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segunda-feira, 22 de maio de 2006

Guiné 63/74 - P779: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (9): Fome em Campatá e Natal em Bafatá

Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > CCAÇ 2405 > 1969 > Dulombi > Na messe, os alferes milicianos Raposo (à direita) e Rijo (à esquerda); de costas, os furriéis milicianos Cândido e Magno.

© Paulo Raposo (2006)

IX parte do testemunho do Paulo Raposo (ex-Alf Mil Inf, com a especialidade de Minas e Armadilhas, da CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 > Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70 > Galomaro e Dulombi).Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 26-27 (1).


GALOMARO
Com este objectivo, a nossa companhia foi enviada para Galomaro, e aí abriu em estrela. Cada grupo de combate foi enviado para um local diferente para organizarmos as Tabancas em auto defesa.

Galomaro era uma terra pequena. Tinha um armazém abandonado de recolha de amendoim, que foi utilizado como caserna. Tinha também umas casas onde outrora eram recolhidos os leprosos, doença completamente irradiada, e tinha ainda uma casa comercial de um libanês, o Sr. Regala.

Ao meu grupo de combate calhou a Tabanca de Campata (2). Ali nos deixou a Companhia, por muito tempo e sem qualquer razão, sem comida. Durante cerca de uma semana, praticamente não tínhamos de comer. Dizia-me um soldado:
- Ó meu Alferes, a fome é negra!

Em face disto, fomos subtraindo galinhas e cabritos à população, que não os queriam vender por serem o único meio de subsistência que tinham.

Na falta do rádio e como não apareciam instruções da companhia, eu e outro rapaz metemo-nos à estrada de bicicleta, para pedirmos satisfações na sede da companhia.

Aquela situação trazia créditos para a Companhia pois vencíamos o valor da alimentação e nada recebíamos. Aqueles Sargentos!

Mais tarde, mandei construir um fomo, aonde o Baptista cozia o pão que nos sabia pela vida. Foi ali que comecei a sofrer com o isolamento. Nunca gostei de estar a nível do grupo de combate.

Um belo dia apareceu um heli: nele vinham o Brig Spínola, o Comandante do Sector [ de Bafatá]Ten Cor Hélio Felgas, o Capitão Almeida Bruno e o nosso Capitão [Jerónimo], vinham inspeccionar. A minha atrapalhação foi muita, perante tanta gente importante a visitar-nos. Depois de algumas perguntas, respostas e cortesias, seguiram viagem para a Tabanca seguinte.


O NATAL DE 1968

Foi em Campata que passámos o primeiro Natal na Guiné. O meu irmão, a pedido da minha mãe foi passar o Natal comigo. De avião em avião, chegou por fim a Bafatá, aonde solicitou autorização ao comando para eu passar aqueles dias com ele em Bafatá.

O Ten Cor Banazol, que comandava o Batalhão que ali estava sediado, fez deslocar uma auto metralhadora Panhard para me ir buscar. Alugámos um quarto e, entre o cinema, os passeios e a Messe, assim passámos o Natal.

Bafatá era uma cidade sem guerra, tinha piscina, mercado e algum ... comércio. E não estava cercada por arame farpado. O meu irmão não dormiu muito descansado naqueles dias. Durante esta curta estada em Bafatá, encontrei um rapaz de Fronteira que tinha sido meu recruta em Elvas.

Como na Tabanca de Campata não havia electricidade, nunca se podia beber nada fresco. E foi assim que comprei um frigorífico a petróleo por 5.000$00. Este frigorífico andou sempre comigo até ao fim da comissão, e mais tarde vendi-o, pelo mesmo valor, a um Furriel da nossa companhia, que era de Bissau, de etnia papel (3).

Para funcionar bem este frigorífico tinha de ter a torcida sempre muito bem aparada e não podia estar queimada. Era uma preocupação permanente. O meu amigo João Saldanha, que estava em Bissau na Intendência, sempre me valeu, mandando-me as torcidas para substituição. A manutenção do frigorífico e a gestão das bebidas frescas estava totalmente a cargo do meu impedido, o Figueiredo.

_____________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 19 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCLXXIV: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (8): A ida para o leste

(2) A meio caminho, do lado direito, na estrada Galomaro-Dulombi.

(3) Vd. post de 9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

(...) "O furriel Cabral foi-nos mandado para substituir o furriel vagomestre, uns meses antes falecido em acidente de viação na estrada de Galomaro-Bafatá numa viagem de reabastecimento de viveres à nossa Companhia…

"O Cabral era uma jóia de pessoa, simpatiquíssimo, um tanto ingénuo e crédulo, sempre bem disposto e que rapidamente granjeou a estima de todos. Natural de Bissau, de etnia papel, um verdadeiro e retinto preto da Guiné…

"Estudara em Lisboa, e, incorporado no exército, fez o curso de sargentos milicianos até que foi promovido a furriel e mobilizado, em rendição individual, para a Guiné, sua terra natal…

"Calhou-lhe em sorte (ou azar…), ser destacado para a nossa Companhia numa altura em que já tinhamos cumprido um ano e meio de comissão" (...).

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7057: (Ex)citações (98): Ninguém ama a sua Pátria por ser grande / Mas sim por ser sua! (António Botto / José Martins)

1. Comentário de José Martins [,ex-Fur MIl Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70, foto à direita,] ao poste P7021 (*)


Caro Juvenal

Parecido, mas só parecido, junto um de António Botto, e sem desprimor para o poeta, apenas «pode» completar o teu:

Ó Pátria mil vezes santa,
-Meu Portugal, minha terra,
Onde vivo e onde nasci!

Na tua História me perco, 

e nela tudo aprendi.

Mesmo que fosses pequena
E eu te visse pobre e nua, 

- Ninguém ama a sua Pátria por ser grande,
Mas sim por ser sua!



António Botto (1897-1959) 

In
As Canções de António Botto, 18ª ed. Lisboa: Presença. 1999, p.111.


(Fixação / revisão de texto / título: L.G.)


_____________


Nota de L.G.:


(*) Vd. poste de 

21 de Setembro de 2010 > 
Guiné 63/74 - P7021: Blogoterapia (158): A Nossa Pátria (Juvenal Amado)

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7432: Estórias avulsas (45): Reabertura da picada Galomaro-Duas Fontes-Saltinho (António Tavares)

Galomaro > António Tavares no Gabinete de Reabastecimentos do BCaç 2912


1. Mensagem de António Tavares* (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), com data de 12 de Dezembro de 2010:

Caro Vinhal,
A picada para o Saltinho via Galomaro-Duas Fontes tinha sido abandonada pelo BCaç 2851 após vários problemas criados pelo terreno e o INIMIGO.

O BCaç 2912 reabriu a picada (era a bandeira dos nossos Comandos) e após os trabalhos possíveis chegou o dia da coluna de reabastecimentos à CCaç 2701 que foi um fracasso total com viaturas civis e militares atoladas, viradas, feridos, mantimentos roubados, inutilizados... um caos em custos materiais e monetários que felizmente não se traduziu em perdas humanas nem contacto com o IN.

Foi a primeira e última coluna de reabastecimentos, pelo BCaç 2912, nesta picada, que eu, o Sargento de Reabastecimentos, felizmente não participei naquela aventura.

Esta picada foi "utilizada" pelo BCaç 2851, BCaç 2912, BCaç 3872, e por todos teve de ser abandonada.
Os reabastecimentos continuaram pelo difícil triângulo Bambadinca-Xitole-Saltinho.


Em Galomaro (1970/72), trabalhei bastante com a logística desta coluna comandada pelo Alf Mil Reabastecimentos, Jesus, do BCaç 2912, dada a importância do acontecimento e reabertura desta picada para o COSSÉ …tinha que se dar pompa.

As viaturas civis eram alugadas em Galomaro, duas a Francisco A Regala, e Bafatá. Havia recomendações do COMCHEFE para o aluguer da viatura de um Guinéu que tinha perdido outra viatura numa emboscada entre Bafatá e Nova Lamego.

As viaturas eram pagas ao quilómetro, que para o mesmo percurso variavam, isto é, o percurso, por exemplo, entre GALOMARO-BAMBADINCA podia ser pago ao custo (?) no total de 40 ou 50Kms, cada viagem, conforme a aprovação do COMCHEFE em Bissau.

Reclamações não faltavam dos camionistas! Nos casos mais aberrantes reclamávamos ao COMCHEFE justificando as distâncias pelos mapas cartográficos mas quase sempre em vão!

Coitados, tinham de aceitar de cara alegre as incongruências da tropa!

Quem estava nos Comandos em Bissau é que “sabia”, ”sentia”, ”gozava” os dissabores das tropas nas matas.

Brincávamos com o Alf Mil Jesus, dizendo-lhe que tinha sido ele a dar azar porquanto pela sua primeira viagem a comandar uma coluna de reabastecimentos, JESUS não tinha dado a bênção ao Jesus para levar tudo em condições a bom porto, leia-se CCaç 2701, no Saltinho.

