A apresentar mensagens correspondentes à consulta In Memoriam + José Neto ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16673: In Memoriam (269): Tabanca Grande: lista dos/as amigos/as e camaradas que "da lei da morte se foram libertando" (Total: 50, em 2/11/2016)










Lisboa > Estufa Fria e 2ª Exposição Internacional de Orquídeas de Lisboa > 16 de outubro de 2016


Fotos: © Luís Graça (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca Grande > Lista dos/as amigos/as e camaradas 
que "da lei da morte se foram libertando"
(n=50):


Alfredo Dinis Tapado (1949-2010)
Amadu Bailo Jaló (1940-2015)
António da Silva Batista (1950-2016)
António Dias das Neves (1947-2001)
António Domingos Rodrigues (1947-2010)
António Manuel Martins Branquinho (1947-2013)

António Rebelo (1950-2014)
António Teixeira (1948-2013)
António Vaz (1936-2015)
Armandino Alves (1944-2014)
Augusto Lenine Gonçalves Abreu (1933-2012)

Carlos Geraldes (1941-2012)
Carlos Rebelo (1948-2009)
Carlos Schwarz da Silva, 'Pepito' (1949-2014)

Daniel Matos (1949-2011)

Fernando Brito (1932-2014)
Fernando [de Sousa] Henriques (1949-2011)
Fernando Rodrigues (1933-2013)
Francisco Parreira (1948-2012)
França Soares (1949-2009)

Humberto Duarte (1951-2010)

João Barge (1945-2010)
João Caramba (1950-2013)
João Henrique Pinho dos Santos (1941-2014)
Joaquim Cardoso Veríssimo (1949-2010)
Joaquim Vicente Silva (1951-2011)
Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015)
José António Almeida Rodrigues (1950-2016)
José Eduardo Alves (1950-2016)
José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014)
José Manuel P. Quadrado (1947-2016)
José Marques Alves (1947-2013)
José Moreira (1943-2016)
José (ou Zé) Neto (1929-2007)

Luís Borrega (1948-2013
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Luís Henriques (1920-2012)

Manuel Castro Sampaio (1949-2006)
Manuel Martins (1950-2013)
Manuel Moreira (1945-2014)
Manuel Moreira de Castro (1946-2015)
Manuel Varanda Lucas (1942-2010)
Maria da Piedade Gouveia (1939-2011)
Maria Manuela Pinheiro (1950-2014)

Rogério da Silva Leitão (1935-2010)

Teresa Reis (1947-2011)

Umaru Baldé (1953-2004)

Vasco Pires (1948-2016)
Victor Condeço (1943-2010)




Lisboa, Tabanca Grande, 2 de novembro de 2016

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Nota do editor

Último poste da série > 31 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16663: In Memoriam (268): Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72), acaba de morrer, em Porto Seguro, Brasil (Pedro Araújo, seu afilhado)

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Guiné 61/74 - P22551: In Memoriam (407): Celestino Augusto Patrício Bandeira (1946-2021), ex-Fur Mil da CCAÇ 2316/BCAÇ 2835 (Mejo, Guileje e Gadamael, 1968/69)

IN MEMORIAM

CELESTINO AUGUSTO PATRÍCIO BANDEIRA
Ex-Fur Mil da CCAÇ 2316/BCAÇ 2835


1. Mensagem de Rui Madeira e Silva, neto do nosso malogrado camarada Celestino Madeira, enviada ontem, dia 16, ao nosso Blogue:

Bom dia meus Senhores,
Esperando-vos bem.

Não sei se se lembram destes emails que trocamos há uns meses atrás, sobre o meu avô, Furriel Celestino Madeira, do BCaç 2835, CCaç 2316, Guiné 68-69.[*]

De qualquer modo, com muita pena minha, informo-vos de que o meu avô nos deixou hoje, depois de um ano muito complicado para eles e todos nós, familiares.

Quando falei com vocês, informei-vos que ele estava de boa saúde. Mas, sem que nada previsse, o Alzheimer tomou conta dele num ápice e a partir daí, o seu estado de saúde caiu a pique.

Aquilo em que eu gostava que me pudessem ajudar, seria no sentido de criarem um post no vosso blog a informar do facto e da data e local do funeral que vos indicarei oportunamente, assim como contatar alguém da unidade dele ou próxima, para que todos os camaradas dele e outros lhe possam prestar uma última homenagem.

Esperando ler de V. Exas,
Um abraço.
Os melhores cumprimentos
Rui Madeira e Silva


********************

2. Comentário do editor CV:

Os editores e a tertúlia deste Blogue apresentam as suas mais sentidas condolências à família do nosso camarada Madeira, agora falecido, assim como deixam um abraço ao seu neto Rui que em tempos nos contactou e que ontem nos deu esta triste notícia.
Cada camarada que parte vai deixando mais sós os que ainda da lei da morte se não libertaram. Aos camaradas da CCAÇ 2316 o nosso abraço fraterno.

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[*] - Vd. poste de 14 DE OUTUBRO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21448: Em busca de... (307): Camaradas do Celestino Augusto Patrício Madeira, ex-fur mil, CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835 (Bissau, Mejo, Gandembel, Guileje, Gadamael, Ganturé, 1968/69) (Rui Pedro Madeira e Silva, neto)

Último poste da série de 31 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22500: In Memoriam (406): Alcobaça homenageia personalidades alcobacenses entre as quais José Eduardo Oliveira (JERO) que este ano nos deixou, vítima do COVID-19 (Joaquim Mexia Alves / Blogue da Tabanca do Centro)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Guiné 63/74 - P1801: In Memoriam: Capitão José Neto (CART 1613, Guileje, 1967/68), a última batalha

1. Mensagem da Leonor [Léo Neto], neta do Zé Neto, com data de hoje, enviada às 7h29. Assunto: Notícias tristes.

Caros amigos: É com enorme dor que vos escrevo para comunicar o falecimento do meu querido avô, Zé Neto. Ainda não sei grandes pormenores, pois soube ontem por volta das 23.45h e a minha mãe foi de seguida para casa da minha avó e passou lá a noite. Não sei se me será possível comunicar-vos via e-mail outros detalhes como o velório e funeral, sendo assim deixo-vos o meu contacto telefónico que estará à vossa inteira disposição: 937317762.Um abraço, Leonor.

2. Mensagem do editor do blogue (que acaba de circular pela nossa tertúlia, por e-mail):

Amigos e camaradas:

O camarada Zé Neto faleceu esta noite, no Hospital Militar. Enfrentou com coragem este difícil período da sua vida mas perdeu a sua última batalha, a mais terrível de todos que enfrentou, a batalha contra o cancro do pulmão... A sua neta, Leonor, deu-me a notícía, a mim e a mais alguns camaradas, logo de manhã... Ela tem 17 anos e está desolada... Tinha uma belíssima relação com o avô. Mas aos 17 anos é difícil perceber e aceitar a morte de um ente querido.

O Zé estava em grande sofrimento. Foram quatro meses de luta, desigual. A viúva acaba também de me telefonar. Esteve com ele até cerca das 23h. O Zé morrreu às 23.45h, em pleno sono. O corpo vai ser cremado, possivelmente amanhã. O velório é na Igreja de São João de Deus, à Praça de Londres. Espero lá poder ir, logo à noite.

Façamos um minuto de silêncio à memória do primeiro membro da nossa tertúlia que nos deixa, pelas leis imperativas da vida. O Zé era o nosso patriarca. Estive com ele apenas uma vez, na minha escola. Almoçámos juntos, eu, o Nuno Rubim e o Pepito (O PIpo, como ele carinhosamente o chamava). De resto, contactámos-nos durante um ano por e-amail e por telefone. A Guiné aproximou-nos e tornou-nos amigos...

E o seu contributo, em termos de blogue, foi reconhecidamente importante para o trabalho de reconstituição da memória de Guileje que está a ser feito pelo Pepito, pelo Nuno Rubim e por outros camaradas, também com a nossa participação. Os seus escritos e as fotos começaram por dar visibilidade a Guileje. Ele também tinha muito apreço pelo Pepito e pelo projecto de Guileje. É também uma notícia triste, esta, para os nossos amigos da Guiné-Bissau.

Em jeito de pequena homenagem, irei republicar as suas memórias de Guileje, originamente publicadas na anterior versão, menos amigável, do nosso blogue, entre 10 de Janeiro e 25 de Fevereiro de 2006 (num total de 10 posts) (1)... Vou aproveitar para divulgar mais fotos do seu álbum de Guileje, a partir dos seus slides (graças às diligências do nosso Albano Costa, foi melhorada a qualidade destas fotos, que inicialmente ficaram muito azuladas).

