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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4238: Blogpoesia (40): A tua última emboscada, irmão (José Brás)

1. Mais um belo texto do poemário do José Brás, alentejano, reformado da TAP, vivendo hoje em Montemor-O-Novo, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura) (*):




Irmão

de valor carecem
as palavras
que eu queira construir
sobre
o mistério grande
do teu corpo agora
inerte

tu que alongaste os dias
cruzando o mar
na memória
da voz quente
das cidades
nem ouves aquelas
à tua volta
sussurrando espantadas
sobre as glórias que tiveste
o costume do sorriso ou
simplesmente
a trivialidade da morte

da tua última emboscada
ninguém dirá
que a perdeste
ou que a ganhaste
se não é
ainda dado
a humano
ler na paz definitiva
que te vara o rosto
seguro é
nos companheiros
todos
da travessia
que por dentro de nós
fizeste
o futuro guardará
a palavra
irmão

José Brás

[Revisão / fixação de texto: L.G.] (**)
________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

(**) Vd. a lista completa dos postes desta série (Blogpoesia):

16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)

6 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4147: Blogpoesia (38): A Criatura e Rambo Guinéu (Manuel Maia)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4112: Blogpoesia (37): Para fechar o dia dos poetas da guerra colonial, celebrado hoje, aqui e em Coimbra... (Alberto Branquinho)

30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4109: Blogpoesia (36): E Viva a Vida, Vida a Poesia! (Jorge Cabral)

30 de Março de 2009 Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)

29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4100: Blogpoesia (34): Regressei um dia / lavando a alma na espuma das lágrimas... (António Graça de Abreu)

27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4087: Blogpoesia (33) : O bardo de Cafal Balanta (Manuel Maia)

25 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4078: Blogpoesia (32): João, 20 anos, apto para todo o serviço... (José Brás)

15 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4037: Blogpoesia (31): Quando eu era menino e moço... (Manuel Maia)

9 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3858: Blogpoesia (30): Em Cutima, tabanca fula... (José Brás / Mário Fitas)

31 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3688: Blogpoesia (29): Este ano não mandei cartões de boas festas a ninguém (Luís Graça)

28 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3672: Blogpoesia (28): O Menino Jesus chinês (António Graça de Abreu)

25 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3669: Blogpoesia (27): A velha Amura dos tugas (Luís Graça)

26 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3243: Blogpoesia (26): 35 anos de Guiné-Bissau: A minha contribuição para a tua festa, meu irmão, minha irmã (Luís Graça)

11 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3178: Blogpoesia (24): A minha pequenez é que era uma tristeza (Rui A. Ferreira)

4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).

[Por lapso, houve um salto na numeração, de 10 para 22]

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2589: Blogpoesia (9): Sangue derramado (José Manuel, Mampatá, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

7 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro

16 de Outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

23 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2125: Blogpoesia (4) : A morte do pássaro de areia (Luís Graça)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador ? Mineiro ? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)

18 de Julho de 2007 > Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)


Manuel Sobreiro, Alf Mil de Minas e Armadilhas, CART 1612 (1967/69), foi morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968...





Guiné > Zona Leste > Pirada > O Alf Mil Martinho Gramunha Marques, à direita... Poucos dias antes de morrer, em Madina do Boé, heroicamente, em grande sofrimento...

Foto: © 
António Pinto (2007). Direitos reservados .





Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Abril de 2006> O monumento, em forma de pirâmide, construído em 1973 pelo pessoal da CCAV 8350, Os Piratas de Guileje. O trabalho de restauro e preservação é da AD - Acção para o Desenvolvimento, a ONG guineense, fundada e dirigida pelo nosso amigo Pepito, no âmbito do Projecto Guiledje. Numa das faces da pirâmide,  é evocado o nome do  Alf Mil Lourenço, morto por acidente, um das nove baixas mortais da CCAV 8350.

Foto: © 
A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.




Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3492 (1972/74) > 1972 > O Alf Mil Armandino, ao fundo da mesa, num almoço com outros camaradas, incluindo o Mexia Alves, na casa do comerciante libanês Jamil Nasser. Em primeiro plano, o Cap Godinho, comandante da CART 3492.  Uma foto de homenagem do J. Mexia Alves, ao camarada morto da brutal emboscada do Quirafo, em 17/4/72.

Foto: © Joaquim Mexia Alves (2006). Direitos reservados


1. Mensagem do nosso amigo e camarada  Artur Conceição (ex-Sold Trms Inf, CART 730, Bissorã, Farim, Jumbembem, 1965/67)

Data: 25 de Junho de 2010 19:06
Assunto: Alferes mortos na Guiné

Caros, Luís Graça, Carlos Vinhal, Virgínio Briote e Magalhães Ribeiro:

Antes de mais quero desejar-vos um fim de semana bem divertido[, em Monte Real]

Achei interessante a publicação da lista de Capitães mortos na Guiné (*). Aproveitei para fazer duas correcções na minha lista.

Em continuidade aproveito para enviar a lista dos Alferes. Quem sabe não irei fazer mais algumas correcções….!

Um abraço

Artur António da Conceição
Amadora
_____________


Nome (de A a Z ) / Data / Causa


1. Abílio Rodrigues Ferreira >  22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte >  23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão >  5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses  > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio >  21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes  > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado >  22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló >  16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel Sousa  Linhares de  Almeida  > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias 6/10/66 > C

28. Delfim Anjos Borges  > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá >  20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro  > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida >  14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto >  6/10/70 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo >  15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno Costa Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço >  5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). 

Causas de morte: 

A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); 
C=Combate; 
D=Doença.  

Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate (C). Os restantes morreram devido a acidente (A)  (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (D) (1,3%).

[ Revisão / fixação de texto / título / observações: L.G.]
________________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  24 de Junho de 2010  > Guiné 63/74 - P6638: Lista alfabética dos 24 capitães que morreram em campanha no CTIG, dos quais 10 em combate, todos comandantes de companhias operacionais (9 Cap QP, 1 Cap Mil) (Carlos Cordeiro)

(**) Vd. poste de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Guiné 63/74 - P12124: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (22): Onde e como estava afixada, na parada, a placa toponímica com o nome do Alf Tavares Machado [, da CART 1613, morto em combate, em 28/12/1967] ? (Pepito)




Foto: © AD - Acção para ao Desenvolvimento (2013). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem do Pepito, diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com data de 25 de setembro último

Amigo Luís

O nosso "arqueólogo" de serviço, Domingos Fonseca, acaba de descobrir em Guiledje, nas suas prospeções, mais um achado.