HERÓIS, desta teimosia (todos sabiam as adversidades para vencer aquele terreno) dos Comandos na reabertura da picada, foram os HOMENS do BCAÇ 2912 que trabalharam com abnegação na reconstrução da picada, mas o recompensado… o Comandante do Batalhão que foi louvado pelo COMCHEFE.

Pessoal da Secção de Reabastecimentos. Da esquerda para a direita: Soldado Condutor Auto Matias, 1.º Cabo Castiço, Fur Mil Tavares, Alf Mil Jesus e Major Sousa Teles, 2.º Comandante do Batalhão.

Um abraço
António Tavares
ex-Fur Mil SAM
Foz do Douro
11 de Dezembro de 2010
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 13 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7278: Estórias avulsas (99): Flora e Fauna de Galomaro (António Tavares)

Vd. último poste da série de 30 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7193: Estórias avulsas (98): Memórias de uma noite terrível em Canquelifá – 1971 (Francisco Palma)

sexta-feira, 1 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11177: Para que a memória não se perca (4): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Quarta e última parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se prolongou por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (4)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW 


Operações militares no Xuro em 1914
Foi no dia 12 de Dezembro de 1913 que as gentes de Xuro se insurgiram contra as autoridades provinciais, assassinando o Administrador de Cacheu, Alferes Nunes, assim como tomaram o motor “Cacine”, trucidando parte da sua tripulação.
Ao tomar conhecimento desta insurreição, o governo manda organizar uma coluna para se dirigir para o Cacheu, que, sob o comando do Capitão João Teixeira Pinto, era constituída por um 1º Sargento e 40 praças de infantaria, 15 praças de cavalaria do pelotão de policia rural, uma peça de 7 c. e respectiva guarnição e 200 indígenas auxiliares.
A força, que se encontrava em Cacheu a 2 de Janeiro de 1914, ruma ao Xuro e, depois de uma marcha de cerca de 8 horas, sempre debaixo de fogo, acampa pelas 21H30, reiniciando a marcha no dia seguinte, até ao local onde foi assassinado o Alferes Nunes, assim como a “Cacine” destruída.
Os revoltosos já se tinham retirado para Bagulho, para onde se dirigiu a coluna, para lhes dar combate e destruir a povoação.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe, Alferes do Quadro Auxiliar de Artilharia António Maria, 2º Sargento de Infantaria José Francisco Alhandra, 2º Sargento Enfermeiro Manuel Gomes Garcia, 1º Cabo de Infantaria João Rodrigues Faria e Soldado Casino.

Forças que constituíam uma coluna
© Foto: José Henrique de Mello

Operações contra os balantas de entre Mansoa e Geba em 1914 
Havendo necessidade de lançar uma ponte sobre o Rio Banubi, encarregaram o Alferes Manuel Augusto Pedro para escolher o local adequado a tal obra. Assim, em 5 de Fevereiro de 1914, o citado subalterno saiu de Mansoa à frente do seu pelotão para dar cumprimento à missão de que tinha sido encarregado.
Enquanto a patrulha desenvolvia a sua missão, foi a mesma atacada por numerosos balantas das tabancas de Braia e Banubi em tal numero que, além do comandante foram mortos os 1º Cabos António Pereira, os 1º Cabos Ferrador António Augusto de Sá Morais e Francisco Martins, assim como 15 Soldados indígenas que faziam parte da força. Foi o ataque levado até ao extremo, visto que até os cavalos foram todos abatidos.
O tiroteio foi ouvido em Mansoa, cujo comandante mandou sair uma força, comandada por um sargento, com o propósito de colher informações sobre o sucedido, tendo encontrado dois, dos seis soldados, que tinham escapado à chacina, que informou o comandante da patrulha do sucedido.
Mesmo consciente do risco que corria, dada a força diminuta de que dispunha, o 2º Sargento Romualdo Anastácio Lopes, tomou a decisão de se deslocar ao local daquela ocorrência para recolher os corpos dos camaradas tombados. Tendo sido atacado pelos revoltosos, respondeu ao tiroteio conseguindo repelir o ataque de que foi alvo. No local apenas pode recolher os corpos do 1º Cabo António Pereira, do 1º Cabo Ferrador António Augusto de Sá Morais e de um Soldado indígena, já que com a subida da maré os restantes corpos ou se encontravam cobertos pela subida das águas ou tinham sido arrastados. Recolheu os despojos dos camaradas e regressou ao quartel.
Perante estes factos, o Capitão João Teixeira Pinto organiza uma coluna que, sob o seu comando, inicia uma operação, que se prolongará por seis meses, fazendo guerra implacável e sem quartel aos autores e apoiantes do ataque sofrido, destruindo tabancas, mesmo aquelas que se supunham ser inexpugnáveis.
Toda a operação foi apoiada pelas canhoneiras “Zagalo” e “Flecha”.

Pelotão de Companhia Indígena 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Um 1º Sargento, no comando de 30 Praças da 2ª Companhia Indígena da Infantaria da Guiné;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 37 Praças da guarnição do Posto de Bissoram;
• Tenente Artur Sampaio Antas, no comando de 53 Praças da guarnição do Posto de Mansoa;
• Capitão Médico Cristóvão Joaquim do Rosário Colaço;
• Mamadu-Sissé, comandando 200 homens de guerra;
• Abdul-Injai, comandando 500 homens de guerra;
• 60 Irregulares a cavalo, que foram utilizados no serviço de exploração;
• Canhoneiras “Zagaia” e “Flecha” da Marinha de Guerra.

Distinguiram-se e foram louvados: 
Comando:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto;
• Armada:
o 2ºs Tenentes Artur Arnaldo do Nascimento Gomes e Raul Queimado de Sousa; 1º Artilheiro José Ferreira e 2º Artilheiro António Ferreira; 1º Fogueiro Domingos Moreira e 2º Fogueiro José Maria;
• Exército de Terra:
o 1º Sargento de Artilharia Alberto Soares; 2ºs Sargentos Vilaça, José Augusto Ribeiro, José Rodrigues Faria e Romualdo Anastácio Lopes.
• Civis:
o Vergílio Acácio Cardoso, administrador de Bissau.
• Auxiliares:
o Mamadu-Sissé, promovido a Alferes de 2ª Linha,
o Abdul-Injai, promovido a Tenente 2ª Linha.


Operações contra grumetes e papeis da ilha de Bissau em 1915
Chamar os indígenas, mesmo os grumetes e papéis da zona de Bissau, ao convívio e à civilização, ou mesmo à subordinação á nossa autoridade, era tarefa difícil.
Os desacatos eram frequentes e, até os soldados da guarnição de Bissau, eram desfeiteados já que as populações não permitiam que lhes fossem arroladas as moranças, para lhes ser cobrado o respectivo “imposto de palhota”.
Perante a situação, o governo da província entende organizar uma coluna para castigar os insubmissos e conseguir a cobrança dos impostos, o que efectivamente foi conseguido, embora à custa de grandes combates em Intim e Bandim, não só na marcha sobre Sanfim e no ataque à tabanca do régulo de Biombo, fazendo frente a uma força inimiga mais poderosa, aguerrida e bem armada, não evitando que centenas de baixas entre o gentio.
Exército de Terra:
Oficiais e forças presentes:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitães Médicos Francisco Augusto Regala e Alfredo Vieira;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra, Alfredo Fernandes de Oliveira, António José Pereira Saldanha e Agostinho do Espírito Santo;
• Tenente Médico Gonçalo Monteiro Filipe;
• Tenente Farmacêutico Armando de Miranda Abelha;
• Alferes Joaquim Marques;
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.
Serviço de Saúde:
• 1 Sargento e 1 Soldado;
Artilharia da Guiné:
• 2 Sargentos e 10 cabos e soldados;
Guarnição da Fortaleza de Bissau:
• 2 Sargentos e 45 Cabos e Soldados;
Secção de Artilharia da Guiné:
• 55 Cabos e Soldados;
1ª Companhia Indígena:
• 4 Sargentos e 72 Cabos e Soldados;
2ª Companhia Indígena:
• 2 Sargentos
Secção de Depósito da Guiné:
• 2 Artífices:
Companhia de Saúde da Guiné:
• 6 Sargentos e 3 Soldados;
Auxiliares:
• 1500 Irregulares
Armada:
Oficiais e forças presentes:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa e Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira;
Canhoneira “Cacheu”:
• 1 Sargento e 8 Praças;
Canhoneira “Flecha”:
• 7 Praças;
Delegação Marítima de Bissau:
• 1 Oficial;

Coluna em tempo de descanso 
© Foto: José Henrique de Mello 

Distinguiram-se e foram citados os oficiais, praças e civis indicados:
Exército de Terra:
• Major José Xavier Teixeira de Barros;
• Capitães de Infantaria João Teixeira Pinto e António Sérgio de Brito e Silva;
• Capitão Médicos Francisco Augusto Regala;
• Tenentes Henrique Alberto de Sousa Guerra e António José Pereira Saldanha;
• 1ºs Sargentos Alberto Soares, António Ribeiro Vilaça, José Rodrigues Faria, João Baptista Lobo
• 2ºs Sargentos José Jacinto, João Rodrigues e José Batista Ramos Júnior (Serralheiro Ferreiro);
Armada:
• 2ºs Tenentes José Francisco Monteiro e Raul Queimado de Sousa;
• Guarda Marinha Auxiliar António José Pereira; •
Cabos Álvaro Pereira e António Germano (Fogueiro)
Civis e Auxiliares:
• Félix Dias, Jorge Karam, Carlos Cabral Adelino, Torquato Leandro Dias, João José da Costa Ribeiro e André Gares (francês);
• Tenente de 2ª Linha Abdul-Injai;
• Alferes de 2ª Linha Mamadu-Sissé.


