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terça-feira, 5 de junho de 2012

Guiné 63/74 - P10000: (Ex)citações (184): Respostas a interrogações de Luís Graça, ainda sobre o tema Guidaje (1) (José Manuel Pechorro)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73) com data de 1 de Maio de 2012:

Respostas às perguntas formuladas pelo Luís Graça no seu comentário deixado no Poste 9960* (1)

Comentário de Luís Graça

Camarada: 

Talvez nos possas ajudar a compreender melhor certas coisas que por aí aparecem escritas... 
Naturalmente que respondes só ao que quiseres (e puderes..., se bem que a guerra, dizem, já tenha acabado há 38 anos).

Pergunta: Por exemplo, quantos mortos teve a CCAÇ 19? E quantas dessas baixas mortais ocorreram no período de 8 de maio a 8 de junho em que costumamos (alguns...) balizar a batalha de Guidaje?

Resposta: Ficaram enterrados em Guidage 23 corpos, 8 brancos metropolitanos e 15 negros naturais da Guiné. Alguns foram mortos ou ficaram feridos: no quartel, na estrada, ou no ataque a Kumbamory, acabando por morrer no aquartelamento alguns dos feridos.

Os mortos da CCaç 19, foram sete:

Os 5 que ficaram no Cufeu e 2 no quartel, feridos graves do abrigo na madrugada do dia 25 de Maio 73:

- ANTÓNIO DOS SANTOS JERÓNIMO FERNANDES, Fur Mil AP, NM 0948627, CCaç 19
- ANTÓNIO TALIBÓ BAIO, Soldado At NM 82081071, CCaç 19, Morcunda – N. Sra da Graça – Farim.

Pergunta: Porquê só dois mortos no quartel ?

Resposta: Ocupavam as 4 casernas abrigo e os cerca de 5 abrigos que existiam. - Ser uma companhia amadurecida na guerra e habituada a flagelações e ataques ao quartel.

Pergunta: Havia malta da CCAÇ 19, nomeadamente camaradas nossos guineenses, entre os cadáveres espalhados nas imediações da bolanha do Cufeu, quando por lá passaram a 38.ª CCmds e depois a CCP 121/BCP12?

Resposta:

10 de Maio de 1973, Quinta-feira 

01,15 h da manhã, acordados com morteiro 82. Sem consequências.

É organizada uma nova coluna auto com 15 viaturas (a segunda), traz granadas de obus, morteiros, munições, e géneros alimentares. Transporta água para ceder aos soldados que dela precisem, o que não é fácil devido à posição estratégica e rigorosa que cada um ocupa no terreno e que pode ser distante… Este movimento saiu de Binta, ao amanhecer pelas 5,30 h.

Escolta:

2.º Gomb/1.ª CCaç/BCaç 4512 de Nema,
1 GComb da 2.ª CCaç/BCaç 4512 de Jumbémbem,
2 GComb da CCaç 14 de Farim,
1 GComb da CCaç Africana “Eventual” (milícia especial) de Cuntima,
2 GComb da 38.ª de Comandos (2.º e 4.º)
e 1 Sec/Pel Mort 4274.

Foi comandada pelo Cmdt do BCaç 4512,  de Farim (Ten Cor António Vaz Antunes) e 2 capitães, acompanhados pelo Sr Ten Cor Cav António Valadares Correia de Campos (“Águia”),  comandante do COP 3 e o seu adjunto Sr Fur Mil Infor e Op Inf do Cop3 Carlos Jorge Lopes Marques Pereira (“Lobo”). Bigene ficou sob o comando do Sr. Cap. Jaime Simões da Silva (Cmdt interino por morte do Maj Mariz).

Ao encontro da acção logística e para manter segurança, ao longo da via,  saem de Guidage 4 GCOMB: 1 bi grupo da CCaç 3 e outro da CCaç 19 (Os pelotões dos Alf Mil Leitão e Luciano Diniz). O da CCaç 3 marcha nas bermas, seguindo atrás e executando a picagem da estrada, o da 19 até ao Cufeu. O bigrupo da CCaç 3 progredindo proponha-se fazer a picagem até ao contacto com a coluna!...

Estas colunas (apeadas e auto) avançam ao compasso da lentidão dos “picadores”, podem ser alvo fácil da guerrilha que por vezes está emboscada muito perto, podendo o confronto armado acontecer repentinamente. Os condutores esforçam-se por pisar o rasto do carro da frente. Acontecendo o mesmo com os soldados, pisam onde o da frente pisou… A tensão é grande! As minas no terreno podem não ser detectadas…

Entre o UJEQUE e o CUFEU accionam uma mina anti-pessoal, cerca das 9h40, causando 1 ferido grave e 1 ligeiro.

Pouco depois, na vanguarda a CCç 3, passada a ponte no Cufeu, avista o IN contra o qual investe, encurralando-o na bolanha que corta a estrada; causando baixas prováveis ao adversário. Foi por pouco tempo… São atacados por grupo estimado em 100 turras que passa ao assalto, mostrando boa preparação e fazendo bom uso dos RPG, morteiro 60 e armas ligeiras  (armamento russo).  Elementos das NT afirmam que foram alvejados com canhão sem recuo, o que é provável. Já com escassez de munições não resistem e debandam as nossas forças. Os 2 Cmdts brancos, os Alf Mil At Inf José Soeiro e o José Pacheco, bem tentaram desesperadamente deter o avanço adversário: Notou-se na conversação via-rádio…

Esfarrapados, cansados e abatidos, os militares foram chegando ao quartel de Guidage e a Binta.

Mais atrás, a CCaç 19 não vai em auxílio da 3. Separados em consequência do accionamento da mina. Aguarda emboscada e montando segurança que a coluna chegue até eles.

Acaba por receber ordem de retirada, a marcha forçada, para Guidage, mas foi tarde… Emboscados na beira da estrada, avistam o IN e hesitam se seriam os da CCaç 3… Deu-se um contacto muito forte, com grupo de cerca de 70 a 100 elementos (?).  Sofreu 3 embates. Separados pela estrada. O último foi o mais violento, tendo os guerrilheiros avançando a descoberto, em terreno não favorável, procurando envolver-se com as NT para fugir ao bombardeamento da FAP, que procurava oportunidade para actuar, dificultada pela dispersão dos militares da CCAÇ 3, fugidos e perdidos na mata. Os nossos,  executando tiros de precisão,  alguns (principalmente os que morreram, pois acabaram envolvidos…) não aguentam o forte potencial de fogo adverso (morteiro 60, RPG e armas ligeiras) e dispersam, com baixas: 5 baixas africanos, que ficaram no terreno; 7 feridos graves e 16 ligeiros.