Trata-se de uma tabuleta que diz "PRACETA ALFERES TAVARES MACHADO".

Para a colocarmos de pé, gostaríamos de saber qual era a sua localização, se estava fixada a alguma parede ou se tinha um pedestal. (*)

Abraço
pepito


2. Comentário de L.G.:

Segundo o poste P3182 (**), assinado pelo nosso colaborador José Martins, e com data de 7/9/2008, trata-se do nosso camarada...

(i) NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art, com o Nº Mecanográfico  07349365, pertencente à CART 1613  /BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia. [Guileje, 1967/68];

(ii) O Machado era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova, concelho de Coimbra;

(iii) Foi vítima de ferimentos em combate,  ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje; faleceu em 28 de Dezembro de 1967; foi inumado no Cemitério de Agramonte,  no Porto.

Se algum camarada tiver mais dados sobre  o malogrado  alf mil Machado e a localização da placa toponímica (, na parada, afixada a alguma parede ou colocada em pedestal), acima publicada, que nos contacte, por favor, por mail ou através da caixa de comentários deste poste.

A CART 1613 era a companhia do Zé Neto (1929-2007) e do Eurico Corvacho (, ex-cap., falecido em 2011).

O Alf Tavares Macahdo é um dos 75 alferes mortos no TO da Guiné (por todas as causas) (***).

______________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 19 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11425: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (21): Vamos reconstruir o edifício mais representativo do antigo aquartelamento de Gadamael Porto (Pepito)

Vd. também: 


(***) Vd. poste de 29 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6658: Lista alfabética dos 75 alferes mortos no CTIG, 54 (72%) dos quais em combate (Artur Conceição)

Nome (de A a Z ) / Data / Causa (C=Combate; D=Doença;  A=Acidente)