Operações em Bijagós em 1917 
Nos Bijagós, o gentio da ilha de Canhamaque revolta-se, obrigando o governo provincial a decretar o estado de sítio e enviando uma força para repor a ordem pública. Além do castigo que devia infringir aos revoltosos, simultaneamente a força encarregar-se-ia de estabelecer postos militares, para garantir o domínio do arquipélago.
As forças enviadas para os Bijagós levaram a bom termo a missão de que tinham sido incumbidas, apesar de terem feito uma campanha de cerca de oito meses, tendo tomado as tabancas de Inorei e Meneque e, a partir delas, subjugar os rebeldes e instalar postos militares em Bine e In-Orei.
As grandes dificuldades encontradas pelas nossas forças foram a densidade de mato, de onde eram atingidos, além de terem sofrido uma epidemia de beribéri, o que levou a muitas baixas entre as forças empenhadas na missão.

Destruição de tabanca 
© Foto: José Henrique de Mello 

Tomaram parte nas operações, as seguintes forças:
• Comando do Major Carlos Ivo de Sá Ferreira;
• Uma Companhia Indígena de Infantaria, sob o comando do Tenente Eduardo Correia Gaspar, auxiliado pelos Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Um troço de auxiliares do chefe de guerra e oficial de 2ª linha Mamadu-Sissé, sob a direcção do Tenente Alberto Sousa Guerra;
• Serviços administrativos chefiados pelo Tenente de Administração Militar A. M. Horácio de Oliveira Marques.
Distinguiram-se e foram louvados:
• Alferes Cipriano Pereira e Alberto Torres;
• Sargentos Henrique Valente, Salvador Cipriano Ferreira e Vasco Pinto Fernandes;
• Administrador da circunscrição Tenente Jaime Augusto da Graça Falcão.


Operações de Policia na região de Baiote em 1918
O posto de Cassalol, na região dos baiotes, foi atacado pelos indígenas das povoações de Varela e Catão, em 19 de Outubro de 1918.
Nomeada uma coluna para fazer frente às hostilidades, entrando em combate com os revoltosos no dia 20, provocando-lhes inúmeras baixas, pelo que retirou para Cassolol, onde ficou até 1 de Novembro, para receber os grandes das povoações castigadas.
Após a apresentação dos vencidos às autoridades, a força retirou para Bolama, sendo dissolvida no dia 4 de Novembro.

Um régulo e a sua comitiva 
© Foto: José Henrique de Mello 

Composição da coluna:
• Comando do Capitão de Infantaria António Albino Douwens;
• Estado-maior com o Capitão António José Pereira Saldanha e Alferes António Alves Fernandes;
• 1ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 2 sargentos e 61 cabos e soldados;
• 2ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné, com 1 sargentos e 22 cabos e soldados;
• Secção de Depósito da Guiné com 2 soldados;
• Companhia de Saúde da Guiné com 1 sargento e 1 soldado.


Operações de Policia na área do Comando Militar de Bissoram e circunscrição civil de Farim em 1919
Circunscrição de Farim – região do Comando Militar de Bissoram: Declaração do estado de sítio em Julho de 1919, em virtude de Abdul-Injai, régulo de Oio, se ter declarado em aberta rebelião, depois de três anos de abusos de autoridade, situação que o governo desculpou, face aos significativos serviços prestados, pelo mesmo, a Portugal nos muitos combates que travou na Guiné, demonstrando uma valentia e lealdade impar.
Pelos seus serviços a Portugal e à Guiné, foi promovido a Tenente de 2ª Linha, foi-lhe dado o regulado do Oio e, sendo chefe incontestado pela sua gente, foi um grande auxiliar do Capitão Teixeira Pinto e Tenente Sousa Guerra que, apoiado pelas suas gentes, auxiliou muito o governo da província a pacificar aquelas terras.
A causa próxima do estabelecimento do estado de sítio tem as suas origens em Abril de 1916, altura em que o régulo Abdul-Injai começou, com prepotência, a aplicar multas aos chefes da povoações limítrofes das usas, fazendo exigências várias, entre as quais, trabalhar nas sua terras sem direito a qualquer pagamento.
Tendo em conta a sua “folha de bons serviços”, foi sendo aconselhado a alterar a sua posição, não só em relação à administração mas também em relação aos povos seus vizinhos. Estes avisos e/ou conselhos não só não surtiram efeito como agravaram a situação, o que levou Abdul-Injai, em Abril de 1919, a atacar com a sua gente a povoação de Solinto-Tiligi e, em 29 de Maio do ano de 1919, apoderou-se das espingardas que a administração havia distribuído às populações do Cuhor.
Como condição para proceder à devolução das armas, exigia uma indemnização de 40 contos, além da percentagem de 10% do imposto de palhota cobrado em Mansoa, Oio, Costa de Baixo e Bissau.
A aceitação destas condições colocaria, o governo da província, em situação de subalternidade, levaram à constituição de uma coluna de polícia que, em 3 de Agosto de 1919, entrou em combate com as forças revoltosos, tendo aprisionado Abdul-.Injai e os seus mais directos colaboradores, que foram desterrados para Cavo Verde.
Abdul-Injai viria a falecer pouco tempo depois, terminando assim a vida de um aventureiro que prestou relevantes serviços à Guiné, mas também lhe criou grandes problemas, obrigando à adopção de medidas extremas para contrariar a sua atitude.
Nesta operação perdeu a vida o Alferes Afonso Figueira e 9 dos seus soldados.

Condensação de:
José Marcelino Martins
12 de Fevereiro de 2013
____________

Nota do editor:

Vd. postes anteriores de:

23 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11143: Para que a memória não se perca (1): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)
e
27 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20541: Questões politicamente (in)correctas (48): Op Cabeça Rapada I, II, III e IV, no setor L1 (Bambadinca), março-maio de 1969: mobilizados milhares de civis, recrutados pela administração do concelho de Bafatá... Não sabemos se foram "voluntários" e "devidamente remunerados"... (Luís Graça / Torcato Mendonça / Albano Gomes / Carlos Marques Santos)



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada (1)

Foto do álbum do Albano Gomes, que vive em Chaves, e que foi 1º cabo op cripto, CART 2339 (Mansambo, 1968/69).

Foto (e legenda): © Albano Gomes (2008). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada (2)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada (3)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca( > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 > Op Cabeça Rapada I > Milhares de nativos são requisitados pela administração do concelho de Bafatá para capinar a estrada de Bambadinca - Mansambo - Xitole (cerca de 30 Km), de um lado e de outro, numa faixa (variável) de 100 a 200 metros.

Fotos do álbum de Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Dada ordem, pela administração de Bafatá,  de mobilização de milhares de nativos para os trabalhos de desmatação das orlas da floresta na estrada Bambadinca-Xitole (e depois Bambadinca-Xime). Aqui na foto, forças da CART 2339 (Mansambo, 1968/69).


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 >  Estrada Bambadinca - Mansambo >  Op Cabeça Rapada: a espingarda, a enxada, a pá, a picareta, a maceta...



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 >  Estrada Bambadinca - Mansambo >  As catanas a funcionar


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Mansambo > CART 2339> Março / Maio de 1969 >  Estrada Bambadinca - Mansambo >  Aspecto do trabalho de desmatação.


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CART 2339 > Estrada Bambadinca - Mansambo > Montando a segurança às brigadas de trabalhadores.

Fotos do álbum do Carlos Marques Santos (1943-2019), ex-fur mil, CART 2339 (Mansambo, 1968/69)

Fotos (e legendas): © Carlos Marques dos Santos  (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) >  Estrada Bambadinca . Mansambo - Xitole > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70 > Fotos do álbum de Jaime Machado,  duas imagens que falam por si e que documentam a participação das velhinhas Daimlers na escolta de segurança a colunas logísticas bem como a colunas de transporte de tropas e civis, incluindo a participação na Op Cabeça Rapada.
  . 
Fotos (e legendas): © Jaime Machado  (2006). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complemementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Operação Cabeça Rapada I, III e  III  (Estrada Bambadinca- Mansambo - Xitole, março-maio de 1969) e IV (Bambadinca - Xime, maio de 1969)



1. Comentou o nosso editor LG, no poste P20538 (*)

(...) Morreu muita gente [, na guerra da Guiné, entre 1961 e 1974,] e não vem nas estatísticas...da "guerra". Morreram muitos civis,  de um lado e do outro... Estes estivadores [, ao serviço da Intendência, mortos em de março de 1974, em Cufar], por exemplo: quem eram ? A Intendência devia ter, pelo menos, uma folha de pagamentos com os seus nomes...

