sexta-feira, 29 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1898: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (52): O ataque a Missirá de 15 de Julho de 1969, visto pelo bravo mas modesto Queta Baldé



Guiné > 1970 > Uma das imagens porventura mais emblemáticas da guerra colonial/guerra de libertação. Um guerrilheiro do PAIGC jaz morto, no chão da mata, com a sua Kalash ao lado. Foto muito provavelmente obtida no sul, na região de Tombali. A foto original (entretanto editada por nós) é do repórter fotográfico húngaro Bara István (n. 1942), que acompanhou a guerrilha do PAIGC em 1969 e 1970 (não sabemos exactamente em que circunstâncias: num das fotos, ele próprio deixa-se fotografar com uma Kalash pendurada ao pescoço, o que para um fotojornalista de hoje seria altamente reprovável, do ponto de vista deontológico; pode pôr-se a hipótese de, na época, ter lá estado apenas como simples fotógrafo, e não como fotojornalista, ao serviço do governo do seu país e da própria máquina de proganda do PAIGC, tal como acontecia com os jornalistas portugueses, autorizados a visitar o TO da Guiné: estou-me a lembrar, por exemplo, do Amândio César; recorde-se, por outro lado, que na época a Hungria fazia parte do Pacto de Varsóvia e, portanto, era um dos apoiantes do PAIGC).

Legenda, em húngaro: Bara István: Elesett PAIGC katona, Guinea Bissau, 1970. De qualquer modo, estamos gratos a este conhecido fotógrafo magiar pelas imagens sobre a guerra colonial / guerra de libertação na Guiné-Bissau que disponibilizou na sua página. Partimos do princípio que estas imagens são do domínio público. Tentámos contactá-lo por e-mail, até agora em vão, para obtermos autorização para divulgação de mais fotos da sua fotogaleria. Tudo indica que ele hoje se limita a gerir o seu estabelecimento de fotografia e artigos fotográficos, em Budapeste. Enfim, teve que fazer pela vida, como todos nós...

Fonte / Source: Foto Bara > Fotogaleria (com a devida vénia / with our best wishes...)

Guiné > Bissau > Janeiro de 1970 > "O Tigre de Missirá em Bissau... Comentário: Mais tristeza no olhar é impossível. Fui tratado pelo David Payne e passei uma semana a dormir. Nas minhas cartas, quando me despeço digo sempre que já estou sobre a acção do Vesperax. Novembro e Dezembro foram meses terríveis, as emboscadas nocturnas à volta da pista de aviação atingiram o sistema nervoso e deixei de poder dormir. Graças a este tratamento, regressou a confiança, a energia, o sabor da vida. Avizinha-se o período operacional mais tumultuoso, de Fevereiro a Abril. Depois volto a Bissau para casar [, em Abril de 1970].

Foto e legenda: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

Mensagem do Beja Santosa, com data de 15 de Junho de 2007:

Caro Luís, no tempo em que se comemoram os 50 episódios no blogue, quero que saibas que esta aventura, que ainda não chegou a meio, é uma das etapas mais exaltantes da minha vida. Leva-me a ler e a reler o que julgava interdito ou fruto para outra época mais madura; reconduz-me a conversas e a rememorações; tudo é pretexto para dizer a verdade ficcionando e ficcionar com alguma verdade, deixando ao leitor a interpretação do que realmente aconteceu. Em cada episódio rejuvenesço, solidarizo-me, volto ao local do crime sem nenhum azedume. Por vezes dói muito, como no enterro de que aqui se fala. Recordo quando vimos um morto desfeito à morteirada, o Cherno e eu entreolhámo-nos sem falar: qual de nós tirou a vida a este homem? Nunca mais perguntei ao Cherno o que ele pensava, é indigno e deslocado. Muitíssmo obrigado pelo teu empenho em cada episódio que sai, como as minhas memórias fizessem parte do teu tempo, o do passado e do presente. Toda a camaradagem e esta bonita amizade regada em cada semana que passa, Mário.

52ª Parte da série Operação Macaréu à Vista, da autoria de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1). Texto enviado a 15 de Junho de 2007.

15 de Julho de 1969: a gente de Madina flagelou Missirá e teve desairepor Beja Santos


A versão de Queta Baldé, o mais modesto dos bravos
Queta Baldé, artista do batuque quando era adolescente e vinha de Amedalai ao Cuor, a Enxalé e ao Oio, o veterano 126, é o meu primeiro convidado para falarmos daquele anoitecer em que a gente de Madina saiu a perder de uma flagelação que não chegou a demorar 30 minutos. O Queta irá receber um louvor pela sua acção nessa noite, conforme reza:

Em 15 de Julho de 1969, durante uma flagelação do IN, como apontador de metralhadora ligeira reagiu imediatamente ao fogo e não obstante ter sido a sua arma atingida, continuou no posto com deficiente segurança, incitando todos os seus camaradas na zona mais duramente atingida. Tal atitude concorreu para assinaláveis baixas ao IN e respectiva captura de armamento.

Entrego cópia do louvor ao Queta, ele lê, dobra a folha e começa a falar:

Não esqueci nada, os olhos e os ouvidos guardaram tudo. Viemos pelas 5 e meia da tarde, era uma coluna de duas viaturas, trazíamos chapa de bidão, chapa ondulada, sacos de cimento, petróleo e gasóleo. Nosso alfero tinha ido ao Cossé buscar seis sacos de arroz para a população civil. Arrumámos tudo, os petromaxes estavam bem acessos, uma noite calma, sem vento e sem frio. O furriel Pires informou quem, na manhã seguinte, iria com o nosso alfero a Mato de Cão. Fomos tomar banho e descansar.

Pelas 9 da noite, a minha mulher trouxe o arroz e a mafé, levei a colher à boca quando rebentou a primeira roquetada que caiu perto da messe. O primeiro fogo caiu entre o balneário e as moranças da família do régulo. Fui a correr para o abrigo da porta de armas, peguei na Dreyse e Seco Embaló pegou as fitas com a mão. Eles mandaram para este ataque gente mal preparada, gente que queria avançar e entrar no quartel, como se isso fosse possível connosco. Eles devem ter sofrido muito com a resposta dos morteiros e das bazucas. Nosso alfero foi para o 81 com aquele rapaz pequenino, cabelo cor de palha; Adulai Djaló, Mamadu Djau e Bacari Djassi não pararam com as bazucas, Cherno e Tunca Baldé corriam com o morteiro 81 à volta do quartel.

É então que um tiro me partiu o tapa-chamas. Tive sorte, pois a bala fez ricochete e alojou-se na palmeira do abrigo. Esperei com calma o fogo do apontador da Kalash. Apontei-lhe à cabeça, a arma calou-se. Depois fui varrendo o terreno à volta. Tudo começou com um enorme fogo, eles fizeram meia lua entre a fonte de Cancumba e a porta de armas. Surpreenderam-nos bem, mas não percebo porque é que se enervaram e avançaram para o quartel. Pensei muito, eles devem ter chegado perto de Missirá ao anoitecer , quando estávamos a entrar, e o barulho das duas viaturas confundiu-os. Depois precipitaram-se, fizeram mau uso dos morteiros, um deles foi atingido.

Terá sido nessa altura que eles retiraram com muitos feridos e deixando os mortos e as armas. Não percebo o louvor. Eu tive sorte. Nosso alfero devia ter louvado Seco Embaló, esse sim, tinha as mãos feridas, feria os lábios, aguentou a dor, sem a sua ajuda a Dreyse não tinha feito os estragos que fez.
Queta é um homem cheio de pudor. Tinha-lhe proposto uma agenda para falarmos dos acontecimentos de Julho, a começar pela flagelação do dia 15, uma patrulha de reconhecimento que fizemos com um pelotão da CCAÇ 12, a ida ao Enxalé, o acto desvairado do Benjamim Lopes da Costa, a 3 de Agosto.

Quando Queta não quer falar, o seu olhar imobiliza-se e a sua voz cicia:-Desculpa, agora não lembro, talvez mais tarde, à noite começo a pensar e junto tudo, mas talvez eu não estivesse lá e ninguém me falasse nas coisas de que falas. Desculpa, agora não posso ajudar.

Não quer falar do ataque de nervos do Casanova, não estava na emboscada em que o Benjamim me chamou "branco assassino". Mas quando lhe falei que precisava da sua ajuda por causa da operação Pato Rufia respondeu-me prontamente:
- Sim, nosso alfero escolheu-me para ir à operação, ainda me lembro de muita coisa".

As lembranças do Furriel Pires dessa noite

Voltei a encontrar-me com o Pires na Livraria Barata, na Avenida de Roma. A agenda para a conversa era praticamente livre, mas eu pedira-lhe que revolvesse a memória em torno da flagelação da noite de 15 de Julho. À semelhança da reunião anterior, falámos de tudo sem direcção nem bússola, ouvi a sua versão sobre o estado de saúde do Casanova, falámos das pequenas coisas do dia a dia, ele lembrava-se de ter ido em Junho de 69 a casa da Cristina levar-lhe uma lembrança e trazer outra, não esquecera a sua ansiedade e uma permanente curiosidade em tudo saber sobre Missirá e Finete, registou tudo e adjectivou.
-A Cristina estava preocupadíssima.

Falámos das escalas de serviço, das culturas dentro e fora do aquartelamento, reavivou-me a memória com um episódio que eu já tinha esquecido à volta da visita que o Capitão Figueiras fez a Missirá, em Outubro, quando os soldados fizeram disparos de G3 para os troncos de palmeiras, perto da fonte de Cancumba, parecia fogo de costureirinhas até os veteranos pegaram nas armas e foram até aos abrigos. O Capitão Figueiras estava siderado e não percebia porque é que eu ia ao posto de vigia ver o que se passava.