O Zé era um homem que se integrava muito bem, no seio das comunidades em que vivia. E Guileje foi um exemplo disso: ele também achava que havia mais vida para além da tropa, da burocracia e da guerra... Era, além disso, um homem com grande sentido de humor, com sentido de justiça e com coragem, física e moral...

Como muitos homens da sua geração e da sua classe socioprofissional, fumava muito... Não sei quantas comissões de serviço terá feito no Ultramar... Sei que esteve em Macau, de que falava com saudade...

Quando conseguiu deixar de fumar, começaram a surgir os seus problemas de saúde... Andava irritado, como qualquer ex-fumador... Mas conseguiu, com a sua enorme força de vontae, deixar o cigarro de vez... Infelizmente, tarde de mais... Recordo-me da penúltima vez que lhe falei, ao telefone, já numa fase mais avançada da doença:
- Então, Zé, como vai isso ?
- Olha, entregue aos médicos, que agora me querem tirar um pulmão... Estão aqui reunidos em junta médica...
- Tu és forte e ainda vais vencer essa batalha.
- Eu quero é viver, mesmo com um pulmão a menos...
- Pois...
- Sabes, fui estúpido...Quando era novo, vendia saúde... Lembras-me da minha fotografia no Saltinho ? Eu era um atleta... Mas cheguei a fumar cinco maços!... A gente pensa que a doença só acontece aos outros... – rematava ele, sem mágoa, com lucidez, com coragem, e ainda com esperança.

Grande Zé, até sempre! Privei pouco tempo contigo, mas gostei de te conhecer. Vamos ter saudades tuas. Mas não te esqueceremos, na blogosfera e fora dela... Tens uma neta fantástica que vai pôr em ordem os teus escritos e cultivar a tua memória.


Luís Graça & Camararadas da Guiné


PS – Leonor: Um beijinho muito grande dos camaradas do teu querido avô. Um abraço também para o teu primo Afonso. Tens o nosso blogue para escrever, se te apetecer. Ou para publicar outras coisas do teu avô... Tu podes continuar a representá-lo, na nossa tertúlia, colmatando de algum modo o tremendo e difícil vazio que fica sempre com a morte de alguém que nos é querido... Dá também um beijinho nosso à tua mãe, e às tuas duas tias, bem como à tua avó que muito sofreu nestes últimos quatro meses...

Com os melhores cumprimentos, Leonor Neto.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O 2º sargento Neto, que fazia as funções de 1º sargento da companhia, fotogrado junto a um abrigo e à viatura blindada Fox.

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados .


4. Resposta à Leonor, por e-mail de 14 de Maio último:


Leonor: O seu avô é o mais velho de todos nós, membros desta caserna virtual, tertúlia ou tabanca grande, como queira... Formamos um grupo de amigos e camaradas que hoje já são, também, velhos amigos e conhecidos...



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Zé Neto fotografado entre os putos da tabanca.

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados .


Todos apreciámos, muito, o contributo do seu avô para a preservação da memória de Guileje... Publicámos o seu diário, divertimo-nos com os seus apontamentos bem humorados sobre as misérias e grandezas dos seus camaradas de armas, admirámos a sua frontalidade, invejámos a sua juventude de espírito... Com os melhores cumprimentos, Leonor Neto.

Falo do passado, por que ele há meses que já não escreve para o blogue... Conheci-o depois, pessoalmente. Teve a gentileza de visitar-me ao meu local de trabalho, no verão passado, juntamente com o coronel Nuno Rubim e o Eng. Carlos Schwarz (Pepito), todos irmanados no mesmo entusiasmo, o Projecto Guileje.

E de vez em quando eu telefonava-lhe. Apoiei-o bastante quando decidiu deixar de fumar... Infelizmente demasiado tarde. Aqui ficam alguns excertos de mensagens que trocámos (em dois deles, fala dos netos com ternura, incluindo a Leonor). A última vez que lhe falei disse:

- Zé, travaste muitas batalhas, não serás desta que te vais deixar ir abaixo...

Senti-o bem agarrado à vida... Quero ver se o visito no Hospital Militar... Infelizmente esta semana vou estar fora, na Madeira, em trabalho... Leonor: Vá estando em contacto comigo/connosco...

Um beijinho grande para si, força para a sua mãe, tias, avó e primos. Luís Graça



5. Excertos de e-mails do e para o Zé Neto (selecção de L.G.)


Zé Neto > 8/1/06 > Memórias de Guilege >
"Meu caro Luis: Depois de muito meditar cheguei à conclusão de que, pelo menos tu, mereces a minha confiança para partillhar contigo uma parte muito significativa das memórias da minha vida militar.


"São trinta e três páginas retiradas (e ampliadas) das 265 que fui escrevendo ao correr da pena para responder a milhentas perguntas que o meu neto Afonso, um jovem de 17 anos, que pensava que o avô materno andou em África só a matar pretos enquanto que o paterno, médico branco de Angola, matava leões sentado numa esplanada de Nova Lisboa (Huambo). Coisas de família...

"Já cedi este modesto trabalho à AD do Pepito e conto não o fazer mais, por enquanto. É, como já te disse, uma perspectiva um tanto diferente dos relatos do blogue, mas é assim que sei contar as minhas angústias e sucessos. Diz qualquer coisa. Até breve. Um abraço do patriarca Zé Neto”.


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Um aspecto do interior da tabanca.

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados .



Luís Graça > 8/1/06 > Memórias de Guilege >

“Já recebi o teu texto, acabo de fazer uma primeira leitura em diagonal, fiquei entusiasmo... Peço autorização de divulgá-lo no nosso blogue para que os meus netos, quando os tiver, também possam ter o privilégio, como os teus, de conhecer o grande homem e militar que tu és, bem como as misérias e as grandezas dos tugas e dos turras em terras da Gioné...

"É um magnífico documento que deves partilhar com os teus ex-camaradas e amigos da Guiné... Dás-me autorização para publicar isto, em quatro ou cinco partes ? Um grande abraço. Luís”.

Zé Neto > 9/1/06 > Memórias de Guilege

“Meu caro Luis: Concordo com a tua sugestão. Não quero ofender o homenzinho Santana. Mesmo se tiveres de fazer arranjos, confio na tua técnica avançada para a coisa sair decente. Avança !!!

“Acabei de ler a odisseia do Pepito a contar-nos as prepotências dos novos sobas de S. Domingos. O Pepito, com quem conversei demoradamente quando fomos apresentados pelo seu colega, conterrâneo e condiscípulo Estácio, tem um espírito puro de mais para enfrentar os viciados que nós, portugueses, lá deixamos, infelizmente. Isto a brincar... Aos ingénuos africanos basta pendurar-lhes no peito e nos ombros uns emblemas dourados, bem polidos, para termos um ditador em potência. Era a nossa técnica!

“Vou a seguir consolar o nosso Pepito. Até breve. Zé Neto”.


Luís Graça > 10/1/06 > Memórias de Guileje >
“Zé, obrigado, pela tua confiança em mim... Vou fazer o melhor que sei, fica descansado, que vais ficar bem na fotografia...

"Quanto à Guiné-Bissau e o que lá se passa hoje: não devemos interferir nos assuntos internos dos guineenses, mas também não podemos deixar passar em claro tudo o que tiver a ver com violação de direitos e garantias dos cidadãos... A Guiné-Bissau vai conquistar o deu direito a ser um país respeitado no concerto das Nações, mas para isso o Estado, o poder político, vai ter que garantir o respeito pelos direitos humanos dos guineenses... Este assunto ultrapassa a esfera do nosso blogue: se nos pusermnos a discutir política (a nossa e a dos outros...), a tertúlia desfaz-se... O que não quer dizer que não possamos exercer alguma influência, individualmente, como cidadãos e amigos da Guiné. Um abraço. Luís”.


Zé Neto > 12/1/06 > As malditas formigas pretas do José Teixeira >
“Luis: A minha intenção era ficar aqui caladinho no meu canto para não entupir a formidável sequência de factos das campanhas da Guiné. (Creio que estamos a construir um monumento histórico e inédito). Mas o José Teixeira tem o condão de me despertar recordações dispersas, pois fala de sítios por onde andei. Admiro-o muito” (…).

Zé Neto > 10/1/06 > Envio de foto >
“Luís: Falaste em eu não ficar mal na fotografia e lembrei-me que ainda nbinguém, no blogue, conhece a minha cara. Do tempo da Guiné não tenho, por enquanto, porque, como já disse, estão todas em Leiria [ na Escola Supetrior de Educação de Leiria,]para digitalizar. Das recentes tenho para aqui umas, mais engravatado, menos retocado, mas escolhi esta que é mais retrato do que foto que a minha neta Leonor captou e usa no ecrã do telelé. Guarda aí até virem as outras. Um abraço do Zé Neto”


Luís > 10/1/06 > Envio de foto >

“Zé: Estás todo janota... Já percebi que és um sortudo, tens uns netos amorosos... Comecei hoje a publicar as tuas memórias de Guileje (eu escrevo Guileje e não Guilege, como tu, ou Guiledje, como o Pepito; Guileje de acordo com a grafia usada pelos Serviços Cartográficos do Exército” (...).