E os "carregadores" do PAIGC, nas chamadas "regiões libertadas" ?... Era trabalho "revolucionário"..., tão "forçado" como o das populações que eram arrebanhadas, pelos régulos e pelos administradores, para "capinar" as bordas das estradas...e outros "trabalhos públicos".

Isto ainda acontecia no nosso tempo: 1969, no 1º ano do consulado de Spínola!... No Setor L1 (Bambadinca), houve um operação de capinagem, no 1º semestre de 1969, que envolveu... muitos milhares de civis! Op Cabeça Rapada, I, II, III e IV... E lembro-me de, em certas operações, levarmos civis para carregar jerricãs de água e granadas (de bazuca e de morteiro)... Por ex., na Op Tigre Vadio, março de 1970...

No caso da Operação Cabeça Rapada, os capinadores foram "recrutados" de entre as populações Fula, Mandinga e Balanta de Badora (e talvez do Corubal).

2. A propósito da Op Cabeça Rapada, escreveu o Torcato Mendonça (ex-alf mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (**):

"Operação Cabeça Rapada: uma mente, com um QI superior, resolveu juntar talvez milhares de africanos e capinar, limpar toda a vegetação, de ambos os lados da estrada Bambadinca/Mansambo, nos locais onde o IN atacava com mais frequência. Talvez 20 a 50 metros de cada lado.

A madeira cortada ficou empilhada na zona final do corte. Resultado: fizeram abrigos para o IN e limpámos-lhe o campo de tiro.

Palavras para quê? Eram artistas portugueses.

Atenção junto a aquartelamentos e em determinadas zonas foi positivo."

3. Notas de TM / LG:

As foto e as legendas. acima reproduzidas, referem-se à Operação Cabeça Rapada I, iniciada em 26 de março de 1969, às 5  horas da manhã, com duração de 2 dias e envolvendo cerca de 7000 nativos. Foram trabsportados em camionetas dos comerciantes da região: os Rodrigo Rendeiro, de Bambadinca, os Regala, de Galomaro,  os Jamil Nasser, do Xitole... E traziam as suas próprias alfaias agrícolas... Nem a administração de Bafatá nemo BCAÇ 2852 tinham catanas para tanta gente...
 
Na história do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70), diz-se que a operação foi para montar segurança aos trabalhos de desmatação, de 200 metros para cada lado (!), do itinerário Bambadinca - Mansambo, compreendido entre Samba Juli e Mansambo.

Esta operação envolveu 3 destacamentos, num total de 14 Gr Comb (cerca de 400 homens em armas):

(i) Destacamento A: CCAÇ 2405, a 2 Gr Comb  + 2 Gr Comb da CCS/BCAÇ 2852, o Pel Caç Nat 53 e o Pel Caç Nat 63:

(ii) Destacamento B: CART 2339, a 3 Gr Comb +  CART 1746, a 2 Gr Comb  + 2314, a 2 Gr Comb

(iii) Destacamento C: Pel Mil 103, 104 e 145.

Em 8 de março (e até 18) tinha havido a Op Lança Afiada, envolvendo 1300 efetivos (entre tropa e carregadores civis)… Era necessário dizer ao PAIGC: "A população está connosco"…

Não houve contacto com o IN...

Em 9 de abril desenrolou.se a Op Cabeça Rapada II, com duração de dois dias. O objetivo era novamente montar segurança aos trabalhos de desmatação a cargo da administração do concelho de Bafatá.

O itinerário escolhido, desta vez,  foi Mansambo / Ponte dos Fulas. Envolveu "2150 nativos" (sic).

Em 30 de abril e até 2 de maio, teve lugar a Cabeça Rapada III: não está descrita na história do BCAÇ 2852:  o itinerário escolhido foi Bambadinca, Candamã, Galomaro e Samba Cumbera. 

A 3 de maio, com início às 3 da manhã, houve ainda  a Op Cabeça Rapada IV, com duração de 3 dias, para desmatar o intinerário Bambadinca - Xime.

Neste caso, foram envolvidos  cerca de 150 homens em armas, ou sejam, 2 Gr Comb / CART 1746  + 2 Gr Comb / CCAÇ 2405 + 1 Gr Comb / CART 2413 + Pel Rec Daimler 2046 (comandado pelo camarada Jaime Machado)..

Também não houve contacto. Não é referido o número de civis recrutados. Mas também terão sido da ordem das centenas ou milhares

"A população envolvida era Fulas e Mandingas. Os Balantas estiveram e muito bem, como carregadores, integrados na minha Companhia, na Op Lança Afiada. Um dia contarei…Tanta estória…" (Torcato Mendonça)


4. Comentário do editor LG (***):

É um número impressionante de trabalhadores  de etnia fula e mandinga, mas também  balanta, naturais dos regulados de Badora (e talvez do Corubal). Desconheço se foram recrutados "voluntariamente" e "devidamente pagos"... É muito provável que tenham sido apenas pagos em "géneros": arroz... A tradição da administração colonial, antes do início da guerra, e teoricamente até pelo menos a 1961, era a do "trabalho forçado", puro e duro... (****)

Recorde-se que, segundo a História do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/69), "a população de um modo geral é-nos favorável [no sector L1], sendo de destacar o regulado de Badora que tem como Chefe/Régulo um homem de valor e considerado pela população como um Deus (sic). Esse homem é o Tenente Mamadu, já conhecido no meio militar pelos seus feitos valorosos e dignos de exemplo. Da outra população [balantas, beafadas e mandingas...] fortes dúvidas se tem especialmente as dos Nhabijões, Xime e Mero" (Cap. II, pag. 1).

Conheci o tenente de 2ª classe, régulo e chefe máximo das milícias de Badora. O apontamento do escriba castrense da BCAÇ 2852 é manifestamente exagerado: acho que o Tenente Mamadu era respeitado e sobretudo temido pelos seus súbditos, mas é manifestamente grosseiro, etnocênctrico e até ofensivo dizer que a população, muçulmana, o "considerava como um Deus"...Convenhamos que é uma figura de estilo"... 

O administrador do concelho de Bafaté e o régulo de Badora eram, na altura, figuras poderosas, com capacidade para recrutar milhares de braços...

Recorde-se que, segundo a Convenção nº 29 da OIT - Organização Internacional do Trabalho (adotada em 1930, e ratificada por Portugal em...  1956)), trabalho forçado ou obrigatório é todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de uma sanção e para o qual a pessoa não se ofereceu espontaneamente (nº 1 do artº 2ª)...Mas depois havia as exceções do nº 2 do artº 2º...


5. Texto (excertos) do Carlos Marques dos Santos (ex-fru mil, CART 2339, Mansambo, 1968/69) (*****),  receém falecido, no final do ano:

Prenúncio da abertura definitiva da estrada Bambadinca - Mansambo Xitole, intransitável desde novembro de 1968 a 4 de agosto de 1969 (Op Belo Dia).

[Recorde-se que desde novembro de 1968 o itinerário Mansambo-Xitole estava interdito. Nessa altura, uma coluna logística do BCAÇ 2852, no regresso a Bambadinca, sofrera duas emboscadas (uma das quais, a primeira, com mina comandada), a cerca de 2 km da Ponte dos Fulas, na zona de acção da unidade de quadrícula aquartelada no Xitole [não era ainda CART 2413, mas sim a CART 2339]. A coluna prosseguiu com apoio aéreo. Nove meses depois, fez-se a abertura desse itinerário, mais exactamente a 4 de Agosto de 1969. Na Op Belo Dia, participou o 2º Gr Comb da CCAÇ 12 com forças da CART 2339 (Mansambo), formando o Destacamento A"... (LG)]

Haverá concerteza alguns dos tertulianos que estiveram envolvidos nesta série de operações... Então relembremos:

Nós, CART 2339, especialmente na segundo Operação [Op Cabeça Rapada II], vibrámos com o movimento. Espantoso: caldeirões de arroz (meio bidão de gasóleo, em fogueiras espalhadas pelo aquartelamento, movimento de viaturas e homens, um barulho ensurdecedor, homens deitados por tudo o que era sítio, em suma,  uma anarquia bem controlada).

Passemos à exposição dos factos:

Op Cabeça Rapada I: em 25 de março de 1969, uma semana depois da Op Lança Afiada, inicia-se a primeira Op Cabeça Rapada, com a duração de 2 dias, no itinerário Bambadinca/Mansambo.

Picagens, seguranças de flanco, etc. Trabalhos de nativos em desmatação das bermas da estrada. Estava dado o pontapé de saída, para maior segurança nas deslocações na estrada Bambadinca/ Xitole. Mas, do nosso ponto de vista, maior exposição à observação IN.