Depois a noite do 15 de Julho caiu em cima da mesa, ele tinha meticulosamente as suas anotações escritas numa folha. Não esquecera a minha gritaria para dentro do abrigo onde ele ia passando balas a vários apontadores de G3, recordava perfeitamente a bazucada que deflagrou na parede ao lado da messe, o zunir das balas a estilhaçar as telhas do depósito de víveres, as roquetadas a espatifar tudo à volta do balneário, recordava o fogo em crescendo e o súbito silêncio.

Estas duas memórias, curiosamente, esqueciam o que se passou depois. Quando desapareceram os sinais da flagelação, nenhum de nós ficou tranquilo. De facto, espaçadamente, ouviam-se tiros, uma vezes de metralhadora ligeira, outras de pistola, dentro da mata. A gente de Madina parecia querer dizer-nos que podia atacar de novo a qualquer momento. E durante horas foi assim: tiros esparsos, como se a gente de Madina tivesse um código para se reorganizar. O régulo Malã comentara:
- Tiveram baixas, estão a retirar com os feridos, estão a chamar gente que se perdeu, não se preocupe mais.

Dois guerrilheiros, caídos por um dever, junto ao arame farpado de Missirá


Preocupei-me, eram tiros a mais que se ouviram até de madrugada. Depois descansámos até ao alvorecer. Quando a luz nasceu sobre o céu do Gambiel, com o capim molhado do muito orvalho da noite, saímos para o reconhecimento. O primeiro cadáver era de um jovem manjaco que vestia caqui amarelo, jazia de olhos abertos, com a massa encefálica ao lado da calote craniana, a Kalash na mão. Começámos a ver trilhos , e perto dos cajueiros do régulo Malã vimos postas de sangue, algodão e ligaduras, mais à frente mais sangue, granadas abandonadas como se alguém tivesse interrompido uma tarefa ou aligeirasse a carga para transportar feridos. Continuámos até à fonte de Cancumba onde jazia outro corpo desmembrado, seguramente atingido por granada. No céu, pairavam os jagudis, despertos pelo cheiro do sangue.

Concluído o patrulhamento, mandei buscar dois lençóis e uma caixa de sapatos: os mortos seriam enterrados junto ao cemitério mandinga, os miolos do jovem manjaco desceriam à terra com o corpo do combatente. Lembro o protesto de alguns, que exigiam a justiça dos jagudis. Atalhei firme, repeti que queria dois lençóis limpos, duas pás, os combatentes enterram-se com todo o respeito, é uma honra que a todos assiste, caíram por um dever, o nosso dever agora era respeitá-los. Abriram-se as covas, os corpos foram depositados, o mais díficil, tive que fechar os olhos, foi sentir as minhas mãos a pegar aquela matéria escorregadia que depositei dentro da caixa de sapatos. Os soldados preparavam-se para retirar quando os surpreendi dizendo que me ia perfilar e rezar por eles.
-Partimos ao meio dia, temos de estar em Mato de Cão às 4h, vamos descansar um pouco mais.

Só a 17 é que escrevo à Cristina:

Fomos de novo atacados, pelas 21 horas de 15. Tudo inesperadamente, estávamos ainda na sopa quando verdascaram as metralhadoras e os morteiros. A rapaziada estava nos seus dias e o impacto rebelde, depois dos primeiros cinco minutos, ficou atabalhoado. A nota discordante foi a perda de um braço de uma das mulheres de Quebá Soncó, quando uma roquetada atingiu a trave principal da casa, que era um dos meus sonhos mimosos da reconstrução após o 19 de Março. De resto, a nova Missirá ficou incólume, com excepção da mangueira do poço e um bidão do balneário, esburacados. Estranhei a debandada dos rebeldes... A carta termina aqui, recomecei-a mais tarde, devo ter caído a dormir até partir para Mato de Cão.

O Queta é capaz de ter razão, fui injusto com Seco Embaló e com o seu comportamento exemplar. Mas mais injusto fui com o Cabo maqueiro Adão, que aguentou toda a noite o gravíssimo ferimento de Fatumana Soncó, que ele tratou com desvelo até chegar o helicóptero. Aturou toda a noite os escoriados, aqueles que saíram com pés descalços e rasgaram os pés, aqueloutros que se rasgaram a entrar nos abrigos, que levaram com cápsulas a ferver na cara, nos braços, peito e costas. O Adão aguentou tudo, como aguentava os reforços, as ajudas nas obras, as idas a Mato de Cão, as passagens em Finete para ajudar sinistrados.

Muitos anos mais tarde, em 1991, irei visitar Fatumana que vivia num bairro ao pé do mercado de Bandim, em Bissau, na companhia de seu filho Mamadu Soncó, de quem aqui iremos falar, no final da minha comissão, em Agosto de 1970. Foi um reencontro comovente, levei-lhe flores e o seu único braço apertou-me com força e calor. Tanto me comovi que não falámos daquela noite de 15 de Julho, em que Quebá Soncó, o marido, passou perto de mim com o seu braço na mão.


De Jorge Amado a S. S. Van Dine

O pior de tudo é a prostração e os vírus que me deitam abaixo. Vai ser pior no próximo mês, quando eu voltar a cair na cama, totalmente exausto, doente e moralmente ferido. Por razões que aqui iremos falar em breve, vou ainda defender-me escrevendo até cair sobre a secretária, ouvindo música e sobretudo lendo e orando. É nessa semana, por coincidência, que leio duas novelas espantosas de Jorge Amado, sob o título Os velhos marinheiros.

A primeira história é "A morte de Quincas Berro Dágua". Quincas vivia na estúrdia , nas ladeiras e becos escusos de Baía. Fora respeitável até deixar de o ser, abandonara famíia, carreira e nome honrado para viver no meio de bêbedas e nos castelos das meninas. O apelido Berro Dágua ficara-lhe de uma garrafa que levara à boca e onde ele esperava cachaça saiu água que o amedrontou. Quincas morre, a respeitável família prepara velório e enterro, cheia de incomodidade. Os amigos Pé-de-Vento, Negro Pastinha, Cabo Martim e Curió aparecem no velório e quando a família parte, enfastiada, começa a noite delirante com o morto aos ombros, subindo e descendo ladeiras até chegar ao mar donde partem em saveiro, levando Quitéria, a bem amada de Quincas. Todos comem peixada, Quincas é obrigado a beber cachaça que deita fora, pois claro. Veio o temporal que os apanha quando as luzes de Baía brilhavam na distância. E foi aqui que começou a lenda. Capa do romance de Jorge Amado Os Velhos Marinheiros. Lisboa: Publicações Europa-América. 1962 (Colecção Século XX; 48). Capa de Joaquim Esteves.

Foto: © Beja Santos / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.

Escreve Jorge Amado:

Ninguém sabe como Quincas se pôs de pé, encostado à vela menor. Quitéria não tirava os olhos apaixonados da figura do velho marinheiro, sorridente para as ondas a lavar o saveiro, para os raios a iluminar o negrume. Mulheres e homens se seguravam às cordas... foi quando cinco raios sucederam-se no céu, a trovoada reboou num barulho de fim do mundo... no meio do ruído, do mar em fúria, do saveiro em perigo, à luz dos raios, viram Quincas atirar-se e ouviram sua frase derradeira. Penetrava o saveiro nas águas calmas do quebra-mar, mas Quincas ficara na tempestade, envolto num lençol de ondas e espuma, por sua própria vontade.

História não menos atribulada e divertida é a do comandante Vasco Moscoso de Aragão, um velho marinheiro de opereta que comprara o título , que exibia uma condecoração da Ordem de Cristo paga a peso de ouro e cuja popularidade veio dividir o povo de Periperi, nos arrabaldes de Baía. Uns achavam-no um aventureiro prodigioso, outros um trafulha e embusteiro de primeira água. Até que veio a prova dos 9 quando, de acordo com as leis do mar, o Comandante é chamado ao comando e o navio que vai atracar em Belém. O imediato prepara-lhe uma cilada para o pôr a rídiculo, pede-lhe as ordens finais para amarrar o navio ao cais. Sucedem-se as ordens mais insólitas do mundo: o navio deve ser amarrado com todas as amarras, com todos os ferros, com todas as manilhas, com todas as espias, com todos os strings.

Foram estendidos os cabos de aço, os traveses, enleando o navio definitivamente ao cais. Como se já não estivesse ele de tal modo preso ali com raízes tão profundas, como se as âncoras, as manilhas, os lançantes, já não o garantissem de sobejo contra as piores tempestades e os tufões mais brutais. Tempestades e tufões que nenhum serviço meteorológico previa, nem o olho mais experiente do mais temperado e velho marinheiro.

Vasco Muscoso de Aragão percebe o ridículo em que caiu, foge humilhado. Só que essa noite um tufão apoderou-se da cidade, aquele foi o único barco que resistiu em Belém do Grão-Pará. Assim nasceu outro mito, o que leva o autor a perguntar por onde anda a verdade, qual a fronteira ente o heroísmo e aldrabice.

A outra leitura é muito mais ligeira, O caso do antiquário, por S. S. Van Dine. O senhor Willard Huntington Wright, era um crítico de arte norte-americano que obrigado a estar dois anos de cama devido a um acidente cardíaco, descobriu o prazer de escrever novelas policiais e ganhou a celebridade logo com o seu primeiro livro O caso Benson. Já aqui falei desse pedante, hedonista e intelectual incorrigível que é Philo Vance, um detective amador que sabe tudo de aguarelas de Cezanne, de cerâmica chinesas e até de cães escoceses.