Os 5 mortos:

- Abdulai Mané, de Barro/ Bigene/ Farim,  1.º Cabo At, NM 820863/71, CCaç19/Cart 3521, enterrado em Guidaje;
- Jacom Turé, de Samba Condé/N.Sra. da Graça/Farim, Sold At, NM 82084271;
- Mamudu Lamine Sanhá, de Perim/ N.Sra. Fátima/ Catió, Sold Aux Enf, NM 82120372;
- Sadjó Sadjó, de Morcunda/ Canicó/ Farim, Sold At, NM 82080371;
- Suleimane Dabó, de Morcunda/ Canicó/ Farim, 1.º Cabo At, NM 82080471.

Obs: - Segundo o Braima Djaura, Soldado Condutor Auto, escondido, observou com o Soldado Mecânico Auto Ridel, após ter sido morto, o Mamudu Lamine Sanhá foi degolado e a cabeça colocada em cima de um tronco de árvore…

13 de Junho de 1973, terça-feira

A pedido dos Soldados da CCAç 19 e considerando não haver perigo o Maj Inf Carlos A.W. C. Campos ordenou o levantamento dos corpos dos 5 camaradas deixados para trás no Cufeu, foi um momento de grande emoção e foram dignamente enterrados junto das campas dos outros soldados anteriormente sepultados...

O 1.º Cabo Comando Amílcar Mendes,  da 38.ª CCmds, numa postagem no sítio da Internet do Luís Graça,  afirma que os 2 GComb da 38.ª C.Cmds enterraram 2 corpos que alegam pertencer à 19. Poderá tratar-se de 2 baixas do IN...

O PAIGC não se apercebeu da entrada em Guidage, ontem, vindos via corta mato, da zona de Samoge onde montavam patrulhamento e segurança, dos 2 GComb da CCaç 3 e pagou caro este facto, pensou estar a enfrentar apenas os 2 GComb da CCaç 19…

O IN retirou também, fortemente combalido: 10 a 12 a mortos que sofreu, e nove feridos. Segundo várias fontes de informação LERPOU o seu comandante (Solo Danfá?). Ao abandonarem a zona terão levado alguns dos seus mortos. Sentindo o aproximar da coluna fugiram também.

Viveram os contactos o 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Janeiro e o Soldado Trms Inf Carlos Alberto Valentão, este chegou esgotado ao aquartelamento. A aviação não acorreu rapidamente. Temos que ser compreensivos, a distância… Mas a nossa impaciência, leva-nos provavelmente a sair da realidade operacional… Foi requisitada para ajudar a CCaç 3 e acabou a tentar intervir, nos confrontos com a CCaç 19…


Cadáveres de soldados africanos da CCAÇ 19, abandonados no campo de batalha. 

Foto ©: Amílcar Mendes, ex-1.º Cabo Comando/38.ª CComandos. Com a devida vénia


Soldado atingido numa perna amparado

Foto ©: http://tantasvidas.blog.pt/2006/4/ do ex-Alf Mil Comando V.Briote) Com a devida vénia.

Entretanto a coluna de auxílio progrediu com andamento acelerado, sempre que possível. Pelas 14h05, entre o GENICÓ e CUFEU accionou mina anti-pessoal de que resultou 1 ferido grave e 3 ligeiros. Contornou abatizes, ao longo do percurso. Num fornilho, situado perto da ponte no CUFEU, sofreu um morto: o Soldado At NM 06471572 Manuel Maria Rodrigues Geraldes, da 2.ª CCAÇ/BCaç 4512/72, de Vale Algoso, Vimioso …

Chegados os militares, do bi-grupo da CCaç 19 que sofreu os confrontos na estrada, a guarnição ficou abalada, alguns chegaram em estado de choque e em pânico, que se pegou a outros que estavam no aquartelamento… As minhas tentativas em tentar acalmar e dizer que o auxílio acabaria por chegar, não davam resultado…

Na CCaç 19 nota-se a falta de um Comandante do Quadro, um oficial miliciano não é a mesma coisa.

Valeu, em parte, a calma do Fur Mil do SIM António Hermínio Camilo Sequeira que procurou conter a quebra dos restantes. Tomou a iniciativa de entrar em contacto com o Comando-Chefe, expondo a situação e pedindo o auxílio de Tropa Especial, de preferência pára-quedistas. A emoção aumentou, entretanto, com o choro das mulheres pelos mortos, em conjunto na tabanca.

Muitos não crêem que seja possível à coluna auto passar no CUFEU. A falta de esperança levou alguns a levantar a hipótese do abandono do posto fronteiriço, seguindo a corta mato para Farim, durante a noite. Se tal se concretizasse, teria sido um “suicídio” ou passaríamos por um pesadelo.

No meu entender não estávamos em condições de fazer uma marcha destas, com um efectivo pouco numeroso, para transportar os feridos e proteger a população, na mata. Os observadores do IN, davam pelo acontecido e possivelmente o PAIGC caía-nos em cima…

Em virtude destas atitudes, queimei toda a correspondência, parte do arquivo e o material cripto que estava a aguardar a destruição (algum que guardava para trazer para a metrópole, por me parecer interessante…). Envolvi o dinheiro que dispunha em plástico e alguns apontamentos sobre os acontecimentos de Guidage… enchi os bolsos de munições, preparando-me para seguir atrás deles, caso se concretizasse! Temia que a coisa fosse repentina…

É ordenada a separação auto e o avanço veloz, ao bigrupo da 38.ª CComandos, para Guidage. Ao atingir a povoação esta imagina tratar-se de viaturas dos turras e foi mais um sobressalto!..

É o primeiro grupo da coluna auto a atingir GUIDAGE e a quebrar o cerco, através da estrada!

Foi com muita alegria que os vimos entrar e a esperança voltar aos nossos espíritos.


Viatura a entrar em Guidage.

Foto ©: Adquirida ao 1.º Cabo Radiotelegrafista Janeiro Alentejano

Estes comandos brancos estão equipados com material capturado ao PAIGC. Na estrada e na berma avistaram alguns dos nossos mortos e do PAIGC, não os levantaram por suporem serem do IN, ou estarem armadilhados…

Integrado na 38.ª, vinha um ex-companheiro e amigo de adolescência, de alcunha “Cachucho”, da Ribeira de Santarém. (Tomei conhecimento que outro companheiro de infância e do Cachucho, o Joaquim, também faz parte mas não veio por estar doente…).

