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sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23708: Notas de leitura (1505): Uma escultura de renome mundial, a Nalu (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Há por vezes a necessidade de lançar um apelo. No caso vertente, trata-se da arte Nalu, que é possível encontrar em museus de grande renome, é elemento construtivo das grandes coleções de arte africana. Não é novidade para ninguém que a arte Nalu e a arte Bijagó são admiráveis. É curioso como há estudos sobre a arte Bijagó e parece que ninguém escreve sobre a arte Nalu, por essa razão aqui se repesca um trabalho de Artur Augusto Silva publicado no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, seguramente que há hoje mais elementos e reflexões sobre esta representatividade plástica, tão credora da nossa admiração. É facto que ainda não bati à porta do Museu Nacional de Etnologia, acontecerá um dia. O que eu pergunto aos meus confrades é se não têm a amabilidade de me informar de quaisquer outros estudos sobre uma escultura que põe a Guiné Bissau em tão conceituados museus.

Antecipadamente grato,
Mário



Uma escultura de renome mundial, a Nalu

Mário Beja Santos

Estava a ser uma manhã de leituras muito interessantes, voltei a folhear os dois cartapácios referentes aos Ecos da Guiné, tudo começou por uma edição da secção técnica de estatística, secção de publicidade, comércio da Guiné, publicação criada em 1949, na governação de Raimundo Serrão, passou depois a intitular-se Boletim de Informação e de Estatística, crónica mensal da colónia, foi aqui que Amílcar Cabral, enquanto responsável pela Granja de Pessubé, no âmbito da Direção-Geral dos Serviços Agrícolas dedicou um punhado de reflexões sobre a indispensável reforma agrícola.

Tinha saudades de aqui relembrar a arte Nalu, há um texto meu no blogue que data de há 10 anos. Bem procurei bibliografia na Sociedade de Geografia sobre esta corrente plástica, nada encontrei, é muito provável que tenha de bater à porta do Museu Nacional de Etnologia, pode ser que tenha mais sorte. Assim, voltei a pegar no Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, vol. XI, nº44, outubro de 1956, deu-me imenso prazer voltar a ler o artigo escrito por Artur Augusto Silva sobre a arte Nalu, ainda é possível encontrar nos alfarrabistas uma separata deste curioso texto. A que se propõe este investigador? Responde logo no início do seu trabalho: “Procuraremos surpreender as suas determinantes, as relações da sua arte com a necessidade de exprimir as preocupações dominantes do agregado social e ainda demonstrar que o meio ambiente condicionou o modo de vida, a sua organização económica e, como resultado desta organização, todas as superestruturas daí derivadas”. Recorda que a etnia Nalu não está circunscrita à colónia da Guiné portuguesa, também tem alguma importância na Guiné francesa, no caso da Guiné portuguesa habitavam as regiões da circunscrição de Catió, Cacine e Bedanda e pontos isolados do Cubisseco (região de Fulacunda).

O autor estima a população Nalu na colónia em perto de 4 mil habitantes. Dedicavam-se à orizicultura, às culturas da cola, banana, laranja e ananases. Habitam só solo continental. Não possuem escrita e só conheciam a literatura oral, o verosímil e o inverosímil andam de mãos dadas, são prolongamentos da mesma realidade. Os Nalus, habitantes de floresta eram, ainda há 40 anos, um dos povos mais primitivos de toda a África. Seguiram-se os contactos com os muçulmanos, tudo começou por aspetos comerciais dado que estes são grandes consumidores de cola, iniciou-se depois a islamização dos mais jovens, a arte Nalu passou a desinteressar as novas gerações, crescentemente islamizadas [esta apreciação de Artur Augusto Silva não se veio a revelar definitiva, a arte Nalu continua a ter grande projeção não só no artesanato guineense, muitos espécimenes são disputados por colecionadores e museus, algumas das maiores leiloeiras internacionais quando fazem leilões de arte africana não é incomum porem à venda arte Nalu e arte Bijagó].

A espiritualidade destes animistas baseia-se na crença das energias, as forças, são estes elementos o que dominam a representatividade plástica Nalu. Nas máscaras refugia-se a energia. A serpente é em toda a zoolatria Nalu um animal de maior prestígio. As máscaras são a síntese de todas as forças vivas. O autor chama a atenção para algo que é a aculturação animista, neste caso os Nalus praticam a circuncisão.

O artista Nalu procura construir unicamente moradas para as forças que animam o seu mundo sobrenatural. É de notar que as máscaras e tambores destinados a folguedos são usados por Nalus e Sossos. O autor avisa-nos que não pôde confirmar se os Bagas também participam deste processo estético.

Em jeito de síntese, Artur Augusto Silva observa que a escultura Nalu nasceu da necessidade de representar as forças a que nós chamamos religiosidade, em termos plásticos escultóricos estas forças prendem-se com a necessidade de ter uma residência porque quando não há lugar qualquer força é inoperante, a pessoa fica à deriva, sem comunicação com o transcendente.

As esculturas são feitas em madeira de poilão ou em mancone. Os Nalus usam uma enxó para desbastar a madeira e um canivete para os trabalhos de pormenor. As tintas usadas: preta, branca, vermelha e verde. Conseguem a tinta branca através da trituração da casca de ostras.

Chegou a hora de bater a outras portas para saber mais sobre a arte Nalu. Será que os nossos amigos guineenses não nos poderão ajudar?

Ninte-Kamatchol, escultura Nalu, Museu Afro-Brasil
Máscara Nalu, Instituto de Arte de Chicago
Máscara Nalu, coleção da Sociedade de Geografia de Lisboa
Arte Nalu, Arquivo Histórico Ultramarino
Povos da Guiné-Bissau, painel de Augusto Trigo
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Nota do editor

Último poste da série de 10 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23690: Notas de leitura (1504): "Deixei o meu Coração em África", por Manuel Arouca; Oficina do Livro, 2016 (2) (Mário Beja Santos)

sábado, 11 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17126: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (13): Visita de cortesia a Fá Mandinga, onde ainda pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"...


Foto nº 1 > Fá Mandinga > Bajudas a lavar no rio


Foto nº 2 > O alf mil Luís Mourato Oliveira, cmdt do Pel Caça Nat 52 (Mato Cão) de visita ao seu vizinho e camarada Manuel Elvas, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga)... O pretexto foi uma caldeirada de cabrito... Para lá foi de jipe... Parece que no regresso, com a maré cheia, teve de ir dar uma volta a Bafatá...

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Fá Mandinga  > c. 1973/74

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do extenso e valioso álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)

Foi o último comandante do Pel Caç Nat 52. Irá terminar a sua comissão em Missirá, depois de Mato Cão, e extinguir o pelotão em agosto de 1974.

De vez em quando também ia a Fá Mandinga, ao "petisco",,, Quem lá mandava, nessa altura,  era o Manel Elvas, cmdt do Pel Caç Nat 63... Diz ele que ainda por lá pairava o fantasma do famoso "alfero Cabral"... E as bajudas continuavam lindas...

O Manuel Elvas (apelido ou alcunha ?) terá sido o último comandante do Pel Caç Nat 63, desativado em agosto de 1974 (**)-

Antiga estação agronómica, agora transformada em quartel, dizia-se que por lá passara, no início dos 50, o engº agrónomo Amílcar Cabral, licenciado pelo ISA- Instituto Superior de Agronomia, de Lisboa... Ora, este facto não parece estra documentalmente comprovado...

Sobre Fá Mandinga, que fica a escassos quilómetros da nordeste de Bambadinca, na margem esquerda do Rio Geba Estreito, temos mais de 120 referências no nosso blogue. Foi sítio de passagem para muitas subunidades que estiveram no leste e não só, nomeadamente nos primeiros anos de guerra (**). Havia também a Fá Balanta...

Como já aqui o dissemos, Fá Mandinga aparentemente teve um papel discreto na guerra, para além do facto de lá terem estado, em formação, as três companhias do futuro Batalhão  de Comandos Africana... Em formação e não só: foi daqui que partiu a 1ª CCmds Africana para a Op Mar Verde (22 de novembro de 1970)...

E durante muito tempo Fá Mandinga esteve erradamemte associada ao nome do engº agrónomo Amílcar. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos ali viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955.


Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 >  Bambaddinca >  Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Guiné 61/74 - P18790: Notas de leitura (1079): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (41) (Mário Beja Santos)

Há sobejas razões para dizer que esta imagem é o ícone máximo da Guiné Portuguesa e da Guiné-Bissau. Ninguém que por ali passou resistiu ao assombro daquelas linhas ondulantes, teve que questionar que esforço da raça ali era motivo de préstito. Chegada a independência, na euforia cega de sapar pela raiz toda a simbólica da presença colonial, tentou-se dinamitar o monumento, não tugiu nem mugiu, aquela tonelagem de pedra aguentou todos os assaltos. Este monumento faz ligação com o passado, como um dia, esgotados todos os ressentimentos do colonialismo, se perceberá que Honório Pereira Barreto é um dos pais na nação e que aqueles colonizadores que aqui arribaram lançaram as bases de uma nova identidade que durante séculos se esfumou no conceito da Senegâmbia Portuguesa. 
© Imagem que se recuperou do nosso blogue, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Janeiro de 2018:

Queridos amigos,
Estamos agora na presença de um gerente que tem a noção precisa de que é necessário transmitir para Lisboa informações úteis sobre a evolução agrícola. Na indústria ninguém investe, e fica comprovado que durante o período da governação de Arnaldo Schulz se trabalhou afincadamente para que, a despeito da ferocidade da guerra, se incrementassem projetos para melhoria de sementes e a atração de novas culturas. Tudo isso o gerente conta e numa linguagem neutral e assética a guerra está no pano de fundo.
Vai chegar o ano de 1969 e surge uma referência a de que pode aparecer um novo banco, o gerente presta as informações de tudo quanto ouviu.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (41)

Beja Santos

No relatório de 1966, o gerente entende continuar a detalhar a situação das colheitas, mas desta vez usa uma assinalável contenção verbal. Fala no escasso número de produtos exportáveis, sem referir explicitamente a guerra diz que se mantêm as circunstâncias impeditivas ao maior desenvolvimento agrícola. Quanto aos principais produtos (mancarra, coconote e óleo de palma) diz não haver estimativas oficiais que avaliem o grau da sua produção anual. É sofisticado, contorna de novo o impacto da luta armada dizendo que não se consegue da população autónoma o manifesto das suas produções. Mas não esconde as razões da quebra da produção de arroz:
“O arroz, que em anos não muito recuados chegou a atingir um volume de produção apreciável, desapareceu praticamente do rol do já minguado número das principais culturas.
Esta quebra de produção deve-se ao facto do chamado celeiro da Província – o Sul – se situar precisamente na zona mais afectada pelo terrorismo e que impede as populações de se dedicarem com regularidade aos trabalhos agrícolas”.