Em 5 de abril inicia-se o aperfeiçoamento na desmatação do itinerário Bambadinca/ Mansambo, o mesmo acontecendo nos dias seguintes, 6, 7 e 8 de abril, sempre das 6.00h às 17.00h (nota jocosa: em horário de expediente).

Op Cabeça Rapada II

Em 9 de Abril, às 5.40h, inicia-se com a duração de 3 dias a Op Cabeça Rapada II, no itinerário Mansambo/ Ponte dos Fulas. (....)

Foi efectuada a picagem e estacionamentos laterais, para segurança, no sentido Mansambo / Ponte Fulas, antes e durante os trabalhos.

Foram detectadas 2 minas A/P e uma A/C, mas sem incidentes (...) O trabalhos envolveram 2150 trabalhadores nativos, que dormiram e comeram em Mansambo, tendo a segurança ficado montada de noite no itinerário.

Em 10 de abril de 1969 retomam a actividade, pela manhã, tendo os trabalhadores sido recolhidos em Mansambo ao final do dia, regressando ao seus destinos.

Às 18.00h, desse dia, os vários destacamentos militares regressam a Mansambo e aguardam a sua vez de regressar aos quartéis, sem incidentes, com muitos vestígios. (...)

No dia seguinte, a 3 de maio, a CART 2339 estava envolvida em nova operação, a Op Espada Grande, iniciada às 00.00h e terminada - para a CART 2339 - às 8.00h do dia 4 (Galo Corubal e Satecuta) (...).

Não havia tempo para descansar. As acções de segurança e combate iriam prosseguir. (...) 
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Notas do editor:



Vd. também poste de 27 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9541: Nós da memória (Torcato Mendonça) (12): Cabeça Rapada - Fotos falantes IV

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5041: Estórias do Juvenal Amado (23): O velho milícia

1. Mensagem de Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74, com data de 30 de Setembro de 2009:

Caros Carlos, Luis, Virgínio, Magalhães e restante tabanca.

Esta é uma estória sobre a nossa passagem por Galomaro.
Não consegui confirmar que o nome dele seja efectivamente Mamadú, mas penso que ele é do tempo dos camaradas que estiveram na área antes de mim.

Aproveito para enviar algumas fotos da tabanca.

Na foto aérea que foi tirada no sentido de Bafatá na direcção do Dulombi. Do lado esquerdo vê-se a pista, do lado direito uma fiada mais escura são as grandes árvores que ladeavam o caminho de Cansamba, Duas Fontes, Dulombi, Bangacia, Campata e Saltinho.

Também junto à casa grande com quatro pequenas, à direita destas mal se vê, penso que seja o famosíssimo Regala.

Um abraço para todos
Juvenal Amado


O VELHO MILICIA

Boina castanha debotada, olhar como quem olha para além de nós, o Mamadu acariciava a espingarda, como quem fazia festa a um neto.

Sentava-se à porta de sua palhota, mascava incessantemente alguma coisa e de tempos a tempos mandava uma daquelas cuspidelas, que velozes atingiam dois ou três metros. A saliva saía com um barulho particular dos seus lábios apertados.

A idade era indefinida, pois para nós miúdos de 22 anos, um homem com 50 ainda por cima africano era um velhote.

Muito magro e alto, caminhava lentamente casaco de camuflado demasiado largo e calções feitos a partir de umas calças da farda n.º3.
Era a indumentária constante do velho milícia de Galomaro.

Às nossas perguntas sobre os anos de guerra, respondia com um sorriso melancólico e indefinido.

Corria a estória que no passado ele tinha abatido 6 guerrilheiros num ataque a Cossé.
Falava-se que por isso tinha a cabeça a prémio.

Às nossas perguntas como tinha sido, respondia fazendo uma espécie de mímica, agachava-se apontava a hipotético inimigo e seis vezes premia o gatilho. O seu pouco vocabulário de português, era assim complementado com os gestos, acabando a sua narração batendo levemente na G3, dando assim a entender que tinha sido com aquela mesmo, que tinha cometido o feito que lhe era atribuído.
Depois disso mais uma cuspidela, a conversa morria ali sem mais demoras.

Não sei o que lhe terá acontecido após a independência, se não fugiu, possivelmente foi morto, o que se lamenta, a ser verdade ter a cabeça a prémio.

Juvenal Amado

Tabanca de Galomaro

Vista aérea de Galomaro

Padre Nuno na tabanca de Galomaro

Fotos: © Juvenal Amado (2009). Direitos reservados.
Editadas por CV
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4983: (Ex)citações (47): Sexo e amor em tempo de guerra (Juvenal Amado / S.N.)

Vd. último poste da série de 30 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4884: Estórias do Juvenal Amado (22): O que será na verdade a coragem

sábado, 12 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22276: Os nossos seres, saberes e lazeres (455): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (2) Na Sertã, no dia em que aqui recebi a primeira dose da vacina (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 5 de Maio de 2021:

Queridos amigos,
Foi um dia em cheio, passeou-se a preceito, a vacina não fez mossa, nem um simples ardor no braço, por ali se andou vivaço, subindo e descendo, sabendo de ciência certa que muito mais fica para ver quando se vier à segunda dose. Não se esconde o quanto se gosta desta região do chamado Pinhal Interior, presta-se homenagem aos edis que procuram a todo o transe embelezar este rincão de grande património vegetal, cuja importância para a História de Portugal se foi diluindo, aqui batalharam ordens militares em tempos da formação do país, há muito mais do que património natural, basta consultar o roteiro turístico da Sertã para perceber que não é digno de uma visita de médico. Há muito para ver, tudo farei para vos mostrar o ateliê de Túlio Victorino e o Seminário das Missões em Cernache do Bonjardim. Há capelas merecedoras de visita, há belas pontes, pelourinhos, Pedrógão Pequeno é uma aldeia de xisto e não se faz favor nenhum em pôr a Igreja Matriz da Sertã entre as mais belas igrejas de Portugal. Para quem gosta de arquitetura, convém recordar o génio de Cassiano Branco, o edifício da Câmara lembra por fora uma construção convencional, com reminiscências francesas e italianas, por dentro fica-se de boca aberta com a ousadia do traço e uma modernidade que ainda hoje perdura.

Um abraço do
Mário


Na Sertã, no dia em que aqui recebi a primeira dose da vacina (2)

Mário Beja Santos

Só para recordar que durante cerca de 20 anos mantive os pés em dois concelhos, Pedrógão Grande e Sertã. Foi experiência edificante, fazia o Vale do Cabril em ambas as margens do Zêzere, umas vezes começava na Cotovia, a admirar as vertentes pedregosas, descia pela Ponte Filipina e mudava de concelho, ou vice-versa. Gostei também sempre de ir à Barragem da Bouçã e escolher entre Figueiró-dos-Vinhos e a Sertã. Aqui experimentei todas as estações do ano, quer no silêncio da floresta, os vales adormecidos na invernia, o gemido das árvores repuxadas pela ventania, passei à procura das primeiras flores da Primavera, banhei-me nas praias fluviais, andarilhei à volta da Albufeira do Cabril, isto quando pousei noutro tipo de permanência no antigo bairro da EDP, o fim do dia é de uma esplendente luminescência e o casario de Pedrógão Pequeno ganha forma de presépio. E o médico de família que apostou na minha saúde até aos 150 anos deu conforto àquele telefonema que me convocava no dia tal e a horas tantas para receber a primeira vacina contra o Covid, nas instalações dos Bombeiros da Sertã. Tinha então despachado qualquer forma de habitação nos dois concelhos, quedando-me num lugarejo em Tomar. Foi com a maior alegria que daqui rumei bem cedo em direção à Sertã, uma viagem em que se enche os olhos com oliveiras e pinheiros, eucaliptos e sobreiros, castanheiros e azinheiras. Jurei que em definitivo iria conhecer as entranhas do edifício camarário sertaginense, projeto de Cassiano Branco, foi acontecimento de truz, que culminou com a visita àquelas salas onde a edilidade toda decisões, impossível não começar a narrativa do dia de hoje sem vos mostrar o pendão da Sertã, seguramente bordado a seda, veja-se tal beleza e harmonia de elementos. Volta-se à Carvalha, por ali se deslocam transeuntes em remanso, como a Natureza se pode disciplinar, transformando-se numa área de lazer que obtém o aplauso de todos. Fica-se ali a contemplar as águas, passeia-se de uma margem para a outra, há murmúrios de cascatas, olha-se para o alto para o Convento de Santo António, que já se conheceu em mau estado e que foi objeto de uma intervenção de truz, dá gosto por ali passear, não fica atrás das boas pousadas de Portugal.