Este romance é por sinal fraco, presta uma grande homenagem a Edgar Wallace que Na pista ao alfinete novo forjara um homicídio praticamente indecifrável, dentro de um quarto fechado. Philo Vance move-se em ambientes de clausura, descobre que antes de um pretenso suicídio houve um crime bem premeditado a qeu se seguirão outros. E, como é timbre nalguns finais de S. S. Van Dine, no termo, quando se deslindou a verdade, pratica-se justiça sem necessidade de julgamento. Sempre que posso, abasteço-me em Bafatá com livros das colecções Vampiro, O Escaravelho de Ouro, Xis e começo a intrometer-me na ficção científica graças aos livros da colecção Argonauta.

Derreado ou não, vou ao Enxalé de surpresa e recebo os periquitos do 4º grupo de combate da CCAÇ 12 para irmos até Sancorlã, depois a Salá e fazermos uma emboscada. Mas é uma época em que escrevo febrilmente, como se estivesse a redescobrir o mundo e a encantar-me no feitiço das palavras. Escrevo faminto de amor, cada vez mais sozinho. Aprendia como escrever é a mais linda garrafa que se pode lançar no mar, à espera de resposta. Dos homens e de Deus.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. último post desta série > 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1870: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (51): Cartas de um militar de além-mar em África para aquém em Portugal (5)

Guiné 63/74 - P1897: O Queta Baldé, com a sua memória de elefante, é muito superior ao grande Fernão Lopes (Beja Santos)

1. Mensagem do Beja Santos, de 26 de Junho último:

Camaradas, eram 8:30 quando o Queta chegou de caderno em punho [, ao meu gabinete de trabalho, ao Saldanha]. Na matreirice, pedi-lhe para vir ao computador para me dar um esclarecimento de umas coisinhas no mapa. Quando viu o Matos Francisco (1), olhou-o 15 segundos em silêncio absoluto e depois deu uma gargalhada que se ouviu no Campo Pequeno.

Ele que é a disciplina e o rigor no cumprimento das tarefas, descreveu-me a chegada do Matos Francisco ao pelotão, contou como se tinha rifado o destino de cada um, como trocara com outro camarada do 51 a vinda para o 52 (o 51 foi para Guileje...), disse-me que o Matos Francisco deu uma queda, que o Furriel Vaz foi apanhado à mão na região do Geba depois de ter sido punido pelo Capitão do Enxalé, que o Furriel Altino passara a Comandante interino até à chegada do Alferes Azevedo, o nº2 da lista (temos que descobrir onde anda o Azevedo, que me foi apresentado de raspão em Bissau).

O 52 estava nessa altura em Porto Gole e colaborava com uma das três companhias de polícia móvel, sobre as quais ainda não vi nenhum referência no nosso blogue. Tanto quanto me parece, são os antecessores das milícias, eram comandadas por régulos ou outros homens grandes, e a companhia de milícias que estava em Porto Gole patrulhava nas regiões de Mansoa e Bissá.

E mais não digo, o Matos Francisco que começa agora a contar a história, o filho mais novo do régulo Malã Soncó que acompanha o nosso blogue logo dará notícias para cerca de 50 mails da Guiné, que nos acompanham religiosamente. Tudo o mais que o Queta me disse vem num dos próximos episódio do nosso folhetim. Saúde para todos e que o Matos Francisco trabalhe, Mário.

2. Comentário de L.G.: Mário, espantosamente não temos uma foto, antiga e/ou actual, do teu/nosso Queta Baldé, que é um prodígio de memória... Ao fim de um ano de macaréus, o teu e o Queta formam uma parelha inseparável... Devo dizer-te que a nossa Tabanca Grande está reconhecida aos dois. L.G.
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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

28 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1896: Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56 (Henrique Matos)

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1896: Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56 (Henrique Matos)

Odivelas > 16 de Junho de 2007 > Encontro dos Pel Caç Nat 51, 52, 53, 54, 55 e 56> "Uma imagem do que foi possivel juntar da formação inicial dos primeiros Pelotões de Caçadores Nativos, passados 41 anos do seu início em Bolama.

Pel Caç Nat 51 > Alf Mil Perneco (16), FurMil Carvalho (3) , Fur Mil Azevedo (1) , Fur Mil Castro (12) , 1ºCabo Ramos(4) e 1ºCabo Marques(6);


Pel Caç Nat 52 > Eu mesmo... (13), Fur Mil Vaz (15), Fur Mil Altino (11), Fur Mil Monteiro (10) e 1º Cabo Cunha (7);


Pel Caç Nat 54 > Fur Mil Viegas (9), FurMil Costa (2), 1º Cabo Januário (14) e 1º Cabo Coelho (8):


Pel Caç Nat 56 > Fur Mil Delgado (5).

"Para nosso desconsolo, e muito falamos nisso, não possível até agora encontrar os restantes elementos dos nossos pelotões que regressaram, porque tivemos algumas baixas, nem qualquer elemento do 53 e do 55".

Foto e legenda: © Henrique Matos (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem, de 25 de Junho último, do Henrique Matos, que foi o 1º comandante do Pel Caç Nat 52 (mais tarde, em 1968/69, comandado pelo nosso camarada Beja Santos) (1).

Caros Luís Graça e Carlos Vinhal:

A minha entrada hoje não tem muita história, mas talvez interesse. A CCAÇ 1439, independente, de madeirenses, que o Pel Caç Nat 52 foi reforçar em Agosto de 67, tinha dois destacamentos: Missirá e Porto Gole.

Fazíamos reabastecimentos regulares aos destacamentos, picando sempre a estrada (aquilo não era bem uma estrada, sobretudo no tempo das chuvas) na ida e regressando de imediato a abrir para não dar tempo à colocação de minas, o que nem sempre aconteceu.

A propósito de Fé e aqui fica a minha homenagem ao Zé Teixeira pelo disse no Post 1873 que me comoveu (2), havia um Alf Mil desta companhia que cada vez que comandava um reabastecimento, ia previamente rezar a um capelita que por lá havia. Acontece que era o que tinha sempre mais problemas, pelo que tinha muitas diculdades a organizar a coluna. Só não se baldava quem não pudesse (os madeirenses eram religiosos mas a superstição era maior).

Esta companhia terminou a comissão de serviço em Abril de 67 e foi substituída pela CCaç 1661 que teve inicialmente como comandante o Cap Mil Namorado Rosa (arquitecto) e permaneu no Enxalé até 21 Dezembro, altura em que mudou a sede para Porto Gole.

Esta data foi retirada do Abel Rei que pertencia a esta companhia e escreveu o livro
já referido no Blogue, Entre o Paraíso e o Inferno: de Fá a Bissá. Memórias da Guiné (1), porque eu já lá não estava.

A CCAÇ 1439 celebrou este ano os 40 anos do seu regresso com um encontro (almoço) em Leiria onde também estive. A foto irá na próxima vez, para não encher muito, uma vez que vai em anexo a foto do encontro dos Pel Caç Nat.

Fui agora mesmo espreitar o Blogue e vejo as entradas do Beja Santos (3). Bom... ainda não sei o que dizer, caramba, também tenho emoções.

A propósito da foto com farda (4), a minha foi tirada em Angra do Heroísmo, quando estava no B.I.I.17 com equipamento emprestado e foi preciso mudar o emblema ou lá como aquilo se chama, pois o outro era de infantaria.

Uma nota para desanuviar: o Beja Santos não se reconhece na fotografia, por isso mesmo não assinou... e esta, hem! (como diria o saudoso Fernando Pessa) [vd. pormenor assinalado a azul na foto do lado].

Vamos ter uma conversa por email pois tenho que lhe falar dos rapazes do nosso pelotão, do Luís Zagalo que bem conheci (Alf Mil da 1439, não é o que rezava...), de S. Jorge, minha terra, coisas que provavelmente não terão muito interesse para o Blogue.

Um abraço a todos

Henrique Matos


2. Comentário do editor blogue:

Ficamos a saber, graças ao histórico 1º comandante do Pel Caç Nat 52, que todos os Pel Caç Nat da série 50 se formaram ao mesmo tempo em Bolama, em meados de 1966. E que o primeiro sítio para onde foi destacado o Pel Caç Nat 52, chamava-se Enxalé, em frente ao Xime, do outro lado do Rio Geba... E que só depois é que foi para Missirá. Também sabemos que a malta dos Pel Caç Nat se reune anualmente. Seria bom que os os nossos tertulianos, que pertenceram a algumas dessas unidades, entrassem em contacto com o Henrique Matos. Estou-me a lembrar do Armindo Batata (Pel Caç Nat 51, Guileje e Cufar, 1969/70), Joaquim Mexia Alves (Pel Caç Nat 52, Mato Cão, 1972), Mário Armas de Sousa (Pel Caç Nat 54, Bambadinca e Missirá, 1968/70) ou Paulo Santiago (Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), para além do Beja Santos.
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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)

(2) Vd. post de 24 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1873: Reflexão sobre Fátima, o drama da guerra e o conflito com a Fé que nos inculcaram (Zé Teixeira)

(3) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1879: Henrique Matos Francisco, brindo à tua chegada e à memória do nosso Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)

(4) Vd. post de 25 de Junho de 2007> Guiné 63/74 - P1880: Uma farda universal para miliciano se identificar (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P1895: Pombal: Vitor Junqueira no Celeiro do Marquês... com os Melech Mechaya (Luís Graça)


Pombal > Celeiro do Marquês - Centro Cultural > 16 de Junho de 2007 > Actuação dos Melech Mechaya, uma banda portuguesa de música klezmer ... Lembrei-me do Vitor que, menos de dois meses antes, tinha sido o entusiástico e generoso organizador do 2º encontro da nossa tertúlia, em 28 de Abril último (1)... Mandei-lhe por e-mail a notícia da realização do concerto, informando-o, para mais, de que o tipo do violino era o João Graça, meu filho... Ele teve a gentileza de ir ouvir a banda, levando com ele a família, e de conhecer o puto... Creio que gostou de um, o João, e de outra, a banda... O João, por seu turno, adorou ter lá ido, a Pombal, e de ter tido este tratamento VIP por parte de uma camarada de guerra do pai... Enfim, foi um bonito gesto de camaradagem e de amizade, por parte do Vitor, que eu registei e apreciei... De qualquer modo, os amigos e camaradas da Guiné são assim, e os filhos dos nossos camaradas nossos camaradas são...

