvez 20-25 minutos[27] após de ter saído do quartel entrou nessa caserna onde estava o Tenente-Coronel na companhia do Alferes Trindade e talvez de mais um ou dois militares. Diz que o viu visivelmente perturbado – o que é natural – e que procurou falar com ele, ao que ele repetia “não sei como foi isto (ou como isto aconteceu…).”

Destes momentos o ex-Tenente-Coronel Costa Gomes já não se recorda muito bem do que se passou, nem com quem falou, mas lembra-se perfeitamente[28] que, às tantas, ficou só na caserna deitado no colchão e apercebeu-se de uns militares atrás de si tendo ouvido um deles a sussurrar para outro: “- Eh pá, estás a ver, o gajo é velho!”.

Esta apreciação, numa altura em que ainda se sentia muito abalado, foi muito desconfortável e o Tenente-Coronel Costa Gomes nunca mais a esqueceu. De facto, como se não bastasse ter sido derrubado pela AAA do PAIGC, ainda por cima era visto como “um velho” pelos soldados. Hoje tudo me corre mal, pensou o comandante do grupo que fazia uma avaliação muito mais favorável da sua figura. Todavia a realidade é sempre inexorável e, naquele ambiente em que reinava a juventude, um homem de quarenta anos, cansado, suado e coberto de pó, perante jovens com metade da idade, seria sempre considerado um “velho”.

Dos aviões que convergiram para Gandembel eu seria o último a chegar à zona porque estava a uma distância maior. Ao fim de vinte minutos, e já muito próximo, percebi pelas comunicações do Furriel Gomes da Silva que o problema estava resolvido e voltei à minha missão inicial.

A zona desmatada, sobre a fronteira, onde estiveram instaladas as armas antiaéreas


Como reagiu o Grupo Operacional 1201

Houve outros aviões que estavam no ar na altura em que o Tenente-Coronel Costa Gomes se ejectou mas que não puderam dar apoio. Foi o caso de uma parelha de G-91 formada pelos tenentes Vasconcelos e Sá e Firmino Neves que tinha ido atacar um alvo na mata central do Como. Os pilotos estavam a regressar à Base quando ouviram a comunicação rádio do Capitão Vasquez mas não podiam fazer nada. Tinham que aterrar porque estavam com pouco combustível. Assim que chegaram ao estacionamento surgiu o Tenente Balacó Moreira, o único piloto de G-91 disponível na Base, a dar indicações aos mecânicos para aprontarem rapidamente outra parelha. Foi por isso que o Tenente Firmino Neves desceu de um avião e entrou noutro logo a seguir e depois descolou atrás do Tenente Balacó Moreira em direcção a Gandembel. A meio do caminho ouviram a comunicação que finalmente nos sossegou informando que o Comandante do Grupo tinha entrado no aquartelamento e estava a salvo.

Na Base, quando o oficial de dia ao CCAA tomou conhecimento da ejecção em Gandembel, não havia ninguém com autoridade para decidir a nível do Grupo. Os dois oficiais que detinham esse estatuto eram o Comandante do Grupo e, informalmente, o Comandante da Esquadra 121. Um tinha-se ejectado e o outro tinha dado a única ordem que podia naquelas circunstâncias: “Saia a Força Aérea, o Pirata ejectou-se em Gandembel!”

O oficial de dia ao CCAA chamou então os pilotos que estavam disponíveis para os inteirar do que tinha acontecido. Na Esquadra 121 só havia um piloto no chão, o Tenente Balacó Moreira, que decidiu o que acabei de relatar. O Comandante da Esquadra 122[29] era corredor de fundo e ainda estava em forma. Quando foi informado do que se passava deu instruções para saírem dois helicópteros, um deles armado para apoio de fogo. Depois, foi a correr para a linha da frente dos ALIII que distava uns 200 metros do Grupo Operacional. Quando lá chegou deu ordem a um Primeiro Cabo Mecânico para retirar as seguranças de um dos helicópteros que estava pronto e já se tinha sentado e amarrado quando se lembrou que não tinha nenhuma carta consigo. Libertou-se dos cintos rapidamente e, embora nunca se tenha descortinado o que o motivou, virou-se para o mecânico e disse-lhe:
-Venha daí! – e começou a correr novamente desta vez em direcção ao edifício do Grupo Operacional, seguido pelo mecânico que mal o conseguia acompanhar.

Quando chegou entrou no CCAA para recolher uma carta 1:50.000 do Guilege e depois iniciou nova corrida desenfreada, em sentido contrário, mas o Primeiro Cabo Mecânico que continuava a tentar segui-lo começou então a perder terreno e a distanciar-se cada vez mais. Tornou a subir para o helicóptero e amarrou-se novamente e, às tantas, reparou no mecânico que acabava de chegar completamente arrasado:
- O que é que você anda a fazer? – perguntou-lhe, não se lembrando já da ordem que lhe tinha dado.
- O meu Capitão disse-me para ir consigo e eu fui! - respondeu o mecânico.