Chegaram com uma viatura com o pneu rebentado por uma mina, um ferido grave decepado de um pé ao saltar da viatura e num Unimog que estacionou ao lado da antena do Posto de Rádio e próximo deste, com um morto envolvido num poncho.

Por volta das 18h, somos flagelados com morteiro 82, durou 10 minutos. Atingida a enfermaria que se encontrava a abarrotar de feridos. Não houve baixas. De realçar que as granadas alcançaram vários edifícios.

Pouco depois chegou a coluna, dando entrada para regozijo de todos, tropas e civis. Tendo havido gritos e vivas de contentamento. Foi uma festa-relâmpago.

O Ten Cor Cav António Correia de Campos (foto à direita), com um revólver à cintura, de galões, botas dos fuzos e bengala na mão, fez o percurso quase todo a pé.

No Posto de Comando, na presença dos oficiais, declarou que era ele que comandava o aquartelamento!

O Cmdt da coluna, do Batalhão de Farim (Ten Cor António Vaz Antunes) e 2 capitães, deitaram-se no dormitório do pessoal de transmissões, anexo ao Posto de Rádio, debaixo de chapa de zinco.

Um soldado condutor da Companhia de Transportes, de nome Dinis, é natural de Santarém. Saíu de Bissau para Farim e foi parar a Guidage… Foi meu colega na JOC. Passada a surpresa do encontro, perguntou-me onde poderia deitar-se em “sossego”? Disse-lhe que na minha cama não podia ser, pois estava no Centro Cripto. Indiquei-lhe o paiol, poderia deitar-se entre as caixas (cunhetes) de munições; tinha placa e paredes muito grossas em betão armado… mas rindo não ligou, dizendo que poderia ir pelos ares, talvez pensando que brincava… Eu falava a sério! Dormiu no banco da Berliett, na parada: Durante a flagelação das 22h40, cansadíssimo nem deu pelos rebentamentos, só acordando de manhã.

A CCaç 3 tem 6 homens desaparecidos: Os 2 alferes brancos José Manuel Levy da Silva Soeiro e o José Manuel Nogueira Pacheco; um 1.º cabo e 3 praças africanas negras.

A certa hora da noite um soldado da CCaç 19 atravessou a luz exterior e o arame farpado. Afirmou que foi apanhado pelos turras que o mandaram embora, depois de despido e completamente nú!… Não será um elemento do IN infiltrado nas nossas tropas? Não consigo lembrar o seu nome.

A escuridão é completa, para se andar é quase às apalpadelas…

Perto das 22h30 o Alf Mil Atir Inf José Manuel Levy da Silva Soeiro, da CCaç 3 contacta via rádio que se encontra perto do quartel do lado de Quelhato. Informa que grupo IN se aproximou e montou base de artilharia e se preparava para flagelar Guidage… Cerca das 22h40 somos atacados e reagimos bem. O Alferes da CCaç 3 observador e camuflado na mata em contacto com o Ten Cor Cav Correia de Campos, que veio para fora do posto de comando com o rádio na mão demonstrando coragem, foram dirigindo o fogo da nossa artilharia para cima deles… Embora com muita dificuldade de comunicação em virtude estarem muito perto do IN e ao que parece com pilhas fracas ou sem antenas, que se soltaram, devido às correrias por entre o matagal… Parte do nosso fogo passou por cima dos guerrilheiros.

(Continua)
____________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9960: (Ex)citações (179): A actuação da FAP em Guidaje (José Manuel Pechorro)

Vd. último poste da série de 3 de Junho de 2012 > Guiné 63/74 - P9991: (Ex)citações (183): Comparandos os dois G, Guidaje e Guileje... (António Martins de Matos, ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74)

terça-feira, 27 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21486: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XLV: Rolando Frederico Mantovani Borges Filipe, maj pilav (Lisboa, 1939 - Guiné, entre Bigene e Guidaje, 1973)





Cor inf ref Morais da Silva


1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual acima], membro da nossa Tabanca Grande [, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972 ]

Sobre o maj pilav Mantovani Filipe, abatido em 8 de abril de 1973,  aos comandos de um T 6, entre Bigene e Guidaje, temos infelizmente poucas referências no nosso blogue.


2. No blogue dos Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74, o ex-1º cabo especialista MMA-T6, Carlos Robalo, evoca esse dia trágico [por lapso, escreveu 6, quando se trata de 8 de abril de 1973]... 

Reproduzimos, com a devida vénia,  um excerto do poste [ segunda-feira, 6 de abril de 2009 >  Voo 899,  6 Abril de 1973, outro dia de luto na BA12]

(...) Era uma manhã igual às outras, por volta das 6h00. Os mecânicos da linha da frente dos T6 faziam as inspecções e os respectivos "Ponto Fixo ", numa grande azáfama. Mais tarde estando tudo em ordem, lá apareciam os respectivos pilotos o Maj Pilav Mantovani e o Fur Pil Henriques Ferreira.

Como era uma missão de ir e vir (não havia abastecimento), não era necessária a ida do mecânico.

Já na altura vivia-se um ambiente de preocupação e consternação após os acontecimentos trágicos que anteriormente tinham ceifado vidas.

Passadas algumas horas, para espanto do pessoal da linha da frente, verifica-se que apenas um T6 entra na "final" de regresso à Base, não se sabendo ainda a razão da falta da outra aeronave. Após a aterragem perguntou-se ao piloto qual a razão da demora.... e a resposta trouxe a desolação total: "Era uma bola de fogo".... 

Mais um avião tinha sido alvo do missil "strela". O major Mantovani faleceu em [8]  de Abril de 1973, que Deus tenha a sua Alma em Paz." (...)