Zé Neto > 14/1/06 > Gato escondido com o rabo de fora >

“Luís: Estive agora a ver a segunda parte das minhas memórias de Guilege e... falhou o nosso compromisso. Estava combinado que não apareceria o nome do Santana, mas sim S., porém deixaste escapar a verdade no parágrafo : O Santana lá foi vendendo uns quilos de de farinha... Emenda lá isso por favor. Um abraço do Zé Neto”.

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > A Maria de Guileje,a lavadeira... (Luís: E a propósito vou meter uma cunha para meteres a minha lavadeira, Maria (não é o nome dela, mas eu baptizava todas as minhas lavadeiras com este nome por comodidade de comunicação e elas gostavam. A de Colibuia já não queria ser tratada de outra maneira). A Maria de Guileje é a que está rigorosamente vestida com trajo local e com um guarda-sol verde que eu lhe ofereci. Pode ser?"... Zé: Eu acho que troquei as tuas Marias e nunca cheguei a colocar no blogue a foto da verdadeira Maria de Guileje, toda vaidosa com o o seu chapéu verde, oferecido pelo senhor sargento da companhia... Desculpa o lapso. Aqui fica a Maria para a história"... (Luís:

Foto: © Zé Neto / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados .




Zé Neto > 14/2/06 > Notícias >

“Meu caro Luís: Amanhã às 10h00 vou estar com o Pepito no Instituto Marquês Valle Flôr, Rua de S. Nicolau, 105, para uma sessão de trabalho com o arquitecto que está a colaborar na reconstituição do Quartel e Tabanca de Guileje. Entretanto espero combinar com o Pepito um encontro entre nós os três, ou quatro, ou cinco. Quem aparecer é benvindo.

“Estou a gostar da tua inserção dos meus slides no blogue. E a propósito vou meter uma cunha para meteres a minha lavadeira, Maria (não é o nome dela, mas eu baptizava todas as minhas lavadeiras com este nome por comodidade de comunicação e elas gostavam. A de Colibuia já não queria ser tratada de outra maneira). A Maria de Guileje é a que está rigorosamente vestida com trajo local e com um guarda-sol verde que eu lhe ofereci. Pode ser? Um abração e até breve. Zé Neto”

Zé Neto > 10/4/06 > Mudança de e-mail >

"Luís: O meu Endereço mudou porque passei para a Clix o mês passado. Julgava que tinhas recebido a mensagem que enviei a todos os meus correspondentes. Falhou... Mas não foi só a tua. Ando muito chocho com a falta dos cigarros e não tenho cabeça para nada. Mas hei-de conseguir!!! Um abraço do Zé Neto".

Zé Neto > 11/4/06 > Apelo do Pipo >

“Por agora é tudo, não esquecendo o meu agradecimento pelas muitas mensagens de força Zé, resiste ao cigarro que tu, Luis, desencadeaste na malta do blogue. Abraça-vos o velho Zé Neto”.


Zé Neto > 22/5/06 > Gandembel >

“Meu caro Luís: Não. Não desapareci. Apenas hibernei para vencer o tabágico vício. E estou a conseguir. Vou a caminho do quarto mês sem cigarro. Mas o assunto é a chegada do Idálio Reis ao blogue” (...).

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

10 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXXVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (1): Prelúdio(s)

13 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (2): Ordem de marcha

21 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (3): Dauda, o Viegas

23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(4): os azares dos sargentos

3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(5): ecumenismo e festa do fanado

8 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DVII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(6): dos Lordes e das bestas

11 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXI: Memórias de Guileje (Zé Neto, 1967/68) (7): Francesinho e Cavaco, o belo e o monstro

14 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (8): Gazela com chouriço à moda do Celestino

16 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXLIV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (9): a Operação Bola de Fogo

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba

segunda-feira, 3 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2607: In Memoriam (3): Camacho Costa morreu há cinco anos (Torcato Mendonça)

1. Mensagem do Torcato Mendonça (ex-Alf Mil, CART 2339, Mambambo, 1968/69):

Meus Caros Editores

Ontem foi homenageado um Amigo meu. Foi combatente na Guiné. Faleceu, vítima de cancro do pulmão, há cinco anos. Parece ontem e estes óculos são uma… ou eu envelheço rapidamente. Melhor…o oxigénio repara os óculos…não queria chatear mas um dia falaram aqui em homens que combateram ou se piraram da Guiné. Este não foi guerreiro e certamente não desejava isso. Mas certamente foi útil naquele País…

Recuperei parte de um escrito antigo.

Um abraço,

Torcato Mendonça
__________
2. Combatente na Guiné
por Torcato Mendonça
Serviu aquela Terra, as suas Gentes e, principalmente, as Nossas Tropas mais pela palavra, pelo acto cultural do que pela arma. Provavelmente, mesmo sendo militar, nunca deu um tiro. Mas foi um Combatente, mais um que serviu a Pátria na Província da Guiné.

Conto, voltando à infância longínqua de dois sexagenários. Recordemos então:

Era um miúdo franzino, cabelo liso, despenteado, esvoaçando ao vento e de pele morena. Aparecia sempre pelas férias escolares. Não sei ao certo quando nos conhecemos ou nos vimos pela primeira vez. De muito tenra idade certamente, numas férias escolares, mesmo antes de termos entrado nessas lides. A sua mãe era professora, leccionava na zona de Lisboa mas voltava sempre, nas férias, à sua terra natal, também a dele e a minha por adopção.

Brincávamos com os outros miúdos da nossa idade, aos ninhos e à passarada, no rio em fuga aos progenitores e a vários jogos, apelidados hoje de tradicionais. Crescemos cimentando a amizade que só os miúdos, com a sua sã convivência, conseguem. Fomos para a escola e mais tarde para o colégio, mantendo o grupo unido.


Ele, lá longe, fazia o mesmo percurso, escola, talvez o liceu, o colégio e, se bem me lembro, como os estudos não tinham os resultados desejados pelos pais, foi até Tomar – colégio mais apertado…. As férias continuavam a ser tempo de união, de brincadeiras, de conversas, de outras vivências e convivências, próprias de jovens que, sem darem por isso, foram crescendo.

Ele era diferente. Não só pelo cabelo liso, despenteado e desalinhado. Ele também o era. Mais sensível, mais dado a leituras, escrita, música, poesia e já o teatro. Alegre, de sorriso e piada fácil, preocupava-se mais com o seu sonho, o seu modo de estar e amar a vida do que com os estudos impostos. Conversávamos longamente.
– Lê isto que eu escrevi ou escuta este poema.


Um dia apareceu com uma máquina de filmar… outro sonho. Começamos a contactar menos devido áà roda da vida. Eu num lado, ele no mundo do espectáculo ou da escrita. Teatro, jornalismo e outras deambulações. Víamo-nos, de quando em vez por Lisboa… que saudade e que recordações…

Chegou o dia, aquele dia, a que aos homens da minha geração era posto ponto e vírgula, senão mesmo ponto final. Tempos de humilhação, de desrespeito pela nossa cidadania.
Fui cumprir o serviço militar. Ele foi depois.

Um dia o encontro dramático, ainda hoje arrepiante. Ambos tínhamos ido para a Guiné.
Regressávamos de uma operação, cansados, fartos e com o Geba ali perto. Como vinha á frente informaram-me:
- Cuidado, pois há periquitos a fazer segurança.


Passa palavra, olhos mais abertos. Mais á frente faz-se o encontro. Não pára, só olha e descomprime um pouco.

Vindo do mato a voz de alguém a dizer o meu nome. Olho nessa direcção. Direito a mim, corre um militar com um banana na mão. Olho e não acredito. Estupidamente pergunto:
- Zé, que fazes aqui?


Ele abraça-me, olha-me com as lágrimas a escorrerem-lhe pela face magra. Aperto-o pelos ombros. Não sei se disse algo a tentar reconfortar.

Não era lugar para o Zé Manuel. Combinamos encontrarmo-nos em Bambadinca. Assim o fizemos e o Zé Manel contou-me a sua vida no Xitole ou Saltinho (2406?, não sei).
Mostrou-me as mãos com calos e sinais de bolhas. Aquilo não era para ele nem para nenhum de nós. Só que eu e outros fazíamos a nossa guerra e já tínhamos muito tempo de mato.