E desce-se para cumprimentar o antigo professor, o Padre Manuel Antunes, um pensador de alto nível, como é que aquele franzino de gente, quase um besnico, de voz macia, um tanto ciciante, as mãos sempre elevadas, dominava perfeitamente o anfiteatro com os seus alunos de cultura clássica ou civilização romana? Era uma sageza de quem sabia encadear os dados da civilização da cultura, naqueles tempos o máximo de ilustração seriam os slides, mas nem a esse recurso o douto jesuíta se apoiava, era tudo aula magistral, as mãos pontificavam, pareciam desprendidas do corpo hirto, homem de grande singeleza e de comprovada cultura universal. Deixou saudades nos seus alunos, e neles me incluo, ninguém tem nada a perder em ler os seus trabalhos, felizmente editados pela Fundação Calouste Gulbenkian.

E Manuel Antunes é o nome da Biblioteca Municipal que foi criada ainda no século XX na dependência da Fundação Calouste Gulbenkian, instalada então no rés-do-chão dos Paços do Concelho. Com a reabilitação da antiga Casa dos Magistrados, a biblioteca ganhou autonomia em outubro de 2007 e o nome do patrono chegou cinco anos depois. Visito-a com deleite e cumplicidade, ali apresentei um livro, peço livros emprestados e já fui honrado com o convite para participar num dos maiores festivais literários de Portugal, a Maratona de Leitura. Não é uma biblioteca só destinada a requisitar livros ou ler jornais e revistas, quem a dirige tem espantosos programas de animação sociocultural e daí a reputação que a biblioteca ganhou e que extravasa o espaço do pinhal interior. Toca, pois, de a mostrar no seu interior e pôr em imagem um espaço ambientalmente amável e que se aproveitaram embalagens de plástico para ver crescer famílias de catos, que belo achado de reciclagem, vale a pena aqui fazer leitura com tal moldura vegetal.

Chegou a hora do piquenique, refere-se a moldura admirável da ribeira da Sertã, por ali a vista se espraia e mordisca-se o pão e come-se a fruta a contemplar aqueles terraços a que a memória se associa aos passeios que se fazem percorrendo a região de Proença até Vila Velha de Ródão, e nunca me canso de pasmar com o labor na construção daqueles terraços a que se arrancaram os pedregulhos não sei para cultivar quais alimentos, pressinto que era centeio, cá em baixo nos valados era lugar de milho e produtos de terra, crucias para a autossubsistência. Batemos com a mão no peito a falar no património material e imaterial, queremos mais e mais reconhecimento, nunca vi a defesa destes terraços marcadores de civilização, não tivessem sido estes agricultores a contrariar terra tão agreste, aqui se fixando com denodo e criando vínculos imemoriais, e teríamos um deserto humano, mesmo que tivesse sido vasto o coberto florestal. São obras do passado que caíram no esquecimento, ponto final, e a vista se regala a ver estes terraços que aformoseiam a encosta que beija a ribeira da Sertã.

Daqui se parte para uma outra romagem de saudade, a caminho do Zêzere, há uma paragem em Pedrógão Pequeno, inevitável uma curta visita ao Moinho das Freiras, atravessa-se a Albufeira do Cabril e entra-se em Pedrógão Grande. Nunca entendi muito bem como a edilidade não é capaz de exibir o seu baú patrimonial: há ruínas romanas, belas capelas no espaço da Devesa, há até para ali perdido no mato um forno romano, o centro histórico guarda vestígios medievais, a Igreja-Matriz é soberba, o património da Misericórdia soberbo é, creio que a generalidade de quem por ali passa desconhece o Museu Pedro Cruz, não foi artista transcendente mas deixou obra com significado, e o concelho guarda em Vila Isaura museus privados com património valiosíssimo, falta um roteiro para convidar o visitante a mergulhar em tanta oferta. Há pouco tempo, o meu amigo Aires Henriques, que detém em Vila Isaura (nos Troviscais) esse espólio soberbo que tem a ver com o povo ratinho, a presença dos primeiros republicanos, artefactos maçónicos, e muito mais, escreveu uma brochura sobre o seu espólio judaico, bem rico, que gostaria de ver exposto no Centro Histórico de Pedrógão Grande, a par de outros objetos culturais do seu património. Não sei o que irá acontecer, e lamento por tanta displicência na política cultural deste concelho.

E percorrendo as ruas deste Centro Histórico vou até à biblioteca cumprimentar gente muito amiga e visitar o espaço construído à memória de uma adorada filha que faleceu em 2009. E termina esta primeira visita, seguir-se-á a segunda vacina, e já se tomou nota do muito que há a ver na próxima viagem. Agora que o maranho da Sertã é marca protegida a nível nacional, tem selo de Indicação Geográfica, espera-se que com o desconfinamento no dia da segunda vacina se possa almoçar um tão suculento manjar, no intervalo das visitas que por ora se organizam no papel. Mas até lá o viandante não para, vai de seguida falar-vos de uma espantosa exposição que está no Museu do Neorrealismo em Vila Franca de Xira intitulada Representações do Povo, exposição talentosa coordenada pela sua diretora científica, Raquel Henriques da Silva.

(continua)

Na sala da Assembleia Municipal, acima de mobiliário de outros tempos, com o estadão do coro cravejado, o brasão da Sertã
A Alameda da Carvalha beneficiou desta ponte que aproxima espaços complementares, dá gosto por aqui passear num folgado espaço de entretenimento que permite espetáculos ao ar livre e com a imensidão florestal em círculo envolvente
A ribeira da Sertã sombreada, é fotografia, não é quadro a óleo, fiquem sabendo
Junto da Ponte Filipina o murmúrio das cascatas em perene mergulho das águas
Uma intervenção de bom gosto, um convento transformado em hotel, grande beleza
Um pormenor da Biblioteca Municipal Manuel Antunes
Espaço para ler jornais e revistas
Um achado da reciclagem, garrafas de plástico a fazer de vasos adornando magnificamente um espaço de lazer e leitura
Cultivo em socalcos à beira da ribeira da Sertã
A mansidão das águas num espaço idílico
Uma inevitável romagem de saudade à Biblioteca Municipal de Pedrógão Grande
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22255: Os nossos seres, saberes e lazeres (454): Na Sertã, no dia em que aqui recebi a primeira dose da vacina (1) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Guiné 63/74 - P8203: Estórias do Juvenal Amado (37): Quando macaco passou por gazela

1. Mensagem de Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1972/74), com data de 13 de Abril de 2011:

Caro Luís, Carlos, Magalhães, Briote e restante Tabanca Grande.
É uma estória que já esteve várias vezes para ser contada, mas porque os factos me incomodam hoje um bocadinho, tem ficado para trás no sótão da minha memória.
E incomoda-me porquê? Porque o que fizemos foi só por malandragem. Galomaro não sendo um hotel com estrelas, comia-se relativamente bem e com abundância, pois o nosso Coronel era bastante exigente em tudo e nesse caso particular também.
Fica aqui a estória em que num dia comemos um parente afastado.


Estórias do Juvenal (37)

QUANDO MACACO PASSOU POR GAZELA

- Um dos alferes periquito é moço do bairro e já lhe prometi uma patuscada daquelas que não se esquecem.

Quem falava assim era o Caramba, dando logo a entender que uma partida bem pregada vinha a calhar.

Na Guiné durante aquele tempo comi coisas que possivelmente nunca comeria noutra situação. Cogumelos do tamanho de pratos, que eram parecidos com os de cá mas várias vezes maiores, cobra, crocodilo (comi em Bambadinca), carne de porco do mato ou gazela, cheias de larvas da mosca varejeira, que depois de lavada, era cozinhada sem mais e despachada a acompanhar umas cervejas.

Quando comemos a primeira vez os cogumelos, ninguém tinha a certeza se eles eram bons. O Lourenço dizia que eram iguais e lá arriscámos. O Aljustrel ainda disse em jeito de gozo:

- Amanhã acordamos todos mortos.

Esse mau pressagio não se confirmou felizmente e nos dias a seguir, o Lourenço e o Caramba que eram os que conheciam fizeram uma razia nos ditos cujos.

Juvenal e um primo afastado

Mas voltemos à patuscada, com que íamos honrar os oficiais piras. Em Assembleia Geral da Sacanagem, resolvemos fazer um petisco à base de macaco. Assim foi combinado, quando fôssemos à lenha, suficientemente afastado do quartel, mataríamos um macaco, com que confeccionaríamos o pitéu . O Caramba ficou encarregue de combinar com o Alferes Esperança e ele que estivesse à vontade para convidar os camaradas dele, que é bom de ver, ficavam com a bebida ao seu encargo, sim porque a velhice era um posto.

Assim foi, na padaria cozinhou-se o macaco dizendo que era gazela. Cheirava bem e estava bom que se fartava. A cerveja corria a jorros, e estávamos já todos muito bem bebidos quando um dos piras presente perguntou como é que nós arranjávamos aquela carne? A risota foi geral e quando dissemos o que era, alguns empalideceram e ficaram notoriamente enojados, incomodados a olhar para os restos nos pratos.

Bem, a festa continuou no Regala onde os nossos convidados continuaram a pagar as bebidas, o que não lhes ficou barato pois nós não éramos gente de meias medidas. Nós bebíamos como de costume muito e alguns deles já bebiam para esquecer o que tinham comido.