E recorda a ação do governo no campo da agricultura: intensificação da cultura da mandioca, empreendimento levado a cabo em Bolama; intensificação da cultura do caju, durante o ano de 1966 já tinham sido exportadas 766 toneladas; melhoramentos e renovação de sementes, com escolha de campos para a adubação de mancarra, introdução de uma nova variedade de arroz vinda das Filipinas, semeada uma faixa-terreno com sementes de Kenafe, fornecidas pela Companhia Têxtil do Pungué, de Moçambique; dava-se continuidade ao trabalho de utilização em terrenos recuperados na região de Empada. Mais adiante, o gerente relevava o que se fazia no centro-piloto de Prábis, efetuara-se um ensaio experimental de fertilização numa cultura de arroz, ao mesmo tempo que se preparava o arrozal tinham sido estabelecidos viveiros e instalara-se uma horta com parte destinada à multiplicação de sementes e outra com objetivo comercial; fora igualmente instalado um apiário; começara a derruba do palmar natural que iria ser substituído por palmeiras melhoradas.
E é pormenorizado no fomento da palmeira, escrevendo o seguinte:
“Para o triénio 1965/1967 fora estabelecida a seguinte meta: plantação de 5 mil hectares de palmeiras melhoradas. Conjugando este objectivo com os meios naturais e humanos à disposição da Brigada de Estudos Agronómicos, concluiu-se pela impossibilidade de material de cumprir aquele programa”.
Mas ainda havia trabalhos realizados durante o ano em curso como produção de sementes híbridas no Posto Agrícola do Pessubé, onde também se mantinha um pequeno viveiro de ensaio com o fim de industriar o pessoal nas técnicas próprias, fora instalado na ilha de Bubaque um centro de fomento de palmeiras melhoradas e transferira-se dos viveiros Teixeira Pinto para o centro-piloto de Prábis por estarem mal localizados. Conclui esta relação sobre a situação agrícola informando que se continua a desenvolver o fomento do caju.
Nunca aludindo às contingências da guerra, escreve que durante o período ficara concluído o cais de Bambadinca, tendo sido encomendada uma grua para o mesmo e que estavam em reparação os cais de Binta, Bigene, Cacheu e Buba.

Já em 1967, escreve que se pode considerar satisfatório o ano agrícola, “pois que as colheitas de amendoim e de arroz, nalgumas localidades, excederam todas as expectativas, alcançando, não obstante o condicionalismo da presente conjuntura, um volume realmente considerável. Apesar de se ter trabalhado com uma elevada dose de improvisação, algo de válido resultou dos ensaios levados a efeito na campanha agrícola de 1967. Em presença do ineditismo de muitos trabalhos realizados, não restam dúvidas que a primeira conclusão é a de que foi dado um primeiro passo para a resolução do problema. Efectivamente, tanto no campo das plantas industriais, como alimentares e forrageiras, introduziram-se espécies e variedades novas, cuja adaptação se pode considerar, para a maioria dos casos, de elevado interesse. Estão neste caso o tabaco escuro seco ao ar, as leguminosas forrageiras e siderantes, a soja, o feijão nhemba e o girassol, além das indicações valiosas sobre a cultura do milho e ensilagem”.
Acrescenta referências ao trabalho da Brigada da Guiné da Missão de Estudos Agronómicos do Ultramar, em Pessubé, quanto ao fomento da palmeira, bananeira e do caju.

O texto referente a 1968 é bastante lacónico:
“Persiste a insuficiência da produção agrícola na Província e, em consequência, o declínio nas exportações, no poder de compra do autóctone e no movimento comercial nos locais onde não estacionam efectivos militares, porque naqueles em que eles permanecem mais tempo, como é natural, mormente em Bissau, vê-se que os negócios têm progredido sensivelmente, dado que eles e suas famílias são, sem dúvida, os principais consumidores e constituem, por isso, um forte sustentáculo de momento ao comércio dessa área, que, assim, consegue cumprir com pontualidade os seus compromissos, vivendo, até, certo modo, algo desafogadamente.
Temos portanto que a Balança Comercial, por força da diminuta exportação e do aumento da importação que se verificou, continua desequilibrada, outro tanto não sucedendo à Balança de Pagamentos, cuja posição é boa, mostrando considerável salto positivo, o qual proveio, em grande parte, dos pagamentos que, de conta da Metrópole, aí se vêm fazendo”.
Aumentara, portanto, graças ao desenvolvimento do setor comercial, o número de operações e a melhorias dos lucros do BNU na Guiné.

Em 1969, a situação da praça não conhece alterações profundas, como se escreve:
“Mais um ao se passou sem que fosse possível conseguir o restabelecimento da vida ordeira e pacífica desta parcela do território nacional, apesar dos enormes esforços materiais e humanos que têm sido empregados nesse sentido e ainda no do seu desenvolvimento socioeconómico.
Verificou-se um ligeiro aumento na produção agrícola, a que não foram estranhas as melhores condições climatéricas e a protecção dada pelas nossas tropas às populações rurais, que puderam intensificar as suas culturas tradicionais, em especial a mancarra e o arroz.
Desta melhoria conseguida no sector agrícola também beneficiariam as actividades comerciais de toda a Província, que continuaram a poder solver satisfatoriamente os seus compromissos, não só no que respeita ao crédito concedido directamente pelo banco mas ainda às suas responsabilidades provenientes das mercadorias importadas.
Na indústria não houve praticamente investimentos.
Em face do baixo nível ainda verificado na produção agrícola, em relação às reais possibilidades da província, e ao seu insignificante poder industrial, continuou a ser necessário importar quase todos os bens de consumo destinados aos efectivos militares e à população civil.
Contudo, os meios de pagamento sobre o exterior não foram de forma alguma afectados. Esta solidez da balança de pagamentos deve-se às transferências da Metrópole, destinadas às Forças Armadas”.

Mas em 1969 surgia uma ameaça ao BNU na Guiné. Em 14 de Maio desse ano, o gerente informava o governador em Lisboa, a título confidencial da possibilidade de se estabelecer um banco comercial na Província.

(Continua)


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Notas do editor:

Poste anterior de 22 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18766: Notas de leitura (1077): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (40) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 25 de junho de 2018 > Guiné 61/74 - P18776: Notas de leitura (1078): História das Missões Católicas na Guiné, por Henrique Pinto Rema; Editorial Franciscana, Braga, 1982 (6) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21279: (In)citações (165): Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana - Parte I (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

1. Em mensagem do dia 18 de Agosto de 2020, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos um texto a que deu o título: "Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana", do qual publicamos hoje a Parte I


Da Guerra da Guiné, sem branquear nem reescrever a história: há 60 anos, as ideias Negritude, Nacionalismo, Libertação e Descolonização ou vírus da pandemia que matou a portugalização africana

A Resolução n.º 1542 ou “Declaração Anticolonialista”, de Janeiro de 1960, fomentou a litigância de Portugal com a ONU (Organização das Nações Unidas) durante 14 anos e espoletou a sua guerra ultramarina, que durou 12. Como não é possível evocar “todos os nomes”, esta narrativa homenageia a Geração de 40, as centenas de milhares de portugueses, europeus e africanos, seus “varões assinalados” e carne para canhão dessa guerra, que libertou Portugal do seu Ultramar, mas que tarda a libertar os seus Povos.
A ONU como comunidade internacional, interestadual, com fins da estabilização das nações, foi concepção e projecto de Theodore Roosevelt, então Presidente dos USA, concretizado em 1945 pelo seu sucessor e parceiros vencedores da II Guerra Mundial, e foi também o inspirador da dissolução dos impérios coloniais da Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Portugal incluído, o 3.º país mais antigo do Mundo, menos colonialista que eles, cuja admissão a União Soviética vetou até 1955 – a inveja de um império euro-asiático, formado pela II Guerra Mundial, por um império ultramarino, com 500 anos de história.
A ONU é pessoa colectiva, uma soma de pessoas singulares, logo capaz de todas as grandezas e misérias da condição humana, inclusive os pecados da incongruência e de não olhar a meios para atingir fins.
Até a essa Resolução e sua circunstância, a Guiné (e Angola, Moçambique, etc.), não era nem de Salazar/Caetano nem fascista, era portuguesa de facto histórico e de direito internacional, convencionado fazia precisamente 500 anos, pela Bula Papal “Romanus Pontifex”, de 8 de Janeiro de 1455, em troca da desistência do rei D. Afonso V do senhorio da Galiza e da desistência dele e do Infante D. Henrique do senhorio das Canárias (ambas a favor da Espanha), reconhecido em 1885, nos termos da Conferência de Berlim (escapou de ser francesa, inglesa ou alemã) e confirmado pelo Pacto da Sociedade das Nações, em 1920.

A partir de 1960, a ONU e Amílcar Cabral resolveram reescrever a sua história.