1. Abílio Rodrigues Ferreira > 22/11/70 C

2. Adelino Costa Duarte > 23/11/65 C

3. Alberto Araújo Mota > 27/11/72 D

4. Álvaro Ferreira V. Leitão > 5/6/68 C

5. Álvaro Francisco M. Fernandes > 2/9/72 A

6. Américo Luís S. Henriques > 21/2/67 C

7. António Angelino T. Xavier > 30/1/65 C

8. António Aníbal M. C. Maldonado > 4/3/66 C

9. António Emílio P. S. Meneses > 17/6/65 A

10. António Fonseca Ambrósio > 21/12/70 C

11. António João C. Neves > 30/8/72 C

12. António Joaquim Alves Moura > 4/9/66 C

13. António Jorge C. Abrantes > 18/9/72 A

14. António José C. L. Barbosa > 30/1/68 C

15. António L. Freitas Brandão > 18/9/69 A

16. António Sérgio Preto > 29/6/72 C

17. Armandino Silva Ribeiro > 17/4/72 C

18. Armando Bastos Mendes > 4/7/63 C

19. Armindo Pereira Calado > 22/6/69 C

20. Artur José Sousa Branco > 4/6/73 C

21. Augusto Manuel C. Gamboa > 14/12/67 C

22. Bubacar Jaló > 16/2/73 C

23. Carlos Alberto T. Peixoto > 8/9/68 C

24. Carlos Augusto S. Pacheco > 19/2/68 C

25. Carlos M. A. Figueiredo > 10/7/72 A

26. Carlos Manuel S. L. Almeida > 1/4/67 C

27. Carlos Santos Dias > 6/10/66  C

28. Delfim Anjos Borges > 17/7/67 C

29. Domingos Joaquim C. Sá > 20/7/68 C

30. Duarte Francisco S. S. Lacerda > 2/7/73 A

31. Eduardo Guilherme T. Monteiro > 15/5/68 C

32. Feliciano Santos Paiva > 29/4/70 A

33. Fernando Pereira L. Raposo > 10/11/64 A

34. Francisco Lopes G. Barbosa > 25/11/71 C

35. Guido Ponte Brasão D. Silva > 22/10/70 A

36. Henrique Ferreira Almeida > 14/7/68 C

37. João Afonso Abreu (FAP) > 5/3/72 C

38. João Francisco S. S. Soares > 28/5/71 A

39. João Manuel C. Silva > 6/4/73 C

40. João Manuel Mendes Ribeiro > 4/10/71 C

41. Joaquim J. Palmeira Mosca > 20/4/70 C

42. José Alberto C. Pereira > 12/3/66 C

43. José Antunes Carvalho > 4/9/68 A

44. José Armando Santos Couto > 6/1070 C

45. José Carlos E. Rodrigues > 12/12/66 A

46. José Fernando R. Félix > 2/4/72 A

47. José Joaquim Couto Sousa > 14/6/74 A

48. José Juvenal Ávila F. Araújo > 15/7/68 C

49. José Manuel Araújo Gonçalves > 14/2/69 C

50. José Manuel Brandão Queirós > 2/3/70 C

51. José Manuel Godinho Pinto > 16/5/70 C

52. José Maria R. Vasques Flores > 23/5/71 C

53. José Pedro S. M. Sousa > 20/7/70 C

54. José Silva Oliveira > 30/10/68 C

55. Lino Sousa Leite > 7/7/66 C

56. Luís Gabriel Rego Aguiar > 20/5/74 C

57. Luís Mário Silva Sá > 24/9/70 C

58. Mama Samba Baldé > 19/5/73 C

59. Manuel Costa Bandeira > 29/4/70 A

60. Manuel Francisco A. Sampaio > 10/1/66 C

61. Manuel Jesus R. Sobreiro > 24/2/68 A

62. Manuel Maria Pires > 18/4/69 C

63. Manuel Tavares Costa > 27/1/64 C

64. Mário Henriques S. Sasso > 5/12/65 C

65. Mário Juvencio V. Camacho > 25/10/68 C

66. Mário Manuel L. Simões > 17/4/73 A

67. Martinho Gramunha Marques (**) > 30/1/65 C

68. Miguel J. S. Moreno (FAP) > 24/9/72 C

69. Nelson Joaquim A. P. Soares > 26/10/71 C

70. Nuno da Costa Tavares  Machado > 28/12/67 C

71. Nuno Gonçalves Costa > 16/7/73 A

72. Paraíso Manuel Almeida M. Gomes > 2/11/71 A

73. Pedro Melna >19/5/73 C

74. Rogério Nunes Carvalho > 17/4/68 C

75. Vitor Paulo Vasconcelos Lourenço > 5/3/73 A


Observações: Todos os alferes aqui listados pertenciam ao Exéricto, com excepção de dois (que eram da FAP=Força Aérea). Causas de morte: A=Acidente (incluindo acidentes com viaturas automóveis e armas de fogo, suicídio, homicídio); C=Combate; D=Doença. Do total de 75 alferes mortos, 54 (72%) foram-no combate. Os restantes morreram devido a acidente (n=20) (26,7%). Há apenas 1 morto, entre os alferes, no CTIG, por doença (1,3%).

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3193: Blogpoesia (25): Hoje tenho pena de nunca ter escrito um aerograma a uma madrinha de guerra (Luís Graça)


"Que cada uma de nós se lembre que lá longe, nas províncias ultramarinas, há rapazes que deixaram tudo: mulheres, filhos, mães, noivas e o seu trabalho, o seu interesse, tudo enfim, para cumprirem o seu dever de soldados.

"É preciso que as mulheres portuguesas se compenetrem da sua missão, e assim como eles estão cumprindo o seu dever, lutando pela nossa querida Pátria, também vós tendes para cumprir o vosso, lutando pelo bem-estar dos nossos soldados- luta essa bem pequenina, pois uma só palavra, um pouco de conforto moral basta para levar alguma felicidade aos que estão contribuindo para a defesa da integridade do nosso Portugal.

"OFEREÇAM-SE PARA MADRINHAS DE GUERRA. MANDEM O VOSSO NOME E A VOSSA MORADA PARA A SEDE DO MOVIMENTO NACIONAL FEMININO".
"Madrinhas de guerra". In: Presença, nº 1, 1963, p. 36-37).



Com o atraso de décadas,
quiçá de séculos,
presto hoje o meu preito
às mulheres portuguesas
que se vestiam de luto
enquanto os maridos
ou noivos
ou namorados
ou irmãos
ou vizinhos
ou conterrâneos
ou simplesmente amigos
andavam na guerra do ultramar.
Ou guerra colonial, como se queira.
Já foi há tanto tempo
que eu perdi as contas aos contos,
às estórias,
às vidas,
às lendas,
às narrativas.

Venço, por fim, a minha relutância,
o meu preconceito,
o meu medo do irracional
e porventura o meu medo visceral do sagrado,
e presto a minha homenagem
às mulheres que rastejavam no chão de Fátima,
implorando à Virgem o regresso dos seus filhos,
sãos e salvos.
Só as mulheres, em bando, são capazes
de implorar a piedade dos deuses
e ao mesmo aplacar a sua ira,
quantas vezes sacrificando as suas próprias crias,
para logo a seguir imprecar contra eles,
se for caso disso.

Decididamente,
sem pejo nem pudor,
presto aqui a minha homenagem
às mulheres que continuavam,
mudas e caladas,
silenciosas e inquietas,
ao lado dos homens
nos campos,
nas fábricas
e nos escritórios.
Por que havia um silêncio
que não era cumplicidade,
que não era traição,
que era inquietação,
que não era resignação,
que era a raiva a crescer
dentro do peito,
que era porventura já
a emergência, a explosão
da revolta e da liberdade.

Descubro a cabeça,
tiro o chapéu,
ajoelho-me,
sinto-me prostrado
perante estas mulheres do meu país
que ficavam em casa,
rezando o terço à noite,
como a minha mãe
e as minhas irmãs
e até o meu pai,
a quem, de resto,
nunca agradeci este gesto de amor.
Nem em público nem em privado.
Nunca saberia, porventura, merecê-lo
nem muito menos agradecê-lo.

Mas também endosso
as minhas palavras de admiração
às que aguardavam com angústia,
pelo aerograma,
na hora matinal
(e às vezes mortal)
do correio,
vindo do SPM número tal.
SMP: que estranha sigla,
que misteriosos mensageiros
vindos do além,
do além-mar.
Sem esquecer as que,
muito poucas,
subscreviam abaixo-assinados
contra o regime e contra a guerra.
Às que, tão poucas que se contavam pelos dedos
nos ficheiros das polícias,
escreviam,
liam,
tiravam a stencil
e distribuíam
comunicados e folhetos clandestinos.

Às que, também raras,
sintonizavam altas horas da madrugada
as vozes da rádio que vinham de longe
e que falavam de resistência
em tempo de solidão
e de servidão.

Homenageio, sim, àquelas que, muitas,
tiravam carinhosamente
do fumeiro (e da barriga)
as chouriças
e os salpicões
e os nacos de presunto
e as morcelas
e as alheiras
e o pernil de porco
que iriam levar até junto dos seus filhos,
homens-toupeiras,
de Gandembel a Nambuangongo,
no outro lado do mundo,
no calor dos trópicos
e na humidade repelente dos abrigos e das matas,
um pouco do amor de mãe,
das saudades da terra,
dos cheiros da casa,
do campo,
do esterco e dos animais,
dos sabores da comida,
e da alegria da festa.

Mas também, e por que não,
às, muitas,
e em geral adolescentes, virgens,
e às jovens solteiras,
namoradeiras,
que se correspondiam com os soldados
mobilizados para o ultramar,
na qualidade de madrinhas de guerra.
E que alegria, tão primária, era essa
de receber um bate-estradas,
um corta-capim,
um aerograma,
uma carta
com uma madeixa de cabelo lá dentro,
lá no SPM mais desgraçado do mundo!
Que alegria, tão elementar,
e que eu nunca tive
de ver posar o teco-teco
na pista de terra-batida
com o tão desejado saco do correio.

