quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1190: Os nossos mortos de Guidaje (Paulo Salgado)

Guiné-Bissau > Região do Oio > Olossato > 2006 > O grão-de-bico (à direita), ontem criança, hoje homem grande, pai de filhos, reencontra o Moura Marques (à esquerda) e o Paulo Salgado (ao centro). O regresso emocionado ao passado, aos sítios por andou a CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), cujo comandante era o capitão de cavalaria Mário Tomé (1) .

Foto: © Paulo & Conceição Salgado (2006)

Mensagem do Paulo Salgado ao nosso camarada Manuel Rebocho (2). O Paulo é hoje administrador hospitalar, cooperante na Guiné-Bissau (em dois períodos, actualmente e no início dos anos 90), e está casado com a economista Conceição Salgados. Um e outro são dois dos nossos queridos tertulianos. Têm casa em Vila Nova de Gaia, mas são uns andarilhos... Não sei se já voltaram de Bissau, não tenho tido notícias deles, a não ser este e-mail recete

Tertuliano amigo,

Infelizmente, situações como a que descreve o jornal citado (2) foram centenas. Em Bissau está o cemitério - mesmo ali ao lado do Hospital onde trabalhei por longos meses (anos, mesmo) - que tem dezenas de tumbas mal conservadas e tratadas de militares portugueses que não vieram. Para esses nem a música do Adriano Correia de Oliveira "Já lá vem Pedro soldado..." valeu.

Queria, contudo, dizer o seguinte: por vezes acontecia, em terrenos operacionais perigosíssimos, que os mortos não podiam ser resgatados - houve situações de autêntico massacre. No Morés, pelos anos 68 ou 69, morreram numa emboscada dezenas de militares (eram dois pelotõese e duas seccções de milícias)... E por lá ficaram!... Como poderiam ter sido ser resgatados pelos outros se sobraram menos de metade e foi uma debandada geral?!

Nós esquecemos que a França foi estrondosamente derrotada na Argélia em 58. Não aprendemos a lição dos franceses que pararam - e o Senegal e outras colónias francesas não tiveram guerra-... Também não aprendemos a lição da Índia (o Pandita Neru aguentou até ao fim para não ter que atacar Goa!).

Não aprendemos! E pior do que isso: contribuímos para o empobrecimento da Metrópole e das próprias Colónias em termos humanos, sociais, culturais e económicos.

Infelizmente, entretanto, podemos afirmar: o que se passa hoje nas ex-colónias dos europeus é um neo-colonialismo refinado. O colonialismo era mau, gerou guerras, mas agora há as partes interessadas. Para bom entendedor...

Pergunto: Para quando, África? (4)

Mantenhas
Paulo Salgado
__________

Notas de L.G.

(1) Vd. post de 2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCI: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (12): reviver o passado em Olossato

(2) Vd. post de:

17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho).
Vd. também posts de:

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

(3) Vd. post de 30 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXIX: Do Porto a Bissau (23): Os restos mais dolorosos do resto do Império (A. Marques Lopes)

(4) Vd. post de 13 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1069: Crónicas de Bissau (ou o 'bombolom' do Paulo Salgado) (13): Para quando África ?

quarta-feira, 18 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1189: O tertuliano Nuno Rubim, especialista em história militar





Lisboa > Museu Militar > Azulejo do pátio interior > Diversos aspectos do painel "Jornada Heróica de Chaimite": a captura de Gungunhana (c.1850-1906), em Chaimite, Moçambique, em 1895, pelas tropas portugueses sob o comando de Mouzinho de Albuquerque (1855-1902). É um dos episódios míticos da história da nossa expansão colonial e da resistência anticolonial africana. Há uma belíssima resenha biográfica do terceiro e último imperador de Gaza, hoje transformado em herói nacional pelos moçambicanos, de seu nome Ngungunhane (Gungunhana, como aprendemos na escola, de acordo com a ortografia colonial), no sítio Vidas Lusófonas, da autoria de Carlos Pinto Santos.
O Museu Militar de Lisboa , junto à Estação de Santa Apolónia, merece uma visita. Infelizmente quando lá fui a secção sobre a guerra colonial estava encerrada para obras... Se calhar foi melhor assim: era capaz de ter ficado decepcionado...
Fotos: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.

1. Amigos & camaradas da Guiné:
 

Na nossa tertúlia, na nossa caserna virtual, não há militares no activo, todos somos paisanos, cidadãos, amigos e camaradas, homens e mulheres... Recordam-se que no nosso tempo não havia mulheres na tropa, com excepção das enfermeiras paraquedistas.... Como eu gostaria que me aparecesse agora uma delas, na nossa caserna virtual!... Não precisava de vir de helicóptero, como nosso tempo... Podia vir pelo seu próprio pé, por e-mail, pelo e-mail de um amigo, parente ou conhecido... Recordo quanta perturbação elas provocavam entre os machos fardados, quando elas passavam por Bambadinca ou quando iam buscar, no mato, os nossos feridos, deixando-nos o fardo dos mortos... Os oficiais de Bambadinca atropelavam-se uns aos outros só para chegar primeiro e ter a honra de abrir a porta do bar da Messe de Oficiais à senhora enfermeira paraquedista...
Hoje já não há divisas nem galões, já não há hierarquia sócio-militar, já não há RDM,... Há apenas o respeito uns pelos outros, o que não impede que nos tratemos por tu, uma forma simples, natural, facilitadora da comunicação entre nós... Não havia outro jeito: ganhámos esse direito nas bolanhas, nas lalas, nas picadas, nos rios, nos bunkers da Guiné... Depois regressámos, os sortudos, os que não ficaram para trás, como o Lourenço (1)...

Regressámos às nossas vidas, às nossas profissões, às nossas terras, aos braços das nossas namoradas, noivas, mulheres, companheiras. Ou ficámos sozinhos. Mudámos de vidas, de profissões, de companheiras... Enfim, mais recentemente, conhecemo-nos no blogue, à volta da Guiné, da guerra, dos bons e dos maus momentos que lá passámos... Reconhecemo-nos de imediato, como se o tempo tivesse parado há trinta, há trinta e cinco, há quarenta anos... Pura ilusão: a contagem descrescente continua... E como alguém lembrou há dias, no nosso encontro na Ameira, a nossa geraçºão tem mais dez ou quinze anos de vida útil... (Vitor Junqueira dixit, e quem melhor do que ele, que é médico, para nos lembrar isso?!)...

E no meio de tudo de isto há camaradas, que eram militares do quadro, que se reformaram e que se viraram para outras actividades, mais intelectuais e não menos nobres do que as outras, como é a investigação histórico-militar... Foi o caso, por exemplo do Pedro Lauret, hoje capitão-de-mar-e-guerra na reforma, ou do Nuno Rubim, coronel de artilharia, também na reforma... Já manifestámos, por diversas vezes, o nosso apreço pela sua presença (activa) na nossa tertúlia... Hoje é altura de conhecermos um pouco mais do trabalho, como investigador, do Nuno Rubim que espero possa estar presente no próximo encontro da nossa tertúlia.... (LG).

2. NUNO José Varela RUBIM , Cor Art (R) > Currículo no campo da investigação histórico-militar

Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões), hoje coronel na reforma e historiador militar. Membro da nossa tertúlia.

Foto: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.

1- Chefe da Secção de Estudos do Museu Militar de Lisboa, 1981-1984.

2- Organizou a Exposição “Armas em Portugal – Origem e Evolução”, no Museu Militar de Lisboa, ainda em exibição, tendo elaborado o respectivo catálogo.

3- Fez parte do grupo restrito que planeou e instalou a “Exposição Nacional Comemorativa
do 6º Centenário da Artilharia Portuguesa”, que esteve patente ao público no Museu Militar do Porto, de Julho a Setembro de 1982, elaborando parte do respectivo catálogo.

4- Adjunto do Centro de Estudos da Direcção do Serviço Histórico-Militar (DSHM), 1984 -1986.

5- Organisador do 1º Curso de Museologia Militar, no âmbito da DSHM, 1985.

6- Planeou e dirigiu a execução da exposição “Artilharia Histórica Portuguesa Fabricada em Portugal”, patente ao público no Museu Militar de Lisboa, desde Junho de 1985, sendo autor da respectiva memória histórica .

7- A convite do Presidente da respectiva Comissão, realizou trabalho de investigação e posterior instalação da artilharia embarcada a bordo da Fragata “D. Fernando II e Glória”, tarefa iniciada em 1991 e que se prolongou até 1998.

8- De Dezembro de 1991 a Junho de 1993, a convite do então IPPAR, desenvolveu um estudo técnico-militar sobre a Torre de Belém, abragendo o período que decorreu desde a sua construção até à data da sua desactivação como fortaleza de defesa costeira, entregando nessa última data um pormenorizado relatório.

9- Proferiu, no ano lectivo de 1991-1992 e a convite da Comissão Científica de História da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, uma série de 16 conferências, no âmbito do Mestrado sobre “Os Descobrimentos e a Expansão Portuguesa”, que abordaram disciplinas como a Náutica, a Construção Naval, a Artilharia, a Fortificação, a Organização e Táctica militares.

Vendas Novas > Museu da Escola Prática de Artilharia > 2004 > Diorama do sistema de defesa artilhada da Barra do Tejo no final do Séc. XV, da autoria de Nuno Rubim (o primeiro, à esquerda).
Foto: © Nuno Rubim (2006). Direitos reservados.