A Colonização é a dominação de uns povos por outros, é um poder do conhecimento, fenómeno transversal a todos os estádios evolutivos do homem, com registo sociológico e histórico quase tão antigo quanto a humanidade. Os povos sempre se invadiram, se dominaram uns aos outros, miscigenaram e mutuaram as suas economias e as suas culturas. A sabedoria popular diz “quem não está bem muda-se” e Karl Marx pensou fazer revolução com quem não está bem.

Colonialismo e Descolonização são conceitos políticos do século XVIII, gerados pela Revolução Francesa, criados pela Revolução Americana, nutridos pelo “jornalismo amarelo” do ex-Soldado de Cavalaria Joseph Pulitzer (pró-descolonização de Cuba), de efeito dirigido aos interesses americanos e ao termo do colonialismo da Espanha na América Latina (Portugal deixara de ser americano, em 1822, com a descolonização do Brasil), perfilhados pelo Partido Democrata americano e por Theodore Roosevelt, então secretário da Marinha dos USA, apropriados pelo russo Lenine, para tarar a carga psicológica e psiquiátrica da sua revolução, extensivamente propagados na década de 30 do século passado.
Lenine, sectário de Marx e revolucionário russo, começou por contribuir para a derrota da Alemanha na I Guerra Mundial, pela instigação às amotinações e à deserção massiva dos soldados russos dos campos de batalha do então aliado, exterminou a dinastia russa, ocupou o trono do czar e foi o arauto da “dilatação da fé e do império” da União Soviética, que Estaline concretizou. Theodore Roosevelt organizou a vitória da II Guerra Mundial, pela derrota da Alemanha, Itália e Japão, as “potências do Eixo” e o seu imperialismo, deixou-se manipular por Estaline, pela sua promoção a libertador e propiciou-lhe a “cortina de ferro” ou o “colonialismo soviético” nas nações da Europa do Leste.
A Liberdade precisou (precisa e premeia) do jornalismo de Pulitzer, para seu sustento, a Humanidade precisa dos ideais do Comunismo (não necessariamente leninistas e estalinistas) para impulsão das mudanças sociais, mas seria mais feliz, se prescindisse de líderes sociopatas e criminosos, do jaez de Hitler, Lenine, Estaline, Mao e seus herdeiros.

Amílcar Cabral, nacionalista visionário, português guineense, Eng.º Agrónomo e Alferes Miliciano do Estado Português na disponibilidade, foi homem do seu tempo, tão ambicioso quanto talentoso, renunciou à nacionalidade mas acabou como os portugueses de antanho – “morreu o homem, ficou a fama”.
Já trintão avançado e no cúmulo de 10 anos de trabalho – 5 de funcionário público, pelas veigas de Trás-os-Montes, campinas do Ribatejo, herdades do Alentejo, bolanhas da Guiné, e 5 na iniciativa privada (capitalista e colonialista) em Angola, na Sociedade Agrícola do Casseque, C.ª de Açúcar de Angola, C.ª da Agricultura de Angola e na C.ª dos Diamantes de Angola (Diamang), descobriu que a Guiné era o “calcanhar de Aquiles” do Portugal ultramarino, dedicou o resto dos seus dias ao fim da portugalidade africana, acabou às mãos de seguidores e passou à história como fundador da nacionalidade bissau-guineense.

O senhorio plurissecular de Portugal na Guiné não se sustentou apenas no facto histórico e no direito internacional. Este blogue de Camaradas da Guiné veiculou-nos há dias a investigação do Armando Tavares da Silva de, entre 1826 (na alvorada do conceito Descolonização) e 1918 (fim da I Guerra Mundial), ao longo de 90 anos, Portugal celebrou 76 Tratados e Convenções com as suas autoridades naturais, muitos por iniciativa delas próprias; e, com as suas recensões de tudo o escrito sobre a Guerra da Guiné, o Mário Beja Santos veiculou-nos que, entre 1901 e 1936, durante 35 anos, Portugal desencadeou mais de 30 grandes operações militares de pacificação, transversais à quase totalidade das etnias, à excepção da Fula.
A perda da soberania da Guiné não implica a lavagem da sua história nem a perda dos direitos de autor de Portugal de colónia nem a perda da patente da sua formatação em país. Os colonialistas portugueses que a descobriram e promoveram a exponenciação da sua escravatura (não foi Portugal que inventou ou instituiu a escravatura) foram os mesmos que lhe derramaram a civilização dita ocidental, que respeitaram a sua identidade e culturas, mormente a sua faixa da civilização oriental, que delimitaram as suas fronteiras físicas e, também, os mesmos que lhes levaram e foram o garante da sua paz.

Antes da emergência da ONU e do fenómeno Amílcar Cabral, a resistência guineense bélica à colonização portuguesa não passara de heterogénea, étnica, regional ou local. A sua única resistência armada, à dimensão nacional, foi a levantada por Amílcar Cabral, o seu PAIGC e o intrometimento internacionalista.
Em 1974, ao forçar o seu apressado abandono por Portugal, por exibicionismo e cantatas de vitória, o PAIGC desnatou a Nação guineense do seu mais importante activo - o seu elemento unificador. “Erros meus, má fortuna” - não por culpa de Amílcar Cabral, mas por culpa do “vão-se embora”, o “diktak” dos seus herdeiros, o cabo-verdiano Pedro Pires e o angolano José Araújo, negociadores do Acordo de Argel. A Guiné seria a mesma de hoje se, a par das ajudas internacionais, Portugal tivesse condições para investir o orçamento da sua guerra no seu desenvolvimento, num período de 5 anos de autonomia-transição?
O General Spínola quis ser para a Guiné o que De Gaulle fora para a Argélia; os negociadores de Argel quiseram ser para Portugal, o que Sékou Touré fora para a França. “Diz-me com quem andas e eu dir-te-ei quem és”!

Amílcar Cabral fez a sua iniciação revolucionária com a ideia da união política da Guiné e Cabo Verde e com a visão da independência das duas colónias com o nome de República da Guinela (antiga designação da região de Buba). Meteu Cabo Verde no mesmo saco e terá adoptado essa onomástica, plausivelmente para subtrair sustentabilidade e embargar qualquer apoio internacional à ambição expansionista de Sékou Touré de formatar a sua Grande Guiné, com a anexação da portuguesa; este havia declarado a intenção de vir a anular ou violar a Convenção Luso-Francesa de 1885 (celebrada no contexto da crise do Mapa Cor-de-Rosa), ao arrepio do postulado da ONU e da OUA (Organização da Unidade Africana), do respeito pelas fronteiras anteriores à descolonização. Desde 1956, que o seu Partido Democrático estendia a propaganda da Grande Guiné pela região continental e insular de Catió, onde chegou a formar “clubes de trabalho”, como meio para atingir os seus fins. A peia da sua ambição expansionista foi ter a transformado a Guiné-Conacri num país faminto e sem vintém, com a sua incompatibilidade com De Gaulle e a sua ruptura com a França.

A onomástica Guiné-Bissau é criação da imprensa internacional, que ignorou nos seus despachos a diferenciação cabralista de República da Guinela.
Amílcar Cabral tinha sentimentos e ADN português, era neto biológico do padre António Lopes da Costa, natural da freguesia de S. Tiago de Cussarães, Mangualde, e Leopold Senghor, poeta e filósofo da Negritude, se não tinha ADN português, tinha o apelido, por pertinente razão. Se esse Presidente da República do Senegal fosse do jaez do ditador guinéu, ele teria levantado o PAIGC e o seu exército, inicialmente não o investiria contra as Forças Armadas Portuguesas, seria seu aliado, para que a Guiné-Bissau não fosse riscada do mapa.
Pela abolição dessa Convenção, a região de Cacine regressaria à Guiné-Conacri, a Guiné-Bissau deixaria de ter massa crítica de país, e ele poderia formatar a Grande Guiné dilatado até à actual fronteira à fronteira de Casamansa. Leopold Senghor jamais alinharia nisso, não obstante Sékou Touré lhe ter oferecido como contrapartida a consideração da Gâmbia como área da expansão natural do Senegal e todo o apoio à anexação. Argumentação: a falta de equidade dessa Convenção, o facto de essas fronteiras não ser divisória das etnias, a indiferença destas pela sua delimitação e do lado português haver mais falantes de francês que de português. Queria fazer e deixar obra.

Sékou Touré invejava e subavaliava o fenómeno Amílcar Cabral mas receava Portugal, potência da NATO, enquanto Leopold Senghor, inconvicto dos princípios e fundamentos marxistas, começou por o descartar e ao seu PAIGC, tendia para o apoio aos movimentos independentistas pró-ocidentais, como a UPG (União dos Povos da Guiné), liderada por Henri Laberi, o seu preferido era o MLG (Movimento da Libertação da Guiné), liderado por François Mendy, que autorizara a basear-se em Dandula-Turene.

Amílcar Cabral tombou em 20 de Janeiro de 1973, à vista da família e à porta de casa, vizinho de Sékou Touré, no perímetro do complexo residencial governamental, ocorrência alvo de três investigações, todas diáfanas e inconclusivas no referido ao mandante, a judicial guineana, o inquérito internacional conduzido pelo líder rebelde angolano Agostinho Neto e o inquérito do Conselho Superior de Luta, que resultou no fuzilamento de cerca de 200 compatriotas – o esplendor do PAIGC, como “máquina da morte” dos seus concidadãos.
No final do ano havia declarado, ante os quadros do PAIGC, a certeza de não estar na mira das armas dos portugueses, que lhe reconheciam o valor (optimismo decorrente dos encontros de Maio, entre o General Spínola e o Presidente da República Senghor, em superação dos anteriores, veiculados por Mário Soares, (comerciante de Pirada), manifestara-se suspeitoso das lealdades do seu “balneário”, escondera o esfriamento da relação com Sékou Touré e o seu temor do ego xenófobo e invejoso do seu anfitrião. Enquanto a sua estrela, sendo mulato, pequeno de estatura, apenas aspirante errático a estadista dum pequeno e putativo país, brilhava na galáxia política internacional, a dele, africano genuíno, apessoado, e líder de um grande país era fosca.