Não tive, nunca quis ter,
madrinha de guerra,
por preconceito,
por orgulho e preconceito,
por achar que era uma instituição ou criação
do Estado Novo,
dos senhores da guerra,
e das senhoras que os geravam…

Hoje, confesso, tenho pena
de nunca ter escrito um aerograma
a uma madrinha de guerra.

Luís Graça

Lisboa, 1981/2008
____________

Notas de L.G.:

(1) Vd. alguns dos postes relacionados com esta temática:

10 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2519: As Nossas Madrinhas de Guerra (1): Os aerogramas ou bate-estradas do nosso contentamento (Carlos Vinhal / Luís Graça)

16 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2543: As Nossas Madrinhas de Guerra (2): Minha querida Madrinha de Guerra (José Teixeira)

20 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2562: As Nossas Madrinhas de Guerra (3): Quem as não teve ? (Luís Graça / João Bonifácio / Paulo Salgado)

22 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2572: As Nossas Madrinhas de Guerra (4): Madrinhas de Guerra (II) (José Teixeira)


(2) Vd postes anteriores desta série (que vão de 1 a 10 e de 22 a 24; houve um erro na numeração, que se entendeu não valer a pena corrigir):

6 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3178: Blogpoesia (24): A minha pequenez é que era uma tristeza (Rui A. Ferreira)

4 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3169: Blogpoesia (23): Amálgama de sentimentos e emoções...(Rui A. Ferreira)

6 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo).

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

27 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2589: Blogpoesia (9): Sangue derramado (José Manuel, Mampatá, 1972/74)

27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

12 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2259: Blogpoesia (7): Nas terras de Darsalam, no Cantanhez, adormeceste, para sempre, como herói, meu querido Sasso (J.L. Mendes Gomes)

7 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro

16 de Outubro de 2007 > Guiné 63774 - P2180: Blogpoesia (5): O vigésimo sexto aniversário de um gajo nada sério, Missirá, 6 de Novembro de 1970 (Jorge Cabral)

23 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2125: Blogpoesia (4) : A morte do pássaro de areia (Luís Graça)

30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador ? Mineiro ? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)

18 de Julho de 2007 > Guine 63/74 - P1964: Blogpoesia (2): O Combatente (Magalhães Ribeiro)

17 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1963: Blogpoesia (1): O embondeiro do Cachil (J. L. Mendes Gomes)

domingo, 3 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19546: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte V: Catió, o quartel e a vida da tropa


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O João em cima de Daimler, uma autometralhadora ligeira.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Messe de oficiais em Catió. Jogando King. O cor Matias supervisiona a jogatana.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Qartel: o armazém de combustíveis


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > O "artista"... bem "emoldurado"

Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Com o Cabo Quarteleiro Mourão, responsável pelo armazém da Companhia


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Café do  libanês Jassi em Catió: quatro alferes, da esquerda para a direita: Sasso, Gonçalves, Cardoso e eu.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  Na esplanada do Café do  libanês Jassi.


Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > Escrevendo para casa no meu quarto, partilhado com o cap Alexandtre-



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) >  "Fazendo turismo" nos arredores de Catió. O João Sacôto em primeiro plano, na base do bagabaga.


Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





1. João Gabriel Sacôto Martins Fernandes, de seu nome completo... Foi alf mil da CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66). Trabalhou depois como Oficial de Circulação Aérea (OCA) na DGAC [Direção Geral de Aeronáutica Civil]. Foi piloto e comandante na TAP, tendo-se reformado em 1998.

Estudou no Instituto Superior de Ciencias Económicas e Financeiras (ISCEF, hoje, ISEG) . Andou no Liceu Camões em 1948 e antes no Liceu Gil Vicente. É natural de Lisboa. É casado. Tem página no Facebook (a que aderiu em julho de 2009, sendo seguido por mais de 8 dezenas de pessoas). É membro da nossa Tabanca Grande desde 20/12/2011.


2. Continuação da publicação do seu álbum fotográfico: no poste anterior publicámos as primeiras fotos da vila de Catió, que era sede de circunscrição.

Lembre-se que a CCAÇ 617 esteve em Catió de 1 março de 1964 até 22 de setembro de 1965, altura em que assume a responsabilidade do susector do Cachil, por troca com a CCAÇ 728. Será rendida pela CCAÇ 1424, em 16 de janeiro de 1966, preparando.se depois para regressar à metrópole.

Quanto à operação Tridente, o João esclareceu-nos o seguinte:

"(...) Ainda bem que perguntas, para não haver mal entendidos, que detesto. Nós tínhamos acabado de chegar a Bissau (éramos uns “maçaricos” muito inexperientes), a nossa companhia teve uma participação na operação Tridente muito reduzida, creio que unicamente com uma secção de apoio logistico, comandada pelo furriel Carlos Cruz, também nosso tabanqueiro." (...)

______________

Nota do editor:

Ýltimo poste da série > 28 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19539: Álbum fotográfico de João Sacôto, ex-alf mil, CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como, Cachil, 1964/66) e cmdt da TAP, reformado - Parte IV: Catió: as primeiras impressões

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10757: (Ex)citações (203): O "fado das comparações"... ou o humor sarcástico do Cancioneiro do Niassa (Luís Graça)

1. Comentário de L.G. ao poste P10754:

Camarada Rosinha, já que se evocou aqui (mal, segundo as regras deste blogue...) os "chicos", que são igualmente filhos de Deus e nossos camaradas (e todas generalizações serão sempre abusivas, nesta como noutras matérias...), e já que tu próprio, sempre oportuno, foste buscar (ou reforçar) a questão das similitudes e das diferenças entre "tugas" de Angola e de Moçambique (ainda há dias estive com o Mia Couto, no aeroporto de Lisboa...), toma lá mais esta... Neste caso, esta "canção do Niassa":

Fado das Comparações

Que estranha forma de vida!
Que estranha comparação!
Vive-se em Lourenço Marques, (Bis)
Cá arrisca-se o coirão!

Vida boa, vida airada!
Boites, é só festança!
Lá não se fala em matança, (Bis)
Nem turras; há só borgadas.