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Nota do editor:

sábado, 23 de janeiro de 2021

Guiné 61/74 - P21798: (Ex)citações (384): A evacuação do capitão paraquedista Valente dos Santos, no decurso da Op Grande Empresa (Manuel Peredo, ex-fur pqdt, CCP 122, 1972/74 / Moura Calheiros, ex-maj pqdt, 2º cdmt, BCP 12, 1972/74)

 
Guiné > Bissau > Bissalanca> BCP 12 (1972/74)

Foto (e legenda): © Manuel Peredo (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Dois comentários ao poste P21779 (*)


(i) Manuel Peredo 

[ ex-fur mil paraquedista, na foto acima é o primeiro do lado direito, armado de RPG-2, seguido do sagento Carmo Vicente e do Fernandes, caboverdiano, fur mil, todos do 4º Gr Comb da CCP 122 / BCP 12, Bissalanca, 1972/74; vive em França, ou vivia até há uns anos; tem 7 referências no nosso blogue: integra o nosso blogue desde 2008](**)


Tendo eu participado na "reconquista do Cantanhez” [Op Grande Empresa], queria fazer uma observação. Eu estava presente quando o capitão Valente dos Santos [,comandante do CCP 122,]foi ferido com uma bala que lhe atravessou um braço.

Ele estava incluído no quarto pelotão, que era o meu e nessa emboscada tivemos quatro feridos,ou talvez cinco: o capitão Valente dos Santos,o radiotelegrafista Ribeiro,o enfermeiro Azenha e o soldado Severino que transportei às minhas costas.

Todos foram evacuados ao mesmo tempo, incluindo o capitão Valente dos Santos que, vendo em que estava o seu braço, não podia continuar a operação.

Eu li o livro do major Moura Calheiros (um excelente livro) (***) e a passagem sobre a evacuação do capitão Valente dos Santos deixou-me surpreendido ao afirmar que o capitão recusou ser evacuado querendo continuar a operação, o que não corresponde à verdade.

Em Maio de 2012 estive com o major Moura Calheiros em Tancos no dia da Unidade, onde se juntam várias gerações de paraquedistas. Dei-lhe os meus parabéns pela obra, mas disse-lhe que não estava de acordo com ele quando diz que o capitão Valente dos Santos recusou-se a ser evacuado. Disse-lhe que eu estava presente e que o capitão foi evacuado quando os restantes feridos, mas ele disse-me que eu estava errado e que o que escreveu estava certo pois andava a sobrevoar a zona na Dornier.

Nesse dia da Unidade encontrei-me com vários elementos do meu pelotão [4º  da CCP 122] que fizeram parte dessa operação e todos estavam de acordo com a minha versão.

Depois de os feridos terem sido evacuados, veio outro pelotão da CCP 122 reforçar o meu grupo e voltámos ao local onde tínhamos sofrido a emboscada, sendo a minha secção a ir na frente do bigrupo. 

Encontrámos várias granadas e munições e quando nos preparávamos para sair daquela zono, fomos atacados novamente e o furriel Aníbal Martins foi ferido gravemente. Esteve alguns dias no Hospital Militar, vindo a falecer dos ferimentos. A morte dele deixou-me abalado, pois éramos amigos e no BCP 12 dormíamos no mesmo quarto.

Também participei na operação Muralha Quimérica, onde o meu pelotão encontrou uma grande quantidade de bandeiras do PAIGC e ainda hoje tenho uma.


Capa do livro de José Moura Calheiros, "A Última Missão" 
(Porto, Caminhos Romanos,
2ª edição, 2011). A 1ª edição de 2010.

 (ii) Moura Calheiros

[tem 22 referências no nosso blogue, coronel paraquedista reformado, gestor e escritor; das três comissões de serviço no ultramar, destaque para a da Guiné (1971-1973) como 2º Comandante e Oficial de Operações do BCP12, COP4 e COP5 e ainda como Comandante do COP3]

"Sou" o Major Moura Calheiros, referido pelo Amigo e camarada paraquedista Manuel Penedo, no seu comentário ao meu livro "A Última Missão ", cujo elogio agradeço. 

Mas apresento-me hoje, e aqui, com mais 48 anos — meio século!!! — de vida do que aqueles que então exibia nos tempos que ele recorda, os da "invasão" do Cantanhez, na Guiné...

Tudo aquilo que ele refere se passou numa clara e muito quente manhã, tipicamente guineense, no dia 12 de Dezembro de 1972. E foi relatado, no livro, em 2010; logo, 38 anos depois..., passível, pois, de algumas pequenas imprecisões por efeito da falta de memória e de relatórios escritos sem muito detalhe e precisão, pois que aquele período não permitiu tempo para "burocracias", cuja falta hoje se fazem sentir... e que lamentamos existirem..

Mão amiga fez chegar ao meu conhecimento o comentário do Amigo e camarada Paraquedista Manuel Penedo a uma imprecisão existente no livro de minha autoria atras referido. E existe na verdade uma imprecisão: contrariamente ao que eu lhe tinha afirmado em Tancos, num Dia da Unidade...

Só que agora pude recorrer ao Comandante da Companhia, então Cap Paraq Valente dos Santos, muito mais jovem que eu, logo, com melhor memória. Ele confirmou-me que eu lhe propus a sua evacuação e de todos os outros feridos, mas que ele se recusara a ser evacuado sem que tivesse atingido o quartel inimigo; e, diferentemente do que eu afirmo no livro, os restantes feridos não foram logo evacuados por decisão sua, pois que não eram graves, mas sim, conjuntamente com ele, logo após a ocupação do objectivo.

Em resumo: o Amigo Manuel Penedo tem toda a razão no que afirma no seu Post, mas penso que a inexatidão não é relevante, pois em pouco ou nada o momento da evacuação é importante na narrativa; excepto, claro está, para os feridos... E felizmente tudo correu bem com eles... E com tudo o resto nesse dia, com excepção do raio do desembarque em Cadique...

As minhas desculpas aos leitores do meu livro por esta minha — quanto a mim, ligeira — imprecisão; e também ao Amigo e camarada Manuel Penedo, com o meu pedido de desculpas pelas minhas afirmações em Tancos, no Dia da Unidade. Como compensação, vai daqui um forte abraço para ele.