Foram sem dúvida momentos de grande frenesim em que cada um procurou fazer o melhor que sabia e podia, o mais depressa possível. Tal como aconteceu com os G-91 também os pilotos dos ALIII tomaram conhecimento, a caminho de Gandembel, que o Tenente-Coronel Costa Gomes já se encontrava a salvo. Seguiram, por isso, directamente para o aquartelamento para recolher o Comandante do Grupo. O que podia ter sido um problema gravíssimo foi assim resolvido rapidamente e, apesar da perda do avião, ficámos todos aliviados.

A esquadra dos T-6 também reagiu tendo feito descolar uma parelha para dar protecção aos ALIII durante a busca mas que acabaram por fazer o mesmo durante o tempo em que os helicópteros estiveram aterrados em Gandembel.


Ao fim do dia no Comando-Chefe 

Como referi no princípio fazia parte da rotina diária uma reunião no Comando-Chefe, presidida pelo Brigadeiro Spínola, na qual se actualizava a situação operacional. Da parte da Força Aérea tinham assento nessa reunião o Comandante da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné, Coronel PilAv Rui da Costa Cesário, e o Comandante do Grupo Operacional 1201. Uma outra presença em apoio do Comandante do GO 1201 era normalmente um dos oficiais de informações do CCAA. O Tenente José Soeiro Arada foi, por isso, uma testemunha privilegiada da reunião do dia 28 de Julho de 1968.

Nesse dia, depois de regressar à BA12 vindo de Gandembel, o Tenente-Coronel Costa Gomes teve tempo para recuperar do trauma e preparar-se para explicar no Comando-Chefe a odisseia que vivera. Apresentou-se rejuvenescido e bem disposto como que a tentar anular o comentário com que tinha sido mimoseado pelos soldados em Gandembel. Naturalmente que todos o queriam ouvir e o episódio foi pormenorizadamente descrito com graça e alguma ironia. No final foi efusivamente felicitado pelos presentes.


A tese da armadilha e a manipulação da DGS pelo PAIGC 

Para concluir devo acrescentar que o PAIGC retirou imediatamente as armas AA que derrubaram o Tenente-Coronel Costa Gomes sem que tivesse havido qualquer ataque na nossa parte. Por curiosidade, num dos dias seguintes, fui ver onde tinham estado montadas as armas e procurar os restos do G-91 5411. Levei comigo uma câmara fotográfica portátil para fazer algumas imagens.

O que descobri deixou-me intrigado. A área desmatada onde as armas tinham sido colocadas era mesmo na fronteira e talvez estivesse já dentro do território da Guiné-Conacri. O terreno era inclinado e estava voltado na direcção de Gandembel. Parecia o primeiro balcão de uma sala de cinema. O campo de visão na direcção de Gandembel era tão óbvio que fiquei convencido que as armas tinham sido ali colocadas de propósito para tentar abater um avião qualquer que surgisse na zona do aquartelamento, o que acontecia com muita frequência. Também nada indicava que as armas se destinavam a proteger a passagem da guerrilha no corredor do Guilege, como na altura se aventou. Aliás, com um raio de acção eficaz de 2000 metros apenas, as DShK[30], só no limite do seu raio de acção poderiam interferir com as acções aéreas numas escassas centenas de metros no início do corredor. Nesta ordem de ideias, as notícias sobre a construção de um túnel foram provavelmente um engodo para atrair um avião para aquela zona. Não conseguiram abater o DO-27 do Capitão Vasquez mas conseguiram abater no dia seguinte o G-91 do Tenente-Coronel Costa Gomes. Mais, tendo sido bem sucedidos uma vez seria natural que tentassem uma segunda oportunidade, mas não. Fiquei por isso convencido que a instalação daquelas AA teve apenas um objectivo: tentar abater um avião qualquer e retirar logo de seguida para se furtarem à inevitável retaliação.