O assassinato foi perpetrado poucos dias depois do regresso dele da Conferência do Comité de Libertação de África, em Acra. Em Fevereiro de 1972, na reunião do Conselho de Segurança da ONU, na sede da OUA, em Adis-Abeba, havia influenciado a derrota diplomática de Sékou Touré, com a sua oposição à expulsão de Portugal da ONU; com a sua tradicional loquacidade, dia antes de ser assassinado havia respondido, pelo mesmo meio e no mesmo tom, às críticas tecidas na primeira página do principal diário argelino, a verberar a sua teimosia no ensino da Língua portuguesa nas “áreas libertadas”; e, ao saber que ele iniciara diligências junto do Mali e do Senegal (foram federação até 1960), tentando a formação de uma coligação militar, para correr com Portugal da sua vizinhança, ignorando ostensivamente o PAIGC e a escalada da sua guerra independentista, fizera-lhe saber que se a Guiné-Bissau tivesse que ser colónia, lutaria para que continuasse portuguesa e não de nenhum outro país africano.
“A Guiné só é Guiné porque é Portugal”, veredicto do Almirante Sarmento Rodrigues, ao despedir-se de seu Governador para ser ministro do Ultramar. Premonição? A antiga Guiné Portuguesa correrá o risco de deixar de ser Guiné-Bissau?

As recorrentes diferenciações de Guiné-Conacri e Guiné-Bissau, mais consentâneas com a sua história (iniciativa de patriotas bissau-guineenses?), constituirão antídoto à ameaça da perda da identidade bissau-guineense?
Nessa altura, em 1972, as Forças Armadas portuguesas na África eram o maior exército a sul do Sahara e o exército do PAIGC era considerado pequeno, o melhor preparado e o mais eficaz dos africanos.
Em 1974, a Guiné-Bissau saiu da órbita portuguesa, é lusófona em teoria, mas na órbita francófona, e, passados 60 anos, aquela argumentação de Sékou Touré será mais actual, plausível culpa dos seus governos, sempre de mão estendida ao neocolonialismo da “cooperação” e, também, ao experimentalismo da “reforma educacional pela controvérsia política”, perspectiva do teórico brasileiro Paulo Freire, o primeiro consultor do seu primeiro “comissariado” da educação do seu primeiro governo nacional. A propósito, trazemos à colação a declaração do nosso camarada da Guiné, Francisco Henriques da Silva, notável Embaixador em Bissau, em 1988, gestor magistral da crise Ansumane Mané, negociador com a Junta Militar do exílio do Presidente da República Nino Vieira em Portugal e da libertação da missão francesa refugiada na embaixada de Portugal, em como a instabilidade política da Guiné-Bissau tem o dedo da França…

Amílcar Cabral formou-se engenheiro e semeou a Guerra da Guiné à custa do Estado Português, convenhamos não a tempo inteiro do seu horário laboral, por ter produzido um notável trabalho tecno-profissional.
Regressou à Guiné para trabalhar nos Serviços Provinciais de Agricultura, em substituição do colega e amigo Eng.º Sousa Veloso, futura vedeta do programa “TV Rural” que desistira a seu favor. Em Agosto de 1953, o seu Chefe de Serviços Provinciais, Eng.º Agrónomo Nobre da Veiga, encarregou-o do estudo, planeamento e execução do Recenseamento Agrícola, coincidente com o início do mandato do Capitão-de-Mar e Guerra Mello e Alvim, transitado de Governador da Zambézia para Governador da Guiné, que lhe dispensou todo apoio, inclusive a importação do Senegal duma caravana francesa, para a sua logística.
Esse Recenseamento foi a oportunidade soberba do seu contacto, em extensão e profundidade, com a Guiné profunda, com as etnias tendencialmente revoltosas e para o seu diálogo instrutivo-subversivo com os “homens grandes” das tabancas balantas, manjacas, nalús, etc., ganhando-lhes a veneração de “homem grande” de Bissau. Em plena época das chuvas de 1964, nas “operações de intervenção” de “cerco e assalto” no Sul, entre a tralha propagandística do PAIGC, capturamos fotos suas encaixilhadas, de formato postal, bem ataviado, engravatado e enchapelado, a decorar as paredes das tabancas, ao lado das dos Governadores Melo e Alvim e Vasco Rodrigues, nas suas fardas n.º 1 de Oficiais Superiores da Armada.

O seu primeiro momento revolucionário terá sido a criação com a malta da Granja de Pessubé do MING (Movimento da Independência da Guiné), em 1955, tertúlia ou espécie de partido informal, que sequenciou com o projecto e diligências da fundação de uma associação desportiva nativista, com a ideia-força da pedagogia nacionalista da juventude, exclusiva aos “filhos da Guiné”, não arriscando a infiltração no Sport Bissau e Benfica, clube formal e da maior implantação (ele fazia parte dos seus corpos sociais), então tendencial ao poder colonial.
A polícia (PSP) pusera o Governador Mello Alvim ao corrente do seu activismo, nas suas viagens pelo interior seguia-lhe a peugada subversiva, admoestou-o pelo telefone como “mau-mau” guineense, indeferiu-lhe o requerimento, retirou-lhe o seu apoio, despediu-o da Estação Agrária de Pessubé, considerou-o “persona non grata”, cancelou-lhe a residência permanente - mas atendeu-lhe e autorizou-lhe a visita anual à mãe, a permanência de 8 dias em Bissau, e, no tempo de espera para emigrar com a família para Angola não o sujeitou a qualquer coacção.

Iva Pinhel Évora, mãe de Amílcar Cabral
Foto editada

Amílcar Cabral e Maria Helena Rodrigues, sua esposa
Foto editada
Com a devida vénia a Expresso

Com a escalada do seu activismo independentista, Amílcar Cabral “chamou” a PIDE para Bissau, e, se a sorte não o tivesse protegido com a demora na sua instalação (em finais de 1958), a minha (nossa) história de combatentes e a história da Guiné-Bissau talvez fossem diferentes. Homem determinado e incapaz de arrepiar caminho, ele não deixou de registar para a posteridade a adoração pela mãe e a gratidão ao Governador Melo e Alvim.
Em 1959, o casal deixou Angola, ele despediu-se do emprego na Diamang, a Maria Helena de professora do liceu de Luanda, vieram passar os 8 dias a Bissau, o ambiente da cidade era o rescaldo do famigerado “massacre do Pidjiquiti” ou a morte de 16 marinheiros e estivadores das embarcações de cabotagem da Casa Gouveia, uma crise social, instigada por agitadores dos partidos na clandestinidade MLG e PAI (o seu irmão Luís Cabral era o técnico de contas da Casa Gouveia e militava nos dois, que é registado como advento da guerra independentista.
Ambos fundados em Bissau, o partido MLG (Movimento da Libertação da Guiné) era liderado pelo manjaco François Mendy, ex-combatente da Guerra da Argélia e ex-sargento do exército francês, e o PAI (Partido Africano da Independência), fundado em 19 de Setembro de 1956 e presidido por Rafael Barbosa, pedreiro natural de Safim, como ele filho de mãe guineense e de pai cabo-verdiano, militante do Partido Comunista Português, que cooptara os militantes residuais do extinto Partido Socialista da Guiné, também fundado por ele, e do informal MING, de Amílcar Cabral, sob o patrocínio da comunista alentejana Drª Sofia Pombo Guerra, proprietária da Farmácia Lisboa, na Bissau antiga, vizinha de porta com porta do chefe da PIDE.

(Continua)

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OBS:
- Links, negritos e itálicos da responsabilidade do editor
- Pesquisa das fotos, edição e legendagem da respondabilidade do editor
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21147: (In)citações (164): Há 50 anos: Quando a Igreja Católica Apostólica Portuguesa abençoava Guerra do Ultramar e a Igreja Católica Apostólica Romana abençoou a Guerra Colonial (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav)

terça-feira, 16 de agosto de 2005

Guiné 63/74 - P153: Bibliografia (2): Informação & Propaganda: os 'grandes' repórteres de guerra (Marques Lopes)

1. Selecção e notas de A. Marques Lopes, membro da tertúlia dos ex-combatentes da Guiné:

A propaganda a favor da guerra colonial foi intensa da parte do regime, que tinha em Amândio César um dos seus corifeus. Em 1965, a Editora Pax, de Braga, publicou o seu livro Guiné 1965: contra-ataque.

O texto seguinte vem nas badanas da capa, juntamente com a fotografia do autor (grande repórter de guerra...), e diz bem do esforço que era feito em meios para a propaganda e defesa da guerra:

«Em Março e Abril de 1935, Amândio César visitou a Guiné a fim de efectuar uma reportagem sobre aquela Província para a Emissora Nacional. O convite fora-lhe dirigido pelo Ministério da Defesa Nacional, através do Serviço de Informação das Forças Armadas.

"Essa reportagem prolongou-se por espaço de tempo suficiente para que ele pudesse ter e pudesse dar uma ideia exacta da luta que naquela parcela de território nacional se processa contra a guerra subversiva. Depois da reportagem de Angola em 1961, era a segunda vez que Amândio César voltava a um seu tema favorito: a luta que o Exército e o Povo de Portugal sustentam contra os elementos da guerra revolucionária.

Amândio César, "grande repórter
de guerra" da Emissora Nacional.