E, para terminar, saúdo os seguidores deste magnífico Blog, que em tempos idos eu visitava com muita frequência. Mas a idade não perdoa... (****)

_________


(**) Vd. poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3095: Tabanca Grande (81): Manuel Peredo, Fur Mil Pára-quedista, CCP122/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

(***) Vd.postes de;

 17 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7805: Notas de leitura (204) A Última Missão, de José de Moura Calheiros (1) (Mário Beja Santos)

18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7815: Notas de leitura (205): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (2) (Mário Beja Santos)

27 de fevereiro de  2011 > Guiné 63/74 - P7872: Notas de leitura (210): A Última Missão, de José de Moura Calheiros (3) (Mário Beja Santos)


2 de dezembro de  2010 > Guiné 63/74 - P7371: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (2): Excerto de Discurso do autor

3 de dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7375: A última missão, de José Moura Calheiros, antigo comandante pára-quedista: apresentação do livro (3): Sítio promocional

(****) Último poste da série > 6  de janeiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21741: (Ex)citações (383): Jaime Frederico Mariz Alves Martins, Major Graduado Infantaria, vítima mortal por derrube de aeronave em 6 de Abril de 1973, na Região de Sambuiá (António Carlos Morais Silva, Cor Art Ref)

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22423: Casos: a verdade sobre... (26): Forças Armadas Portuguesas, 1961/74: Nº de desertores, refractários e faltosos



Nº de desertores das Forças Armadas Portuguesas, no período de 1961/73  (Fonte: Cardina e Martins, 2019, p. 46)


1. O número de desertores, refractários e faltosos da guerra do ultramar / guerra colonial foi durante muito tempo (e continua a ser)  objecto de especulações e até de polémicas, por falta de investigação historiográfica compreensiva.(*)

Nos últimos cinco anos temos já dados, se não consolidados, pelo menos mais aproximados...  A metodologia da sua recolha é, porémm discutível, já que se baseiam  apenas em fontes administrativas (Excército). O investigador Miguel Cardina, da Faculdade de Coimbra,  aponta hoje para um número  de desertores da ordem dos 9 mil, podendo todavia essa estimativapecar por defeito. Um aspeto relevante: a deserção dá-se, na maioria dos casos na "metrópole# e não nas "frentes de combate", o que já há muito sabíamos  que respeitava ao CTIG.

 Embora sejamos um blogue de antigos combatentes, onde não cabe a figura do desertor como membro do nosso coletivo , isso não nos impede de falar sobre o assunto e de procurar saber mais sobre os desertores das Forças Armadas Portuguesas, no período de 1961 a 1974, em que durou a guerra, a par dos refractários e dos faltosos... 

Aliás, sobre este descritor, "desertores", temos mais de uma centena de referências...

De vez em quando o tema vem à baila, como recentente num artigo do investigador da Universidade de Coimbra, Miguel Cardina, publicado no "Público" de que tomamos a liberdade de reproduzir um excerto, para conhecimento dos nossos leitores.

2. Recortes de imprensa: 

Miguel Cardina, "Público", 30 de Julho de 2021 > Guerra à guerra: as oposições e a contestação anticolonial (Com a devida vénia)

https://www.publico.pt/2021/07/30/politica/noticia/guerra-guerra-oposicoes-contestacao-anticolonial-1972307

(...) Um estudo que efetuei, juntamente com Susana Martins (Miguel Cardina e Susana Martins, “Evading the War. Deserters and draft evaders of the Portuguese army during the colonial war”, E-Journal of Portuguese History, 2019, n.º 17/2):

(i) aponta para a existência de cerca de 9000 desertores (com lacunas pontuais em certos anos e ramos militares), a maioria deles desertando ainda em Portugal;

(ii) devendo a isso associar-se um número estimado de refratários na ordem dos 10 a 20 mil jovens;

(iii) e de faltosos à inspeção que rondará os 200 mil jovens - ou seja, perto de 20% dos rapazes chamados à inspeção na então metrópole, neste caso a partir de dados do próprio Exército.

Muitos deles não recusavam a guerra a partir de um posicionamento ideologicamente explícito e eram alheios às discussões políticas nas oposições. 

Além disso, nem todos os faltosos à inspeção o fizeram certamente para escapar da guerra: uma parte viria mesmo a regressar ao país para cumprir o serviço militar. No entanto, e como os trabalhos de Victor Pereira sobre a emigração têm sublinhado, é também possível ver estes trânsitos como parte das estratégias de resistência infrapolítica das classes populares. 

Com efeito, no gesto de emigrar intersetavam-se, frequentemente, as questões relativas ao sustento material e à busca de oportunidades de vida no exterior com o escape a constrangimentos de outro tipo, entre os quais, na vida dos jovens, pesava com especial relevo o fantasma de ser mobilizado para combater numa guerra distante. (...)

[  Revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de edição deste poste: LG    ]

3. Comentário do editor LG:

Fizemos uma primeira leitura, a correr, do artigo supracitado, de resto disponível aqui (em português do Google e no original em inglês, e também em formato pdf). Merece uma nota de leitura, e uma análise mais fina, quando tivermos disponibilidade de tempo. Para já limitamo-nos a reproduzir, com a devida vénia, um resumo (gráfico, acima)  dos dados relativos aos desertores por ano e por local (Portugal e os 3 teatros de operações).

Recorde-se que o Código de Justiça Militar de então definia como desertor aquele que se ausentava, indevidamente,  num prazo superior a oito dias, da unidade militar a que pertencia. As razões (e as circunstâncias) da deserção seriam naturalmente complexas, mas em princípio significavam a "recusa" da guerra.

Outra categoria estudada são os refratários (mancebos que faziam a inspeção mas que fugiam antes da incorporação militar), que não devem ser confundida com a dos faltosos (os que nem sequer faziam a inspeção militar). 

Entre 1967 e 1969 (os dados de que se dipõe),  cerca de dois por cento dos jovens,  chamados à inspeção,  foram considerados refratários: 1402 (2,26%) e 1967; 1268 (1,79%) em 1968; e 743 (1,09%) em 1969.  Não se dispõe de dados para os outros anos
.(Fonte: Cardina e Martins, 2019, p. 46).

Quanto aos faltosos, e de acordo com dados de 1985, do Estado-Maior do Exército, seriam da ordem dos 200 mil, no total,  no período entre 1961 e 1974 (Fonte: Cardina e Martins, 2019, p.47).

 Se os desertores e os refractários são um fenómeno mais próximo da "recusa" da guerra, a questão dos faltosos tem que ser vista no âmbito mais vasto do fenómemo da emigração.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15145: Memória dos lugares (320): Academia Militar, Palácio da Bemposta, Lisboa, visita no âmbito do Festival Todos 2015 (Parte I)













Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art Vitor Lourenço, professor da Academia Militar >

Painéis de azulejos, no "hall" de entrada do palácio, representando as várias armas (c. 1918). Autoria do  pintor português Jorge Colaço (Tânger, 1868 — Caxias, 1942), mais conhecido por ser autor  dos azulejos da estação de São Bento no Porto (1903), entre muitos outros paineis de azulejos espalhados por diversos edifícios e lugares, em Portugal e lá fora. (*)



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Fachado do palácio.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Busto, no exterior, a Catarina de Bragança (1638-1705), rainha consorte de Inglaterra (1662-1685), pelo seu casamento Carlos II, da casa dos Stuart. Foi ela que mandou constrfuir o palácio da Bemposta.


Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Espaço interior



Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  >  Palestra do cor art ref Vítor Lourenço sobre o palácio, a sua fundadora e os azulejos de Jorge Colaço.




Lisboa > Academia Militar > Palácio  da Bemposta ou Paço da Raínha, na Rua do Paço da Rainha  > Festival Todos , 7ª  edição, 2015 > 12 de setembro de 2015 >  Visita guiada, pelo cor art ref Vitor Marçal Lourenço, professor da Academia Militar.

É aqui a sede da Academia Militar (,  antiga Escola do Exército,  fundada en 1837), que  tem como patrono o general Bernardo de Sá Nogueira, Marquês de Sá da Bandeira. Há também  um polo na Amadora.

O seu lema é: "Dulce et decorum est pro Patria mori"  (É doce e honroso morrer pela Pátria). Na escadaria de acesso ao piso superior (biblioteca. museu, galeria de comandantes...) estão inscritos os nomes dos antigos alunos mortos durante a guerra colonial (1961/74), nos vários teatros de operações. Publica-se abaixo a lista dos "filhos da Escola do Exército e da Academia Militar", falecidos na "campanha do ultramar, 1961-74)(**)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados.

____________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15132: Memória dos lugares (319): Cais do Xime no tempo da CART 2520 (José Nascimento, ex-Fur Mil)


(**) Mortos na Campanha do Ultramar . 1961 - 1974 (alguns dos quais no TO da Guiné, e com "marcador" próprio no nosso blogue):

Cap. Inf. Abílio Eurico Castelo da Silva

Ten. Inf. Jofre Ferreira dos Prazeres

Alf. Pqd. Manuel Jorge Mota da Costa

Ten. Cav. Jorge Manuel Cabeleira Filipe

Ten. Pil. Av. António Seabra Dias

Ten. Inf. Casimiro Augusto Teixeira

Ten. Pil. Av. Carlos António Alves

Ten Pqd. Luís Ramos Labescat da Silva

Alf. Inf. Helder Luciano de Jesus Roldão

Cap. Inf. Óscar Fernando Monteiro Lopes

Cap. Cav. António Lopo Machado do Carmo

Cap. Inf. Isidoro de Azevedo Gomes Coelho

Cap. Inf. António Afonso da Silva Vigário

Cap. Inf. Cirilo de Bismarck Freitas Soares

Cap.Inf. Francisco Xavier Pinheiro Torres de Meireles

Ten. Inf. Manuel Bernardino da Silva Carvalho Araújo

Cap. Pqd. Luís António Sampaio Tinoco de Faria

Alf. Inf. José Manuel Ribeiro Baptista

Cap. Inf. José Jerónimo da Silva Cravidão

Ten. Pil. Av. Manuel Malaquias de Oliveira

Alf. Inf. Augusto Manuel Casimiro Gamboa

Alf. Cav. Estevão Ferreira de Carvalho

Cap. Inf. Artur Manuel Carneiro Geraldes Nunes

Alf. Art. Henrique Ferreira de Almeida

Cap. Inf. Adelino Oliveira Nunes Duarte

Cap. Cav. Luís Filipe Rei Vilar

Maj. C.E.M. Raúl Ernesto Mesquita da Costa Passos Ramos

Maj. Inf. Alberto Fernando de Magalhães Sousa Osório

Maj. Art. Joaquim Pereira da Silva

Cap. Cav. Jaime Anselmo Alvim Faria Afonso

Cap. Inf. Fernando Assunção Silva

Cap. Art. Pedro Rodrigo Branco de Morais Santos

Ten. pil. Av. Cláudio Santos Pereira Ascenção

Ten. Pil. Av. Rui Fernando Movilla de Matos André

Ten. Cor. Pil. Av. José Fernando de Almeida Brito

Maj. Pil. Av. Fernando José dos Santos Castelo

Maj. Pqd. Manuel António Casmarrinho Lopes Morais

Cap. Pil. Av. António Caetano Abrantes

Cap. Pil. Av. Custódio Janeiro Santana

Cap. Pil.Av. António Figueiredo Rodrigues

Cap. inf. António Alberto Rita Bexiga

Cap. Pil. Av. Herminio da Silva Baptista

Maj. Inf. Jaime Frederico Mariz Alves Martins

Cap. Pil. Av. Hugo de Assunção Ventura

Ten. Cor. Art. Nuno Álvares Pereira

Ten. Pil. Av. Emilio José Alves Lourenço

Cap. Pqd. João Manuel da Costa Cordeiro

Cap. Pil. Av. Fernando Fernandes

Alf. Cav. Luís António Andrade Âmbar

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13031: 10º aniversário do nosso blogue (22): Quando os senhores coronéis da censura censuravam notícias com declarações de Spínola e a escalada da guerra no CTIG, incluindo a queda do DO 27 em que pareceu, entre outros, o major Jaime Frederico Mariz, comandante do COP 3, em 7/4/1973 (António Duarte, leitor do blogue)



Documento gentilmente cedido pelo nosso leitor António Duarte

1. Mensagem do nosso leitor António Duarte (perfeitamente identificado por endereço de email válido)


Cartaz do nosso 10º aniversário, da autoria do
nosso camarada  Miguel Pessoa [], ex-ten pilav, BA 12, Bissalanca,
1972/74, um dos heróis dos céus da Guiné]
Assunto: recorte do Jornal República, de 18 abril de 1973,  censurado,  sobre militares desaparecidos na Guiné


Caro Carlos Vinhal:

Em primeiro as minhas desculpas por me dirigir assim directamente mas foi o único meio que encontrei depois de ter lido o vosso blogue.

Explico esta minha liberdade:

Dando volta aos meus papéis velhos,  encontrei uma tira de notícia que supostamente deveria ter sido publicada no dia 18 de abril de 1973 no Jornal República mas que foi censurada.

Esta tira de noticia era o meio que os jornalistas apresentavam aos censores para acordo de publicação e ... censura. Esta foi censurada.