Niassa, pura olvidança!
Guerra, como és ignorada!
Conversa que é evitada, (Bis)
P'los que vivem n'abastança!

Falar na nossa desdita
Fica mal e aborrece!
E como lembrar irrita, (Bis)
Toda a gente a desconhece!

Ao passar pela cidade,
Com tanta tranquilidade,
Deu-me para] comparar, (Bis)


Meninas com mini-saias!
Mandai-as p'ras nossas praias
P'ra manobra de atacar! (Bis)

Pipis com carros GT's, [Ou: Hippies com carros GT's]
Mandai-os para as Berliets,
Tirai-lhes as modas finas; (Bis)


Melenudos efeminados
Eram bem utilizados
P'ra fazer rebentar minas! (Bis)

Bem como essas tais meninas
Que, apesar de enfezadinhas,
Mas com ar da sua graça, (Bis)


Serviriam muito a jeito
Para acalmar a dor do peito [Ou: Para aliviar a dor do peito]
Cá da malta do Niassa. (Bis)

Mas não, só por pirraça,
Hão-de lá continuar!
E nós temos de lerpar, (Bis)


Invertem-se as posições,
E trocam-se as situações,
Continuamos a aguentar! (Bis)

Nós, sem sermos desejados,
Ficamos cá apanhados,
Aos urros, num desvario! (Bis)


Eles, os daqui naturais,
Gastando dinheiro aos pais,
Vão para o Matola Rio! 

[Ou: Vão p'ra a puta que os pariu!]

Acabe-se com a tradição,
Entre-se em mobilização,
Utilize-se a manada!  (Bis)


Dentro de poucas semanas,
Como quem come bananas,
Estará a Guerra acabada. (Bis)



Gentileza da página na Net do Joraga [José Rabaça Gaspar], que inseriu a gravação áudio, com a  voz do João Paneque, na Rádio Metangula, em 1970 [Clicar aqui para ouvir]... Essa  versão tinha a seguinte introdução:

"Este é um fado que compara algumas coisas que se passavam. Não é um fado para ofender, e era cantado em ambientes muito particulares e com público esclarecido! De resto, como todo o cancioneiro, sobressai sempre o aspecto humorístico com que todos os  temas são abordados". 
  
Fonte: Reproduzido de Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, I Série > 11 de maio de 2004 > 11 Maio 2004 > Blogantologia(s) - XI: Guerra Colonial: Cancioneiro do Niassa (1) 

2. Comentário de L.G.: 

A música deste fado, do Cancioneiro do Niassa,   é a do clássico  fado Estranha forma de vida (Letra e música: Alfredo Duarte e Amália Rodrigues). No entantato, a segunda parte parece-me ser a do Embuçado , precisarei de tempo para confirmar.

Mas o que importa agora é a  letra: sarcástica, parodia a privilegiada condição dos colonos moçambicanos e dos seus filhos e filhas, condição que, vista de Metangula, no lago Niassa,   deveria   uma das  contradições daquela guerra, difíceis de (di)gerir:  de facto,  dificilmente se poderia convencer um soldado metropolitano que estava a defender o chão sagrado da Pátria, quando do inferno do Niassa se olhava para  o bem-bom de Lourenço Marques...Em todo o caso, é bom não esquecer que houve moçambicanos, filhos de colonos brancos, que morreram em combate no TO da Guiné: caso do nosso camarada Mário Sasso, por exemplo.

Noutro registo, era o mesmo tipo de crítica que nós fazíamos na Guiné - nós, os operacionais, a carne para canhão - aos mais privilegiados, não os colons que praticamente não os havia, mas sim a rapaziada da guerra do ar condicionado, instalada no relativo conforto e na precária segurança de Bissau... 

Recorde-se que na Guiné não havia colonos brancos, a única empresa que se podia chamar colonialista era a Casa Gouveia, ligada à CUF - Companhia União Fabril, mas que ficou praticamente inactiva com o início da guerra, reduzida a muitos poucos entrepostos no mato (em Bambadinca, ainda havia um, no meu tempo, 1969/71).

Acrescente-se que o léxico do combatente de Moçambique e da Guiné tinha muitas coisas em comum: por ex., a palavra lerpar que era utilizada pelas nossas tropas, nos dois TO, com o mesmo sentido de perda: morrer, ser ferido, perder qualquer coisa (por ex., ao jogo da lerpa), apanhar uma 'porrada' (castigo), ser escalado, etc. 


[Imagens acima: Cortesia da Wikipédia. A distância da capital, hoje Maputo, ao Niassa, é de 2800 km... Matola é hoje cidade e município,  capital da província de Maputo. É também nome de rio que desagua na baía do Maputo.]
_______________

Nota do editor:

quinta-feira, 5 de abril de 2007

Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu

Em Junho de 1966, a CCAÇ 728 (Como, Cachil, Catió, 1964/66) regressa à Pátria no T/T Uíge... Mas não foi a mesma Pátria que acolheu os Palmeirins de Catió...

Fonte: © Navios Mercantes Portugueses , página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...).



XI (e última) Parte das memórias de Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1).


2.16. REGRESSO A BISSAU


À cadência de uma grande operação de 15 em 15 dias, o tempo foi passando penosamente. Os olhos estavam cada vez mais presos ao final da comissão. Acima de tudo, havia que defender a pele… queimar o tempo da melhor forma e regressar inteiro de cada saída.

Uma ida a Bissau, por umas breves semanas, de vez em quando, por desgaste nervoso, não era difícil de conseguir, junto do castiço médico tripeiro.

O alferes Arlindo, cujo pelotão, logo de início, fora distribuido pelos restantes pelotões, como melhor forma de gerir a companhia, como sub-comandante, por si e oficiosamente, estava sempre disponível para suprir as nossas preciosas ausências.

São inesquecíveis aqueles descolares trepidantes na pandeireta desengonçada do Dornier do correio, a vencer, raivosa, a minúscula pista de terra barrenta e abaulada, ver a geometria das ruelas esquadrinhadas de Catió a afastarem-se, lá em baixo, as bolanhas verdes e imensas recortadas pelos braços tentaculares duma rede serpenteada de rios mansos e uma manta espectacular de matas densas, pejadas de turras no seu seio e de aparência tão calma, e chegar ao casario mais denso de Bissau, meia hora depois.