Na Guiné, em 1965. "Durante dias e dias as crónicas foram ouvidas nos microfones da Emissora Nacional. Posteriormente, essas páginas de reportagem foram publicadas, no Diário do Norte. No entanto, quisemos arquivar na «Colecção Metrópole e Ultramar» este depoimento que dá a exacta medida da grandiosidade da luta em que estamos empenhados. Por outro lado, com a objectividade que lhe é peculiar, Amândio César deu-nos uma panorâmica da Guiné de nossos dias que abrande toda a sua vida e a dos povos, que a constituem.


Porém, mais do que as nossas palavras fala o oficio que o Ministro da Defesa enviou ao Presidente da Emissora Nacional e que, aqui, nos permitimos transcrever:


Título: Guiné 1965: contra-ataque
Autor: Amândio César.
Editora e local: Pax, Braga
Ano: 1965
Capa feita sobre uma fotografia do Coronel Pinto Soares.

(1). A equipa da Emissora Nacional constituída pelso Exmos. Srs. Dr. Amândio César, Fernando Garcia e Bento Feliz, realizou na Guiné num prazo de tempo muito reduzido, um trabalho de valor no qual evidenciou elevado espírito de missão.

(2). Assim, em 29 dias, a equipa visitou e realizou reportagens em Bissau (Liceu, Escola Técnica Mocidade Portuguesa, Escola Teixeira Pinto, Escola das Missões, Pigiguiti, Ponte Cais, Museu e Biblioteca, Jardim Escola, Missão da Doença do Sono, Aeródromos Militar e Civil, Pára-quedistas), Safim, Nhacra, Mansoa, Mansabá, Prabis, Asilo de Bor, Leprosaria de Cumura, Bijagós, Bubaque, Nova Lamego, Buruntuma, fronteira, Canquelifá, Bafatá, Bambadinca, Amedalai, Bolama, Nova Ofir, Cachil (Ilha de Como), Cacine, Caneca, fronteira, Tanene, Guileje, Aldeia Formosa, Teixeira Pinto, Susana, Bula, Binar, Olossato, Farim, Binta, Guidage, Pessubé.

(3). Efectuou simultaneamente numerosas entrevistas e, no conjunto, colheu grande quantidade de material com muito interesse para o público.

(4). Colaborou ainda e a título gracioso, com um operador militar, na realização de um filme documentário.

(5). A equipa deixou na Província a melhor das impressões e, no relatório do Gabinete Militar do Comando-Chefe, agora recebido, pode ler-se: «O cumprimento do programa elaborado foi extenuante e a equipa ressentiu-se deste facto — aliado ao clima na sua pior estacão — o que a fez emagrecer e até dormirem nos aviões. Porém, conseguiu-se percorrer praticamente toda a Província».

(6). É muito grato dar a conhecer a V. Ex.ª estes factos que são testemunho fia muita dedicação dos funcionários da Emissora Nacional e às Forças Armadas.

Sua Ex.ª o Ministro encarrega-me ainda de agradecer a V. Ex.ª, Senhor Presidente, em nome das Forças Armadas da Guiné e no seu próprio, o esplêndido trabalho efectuado, bem como o esforço generosamente dispendido pelos componentes da dedicada equipa de reportagem da Emissora Nacional.

3. A. Marques Lopes: Dou-vos a seguir alguns excertos que dizem bem da preocupação em minimizar a guerrilha e o problema por ela levantado bem como da admiração pelos ideais fascistas:

Esta sequência de reportagem permanece no Óio, ou melhor, continua em Mansabá. O estar-se numa terra, muito ou pouco tempo, não é razão para que se saia dela tudo imediatamente. O meu caso é esse: a região do Óio é vasta e lá decorreram alguns motivos fundamentais desta guerra que os nossos soldados sustentam na Guiné. Ora são esses soldados que me arrastam para uma sala onde está um trofeu de guerra: a farda do célebre facínora Inocêncio Ken. Ele era um dos elementos mais notórios do terrorismo. Parecia invulnerável às balas dos combates que sustentou com a nossa tropa. No final acabou por ceder, acabou por cair - coisa que sucede a todos os facínoras que se metem numa guerra ilegal, feita contra a natureza das coisas e dos homens.

Diante de mim, pendurado numa parede branca, alva de pureza, está a nódoa do capacete de Inocêncio Ken, feito de pele de macaco ... A regressão é notória e nem o feiticismo zoológico o salvou de prestar contas aos soldados portugueses: brancos ou pretos, porque todos representam Portugal.

Ao lado deste troféu de guerra encontra-se a camisola do facínora com os mezinhas que o deviam salvaguardar do ajuste de contas que estava à vista. Com efeito, dez quadradinhos, cosidos ao tecido eram outros tantos motivos de tranquilidade para quem fazia uma guerra revolucionária, para quem praticava, impunemente, uma guerra de terrorismo.

Mas o seu dia último chegou. O último dia chega sempre para os facínoras ... Bem sei que os feiticeiros podem dizer que os soldados de Portugal deitam água quente pelo cano e não matam ninguém ... Nessa mentira embarcaram os bacongos de Angola e a resposta viu-se. Com mentira idêntica — desta vez com mezinhas locais — levaram estes povos à indisciplina.

E o resultado está à vista: Amílcar Cabral a esmolar auxílio pelos centros de subversão, a ver se alguém deita uma esmola para uma guerra de que ele há-de ser um dia vítima. Até porque não é, verdadeiramente, guineense e, para mais está casado com uma mulher branca, da região transmontana. Nem sequer é africana a mulher de Amílcar Cabral! E isso é um grave impedimento para se ser alguma coisa de provável nesta confusão demoníaco-marxista ...

Mas voltemos ao facínora que é o camarada de Amílcar Cabra — engenheiro-agrónomo, com o curso tirado em Lisboa, capital de uma Pátria onde lançou as sementes mais sangrentas do terror. Efectivamente, a camisola de Inocêncio Ken, companheiro de Amílcar Cabral e de sua esposa branca, lá estava pendurada, depois de tirada ao corpo do facínora morto. A coisa não meteu agência funerária e os mezinhas não serviram para nada.

Os dez quadradinhos, os dez quadradinhos pretos não salvaram o terrorista do ajuste de contas. Repouse em paz, se é que um assassino pode repousar em paz!

(...) Chegou o momento de a autoridade administrativa não nos deixar partir sem molharmos a palavra, ao bom jeito português. E pronto: caímos em casa do Administrador Pimentel e fizemos gala ao jantar volante que nos serviu, com requintes que não podemos esquecer. Sim: ficaríamos mais tempo se pudéssemos. Mas tínhamos de cobrir a distância de Mansoa a Bissau no mesmo automóvel que nos trouxera, guiado pelo mesmo balanta que nos servira de condutor em toda a nossa estada na Guiné.

Noite alta partimos e, na estrada asfaltada, fomos revendo toda esta jornada ao Óio, centro efervescente de terrorismo, agora em franca pacificação. As imagens não se esbatem na memória. Lá fizemos amigos e conhecemos novas gentes e novos soldados. Lá confirmámos uma ideia que dia a dia se tornaria mais nítida: a sorte da guerra virava-se para o nosso lado. Nós venceríamos esta guerra.

(...) Depois aparece no nosso convívio um recuperado da luta contra nós. Arranjou também um patrono, como cartão de apresentação: nada menos do que Viriato! E, quando o capitão lhe perguntou diante de nós quem era Viriato, com um sorriso a sublinhar a dignidade da resposta, ele definiu desta maneira o pastor dos Hermínios:
—Viriato foi homem grande, português, que deu manga de porrada em pessoal bandido! Assim disse. E acreditava no que dizia. A imaginação dos povos submetidos à disciplina do Islão é maravilhosa. E não direi aqui a resposta de Viriato do Gabu, quando lhe perguntaram quem era o «Chefe da Tabanca Grande de Lisboa». Claro que esse Chefe é o Doutor Oliveira Salazar. Mas, pela resposta, para Viriato de Nova Lamego o Presidente do Conselho é uma espécie de super-boxeur, que bate que se farta no pessoal bandido! ...

Legenda original: "Monumento que o Duce, Benito Mussolini, amdou erguer na antiga capital da Guiné aos "caduti di Bolama". Dele escreveu Dons Rachelle Mussolini ao Autor desta reportagem: 'Ammiro veramente i portighesi che non l' hanno distrutto comme ésuscesso cuá in Itália' [Admiro verdadeiramente os portugueses que o não destruiram como aconteceu cá em Itália"

(...) Finalmente: Bolama que tem em si um dos raros monumentos ao esforço fascista de paz, quando Mussolini e Ítalo Balbo tentaram o cruzeiro aéreo para unir Roma ao Brasil. Com efeito, dois dos aparelhos despenharam-se em Bolama e a missão esteve em riscos de se malograr. Tal não aconteceu porque a tenacidade de Ítalo Balbo a isso se opoz. Resta desse desastre o belo monumento aos «Caduti di Bolama» no qual se reproduz um aspecto dos destroços dos aviões — duas asas, uma das quais ainda erguida aos céus e a outra quebrada e caída em terra.

O monumento foi feito por italianos e com pedra italiana, vinda de Itália, para esse fim. Mandou-o erguer Mussolini e na sua base lá se encontra a coroa de bronze por ele oferecida, com estes dizeres — Mussolini ai cadutti di Bolama. Ao lado, a águia da fábrica de hidro-aviões Savoia, uma coroa com fáscios da Isotta-Fraschini e a coroa de louros da Fiat. É curioso notar que este será um dos raros monumentos do fascismo, no mundo, que no fim de 1945 não foi apeado. Virado para diante e no alto, o distintivo dos fáscios olha ainda com alienaria o futuro, no seu feixe de varas e no seu machado, a lembrar a grandeza da Roma do passado.