Falei com o Capitão dele. A resposta foi, se bem me lembro, esse poltrão nem cavar sabe, isto não é o teatro.

- Nem eu sei cavar,  meu Capitão.

Curiosamente, em futuros encontros, o meu relacionamento com este Capitão foi bom. Compreendi-o. Não gostava de Teatro… Abreviemos.

Pouco tempo depois o Zé estava em Bissau. Perdeu-se, um soldado ou cabo atirador ou telegrafista mas a Rádio em Bissau [, o PFA - Programa das Forças Armadas, ] ganhou um radialista. E não só. E não só.

Eu há cinco anos, como passa depressa o tempo, perdi mais um amigo de infância.

Foi ontem homenageado, pela estação de televisão onde mais trabalhava. Assisti. Ouvi as palavras habituais mas ainda bem que o recordaram. Merecia. Hoje alinhei estas palavras pela saudade que sinto, dele e de outros desse tempo que, desta vida, partiram.
Descansa em Paz, meu querido José Manuel Camacho Costa.


__________
José Camacho Costa (n. Odemira, 8 de Junho de 1946 - m. Lisboa, 1 de Março de 2003), actor português.

(i) Era licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 


(ii) Foi crítico de cinema entre 1973 e 1978;

(iii) Mas foi ao teatro, principalmente à comédia portuguesa que mais se dedicou: entre 1976 e 2000 participou em mais de vinte produções dos teatros do Parque Mayer;

(iv) Trabalhou também com os Artistas Unidos onde foi dirigido por Jorge Silva Melo;


(v) Com mais de dez participações no cinema, em filmes como Manhã Submersa de Lauro António, Saudades para Dona Genciana de Eduardo Geada, O Testamento do senhor Napumoceno da Silva Araújo de Francisco Manso ou Ilhéu da Contenda de Leão Lopes;

(vi) Popularizou-se com a sua presença regular nas principais séries televisivas de humor portuguesas, como Os Malucos do Riso de Marecos Duarte (SIC);

(vii) O papel mais conhecido e mais cómico foi o Lelo cuja etnia era cigana, também o mestre André, mendigo, alentejano entre outras personagens;

(viii) Morreu a 1 de Março de 2003, vítima de um cancro pulmonar.

Foi sem dúvida uma grande perda para o humor nacional e sempre sera recordado por todos nós.Não há nimguém como ele.


em Wikipedia
(com a devida vénia)...
__________

Fixação de texto: vb

Vd. postes anteriores desta série, In Memoriam:

31 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1805: In memoriam (1): Adeus, Zé Neto (1929-2007) (José Martins, Humberto Reis, Luís Graça, Virgínio Briote e outros)

6 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2033: In Memoriam (2): O saudoso Amaral da horta e dos presuntos de Missirá (Jorge Cabral / António Branquinho)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8854: In Memoriam (93): Homenagem do povo de Vale de Espinho aos seus filhos que perderam a vida na Guerra do Ultramar (José Corceiro)


1. Mensagem de José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos , Canjadude, 1969/71), com data de 2 de Outubro de 2011:

Caros amigos, Luís Graça, Carlos Vinhal, J. Magalhães.
Deixo ao vosso critério publicar, ou não, o texto que envio, assim como as respectivas fotos, que junto em anexo.

Um Abraço
José Corceiro


Homenagem do povo de Vale de Espinho aos filhos que perderam a vida na Guerra do Ultramar

Estimados amigos
Estive no passado mês de Agosto, em Vale de Espinho, Sabugal, minha Terra Natal. A minha sensibilidade enterneceu-se num estranho miscigenado, de satisfação, sofrimento, orgulho e saudade, ao deparar e ser surpreendido, com um singelo memorial erigido pelo povo de Vale de Espinho, a homenagear os dois combatentes, mancebos Valespinhenses, que tombaram e derramaram o seu sangue, em terras de África, onde perderam a vida na Guerra do Ultramar. Foram eles: Francisco Vaz Silva e José Martins Cobrado.

Foto 1 - Memorial, erigido pelo povo, de Vale de Espinho, a homenagear os dois combatentes Valespinhenses que tombaram na Guerra do Ultramar.

O monumento é simples, mas transmite o resumo duma mensagem carregada de respeito e estima. É um memorial constituído por um pedestal de granito, pedra hirta, consistente e nobre, da zona, no qual foram cravadas três lápides de mármore preto, a simbolizar a saudade e o luto, lápides onde foram gravadas letras em baixo relevo, banhadas a ouro, exprimindo o carinho e o reconhecimento dum povo. Foi colocado num espaço público ajardinado, à entrada do Largo das Eiras, em frente do Centro Social Paroquial, da aldeia, junto ao café do “Freu”. Os meus dois conterrâneos, que tombaram em combate, tinham praticamente a minha idade e deixaram-nos no auge da sua mocidade, no ano de 1969.

Fiquei agradado e muito agradecido, ao Sr. Presidente da Junta da Freguesia, de Vale de Espinho, José Faixa, por ter tido a humanidade e a lembrança de honrar e recordar os dois jovens, filhos da povoação, que tão novos perderam a vida a lutar, numa guerra injusta, no solo do Ultramar. Guerra indevida, para mim, porque os nossos estadistas e governantes não souberam interpretar e respeitar o sopro dos ventos, que há muito se faziam sentir, através de sinais e acontecimentos explícitos, que exigiam mudanças históricas, mas não foram devidamente ajuizados para evitar que a guerra se desencadeasse…

Eu escrevi, no dia 1 de Junho, de 1969, em Bissau, nos meus apontamentos diários onde anotei, quando tinha somente dois dias de Guiné, mais ou menos o seguinte: “...Sou por natureza bucólico, encanta-me o campo, a paisagem a floresta, e admirou-me o percurso que medeia entre o DGA e Bissau, de aspecto árido e tórrido, a contrastar com o arvoredo frondoso e acolhedor da bolanha, onde umas mulheres lavavam a roupa…. Foi muito agradável ver as lavadeiras, algumas completamente nuas e sem ruborescerem perante os “mirones” presentes. De entre elas, sobressaiu uma, mais atrevida e desinibida, que ao ver o nosso olhar maroto carregado de intenção maliciosa e aveludado de desejo concupiscente, dirigiu-se a um dos meus amigos em termos críticos e desafiantes, gesticulando e prenunciando palavras provocadoras...

Para o meu íntimo, estes momentos a que venho assistindo, já são reveladores do fosso cultural existente entre nativos e metropolitanos. Começam-me a aliciar a idiossincrasia e a genuidade do povo guinéu, despido de formalismos e preconceitos; para mim este modo de vida, é pureza, conduta simples e natural, é como um ode da natureza a louvar a criação do homem… Assim se inicia mais um despertar em mim! Por um lado a intuição, por outro o raciocínio, começo a ficar sobressaltado e a entender que aqui há outra cultura, outra forma de ser e estar na vida, eles, os nativos, estão no seu habitat. Temos o dever de os respeitar, pois nós estamos desintegrados, eu sou invasor!...”

O primeiro mancebo da minha terra, Vale de Espinho, que tombou em combate, no Ultramar, Francisco Vaz Silva, era meu tio, irmão da minha querida e saudosa mãe. Além de tio, foi amigo e companheiro de infância, nas nossas brincadeiras de meninice, pois éramos praticamente da mesma idade e frequentámos a mesma turma escolar.

Foto 2 - Sepultura, no cemitério de Vale de Espinho, onde jazem os restos mortais de Francisco Vaz Silva.

Recorte com a notícia que saiu na imprensa regional, quando se realizou o funeral do meu tio.

O meu tio, juntamente com outros amigos, como era frequente na época, 1965, com apenas 18 anos, foi “a salto” para terras de França, à procura de melhor qualidade de vida e porque não dizê-lo, também para se alhear da Guerra do Ultramar… Estava profissionalmente bem integrado na sociedade do país que o acolheu, onde era estimado e valorizado, quer no trabalho que executava, quer nas relações inter-sociais com os amigos de convivência, e tinha sempre presente os meus avós, para os quais enviava com regularidade dinheiro. Mas um grito interior agitava-lhe as entranhas, e ouvia a voz bradante do chamamento da Pátria amada, que clamava pelos seus ditosos filhos e, com 21 anos, regressou voluntariamente à terra que o viu nascer, carregado de animosidade e cheio de esperança, desejava calar o grito que lhe invadia a alma e o impulsionava de regresso às origens… O bramido das Raízes!…

Foto 3 - Da esquerda para a direita: (eu) José Corceiro, Filipe Neto, José Manuel Pedro e meu tio Francisco Vaz Silva. Quando a foto foi tirada, tínhamos de idade 13, 14 anos.