Talvez um dia nos possamos reunir todos, os músicos, os cantores, o Vacas de Carvalho, o Mexia Alves, o Fernando Calado, o David Guimarães, o José Sousa, o Abílio Machado, etc., mais os nossos rebentos que tocam ou cantam: o João, a Inês Santos (a conhecida cantora, filha do Carlos Marques dos Santos) e outros/as (que ainda não conhecemos)... Precisamos de fazer o inventário dos talentos da nossa Tabanca Grande, a pensar já no 3º encontro...

Vídeo > Fonte: YouTube - Melech Mechaya (2007) (com a devida vénia...).


MELECH MECHAYA:

Melech Mechaya é uma viagem festiva pela música klezmer, abraçando também momentos mais delicados e intimistas. Uma viagem pela tradição judaica, unindo aromas árabes, ritmos orientais, e momentos de simples bate-o-pé, da Hungria a Israel, dos Balcãs a Nova Iorque.

Os Melechs são:

João Graça > Violino;
Miguel Veríssimo > Clarinete;
André Santos > Guitarra;
João Sovina > Contra-Baixo;
Francisco Caiado > Percussão.

E-mail: melech.mechaya@gmail.com Telefones: 964 389 756 / 918 702 826
Página oficial > www.youtube.com/melechmechaya


Pombal > Postal > Celeiro do Marquês - Centro Cultural (Colecção Postais Ilustrados de Pombal, Portal do Município de Pombal) (com a devida vénia...)



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Pombal > 2º Encontro da Tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné > 28 de Abril de 2007 > Três aspectos da visita, guiada pelo Vitor Junqueira (que é médico e natural de Pombal), ao centro histórico da cidade...

Fotos: : © Luís Graça (2007). Direitos reservados.

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 29 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1709: Tertúlia: Encontro em Pombal (1): Malta de cinco estrelas (José Martins)


Na altura deixei escrito:

"Da mais elementar e sobretudo inadiável justiça é a palavra de agradecimento que é devida ao nosso amável e afável anfitrião, o Vitor Junqueira, e à sua família: ele, mais as suas meninas e meninos (três filhas, duas netas, um genro e e um futuro genro), não podiam ter sido mais hospitaleiros e carinhosos para connosco... Receberam-nos como só os amigos sabem e podem receber.

"Vitor, tu e a tua família é que merecem, com toda a propriedade, o epíteto de gente de 5 estrelas... Só não te digo obrigado, porque tu detestas a palavra"... (LG).

Guiné 63/74 - P1894: Louvores e condecorações (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11.4 (e não obus 14, que o Coronel Rubim puxa-vos as orelhas!). Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. Last but not the least, em primeiro plano "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

1. Mensagem do Amaro Samúdio, anunciando em 27 de Mraço passado a realização do 1º Encontro dos Gringos de Guileje (19 de Maio, Montemor-o-Movo) (1), e juntando ao mesmo tempo a cópia do louvor que foi conferido à companhia ("Encontrei-o no meio de uma montanha de papéis"):


COMANDO-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ > QUARTEL GENERAL

Louvor concedido à CCAÇ 3477 pelo Exmº Brigadeiro Comandante Adjunto Operacional, pub1icado na Ordem nº 63 de 8-12-73 do CCFAGUINÉ.

Louvo a Companhia de Caçadores 3477 pela forma, digna de relevo, como se houve no cumprimento de todas as missões que lhe foram cometidas no decurso da sua permanência no Teatro de Operações da GUINÉ.

Inicialmente colocada no Sul da Província, onde permaneceu, cerca de um ano, em região particularmente sensível, levou a cabo uma intensa e bem conduzida actividade operacional, caracterizada por arreigado espírito de missão, notável agressividade e estoicismo, que lhe proporcionou, num avultado número de acções e operações, com especial destaque para Muralha Quimérica (2), obter resultados apreciáveis e criar acentuada insegurança ao IN num dos seus tradicionais corredores de infiltração.

Sofrendo várias e, por vezes, intensas flagelações ao seu aquartelamento, esta Subunidade, mercê da sua vincada determinação, elevado moral e sólido espírito de corpo, conseguiu sempre reagir pronta e eficazmente abortando todas as iniciativas inimigas.

Deslocada, posteriormente, para outro Sector, de características humanas muito heterogéneas, ainda que dispersa por vários destacamentos, construiu algumas das suas próprias instalações e desenvolveu profícua actividade em trabalhos de reordenamentos em benefício das populações locais, mantendo, simultaneamente, atento e exaustivo labor operacional integrado na segurança próxima de importantes pontos sensíveis.

Pelos serviços prestados, em campanha, a Companhia de Caçadores 3477 honrou a Arma de Infantaria e o Exército, em terras da GUINÉ PORTUGUESA, e ganhou jús ao público louvor com que é distinguida.

Quartel em Bissau, 5 de Dezembro de 1973

O Chefe do Estado-Maior

Hugo Rodrigues da Silva, Cor do CEM


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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)

(2) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).

"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.

"A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.

"Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Parquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz" (...).

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

1. Mensagem do Mário Fitas (1):

Caro chefe da Tabanca Grande:

Lendo no nosso blogue, que haveria falta de notícias sobre Cadique (2), vou transcrever, do diário da CCAÇ 763, de Cufar, a quem os moradores de Cabolol e do outro lado do Cumbijã, baptizaram de Lassas (uma espécie de abelha da Guiné).

"22 de Dezembro de 1965 - A Companhia a 3 Gr Comb efectuou a Operação Tesoura, planeada para dar combate ao IN localizado na região de Cadique, destruindo-lhes as instalações.

"A 763 embarcou no cais de Impungueda, conjuntamente com a CCAÇ 728, tendo desembarcado no local previsto e iniciando a progressão em direcção de Cadique Iala. Cerca das 24h00 o IN flagelou as NT, não tendo estas reagido a fim de não denunciar a sua posição.Ao amanhecer as duas companhias marcharam sobre a mata de Cadique Iala a cuja batida se procedeu, ao mesmo tempo que se destruía a tabanca. O IN revelou-se no interior da mata atacando as NT e oferecendo especial resistência à CCAÇ 728, pelo que teve de se solicitar o apoio da FAP.

"Concluída a missão na região de Cadique Iala, as duas Companhias deslocaram-se para a estrada de Cadique a fim de garantir a protecção a um pelotão de Paraquedistas que ia entrar em acção. Comcluida a operação a Companhia em duas LDM no cais de Cadique Nalu, com destino a Impungueda".

De referir que na altura, na margem esquerda do Cumbijã, só existia o Aquartelamento de Bedanda. Noutras oportunidades, falarei mais deste mitico Cumbijã e das suas margens tanto esquerda, como direita.

Um abraço para todos os camaradas

Mário Fitas (Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)

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Nota de L.G.:

(1) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

(2) Vd. posts de:

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)

25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)

Guiné 63/74 - P1892: Estórias de Mansambo I (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): O Casadinho e o Bessa, os mortos do meu Gr Comb, os meus mortos



Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > 1968 > Fotos Falantes II > Os dois primeiros mortos do Grupo de Combate do Alf Mil Torcato Mendonça: o Bessa (46) e o Casadinho (45)...

Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Torcato Mendonça, com data de 20 de Junho último:

Luis Graça: vou ser rápido porque isto é o despejar de um impulso, de uma revolta sentida, de um flash vindo, demasiado rápido, do passado ao presente. Talvez um Psi conseguisse dizer, melhor que eu, o porquê. Li a morte de um Camarada em Madina (1). Sei que não eram relatados os pormenores à família. Sei a frieza da comunicação da morte dada aos familiares. Mas… eu conto-te, Camarada, eu conto-te e anexo – para dares uma vista de olhos – um escrito, creio que já enviado, O Natal, onde relato OS MORTOS DO MEU GRUPO, OS MEUS MORTOS.

Paro em tentativa de calma, calma com respiração funda e passa um pouco. Depois do ataque, fui apanhar o Bessa, subi ao palanque danificado, olhei à volta certamente com ódio, com vontade de acertar contas... De repente vejo, à luz amarelada das lâmpadas, algo a baloiçar e brilhando. Fixo o objecto, vejo um bocado de fio e um crucifixo, aperto os dentes, como neste momento o volto a fazer, dou uma palmada naquilo e solto um palavrão em blasfémia sentida. Ajudam-me e embrulham-no e limpam-no com carinho, revolta e choro contido, no local. Os homens também choram, porra, mesmo por dentro, dói, dói!

Passados tempos, alguém do meu Grupo e talvez da terra dele, perguntou-me:
-A família recebeu as coisas mas não o fio e o crucifixo.

Não me lembro mas creio que houve uma resposta a tentar suavizar a situação... Não faltava só o fio… parte DELE não foi também recebido… Dizia-se áà família? Creio que era duro demais, nós sentimos demasiado aquela morte. Meses depois, quando da Op Lança Afiada, veio de héli o Comandante do PAIGC Braimadicô (2). Levei-o para o meu abrigo… pois ouvi logo o nome do Camarada morto, repetido por uns e por outros.