Três semanas de liberdade no bulício pitoresco de Bissau, com o vigor dos vinte anos, nas esplanadas dos cafés, onde a cerveja e os amendoins eram deliciosos, entrar nos fartos armazéns da CUF, recheados de tudo, com dinheiro no bolso, percorrer as tabancas negras, com os galões de alferes nos ombros, saborear, ao vivo, as vibrantes mornas e coladeras nas bamboleantes caboverdianas, naturais, passear ao longo do Geba, ressumante de vida, entrar ou assistir às missas africanas da catedral, davam para esquecer todas as angústias acumuladas no interior da guerra sangrenta.

Em finais de Junho de 66, a tão ansiada notícia da rendição da companhia chegou. Ninguém queria acreditar. Mais cedo do que o esperado…porquê, nunca se soube…

Sem regatear confortos, toda a companhia coube numa velha embarcação de madeira da carreira regular, à mistura com indígenas, mulheres, crianças, galinhas e toda a bicharia doméstica… a servir de escudo protector. Eficaz.

O regresso a Bissau foi muito mais saudado por toda a gente que, dois meses, após, iria ser a viagem no faustoso Uíge, transatlântico… para Lisboa, depois de todas as desparasitações, intestinas, da praxe.

Aqui, foi mais a sensação do acordar de um terrível e estéril pesadelo…

Mal sabíamos nós que outro iria começar. A Pátria, atenta e carinhosa que nos mandou p’ra guerra, não foi a mesma que nos acolheu…ingrata, como, com justeza, clama o certeiro e bem merecido


HINO AOS COMBATENTES DO ULTRAMAR

1

Corriam os anos sessenta.
Os clarins da guerra ressoaram, frementes,
Nos céus de Portugal, há muito,
Por artes do divino, do fado ou do destino,
Uma terra de paz, alegria e brandas gentes.

A cobiça de corsários, falsos,
Arautos de ideologias, vãs e malsãs,
Da igualdade e da fraternidade,
Servos do capital, cego e voraz,
Só do ouro, petróleo e diamante,
Da madeira, rica e do minério abundante,
Em filões,
Vestiu, de agna pele, e fez aliados,
Os eslavos cegos, os yanques e os saxões.

2

Avançar p'ràs terras da Índia, distantes,
E africanas, bem portuguesas.
Já e em força.
Foi o grito, presidente.
Imperativo, indiscutível, se tornou.
Defender as gentes e os haveres,
Muitos e imensos,
Até ao extremo,
Como glórias, lusas e sacras. Nossas.
Foi o lema, pronto e certo!

Queira ou se não queira,
A história do porvir, logo, aberto,
Bem claro, o demonstrou:

3

Aos sonhos do trabalho, da escola e da esperança,
Na flor d’aurora e no fulgor primeiro,
As gerações sucessivas, a gente jovem,
Pronta e digna, disse, adeus…

Vestiu farda e pegou armas, de guerreiro.
Fez-se aos mares, rasgou os ares,
Correu riscos…tantos… sofreu tormentos.
Só Deus o sabe…
Ofereceu tudo, a saúde e a vida, pela Paz!

Oh! Loucura e vã tristeza!… Para quê?!…
Tudo… em vão!


4

Com os ventos da discórdia,
em desvario e revolução
Não foi a mesma a pátria que os acolheu!
A que os mandou à guerra,
Cobarde e lesta, se despediu…
De tudo, aquela, hipócrita, se esqueceu.
Ou, bem pior, tudo… denegriu:
O sangue, o suor e as lágrimas,
Que Portugal, inteiro, verteu.
Ficou tudo letra morta…

5

Desfeitos os sonhos, a noite de bréu
Dos novos mundos, incertos,
Pós-revolução,
Toldou-lhes as vontades traídas
E, em pé de igualdade, abertos
Foram os caminhos da fortuna,
Da escola e do sucesso…
Como se nada fosse e nada houvesse,
Ou
Do zero, tudo começasse…

Oh!…Vil e imperdoável traição,
A desta pátria, secular…
Que tão ingrata se tornou
Para os guerreiros nobres do ultramar!?…

____________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts anteriores:

29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez

11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)

8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Catió > Novembro de 2000 > O Albano Costa e o seu filho, Hugo Costa, de visita ao sul da Guiné. O Albano pertenceu à CCAÇ 4150 (Guidaje, 1973/74).


Fotos: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.



VIII Parte das memórias de Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins (Como, Cachil, Catió, 1964/66) (1) .


Operação Tempestade [, nas matas do Cantanhez]por J.L. Mendes Gomes

Dizia-se que iria ser a maior operação, no sul, desde a da ilha do Como (2). Todas as companhias da região iriam entrar, além da força aérea vinda de Bissau e a da marinha, de Bolama, com um grupo de fuzileiros e o apoio fulminante das corvetas do Geba (3).

O dia da saída era uma incógnita; um silêncio estranho reinava em todo quartel. Os rostos transpareciam visível preocupação e não havia a frequência habitual nos bares exteriores da vila [de Catió]. Iria ser sempre assim, antes de se saber o destino de cada operação.

Depois da operação, seguia-se a compensação eufórica traduzida de muitas maneiras: era o ataque cerrado à cerveja, até esgotar; os casados, com filhos na metrópole, tinham acessos de verdadeira histeria, belicosa, uns, como um transmontano, que ponha a caserna em estado de sítio, depressiva e desesperante, outros.

Contra o habitual, o capitão Silva apareceu à hora do rancho, aparentando um ar bem disposto, a meter conversa com a rapaziada da companhia, já estendida pelas grandes mesas de tábuas toscas corridas, debaixo do refeitório e cozinha, atrás do sete e meio.

A notícia não se fez esperar. No final da ceia, estava tudo desvendado. Era nessa noite pelas 2 horas da manhã que a companhia sairia. Um silêncio fúnebre, nunca visto, caíu sobre a centena de rapazes, apagando a boa disposição que reinava.