Na companhia do meu e seu grande amigo, também emigrado, José Manuel Pedro, regressaram os dois ao seu País Natal e apresentaram-se de seguida no Regimento Militar, da área de residência, para se disponibilizarem a cumprir o dever de cidadania e serem integrados no serviço militar, para servir a Pátria. Tiraram a recruta, no Batalhão de Caçadores 6, em Castelo Branco, finda a qual foram logo mobilizados, pelo RC 4, para Angola, integrados na CCav 2431/BCav 2854 colocado em Zala. Após curta estadia em Angola, ainda com 21 anos de idade, o dia 4 de Fevereiro, de 1969, tombava em combate, Francisco Vaz Silva, na presença do seu grande e inseparável amigo, José Manuel Pedro.

O funeral do meu tio realizou-se, em Vale de Espinho, o dia 23 de Junho, de 1969, passados quatro meses e meio após a sua morte, já eu tinha sido mobilizado para o Ultramar e estava na Guiné.

Foto 4 - O nome do meu tio, na Venera Nacional, entre a extensa lista dos Combatentes que tombaram na Guerra do Ultramar, cujas placas estão junto do Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa.

Foto 5 - Monumento Nacional aos Combatentes do Ultramar, em Lisboa.

O José Manuel Pedro, após o regresso do Ultramar, iniciou o namoro com uma prima minha e acabaram por contrair matrimónio. Constituíram e organizaram bem a vida, com sucesso e desafogo e dessa união, nasceram duas filhas. Mas a vida às vezes é madrasta, e reserva-nos traiçoeiras surpresas e tragédias. O casal, meu amigo e parente, ofereceu há cerca de dez ou onze anos um carro e um apartamento à filha mais velha, que vivia em Viseu, onde trabalhava e estava a tirar o mestrado. Na passagem do ano, quando se dirigia sozinha para uma festa de amigos, a filha perdeu a vida num acidente, em Viseu, ao volante do carro que conduzia.

Mas a tragédia e o sofrimento não terminaram por aqui e, passado pouco mais de meio ano, após se ter dado o acidente que vitimou a filha querida, eis quando também é roubada a vida à outra amada e já única filha, com 16 ou 17 anos de idade! Ficaram estes pais, num desespero arrepiante, de causar dó e piedade, mergulhados numa vida vazia, a abarrotar de dor, angustia, desmotivação, saudade, recordações de tantos sonhos idealizados e não concretizados! Foi tudo num ápice, e afundaram-se vidas até então bem estruturadas, deixando o casal num turbilhão de incertezas existenciais, em que a vida se transformou num vácuo desabitado, em que o pendor da balança do infortúnio ficou a pesar só, num só sentido… em declive, com o peso do luto doloroso e insuportável, no prato da desesperança!

Um abraço e boa saúde para todos
José Corceiro
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 28 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8832: Filhos do vento (6): Os que ficaram por Canjadude (José Corceiro)

Vd. último poste da série de 8 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8750: In Memoriam (92): Homenagem às Grandes Mulheres, as nossas Enfermeiras Pára-quedistas que nos deixaram (Rosa Serra, ex-Enf.ª Pára-quedista / António Almeida, Fur Mil em Angola / Teresa Almeida, Liga dos Combatentes)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4726: In Memoriam (28): Saudades da nossa Locas (1976-2009): com a dor e o riso também se faz o luto... (Cristina Allen)

Lisboa > No eléctrico amarelo da Carris > Uma das últimas fotos da Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos (1976-2009), de chez les vivants... (*)

Foto: Cristina Allen (2009). Direitos reservados



1. Mensagens do nosso camarada Mário Beja Santos:

17 de Julho:

Meu caro Luís, oxalá não se tenha cometido nenhuma besteira no texto que acabamos de digitar. 2ª feira envio-te a fotografia que a Cristina sugere que acompanhe este agradecimento a todos os que nos confortaram. Não te esqueças do trabalho da Glória, de que ela andava tão orgulhosa. Recebe um abraço de profunda amizade e gratidão, Mário

20 de Julho:

Meu caro Luís, a Cristina pede-te a gentileza, quando lhe publicares a notícia que te enviei na passada 6ª feira que ponhas esta imagem que junto, era o lindo sorriso da nossa filha, foi seguramente uma das últimas fotografias. Tenho uma novidade para te dar: vou oferecer ao blogue, tão cedo quanto possível, as minhas recordações anotadas da minha missão na Guiné-Bissau, em 1990 e 1991. Não será para já, primeiro quero acabar a Mulher Grande e depois voltaremos à Guiné, onde procurei dar o meu melhor numa possível política de consumidores, tudo parecia ir arrancar bem, tudo falhou, com grande mágoa minha. Recebe um abraço do Mário



2. IN MEMORIAM (28) (**) > DE DOR, GRATIDÃO, ESTÓRIAS, RECADOS E RISOS SE FAZ LUTO
por Cristina Allen



Amigas e Amigos,

Pensara despedir-me de outra forma deste blogue (***). Há, numa gaveta, dois textos inacabados, um risonho, outro mais sério. Deixá-los estar na gaveta, até um dia.

No dia 26 de Janeiro deste ano atribulado, acordando de uma intervenção cirúrgica, escrevera, no tabuleiro do pequeno-almoço, uns modestos versinhos a Bissau, em modos de despedida. Posteriormente lhes dei alguma forma, já que os efeitos da anestesia me tinham obliterado sílabas. Bastava, pensei, Adeus Bissau!

Mas fui-vos acompanhado no blogue e a súbita, escancarada morte de Nino Vieira me aguçou a curiosidade. Que diriam vocês?

Eram longos – e muitos – os vossos comentários. Perdoai a minha crítica mas, se foi grande e justo o vosso louvor das capacidades de estratégia militar do Presidente assassinado, alguns de vós reflectiram uma quase irmandade de guerreiros adversos afundados no choro, o que me deixou perplexa.

É que vira na televisão a imagem de um preto gordo (assim ficara ele?!), com um anel imenso, um desmesurado “N”, em relevo, desafiando, desatento, a desgraça do seu povo, tirano e corrupto (dizem), o seu ego avassalador a trair, por longos anos, o ideário de Amílcar Cabral, que deveria ter cumprido. Não só ele o fez, mas ele mais que outros.

Conheço, no mínimo, duas vítimas suas e de muitas outras sei. “Paz à sua alma”, pensei. Quem era eu para o julgar? Também meu ego não é dos mais pequenos e sou a mulher dos 24 anéis, alguns bem desmesurados.

Pensei em enviar-vos o seco comentário de Mário Soares, de quem discordo tantas vezes: “Viveu na violência, morreu na violência”. Mas dei de ombros, não fosse despertar animosidades ideológicas, e rumei aos escritos aparentemente leves do Jorge Cabral, já que a seriedade não precisa de ser carrancuda... Adiante!

Na missa do 7º dia do passamento da minha filha e do vosso camarada Beja Santos, foi um consolo receber, cá fora, tantos abraços e gente cuja escrita conhecia, mas não rosto. A solidariedade e compaixão são, no meu sentir, das mais belas virtudes que, por dentro, nos aquecem.

Ao ver-vos ali, um pensamento súbito me acudiu – estes regressaram vivos; outros não. E um lamento de Adriano: “(...) nunca mais acenderei no meu o teu cigarro (...)”.

É que assistira, há 40 anos e alguns escassos meses, à missa de corpo ausente do melhor amigo do Mário, que cuidou de mim até partir para Moçambique, como alferes miliciano, [o Carlos Sampaio, na foto à esquerda].

Fora-se, com a estranha convicção de que lá morreria, e, terrível augúrio, a ideia de que nunca mais nos veríamos.

Tudo isso aconteceu. Uma mina (ter-se-ia ele adiantado ao picador?) desmantelou o seu delgado corpo, instante de beleza masculina, fez esvoaçar, nos ares de Cabo Delgado, os sonhos da poesia, da filosofia, de uma renovada livraria. Parou para sempre a sua mão que, à espátula, pintava texturas e tonalidades de azul. Acabou-se, para sempre, a voz irreverente do seu fado vadio. Veio de férias, ainda, e de tantos encontros combinados ao telefone, nenhum aconteceu. Soube que destruíra toda a sua pintura, restando apenas uma tela que eu guardava no meu quarto.

Outra citação poética me acode: ”(...) jaz morto e arrefece / o menino de sua mãe (...)” [, do poeta Fernando Pessoa].

Jazeu morto e não tiveram sua mãe, e irmãs, aquela necessária e crua certeza dolorosa de afagar, beijar a sua gélida face, de enovelar nos dedos os seus belíssimos de ouro quente.