Chegou às minhas mãos,  entre outras tiras com outros assuntos,  por oferta de um amigo que fez parte da comissão de extinção da PIDE/DGS e que em 1975 teve acesso a estes documentos.

Nesta volta dos meus papéis, como referia a militares desaparecidos na Guiné, procurei pelos nomes na internet e cheguei ao vosso blogue.

Representa esta tira uma amostra de como os militares e o seu desaparecimento / morte era tratado e escondido do país.

Aqui lha envio para que disponha como quiser e deixo os meus parabéns pelo vosso blogue e do que representa emocionalmente e historicamente.

Um abraço

António Duarte [, leitor identificado]

terça-feira, 17 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1668: In Memoriam do piloto aviador Baltazar da Silva e de outros portugueses com asas de pássaro (António da Graça Abreu / Luís Graça)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 > 1968 > Um DO (Dornier) 27 na pista de aviação (1).

Foto: © José Neto (2005). Direitos reservados.


Guiné > Bissalanca > Restos do motor do DO 27, do Furriel Piloto Aviador Baltazar da Silva ... Esta imagem foi-nos enviada pelo nosso camarada Victor Barata, que vive hoje em Viseu, e que foi especialista de Instrumentos de Bordo, na nossa gloriosa FAP (1969/1974). Esteve na Guiné, de 1971/73, "na linha da frente dos DO 27". Pedi-lhe para me dar mais pormenores sobre este trágico acidente (2). Descobri agora que o Baltazar da Silva conviveu com outro nosso tertuliano, o António Graça de Abreu, autor de Diário da Guiné (2007) (3).


Foto: © Victor Barata (2007). Direitos reservados.

Vitor Barata ainda não teve tempo de satisfazer a minha natural curiosidade acerca deste acidente: onde, quando, em circunstâncias, etc. Curiosamente, acabei por encontrar algumas respostas ao ler o Diário da Guiné, o livro autografado que me foi enviado pelo seu autor, o nosso camarada António Graça de Abreu. O Abreu foi Alferes Miliciano no CAOP1, primeiro em Teixeira Pinto, e depois em Mansoa e em Cufar (1972/74).

O seu livro é um excelente documento, de interesse memorialístico, sobre os tempos (conturbados) que antecederam o fim da guerra: a morte de Amílcar Cabral, a escalada da guerra, a proclamação unilateral da independência, a conspiração dos capitães, o 25 de Abril de 1974, a retirada das NT, etc.

Não vou agora vou fazer uma detalhada recensão crítica do livro do nosso camarada António Graça de Abreu (3). Vou apenas seleccionar alguns dos seus registos diários, em que é referida a Força Aérea Portuguesa, as suas máquinas e os seus homens. Em dois ou três desses registos, a evocada a figura do Furriel Miliciano Aviador Baltazar da Silva cujo DO foi abatido em Abril de 1973, entre Bigene e Guidaje. Subtítulos da responsabilidade do editor do blogue.

Teixeira Pinto, 26 de Junho de 1972

(…) Cheguei de manhã, vim de helicóptero (…). O alferes piloto do meu héli sabia que eu era pira, ou seja, periquito (…) e resolveu fazer uma brincadeira com a máquina voadora. Saímos de Bissau com aquela grande casca de alumínio motorizada e barulhenta,a scendendo harmoniosamente no céu. Uns dez minutos depois, sobre o rio Mansoa, o piloto fez subir o helicóptero até quase aos dois mil metros. Logo sde seguida como que o deixou cair (…) a razoável velocidade direitinho às águas do rio. Eu vinha no banco de trás e pensei: Vou morrer. Foram só uma dúzia de segundos, depois o piloto segurou impecavelmente o héli a uns duzentos metros da margem do rio (…). Chegámos e ele divertido, ao ver-me ainda branco como pó de caulino, com as cores do susto e da morte estampadas no rosto.


(…)
Canchungo, 21 de Julho de 1972

O meu dia a dia (…). Por volta das dez, quase todos os dias, chega o DO, a avioneta de Bissau; às vezes vou de jipe à pista, a uns quatrocentos metros daqui, buscar o piloto e os sacos de correio, o particular e o oficial (…).

Capa do Livro Diário da Guiné - Lama, Sangue e Água Pura, de António Graça de Abreu. Lisboa: Guerra e Paz, Editores. 2007.

Foto: Guerra e Paz Editores, SA (2007) (com a devida vénia...)


Portugueses com asas como os pássaros
 
(…) Canchungo, 1 de Agosto de 1972

(…) São doze os DO que voam no território, umas avionetas Dornier de fabrico alemão robustas e funcionais, mas sujeitas a desgaste tremendo. Às vezes voam às arrecuas, salvo seja.

Já têm uns anos, avariam-se com facilidade. A semana passada um DO que voava daqui para o Cacheu viu-se obrigado a aterrar de emergência na tira de asfalto da estrada Canchungo-Cacheu, por duas vezes. O que nos safa é o PAIGC não possuir anti-aéreas (há o boato de que as vão ter em breve), mesmo assim alguns DO já levaram tiros, sem consequências.

Gosto dos alferes e dos furriéis pilotos dos hélis e das DO. Estes homens da Força Aérea, quase todos mais novos do que eu, fazem maravilhas com as máquinas voadoras que lhes foram distribuídas. Vou buscá-los à pista, sentamo-nos na mesma mesa para almoçar, vamos até ao bar beber um café ou um copo, falamos da guerra e da paz. Já os vou conhecendo, admiro estes portugueses com asas como os pássaros

(...)

Canchungo, 20 de Dezembro de 1972

[Depois de trinta e cinco dias de férias em Portugal]

Cheguei de helicóptero, viva o luxo! Dá-me gozo viajar nestas loucas máquinas. A sensação de flutuar, oscilar no céu a grande velocidade, é mil vezes melhor do que aqueles voos assépticos e incolores nos aviões grandes tipo Boeing e quejandos. De helicóptero temos a terra, os rios ao alcance da mão e dançamos no céu.

Mas só quando os hélis voam em zona de paz. Hoje vieram porque havia operação na Caboiana (4). Aproveitei a boleia. De tarde, houve contacto NT/IN na zona de guerra. O mesmo héli em que vim voou para a Caboiana, foi buscar dois feridos e acabou atingido com estilhaços de morteiro 82 disparados pelos guerrilheiros. Continuou a voar, aterrou na nossa pista, fomos verificar o estado do Alouette III, e seguiu para Bissau, com o cone de trás da fuselagem cheio de buraquinhos. A enfermeira pára-quedista Celeste (*) que de manhã viajara com o piloto e comigo desde Bissau, e costuma acompanhar as evacuações no mato, apanhou um grande acagaço. O alferes piloto também estava nervoso.