Passada uma semana ou mais, estávamos a petiscar umas galinhas quando passa o Alferes Esperança. O Caramba diz-lhe:

- Oh meu alferes não vai um bocadinho de galinha?

A resposta o alferes não se fez esperar:

- Porra! Porra! Não quero nada, vocês são capazes de estar a comer abutre.

Pois é foi giro, mas quis repetir. Fiquei com algum sentimento de culpa em relação aos macacos, que não desapareceu, e é talvez uma das coisas, que me arrependo de ter feito.

Um abraço
Juvenal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 23 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8159: 7º aniversário do nosso blogue: 23 de Abril de 2011 (16): Que a História não esqueça o que o blogue Luís Graça manteve vivo (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 1 de Abril de 2011 > Guiné 63/74 - P8027: Estórias do Juvenal Amado (36): Um domingo de futebol em Galomaro

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11166: Para que a memória não se perca (3): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)



1. Terceira parte do trabalho de pesquisa e compilação do nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), sobre a História da Guiné na dobragem do Século XIX para o Século XX, que se irá prolongar por quatro postes. Este trabalho foi enviado ao nosso Blogue em mensagem de 13 de Fevereiro de 2013.




Para que a memória se não perca…

Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (3)

Brasão da Guiné Portuguesa 
Foto: Portal UTW

Campanha da Guiné, de 21 de Novembro de 1907 a 15 de Maio de1908 
Notava-se, no final do ano de 1907, em vários pontos da Guiné, um clima de sublevação latente, o que levou o Governador da Guiné, 1º Tenente da Armada Real João Augusto de Oliveira Muzanty, a requisitar reforços à metrópole, para fazer face a prováveis alterações na ordem pública na província.
Povos da margem esquerda do rio Geba revoltam-se, não acatando as ordens das autoridades e cometem ataques ás populações fiéis, que rapidamente se alastram até à região do Corbal [Corobal?].
Tendo em conta que a demora de tomada de posição, contra a rebelião, podia ser tomada como incentivo a outros focos de instabilidade, levou a que, de imediato o governador tomasse o comando de uma força que, em 27 de Novembro, constituída pelas forças disponíveis do Exército, da Marinha de Guerra e de auxiliares, e marchasse para a região revoltada do Cuhor onde o régulo beafada Infaly-Socó, incitou à revolta e ao ataque do nosso aliado Abdulay. A coluna atacou e destruiu as tabancas de Campampi, Furacunda e Sanhá.

© Imagem retirada de http://coisasdaguine.blogspot.pt/2011/05/150-campanhas-para-dominar-o-gentio-da.html [A. Marques Lopes]

Comando e forças utilizadas nesta operação: 
• Comandante: 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
• Chefe do Estado-maior: Capitão José Xavier Teixeira de Barros:
• Duas forças de desembarque da canhoneira “D. Luiz”, sob o comando dos 2ºs Tenentes da Armada José Francisco Monteiro e David Albuquerque Rocha;
• Força da guarnição dos Postos de Xime, Bambadinca e auxiliares, sob o comando do Alferes de Cavalaria Raul Carlos Ferreira da Costa;
• Serviços Marítimos de Comunicação sob a direcção dos 2ºs Tenentes da Armada José Estêvão de Campos França, Frederico Pinheiro Chagas e Carlos Prima Guimarães Marques.
Em consequência das acções de rebelião, muitas linhas telegráficas encontravam-se destruídas, pelo que em Janeiro de 1908, foi necessária a constituição de uma força para castigar os rebeldes e com a missão de restabelecer as ligações destruídas.

Destacamento para reparação de linhas telegráficas:
• Comandante: Capitão de Infantaria e Estado-maior Ilídio Marinho Falcão de Castro Nazaré:
• 20 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada David Albuquerque Rocha, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato da Fonseca, tendo como subalterno o Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa:
o 24 Praças do Depósito de Adidos,
o 2 Praças de Cavalaria, o 8 Praças de Artilharia com uma peça de 7 c.
o 30 Auxiliares indígenas.
Uma outra forma de rebelião, era o não pagamento do “imposto de palhota” ou impedirem a passagem de brancos pelas suas terras. Desta feita foram os Felupes, de Varela, a revoltarem-se. A coluna conseguiu os objectivos a que se tinha proposto, não só castigando os revoltosos mas provocando muitas baixas.

Destacamento destinado a bater os Felupes de Varela: 
• Comandante: Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz:
• 40 Praças da Armada sob o comando do 2º Tenente da Armada José Francisco Monteiro, da canhoneira “D. Luiz”:
• Elementos do Exército:
o 23 Praças do Depósito de Adidos, comandadas pelo Tenente Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos;
o 52 Praças da Companhia Indígena de Atiradores, comandadas pelo Tenente José Caldeira Marques. Mesmo após os castigos infligidos aos fulas da margem esquerda do rio Geba, e aos Felupes de Varela, não evita que o clima de instabilidade esmoreça pelo que, o governador, dispondo já de mais meios e forças, decide formar nova coluna e tomar a iniciativa, a fim de não ser surpreendido.
O Governador Muzanty, a frente da coluna, derrota os rebeldes de Gan Turé, Sambel Iantá, Gan Sapateiro e ocupa a região de Cohor, libertando a navegação do rio Geba, e destrói, também, as povoações de Intim, Bandim e Contumbe.
Com a aproximação da época das chuvas, a coluna regressa à praça de Bissau em 12 de Maio de 1908.  

Coluna de operações contra Balantas, Papeis, Fulas e outros em Abril de 1908: 
Comando:
• 1º Tenente da Armada João Augusto Oliveira Muzanty;
Estado-maior:
• Capitão de Infantaria Ilídio Marinho Falcão Nazaré, Tenente de Cavalaria D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho, 2º Tenente da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Tenente Belmiro Ernesto Duarte Silva, Capitão de Administração Militar Joaquim Simões da Costa;
Armada Real - Oficiais da guarnição das canhoneiras “D. Luiz” e “Zambeze”:
• Capitães Tenente Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira, Alberto Carlos Aprá e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2ºs Tenentes Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, Alfredo de Sousa Birne, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias, José Estêvão de Campos França, José Proença Fortes, José Francisco Monteiro, Frederico da Silva Pinheiro Chagas e David de Albuquerque Rocha;
• Guardas Marinha: António José Martins e Sebastião José da Costa;
• Maquinistas: Pedro Mário Pacheco Consiglieri, Henrique Guilherme Fernandes, e Francisco Rodrigues Pinto;
• Médicos Navais: Alberto Goulard de Medeiros, João Antunes Leite e José António Andrade Sequeira;
• Comissários: António M. de Azevedo Machado Santos e José da Cunha Santos;
• Aspirantes da Administração Naval: Armando Heitor Aranha, Orlando A. de C. Braga, António de Campos Andrada e António Pereira da Silva Teixeira.

Desembarque de tropas expedicionárias da metrópole 
© Foto: Postal de colecção / Autor desconhecido 

Exército de Terra:
Secção de Engenharia:
• 3 Sargentos e 9 Soldados;
Bateria de artilharia de guarnição da província:
• 69 Praças sob o comando do Capitão de Artilharia Viriato Gomes da Fonseca e dos oficiais: Tenente Luiz Monteiro Nunes da Ponte; Alferes António Carlos Cortêz e António dos Santos (quadro auxiliar de artilharia).
Infantaria 13, do Reino (Vila Real):
• Capitães Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Tenentes: Francisco de Almeida, José Dias Veloso, António José Ferreira, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha e Rodrigo Anastácio Teixeira de Lemos; Alferes: António Luiz Alves, Jaime Raul Sepúlveda Rodrigues, Jaime Vítor Duque (morto) e Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição.
Companhia Mista Europeia:
• Capitão José Carlos Botelho Moniz; Tenentes: João Caldeira Marques e Afonso Henriques Alves Xavier. Serviço de Saúde:
• Capitão Médico Francisco Augusto Regala, Tenente Médico Manuel de Jesus Suzano; Tenente do quadro colonial: António Maria Marques Perdigão, Eduardo Pereira do Vale, António de Freitas Ferraz e José de Pinho Cruz Júnior e Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores.
Serviços Administrativos:
• Tenente da Administração Militar Frederico Xavier da Silveira Machado.
Voluntário civil:
• João Baptista Fortes.
Para completar o esforço desenvolvido nas operações 1907-1908, em 17 de Novembro de 1908, uma força de marinha e auxiliares leva a efeito uma operação contra os balantas em Conó-Cumba, Chumbel, Blassi, Assagre e Nhafó, que tinham perpetrado vários roubos de gado, pelo que foram severamente castigados com bastantes baixas e recuperando grande parte do gado roubado.