(...) Falámos com alguns dos que regressaram e eles ficavam contentes de contactarem connosco: um disse-me, com orgulho, que tinha fugido e que a população portuguesa tinha batido os bandidos. É curioso que, com orgulho, pôde também dizer-me que o terrorista português era o melhor e o mais valente; o outro, da Guiné ou do Senegal não valia nada, mesmo nada. Sorri para dentro: a nossa presença é tão profunda que até tínhamos a primazia no campo terrorista: eram eles os melhores e os mais valentes! E devo acrescentar que eles usam o português como língua e não o crioulo ou a língua da sua raça. É um motivo de orgulho e de superioridade. As próprias instruções e os próprios livros de aprendisato são impressos em português. Que espantoso acto de contrição tudo isto significa para o sociólogo que quiser ver e nos quiser julgar!

Fonte: Extractos de: César, A. (1965): Guiné 1965: Contra-Ataque. Braga: Pax.

domingo, 15 de agosto de 2010

Guiné 63/74 - P6853: Futebol e nacionalismo na década de 1950 (Nelson Herbert, filho do jogador da selecção da província, Armando Lopes ou Búfalo Bill)





1. Foto e texto de Nelson Herbert, com data de 6 do corrente:

Caro Luis

Segue uma foto ilustrativo do poste referente a futebol e nacionalismo na Guiné (*)...A selecção provincial da Guiné de 1964 [ou de 1954?]... se não me falha a memória...integrada na sua maioria por futebolistas originários de Cabo Verde...

Dos futebolistas na foto, ainda consigo identificar alguns...mas quiçá o Mário Dias ne possa ajudar na identificaçãao dos restantes...

De pé da esquerda para a direita: Antero Bubo (caboverdiano); o jogador seguinte é guineense, cujo nome me escapa; Armando Lopes (Búfalo Bill,  meu pai) (**); o nome dos restantes também me escapa...

Agachados: terceiro a contar da esquerda, o guarda redes principal Júlio Almeida (antigo funcionário da granja de Pessubé que trabalhou com Amilcar Cabral e é referenciado como um dos fundadores do PAIGC); quinto atleta, Joazinho Burgo; o último...escapa-me o nome mas sei que é avô do Miguel, da selecção de Portugal... que esteve no Mundial.

Mas o Mário Dias quiçá seja a pessoa indicada para ajudar na identificação destes futebolistas ...

Mantenhas

Nelson Herbert (foto à esquerda)
USA

2. Comentário de L.G.:

Meu caro Nelson, salvo melhor opinião, a foto que me mandaste, não pode ser de 1964, mas sim do princípio dos anos cinquenta, como a própria legenda manuscrita sugere... Nessa altura, o teu pai  já tinha mais de 30 anos... Recorde-se que ele nasceu em 23 de Agosto de 1920, é 4 dias mais novo do que o meu pai, Luís Henriques.

Aproveito para saudar os nossos dois velhos, que passaram, como militares, pelo Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde, na II Guerra Mundial. Oxalá eles continuem a dar-nos a alegria do seu convívio. O meu velho já começou a comemorar o feito que é, para um homem da sua geração,  chegar aos 90: hoje mesmo vai a um convívio luso-alemão de "velhas guardas"... que incluirá uma partida de futebol entre portugueses, da Lourinhã,  e alemães, em férias... Entre os portugueses da minha terra há muita gente que ele, o meu velho, treinou quando meninos e moços... Ele próprio praticou futebol até meados dos anos 50... E hoje é o sócio nº 1 do Sporting Clube Lourinhanense.

O futebol é (ou pode ser) um traço de união entre os povos. Acabo de ler, no blogue do BART 1914, que o português Norton de Matos é o novo treinador da selecção de futebol da Guiné-Bissau.

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Notas de L. G.:

(*) Vd. poste de 6 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6831: (Ex)citações (88): Futebol e nacionalismo nos anos 50/60 (Nelson Herbert)

(**) Vd. postes de:

 15 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)

12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4447: PAIGC - Quem foi quem (7): Luís Cabral (1931/2009) (Virgínio Briote)



Luís Cabral (1931/2009), por Virgínio Briote 

 Quando o pai morreu, Luís Cabral tinha 20 anos e há dois que trabalhava nos Serviços de Estatística, em Cabo Verde. Com várias propriedades no interior da ilha de Santiago, as secas prolongadas tinham deixado a família sem grandes possibilidades para o manter a estudar. 

 Com a morte do pai e irmãos mais novos para criar, a situação tornou-se ainda mais difícil para o Luís. A seguir aos funerais, um próspero comerciante da Praia, grande amigo do pai dos tempos da Guiné, ofereceu-lhe um emprego nos seus escritórios, com um salário superior ao que vinha auferindo nos Serviços de Estatística. 

  Em Bissau, na Casa Gouveia 

 Os contactos com o irmão mais velho, Amílcar, foram produzindo frutos. Na Guiné, removidas as dificuldades levantadas pela Polícia quanto à sua permanência no território, Amílcar prometeu arranjar-lhe um emprego. Seduzido pelas ideias do irmão, que afinal eram as suas, Luís deixou a mãe e os irmãos em Cabo Verde. 

 Chegou a Bissau, numa manhã de Abril de 1953, disposto a começar uma nova vida. A Guiné, de onde tinha saído com cerca de um ano de idade estava sempre presente, nas conversas, em casa com os pais e nas visitas que recebiam. Amílcar e a Maria Helena, sua mulher, levaram-no a viver com eles, em Pessubé, nos arredores de Bissau, onde se situava a Granja Experimental, de que Amílcar era o director. 

Dadas as relações e conhecimentos não foi difícil a Amílcar arranjar-lhe emprego nos serviços de contabilidade da Casa Gouveia. Nos primeiros tempos da estadia na Guiné, Luís Cabral via com impaciência o irmão não o convidar para as reuniões que, sabia, Amílcar fazia regularmente com camaradas da luta que se estava a forjar. Nem tão pouco Amílcar lhe dava conta do que estava a fazer. 

 Luís Cabral, entretanto, não perdia tempo. Enquanto progredia na Casa Gouveia, mandara vir de Cabo Verde a mãe e os irmãos. E continuou a estudar, para completar o 5º ano dos liceus. Visitava regularmente o irmão, mas era através da cunhada que Luís se mantinha a par dos movimentos de Amílcar. Segundo a cunhada, Amílcar queria que, se lhe acontecesse alguma coisa, Luís ficasse como retaguarda da família. 

  As conversas de Amílcar Cabral com o Governador-Geral 

 Amílcar já tinha provado o sabor da denúncia. Alguém que estava a par das suas actividades, deu conta delas à polícia. Um dia, Amílcar foi chamado ao governador, o oficial da Marinha Diogo de Melo e Alvim. Segundo contou mais tarde, o governador ter-lhe-á perguntado: - Ó engenheiro, então o senhor é que é o chefe dos "Mau-Mau" cá da terra? - Desculpe-me, senhor governador, mas parece-me que os "Mau-Mau" só existem na África Oriental! - Olhe, engenheiro! O senhor não me lixe! Mas seja um homem da actualidade! Viva a sua época! 

  Na fundação do PAIGC 

 Luís acabou por se integrar no grupo a que pertenciam Aristides Pereira, Fernando Fortes, Abílio Duarte e outros. É nesta altura que conhece a Dr.ª Sofia Pomba Guerra, uma farmacêutica portuguesa, que tinha sido desterrada para a Guiné, acusada de ser membro do PCP em Moçambique. É a Dr.ª Sofia que, mais tarde, lhe dá aulas de Inglês, quando Luís Cabral se propõe completar o 7º ano do liceu. 

 Os rumores da actividade que Amílcar persistentemente desenvolvia, acabaram por ser de tal forma públicos que o governador se viu na necessidade de o chamar novamente para lhe dar uma alternativa: ou Amílcar cessava tais actividades ou então, ele governador, deixava-o cair. Amílcar não teve outro remédio senão sair da Guiné, mas em condições de poder voltar de tempos a tempos. 

 Um ano depois, Amílcar estava de novo em Bissau. Aproveitando a estadia, reuniram-se em 19 de Setembro, numa casa onde moravam Aristides Pereira e Fernando Fortes, o nº 9-C da Rua Guerra Junqueiro. O grupo era composto por Amílcar, Luís Cabral, Júlio Almeida, Élysée Turpin e, naturalmente, o Fernando Fortes e o Aristides. Foi nesta data que oficialmente nasceu o Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, com a divisa Unidade e Luta. Mais tarde, a designação do Partido viria a simplificar-se, passando a chamar-se PAI (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde. Luís Cabral foi-se envolvendo em várias actividades. 

Nas eleições para o Sindicato dos Empregados de Comércio e Indústria da Guiné fez parte de uma lista que tomou conta da direcção. Filiou-se no Benfica de Bissau e, na modalidade de volei, teve a oportunidade de conhecer, numa das viagens a Dakar, Lucette de Andrade que se veio a tornar a sua primeira mulher. 

 Em Março de 1958, dispondo de uma licença de 6 meses, resolveu deslocar-se a Lisboa, com passagem por Dakar para se casar. Aproveitou para se apresentar a exames do 5º ano no Liceu Pedro Nunes e para conhecer Portugal, na companhia de Lucette e de Amílcar, mulher e filha. 

  Pidjiguiti 

 No seu livro Crónica da Libertação, Luís Cabral conta: 

  "A situação das equipagens das lanchas e outras embarcações das empresas coloniais era, em 1959, bastante deplorável. Os salários variavam entre 150 e 300 escudos, o capitão da embarcação ganhava ainda menos do que o motorista, pois este em geral sabia ler e gozava do estatuto de 'civilizado'. Os restantes membros da tripulação, sendo considerados 'indígenas', tinham de contentar-se com um salário de miséria, sem quaisquer regalias. Para cada viagem, o tripulante recebia, para a alimentação, uma determinada quantidade de arroz e mais 15 escudos por mês. Havia já muitos meses que os marinheiros vinham pedindo uma melhoria da sua situação, sem qualquer resultado. Faziam-lhes promessas, é certo, mas a situação mantinha-se e os trabalhadores não viam, na verdade, nenhumas perspectivas de mudança. Encorajados com o descontentamento crescente dos trabalhadores das docas, cuja situação também era má, os marinheiros fizeram saber às empresas que estavam decididos a parar o trabalho, se as reivindicações não fossem atendidas. As respostas das direcções das empresas, já concertadas, continuaram a ser promessas sem quaisquer garantias. A partir da noite do dia 2 de Agosto, as embarcações que chegavam ao porto de Bissau eram cuidadosamente arrumadas nas cercanias do velho cais de Pidjiguiti. 