__________

(* ) Dois meses deopois deste incidente, a enfermeira Celeste Pereira, ao correr para uma DO que se preparava para levantar voo a fimd e proceder a evacuação foi morta pela hélice da avioneta que lhe cortou a cabeça, no aeroporto de Bissalanca (Nota de rodapé do autor, p. 64).

Canchungo, 5 de Janeiro de 1973

(…) Hoje ouvi a DO, fui para a pista com o major P., a avioneta sobrevoava Canchungo, mas nunca mais descia, dava voltas e ais voltas por cima do campo de aviação, até que por fim aterrou. Estranhámos bastante. O piloto vinha a suar, era periquito, baixava pela primeira vez em Teixeira Pinto, estivera uns minutos largos a estar a pista. Chama-se Baltazar, é um furriel piloto aviador com um ar castiço, inconfundível, alto magro, os cabelos muito ruços e encaracolados. Pediu desculpa ao meu major pela demora na aterragem.

(...)

Mansoa, 13 de Fevereiro de 1973

A poesia de Manuel Alegre: Mesmo na noite mais triste / Em tempos de servidão,/ Há sempre alguém que resiste, / Há sempre alguém que diz não.

Resistir. Hoje vi os aviões Fiat cruzarem o céu dos poetas, picarem de cima para baixo e largarem 600 quilos de bombas sobre a floresta próxima onde se escondem guerrilheiros, mulheres e crianças, donos do orgulho, da miséria e do medo. E vi depois a mesma gente, mulheres, um menino morto e mais crianças feridas que as nossas tropas foram buscar, a fim de serem transportadas para o hospital de Bissai. E vi um tenente aviador com o remorso de talvez já ter bombardeado e morto gente inocente, e vi um coronel afirmar que, desde 1961, já contactou muita desgraça, isto agora já não lhe bole com nenhum músculo (…).

Regresso a Bissau com a morte na alma
 

Mansoa, 29 de Março de 1973

Foi abatido um avião a jacto Fiat G 91, um pequeno bombardeiro, lá para o sul, perto de e Guileje (…). O tenente piloto aviador [ Miguel Pessoa](…) ejectou-se, saltando de pára-quedas numa zona onde não foi detectado pelo IN (…).

Ontem repetiu-se o o incidente, foi abatido outro Fiat G 91. Desta vez, o piloto não teve sorte, o aião desintegrou-se e morreu o tenente-coronel Almeida Brito, o comandante das esquadrilhas de aviões na Guiné.

É uma nova realidade com que temos de contar, o PAIGC já dispõe de mísseis anti-aéreos que são eficazes. Os pilotos estão com medo de voar, quem se quer suicidar ?Esta manhã esteve cá o furriel piloto Baltazar da Silva, o tal rapaz alto do cabel encaracolado e muito ruivo, meu conhecido e amigo desde aquela primeira aterragem estranha, alvoroçada em Canchungo. Trouxe a sua DO, pareceu-me preocupado, assustado. Almoçámos juntos, ele quase não tocou na comida, fixava os olhos em coisa nenhuma. Trouxe até ao meu quarto, bebemos um whisky velho, animei-o tanto quanto fui capaz. Regressou a Bissau com a morte na alma.


(…)

Mansoa, 7 de Abril de 1973

Uma DO foi atingida pelos mísseis do PAIGC e caiu lá no Norte. Morreram o piloto, um mecânico e o major Jiame Mariz, que conhecia muito bem, desempenhou algum tempo as funções de 2º Comandante do Batalão 3863, de Canchungo (Teixeira Pinto) (…) .

A morte do Baltazar da Silva

____________________
Mansoa, 8 de Abril de 1973

Outra DO pilotada pelo furriel piloto aviador Baltazar da Silva foi abatida pelo IN quando voava entre Bigene e Guidaje. O rapaz morreu, junto com um alferes médico e um sargento  . O Baltazar almoçou comigo na semana passada, esteve aqui no meu quarto desanimado e triste. Escrevi então que ele havia partido para Bissau “ com a morte na alma” 

[Certamente por lapso, não é referido o major de infantaria graduado Jaime Frederico Mariz, cmdt do COP 3, que ia de boleia para Bigene.]

(…)

Bissau, 29 de Abril de 1973 [Depois de dezoito dias de férias em Portugal]

(…) Pelo que já ouvi contar, a aviação está quase paralisada. Os guerrilheiros, moralizados, passam ao ataque. Sem aviões, sem hélis, complica-se a vida de todos nós.

(…)

A tropa anda amedrontada ... 

Mansoa, 8 de Maio de 1973

(…) Aqui os aviões, muito a medo e com a máxima precaução, recomeçaram a voar. Acabou a segurança com que cruzavam os céus da Guiné. Os hélis ainda não vão buscar ninguém directamente ao mato, no caso de haver um contacto e registarem-se feridos. Por tudo isto, e porque todos sabemos que tem morrido muita gente, a tropa anda amedrontada.

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Notas de L.G.:


(1) Vd. post de 25 de Fevereiro de 2006 >
Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba

(2) Vd. post de 14 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1661: Tertúlia: Notícias de Lafões, do Rui Ferreira, do Carlos Santos e da nossa gloriosa FAP (Victor Barata)

(3) Vd. posts de:

5 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1498: Novo membro da nossa tertúlia: António Graça de Abreu... Da China com Amor

6 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1499: A guerra em directo em Cufar: 'Porra, estamos a embrulhar' (António Graça de Abreu)

27 de Fevereiro de 2007 >
Guiné 63/74 - P1552: Lançamento do livro 'Diário da Guiné, sangue, lama e água pura' (António Graça de Abreu)


(4) Ao CAOP1, pertenciam entre outras forças especiais a 38ª Companhia de Comandos, de que fazia parte o nosso tertuliano Amílcar Mendes. Há vários posts sobre a actividade operacional da 38ª CCmds, na região de Caboiana:

15 de Novembro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana

22 de Outubro de 2006 >
Guiné 63/74 - P1200: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (2): Um dia de Natal na mata de Cubiana-Churo