Em escassos minutos, as casernas estavam cheias e começava-se os últimos preparativos. Munições a abarrotar. Três carregadores de cada cartucheira e as granadas de mão que cada um quisesse levar; ainda não se tinha a verdadeira noção do poder de fogo que representava uma carga simples das cartucheiras.

O receio de se verem sem munições, defronte aos turras, era medonho. As bazucas e os morteiros; os rádios e o material de enfermagem de primeiros socorros eram a principal preocupação.

Nem foi precisa a habitual insistência e controlo dos chefes. Tudo era mais importante que as próprias rações de combate. Excepto o tabaco, para os fumadores…

A maioria não se deitou, até à hora de partir. No Sete e Meio (1), a preocupação dos 3 alferes não era menor, apesar do disfarce dos trinados da viola a acompanhar a voz rouca do Sasso, nos fados da sua Lisboa amada, tão distante…

Eu deitei-me por cima da roupa, abrigado no mosquiteiro, e ainda passei pelas brasas, depois de me confortar no segredo da minha fé…

O pelotão negro do comandante João Bacar Jaló (3) estaria à nossa espera na tabanca dos fulas, mais adiante. Estes eram uma força de indígenas destemidos que iriam à nossa frente. Conheciam a selva melhor que ninguém. No decurso da nossa comissão, haviam de revelar-se um precioso escudo. Tantas vidas nos pouparam, sob o comando daquele chefe nativo, com uma capacidade e qualidades de comando admiráveis e inatas.



Guiné-Bissau > Bissau > Cemitério (colonial) > Abril de 2006 > Lápide funerária do Capitão Comando João Bacar Jaló, natural da Guiné, morto em combate em 16 de Abril de 1971. Foi um valoroso e destemido combatente, segundo o Mendes Gomes.

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Direitos reservados.


O comandante de batalhão, tenente coronel Arsélio Matias e vários oficiais vieram despedir-se da companhia, à porta de armas, virada a sul. O capelão militar, um anafado salesiano, inseparável da sua apaixonada batina preta, bem disposto, também lá estava a amenizar a partida, com os habituais gracejos de quem fica, mas visivelmente preocupado…

Uns 50 metros à frente, e já nada se via do quartel que deixávamos, tal era o nevoeiro, carregado de cacimbo denso.

Íamos percorrer, no começo, o mesmo trajecto da estrada de Cufar, o mesmo onde tínhamos recebido o baptismo de fogo, tempos antes.

Lentamente, em fila indiana, espaçados, quanto possível, sem nunca perder de vista o camarada da frente, a caminhada nocturna começou.

Ao longe, ouvia-se o mesmo ribombar desconexo e o mesmo matraquear cavo de tambor, nas tabancas, em redor. O ladrar dos cães, disperso, fazia-nos pensar que poderíamos estar, algures, no meio dos montes alentejanos, não fosse o lúgubre piar constante das aves nocturnas, já nosso conhecido… a esvoaçar, medonhas, por entre a folhagem negra das matas cerradas, sempre presentes.

As primeiras arremetidas do sono da madrugada venceram-me os passos, lançados já de forma automática e dei comigo a andar e sonhar, de pé, ao mesmo tempo...

Eram já muitos os quilómetros de caminho sem parar e a alvorada parecia dar os primeiros sinais. O firmamento negro clareava lentamente. Tudo corria normal e a descontracção foi-se apoderando de todos.

O amanhecer, dizia-se, era a altura mais propícia a emboscadas. Os turras sabiam-no bem. O sono e o relaxamento diminuíam os necessários cuidados de vigilância e o mais provável era que a nossa saída e trajecto fossem já do seu conhecimento.


Um Lancha de Fiscalização Grande (LFG), neste caso a Orion a navegar no Cacheu em Janeiro de 1967. Mas também operava no sul, em rios como o Cumbijã.
Foto: © Lema Santos (2006). Direitos reservados.


Uma primeira chicotada, logo ao raiar do dia, tería um efeito desmoralizante sobre nós, os invasores dos seus domínios, enquanto eles se organizavam, em defesa, ou, simplesmente, poderiam desviar-nos da rota que levaria ao seu quartel.

Via-se agora umas cubatas de palha, sem ninguém lá dentro. Tinham debandado, há pouco. Galinhas e porcos a correr desorientadas com a nossa chegada. Não havia dúvida de que já estávamos detectados. A reacção deles estaria, por certo, iminente.

Veio a ordem de incendiar as casotas. Era preciso enfraquecê-los, de todo o jeito. Um pouco mais e as labaredas devoravam-lhes o colmo seco deixando só e nuas as paredes circulares de adobe avermelhado, agora ressequido e negro pelas chamas e volutas de fumo espesso. Espectáculo dantesco, aquele…nunca visto.

Os toscos utensílios da vida rudimentar, umas mesas e panelas de alumíneo, ardiam ou ficavam calcinados e retorcidos. Os ânimos exaltavam e a vontade, paradoxal, de encontrar resistência crescia dentro de cada um. Já não era a razão do ideal que nos impelia, mas a vontade cega de sobreviver e regressar...tranquilos com a sensação duma razia infligida.

Mas não foi assim. Uma chuva de metralha aérea desabou umas centenas de metros mais à frente, durante uma hora e tal, pelos nossos bombardeiros, ronceiros, de um só motor. Seguiram-se descargas de artilharia, veementes, sem resposta de ninguém. Os altos comandos sabiam bem o que estavam a fazer.

Nós tínhamos descido para a borda de um longo descampado de bolanhas em cultivo, por razão de segurança e passávamos a meros espectadores daquele espectáculo verdadeiramente empolgante.

Lá em cima, a fumarada do rescaldo, no seio da mata, subia para o ar, em ondas de cacimbo negro. Por volta do meio dia, quando nos preparávamos para comer a primeira ração de combate, silvos agudos, vindos da altura do céu, cada vez mais perto começaram a descer sobre nós…partidos, não se sabia donde.

O pressentimento de que eram granadas de morteiro que ali vinham, terríveis, fez-nos precipitar nos regos mais fundos da bolanha, indiferentes à água encharcada ou às cobras mortíferas, que tínhamos visto serpentear por ali, esverdeadas e abundantes.