Grupo de Oficiais em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

Foram louvados os seguintes oficiais e praças: Comandante da Campanha:
• Governador-geral e 1º Tenente da Armada João Augusto de Oliveira Muzanty;
Armada Real:
• Capitães Tenentes Alberto da Silva Moreno e Júlio Galis;
• 1ºs Tenentes Francisco Freitas da Silva, Jorge Parry Pereira e Luiz Bernardo da Silveira Estrela;
• 2º Tenentes da Armada António Emídio Taborda de Azevedo e Costa, Eduardo Cândido Lopes Vilarinho, Jerónimo Weinholtz de Bívar, João Gonçalves da Costa, Carlos Primo de Guimarães Marques, Sebastião José de Carvalho Dias e Frederico da Silva Pinheiro Chagas;
• Aspirante da Administração Naval António Pereira da Silva Teixeira,
• 2ºs Sargento: João Duarte, João da Silva, Júlio Simplício Teles de Sousa, Adelino José das Neves Coelho e António Rodrigues da Costa,
• Cabos: António Moreira, Cocufate Joaquim Torres, Filipe de Barros e Manuel das Dores;
• 1ºs Marinheiros: António Joaquim da Cruz, Luiz da Silva, Joaquim Bento António Cândido Russo, Roberto Montero e Joaquim da Silva;
• 2ºs Marinheiros: António Augusto Barbosa, Joaquim dos Santos (Chegador) e José Dias (1º Artilheiro):
• 1º Grumete: José Martins.
Exército de Terra:
• Capitães José Carlos Botelho Moniz; Jorge Perestrelo de Pestana Veloso Camacho e Adelino Augusto de Sousa Ripado; Viriato da Fonseca, Ilídio Marinho Falcão Nazaré e Joaquim Simões da Costa;
• Tenentes Francisco de Almeida, José Dias Veloso, Lino Marçal Sant’Ana de Saldanha, Alfredo Augusto Xavier Perestrelo da Conceição, D. José de Serpa Pimentel de Sousa Coutinho e Belmiro Ernesto Duarte Silva;
• Tenentes Médicos Manuel de Jesus Suzano e Eduardo Pereira do Vale;
• Tenente Veterinário Francisco Gervásio Flores;
• Alferes Raul Carlos Ferreira da Costa;

Grupo de Sargentos em Bissau 
© Foto: José Henrique de Mello 

• 1ºs Sargentos: Manuel Pinto da Fonseca, Augusto Maria da Silva Flores, João José, João Machado Toledo, Manuel Tomé e António Monteiro;
• 2ºs Sargentos: João Maria dos Santos, Eduardo Augusto de Morais e Silva, Alfredo Alves da Silva, Manuel Azevedo, Abel Andrade Largo, José Paulino Rodrigues, Alexandre Francisco Ferreira Sarmento, Luiz de Carvalho Villaura, Estêvão Dias da Cruz, Jaime Garcia de Lemos, Alfredo Acácio Afonso, Salomão António Soares, Sabino da Conceição de Carvalho Ventura, José Afonso Lonha, José Pinto de Sousa Júnior, João José Cardoso, Manuel Joaquim Gonçalves Júnior, Alberto Augusto de Araújo (Serralheiro Ferreiro) e José Francisco Alhandra (Carpinteiro);
• 1ºs Cabos: Francisco Rodrigues Calçona, Virgílio Vieira de Vasconcelos, Manuel Monteiro, João Ferreira da Costa Júnior, Domingos dos Santos, Josué Alves Pinto Pinheiro, António Francisco da Encarnação Martins, Manuel Martinho (Ferrador) e António Gomes (Corneteiro);
• Soldados: Joaquim Maria, Raul de Jesus, José Dias, Manuel Luiz, Manuel dos Santos e Augusto Alves;


Operações Militares contra os balantas na região de Goli em 1909
No início do ano de 1909, o Governo Provincial decide instalar, na região de Goli, um posto militar, mas esta decisão não foi bem aceite pela população balanta que, a 21 de Fevereiro de 1909, atacam o referido posto. Esta acção foi repelida com violência, deixando, os revoltosos, muitos mortos no terreno.
Apesar dos factos registados, as populações continuaram a movimentar-se e notava-se no ar algo de preocupante: preparavam-se para um ataque de maior envergadura.
Foi então decidido que a guarnição do posto fosse aumentada com tropas de infantaria e de artilharia, assumindo o comando do posto o Capitão do Estado-maior Ilídio Marinho Falcão Nazaré.
Quando os soldados se tinham que afastar do posto, no exercício das suas funções, acentuavam-se as ameaças da população. Foi então nomeada uma coluna, para reconhecimento da zona, constituída por parte da guarnição do posto, reforçada por um destacamento da 9ª Companhia Indígena de Moçambique, comandadas pelo 2º Tenente da Armada Casal Ribeiro, com o apoio do Chefe de Guerra Abdul-Injai e das suas gentes. O reconhecimento deslocou-se até Calicunda e, encontrando o inimigo, iniciou o regresso, tendo reconstituído a passagem do Chumbal.
A 4 de Março desse ano, o mesmo oficial organiza e comanda uma nova coluna que se dirige a Nhacé, sendo atacada violentamente pelo inimigo, sendo repelido e levado de vencida até Berraam. Depois, os auxiliares, dirigiram-se ate Date, destruindo todas as povoações dos revoltosos.


Operações contra os balantas de Bissau e baiotes de Cacheu em 1912
Mais uma vez, nas áreas de Elia e Jobel, foram palco de revoltas por parte de balantas de Bissau e baiotes de Cacheu, em Fevereiro de 1912, que viriam a ser reprimidas por voluntários civis de Bissau, Cacheu, Bolama e da Liga Guineense, comandados pelo Capitão de Infantaria José Carlos Botelho Moniz.
A coluna desembarca em Inhome, a 27 de Março, derrotando os revoltosos em Binar, Gicasse, Satará e Tama, seguindo a 2 de Abril para Jobel, destruindo as povoações que, pelo caminho lhes ofereciam resistência, chegando no dia 4 a Elia, onde travou combate e venceu os revoltosos.
A coluna ainda se dirigiu a Cajegute, a 7 de Abril, onde impôs ao régulo manjaco a devolução do produto de um roubo efectuado pela sua população. Tendo sido feita a devolução do mesmo, a coluna regressa a Bissau, sendo dissolvida.


Operações no Mansoa e Oio em 1913
A índole guerreira e agressiva era exteriorizada, orgulhosa e altivamente, pelos povos das regiões de Mansoa e Geba, manifestando insubmissão e desrespeito pelas autoridades portuguesas, por se julgarem invencíveis.
A situação de desobediência, indisciplina e provocação aumentam, pelo que surge o momento de colocar um fim a estes actos, entendendo o governo da província colocar um fim nestes acontecimentos.
Foi então organizada uma coluna que, sob o comando do Capitão Teixeira Pinto com a colaboração da Marinha de Guerra, infringe forte castigo aos insurrectos, provocando-lhes pesadas baixas.
Os factos mais relevantes resultantes destas operações são a ocupação de Mansoa de 29 de Março a 22 de Abril, com o apoio da canhoneira “Flecha”, o estabelecimento de um posto militar em Porto-Mansoa, e a ocupação da região do Oio de 14 de Maio a 16 de Junho, com o apoio da canhoneira “Zagaia”, e o estabelecimento de um posto militar em Mansoa.
Tomaram parte na expedição, as seguintes forças: 
Comando:
Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto, coadjuvado pelos Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
Artilharia: 1 Sargento, 4 cabos europeus e 4 soldados indígenas, com uma peça Krupp de 8 c.;
Auxiliares: 400 Irregulares indígenas de Abdul-Injai;
Administrador de Geba: Vasco de Sousa Calvet de Magalhães com 80 homens armados;
Canhoneira “Flecha”: 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa;
Canhoneira “Zagaia”: 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro
Serviços de transporte: vapor “Capitania”, motor “Cocine”, lanchão “Cacheu” e lanchas “ Rio Geba”, “Santa Isabel”, “Clementina”, “Coffka II”, “Simone” e “Avé Maria”.
Distinguiram-se e foram citados:
• Capitão de Infantaria João Teixeira Pinto; Tenentes de Infantaria Henrique Alves de Ataíde Pimenta e Artur Sampaio Antas;
• Tenente Augusto José de Lima Júnior, 2º Sargento António Ribeiro Vilaça, 1º Cabo António Ribeiro Möens (empregado da casa Soller Charles Magne);

Empregados de uma casa comercial estrangeira 
© Foto: José Henrique de Mello 

• Vasco de Sousa Calvet de Magalhães (Administrador de Geba), auxiliares indígenas Abdul-Injai e Bacari-Suncaro;
• Comandantes da Canhoneira “Flecha” 2º Tenente da Armada Raul Queimado de Sousa, Canhoneira “Zagaia” 2º Tenente da Armada António Raimundo Costa Santos Pedro, do vapor “Capitania” Adolfo dos Santos, da motor “Cocine” Alfredo Martins e da lanchas “ Rio Geba” Francisco Maria.

(Continua) 
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Nota do editor:

Vd. poste anterior de 25 de Fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11153: Para que a memória não se perca (2): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)