(…) Os chefes das empresas, encabeçadas pelo sub-gerente da casa Gouveia, mandaram um ultimato aos grevistas: ou regressavam às suas embarcações e aos seus postos de trabalho em terra, ou pediam a intervenção da polícia. 

(…) A vida em Bissau parecia ter parado para seguir os acontecimentos. Apenas se viam passar nas ruas os carros da polícia, até ao momento em que as forças militares e paramilitares avançaram para o porto. Os trabalhadores em greve fecharam o portão de acesso aos cais de Pidjiguiti, apanharam tudo quanto podiam para se defenderem e aguardaram. 

(…) Poucos minutos depois ouviam-se os primeiros tiros: os soldados e a polícia tinham acabado de romper a frágil barragem do portão e penetravam no recinto do cais, atirando contra os grevistas, que, a princípio, ainda tentaram defender-se. Cedo, porém, depois de verem cair muitos companheiros, compreenderam que, diante da cruel realidade, a única solução era procurar fugir do cais, para escapar à morte. Uns caíam mortos ou feridos, outros procuravam por todos os meios alcançar a saída mais livre e a única que parecia segura, tentando, enquanto ainda era tempo, atravessar a estreita passagem que conduzia ao rio Geba, portanto às embarcações que ali estavam ancoradas. À medida que os homens conseguiam alcançar a ponta do cais iam-se atirando às águas do rio e nadavam desesperadamente para alcançar as embarcações. A horda colonialista com os sucessos alcançados, também avançou para a ponta do cais de Pidjiguiti. Fazendo dali calmamente a pontaria, conseguiram ainda matar ou ferir vários homens entre os que se tinham atirado desesperadamente ao Geba. E não eram só militares e polícias, os que atiravam. Também se juntaram a eles elementos civis com as suas armas pessoais, que depois se vangloriavam da sua participação na caça selvagem aos homens do 3 de Agosto. Saímos cedo do trabalho. Os escritórios da Casa Gouveia ficavam perto do cais do Pidjiguiti e não era possível trabalhar com o barulho terrível do tiroteio, tendo às portas tão criminoso espectáculo, sem precedentes nos nossos dias. Ficámos de pé no passeio, mesmo em frente do grande edifício onde trabalhávamos. (…) 

 (…) Da varanda do meu apartamento que estava situado frente ao porto, pude presenciar a parte final do monstruoso crime da caça ao homem no rio Geba. O sol desaparecera nessa tarde dos céus de Bissau; a atmosfera pesada e escura parecia gritar com o povo. A tarde sangrenta de 3 de Agosto fizera mais de cinquenta mortos e muitas dezenas de feridos entre os marinheiros pacíficos que mais não queriam que viver um pouco melhor. Na noite de 3 de Agosto, reuni-me com o Aristides e o Fortes. Este, na sua qualidade de chefe da Estação Postal, tinha podido meter no correio, que devia partir na manhã seguinte, cópias de um comunicado elaborado rapidamente sobre os acontecimentos, endereçadas às principais emissoras escutadas em Bissau. Lembro-me bem que a Rádio Brazzaville, a BBC, a Rádio Conakry e a Rádio Dakar, estavam entre aquelas que receberam e difundiram a notícia que os colonialistas não queriam que saísse da Guiné. Simultaneamente, foi também enviado um primeiro relatório ao Amílcar que se encontrava nesse momento em Angola." 

A saída da Guiné 

 No seguimento dos acontecimentos do Pidjiguiti, como era de esperar, foram efectuadas numerosas detenções. Luís Cabral era o guarda-livros da Casa Gouveia e, por altura da inauguração do novo edifício da Associação Comercial, Agrícola e Industrial de Bissau, teve conhecimento que o Administrador da Casa Gouveia pedira a Lisboa que fosse recrutado um novo guarda-livros, uma vez que o actual ia ser preso. Decide, então, sair da Guiné. Ajudado pelo madeireiro português Fausto Teixeira, Luís saiu de Bissau, por Mansoa, em direcção à fronteira com o Senegal. Perto de Fajonquito transpôs a fronteira a pé, tomou um autocarro para Koldá e rumou a Dakar. 

 Algum tempo depois recebeu a companhia da mulher e do filho. Conseguiram trabalho sem grandes dificuldades, Luís na Shell e Lucette, sua mulher, numa companhia de seguros. Viviam sem grandes problemas materiais e os seus dinheiros ainda chegavam para ajudar as actividades do Partido em Dakar, enquanto em Conakry, Amílcar como conselheiro do Ministério da Economia, e Helena, mulher de Amílcar, como professora do Liceu de Conakry, se serviam dos seus recursos para subsidiar o Lar do Combatente. Deste Lar partiram para a República Popular da China os primeiros militantes do PAIGC para receberem treino militar. 

  As primeiras acções armadas 

 Um ano depois de terem chegado a Dakar, Luís e a mulher deixaram os empregos, rumaram a Conakry e decidiram dedicar todo o tempo à luta. As primeiras acções armadas em que alguns elementos do PAIGC se viram envolvidos correram mal. Em plena fase de explicação das razões da luta às populações, nem sempre estas guardaram segredo. Em mais que uma ocasião foram cercados e atacados a tiro pelas tropas portuguesas. Vitorino Costa, armado apenas com uma pistola, foi morto numa destas situações. As armas que o PAIGC tinha num armazém em Conakry demoravam a ser libertadas pelas autoridades. Os jovens guerrilheiros, sem armas, depois dos fracassos iniciais, refugiaram-se nas fronteiras com o Senegal e com a Guiné-Conakry, reclamando armas. Amílcar conseguiu colocar a questão ao governo marroquino, que acedeu prontamente fornecer armamento. 

 As primeiras armas foram levadas para Conakry por via aérea em malas, sacos e caixotes, levadas pelo próprio Amílcar Cabral, pelo Vasco Cabral e outros, como se de bagagem pessoal se tratasse. Aquino de Bragança, que vivia no mesmo prédio de Amílcar, foi um dos que ajudou a descarregar caixotes do Volkswagen. Depois, o transporte do material de guerra de Casablanca para Conakry passou a ser feito por via marítima. As embalagens eram dissimuladas. Os volumes com granadas vinham em embalagens de medicamentos, em que na parte superior, quando abertas, mostravam fileiras muito arrumadas com pequenas embalagens de medicamentos. 

  A grande ajuda de Marrocos 

 As primeiras pistolas-metralhadoras, levadas de Marrocos, em sacos e malas, foram transportadas por Manuel Saturnino e José da Silva, dois guerrilheiros escolhidos para esta missão. O material era depois novamente embalado no secretariado do PAIGC em Conakry e a seguir levado nos transportes colectivos para Colaboi, onde era descarregado, para evitar o controle policial em Boké, a pouco mais de 80 kms da linha de fronteira. A partir daqui, os volumes eram levados à cabeça por homens que os introduziam nas zonas da guerrilha. O primeiro grande volume de material de guerra foi obtido por Luís Cabral junto do governo marroquino. Dezenas de carabinas, de PPSH e milhares de balas foram carregadas num camião civil, no pátio do Ministério da Defesa marroquino e foram entregues ali, ao portão, sem qualquer formalidade. 

  Preso por Sekou Turé 

 Este material veio a ser descoberto no porto de Conakry e Luís Cabral, Aristides Pereira, Vasco Cabral, Pedro Ramos, Armando Ramos e Fidelis Cabral, foram acusados de contrabando de armas e detidos pelas autoridades guineenses. Amílcar só não foi preso porque se encontrava na altura em Rabat. Sekou Turé libertou-os quase um mês depois, e a partir desta altura, depois de uma reunião entre Turé e Amílcar Cabral, o transporte de material de guerra pela Guiné-Conakry passou a ser feita com a autorização das entidades governamentais. “De Morés, a luta no Norte tinha-se alargado à área de Biambi e dali até Canchungo (T. Pinto), a oeste do país. No centro do Chão dos Manjacos, nome que o povo dava à circunscrição de Canchungo, ficava a floresta de Jol. Era ali que se encontrava o lugar sagrado onde o Irã de Cobiana, consultado pela população e pelos combatentes, proclamava que a luta do PAIGC era irreversível e que conduziria à libertação total do país. 

 Citações do livro "Crónica da Libertação", de Luís Cabral. 

  Luís Cabral nasceu em Bissau em 1931. Fez os estudos em Cabo Verde e na Guiné, para onde foi trabalhar na Casa Gouveia. Desde muito jovem interessado nas actividades políticas contra o governo português, colaborou com Amílcar Cabral e com outros militantes na fundação do PAIGC. Após os acontecimentos de Pidjiguiti saíu da Guiné, primeiro para Dakar e, depois para Conakry, onde participou na preparação e no desenvolvimento da luta armada que se prolongou por mais de uma dezena de anos. Fez parte do Bureau Político e foi membro do Conselho de Guerra do PAIGC. Em 1973, no decorrer do 2º Congresso do PAIGC que proclamou unilateralmente a Independência da Guiné-Bissau, foi eleito secretário-geral adjunto do partido e Presidente do Conselho de Estado da República, cargo para que foi reeleito, já depois do reconhecimento por Portugal, em 1974. 