Uma sequência de estrondos fortes, seguidos de uma chuva de lama espessa em redor, salpicou-nos, desordenada, em toda a área onde nos encontrávamos. Alguns de nós, já mergulhados, só de cabeça fora de água.

Era impossível que não houvesse mortos ou feridos. E muitos, tal foi a intensidade e o acerto da pontaria. Pareceu uma eternidade de silvos lancinantes e estampidos, ali ao pé. Só no fim se saberia… Fugir, nem pensar. Atacar, para onde?…

Apesar de tudo o cabo dos morteiros, corajoso, ainda fez subir algumas granadas, ao acaso, pela mata e umas bazucadas partiram loucas e à sorte, sobre o sítio do fumo.

A nossa artilharia não se fez esperar, retumbante, para nossa salvação, durante longas horas a seguir, sem deixar um metro por metralhar.

Fora a resposta implacável à nossa barbárie da manhã. Felizmente, nem um só ferido!…Parecia impossível…com tanto rebentamento. Não queríamos acreditar…

A metralha da artilharia fora eficaz. A pouco e pouco, a calma voltou e pudemos retomar a bem merecida refeição do meio dia, interrompida…

Depois, foram umas longas horas de repouso, à espera de ordens. Entretanto, o tiroteio distante não parara, segundo os altos planos, desconhecidos.

A tarde avançava lenta e os ânimos sairam exaltados daquele banho de fogo, sem consequências…

Havia que procurar um local seguro para pernoitar. O capitão Silva, sereno, fez chegar a todos os pelotões, a ordem de seguir. Avançámos para o interior da bolanha imensa, para bem longe das matas ameaçadoras. Fora do alcance das metralhadoras.

A ordem de acampar chegou. Havia que distribuir os homens por forma a evitar o perigo do fogo que poderia vir da orla das matas, distantes.

Do lado oposto, ficava o rio largo, onde andavam as corvetas amigas da nossa marinha.

Uma escala de sentinela foi montada para acautelar a aproximação atrevida de um eventual golpe de mão dos turras.

A lua começou a erguer-se, em balão de fogo, sobre as copas frondosas de palmeiras ondulantes, ao longe, iluminando em esplendor a manta de neblina densa que nos envolvia majestosa, como só na África se vê… Era um espectáculo de beleza estonteante, a prendar-nos todo o susto da manhã.

Podíamos dormir descansados. As cobras de água tinham sido afugentadas com meia dúzia de granadas defensivas, o remédio certo para todos os males.

Quando pegávamos no primeiro sono, profundo, reparando o cansaço de uma noite por dormir, em caminhada longa, de muitas léguas, uma chuva de fogachos tracejantes começou a varrer, alta, as copas das matas medonhas, pensávamos nós, para nosso bem… Vinha das corvetas do rio, por cima de nós. Lentamente, o fogo foi baixando, ameaçador. Não queríamos acreditar.

Por instinto, toda a gente saltou para o lado contrário dos muretes de lama que dividiam a bolanha, virados para a mata. Em boa hora o fizémos. O fogo destroçar-nos-ia, a todos, impiedoso.As balas explosivas rebentavam surdas nos muretes à nossa frente, terrificados, encharcando-nos de lama. De vez em quando eu dava uma mirada sobre o meu corpo a ver se ainda estava inteiro…

Um soldado, mais incrédulo ou apenas dorminhoco do sono profundo, não quis fazer o mesmo e foi, irremediavelmente, despedaçado ao meio da cintura…

O capitão Silva agarrou-se ao rádio, vociferando, desta vez com justiça, todos os impropérios que ele sabia e não sabia, a tentar avisar a marinha, assassina, de que éramos nós… a companhia 728, que ali estava. Em vão. A ordem era para desfazer todo o ser vivo que mexesse.

Um grande equívoco que poderia ter custado vidas sem conta. Para esquecer. Ninguém mais pregou olho nessa noite, inesquecível, até ao romper da manhã, a mais longa de sempre.

Tínhamos recebido já o baptismo, em fogo brando. Aquilo era a verdadeira confirmação, em brasa, ... de guerreiros.

Para compensação, no dia seguinte, fomos poupados, pelos altos comandos, a qualquer acção.

Dali regressámos, a pé, por bolanhas e bolanhas sem fim, na linha mais direita, até Catió, guiados pela bússola do capitão e o instinto felino do chefe João Bacar Jaló.

À porta de armas, virada a sul, lá estavam, à nossa espera, o comandante de Batalhão, mais o seu cortejo "das damas guerreiras, só de estufa". O simpático capelão, de ar compungido, a perguntar a cada um, como tinha corrido.
- Ó Sor Padre. Até rezei, caralho!... - exclamou-lhe, o ateu confesso, o furriel Cunha, o enviado do alferes Teixeira, “uma das tais damas de estufa” , responsável das transmissões.
- Diga palmeira, senhor - atalhou, o capelão, afável… meio a brincar, meio a sério.
- Até rezei, palmeira… palmeira? Palmeira, não... Até rezei, caralho! Assim é que foi… caralho. - Acrescentou o furriel, repondo a verdade dos factos.
- Está bem, palmeira !… - retorquiu, compreensivo e puro, o capelão, redondo, dentro da batina preta.

Uma bela bifalhada da vitela que o comandante de batalhão, na sua peculiar bonomia, mandara abater, de propósito, acompanhada de uma cerveja de litro, fresquinha, foi a melhor prenda daquela noite de glória …depois de um saboroso duche da água dos bidões.

Durante quinze dias, podíamos ficar descansados, à espera da próxima… Para onde seria?… Era sempre a tremenda incógnita.


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Notas de L.G.:


(1) Vd. posts anteriores:

22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo

11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar

1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG

20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia

2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo

20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo


(2) Sobre a batalha da Ilha do Como (1964), vd. posts de:

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964) (Carlos Fortunato / Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)


(3) Presumo que seja lapso do Mendes Gomes: deve ler-se lanchas de fiscalização grandes (LFG), não no Rio (Zona Leste), mas sim no Rio Cumbijã, no sul, na região do Cantanhez (vd. carta de Bedanda).