Nós, pais e irmã, mais venturosos fomos no cumprimento inexorável fio de dor, caminho aberto ao luto que a benigna natureza manda. Não afagámos, na imaginação e nas memórias, a dureza da notícia, mas um corpo, carne da nossa carne, sangue do nosso sangue, num frio e sempre eterno sono, rasando o infinito.

Falo-vos dessa missa terrível do corpo ausente, porque ela ocorreu na véspera da celebração do contrato civil, por procuração, das minhas núpcias com o pai das minhas filhas. A minha mãe convidara para o almoço escassos parentes e amigos. Veio o notário.

Mas arrastara-me penosamente da cama e penosamente me cuidara, tremendo de frio e em lágrimas banhada. E, em lágrimas, fiz o necessário. Naquele mudo pranto, já nem sequer as limpava, estranha noiva!

O Mário tinha telefonado, contente, e eu só lhe perguntava, ansiosa, se recebera a minha carta. Receava estragar-lhe a festa que, em Bambadinca, se fazia. Não sei se disse ou não, mas ele sabe. Sei apenas que a carta cautelosa chegou num outro dia.

Fui ao blogue, no passado fim-de-semana.

As condolências, a vossa poesia, o belíssimo comentário da liturgia desta outra missa, a vossa capacidade de estar perto e reconfortar foram um benfazejo lenitivo. Ser gregário compensa e salva-nos, por vezes, do mais aterrador solipsismo em que a alma se estilhaça.


E, inesperada e súbita, estala no blogue uma violenta briga de homens que a tecnologia temperou. Mas a ira estava lá, senti-a. E também eu fui contagiada. Mas passou.

A mente vagueou, rápida. Quem seria o “Pirata Vermelho” que teria escrito, a ponto de ser censurado? Conjecturas...Talvez tivesse achado excessivo tantos escritos, por causa de uma rapariga morta. Quiçá antigos diferendos, ideológicos ou pessoais, alguma rejeição das emoções à solta. E lá descobri, por fim, um nome: Salvador. Nome belíssimo.

É chegado o momento dos recados.

É exactamente para o Salvador que ora escrevo:

“Sabe que também a minha filha gerava a controvérsia? Em tempos em que era muito esbelta e estranhamente bela, por causa da sua exuberância e pressa de viver, andaram à briga forte e feia (Ria-se, ando agora a tentar ajudar no concerto de corações partidos...). O Salvador contribuiu para evocar, em mim, um quase divertido, mas arriscado cenário, que faz pano de fundo às suas estranhas “epifanias”.

Por isso, do coração lhe perdoo esta “pedrada no charco” por dentro do meu luto. Faltava neste doloroso puzzle uma peça solta. E o Salvador colocou-a ou fê-la surgir na mansidão latente. Não fez de “Pirata”, fez de Peter Pan!

Aceite, por favor, um conselho de uma mulher pouco sábia e, também ela, controversa – não se esconda nunca, pois não é preciso. E, com esse belo nome que lhe deram, salve-se, por si próprio, de si próprio. Corre o risco de ser menos amado, ou não ser tão generosamente reconfortado em suas penas, se e quando as tiver, pois jamais se sabe quando elas chegam.

Outro recado para o Luís Graça, desta vez.

Sabe que, na minha família há uma tradição em pompas fúnebres e momentos lutuosos, de gafes, informações corrigidas, risadas abafadas? Por algumas respondo eu, atrapalhada. Por outras, não. Carinhosamente, aqui vão os meus reparos e informes.

- A minha filha chamava-se Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos (deve estar a rir-se desta troca de apelidos!).

- A senhora que leu aquela curta e comovente passagem e não vos desejou, por ora, dar o texto, é alentejana, de Grândola, a meio caminho entre esta sua amiga e o Torcato. Faz voluntariado nos hospitais e até em favelas brasileiras. Tem uma voz lindíssima, foi – e talvez ainda seja – solista no coro da Igreja do Campo Grande. Chama-se Maria da Graça Espada Gersão Lapa.

- O Abudu Soncó não é neto do régulo Malã mas o seu filho “mais menino”. A poligamia é uma coisa complicada, quando se trata de genealogias. Era professor, sonhou dar melhor futuro aos filhos, trabalhou duro na construção civil, já sofreu dois enfartes. Mas continua a sonhar, o filho mais velho vai estudar em Argel, em breve.

- Por favor, não se arme em casamenteiro! A Sofia Arede, realizadora da SIC, na “Grande Reportagem” e jornalista, e o Pedro Calhau, igualmente jornalista, não são casados. Talvez um deles quisesse, mas o outro não (Risadas dos amigos e também minhas! Quem sabe se a picaresca Glória, amiga de ambos, não estará, também, a rir-se!).

A todas e a todos deixo um abraço de agradecimento e uma charada em italiano medieval, mesmo para os não crentes:

“(...) Laudato si, mi Signore, per sora nostra
Morte corporale, da la quale nullo ome vivente
po´ scampare. Guai (1) a quelli che morranero
ne le peccata mortali! Beati quelli che troverà
ne le tue sanctissime voluntati,
ca la morte seconda no li farrá male.”



S. Francisco de Assis, “Cantico delle Creature”
Versão original (*****)


Até breve! Cristina Allen

(1) ”Guai” – guiai. S. Francisco não foi Doutor da Igreja. Não havia nele qualquer traço de maniqueísmo teológico da negra Idade Média. Como conversará ele, um dia, com Herr Ratzinger?


2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Cristina, pelo teu soberbo texto, pela ternura contida com que falas de nós, pela grande dor que mal consegues conter ao evocar a tua Locas, pela altiva nobreza com que desancas o ex-Pirata Vermelho que seguramente nunca foi camarada da Guiné nem sabe o que é a compaixão, enfim, pela fina ironia com que elencas (e brincas com) as nossas gafes, a começar pela troca de apelidos da tua Locas... Já fiz as correcções que a leitura do teu texto me sugeriu... As nossas desculpas... Espero que a nossa blogoterapia te ajude, de algum modo, a superar este tremendo vazio que te deixou, a ti, ao Mário, à Joana, aos demais familiares e amiogos, a perda da Locas. Um chicoração do Luís Graça.


____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4644: In Memoriam (24): Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos: "Morte, onde está a tua vitória ?" (Mário Beja Santos / Luís Graça)


6 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4645: In Memoriam (25): Maria da Glória Allen Revez Beja dos Santos (1976-2009): Missa do 7º dia, 4ª feira, 19h, Igreja do Campo Grande

9 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4660: In Memoriam (26): Fazendo o luto pela Maria da Glória e agradecendo a todos a solidariedade (Mário Beja Santos)

10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4664: Blogoterapia (116): Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são (José Martins)

(**) 14 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4685: In Memoriam (27): Recordando o Major Raul Passos Ramos (José Borrego)

(***) Postes da Cristina Allen, que é membro da nossa Tabanca Grande, publicados no nosso blogue:

9 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3713: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (1): Just married...

8 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3850: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (2): Quarto, precisa-se, por favor!

19 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3913: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (3): Quanta chuva, Mário ?

24 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3933: Os meus 53 dias de brasa em Bissau (Cristina Allen) (4): Cenas, pouco edificantes, de caserna, que não contarei...

24 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3667: As Nossas Mulheres (2): De Bissau a Lisboa, com amor (Cristina Allen)

(****) Citação, julgo eu, retirada de:

Memórias de Adriano, de Marguerite Yourcenar (1903-1987), romance publicado pela primeira vez em França em 1951.

(*****) Tentativa de tradução:

Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã,
a morte terrena [corporal], da qual nenhum homem vivo
pode escapar. Guiai [ou ai d'] aqueles que morrerem
em pecado mortal! Bem-aventurados aqueles
que seguirem as tuas santíssimas vontades
pois a segunda morte não lhes fará mal
[ou não morrerão uma segunda vez].


Francisco de Assis (c.1181-1226), Cântico das Criaturas

domingo, 16 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13903: Consultório militar, do José Martins (10): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte IV - As três baixas mortais no decurso da Op Relance, no corredor de Guileje, entre a lala do Rio Tenhege e Guileje


Guiné > Região de Tombali > Mapa de Guileje > Escala 1\/50 mil > Posição relativa de Guileje e do rio Tenhege, a noroeste. Foi nesta região que o alf mil art Tavares Machado e os sold António Lopes e António de Sousa Oliveira (o "Francesinho") perderam a vida em combate, na decurso da Op Relance (local da operação: corredor de Guileje, numa lala do Rio Tenhege).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


1. Quarta (e última) parte da informação recolhida pelo José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, TOC reformado, residente em Odivelas]. no âmbito do seu "consultório militar" e, mais concretamente, em resposta a um pedido de informação do nosso leitor Aníbal Teixeira, cunhado do alf mil art Nuno da Costa Tavares Machado, morto em combate em Guileje, em 28712/1967, e que pertenceu CART 1613 / BART 1896 (Guileje, 1968/68). (*)


2. Na História da Unidade [CART 1613] e à guarda do Arquivo Histórico Militar (AHM), que fomos consultar, consta na página número 127, a seguinte nota, relativa ao período de 1 a 31 de Dezembro de 1967:


Em 27 – Executado a Operação “Relance”

Missão – Emboscada no “corredor” de Guileje.