Por tudo isto, não consigo também deixar de fazer uma ligação entre a história do túnel e o trágico acontecimento, ocorrido anos mais tarde, no dia 28 de Março de 1973. Nesse dia, foi recebida no COAT uma informação da DGS segundo a qual estaria em curso uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Embora se tenha suspeitado de uma armadilha o Comandante do Grupo, que na altura era o Tenente-Coronel Almeida Brito, decidiu efectuar um reconhecimento visual e levou como asa o Capitão Pinto Ferreira. É o seguinte, o relato do ex-Capitão Pinto Ferreira, testemunho fiável deste acontecimento:

“Encontrava-me no COAT, pelas 12h00 do dia 28 de Março de 1973, quando chegou uma mensagem da DGS dando conta de uma reunião de quadros do PAIGC em Madina do Boé. Fui imediatamente falar com o Comandante do GO 1201, Tenente-Coronel Almeida Brito, comentando na altura que aquela informação me parecia ser uma armadilha. No entanto, o Tenente-Coronel Brito optou por ir investigar com os aviões da parelha de alerta. Durante o briefing para a missão decidiu que iria sobrevoar, a baixa altitude, a picada que passa por Madina do Boé, no espaço entre o Che-Che e a base do PAIGC em Kambera, na Republica da Guiné. De facto, a haver uma reunião na zona de Madina do Boé, era provável que o caminho entre Kambera e Madina do Boé fosse utilizado, ou na ida, ou no regresso. 

Tal como planeado, quando chegámos ao Boé, sobrevoámos para sul a estrada que vai de Che-Che até Kambera, o que me permitiu observar o cenário de várias viaturas militares destruídas, que por ali ficaram depois da retirada da guarnição de Madina do Boé, em Fevereiro de 1969. Não foi detectada qualquer reacção do inimigo, mesmo quando sobrevoámos Kambera. 

Depois deste ponto, iniciámos uma volta de 180º pela direita, novamente em direcção a Madina do Boé. À vertical daquela posição, quando voava a cerca de 500 pés sobre o terreno, fui surpreendido pela explosão do avião da frente, que seguia um pouco mais alto, cerca de mil pés, atingido por um Strela. O avião foi praticamente engolfado por uma bola de fogo, o piloto não se ejectou, e apenas um tanque externo de combustível se separou do conjunto. 

Como já tinha tido alguns encontros com Strelas, reagi de imediato, submetendo o avião a Gs elevados e picando para junto do solo, durante alguns segundos. Subi depois, voltando pela esquerda, para cerca de 8 mil pés, por forma a identificar o local do sinistro e informar as operações da Base do ocorrido. No entanto, devido à bruma existente, apenas me foi possível observar o fumo de um local, algures a norte de Madina, onde caíram os destroços do avião.” 

Do lado do inimigo, o comandante do PAIGC Manecas dos Santos, responsável pela operação dos Strela, contou uma história algo diferente não só quanto ao disparo do míssil mas também quanto ao local onde os destroços do avião ficaram.

Recorde-se que, por volta de 1996, o ex-Comandante da CCaç 1790[31], que foi a última unidade do exército que esteve destacada em Madina do Boé, colaborou na feitura de um documentário da SIC intitulado - "Madina do Boé - A Retirada".

Durante as filmagens desse documentário, o ex-Capitão Aparício viajou, acompanhado do Manecas dos Santos, até ao local onde este disse que o avião do Tenente-Coronel Brito caíra, a cerca de 18 Kms a nordeste de Madina do Boé, o que parece demasiado. O ex-Capitão Aparício teve então a oportunidade de fotografar o “quase nada” que restava do avião e ouviu da boca do Manecas dos Santos a seguinte descrição de como tudo se teria passado:
“Os aviões apareceram, um ficou mais alto e o outro desceu para observar um grupo de árvores mais altas que existiam no local. Foi disparado um míssil para esse avião que explodiu e se despenhou. Um segundo míssil foi disparado para o outro avião mas bateu no tronco de uma dessas árvores altas e perdeu-se.”

O Manecas dos Santos é certamente o melhor relator dos sucessos do PAIGC decorrentes do emprego daqueles mísseis. É óbvio, porém, que não pode ter assistido à maior parte dos disparos visto que ocorreram em diversos pontos do território[32]. E quanto aos abates, será que assistiu a algum? Acredito que aquilo que ele conta neste caso foi-lhe transmitido através de uma cadeia de informação por voz, tendo-lhe chegado com todas as distorções imagináveis. Nem sequer refere Madina do Boé como tendo sido o local do disparo[33] e que é um elemento central neste caso.

Quanto à tese da armadilha, não há dúvida que esta missão de reconhecimento foi originada por uma informação da DGS revelando a ocorrência de uma reunião de altos quadros do PAIGC em Madina do Boé. Ora, acontece que o PAIGC mantinha uma base, a curta distância, em território da Guiné-Conacri, equipada com infraestruturas para apoiar o treino da guerrilha e onde viviam assessores cubanos, entre outros. É pouco plausível que, sendo necessário fazer uma “reunião de quadros”, não a fizessem nesse local, em Kambera, e fossem para Madina do Boé onde não havia condições logísticas. O que temos a certeza é que, naquele dia, estava lá um grupo de mísseis, apesar das nossas forças não efectuarem operações no Boé há anos.