10- Em conjunto com uma equipa, englobando Oficiais de Artilharia e Docentes Universitários, planeou, coordenou e participou nos trabalhos que levaram à criação do Museu da Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, aberto ao público no dia 4 de Dezembro de 1992.

Tem continuado aí a sua colaboração, dirigindo a implementação das seguintes Exposições:
- Operações;
- A Defesa Costeira antiga.

11- Conferencista convidado, no âmbito do 1º Curso de História Militar, Forum da Maia, Fevereiro de 1993.

12- Comissário Técnico, convidado pela “Comissão Nacional para as Comemorações dos
Descobrimentos Portugueses”, para os aspectos militares da Exposição “A Paz e a
Guerra na Época do Tratado de Tordesilhas”, realizado em Burgos, Espanha, em Setembro de 1994, tendo elaborado a notícia histórica, o desenho à escala de um Galeão que possibilitou a feitura de um modelo, em corte, à escala 1:10, e executando ainda os modelos, também à escala, do tipo de peças que guarneciam esse navio, São Diniz, Almirante no Índico na 2ª década do Séc. XVI.

Realizou ainda todos os estudos técnicos, englobando desenhos, que possibilitaram a feitura de um filme de animação, em vídeo, sobre o tiro de artilharia na transição dos Séculos XV / XVI .

13- Professor convidado, Regente da Cadeira de História Militar, Academia Militar, no ano lectivo de 1998 –1999.

14- Colaborador científico convidado, para os aspectos relacionados com as armas de fogo no período medieval, Exposição “Pera Guerrejar”, no ambito do Simpósio Internacional sobre Castelos, que decorreu em Palmela de 3 a 8 de Abril de 2000.

15- Responsável pela reconstituição histórico-militar do Forte de Oitavos, à data de 1796, (Câmara Municipal de Cascais), cujos trabalhos decorreram entre 1999 e 2001.

16- Tem proferindo comunicações, conferencias e palestras, sobre temas relacionados com ahistória militar (incluindo a naval) nas Universidades de Lisboa e Coimbra ( no âmbito de Mestrados), Escolas Secundárias e outros organismos nacionais.


Tem publicados os seguintes trabalhos :

- “As origens da Artilharia Piro-Balística”, Revista de Artilharia, Nov-Dez 1977;

- “Falcões Pedreiros”, Bulletin, Early Sites Research Society, Vol. 10, Nº 2, Dec 1983, Mass., USA;

- “Sobre a possibilidade técnica do emprego de Artilharia na Batalha de Aljubarrota”, Revista de Artilharia, Jan-Fev 1986;

- “A Artilharia Portuguesa nas Tapeçarias de Pastrana –A Tomada de Arzila em 1471”, Separata da Revista de Artilharia, 1987;

- “Algumas Questões sobre as Munições de Artilharia de Alma Lisa”, in Bombardeiro, Boletim Nº 15 do RAC, Nov 1989;

- “D. João II e o Artilhamento das Caravelas de Guarda-Costas-o Tiro de Ricochete Naval”, Separata da Revista de Artilharia, 1990;

- “A Investigação Histórico-Militar Contemporânea em Portugal–Algumas achegas”, Revista de Artilharia, Nov- Dez 1990;

- “A Artilharia em Portugal na segunda metade do século XV in A Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa, CNCDP, Porto, 1994;

- “Estudos sobre Artilharia Antiga –I / A Torre de Belém, Revista de Artilharia, nºs 835-836, Mar-Abr 1995;

- “Estudos sobre Artilharia Antiga –II / Uma Experiência Artilheira ‘Sui Generis’”, Revista de Artilharia, nºs 878 a 880, Out a Dez 1998;

- “A Artilharia antes da Utilização da Pólvora”, em colaboração com o Engenheiro Tércio Machado Sampaio, Separata da Revista de Artilharia, Jul 2000;

- Novo conjunto de Tapeçarias de D. Afonso V na Igreja de Pastrana em Espanha, edição do autor, Lisboa, 2005.
_________

Nota de L.G.

(1) Vd. post de 17 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

Guiné 63/74 - P1188: Periquito vai no mato, olé lé lé, velhice vai no Bissau, olaré lé lé (J.L. Vacas de Carvalho)




Montemor-o-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Reunião da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > Videoclipe: Periquito vai no mato... (J.L. Vacas de Carvalho (duração: 1m 20 ss).

Videoclipe: © Luís Graça (2006). Direitos reservados. Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau_Videos. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1187: Guidaje: soldado paraquedista Lourenço... deixado para trás (Manuel Rebocho)

Texto do Manuel Rebocho - Sargento-Mor Paraquedista, na Reserva, que foi operacional na Guiné (Maio de 1972/Julho de 1974) e é hoje doutor por extenso, pela Universidade de Évora -, enviado em 2 de Outubro de 2006, e onde se resume o trabalho jornalístico, publicado pelo jornal quinzenário AuriNegra, com sede em Cantanhede (II série, nº 102, de 24 de Setembro de 2006), sobre a trágica morte e o miserável abandono do Soldado Paraquedista Lourenço, em Guidaje.


AURINEGRA ÀS VOLTAS POR GUIDAJE
Manuel Rebocho

Na sua edição de 24 de Setembro último, o Jornal Aurinegra edita um extenso trabalho sobre o Soldado Pára-Quedista Lourenço, enterrado em Guidaje, nascido e criado no concelho de Cantanhede, onde o jornal se publica. Era assim um filho da terra.

Na primeira página surge uma fotografia do Lourenço, com a farda azul de Pára-Quedista, que preenche metade da página, sob o título DEIXADO PARA TRÁS. E, como texto, escreve: “Com 19 anos de idade, o soldado Lourenço tombou no campo de batalha, na Guiné, quando procurava ajudar um camarada ferido. Foi enterrado em Guidaje, em campo aberto junto ao quartel e deixado para trás até hoje. Há agora uma pequena possibilidade de recuperar os seus restos mortais e fazer o luto com a honra devida".

Na página 3, em Editorial do Director, o Dr. António Fresco escreve, sob o título Contra os canhões:

“Estão profundamente marcadas na memória de muitos portugueses as recordações incómodas da Guerra do Ultramar, cujo principal mérito foi o de transformar milhares de jovens inocentes, filhos de um deus menor, em mártires, bodes expiatórios de uma culpa que nunca foi sua, pagando pecados que nunca cometeram. Estes foram os verdadeiros mártires de Abril.

"Se pode dar-se razão à máxima de que não há revolução se o sangue não correu, é possível dizer que este sangue derramado por jovens portugueses em África chegou a Lisboa e fez os seus efeitos. Mesmo ficando em Tite, em Guidaje, no Quanza, no Uíje, no Niassa e em muitos outros sítios cujos nomes nos parecem exóticos mas que para muitos ainda soam a medo e a guerra. Muitos que a protagonizaram e sofrem efeitos que nunca mais se apagaram e muitos outros, famílias inteiras, obrigados a conviver com a dor da perda irreparável.

"E muitos, por razões que a razão não compreende, não puderam sequer fazer um luto devido, uma vez que os corpos dos seus por lá ficaram. É o caso do soldado Lourenço, que hoje ocupa uma parte significativa do AuriNegra. Deixado para trás, no meio da devastação e no teatro da guerra mais sangrenta, na fronteira da Guiné com o Senegal, o filho de Fornos, Cadima, foi enterrado à pressa, embrulhado num lençol e lançado a uma terra com a qual só teve a ver porque uma guerra estúpida a isso o condenou.

"Mais de trinta anos depois, os restos mortais continuam a ser reclamados. E há gente de armas que entende ser dever da Pátria recuperar aqueles que morreram em seu nome. Esta Pátria que nos incita, ainda hoje, contra os canhões, marchar, marchar, não pode ignorar e não pode deixar ninguém para trás.”

O tema ocupa ainda e integralmente as páginas 9, 10 e 11.

Na página 10, com uma fotografia dos pais do Lourenço, desenvolve-se um artigo sob o título Deixado para trás > GUERRA NO ULTRAMAR > Soldado Pára-Quedista de Fornos, Cadima, morto em combate há 33 anos, permanece sepultado no mato a norte da Guiné.
O jornal resume assim, o texto desta página: “Um cemitério improvisado nas imediações do então aquartelamento de Guidaje, a norte da Guiné, guarda, desde 1973, os restos mortais de José de Jesus Lourenço, soldado pára-quedista natural da localidade de Fornos, freguesia de Cadima. O corpo foi enterrado em campo aberto juntamente com os de mais nove combatentes, (outros dois pára-quedistas, cinco soldados do Exército e dois nativos) e nunca foi resgatado, contrariando a máxima dos pára-quedistas segundo a qual ninguém fica para trás".

O jornal identifica ainda os outros sete camaradas do recrutamento metropolitano e esclarece que “em estudo está a abertura de uma conta no banco através da qual amigos e militares possam contribuir”, para os custos das transladações.

Na página 10 o Jornal desenvolve dois artigos, o primeiro sob o título Morte heróica: Soldado de Fornos levou tiro fatal quando tentava salvar camarada ferido.

Como resumo deste título escreve: “A morte do soldado pára-quedista, de 19 anos, da localidade de Fornos, Cadima, ganha nova dimensão quando se conhecem as circunstâncias em que ocorreu. Num depoimento oficial, o sargento da companhia de que José de Jesus Lourenço fazia parte afirma que o pára-quedista encontrou a morte quando tentava retirar um camarada ferido da zona de morte”.

No segundo artigo sob o título Na guerra por opção, José de Jesus Lourenço foi para a tropa como voluntário para despachar o serviço obrigatório.