Forca executante:

- Companhia de Artilharia 1613 (incompleta)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1659 (**)

- 1 Grupo Combate da Companhia de Artilharia 1622

- Pelotão de Caçadores Nativos 51

- Pelotão de Milícias 138

Resultados obtidos:

- Causados ao IN 4 mortos prováveis e feridos vários não controlados

- As NT sofreram 3 mortos, 4 feridos graves (3 milícias) e 3 feridos ligeiros (2 milícias).




Fonte:  CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 8.º Volume - Mortos em Campanha: Tomo II - Guiné - Livro 1 (1.ª edição, Lisboa 2001), p. 309.



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > 1967 > Aspeto geral do quartel. Messe e quartos dos sargentos com cozinha ao fundo. Os maloagrados alf mil art Tavares Machado, sold António Lopes e sold António de Sousa Oliveira (o "Francesinho")  devem-se ter cruzado, em vida, diversas vezes com estes putos que viviam na tabanca e aquartelamento de Guileje.

Foto: © José Neto (2005) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]

______________

Notas do editor:

(*) Vd. postes anteriores: 


13 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13885: Consultório militar, do José Martins (9): Sobre a morte do alf mil Nuno da Costa Tavares Machado, em Guileje, em 28/12/1967: Parte III - Ficha da Unidade, BART 1896, a que pertenciam as CART 1612, 1613 e 1614

Vd. também poste de 13 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil inf, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo

(**) O nosso camarada Mário Gaspar, fur mil da CART 1659, tem uma versão em que não se faz referências a baixas entre as NT, de acrodo com a sua mensagem de 4 do corrente, de que transcrevemos alguns excertos:

(...) A  Companhia de Artilharia 1659 – CART 1659 entrou na “Operação “Relance” (...)  – e eu estive lá, e participei nela (...)

A Operação Relance", consta no Blogue, no poste P12412 (...)


Na História da Unidade da CART 1659, pode-se ler que a Operação Relance” foi  em 21/28 DEZ67. Missão: Montar emboscada no “corredor de Guileje”, região de Famora. Forças – 1 Gr Comb., desta CART (...), juntamente com 1 GR.COMB da CCAÇ 1622 e 2 GR.COMB. da CART 1613.

As NT foram emboscadas por duas vezes, tendo reagido pelo fogo e manobra. O IN sofreu 4 mortos prováveis e vários feridos não controlados.

Quanto aos 4 mortos prováveis e feridos vários, foi a informação que passou pelo famoso Régulo Abibo Injasso e seus informadores. O Régulo que dizem ter morrido era uma boa alma, a Meca ia todos os anos, e o Exército Português pagava. As informações tinham uma tabela, grande parte das vezes era verdadeira. 

O que sei é que se fosse minar ou armadilhar determinadas zonas , e fosse somente a NT, e não iam nem Caçadores Nativos nem Praças “U”, para mim era sinal que o PAIGC se desviava, não do local nem da zona, era a garantia que tinha que por determinados locais das imediações de Gadamael Porto não passavam. Nada dizia, nem ao Capitão. 

Em relação [à informação] das NT sofrerem 3 mortes, 4 feridos graves (3 Milícias) e 3 feridos ligeiros (2 Milícias). Não tenho conhecimento que tivessem havido mortos e feridos. 

A Operação foi de 21 a 28 de Dezembro e estive sempre lá. (...)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24086: In Memoriam (471): José António Paradela (1937-2023), ilhavense, arquiteto, escritor, meu amigo do peito, meu mano: andou na pesca do bacalhau aos 16 anos, e fez o serviço militar na Marinha (Luís Graça)


José António Paradela
Costa Nova, agosto de 2007
Foto: LG
1. Morreu, hoje, no hospital, em Aveiro, de doença de evolução prolongada,  o meu amigo do peito e "mano", o arquiteto José António Paradela. Tinha 85 anos.

O velório e o funeral serão na 5ª feira, dia 23, na sua terra natal, Ílhavo, da parte da tarde.

Estive com ele, pela última vez, na sua casa na Costa Nova, em 11 de janeiro último. Tinha regressado do hospital, mas vinha muito debilitado. Manteve uma conversa curta mas perfeitamemte inteligível e lúcida connosco, eu e a Alice. Já não saía da cama. Ainda lhe telefonámos há uma semana e tal, íamos a caminho do Norte, perto de Aveiro. Tinha regressado ao hospital,desta vez para morrer.

Pela primeira vez, nesse dia, 11 de janeiro,  não veio almoçar connosco,  num dos seus restaurantes 
favoritos (ora na praia da Vagueira, ora na Costa Nova, junto à ria).

Era um homem afável, amigo do seu amigo. Amava os seus, amava a vida, adorava o mar, a ria de Aveiro, o rio Tejo, as Berlenga se,   a fotografia, as viagens... Amava as coisas boas da vida. Tínhamos várias afinidades, desde a boa comida (os mariscos)   à    literatura, à música e  à arquitetura.

Passávamos sempre um dia com ele e a Matilde, no verão, na Costa Nova, antes de rumarmos à Madalena ou a Candoz, mais a norte.  Conhecíamo-lo há mais de 40 anos. Ele e a Matilde, e depois os seus filhos, Marco e Jorge, faziam parte do nosso círculo mais próximo de amigos. 

Era membro da nossa Tabanca Grande, desde 2008, e tem mais de duas dezenas de referências no nosso blogue.

O Zé António, como bom ilhavense, era também ele, filho e neto de gente do mar, tendo passado, aos 16 anos, pela pesca do bacalhau, na Terra Nova... Foi verdadeiramente a sua tropa, a sua guerra da Guiné... Uma experiência, duríssima, de seis meses, que o marcou para sempre... Fez depois o serviço militar obrigatório ma Marinha na 2ª metade da década de 1950.  

Formou-se, a seguir,   em arquitetura, na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa (para onde entrou no ano letivo de 1960/61). Chegou a ter o maior gabinete de arquitetura e planeamento de Lisboa, com mais de 6 dezenas de colaboradores, a empresa PAL - Planeamento e Arquitetura, Lda

Fez os planos urbanísticos de muitas autarquias, em especial na região Autónoma da Madeira. Deixa inúmera obra edificada (hoteis, equipamentos desportivos, etc.) não só na região (ilhas da Madeira e Porto Santo) como por todo o país. Trabalhou no SAAL (1974-76), nomeadamente no Bairro da Curraleira-Embrechados – Arquitectos responsáveis: José António Paradela e Gravata Filipe, experiência de que falava com grande paixão.

Homem de múltiplos talentos e saberes, também desenhava e escrevia em prosa e em verso. Publicou uns cinco ou seis livros, em edição de autor, sempre a pensar nos amigos. A um deles deu o belíssimo título Uma Ilha no Nome: Crónica dos Dias Líquidos, que eu tive a honra e o prazer de prefaciar (**). Usava como pseudónimo literário Ábio de  Lápara.

Também fiz três notas de leitura sobre o seu livro "A Rua Suspensa dos Olhos" (20156) (***).

Deixa viúva a Matilde Henriques, que foi técnica superior do Ministério da Agricultura e Pescas. O casal tem dois filhos, Marco (oficial da marinha mercante) e Jorge (que trabalhava com o pai). E uma neta de tenra idade. O Tibério Paradela (1940-2021), um "lobo mar", natural de Ílhavo, capitão da marinha mercante reformado, e seu irmão mais novo, também era membro da nossa Tabanca Grande. 

Dos nossos amigos comuns, na Costa Nova, ainda há destacar: (i)  o Jorge Picado, também nosso grã-tabanqueiro (**); (ii)  o Valdemar Aveiro, um dos últimos capitães da Faina Maior. e ainda (iii) o dr. João Vizinho, outro ilhavense ilustre com casa na Costa Nova, médico do trabalho, meu velho amigo e companheiro das lutas da saúde ocupacional

À família enlutada, em particular à Matilde, o Marco e o Jorge, deixo pessoalmente um muito carinhoso abraço na dor e na saudade. Os pêsames também da Tabanca Grande.