 Luís Cabral foi presidente da Guiné-Bissau entre 1974 e 1980, ano em que foi destituído pelo golpe militar protagonizado por Nino Vieira. Esteve preso cerca de 13 meses na fortaleza de Amura, seguindo depois para Cuba e Cabo Verde, vindo a fixar-se mais tarde nos arredores de Lisboa, onde residiu até morrer em 30 de Maio de 2009, com 78 anos.

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 Notas de vb: Subtítulos da responsabilidade do editor 










terça-feira, 10 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13265: Consultório militar, de José Martins (4): Unidades que passaram por Fá Mandinga, no leste (1964 / 1974)



Guiné > Zona leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Posição relativa de Fá Mandinga, a escassa meia dúzia de quilómetros de Bambadinca, na direção de Bafatá.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).


1. E a propósito de Fá Mandinga ter sido (ou não) uma "terra importante" no TO da Guiné (*)... Aparentemente teve um papel discreto na guerra... E,. durante muito tempo esteve associada ao nome do engº agrónomo Amílcar. De facto, a estação agrária experimental de Fá tinha boas instalações, entretanto desafetadas com o início da guerra. Mas Amílcar Cabral nunca ali trabalhou, e muito menos viveu. Ele e a sua primeira esposa, portuguesa, Maria Helena Rodrigues, silvicultora, viveram e trabalharam na estação agrária experimental de Pessubé, nas imediações de Bissau, entre setembro de 1952 e março de 1955 (Vd. planta da cidade de Bissau, em baixo).

Mas foi lá, em Fá Mandinga.  que se formou a 1ª Companhia de Comandos Africanos e de lá partiu para a aquela que viria a ser mais tarde, em 22 de novembro de 1970, a Op Mar Verde (, invasão anfíbia de Conacri). E a seguir à 1ª, vieram lá formar-se a 2ª e 3ª CCmds Africanos. com as quais se  constituiu  mais tarde o Batalhão de Comandos Africanos. Sem esquecer o Pel Caç Nat 63, comandado pelo nosso "glorioso alfero Cabral"...

Para tirar as dúvidas, o nosso assessor militar, José Martins [, foto atual à direita ], mandou-nos esta lista, a seguir publicada,  de unidades que passaram por Fá Mandinga,...

Curiosamente parece haver um lapso em relação ao Pel Caç Nat 63, que de facto esteve em Fá Mandinga pelo menos desde o 2º semestre de 1969 até meados do 1º semestre de 1970 (ou mais), indo depois para Missirá em substituição  do Pel Caç Nat 52 (que era comandado pelo Beja Santos). O Pel Caç Nat 63 voltaria a Fá entre novembro de 1972 e agosto de 1974 (quando foi extinto).

O primeiro batalhão (, ou respetiva CCS,)  a estacionar em Fá Mandinga terá sido o BCAÇ 607 (julho de 1964/abril de 1966). O BCAÇ 1888 também lá esteve, a partir de abril de 1966, indo depois para Bambadinca em novembro desse ano. Também passaram por Fá, a CCAÇ 1589 (entre dezembro de 1966 e abril de 1967, seguindo depois para Madina do Boé (**).  Igualmente lá estiveram, cerca de 3 meses,  antes de irem construir Mansambo,  os "Viriatos", a companhia do Carlos Marques dos Santos e do Torcato Mendonça, a CART 2339 (***). E muitas mais... (LG)


Unidade
Origem
Chegada
Saida
Destino
BCaç  697 -   CCS
RI 15
Jul 64
Abr 66
Fim comissão
CCaç   674
RI 16
Jul 64
Jul 64
Fajonquito
CCav    678
RC 7
Set 64
Jan 65
Ponta do Inglês
Pel Rec  Daimler 809
RC 6
Nov 64
Jan 66
Dulombi
BCaç 1856 - CCaç 1417
RI 1
Set 65
Mai 66
Bajocunda
Pel Mort 1028
RI 2
Set 65
Nov 66
Bambadinca
BCaç 1888 -  CCS
RI 1
Abr 66
Nov 66
Bambadinca
BCav  705 - CCav   702
RC 7
Abr 66
Mai 66
Fim comissão
BCaç 1887 - CCaç 1547
RI 1
Mai 66
Set 66
Bula
Pel Rec Daimler 1133
RC 6
Ago 66
Out 66
Bambadinca
BCaç 1887 - CCaç 1546
RI 1
Out 66
Dez 66
Bissau
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 66
Jan 67
Xitole
BCaç  1894 - CCaç 1589
RI 15
Dez 66
Abr 67
Madina do Boé
CCaç   817
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CCaç   818
BC 10
Jan 67
Fev 67
Fim comissão
CArt  1661
RAC
Fev 67
Abr 67
Enxalé
BCaç 1912 – Ccaç 1685
RI 16
Abr 67
Out 67
Fajonquito
CCaç 1426
RI 16
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
CCaç 1439
BII 19
Abr 67
Mai 67
Fim comissão
BArt 1913 - CArt 1689
RAP 2
Mai 67
Jul 67
Catió
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Ago 67
Jan 68
Xitole
BArt  1904 - CArt 1646
RAP 2
Set 67
Out 69
Fim comissão
BCaç 1933 - CCaç 1790
RI 15
Out 67
Jan 68
Madina do Boé
BCaç 1888 - CCaç 1551
RI 1
Nov 67
Jan 68
Fim comissão
CArt  2338
RAL 3
Jan 68
Abr 68
Nova Lamego
CArt  2339
RAL 3
Fev 68
Mai 68
Mansambo
CCaç 2383
RI 2
Mai 68
Jul 68
Nova Lamego
CArt  2413
RAP 2
Ago 68
Set 68
Xitole
BCaç 2852 - CCaç 2405
RI 2
Dez 68
Dez 68
Galomaro
BCaç 2851 – Ccaç 2403
RI 1
Fev 69
Abr 69
Mansabá
1ª CCmds Africana
CTIG
Jul 69
Jul 69
Bajocunda
1ª  CCmds Africana
CTIG
Set 70
Jul 71
Brá
Pel Caç Nat  52
CTIG
Jan 71
Jul 71
Missirá
2ª CCmds Africana
CTIG
Abr71
Out 71
Brá
3ª CCmds Africana
CTIG
Abr 72
Set 74
Extinção  Unidade
Pel Caç Nat   52
CTIG
Abr 72
Jul 72
Ponte R Unduma
Pel Caç Nat 63
CTIG
Nov 72
Ago 74
Desativada
BArt 3873 - CArt 3493
RAP 2
Dez 73
Jan 74
Bissau

Undiades que passarm por Fá Mandinga 

Fonte: José Martins (2014) (****)



Planta da cidade de Bisssau (c. 1975) > Posição relativa de Pessubé que, no início dos anos 50, ficava já bastante longe do centro de cidade de Bissau.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014).
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de junho de 2014 >  Guiné 63/74 - P13263: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (18): 14 mesas, de 10 lugares cada uma, com os nomes das localidades que foram sedes de batalhão ao longo da guerra... Mas cada participante (camaradas e seus acompanhantes) senta-se onde muito bem lhe aprouver...Não há lugares marcados à sombra do poilão da Tabanca Grande ...

(**) Vd. poste de 11 de junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4510: Memória dos lugares (31): Fá Mandinga, CCAÇ. 1589 (1966/68) (Armandino Alves)

(...) Sobre o Aquartelamento de Fá Mandinga, ainda recordo que:

Em Dezembro de 1966, a minha CCAÇ 1589, recebeu Guia de Marcha para Fá Mandinga.  Embarcamos em Bissau numa LDG em direcção a Bambadinca e daí seguimos em viaturas, pela estrada em terra batida, que estava a ser aberta pelo Batalhão de Engenharia, em direcção a Bafatá [, mais tarde alargada e asfaltada, no 2º semestre de 1967].

A certa altura viramos à esquerda e entramos na picada que nos ia levar a Fá. Era tão estreita que mal lá cabiam uma GMC ou uma Mercedes. Passamos o Aquartelamento de Fá de Cima e começámos uma íngreme descida até Fá de Baixo.
O Aquartelamento era constituído por 4 grandes barracões, dois de cada lado, com uma grande parada no meio. À volta era só capim, que era preciso desbastar para podermos ver mais longe e evitar surpresas “desagradáveis”, embora o pessoal de Fá de Cima nos protegesse pois, devido á sua posição no cimo da colina, viam muito mais longe.  Mas, pelo que eu sei, Fá nunca foi atacada.

A partir daqui fizemos várias operações, com outras Companhias que tinham a sua base em Porto Gole. A maior delas foi à mata do Saraoul, durou 10 dias e foi feita a nível de Batalhão.
 
 (...) Pouco tempo depois recebemos guia de marcha para Madina do Boé.

Quanto ao quartel de Fá, lembro-me que o 1º barracão se situava do lado direito de quem entrava no quartel e servia de caserna dos praças e quartos dos sargentos, e o 2º destinava-se aos Comandantes e, creio que também, a camarata dos oficiais.

Nas traseiras do 1º barracão estava instalado o “meu” Posto de Socorros e o reboque com o material de Campanha do SS, que nunca foi usado.  O 2º pavilhão, do lado esquerdo, só estava meio ocupado por nós, pois a outra metade estava vedada com rede e tinha guardado o material, para a fazenda do Amílcar Cabral [, informação errónea, já que o eng agr Amilcar Cabral nunca trabalhou aqui, mas sim na Granja de Pessubé (LG)].

Não me lembro onde ficavam a cozinha nem as oficinas auto. (...) Armandino Alves, 1º Cabo Aux Enf CCAÇ 1589 (1966/68) (...) 

(***) 11 de agosto de  2009 >  Guiné 63/74 - P4809: Estórias de Mansambo II (Torcato Mendonça, CART 2339) (12): Fá Mandinga, o único sítio onde tive direito ao luxo de um quarto