Respeitei os meus Homens e levei-o para outro lado. Eles também não esqueceram e, certamente não sabem perdoar. Hoje, trinta e oito anos depois é difícil. O que seria naquela altura. Sabes, penso que não se podia ou era preferível, esconder certos pormenores às famílias. Só se provocava mais sofrimento. Devia era haver uma postura mais humana por parte das Forças Armadas. Análise posterior com calma.

Queria ser mais breve, alonguei-me. Senti a falta de partilhar isto, com o meu Grupo, agora… recordarmos, reflectirmos. Mas eles merecem descansar, recordar ou não. Falar nisto é doloroso ainda HOJE.

Amigo, um abraço,
Torcato Mendonça

2. Estórias de Mansambo (5) > Natal, Ano Novo, dias normais

por Torcato Mendonça (3)

Os militares da CART 2339 só passaram um Natal na Guiné. Partimos, no Ana Mafalda em meados de Janeiro/68 e regressámos em Dezembro/69 no Uíge. Portanto só o Natal de 68 lá foi passado.

Espero que a memória me não atraiçoe e eu tenha arte e engenho para vos descrever tão faustosas festas. Ou seja, as Festas do Natal e Passagem do Ano de 1968/1969. Os Salões engalanaram-se; os Mestres Cozinheiros esmeraram-se e, digo mesmo, em salutar competição guardaram em segredo os menus; as Fardas de Gala foram engomadas…

E..., bom!... Não fantasiemos, pois a realidade era outra. Estávamos em Mansambo, na guerra estúpida e dura, não pertencíamos a grupo de privilégio, fantasia ou outro. Passámos por isso, o Natal e Ano Novo como muitos milhares de militares. Uns melhor outros pior por questões de afectos perdidos, por sentirem mais ou menos a falta das mulheres e filhos, das famílias e de quem gostavam.

Pessoalmente lastimo mas de pouco me lembro. Já estava acima da normalidade, chamemos-lhe assim, para sentir menos o Natal e mais a segurança. Tenho, nestes dias, pensado nisso e infelizmente deve ter sido assim. Socorro-me do Historial, de duas pequenas agendas e tento recordar.

É com esses auxiliares que vou relatar, o mais fielmente possível, aqueles dias.

Não posso dissociar o Natal do Ano Novo. Eram datas festivas, tempos com maior probabilidade de ataques do inimigo, necessidade de nos sentirmos mais ocupados. O ócio fazia-nos voar para outras paragens.

Havia, como é natural, uma maior quebra anímica. Por isso, todo esse período de tempo deveria ser ocupado com diversas tarefas. Seriam, contudo, preservados, o mais possível, os dias festivos.

Assim:

A 23 e 24 de Dezembro de 1968 houve uma Operação/patrulhamento à zona de Biro e Galoiel. Leve troca de tiros com o IN. Fuga deste, missão cumprida e regresso a Mansambo.

Véspera de Natal: os pensamentos longe, cada vez mais longe daquele lugar. Homens a pensarem nas mulheres e filhos, nas namoradas, nos pais e noutros familiares, nos amigos, no frio, nas lareiras e nas luzes a enfeitarem, ruas e presépios, na Pátria distante. Outros, muito poucos, mantinham-se atentos num desligar, mais aparente que real, virando a atenção, o cuidado para o inimigo em hipotética espreita, para lá do arame farpado.

A maioria era do Norte. A religiosidade da data era, talvez, mais sentida por eles. Mas o Natal é festa de família, penso eu. Hoje sinto-o mais assim. Parece que jantei com o meu Grupo, o tradicional bacalhau. Creio mesmo que o Capitão deu uma volta pelos vários abrigos.

Em Mansambo vivíamos em abrigos. Houve certamente o convívio possível. Não me recordo bem. O dia de Natal foi diferente certamente, com pensamentos a irem para junto dos que, lá ao longe, o faziam em sentido contrário. Talvez se tenham encontrado e abraçado a meia distância, em viagens imaginárias, com os deuses a apadrinharem. Talvez!

Entre os dias 28 e 30 de Dezembro houve coluna-auto ao Xitole. Mas o itinerário foi Bambadinca, Galomaro, Quirafo (?), Saltinho e Xitole. Uma coluna formada por bastantes viaturas civis e militares. A Intendência era responsável pela carga. Nós, um Grupo reforçado por picadores e alguns Milícias, éramos os responsáveis pela segurança e bom andamento, daquele enorme comboio com vários tipos de viaturas.

Impusémos regras rígidas. Levámos dois ou três mecânicos o que se veio a revelar de grande utilidade. Um dia de viagem para lá, outro para cá. Merecia ser relatada esta viagem. As avarias, o pó e toda uma loucura quase indescritível. Fizemos, duas ou três centenas de quilómetros (ida e volta) devido à estrada – Mansambo/Xitole – cerca de vinte quilómetros, estar ainda fechada [ou interdita].

O fim do ano aproximava-se e o dia 31 aí estava. O meu Grupo, depois do regresso do Xitole, preparava uma saída para Candamã no primeiro dia de Janeiro.

Talvez, na noite de passagem de ano, se tenha batido a zona com os [obuses] 10,5 e os [morteiros] 81 e bebido mais um copo. Mantínhamo-nos contudo bem atentos. Lá fora, poderia estar alguém pronto a estragar qualquer princípio de festa.

De repente um tiro e gritos. O Pimenta, do meu Grupo, ferira-se com a sua própria arma. Felizmente um tiro de raspão na zona abdominal. Era um faz tudo, por isso e pelo cansaço, estava encarregado dos geradores Lister que forneciam a electricidade ao aquartelamento. No dia seguinte foi evacuado para Bissau e, mais tarde, para a Metrópole. Ainda o visitei no Hospital em Bissau, dias depois, antes da minha ida para férias.

Começava o ano com um ferido, mesmo por acidente, no meu Grupo. Não gostei dos sinais. Depois da evacuação partimos para Candamã. Missão: reconstruir o pontão da Chanca na picada para Dulo Gengele. Nós fazíamos, a segurança e a ajuda, se necessária, a uma secção de engenharia de Nova Lamego, comandada pelo Furriel Zamite.

O trabalho teria que ser feito com rapidez. Questão de eficácia e principalmente segurança. Moto-serras a trabalhar no mato… não era saudável. Com a ajuda de todos, população incluída, e o saber do pessoal da engenharia, no final do dia 2 de Janeiro estava a missão cumprida.

Começamos a aprontar o material para a saída na madrugada seguinte. Um descuido, azar ou outro motivo qualquer, fez com que o Casadinho sofresse uma queimadura ligeira numa perna.

Faço aqui um parêntese para contar breve história deste militar [, o Casadinho]:

Era o Bazuqueiro do grupo. Alentejano de S. Matias, aldeola quase encostada a Beja. Cerca de dois ou três meses, após a chegada à Guiné, soube do nascimento da filha. Os meses passaram, o desgaste era grande e, como era necessário um militar da Companhia ir para Bissau – serviços de apoio logístico – foi indicado o Casadinho. Pouco tempo lá esteve. No dia 3 de Outubro, a dois meses do embarque, faleceu vítima de um desastre de viação na estrada para Bissalanca. Depois de quase dois anos de mato, muitas horas debaixo de fogo, morre, estupidamente, num acidente. Repousa no cemitério da sua terra natal. Nunca conheceu a filha.

Quando lá passo, no IP2, o carro, todos os carros que, ao longo destes anos tenho tido, abrandam sempre, aceleram e travam um pouco, num engasgar de soluço, de modo a que eu me possa voltar na direcção dele e o cumprimente. Nunca tive coragem de procurar a viúva ou a filha. Um dia…

Voltando á Guiné, a Mansambo, aos primeiros dias de Janeiro de 1969:

No dia 3, abandonámos Candamã e regressãmos à nossa Base. Havia correio fresco á nossa espera e a natural alegria. Nesse dia, após o jantar, fui ao meu abrigo. Na sala, à volta da mesa, a malta lia o correio, escrevia ou passava o tempo de outra forma. O Bessa partilhava uma garrafa de bagaço acabada de receber. Ofereceu-me um copo. Agradeci e entrei no abrigo. Ele foi para o palanque do posto de sentinela. Segundos depois um rebentamento. Aí estava mais um ataque ao aquartelamento. O estrondo inicial foi de uma roquetada que acertou no Bessa.

Durou talvez meia hora o tiroteio. Só que o meu Gr Comb sofreu o primeiro morto e o 1º Grupo um ferido grave. Terminado o ataque fui apanhar o Bessa. Embrulhei-o num lençol e não relato os pormenores. Ainda hoje os tenho bem vivos na memória. Ainda hoje aperto os dentes. Nunca esquecerei aquela morte, qualquer morte de um camarada. Por má formação, além de não esquecer, nunca perdoarei.

Ao terceiro dia, do novo ano – 1969 – o meu Grupo sofreu um morto e dois feridos, embora um muito ligeiro. No dia seguinte fizemos uma coluna para Bambadinca. Acompanhei o fechar da urna com o Soldado Bessa lá dentro. Já não regressei a Mansambo. Afoguei a raiva bebendo e dando uma volta à tabanca á procura de um amigo…

Devo ter tido um acordar difícil no dia seguinte. Não sei bem. Lembro-me que o [sargento piloto aviador] Honório me deu boleia, na sua avioneta, até Bissau com passagem por Bigene, onde consegui dar um abraço a um conterrâneo.

Dias depois, embarcava para a Metrópole para gozar o meu segundo período de férias.