Com resumo escreve: “Foi o desejo de despachar a tropa que, segundo os seus pais, ainda vivos, levou José de Jesus Lourenço a oferecer-se como voluntário, tinha então 18 anos. Caso não o tivesse feito, provavelmente seria chamado a cumprir o serviço militar cerca de dois anos depois, já depois do 25 de Abril, pelo que dificilmente se bateria pela Pátria no então Ultramar.”

Integrando ainda este artigo são feitas diversas referências à pessoa do Lourenço, todas elogiosas, da responsabilidade de vizinhos e amigos que com ele conviveram e trabalharam.
A página 11 é preenchida com um resumo das operações em torno de Guidaje, particularizando-se aquelas em que interveio a companhia do Lourenço, resumo este, de minha própria responsabilidade, e o mapa do improvisado cemitério.

A contribuição do jornal que, justificada e compreensivelmente, enfatiza toda a investigação em torno do soldado Lourenço, filho da terra, é no mínimo de grandiosidade jornalística e de extrema utilidade, para os nossos propósitos.

A justificação da componente social desta investigação encontrámo-la, quando, já em Fornos, a jornalista, eu e um camarada dos combates na Guiné, que nos acompanhava, interpelámos um habitante sobre o local onde moravam os Senhores (dizíamos o nome dos pais do Lourenço). O homem em causa, que aparentava pouco mais de 30 anos, afirmou não conhecer as pessoas cujos nomes lhe citávamos, mas quando lhe dissemos “são os pais de um soldado Pára-Quedista que morreu na Guiné e o corpo não veio”, o homem respondeu: “Ah, já sei, é ali”. Este episódio revela o quanto a sociedade tem preservado e transmitido às gerações seguintes este lamentável episódio daquele lugar, pois o homem que interpelámos não se pode recordar de algo que aconteceu quando ainda não era vivo: tem-lhe sido transmitido.

Conscientes da componente social de que se reveste o nosso objectivo e da notável contribuição do jornal AuriNegra, cuja abertura da conta bancária nos poderá proporcionar o último meio que nos falta, o monetário, seguimos em frente até entregar às suas famílias os restos mortais dos nossos camaradas que FORAM DEIXADOS PARA TRÁS.

Um abraço a toda a tertúlia, em especial, e a todos os leitores em geral.
Manuel Rebocho
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

14 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)

Guiné 63/74 - P1186: Ameira: revendo as fotos do Lema Santos (Sousa de Castro)




Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Três aspectos do nosso convívio:

(i) ao alto, o Vacas de Carvalho, a jogar em casa, nas suas sete quintas, deliciando-nos com velhos temas musicais do nosso tempo (comum) de Bambadinca; atrás dele, o Julião Martins e o Fernando Franco;

(ii) na imagem do meiop, o Raul Albino (da CCAÇ 2402, a que pertenceram originariamente o Medeiros Ferreira e o Beja Santos: o primeiro nunca chegou a aparecer porque desertou; o segundo foi transferido para o Pel Caç Nat 52: é nosso tertuliano, mandou saudações para topso mas não pôde desta vez comparecer à chamada);

(iii) e, por fim, um encontro (in)esperado e emocionante: dois heróis de Gadamael, o Casimiro Carvalho e o Pedro Lauret... (LG)


Fotos:© Manuel Lema Santos & esposa (2006) (com a devida vénia...)



Mensagem do nosso tertuliano nº 2, o Sousa de Castro (que, vivendo e trabalhando em Viana do Castelo, não pôde vir ao nosso 1º encontro):

Acabei de ver as fotos que o Lema Santos publicou no seu sítio. Calculo a alegria que foi transformar alguns tertulianos (os presentes, naturalmente), de membros virtuais da nossa tertúlia em pessoas de carne e osso.

Deixou-me com alguma inveja (no bom sentido, o não ter podido participar no primeiro encontro, pois!)... É que sinto que tenho alguma responsabilidade para com esta tertúlia.

Constatei que vocês voltaram a sentir-se com vinte anos, mesmo sem se conhecerem, pareceu-me que sempre se encontraram, ao longo destes anos todos. Por outro lado, iria sentir-me periquito ao vosso lado, tendo em conta as unidades a que a maioria dos presentes pertenceu.
No entanto pode ser que para o ano que vem, quiçá, nos encontremos quando menos esperarmos.

Bem haja a todos.

Saudações tertulianas, Sousa de Castro (ex-1º cabo Radiotelegrafista, CART 3494 Xime/Mansambo, 1972/74)

Vila Fria - VIANA DO CASTELO
__________

PS - Para visualizar e descarregar as cerca de quatro dezenas de fotos do encontro da Ameira, tiradas pelo nosso camarada Manuel Lema Santos e/ou sua esposa,

Guiné 63/74 - P1185: Ameira: um momento de fraternidade (Jorge Cabral)

Guiné > Montemor-O-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Um momento de fraternidade, pensa (e sente) o Jorge Cabral, em primeiro plano, tendo à sua direita o nosso baladeiro de Bambadinca (1969/71), e hoje fadista amador, o Zé Luís Vacas de Carvalho. De pé, afinando as gargantas ou cantando ao desafio, outras duas grandes aves canoras: o Fernando Calado e o Manuel Lema Santos, o exército e a marinha de braço dado... O fotógrafo que estava de serviço e apanhou o flagrante, era o David Guimarães, radiante, felicíssimo... (ou terá sido a esposa ? em caso de engano, que me desculpem).

Foto: © David Guimarães (2005). Direitos reservados.

Mensagem do Jorge Cabral, ex-Alf Mil, Cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71) e actualmente advogado e docente universitário.

Caro Luís e Demais Tertulianos:


Também eu quero testemunhar o quanto me senti feliz, no nosso almoço na Ameira, o qual consubstanciou o mais belo momento de Fraternidade, que me foi dado viver. Sim, estamos todos unidos pela fortíssima corrente da Solidariedade. Aprendemos na Guerra a partilhar alegrias e tristezas e a compreender o Outro.

Nunca estivemos sós porque contámos sempre com o ombro do Camarada Amigo. É disso que sentimos saudades!

Irei certamente a Pombal. Mas porque não marcar o nosso próximo encontro na Guiné? Talvez em Bambadinca, no Café do Zé Maria

Abraços para todos,

Jorge Cabral

P.S. – Sobre o Stresse Pós-Traumático de Guerra (1), tive oportunidade de aprofundar o assunto há anos. Foi quando defendi em Tribunal o José Palminha, o mediatizado barricado no Carrefour. Com a ajuda do Psiquiatra, consegui provar que o Arguido, Ex-Combatente na Guiné, sofria dessa doença, tendo sido a pena fortemente atenuada.

________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 15 de Outubrod e 2006 > Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira: foi bonita a festa, pá... A próxima será no Pombal (Luís Graça)

(..) "De passagem, diga-se que o Sérgio Pereira faz parte dos órgãos dirigentes da Apoiar, a associação de apoio aos ex-combatentes vítimas de stresse de guerra... Amigos e camaradas: temos que falar abertamente deste problema, no nosso blogue...porque a verdade é que a guerra continua dentro de nós, para usar uma ideia-forte desta associação, cujo trabalho merece ser mais divulgado e acarinhado por todos nós" (...).

Guiné 63/74 - P1184: Postais Ilustrados (8): Allahu Akbar , Deus é Grande (Beja Santos)


Bilhete Postal > "11- Raça Maometana (sic). Trajos Típicos [da] Guiné. Edição Foto Iris, Bissau, Guiné, Portugal. Impresso em Portugal [...] Lisboa. Reprodução proibida."

Foto: © Beja Santos (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Bilhete postal, ilustrado, dos anos 60, que o Beja Santos teve a gentileza de nos confiar, para divulgação através do blogue... No verso, pode ler-se a mensagem que ele mandou a um familiar muito próximo:

Missirá , 8 de Julho [de 1969]

(...) Como há uma ano atrás, muita chuva, lama, trovoadas, a viatura atascada na bolanha, problemas sanitários, etc. Um grande desgosto, agora: meus comandante e capitão punidos e forçados a abandonar Bambadinca. Creio que era altura de visitar a Sra. Dona Alzira Bastos (...) (2).


2. Comentário de L.G.:

Um observação para não deixar passar, impunemente, uma grossa asneira que pode ser atribuída, no mínimo, a ligeireza ou a santa ignorância e, no máximo, a racismo encapotado, a incultura geral, a apressada exploração comercial, por parte do editor deste postal, a Foto Iris, do exotismo da Guiné - aos olhos dos tugas que chegavam, aos milhares, nos T/T Niassa, Uíge, Alfredo da Silva, Ana Mafalda... Presumo, de resto, que o negócio dos postais ilustrados tenha sido altamente lucrativo, no período da guerra colonial (1961/74).

Primeiro, não existe o conceito (antropológico) de raça aplicado aos seres humanos. Só há uma raça (ou melhor: uma espécie), a do Homo Sapiens Sapiens... Os grupos humanos distinguem-se sobretudo pela cultura (etnia, língua, apropriação do espaço, usos e costumes...), embora haja diferenças a nível do fenótipo (por exemplo, a cor da pele).

Por outro lado, não havendo mais do que uma raça (o que remete para o genótipo e não para o fenótipo), também não poderá existir um raça...maometana. Tal como não existe uma raça... cristã. Maomé e Cristo são apenas fundadores de religiões, o islamismo e o cristianismo.