Nada disto faz sentido a não ser que se tratasse de um plano para atrair aviões. O argumento da reunião passado à DGS terá sido o engodo. Por sua vez a referência a Madina do Boé é um elemento fulcral porque como o míssil era de muito curto alcance os aviões teriam de passar muito próximo daquele ponto[34] para serem atacados com sucesso pelo grupo que lá tinha sido posicionado. Pela descrição do ex-Capitão Pinto Ferreira, penso que o grupo dos Strela estaria instalado no topo da colina adjacente ao antigo quartel, ou seja no Dongol Dandum. Era um ponto elevado e oferecia um campo de visão de 360º. Os outros pontos altos nas proximidades encontram-se todos a distâncias superiores a 2000 metros o que reduziria substancialmente as probabilidades de êxito.

Assim, tudo aponta para uma armadilha semelhante à da construção de um túnel à entrada do corredor do Guilege, em Julho de 1968. Neste caso, o Comandante do GO 1201 escapou com vida mas cinco anos depois, em Madina do Boé, o Tenente-Coronel Almeida Brito já não teve a mesma sorte.

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Notas:

[1] - Série de artigos inicialmente projectada para ser publicada na revista Mais Alto da Força Aérea.
[2] - Indicativo táctico do Centro Conjunto de Apoio Aéreo na Base Aérea 12 (CCAA). Anos mais tarde passou a ser designado Centro de Operações Aero-Tácticas (COAT)
[3] - Indicativo táctico do TCor Francisco Dias da Costa Gomes, na altura Comandante do Grupo Operacional 1201 21 - Informação do ex-capitão de Gandembel: Até Out68, todo o pessoal nativo que possuía pertencia ao Pelotão de Artilharia de Campanha (PelAC 55), de 10,5 cm, de recrutamento da província, comandado por um Alferes Miliciano.
[22] - O ex-capitão de Gandembel estima que o piloto terá caído entre 500 a 600 mts para Oeste do aquartelamente mas penso que terá sido a uma distância menor.
[23] - A pistola foi encontrada no dia seguinte pelos pára-quedistas e deve ter saltado durante a ejecção. Naquela altura, na Guiné, ainda não tínhamos um sistema adequado para o armamento individual problema que mais tarde foi resolvido com a adopção de um colete de sobrevivência.
[24] - Declaração do ex capitão de Gandembel: “O pessoal nativo que me acompanhou na tentativa imediata de resgate do piloto era apenas do PelAC. Tive de recorrer a este pessoal porque nesse dia quase toda a Companhia (inc. o Grupo do Alferes Reis) se encontrava em missão de segurança a uma importante coluna proveniente de Aldeia Formosa (Quebo). Pensei também que seria bom levá-los como pisteiros.”
[25] - Indicativo táctico: Melro
[26] - Conterrâneo e meu amigo que estava em Gandembel. Gravemente ferido em 26SET1968 e evacuado por ter pisado uma mina AP junto ao pontão de Changue-Iáiá
[27] - Este tempo de ida e volta naquelas circunstâncias indica que a aterragem do tenente-coronel Costa Gomes ocorreu necessariamente muito próximo do quartel.
[28] - Nos últimos trinta anos ouvi esta história inúmeras vezes contada sempre da mesma maneira.
[29] - Capitão PilAv António Figueiredo Rodrigues – indicativo táctico “Puskas”.
[30] - Metralhadora pesada 12,7mm fornecida pela URSS e satélites ao PAIGC.
[31] - TCor Infantaria Ref José Aparício
[32] - Entre 20 e 28 de Março de 1973 foram efectuados diversos disparos de Strellas em áreas tão distintas como Campada e Bigene no Norte, Guilege no Sul e Madina do Boé no Leste. Isto mostra que existiam diversos grupos de Strellas a operar ao mesmo tempo e o Manecas não pode ter estado em todos eles. Aliás, numa entrevista ao jornal Expresso, afirmou que estava no grupo que abateu o 1º avião, em 23 de Março de 1973, na zona de Cumbamori, portanto muito distante de Madina do Boé. Além disso, como é bem sabido, o 1º avião não foi abatido no dia 23 mas sim no dia 25 de Março, próximo do Guilege e não na zona de Cumbamori.
[33] - O testemunho do ex-capitão Pinto Ferreira é esclarecedor.
[34] - O míssil tinha um alcance máximo de 4.300 mts e voava a 440mts/s. No caso do G-91, se entrarmos em linha de conta com a velocidade normal durante o afastamento, que era sensivelmente de 154 m/s, então o míssil só seria eficaz se disparado com o alvo num raio de 2.800 metros.
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Nota do editor

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