Resumo:

O Natal e Ano Novo foram dias muito normais;
Operação na véspera de Natal;
Coluna ao Xitole, por Galomaro; Na noite de passagem de Ano feri
do o Pimenta;
No dia de Ano Novo ida para Candamã, fazer segurança á reconstrução de um pontão;
Findo o trabalho, dia 2, o Casadinho ligeiramente queimado numa perna;
Regresso a Mansambo, ataque ao aquartelamento e morte do Bessa;
Dia 4, em Bambadinca, fechada a urna do Bessa;
Dia 5, com passagem por Bigene, vinda para Bissau;
Dia 8 embarquei de férias para a Metrópole. Cortei as barbas a contragosto, do Capitão Vaz, da 1746, meu companheiro de viagem. A PIDE/DGS falava mais alto…

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Notas de L.G.

(1) Vd. post de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)

(2) Vd. post de 5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1152: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (3): Braimadicô, o prisioneiro que veio do céu

(3) Vd. 14 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1594: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): A dança dos capitães

16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1666: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (2/3): O Zé e o postal da tropa

25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1785: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 239) (4): Burontoni, mito ou realidade ?

Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)


1. Mensagem do Victor Tavares (ex-1º Cabo paraquedista, CCP 121/BCP 12, Bissalanca, 1972/74; hoje, pequeno empresário e autarca, no concelho de Águeda, donde é natural e onde vive):

Caro amigo Luis: Peço desculpa de não dar notícias há já algum tempo mas o tempo tem sido curto.

Ao dar uma rápida vista de olhos pelo Blogue, verifiquei que se referiam a Cadique como pouco falada (1). Tenho um enorme texto para enviar brevemente (e que vos peço para compor como tão bem sabem). Todo ele se refere ao Cantanhez, nomeadamente a Cadique, Caboxanque e Cafine. Pois este destacamento teve como primeiros ocupantes a minha Companhia de Paraquedistas, a CCP121.

Também relativamente a Gadamael Porto (2), um camarada que entrou, penso recentemente no blogue, refere que aqui tinham morrido 5 ou 6 paraquedistas, o que felizmente não corresponde à verdade. Morreram sim estes números mas do Exército, como bem refere o nosso camarada J. Casimiro de Carvalho.

Despeço-me enviando um forte abraço para todos os camaradas.
VICTOR TAVARES.

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Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)

(2) Victor: Não tenho ideia de ter visto isso escrito, a propósito de Gadamael e dos páras... Identifica o nº e a data do post... Fico, por outro lado, a aguardar o teu sempre precioso e sempre apreciado testemunho, desta vez sobre a vossa actividade operacional no mítico Cantanhez.

Vd. post 19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)

Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)


Portugal > Lisboa > s/d > Cartaz de propaganda de apoio à luta dos povos das colónias africanas portuguesas. Cartaz da UAC - Unidade Anti-Colonial. Imagem gentilmente cedida por Jorge Santos, ex-fuzileiro especial em Moçambique, membro da nossa tertúlia e autor de uma já clássica e exaustiva página sobre a Guerra Colonial (2005).



Um RPG-2, com o respectivo porta-granadas. Em russo: Ruchnoi Protivotankovii Granatomet (RPG-2). Uma temível arma que data do princípio dos anos 50. Deixou, entretanto, de ser usada pelo exército russo. Mas foi muito popular entre os exércitos de guerrilha em todo o mundo. Era a bazuca dos pobres... É uma arma muito leve (tubo= 2,86kg.; tubo + granada= 4,48 kg.) e de fácil manobra. Alcance efectivo= 100 metros (LG).

Fonte: © The Sword of Motherland Foundation (2005), com a devida vénia.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) > 1973 > "Diverso material apreendido ao PAIGC numa operação, levada a cabo pela em 1973. Fico na dúvida se já em Mansambo ou ainda no Xime" (Sousa de Castro). São visíveis as famosas metralhadoras ligeiras Kalashnikov, que se tornaram verdadeiro objecto de culto até aos dias de hoje (1), granadas de RPG7, porta-granadas de canhão s/r...

Foto: © Sousa de Castro (2007). Direitos reservados.


Guiné > PAIGC > s/d > A Kalash, a famosa AK-47, desenhada pelo russo Mikhail Timofeevich Kalashnikov (nascido em 1919) equipava na altura todos os exércitos de guerrilha do mundo, além dos exércitos do Pacto de Varsóvia. Até meados dos anos 90 calcula-se que se tenham fabricado mais de 70 milhões de Kalash, de acordo com o modelo oficial ou em versões pirateadas. Esta arma continua no imaginário de todos os ex-combatentes da Guiné. Recordo-me de em Bambadinca, no regresso da operação de invasão a Conakry (Op Mar Verde), alguns tipos da 1ª Companhia de Comandos Africanos (qu estavam sediados em Fá Mandinga, a tabanca do Jorge Cabral) andarem a oferecer-nos Kalash, que faziam parte parte dos seus roncos, por 500 pesos... Tive o bom senso de não comprar nenhuma... (LG).

Foto: Fonte desconhecida (2).

1. Mensagem do A. Marques Lopes (que em Julho estará em férias na sua querida Nazaré):

Caros camaradas:

A propósito dos acrónimos, gírias e calão (3), aqui vai, para conhecimento ou lembrança, como é que os guerrilheiros do PAIGC chamavam ao seu armamento.

Abraço

A. Marques Lopes

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Tipo de Armamento > DESIGNAÇÃO

Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO


Morteiro 120 mm > BADORA


Canhão S/R B-10 > BEDISCanhão S/R 75 mm > TECHONGO


Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊSLança Granadas-Foguete RPG-2 > BAZOOKA CHINA (*), BAZOOKA LIGEIRO, LANÇA PEQUENOLança Granadas-Foguete 8,9 cm (M20 B1) > BAZOOKA CUBANA

Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,Metralhadora Pesada GORYOUNOV Cal. 7,62 mm M-943 SG > TRIPÉ, GORRO NOVOMetralhadora Pesada ZB – 37 ZDROJOVSKA > TRIPÉ, TRIPÉ BESSA


Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICOMetralhadora Ligeira DEGTYAREV RDP Cal. 7,62 mm > BIPÉ CHECO, BIPÉ PACHANGAMetralhadora Ligeira M-52 Cal. 7,62 mm > BIPÉ CAUDO, BIPÉ MAQUESSENMetralhadora Ligeira BORSIG Cal. 7,92 mm > BIPÉ

Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICOEspingarda Automática SIMONOV (SKS) Cal. 7.62 mm > CARABINA AUTOMÁTICA ou CHIME AUTOMÁTICA, CANHE BALE (JOL), CARABINA SINECE, CARABINA CHINESA, E.S.A SIMAEspingarda M-52 Cal. 7,62 mm > CARABINA CHECA
Espingarda MAUSER K98K > MAUSEREspingarda Semi-automática M-52 Cal. 7,62 mm > CHIME AUTOMÁTICA, CARABINA BOMBARDEIRACarabina MOSIN-NAGANT M-944 > CARABINA RÔSSIA (SOVIÉTICA

Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE
Pistola-Metralhadora M-25 > MERENGUE ou RICON RICOPistola-Metralhadora SHPAGIN Cal. 7,62 mm M-941 (PPSH)> PACHANGA, METRO ou METAR (**)Pistola-Metralhadora SUDAYEV Cal. 7,62 mm M-943 (PPS) > PM de FERRO, DECÉTRIS,MODELO PACHANGA, PM CHINESA
Pistola-Metralhadora THOMPSON Cal. 11,4 mm > RICO JAZ-THOMPSONPistola-Metralhadora BERETTA N-38/42 e M-38ª> BERETTAPistola-Metralhadora SHMEISSER MP-38 e MP-40 > COPTER



Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA

Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate, que a tomou como ronco... Não sei se a conseguiu trazer para o Continente e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG) (4).

Fonte: © Kentaur, República Checa (2006).



Guiné > Região do Cacheu >Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A espingrada semiautomática russa Simonov, capturada a um guerrilheiro abatido.


Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.



Lisboa > Museu Militar (1) > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC).

Foto: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.

Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Metralhadoras pesadas Degtyarev, de origem soviética (6).

Foto: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados .

_________

Notas de A.M.L.:

(*) Mas era de fabrico soviético, tal como o RPG-7 .

(**) Nós chamavamos-lhe costureirinha.

_________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74- DCCCXVIII: Confissões de um pacifista: A minha paixão pela bela Kalash (João Tunes)

(2) Vd. post de 16 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XIX: O festival das kalash, das 'costureirinhas', dos rockets e dos katiousha (Luís Graça)

(3) Vd. último post da série Abreviaturas, etc. > 26 de Junho de 2007 > Giuiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)

(4) Vd. post de 19 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado (Luís Graça)

(5) Vd. post de 15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana

(6) Vd. post de 13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)

Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)

1. Mensagem do Inácio Silva de 18 de Junho para o Editor Luís Graça

Caro Luís Graça:

Não tive, ainda, o prazer de te conhecer pessoalmente, mas tão só em fotografia. Mas, por aquilo que está publicado, quer na tua página, quer nos teus blogues, tenho que me curvar perante a quantidade e a qualidade de tantos artigos publicados, fotografias, histórias, etc., que não deixarão cair no esquecimento o período da História de Portugal que, embora sem mérito para o País, marcou, profundamente, os seus jovens, os pais e as famílias, no período compreendido entre os anos de 1961 e 1974. Quero dar-te os meus sinceros parabéns.

Fui camarada do Carlos Vinhal, na CART 2732, que esteve em Mansabá, Guiné, entre 1970 e 1972. Só há cerca de dois meses consegui redescobri-lo, precisamente através do teu blogue. Desde então, temos mantido contactos regulares, através da internet e do Windows Live Messenger.