Na Guiné-Bissau, o que havia (e há) são diferentes grupos étnicos ou étnico-linguísticos, alguns dos quais islamizados, ou muçulmanos, como os fulas, os mandingas e os biafadas, que tendiam (tendem) a adoptar o vestuário árabe, de resto generalizado entre as populações norte-africanas e subsarianas, porque muito mais apropriado ao clima, e mais confortável e saudável, do que o vestuário ocidental.

Por razões de aliança estratégica, as autoridades portugueses, sob o governo de Spínola (1968-1973), deram um tratamento especial às autoridades políticas e religiosas locais, ligadas aos grupos muçulmanos e, em especial, aos fulas que habitavam maioritariamente na Zona Leste (concelhos de Bafatá e Nova Lamego) (3).

A expressão, árabe, Allahu Akbar, significa Deus é grande. E uma declaração ou expressão de elogio e glorificação. Vd. Jornal Público > Livro de Estilo > Religiões.

Vd. também artigo de Sofia Branco: Dados sobre a Guiné-Bissau e os guineenses em Portugal. Público. 4 de Agosto de 2002.

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. o último post desta série: 10 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1164: Postais Ilustrados (7): Campune tatuada, Bijagó (Zé Teixeira).

Vd. posts anteriores, desta série (que no futuro poderá constituir uma base de dados interessante para investigadores na área da sociologia, da antropologia e da história que queiram estudar os estereótipos e as representações sociais que os tugas produziam e reproduziam sobre os guineenses e as guineenses durante a guerra colonial):

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1023: Postais Ilustrados (1): Pescadora, de etnia papel (Beja Santos)

7 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1030: Postais Ilustrados (2): Dança nalu, Cacine (Beja Santos)

8 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1031: Postais Ilustrados (3): Tocador fula, Bafatá (Beja Santos)

28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1125: Postais Ilustrados (4): Rapaz balanta, cesteiro (Beja Santos)

2 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1140: Postais Ilustrados (5): Bajuda manjaca, Ilha de Pecixe (Beja Santos)

7 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1157: Postais Ilustrados (6): Rapariga Papel, tatuada, do Biombo (Beja Santos)

(2) Alzira Bastos, esposa do 1º comandante do BCAÇ 2852, Pimentel Bastos, punido por motivos disciplinares, na sequência do ataque da guerrilha à sede do Sector L1, Bambadinca, em 28 de Maio de 1969.

Vd. posts de:

28 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1124: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (2): A vida boa de Bambadinca, no tempo do Pimentel Bastos

30 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1041: O Pimbas e os outros (Jorge Cabral)

16 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1035: Ainda sobre o Pimbas, com um quebra-costelas para o Beja Santos (Paulo Raposo)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1025: Tenente-coronel Pimentel Bastos: a honra e a verdade (Luís Graça)

4 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1028: O Pimbas que eu (mal) conheci (Jorge Cabral, Pel Caç Nat 63)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1012: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (3): Eu e o BCAÇ 2852, uma amizade inquebrantável )

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1014: A galeria dos meus heróis (5): Ó Pimbas, não tenhas medo! (Luís Graça)

14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal (Luís Graça)

(3) Vd. posts de:

18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)

(...) "Cheguei à Guiné em 23 de Março de 1972 e fiz parte de CCAÇ 3566 - Os Metralhas (...); a partir de 4 de Janeiro de 1973 e até ao fim da comissão passei a fazer parte da Companhia Africana CCAÇ 18 - Aldeia Formosa (Quebo para os africanos), tendo regressado [ à Metrópole] em 24 de Junho de 1974.

"De momento pretendo somente acrescentar uma nota acerca do chefe religioso Cherno Rachid que também conheci pessoalmente: faleceu em 1973 (...) durante o período em que estive em Aldeia Formosa.

"Na realidade o poder deste chefe religioso era enorme: a guerra parou para que um conjunto de autoridades religiosas dos países vizinhos se deslocasse a Aldeia Formosa para participar no seu funeral" (...).

15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça)

(...) "Bambadinca. 10 de Janeiro de 1970. (...) Tive hoje, aliás, a oportunidade de conhecer pessoalmente o Cherno Rachid e constatar o seu carisma e o poder de atracção que ele exerce sobre os africanos islamizados. Esteve vários dias em Bambadinca, de visita ao chão fula. Com avioneta ou helicóptero, às ordens, claro!

"Sentado numa esteira, de pernas trançadas, recebia nos seus aposentos privativos os fiéis que, descalços como na mesquita, o iam cumprimentar, trazendo-lhe presentes, sobretudo em dinheiro (às vezes mesmo somas importantes!) em troca duma oração, dum conselho ou dum objecto cabalístico.
"Como seria de esperar, o Cherno Rachid, acompanhado da sua comitiva de servos e discípulos, foi depois por seu turno apresentar cumprimentos às autoridades militares locais (comando do batalhão)... Noblesse oblige!" (...).

segunda-feira, 16 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1183: Ameira: Bem hajam, todos (José Casimiro Carvalho)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350/72 (Outubro de 1972/Julho de 1973) > O ex-furriel miliciano de operações especiais Casimiro Carvalho, actualmente a viver na Maia, distrito do Porto. Foto amavelmente cedida pelo próprio e digitalizada pelo seu amigo e vizinho de Matosinhos, o ex-ranger Eduardo Magalhães Ribeiro.

Foto: © Magalhães Ribeiro (2005)


Mensagem do José Casimiro Carvalho:



Caros camaradas, esposas e convidados:

Não queria deixar passar este momento de puro convívio [, na Ameira, sábado, 14 de Outubro,] sem expressar a minha opinião acerca do mesmo.

Ora quis o acaso que eu descobrisse há tempos este blogue, local de tertúlia, qual bola de neve. Não sei (não me lembro) se foi o acaso ou se foi o Magalhães Ribeiro, que mandou umas fotos e uns textos a meu respeito, mas que muito me orgulhou, ao serem publicados com a frase "o nosso herói de Gadamael" (1), lembrando-me que na altura (1973), escrevi um aerograma ou carta (eu deixei estes documentos nas mão do Graça) onde dizia: "Devo levar um louvor pelo que fiz em Gadamael, só não mo dão se foram loucos"...

Bem...foram loucos, mas a tertúlia se encarregau de dar o seu a seu dono, só por isso mil agradecimentos: vocês estiveram no inferno, souberam e sabem o que passámos. E este encontro serviu, como alguém frisou e bem, para exorcizar fantasmas...

Não conhecia ninguém mas senti-me como se todos me fossem familiares...Que sensação tão boa, indescritível, senti-me como peixe na água e as senhoras então...sempre interessadas e atentas... Fiquei muito comovido quando uma delas leu o meu texto que pus a disposição, na mesa, e a seguir as lágrimas lhe correram pela cara, como se a história fosse de um seu familiar muito próximo...Bonito !!!

Ter conhecido os Homens da Orion [,o Pedro Laureti e o Manuel Lema Santos,] foi algo que não consigo explicar por palavras... Se o meu coração falasse...

Gostaria de ter tido alguém da FAP [Força Aérea Portuguesa]. Então, o círculo ficava completo, mas como diria o Pinto da Costa, "largos dias têm cem anos"... Hão-de aparecer.

O Luís Graça tem um perfil e um saber-estar acima da média, passou a ser um dos meus admirados, sem qualquer favor.

Quanto a Pombal [, local sugerido para o próximo encontro]...Apoiado, nessa altura levarei alguém comigo.

Bem hajam, todos.

_________

Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)


Vd. ainda os seguintes posts:
2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael
15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I)

15 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte)
(...) "Guiné > Guileje > O ex-furriel miliciano de operações especiais Casimiro Carvalho, da Companhia Independente de Cavalaria 8350, que esteve naquele que ficou conhecido pelo corredor da morte, entre Guilege e Gadamael , entre Outubro de 1972 e Junho de 1973. Ele foi reconhecido como um dos heróis de Gadamael, não só pelos seus camaradas e pelos seus superiores imediatos (o Capitão Quintas, comandante da CCAV 8350, ferido em combate na batalha de Gadamael, bem como pelo capitão comando Ferreira da Silva, nomeado de urgência para chefiar o COP 5, e aqui evocado e entrevistado pelo jornalista do Público)... Mas esse facto nunca foi devidamente reconhecido pela hierarquia do Exército (LG)" (...)

14 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P877: Nós, os que não fazemos parte da história oficial desta guerra (Manuel Rebocho)

(...) "Ah, faltava dizer-lhes, que tomei contacto com o vosso/nosso blogue, através do então Furriel Miliciano José Casimiro Carvalho, da CCAV 8350 (a que abandonou Guileje, em 22 de Maio de 1973), o grande herói de Gadamael Porto, que, não obstante isso, também não faz parte da história oficial da Guerra da Guiné"(...).

Guiné 63/74 - P1182: Ameira: O Grito de Guerra dos Rangers ecoando na planície alentejana (Luís Graça)







Montemor-o-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > 14 de Outubro de 2006 > Reunião da tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > Videoclipe: Guiné > O Grito do Ranger (duração 7 ss).
Texto e videoclipe: © Luís Graça (2006). Direitos reservados. Vídeo alojado no álbum de Luís Graça > Guinea-Bissau: Colonial War. Copyright © 2003-2006 Photobucket Inc. All rights reserved.