2. Ábio De Lápara (José Paradela) partihou uma memória dos seus últimos 10 anos, escrevendo, pela última vez, na página do seu Facebook o seguinte:
6 de Fevereiro às 21:34 ·


Tempos felizes que cabem por inteiro na minha passada ambição. Deixaram sabores doces e tanto me basta.



O Zé  António  quando jovem marinheiro ("moço")  a bordo do "Lousado", em 1955


Uma das últimas fotos do nosso amigo, aqui com a sua neta de 3 meses, filha do Marco Henriques.


Foto de cronologia no Facebook... Há uma hora, podia ler-se esta derradeira mensagem na sua págima do Facebook:

(...) Querido Facebook, o destino levou-me para um local etéreo, onde descanso agora. Como última paragem despeço-me de todos os meus amigos dia 23 na Igreja Matriz de Ílhavo, por onde andei em seu redor descalço durante a minha meninice. Agora, o início de algo que desconheço. Parti em Paz junto dos que me amam. Cuida da minha conta, meu Querido, um até já.. (...)
___________


(**) Vd. poste de 30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

(***)  Vd. postes de:


29 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15551: Notas de leitura (791): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário de José A. Paradela): reprodução do capítulo 7 com a descrição da viagem de seis meses, aos 17 anos, em 1955, aos bancos de pesca do bacalhau: II parte

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8181: In Memoriam (75): Gen Bettencourt Rodrigues (1918-2011), último Com-Chefe e Governador Geral da Guiné (Joaquim Mexia Alves / José Martins / Fernando Costa / Editores)



Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [1973 ?] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares). Foto (editada por L.G.) do ex-Fur Mil Trms da CCS/ BCAÇ 4513,.Fernando Costa. Segundo ele, o Gen tinha lá um sobrinho, madeirense, em Aldeia Formosa. Esta visita terá sido feita em finais de 1973 ou princípios de 1974.


Foto: © Fernando Costa (2009) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso colaborador permanente (e membro da nossa Tabanca Grande) Joaquim Mexia Alves [, foto à direita quando Alf Mil], com data de 28 de Abril de 2011, 18:20:


Meus caros camarigos

Hoje morreu um brilhante militar. Um homem frontal, inteligente e honesto. Morreu um dos grandes Generais das nossas Forças Armadas, [Bettencourt Rodrigues].
Eis a notícia (*):

http://diario.iol.pt/sociedade/ultramar-general-bethencourt-rodrigues-guine-obito-tvi24/1249518-4071.html

O não ter estado no 25 de Abril não significa nada, nem diminui este homem digno e grande militar.

Paz à sua alma!

Um abraço

Joaquim Mexia Alves

2. Mensagem de L.G., com data de 28 de Abril de 2011, 22:22, dirigida ao Joaquim e com conhecimento à equipa de editores e colaboradores:

Joaquim: Obrigado por nos teres feito chegar a triste notícia (que é sempre a morte de alguém que nos está próximo, por parentesco, pela história, pela nacionalidade, pela língua, etc.)... O Gen Bettencourt Rodrigues foi um dos nossos, e um dos nossos comandantes no TO da Guiné... Tal como Spínola, Hélio Felgas, Fabião, etc. Prestei a minha última homenagem ao
Ten Gen Hélio Felgas, independentemente de eventuais simpatias ou antipatias, pessoais, políticas ou outras... Bastou-me para tal ter sido alertado pelo seu neto, que me deu a notícia do seu falecimento... E eu fiz a notícia, do meu próprio punho, na altura... Foi um homem da Guiné, e um português, e isso basta-me.

Não uso esse critério (político-ideológico) no nosso blogue, que é centrado na nossa experiência (factual) da guerra da Guiné... Todos os actores, todos os protagonistas, do soldado ao general (independentemente do seu percurso posterior, como militares, cidadãos, políticos, independentemente da sua posição no 25 de Abril, 11 de Março, 25 de Novembro, etc,), merecem a nossa atenção: mais, têm direito às luzes da ribalta (mesmo que modestas, do nosso blogue)... Em vida e na morte... Todos os que combateram connosco e até aqueles que combateram contra nós: veja-se o espaço que procuramos dar também ao inimigo de ontem... Só assim poderemos reconstituir o puzzle da memória e fazer a "ponte" com o passado, com a Guiné, com os combatentes do PAIGC, etc.

Queres (ou alguém mais quer) fazer uma notícia mais detalhada ? Ele foi do teu tempo (quando estavas em Mansoa,na CCÇ 15)... Convinha editar amanhã, na série In Memoriam (**)... Haverá alguém que o tenha conhecido melhor ? Há pelo menos 2 referências ao
General no nosso blogue, uma delas escrita pelo Fernando Costa.

Um abraço. Luis


3. Resposta de outro dos colaboradores permanentes do nosso blogue, o José Martins, com data de hoje
Data: 29 de Abril de 2011 11:27

Assunto: Falecimento do Gen Bettencourt Rodrigues

Caro Luís

Escrever sobre Bettencourt Rodrigues ou sobre qualquer outra personalidade que teve/tem relevância na nossa história colectiva, mormente em teatro de operações, se se não tiver um conhecimento profundo, a nivel pessoal e/ou muito próximo, todo e qualquer texto dará a sensação de que estamos a "tentar reescrever a história".

Muitos textos já existem sobre este nosso camarada de armas, independentemente do tempo e local onde nos cruzamos e/ou desencontramos. Porém, foi um combatente de África e, nomeadamente, recebeu uma tarefa dificil, que nós conhecemos bem: dirigir a Guiné (militar e civilmente), no periodo em que se intensificavam os combates com o recurso a armas que nós não possuíamos.

Tambem teve a desdita de substituir um homem carismático, o então General António de Spínola, que tinha um capital de aceitação entre os chefes e naturais da nossa Guiné.

A imagem que retenho de Bettencourt Rodrigues [, foto à direita, de fonte desconhecid,] é a partida de Spínola, de avião, da Base Aérea 12, em que as câmaras de filmar focavam um homem, aparentemente só, acenando para a aeronave que regressava ao continente.

Independentemente de toda e qualquer conjectura, militar e/ou politica, foi "um de nós que partiu". Partiu mais um combatente. Estamos mais pobres. Infelizmente cada vez somos menos. Onde quer que esteja, honrou o país que o viu nascer.

José Martins
_________________

Notas do editor:


(*) Exttraída com da devida vénia do Semanário IOL, versão 'on line':

Morreu o General Bettencourt Rodrigues > Foi um dos mais importantes generais da guerra colonial e último Governador-Geral da Guiné portuguesa

José Manuel Bettencourt Rodrigues, um dos mais importantes generais da guerra colonial e último Governador-Geral da Guiné portuguesa, faleceu esta quinta-feira, aos 92 anos, escreve a Lusa.

Nascido na Madeira em Junho de 1918, Bettencourt Rodrigues frequentou, já em Lisboa, os estudos preparatórios militares na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, ingressando depois no Curso de Infantaria da Escola do Exército, que terminou em 1939, como primeiro classificado do seu curso.

Anos mais tarde, em 1951, concluiu o curso de Estado-Maior com a classificação de «Distinto». Dois anos mais tarde, em 1953, frequentou o curso de Comando e Estado-Maior do Exército Norte-Americano, no Command and General Staff College, em Fort Leavenworth, Kansas. Em 1968 foi promovido a brigadeiro após a frequência do curso de Altos Comandos do Instituto de Altos Estudos Militares (IAEM) e em 1972 foi promovido a general.

Comandante do Regimento de Artilharia nº 1, Bettencourt Rodrigues notabilizou-se como chefe do Estado-Maior do Quartel-General da Região Militar de Angola, comandante da Zona Militar Leste de Angola e comandante-chefe e governador da Guiné Portuguesa, a partir de Setembro de 1973 em substituição do general António de Spínola.

Entre 1968 e 1970, o general desempenhou as funções de ministro do Exército de Marcelo Caetano.Após a revolução de 25 de Abril de 1974 - com a qual não concordou - passou à reserva por despacho da Junta de Salvação Nacional.

Bettencourt Rodrigues foi agraciado ao longo da sua carreira militar com a Medalha de Ouro de Valor Militar, Medalha de Ouro de Serviços Distintos e Grã-Cruz da Medalha de Mérito Militar.

O corpo de Bettencourt Rodrigues estará na Academia Militar a partir das 17h00 e será celebrada missa no sábado às 10h30.

(**) Vd. último poste da série de 13 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8092: In Memoriam (74): No dia 9 de Abril de 2011, a cidade de Matosinhos homenageou os pescadores mortos no naufrágio de 2 de Dezembro de 1947 e os combatentes da Guerra do Ultramar caídos em campanha (Carlos Vinhal)