Tenho estado empenhado, também, em ajudar a que se faça justiça, relativamente à dívida de gratidão que o País tem para com os ex-combatentes. Refiro-me ao Complemento Especial de Pensão, previsto na Lei 9/2002. Neste sentido, criei o blogue Relembrar para Não Esquecer (http://guerracolonial.blogs.sapo.pt/) onde estão publicados os documentos que se relacionam com este tema.

Em breve irei precisar da tua colaboração para anunciar a recolha de assinaturas para o abaixo-assinado que, certamente, terá que ser feito, para acompanhar uma nova Petição, a dirigir à Assembleia da República.

Por agora, desejo que me consideres mais um elemento da tua tertúlia...

Para que fiques com alguns elementos a meu respeito, informo-te que fui 1.º Cabo de Art, com o n.º mec.º 06101569, sou oriundo da Madeira e que, como camarada do Carlos Vinhal, ambos vivenciámos episódios comuns, em Mansabá.

Oportunamente, far-te-ei chegar um pouco do que ainda se encontra na memória, sobre o período que correspondeu à estada na Guiné, conforme a vivi e entendi.

Envio-te duas fotos, conforme é solicitado.
Um grande abraço do

Inácio Silva



2. Comentário do co-editor, Carlos Vinhal:

Caro Inácio:

Como adivinhas, é com um enorme prazer que te dou as boas vindas ao nosso Blogue. É uma alegria ter um companheiro de luta, junto de mim.

Entre os tertulianos há alguns camaradas que são, entre si, colegas de Companhia, ou pelo menos de Batalhão. Eu estava só e com nenhumas perspectivas de ter alguém que me chamasse a atenção para um escrito menos verdadeiro, pois o tempo vai desvanecendo a memória e a realidade vai-se confundindo com a ficção.

Chegaste tu para contares estórias que eu não vivi, porque não estive em todas, felizmente.

És além de tudo um Madeirense, representante de um povo que eu desde a primeira hora neste Blogue, exaltei como destemido, humilde no melhor sentido da palavra e, acima de tudo, leal para com os seus superiores de ocasião. Nunca se pouparam a esforços para levarem a cabo as missões confiadas, muitas vezes com desprezo pela própria vida, imbuídos de um dever patriótico.

Em meu nome e no do Luís Graça, bem-vindo.
Fraternal abraço do camarada
Carlos Vinhal

terça-feira, 26 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)

Mensagem do camarada Álvaro Basto, de 5 de Junho, endereçada ao Editor do Blogue, Luís Graça:

Caro Luís Graça e caros camaradas tertulianos

O meu nome é Álvaro Basto, tenho 58 anos e, tal como vocês, não escapei ao Servicinho Militar Obrigatório em 70.

Após algumas cabulices no liceu, fui incorporado nas Caldas da Rainha e posteriormente em Lisboa no HMP - Hospital Militar Principal - vindo, após os 3 meses obrigatórios da especialidade, a ser integrado como enfermeiro no HMR (Hospital Militar Regional) do Porto onde sempre vivi e onde permaneci um ano inteiro (pertinho de casa, vejam lá a sorte e os maus hábitos que adquiri)...

No início de Dezembro de 1971 sou informado que iria embarcar no dia 18 seguinte para a Guiné (imaginem o choque lá em casa, filho único... há um ano praticamente em regime de emprego civil perto de casa; enfim, foi o drama, um drama afinal igual a tantos e tantos outros que na altura grassavam pelas famílias portuguesas...).

Não embarquei no dia 18 mas em 22 desse mesmo mês (acho que a explicação já foi aqui, na tertúlia, avançada por um camarada) e foi nessa viagem que conheci o Mexia Alves, o António Barroso e o Artur Soares, digníssimos tertulianos aqui presentes, integrado na CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca).

Temos pois muitas estórias em comum e um acervo fotográfico interessante que, apesar do desgaste do colorido provocado pelo tempo, se tem mantido em condições razoáveis.

Logo após o regresso da Guiné que para mim, por ser Furriel Enfermeiro, durou até ao dia 1 de Abril de 1974 (dia de enganos, daí eu dizer sempre que só regressei de lá vivo por engano...), ainda mantive o contacto com alguns daqueles com quem mais tinha privado, mas o stress era tal que decidi afastar de vez da mente aquela época vivida longe, que teve muitos maus momentos, mas teve sobretudo um papel importantíssimo na minha formação social com os seus incontáveis momentos de alegria e descontracção, que em conjunto aí vivemos todos.

Tive entretanto, nos anos seguintes, conhecimento que havia encontros anuais dos antigos resistentes, especialmente da CCS de Bambadinca mas por uma razão ou por outra nunca apareci. O grande dinamizador era o Fur Enf da CCS (único elemento profissional já que todos nós enfermeiros éramos, além de milicianos na tropa, milicianos na enfermagem, isto para não dizer verdadeiros enfermeiros - proveta). A memória já não é o que era e, além de lhe ter perdido o rasto esqueci, para vergonha minha, até o seu nome...

Tantas vezes ele insistiu em vão que acabou por desistir de me contactar. Mais recentemente, e já com algum tempo livre, dado que estou reformado, decidi fazer uma daquelas arrumações que me ajudam a superar as neuras, e as caixas dos slides da Guiné lá estavam todas alinhadinhas e arrumadas num armário do escritório.... Lembrei-me.... e se eu digitalizasse isto tudo? E assim fiz...

Por ironia do destino, nesse dia recebo uma chamada telefónica do António Vilas Boas Barroso, daqui de Valadares, a perguntar que era feito de mim... Vejam lá, há 34 anos que não falávamos e aqui tão perto...

Foi ele que me falou do blogue e, a partir daí, tem sido um revirar e um revirar com a colher de pau no caldeirão das memórias.

Acho que lhe perdi o medo.-

Eu também estive no Quirafo.. Já só fui ajudar a identificar os mortos nos balneários do Saltinho. Fui de heli com o médico Dr. Azevedo (se não me engano, que isto da memória às vezes prega-nos partidas)... E imaginem como fiquei ao ler os relatos e testemunhos que aqui foram deixados sobre esse fatídico dia de Abril... Recordo sobretudo e infelizmente o Armandino e os pormenores mais macabros que me levaram a perder o sono durante muito tempo e a recorrer, de forma quase viciante, às diazepinas (valiuns) para dormir e sossegar a mente e o medo....

Quando após o 25 de Abril leio, uma bela manhã, na primeira página do Jornal de Notícias, do Porto, a reportagem do morto que, afinal, estava vivo, a visitar a sua campa no cemitério de S. Mamede Infesta com a namorada que afinal já tinha casado com outro porque se julgava livre, imaginem como fiquei!... Era mesmo o tal transmissões que foi alapando na emboscada do Quirafo. Durante anos guardei a reportagem do jornal mas acabei por deitá-la fora numa dessas minhas alucinadas crises de arrumação compulsiva... Como lamento hoje....

Queria terminar fazendo referência a um e-mail que aqui foi reproduzido de um tal Artur Pereira, cabo enfermeiro no Xitole em 72/74, há vinte e tal anos na Austrália e de quem o Mexia Alves já não se recordava a cara...Aqui vai uma foto dele. Escrevi-lhe um e-mail emocionado, pois era mesmo um os cabos enfermeiros da minha companhia, um alfacinha de gema, calmo e dedicado, e de quem guardo muitas e boas recordações.

Aproveito para enviar igualmente as fotos da praxe, o antes e o depois....

Finalizo agradecendo-te, Luís, o teu enorme ´(e trabalhoso) altruísmo neste verdadeiro Serviço Publico de nos ajudares a manter viva a memória de tempo, tão importantes na nossa vida e direi mesmo na nossa formação como homens.

O contributo que este Blogue representa para a Historia Verdadeira da Guerra do Ultramar (já que tem havido tantas vezes grandes doses de mistificação a este respeito um pouco ao sabor das políticas e dos interesses imediatos dos homens) é um valor de que serás seguramente lembrado pelas gerações vindouras.

Um grande bem hajas

Álvaro Basto
ex-FurMil Enfermeiro
Rua de Recarei, 158-5-Esq.
4465-725 Leça do Balio
Matosinhos
Tel.229554932/telem 965031310


2. Mensagem do co-editor do Blogue:

Caro Amigo e Camarada Álvaro:

Diz o ditado, mais vale (um pouco) tarde do que nunca. Tu, como outros camaradas, estiveram um pouco mais de tempo à espera de terem resposta às solicitações de entrada no nosso Blogue. Não se tratou de dar muita cerimónia ao assunto, nós somos todos muito simples e modestos, mas coincidiu com uma alteração de funcionamento interno do Blogue, com transferência de mensagens dos endereços pessoais do Luís para o Gmail. As nossas desculpas a ti e aos camaradas que só este mês tiveram resposta.

És mais um representante do Concelho de Matosinhos no Blogue do Luís Graça. Por aqui já marcam presença os camaradas Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Magalhães Ribeiro, Ernesto Ribeiro, Amaro Samúdio e este camarada que te escreve. Se me esqueci de alguém, peço perdão.

Aproveito para te pedir para usares preferencialmente o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com para envio de textos e fotos para publicação no Blogue. Assim não haverá extravio de correspondência e longas demoras na obtenção de resposta.

Outro tipo de correspondência pode ser enviado, em alternativa, para os endereços pessoais do Luís ou meus, conforme o assunto a tratar.

Já agora, não uses o Gmail para envio de mails de diversão ou similares, para não congestionar e sobrecarregar o sistema. Claro que estas observações são válidas para toda a gente.

Em meu nome e no do Luís, sê bem-vindo.
Recebe um abraço fraterno do camarada

Carlos Vinhal

Leça da Palmeira
Telem 916032220

Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732/Mansabá
CTIGuiné 1970/72
 

Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > Bajudinhas de Guileje... Corpo de bo ? Jantum... Foto do nosso saudoso capitão José Neto (1927-2007).

Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.

1. Mensagem do Zé Teixeira, também conhecido, no Faroeste, como o Esquilo Sorridente...

Olá, gente boa.

Creio que nós trouxemos da Guiné todo um conjunto de palavras e frases que reflectem uma mistura de crioulo com as diversas linguas autóctenes, assimiladas em função dos locais por onde íamos passando.

A propósito, não resisto a contar uma cena vivida há cerca de três meses, num casamento em que tive o prazer de reencontrar um velho amigo da minha juventude, que viveu num Lar para jovens trabalhadores no Porto, onde eu tinha estado antes de ir para a Guerra e para onde voltei após o regresso - o Lar de S. Paulo.

Após alguma hesitação reconhecemo-nos e ele dirige-se a mim com a seguinte frase:
Corpo di bó ?

Pensei: Olha, mais um que foi lá bater com as costelas... E ripostei:
- Manga di fome, bianda cá tem, bariga eh na dê... - E continuei:
- Na pinda, tanala, talifanala . . .(bom dia, suponho que em Fula).

Seguiu-se o abraço para abafar as saudades tendo ele continuado:
- Cabeça di bó suma a cabeça di burro de Bafatá.

Onde estiveste ? Eu ? Nem à tropa fui. Tu, quando regressaste, quase não falavas português connosco. Era esta linguagem esquisita e brindou-me com um conjunto de frases: djarama anani, jametum, bianda cá tem, ó curame bianda, o curame kote, parte catota e outras.

Para enriquecer o nosso dicionário aí vão mais algumas:

Bariga eh ná dê - Estou com dores de barriga
Cabeça grandi - bébado, maluco
Djarama anani - Obrigado
Irmão de ontem - anteontem
Irmão da manhã - Depois de amanhã
Manga di chocolate - Barulho, grande ataque, com muitas morteiradas.
Manga di ronco - Que espectáculo !
Na pinda, tanalá, talifanalá - Bom dia, como está a família, as vacas, as galinhas..
O´curame - Dá-me
Parte - Dá-me
Ramassa - Diarreia
Sabe sabe - Gostoso
Suma - Igual a, parece-se com (Ketá suma cabeça grandi -Ketá está bébado , parece maluco)
Tem manga di sabe sabe - Muito gostoso
Turse - Tosse


. . . e para a próxima há mais, se me lembrar.

Um fraternal abraço.

J.Teixeira

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Nota de L.G.:

(1) Vd. posts de:

23 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1872: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (1)...(Luís Graça)

24 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1874: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (2)... (António Pinto / Joaquim Mexia Alves)


(2) Vd. alguns sítios com expressões em crioulo e outras línguas da Guiné-Bissau:

(i) Bantaba - Guiné -Bissau, sítio de José Canas> Arte e cultura

Línguas da Guiné-Bissau

Lista de Provérbios

Textos crioulos

(ii) Portal da Universidade de Brasília > Crioulística , página de Hildo Honório do Couto (3) > Provérbios crioulo-guineenses

(3) Hildo Honório do Couto é autor do livro O CRIOULO PORTUGUÊS DA GUINÉ-BISSAU, publicado em Hamburgo pela editora Helmut Buske Verlag, na série Kreolische Bibliotheke, n. 14, em 1994. Contacto:

Hildo Honório do Couto

Departamento de Lingüística
Universidade de Brasília
70910-900 Brasília, DF, Brasil.
email: hiho@unb.br

Guiné 63/74 - P1886: Tabanca Grande (18): Luís A. Camões de Matos, Op Cripto da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa (1969/71)

1. Mensagem de 15 de Junho do camarada LUÍS CAMÕES, enviada ao Editor do Blogue

Apresenta-se e pede autorização para entrar na Tabanca Grande o 1º Cabo Operador Cripto 13926268 Luis A. Camões de Matos, nome de guerra Cripto Camões, da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, do sector de MANSOA onde permaneceu de Maio de 69 até fim de Fevereiro de 71. Cripto mas não secreto desde 71.

Como já não existem mensagens secretas nem confidenciais, tenho algum material para enviar.

Sou amigo pessoal do Gabriel Gonçalves (GG) e do Fernando Franco, com quem tenho partilhado alguns comentários do blogue.

Um forte abraço
Luís Camões



As fotos de antes e depois que o camarada Luís Camões enviou para a nossa fotogaleria








2. Comentário do co-editor do Blogue

Caro Luís Camões, bem-vindo. És mais um elemento do BCAÇ 2885, já representada pelo César Dias no nosso Blogue. ´

Durante o tempo em que estivemos adstritos ao CCAÇ 2885, a CART 2732 e as vossas Companhias fizeram algumas Operações em conjunto, o que valorizou muito a nossa operacionalidade.

Assim adquirimos conhecimentos que nos foram muito úteis durante o resto da nossa Comissão de Serviço.

Esperamos de ti estórias e fotos dos teus tempos de Mansoa, onde passei muitas vezes e onde fui mordido sem dó nem piedade pelos mosquitos, bem mais bravos que os de Mansabá.

CV

Guiné 63/74 - P1885: Tabanca Grande (17): Manuel Henrique Quintas de Pinho, Marinheiro Radiotelegrafista, LDM 301 e 107 (Guiné, 1971/73)

1. Mensagem de 4 de Março último, enviada pelo nosso novo camarada Manuel Henrique Quintas de Pinho, Marinheiro Radiotelegrafista, dirigida ao Editor do Blogue:

Amigo Luís Graça:

O meu nome é MANUEL HENRIQUE QUINTAS DE PINHO, habito em Chave, uma freguesia do Concelho de Arouca, Distrito de Aveiro. Prestei serviço militar na Marinha de Guerra Portuguesa e estive na antiga província da Guiné desde Setembro de 1971 a Junho de 1973, embarcado nas lanchas de desembarque médio, primeiro na LDM 301 (que foi abatida ao efectivo por ser muito antiga e estar desactualizada, pois teria vindo da América), e depois na LDM 107, fabrico português.

Durante este período sofremos apenas um ataque directo no Rio Cacheu, perto da clareira de Olossato, a montante de Ganturé, que, embora muito forte, não causou estragos nem vítimas, felizmente. Foi no dia 26 de Janeiro de 1972, às 18.00h.

Percorri toda a Guiné, via fluvial, desde o Rio Cacine, passando pelo Rio Cumbijã até Bedanda, Tombali, Buba, Rio Geba até Porto Gole, Rio Mansoa até Mansoa, Encheia e Rio Cacheu até norte de Farim. Tenho algumas fotografias mas não consigo enviá-las. Se puder diga-me como hei-de proceder.

De qualquer modo, gosto de navegar por este Blogue, pois traz aquela saudade que ainda hoje se sente pelos bons e até menos bons momentos que lá passei. Sem outro assunto, apresento os meus cumprimentos e não podemos parar.

Henrique Pinho
Marinheiro Radiotelegrafista N.º 850/70.

2. Comentário de C.V., co-editor do blogue:

Meu caro Manuel Henrique:

A tua entrada na nossa tertúlia esteve um pouco 'enguiçada', em grande parte por causa das fotos que mandaste, num formato (pdf) que não é compatível com o nosso blogue. De qualquer modo, eu já tinha feito a tua apresentação interna. Ficamos todos mais ricos com a presença de mais um Marinheiro. Ficamos ansiosos por conhecer algumas das tuas andanças pelos rios e braços de mar da Guiné. De futuro, manda-nos as tuas fotos, de preferência em formato jpg. Recebe um grande abraço meu e do Luís Graça.

CV

Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

Capa do livro do nosso camarada Mário Vicente [Fitas Ralheta], Pami Na Dondo: A Guerrilheira. Edição de autor, 2005. (Com patrocínio da Junta de Freguesia de Estoril e prefácio da autoria do Coronel Carlos da Costa Campos, que iremos reproduzir em breve).


Guiné > Região de Tomboli > Cufar > CCAÇ 763 (Fev 1965/ Nov 1966) > A suite do Mário Fitas...


1. Mensagem do Carlos Vinhal, co-editor do blogue:

Amigos e camaradas: Já vos apresentei, internamente, o novo membro da nossa tertúlia ou Tabanca Grande, como quiserem... Trata-se do Mário Fitas, ex-Fur Mil que esteve na Guiné entre 1965/66 e com quem já tive o prazer de conversar pelo telefone e dar as boas vindas, em nome do Luís Graça e de todos nós.

Transcrevo uma recente mensagem dele (há outras pendentes, que ficarão a aguardar a sua vez para publicação):

2. Nome: Mário Vicente Fitas Ralheta

Posto: Furriel miliciano.

Unidade: CCAÇ 763, Guiné, Cufar, Fevereiro 1965/Novembro 1966. A minha Companhia foi a construtora do 1º aquartelamento em Cufar.

Já editei dois livros sobre a Guiné. O último Pami na Dondo a Guerrilheira, ofereço a quem desejar, basta contactar:
Mário Fitas
Rª D. Bosco 1106
2765-129 Estoril.


Gostava de entrar no vosso grupo e trocar conhecimentos sobre a Guiné. Envio, como solicitado, dados e fotografias para fazer parte com imenso gosto da Tabanca Grande. Na 1ª foto, vê-se a primeira suite no Aquartelamento de Cufar. Na 2ª foto, ficam a conhecer o jovem de hoje.

Sobre a família Brandão (1), recordo-me de um rapaz de estatura média, usando óculos que abriu uma casa de comércio em Cufar em 1966.

Com os melhores cumprimentos,
Mário Fitas

_________

Nota de C.V.:

(1) Vd. post de 6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)