No encontro na Ameira, em 14 de Outubro, descobriu-se quem era ranger e quem não era... O Magalhães Ribeiro que veio do Norte, juntamente como seu inseparável amigo, o ranger Casimiro, quis brindar-nos com o célebre Grito do Ranger.... Enquanto o diabo esfregava um olho, já ele tinha pronta a sua equipa, tudo gente formada e treinada no célebre Centro de Operações Especiais de Nova Lamego.

Neste videoclipe, temos por ordem, da esquerda para a direita, os rangers Capitão Sampedro, e pos Furriéis Chapouto, Ribeiro, Reis e Casimiro... Foi o momento guerreiro da tarde. Obrigado, rangers. Agora percebo por que é que um ranger não se pode desfardar: por debaixo da farda, tem pele de ranger, é-se ranger para toda a vida...
Na bela e ensolarada tarde alentejana, a fazer lembrar as tardes calmas da Guiné, calou fundo este Grito de Guerra dos Rangers Portugueses, ecoando pela planíce alentejana...

Guiné 63/74 - P1181: Ameira: o (re)encontro de uma geração valorosa (Rui Felício)


Montemor-o-Novo > Ameira > Herdade da Ameira > Restaurante Café do Monte > 14 de Outubro de 2006 > Da esquerda para a direita: Rui Felício, Maria Alice Carneiro (esposa do Luís Graça), António Pimentel (que veio propositadamente do norte, com o Hernâni Figueiredo), o Victor David e a esposa e, por detrás, o Paulo Raposo, o nosso amável anfitrião.

Foto: © Luís Graça (2005). Direitos reservados.


Mensagem do Rui Felício (ex-Alf Mil, CCAÇ 2405, Mansoa, Galomaro e Dulombi, 1968/70), hoje economista e empresário, membro da nossa tertúlia e autor de algumas das mais saborosas estórias já aqui publicadas, reveladoras de um sentido muito especial de humor que nos ajudou a sobreviver e a manter-nos vivos e solidários, uma espécie de defesa mental contra o cacimbo, o clima, a guerra (1):


Meu Caro Luís Graça:

Como dizem os brasileiros, o meu testemunho é claramente chover no molhado... Na verdade, dizer que o belo dia de sábado, passado na agradável herdade do Raposo, foi uma jornada inesquecível, é repetir o que por certo todos já te terão dito (2).

Mas nem por isso devia deixar de o referir, para lembrar que o encontro da Ameira só foi possível, porque existe o blog que tu criaste e que, com tanto trabalho e mérito, vais gerindo, coordenando e engrandecendo.

Registei, das intervenções que alguns fizeram a seguir ao almoço, alguns aspectos que confirmaram aquilo que eu já pensava através da assídua leitura do que vais editando no blog, designadamente, o facto de a tertúlia se compor de variadas perspectivas e olhares, na análise e recordação da nossa passagem por terras da Guiné, em circunstâncias adversas de clima e da própria guerra.

Embora nem sempre coincidentes, são perspectivas cuja diversidade proporciona uma visão mais completa, segura e enriquecedora das memórias de todos nós. Bastaria ter ouvido, além de tantos outros, o Virgínio Briote, o Casimiro Carvalho, o Lema Santos [, o Pedro Lauret, o Tino Neves, o Paulo Santiago, o Carlos Santos] e, especialmente, o Vitor Junqueira, para comprovar o que acabei de dizer, isto é, a nossa geração fez a guerra de África segundo as suas próprias convicções, declaradamente contra ela, a favor dela ou conformada com ela, mas sem dúvida dando o melhor de si na defesa de princípios e sentimentos que pairam acima dos interesses ou conveniências individuais.

Sou dos que naquela época era contra a guerra, mas nunca confundi isso com o dever de a fazer o melhor e mais profissionalmente que me fosse possível, quanto mais não fosse para garantir aos soldados à minha responsabilidade o regresso a casa, sãos e salvos.

É por isso que não aceito que, passados tantos anos, algumas figuras proeminentes da nossa classe política actual venham hoje a público, não poucas vezes, arvorar-se em heróis, por terem tido a coragem de desertar, de fugir para o estrangeiro, criticando aqueles que como nós estiveram em África a combater.

Obviamente que isso não é coragem. Prefiro chamar-lhe comodismo, medo... Para não lhe chamar cobardia... Gostava de os ter visto na Ameira... Ficariam a conhecer homens cujo medo (que todos tínhamos... ) foi vencido pela coragem e pelo sentido de dever...

Um abraço

Rui Felício

PS -

(i) Só agora soube que o Vitor Junqueira é médico em Pombal. Fui grande amigo do Muñoz e Alvim, que estudou em Coimbra ao mesmo tempo que eu, embora em cursos diferentes. Nunca mais o vi, mas disseram-me que ele foi médico no Hospital de Pombal. Se o Vitor Junqueiro ler isto, pedia-lhe que me confirmasse se ele andou por lá ou mesmo se ainda exerce medicina em Pombal.

(ii) O reconhecimento pelo excelente trabalho do Carlos Marques...

(iii) Refiro ainda a agradável conversa, já ao fim do dia, com o J. Martins e Esposa... Foi por causa de um texto dele que eu entrei no blog, a propósito do desastre do Che-Che (3)

_________

Notas de L. G.:

(1) Vd. posts de:

18 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1085: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (5): O improvisado fato de banho do Alferes Parrot na piscina do QG

5 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1046: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (4): a portuguesíssima arte do desenrascanço

19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXL: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (3): O dia em que o homem foi à lua

14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVII: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (2): O voo incandescente do Jagudi sobre Madina Xaquili

9 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXIX: Estórias de Dulombi (Rui Felício, CCAÇ 2405) (1): O nosso vagomestre Cabral

Vd. também post de 31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1006: Estórias de Mansoa (1): 'Alfero, água num stá bom' (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(2) Vd. posts de ontem, 15 de Outubro de 2006.

(3) Vd. posts de:


12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXVI: O desastre do Cheche: a verdade a que os mortos e os vivos têm direito (Rui Felício, CCAÇ 2405)

(...) "Acabei de ler um texto escrito pelo camarada José Martins onde relata a sua experiência na zona de Madina do Boé.

"Embora tenha reconhecido que não assistiu directamente ao que se passou no célebre e lamentável desastre do Cheche, ocorrido no fatídico dia 6 de Fevereiro de 1969, o José Martins conheceu bem o local e a região e desenvolveu a sua descrição socorrendo-se de relatos e documentos alusivos ao sucedido.

"E nota-se pelo seu relato que sofreu muito, e que ainda hoje sente as marcas do desastre, passados 37 anos sobre a sua ocorrência" (...).


8 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXXX: A retirada de Madina do Boé (José Martins)

(...) "O mês de Fevereiro de 1969 tivera início há poucos dias quando passou, no aquartelamento de Canjadude, uma coluna cuja missão era retirar a Companhia de Caçadores nº 1790 do seu destacamento de Madina do Boé. Paralelamente a guarnição do posto do Cheche, pertencente à Companhia de Caçadores nº 5, também retiraria e juntar-se-ia à nossa companhia em Canjadude" (...)

Guiné 63/74 - P1180: Paraquedistas, anjos da morte nos céus do Corubal (Luís Graça)


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 > Finais de 1969 ou princípios de 1970 > O ex-furriel Henriques, que na altura usava um pera, à revelia do RDM, e óculos esfumados (na época, estavam na moda)... Esses óculos irão desaparecer, para sempre, sob o efeito de cone de fogo de um bazuca, no decurso da Op Boga Destemida, em 9 de Fevereiro de 1970 (1)... Em homenagem às cangalhas, que lhe terão possivelmente salvo a vista, e que ficaram para sempre enterrados no capim e na terra vermelha de Gundagué Beafada, aquele tuga nunca mais usou óculos na vida... Não sei se irá conseguir cumprir a promessa até ao fim dos seus dias... (LG).
Foto: Luís Graça (2005)

Originalmente publicado no início do Blogue-fora-nada, post de 21 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XXIII: Os anjos da morte

Texto que se recupera por várias razões: (i) não referir a palavra paraquedistas no título; (ii) não mencionar o nome do autor; (iii) vir a propósito da tabanca de Candamã, aqui belissimamente evocada pelo Torcato Mendonça (2) ; (iv) na altura não existir sequer, disponível on line, a carta de Duas Fontes; e, por fim, (v) prestar a homenagem aos nossos camaradas paraquedistas que honram, com a sua presença e o seu testemunho, a nossa tertúlia.

Não se veja neste texto qualquer crítica às tropas especiais, e muito menos aos paraquedistas. É um texto datado, circunstancial, que já não reflecte necessariamente as ideias e os sentimentos do seu autor, em relação à guerra em que participou, como todos os outros que aqui estão ... Esse tuga que escrevia o seu diário, com bastante irregulariadade, entre dois uísques, via e vivia com tristeza as baixas que aconteciam de um lado e do outro... Não foi refractário, não foi desertor, mas foi soldado contra a sua própria guerra... (LG) .


Excertos do Diário de um Tuga [Luís Graça, ex-furriel mil Henriques, Atirador de Armas Pesadas de Infantaria, CCAÇ 2590/CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971].

Bambadinca, 20 de Agosto de 1969:

Nisto os páras são bons. Têm de ser bons. Tiram efeito do factor surpresa. Do terror que vem dos ares. Como os anjos do céu das visões místicas de Santa Teresinha, empunhando espadas de fogo, eles caem fulminantes sobre o objectivo e em poucos minutos desbaratam o IN ou obrigam-no a uma retirada desastrosa. Os seus contactos com tudo o que mexe no chão são breves mas mortais. Vejo nos meus camaradas, milicianos, uma secreta, inconfessável, admiração por esta tropa de elite ou a elite da tropa...

A nós, tropa-macaca, puseram-nos no anfiteatro, em semicírculo, nas proximidades da bolanha do Rio Biesse [vd. carta de Duas Fontes]. Eles são os actores, nós os espectadores. Quando muito somos simples figurantes. É uma peça de teatro com três actos. Acto final: um heliassalto, a presa, os roncos... Eles são chitas, especialistas nos 100 metros. Nós, somos chacais, verdadeiros corredores de fundo. Eu cheiro a merda que tresando, aqui postado na orla da mata.

Há um mês que andamos pela região de Camará [, a nordeste de Mansambo, no regulado do Corubal, no limite do Sector L1,] em patrulhamentos ofensivos. De dia e de noite, ao calor e à chuva, como uma matilha de cães a reconhecer o terreno, a bater a coutada, a farejar a caça, para depois virem os anjos do céu, em formação, em voso raso sobre os palmares, cair sobre as pobres presas encurraladas.

A primeira vaga é lançada a oeste da bolanha, penetrando os paras logo de imediato na espessa mata que se estende para sul e onde há dias tínhamos localizado um acampamento. Eles vêm de Bafatá, de helicóptero. Impecáveis no seu fato camuflado de arcanjos da morte. Frescos, perfumados (3).

Devido ao mau tempo, os T-6 não puderam bombardear previamente a zona. De qualquer modo, o helicanhão, aterrador como um dragão alado, lança o pânico entre os guerrilheiros, pondo-os em debandada, enquanto na estrada as forças de Mansanbo [, CART 2339, ] fecham o cerco, cortando uma possível retirada para Biro, do outro lado da estrada Bambadinca-Mansambo-Xitole.

Cinco minutos depois é capturado um guerrilheiro armado de RPG-2. Do interrogatório sumário, os paras arrancam-lhe poucas informações. Diz apenas chamar-se Malan Mané, pertencer a um bigrupo (reforçado, ou sejam, oitenta homens), comandado por Mamadu Indjai e disperso em pequenos grupos pela mata. Pelo apelido, Mané, parece-me ser mandinga. Ficará aqui preso em Bambadinca, depois de esprimido pelos paras e pelos pides (4).

Sucedem-se mais duas vagas de helicópteros e os páras passam então a percorrer a mata no sentido norte-sul. Ouvem-se tiros de rajada, para além do matraquear do helicanhão: são feitos dois mortos e capturadas três armas automáticas. Fraco resultado, fraco ronco, para tanto aparato bélico. Afinal, trata-se de uma operação a nível de agrupamento, envolvendo o sector L1 (Bambadinca) e o COP 7 (Bafatá). E, no mínimo, o combate não é leal: há um guerrilheiro para cinco combatentes nossos...

Quanto a acampamentos ou arrecadações de material, nada de importante é detectado. Passado o efeito de surpresa, os guerrilheiros, dispersos em pequenos grupos, conseguem fugir da zona do heliassalto, e retiram-se muito provavelmente na direcção de Biro.

O pano cai sobre o palco: a tropa especial regressa a Bafatá, a tropa-macaca segue para Bambadinca e Mansambo.

PS - Soube-se mais tarde que Mamadu Indjai, o mítico comandante do Sector 2 no meu tempo, foi ferido com gravidade em trocas de tiros com as forças de Mansambo e evacuado. Fiquei com uma secreta admiração por este homem que nunca chegarei a conhecer. Nem sei se hoje está vivo ou morto, depois das lutas fraticidas que ocorreram no seio do PAIGC antes e depois da independência. Lisboa, 21 de Maio de 2005.
_______

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 9 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)

(2) Vd. post de 11 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1167: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (4): Candamã, uma tabanca em autodefesa

(3) Vd. post de 30 de Julho de 2005 > Guiné 63/74 - CXXX: A CAÇ 12 em operação conjunta com a CART 2339 e os paraquedistas (Agosto de 1969) (Luís Graça)

(4) Vd. posts de:

9 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - CXLVII: Malan Mané, guerrilheiro, vinte anos, mandinga (Luís Graça);
e
8 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLVI: Setembro/69 (Parte I) - Op Pato Rufia ou o primeiro golpe de mão da CCAÇ 12 (Luís Graça)

domingo, 15 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1179: Ameira, 14 de Outubro, um dia inesquecível (Pedro Lauret)

Pedro Lauert, quando jovem oficial imediato do NRP Orion (1971/73)

Foto: © Pedro Lauret (2006)


Mensagem de Pedro Lauret:

Caro Luís,

Sábado foi um dia inesquecível!

Quero-te transmitir pessoalmente o meu apreço e admiração pelo trabalho excepcional que estás a desenvolver, és de facto um grande timoneiro desta nave… nave que, sendo constituída por homens fortes, robustos e corajosos, é no entanto frágil e necessita de grande carinho e inteligência para se poder fazer ao mar e desafiar as tormentas. Um abraço de amizade e apreço.

Foi com enorme prazer que abracei os meus companheiros de tertúlia, alguns já conhecia das suas intervenções no blogue.

Sem querer desvalorizar a satisfação que experimentei em conhecer todos vós, foi o meu encontro, ou reencontro, com o Casimiro Carvalho, o corajoso Ranger de Gadamael, que torna, para mim inesquecível o sábado passado. Não sou capaz de descrever o conjunto de emoções, memórias, afectos que se entrecruzaram na minha cabeça ou no meu coração. Os acontecimentos que vivemos em conjunto foram de tal forma dramáticos que acompanharão as nossas memórias até ao fim das nossas existências. Não terá este reencontro algum simbolismo? Talvez…


Um abraço para todos
do companheiro e camarada

Pedro Lauret

(Oficial imediato do NRP Orion 1971-1973)


PS – Os navios da Marinha de Guerra têm Guarnições e não Tripulações. A Força Aérea tem tripulações pois não há vínculo permanente entre quem conduz e o objecto conduzido, ou seja o comandante de um avião e todos os seus colaboradores podem exercer a sua actividade hoje num avião e amanhã noutro. Na Marinha um navio é guarnecido por um período longo, por um conjunto de homens que criam com ele uma relação de serviço e até afectiva. Penso ser patente o afecto com que eu e o Lema Santos nos apresentamos como Imediatos do NRP Orion.

Guiné 63/74 - P1178: Ameira: Que belo dia! (Fernando Chapouto)

Photobucket - Video and Image Hosting


Texto e foto: © Fernando Chapouto (2006)


1. O que é prometido é devido: o emblema da minha companhia, a CCAÇ 1426 (1965/67)... Como te expliquei, chamavam-nos os Mandingas... A população local tinha-nos respeitinho. E este nome devia-lhes inspirar algum terror... Como sabes, andei pelos mesmos sítios por onde irá andar, logo a seguir, o Marques Lopes: Geba, Banjara, Camamudo, Cantacunda...

Sempre prontos: era o nosso lema... A propósito, a minha página mudou de endereço. Tenho 43 fotos do meu tempo de Guiné em Cantinho do Fernando: O neu cantinho na Internet...

2. Que belo dia passado ma Ameira, na bela paisagem alentejana. Foi bom ouvir as histórias de cada um, algumas de arrepiar, mas era o nosso dia-a-dia.

Um grande abraço para todos os tertulianos.

Fernando Chapouto

Guiné 63/74 - P1177: Encontro da Ameira, Montemor-o-Novo, em 14/10/2006 : foi bonita a festa, pá!... A próxima será em Pombal (Luís Graça)


Montemor-o-Novo > Ameira > 14 de Outubro de 2006 > O grupo de tertulianos fotografados, por volta da 13h, antes do almoço no Restaurante Café do Monte, na Herdade da Ameira. Ainda não tinham chegado todos...

Mas vejamos quem estava naquele momento, da esquerda para a direita:


(i) na primeira fila, António Baia (de óculos escuros, enfermeiro num pelotão de intendência, veio com o Fernando Franco), José Bastos, Pedro Lauret, Lema Santos, Sampedro (foi capitão em Fajonquito, veio com o Manuel Pereira), Manuel Pereira, Aires Ferreira (de óculos escuros), Vitor Junqueira (também de óculos escuros), David Guimarães, José Casimiro Carvalho (de joelhos), Fernando Calado (novo tertuliano, ex-alf mil, CCS do BCAÇ 2852), Tino Neves, Jorge Cabral e, por fim, Luís Graça;


(ii) na segunda fila, Carlos Vinhal, Fernando Franco, Fernando Chapouto, Magalhães Ribeiro, Zé Luís Vacas de Carvalho, Neves (um empresário que veio com outro empresário, o Martins Julião, novo tertuliano, da CCAÇ 2701), Humberto Reis (de óculos escuros), Virgínio Briote, Raul Albino...




Montemor-o-Novo > Ameira > As nossas belas e solidárias companheiras... Infelizmente, não tiveram o tempo de antena que mereciam... Atrás delas, reconhece-se o Fernando Chapouto e o pira de Mansoa (o nosso ranger Magalhães Ribeiro)...

Texto e fotos: © Luís Graça  (2006) . Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné).


1. Meu caro Paulo Raposo:

Obrigado, por tudo, pela tua hospitalidade, afabilidade, sensibilidade, amizade, camaradagem. A festa foi bonita, pá, mas foi curta, o dia passou-se depressa... É sempre assim, nestas ocasiões, deixando aquele típico sabor a pouco, no corpo e na alma...

Tive pena de ter mais tempo para te conhecer melhor e falar contigo... Se não for antes, para o próximo ano, lá estaremos em Pombal, todos nós, os amigos e camaradas da Guiné. Apreciei a amizade que vocês, a malta da CCAÇ 2405 (tu, o Victor David e o Rui Felício, e as respectivas caras-metades...) têm cultivado ao longo destes anos... Afinal, os nossos amigos e camaradas fazem (ou devem fazer) parte da nossa rede de apoio psicossocial...

Tive pena de teres podido estar presente no nossa pequena reunião, no teu simpático hotel, a seguir ao almoço. O restaurante Café do Monte não tinha condições (físicas e acústicas) para pôr cinquenta e tal pessoas a falar… O teu hotel foi, de facto, mais acolhedor… E quanto à paisagem circundante, só tenho a dizer que era serena e familiar... Como tu nos fizeste lembrar, há semelhanças por exemplo entre o pôr do sol de África e do teu Alentejo (de adopção, já que nasceste em Oeiras)...
E a propósito, obrigado por me teres explicado por que é que o Brigadeiro Nascimento e esposa faziam da sua casa em Bissau, a Casa de Oeiras... Mancebo de Oeiras, em trânsito por Bissau, pernoitava, almoçava e jantava lá: é que os Nascimento eram de Oeiras ou viviam em Oeiras e conheciam todo o mundo e todo o mundo os conhecia.... A hospitalidade era, então, uma regra de ouro, nessa Oeiras que tinha a dimensão humana que já não tem hoje. Claro que tu, ficavas no Grande Hotel mas não podias fugir as obrigações sociais do almoço e do jantar...


Montemor-o-Novo > Ameira > Hotel da Ameira > Não foi fácil pôr os meninos e as meninos sentados/as, caladinhos/as, nas cadeiras... para a nossa primeira... assembleia geral!... A excitação de estarmos juntos pode explicar esse comportamento típicos dos primatas sociais que nós também somos, segundo a classificação dos zoólogos...

Entretanto, o nosso baladeiro de Bambadinca, o Zé Luís (Vacas de Carvalho, natural de Montemor-o-Novo, uma terra que não deu para descobrir, mas que é hoje uma das mais dinâmicas do Alentejo, até do ponto de vista da criação artística e da animação cultural), não se esqueceu da sua viola (que saudades!) e esteve incansável o resto da tarde, tendo feito as honras da casa, na tua ausência...


2. Na única qualidade que eu podia legitimamente invocar, a de criador e editor do nosso blogue, puxei da palavra para agradecer a todos os que quiseram e puderam aparecer na Ameira para este primeiro encontro (geral) da nossa tertúlia... Não foram muitos nem poucos: apenas um 1/3 dos nossos tertulianos, a que há a somar as acompanhantes, num total de cerca de 56 ou 57 pessoas, ao almoço…

Juntaram-se ainda ao grupo, depois do repasto (que de facto não foi de lebre com feijão como o IN fez constar perfidamente por aí…), o Sérgio Pereira e a sua simpatiquíssima esposa, alentejana como ele (e que de resto irá depois dar luta ao Vacas de Carvalho, com o seu impressionante rol de cantigas que ela sabia de cor e salteado…).

De passagem, diga-se que o Sérgio Pereira faz parte dos órgãos dirigentes da Apoiar, a associação de apoio aos ex-combatentes vítimas de stresse de guerra... Amigos e camaradas: temos que falar abertamente deste problema, no nosso blogue...porque a verdade é que a guerra continua dentro de nós, para usar uma ideia-forte desta associação, cujo trabalho merece ser mais divulgado e acarinhado por todos nós...


Carlos Marques dos Santos

Falemos agora do Carlos Marques dos Santos (CART 2339, Mansambo, 1968/69), o qual merece uma palavrinha de apreço, porque foi ele o nosso major de operações… Confidenciou-me que a sua Inês, a conhecida cantora Inês Santos, natural da belíssima Cidade do Mondego, chegou a oferecer-se para nos vir, à Ameira, alegrar a alma com a sua música, a sua poesia e a sua juventude… É uma ideia para a explorar proximamente...

É bonito associarmos os nossos filhos, discretamente, a estas iniciativas… O único – se não erro – que levou um filho (ou melhor, a filha) foi o Vítor Junqueira. Numas palavrinhas de aquecimento (inicial) que eu dirigi à nossa tertúlia, já depois do almoço, lembrei quão difícil é, ainda hoje, falarmos, aos nossos filhos e às nossas mulheres, da Guiné, da nossa experiência pessoal, única e intransmissível, que foi a guerra colonial na Guiné… (Infelizmente, não houve tempo depois para ouvir o seu ponto de vista, mas em Pombal, no próximo encontro, é absolutamente imprescindível que a gente se cale e lhes dê a palavra)...


Vítor Junqueira

Foi o mesmo Vítor Junqueira quem, nesta primeira assembleia-geral (e por isso histórica… mas informal, espontânea, sem actas, sem agenda) da nossa tertúlia, disse uma coisa, sentida, sincera, mas porventura insólita (para alguns) e até politicamente incorrecta (eventualmente para outros):
- Vim de França (onde os meus pais eram imigrantes) cumprir, voluntariamente, o serviço militar, escolhi voluntariamente a especialidade de atirador de infantaria e ofereci-me voluntariamente para ir à Guiné… Deixem que vos diga que foram os dois melhores anos da minha vida!...

Já há tempos o Vacas de Carvalho tinha deixado, na tertúlia, essa mensagem (positiva),que eu vou citar de cor:
- Por mim recordo só o melhor da Guiné: os amigos, os camarados, uns copos, uns passeios, algumas bajudas…


Paulo Santiago

Na Ameira, a logística era simples, o programa flexível, e a tarde foi proveitosa, naquele sentido em que todos puderam estar com todos, mesmo que por pouco tempo… É claro que fica sempre a sensação (algo culpabilizante) de que não falámos o suficiente com todos e cada um… Eu, pessoalmente, não tirei tantas fotogarafias quanto eu gostaria ou esperava ter tirado, porque muito simplesmente não dá para tirar chapas e conviver, ouvir estórias, escutar, abraçar, tirar notas, receber álbuns fotográficos e vídeos... Mas havia mais fotógrafos: a simpática e discreta filha do Vitor Junqueira (que é hoje médico, em Pombal), o Carlos Fortunato (que é informático e vai à Guiné no próximo dia 17 de Novembro, por coincidência, no mesmo e avião em que viaja o José Bastos: fui eu quem os apresentei um ao outro... Sem esquecer a esposa do Manuel Lema Santos e ele próprio...

Uma especial saudação para os amigos e camaradas que vieram de mais longe, do Norte: de Ovar e do Porto, respectivamenet, o Ernâni Acácio e o António Pimentel, da CCS do BCAÇ 2851 (1968/70); da Maia e de Matosinhos, respectivamente, os rangers Casimiro Carvalho (o nosso herói de Gadamael) e o Magalhães Ribeiro (o pira de Mansoa); de Espinho, o David Guimarães (um dos nossos mais antigos tertulianos, com o Sousa de Castro e o Marques LOpes); de Matosinhos, também veio o Carlos Vinhal, sempre discreto mas atento e observador…

Veio também malta do Centro: o Aires Ferreira, o Paulo Santiago (Águeda), o Martins Julião (hoje, empresário), que também trouxe com ele o Neves, um jovem empresário com negócios na Guiné-Bissau… Desculpem-me, se me esqueço de alguém, ou se a memória me atraiçoa...


Casimiro Carvalho


Carlos Vinhal


Neves, empresário com negócios na Guiné-Bissau


Virgínio Briote, folheando o livro do Rui A. Ferreira, "Rumo a Fulacunda"


António Baia e Fernando Franco

De Lisboa, da Grande Lisboa, veio o resto da maralha, incluindo alguns periquitos como o Fernando Calado… Os que falharam ao encontro, por uma ou outra razão de última hora, foram poucos: o Ismael Augusto, o Torcato Mendonça, o Manuel Rebocho… Claro que sentimos a sua falta.


3. Das ideias (fortes) que foram postas a circular, na nossa pequena reunião de pós-almoço, fica aqui um resumo:

(i) A tertúlia pode e deve já pensar em tirar partido dos ricos conteúdos já inseridos no blogue, e nomeadamente começar a produzir… blooks (livros impressos, que entram no circuito livreiro, e que são resultado dos materiais inseridos num blogue, individual ou colectivo) (Pedro Lauret);

(ii) Pombal é um bom sítio, um sítio central, em termos de equidistância do Porto e de Lisboa, para a realização do próximo encontro da tertúlia (Vítor Junqueira);

(iii) Haveria um crescente número de ex-combatentes que amaram e continuam a a Guiné e o seu povo, dispostos a ajudar, de maneira efectiva, concreta e solidária, o desenvolvimento daquele país, sendo importante para esse efeito canalizar essas ajudas (financeiras ou outras) para uma organização não-governamental (ONG) que seja credível (António Pimentel);

(iv) O Carlos Oliveira Santos, que foi furriel no CCAÇ 2701 (Saltinho, 1970/72) evocou o seu amigo Rui Alexandrino Ferreira, que foi comandante da CCAÇ 18, em Almeida Formosa, e tem um livbro notável sobre a sua experiência de guerra, Rumo a Fulacunda (já aqui, de resto, recenseado)… Um exemplar do livro circulou pelos presentes. O seu autor está, infelizmente, a passar por alguns problemas de saúde;

(v) Não esqueçam os nossos camaradass mortos e enterrados na Guiné, foi outra das ideias que mereceu o aplauso dos presentes;

(vi) Um momento alto do encontro – segundo a opinião do José Martins – foi a evocação da LFG Orion por parte do ranger Casimiro Carvalho: foi através do nosso blogue que ele soube, trinta e três anos depois, que, além dos paraquedistas, houve outros anjos da guarda no princípio do mês de Junho de 1973, a guarnição da LFG Orion, representada na nossa tertúlia e no encontro da Ameira pelo comandante Pedro Lauret, na altura oficial imediato do navio;

(vii) Também houve emoções e lágrimas, dando a este nosso primeiro encontro um toque humano especial… Quem disse que os homens não choram, é por que não percebe nada de humanidade...

Foi bonito, pá! Curto, quiçá…

Espero voltar às terras do Rei Almançor, às tuas terras, Paulo.

Luís Graça, fundador e editor do blogue

4. Para memória futura, aqui fica a lista (sujeita a ratificação por parte do nosso major de operações, o CMS, o Carlos Marques Santos, coorganizador do encontro) dos presentes na Ameira (nem todos couberam na fotografia e começo por pedir desculpa se falho o nome de alguém):

António Baia (Amadora) (novo tertuliano, pertencia à Intendência);
António Pimentel (Porto):
António Santos e esposa (Caneças / Loures);
Aires Ferreira (região centro);

Carlos Fortunato e esposa (Lisboa);
Carlos Marques dos Santos e esposa (Coimbra);
Carlos Oliveira Santos (Coimbra) (novo tertuliano, CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72);
Carlos Vinhal e esposa (Matosinhos);

David Guimarães e esposa (Espinho);

Fernando Calado (Lisboa);
Fernando Chapouto e esposa (Bobadela / Loures);
Fernando Franco e esposa (Venda Nova / Amadora);

Hernâni Figueiredo (Ovar);
Humberto Reis e esposa (Alfragide / Amadora);

Jorge Cabral (Lisboa);
José Bastos (região norte);
José Casimiro Carvalho (Maia);
José Luís Vacas de Carvalho (Montemor-o-Novo);
José Martins e esposa (Lisboa);

Luís Graça e esposa (Alfragide/Amadora);

Manuel Lema Santos e esposa (Massmá / Sintra);
Manuel Oliveira Pereira e esposa (Lisboa);
Martins Julião e esposa (Oliveira de Azeméis ?);

Neves, empresário em Bissau (de que só sei o apedlido...)

Paulo Raposo (Ameira / Montemor-o-Novo);
Paulo Santiago (Águeda) ;
Pedro Lauret (Lisboa);

Raul Albino (Lisboa);
Rui Felício (Lisboa);

Sampedro (novo tertuliano, ex-capitão, que julgo ter pertencido ao BCAÇ 3884 , Bafatá, Contuboel, Geba e Fajonquito, 1972/74)
Sérgio Pereira e esposa (Lisboa);

Tino (ou Constantino) Neves e esposa (Laranjeiro / Almada);

Vitor Junqueira e filha (Pombal);
Victor David e esposa (Coimbra);
Virgínio Briote e esposa (Lisboa).

[Este poste foi reeditado em 18/9/2017: as imagens utilizadas estavam originalmente alojadas da nossa conta do Photobucket, cujas condições de subscrição foram recentemente alteradas. Estamos a recuperar esssas fotos e vídeos, cerca de 2 centenas. Pedimos desculpa pelo incómodo aos nossos leitores e autores]. (LG)

sábado, 14 de outubro de 2006

Guiné 63/74 - P1176: XI Encontro de Ex-Combatentes da Guiné da Freguesia de Guifões, Matosinhos (Albano Costa)


Texto e foto: © Albano Costa (2006)

Caro Luís Graça:

O Dia 5 de Outubro tem sido o dia dos ex-combatentes da Guiné da Freguesia de Guifões (Matosinhos), desde o ano de 1996, data do I encontro. Este ano foi celebrado o XI, na localidade de Martingança, perto de Leiria.

O restaurante Solar dos Noivos acolheu 94 pessoas que se fizeram deslocar em dois autocarros: é que a festa também era dos familiares dos 36 ex-combatentes, que se reuniram para confraternizar e recordar um pouco o que foi o seu período em que estiveram na guerra colonial, na Guiné.

É sempre um momento alto na vida de ex-combatente o reencontro (anual) com os seus camaradas de armas. Como devem calcular, fala-se de tudo um pouco num ambiente salutar e de grande camaradagem. Para aqueles que gostam de um pé de dança, e que são muitos, não faltou um grupo musical para animar a malta.

De salientar que sempre tem estado presente nestes encontros o pároco da freguesia de Guifões, visto que também foi combatente na Guiné, embora como capelão. Também marcou presença o presidente da Junta de Freguesia de Guifões, o que muitos nos orgulhou a todos: como aconteceu nos anos antreiores, ofereceu uma lembrança aos presentes , para comemorar o dia.

Um abraço,
Albano Costa

Guiné 63/74 - P1175: Uma Chaimite no Cacheu (Albano Costa)

Albano Costa, ex-1º Cabo, CCAÇ 4150, Bigene e Guidaje, 1973/74. O nosso fotógrafo de Guifões, um apaixonado da Guiné e das suas gentes. Com muita pena dele, não poude estar hoje no encontro da nossa tertúlia, na Ameira, em Montemor-o-Novo, devido a compromissos profissionais.

Texto e foto: © Albano Costa (2006)

Caro Luís Graça:

Sobre as Chaimites (1): só uma única vez a minha companhia teve a companhia de uma Chaimite, foi quando saimos do Cumeré com destino a Bigene e Guidage (2) nunca tivémos Chaimites nas nossas colunas.

Albano Costa
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:



(2) O nosso querido amigo e camarada Albano diz-me que não consegue escrever Guidaje com "j"... Sempre escreveu Guidage e continuará a fazê-lo... Porém os nossos cartógrafos militares escreviam Guidaje... Tenho visto as duas grafias. Ainda não tenho uma opinião definitiva sobre o assunto, mas inclino-me mais para a grafia dos Serviços Cartográficos do Exército: são uma fonte autorizada (vd. carta de Guidaje, 1954).

Guiné 63/74 - P1174: Três homens de Guileje: Nuno Rubim, Zé Neto e Pepito (Luís Graça)

Lisboa > Universidade Nova de Lisboa > Escola Nacional de Saúde Pública > 13 de Julho de 2006 &gt Visita de cortesia e reunião de trabalho do Pepito (AD - Acção para o Desenvolvimento) - na foto, ao centro - e dois dos amigos que o apoiam no seu Projecto Guiledje: O capitão Zé Neto (à esquerda) e o coronel Nuno Rubim, especialista em história da artilharia (à direita). Os três são membros da nossa tertúlia. O anfitrião fui eu.

Almoçámos juntos (tivémos a agradável surpresa da visita, embora rápida, do José Martins, que trabalha no MARN e que passou pela Av Padre Cruz a caminho do médico para uma consulta de rotina). Fizemos o ponto da situação do Projecto Guiledje, contámos histórias, conhecemo-nos pessoalmente (do grupo, eu só conhecia o Pepito), embora já tivesse falado ao telefone com o Zé Neto e o Nuno Rubim.
Estes são três camaradas que, por várias razões, não estarão amanhã na Ameira, Montemor-O-Novo, com alguns de nós. Cabe-me aqui lembrá-los e saudá-los, como de resto a todos os outros que não podem estar, sem esquecer os nossos queridos amigos e camaradas do Norte (o Zé Teixeira, o Marques Lopes e o Xico Allen acabam de me desafiar para ir comer, num conhecido restaurante guineense, um chabéu de galinha no feriado de Todos os Santos, na hipótese de eu ir lá cima nessa altura)...

Só agora faço referência a esta reunião com os nossos homens de Guileje, por meras razões de oportunidade. Depois desta reunião, temos trocado alguma correspondência via e-mail. Como já é do conhecimento da tertúlia, o Nuno Rubim está a ajudar o Pepito na árdua tarefa de reconstrução do aquartelamento de Guileje, para efeitos museológicos. Está prevista a elaboração de um diorama (1). O Zé Neto, por sua vez, tem fornecido ao Pepito precioso material fotográfico do tempo em que passou por Guileje, com a sua companhia (

Zé Neto (ex-2º sargento da CART 1613, Guileje, 1967/68, hoje capitão reformado). O veterano da nossa tertúlia, dotado de invejável energia e de uma memória fabulosa.

Pepito, director executivo da AD, e grande animador do Projecto Guiledje.

Nuno Rubim, ex-capitão da CCAÇ 726, Guileje, 1964/74, um dos oficiais mais condecorados da Guiné (onde fez duas comissões), hoje coronel na reforma e historiador militar. Teve a gentileza de me oferecer um das suas publicações, além de um CD-ROm com os seus trabalhos. Um dia destes prometo falar um pouco mais do currículo académico deste homem que é um poço de estórias e de cultura... Há dias dizia-me o Pepito a propósito do Nuno Rubim que se ofereceu para fazer, com o Teco e o Guedes, a reconstituição em maquete do quartel e tabanca de Guileje, incluindo um diorama de Guileje aquando da sua retirada pelas NT (Maio de 1973): - Eh, pá, o Rubim é uma máquina!...
Fotos: © Luís Graça (2006). Direitos reservados.
___________

Nota de L.G.: