quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3842: Tabanca Grande (111): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622, Guiné 1966/68

1. Mensagem de José Brás, ex-Fur Mil TRMSda CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, com data de 2 de Fevereiro de 2009: 

Caros Luís Graça e Carlos Vinhal

Enviei a 19 do mês passado, como digo abaixo numa 2.ª via enviada a 27.01.09, um texto em jeito de “carta (entre)aberta a Joaquim Mexia Alves.

Nesse meu texto mostrava a minha visão sobre a questão da “guerra” através da oportunidade “Guilege”.

Não é um texto, segundo creio, nem ofensivo nem muito (e polemicamente) contrário ao do JMA, já que, deplorando profundamente aquela parte da história do meu (nosso) País na tendência de uma perspectiva universalista (perdoem a pretensão) do homem, do passado e do futuro do homem, que tenho tentado manter, não recuso falar dos actos militares, a bravura, o heroísmo, mesmo, de alguns, direi, da maior parte que sofreu a dureza do isolamento, do cerco psicológico e de facto, algumas vezes a fome, o choro pelos mortos e a incompreensão sobre aquilo tudo.

Nem recuso o debate sobre vitórias e derrotas, pese embora a certeza que tinha já, no terreno, da impossibilidade da vitória definitiva.

Penso que alguma polémica não faz mal a ninguém, sobretudo se soubermos guardar o respeito pelos “adversários” de circunstância, de facto amigos e irmãos.

Daí ter estranhado que, nem a 19, nem a 27, tenha visto sinais do texto ou da sua recepção.

Entretanto, na ressaca, outros textos me saíram, enviados ao Mário, camarada da Guiné e colega antigo da TAP.

Hoje mesmo recebi dele sinais de que o meu texto não havia chegado nunca ao destino certo.

Enviava também duas fotos como forma de abrir a porta e entrar na Tabanca.

Dos textos que enviei ao Mário, o Mário mesmo pode reenviá-los e vocês far-lhe-ão o que acharem mais indicado, na certeza de que não quero entrar de rompante e ocupar terrenos que só vocês sabem como gerir em equilíbrio.

Portantos (como se diz por aí à bruta), aqui vai de novo o primeiro texto que enviei, provavelmente já anacrónico na diferença das datas e das águas que já correram. 

Um grande abraço e votos de bom trabalho.
Até breve
José Brás


2. Mensagem de José Brás com data de 27 de Janeiro de 2009, a qual não encontrámos entre a correspondência recebida:

Caro Luís Graça
Enviei a 19.01.09 (ou penso que enviei) o texto abaixo junto com carta aberta a J. Mexia Alves sobre intervenção sua e editada no blogue acerca da chamada “batalha de Guilege”.

Acompanhavam tal texto duas fotos, uma antiga e outra actual, forma que julgo suficiente para ser considerado um novo “camarada” da Tabanca Grande.

Entretanto novos textos foram aparecendo sobre o mesmo tema, uns, como o de JMA, deambulando por caminhos de análise puramente militar e hipermetrópica, própria do contrário da história, outras que, como eu, não negando a análise militar (tudo é analisável), não arredam a parte mais interessante da visão universal do direito dos seres humanos a disporem da sua vida e da sua liberdade num mundo que sempre se sonha melhor no futuro.

Estive com alguns problemas no meu computador e, no exemplo do que aconteceu com outras mensagens para outros destinatários, temo que não tenha chegado ao teu correio o texto que refiro acima como enviado.

Indicia tal situação o facto de não lhe ter visto mais qualquer referência no blogue, nem ter recebido eu a acusação da recepção.

Desse modo o reenvio agora com um abraço de cumplicidade a todos os que mantém o interesse na discussão plural e aberta sobre uma página da nossa história que, como todas as histórias, individuais ou colectivas, não se fazem apenas de glórias e heroísmos mas também de muitas misérias e cobardias.

José Brás

Carta (entreaberta) para Joaquim Mexia Alves e … não só
Via Tabanca Grande


Caro amigo
Talvez não seja correcto dizer-se que não nos conhecemos, que nunca nos encontrámos por aí, nas andanças de paisanos metidos a “tropas” em circunstâncias que não desejámos, seguramente, nem eu nem o meu amigo.
Daí que talvez não fosse apropriado o tratamento de “caro amigo” e que o estranhe por o ter usado eu, aqui.
Contudo, a mim me parece não ser verdade verdadeira a afirmação de que nunca nos encontrámos, tendo estado nos mesmos lugares, caminhado nos mesmos caminhos, respirado fundo sob as mesmas árvores, suado do mesmo calor e da mesma humidade, bebido da mesma água (quem disse que o rio não corre duas vezes no mesmo lugar?), sentido as mesma angústias, sofrido as mesmas dúvidas (ao contrário do outro, nós tínhamos dúvidas e enganávamo-nos algumas vezes, não era?), visto os mesmos esgares de dor de quem partia…apenas porque nada disso foi contemporâneo.
O amigo esteve no Xitole em 71 e, provavelmente mergulhou uma vez ou outra no Saltinho, patrulhou por Contabane e Aldeia Formosa. Eu estive uns meses em Aldeia Formosa em 67 (e em Mejo depois) e mergulhei também nos rápidos, almocei e bebi uns copos com a malta do Xitole sempre que me deu na gana fazer o “passeio”, às vezes apenas dois ou três “malucos” num jipe velho.
Lembro-me de uma vez em que jogávamos à bola no “estádio” local quando as morteiradas começaram a sair da mata e a cair bem perto.
Lembro-me de uma noite passada do outro lado do Rio Corubal, ouvindo os motores do Xitole, dormindo antes do ataque a “Portugal Pequenino”, onde tivemos um morto e vários feridos.
Estou seguro que a palavra amigo não está aqui a mais.
Ainda que não estejamos de acordo sobre a questão da “Retirada de Guileje”!
Quer dizer. O desacordo não tem tanto a ver com a análise da “acção militar” que lhe deu forma, com a classificação de certa ou errada, de vitória ou derrota militar que aqui esteve presente. O desacordo tem mais a ver com “os olhos” com que se vê o acto.
O amigo quer fazer análise puramente militar, decalcar dos compêndios militares os conceitos, as definições, os princípios, os objectivos, instrumentos e ferramentas que fabricavam os futuros generais. Amílcar Cabral não frequentou os bancos de tais universidades, como os não frequentaram Ho Chi Min, nem Giap.
Eu recuso-me a um exercício desses. Se bem que não tenha recusado a guerra nem na guerra o risco do pêlo algumas vezes; se bem que nunca me tenha sido indiferente olhar para dentro da “inteligência militar” deste País e de outros em casos parelhas; se bem que sempre tenha prestado a homenagem devida à coragem individual e colectiva, tantas vezes exibida naquela terra por portugueses militares feitos à pressa ou profissionais saídos das tais escolas; se bem que isto e aquilo, eu gosto mais de pesar tudo isso à luz dos caminhos da história; à luz da legitimidade da luta de quem quer libertar-se, e nisso, aceita mesmo dar a vida; à luz do valor das vidas dos que de aqui partiam, olhando-se uns aos outros na tentativa de neles encontrar razões e alento.
E ninguém, a meu ver, ninguém, repito, tinha o direito de dispor de tais vidas e de lhes dar fim. Às vidas, veja bem, coisa única e só que a maioria deles possuía, e que, perdendo-a, tudo perdiam, irremediavelmente.
Dai que não entenda que diga, como diz “Em primeiro lugar parece-me que não podemos analisar uma situação destas de guerra, com o pensamento nas vidas humanas que se poupam ou se perdem”.
Então, analisamo-la a que luz?

- À luz dos “princípios da portugalidade multirracial e pluricontinental?
- À luz da posse legitimada quinhentos anos antes?
- À luz do sonho territorial de Afonso de Albuquerque?

Não estou seguro que o amigo tenha querido dizer mesmo o que disse, escrevendo-o.
O amigo, tanto quanto me parece era um civil, militar apenas episódico, com formação humanista que chegue para entender a universal ânsia de felicidade dos povos (se é que isto existe para além do conceito) e dos indivíduos que os compõem.
Às vezes dizemos coisas que nem queríamos dizer com o sentido que as palavras que largamos, lhe dão. Já me tem acontecido a mim.
Diz William Boyles Jr., em “Brothers in Arms”, “A melhor arma de um soldado não é a sua espingarda, mas a capacidade de ver o inimigo como uma abstracção e não como um ser humano”
Bem, vejamos. Dizíamos nós, na Guiné, naquele tempo e provavelmente com algum exagero, que em Bissau, aos chefes não importavam muito os soldados que morriam, que perdiam pernas, que perdiam braços, que perdiam a fé no mundo.
Conclusão trágica, seria essa no significado que alargava a abstracção aos próprios amigos.
No fundo, parece que é isso que o amigo mesmo diz, referindo-se ao Coronel Coutinho e Lima, quando se dispõe a, pensando alto, a analisar a sua decisão…”temos de nos “afastar” desse “rosto” e analisarmos os factos”.
Não sei se já leu o livro recente do Coronel onde ele tem a oportunidade de colocar afirmações sobre factos e situações, apoiando-se em documentos oficiais.
Pelo que li, e a mim me parece material mais seguro do que os “postes” que cita, não creio que lhe restassem a ele, na altura, grandes alternativas, mesmo numa visão militar, quando Bissau lhe recusava reforços em homens e armas imprescindíveis para aguentar mais alguns dias.
A não ser que decidisse cumprir com atraso, o acto que uns anos antes Salasar havia ordenado a Vassalo e Silva, na Índia. “Morram todos!”
Note. Digo “aguentar mais alguns dias” porque acho também incorrecto dizer-se “em Guidage e Gadamael ganhámos e em Guilege perdemos”.
Em Guidage e Gadamael ganhámos o quê, meu amigo?
Veja. Não desdigo, nem a bravura de muitos soldados portugueses, se quiser considerar apenas a decisão individual de combater com risco e sofrimento, nem desdigo o objectivo que vivia nas convicções de muitos militares que combatiam e arriscavam, apenas para dar tempo e condições aos políticos para negociarem.
Mas não perdoaria nunca a um comandante que voluntariamente e por decisão pessoal levasse à morte e à prisão de Conakri dezenas de portugueses.
Diz ainda “em certa medida uma guerra inútil e em muitas facetas injusta”.
A única guerra útil e justa, acho eu, a única guerra em que eu aceito que militares e paisanos abdiquem das suas vidas, é aquela, inevitável, que decidimos travar quando querem entrar (ou se instalam) na nossa casa sem convite.
O amigo sabe que durante os séculos de presença portuguesa em África, nunca se passaram cinco anos seguidos, sem revoltas, sem actos de sublevação dos povos locais, contra tal presença. Aceitavam uma guerra útil e justa e nela morrerem. Mesmo assim, tal oferta suprema, hoje, num quadro de globalização selvagem em que os países são apenas “défices”, “crédito inter-bancário”, capitais virtuais que “circulam” por decisões tomadas num ponto qualquer do Globo que nem eu nem o amigo conhecemos, mas que condicionam verdadeiramente a sua e a minha liberdade, e a liberdade de povos inteiros, tal oferta suprema, há que confessar, parece-se muito, hoje, com a luta de Quixote contra os moinhos de vento.
E pronto!
Chegados aqui, concluímos o quê?
Que, como o amigo diz e eu repito, provavelmente não tem, não temos, nem o amigo nem eu, razões fortes para desacordo.
O problema é que “em casa onde não há pão…”

De qualquer modo, tendo passado também, alguns meses nas matas de Mejo, no “corredor”, na estrada Gadamael-Guileje-Mejo, tendo estado presente em Guileje na abertura de Gadembel, obrigados a grandes cuidados até para despejar o lixo a poucas centenas de metros do aquartelamento de Mejo, vivendo, praticamente, nas barbas de Salancaur, crendo profundamente nas razões, nos meios postos à disposição do PAIGC e na inteligência do seu líder, sempre soube da sua vitória final, e que contra essa vitória, não bastavam, conceitos de academia militar, nem interceptar corredores, nem sacrifícios extremados, nem heroísmos espectaculares.
Tal vitória podia ter sido negociada e repartida entre os dois povos, porque vitória é sempre a de dois povos ou duas pessoas (e da humanidade) que em vez da guerra preferem conversar.
Não foi!
Não foi… e, agora, parece-me tarde e pouco saudável continuarmos a fazer análises que eram já velhas, então.
E menos ainda inquéritos a macaquear a interactividades televisivas.

Um abraço
Montemor-o-Novo, 19.01.09
José Brás

Nota:

Enviei já ao Coronel Coutinho e Lima e-mail sobre o seu livro, portanto, mais ainda, sobre a “Retirada”. Não junto aqui o texto porque, se lho enviei a ele, pessoa individual apesar de pública, o texto é dele e só ele (Coronel) pode sobre ele (texto) decidir.

Outra nota: Cumprindo o “Regulamento”, envio duas fotos, uma tirada em Aldeia Formosa e outra actual, bem como um texto escrito em Mejo, em 68

GUINÉ
CÉU


Mar longo inatingível
poço negro-rubro-azul
fornalha de mil fogos queimando encéfalos
estrada-libertação de impossíveis
cenário de um sol-tudo-quase-nada
que acende labaredas nas retinas

HOMEM

Esforço quase-sangue
tatear quase-saliva
corpo tosco e baqueante
latejar de veias-não-azuis
protesto que fica apodrecendo
no cardume de revoltas não-gritadas

MATA 

deglutinação voraz do espaço
quilolitros de esperma-verde
ovários milhões de vezes fecundados
binário vida-morte luxuriantemente entrelaçados
arena sem bancadas nem varandas
onde insuspeitos irmãos se ferem cruamente

Mejo/Chin-Chin Dari Março de 68
José Brás

3. Comentário de CV:
Caro José Brás, bem-vindo à nossa Tabanca Grande. Lamentamos que tivesses de ter batido duas vezes à porta para entrar, mas na verdade não encontrei as tuas mensagens no endereço do blogue luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com.
Não me apercebi de que fizesses referência à tua Unidade e à tua Especialidade. Num próximo contacto, conta-nos tudo.
Peço-te que esqueças esta atribulada entrada na Tabanca e que continues, já que começaste brilhantemente, com a tua parte na feitura deste repositório, destinado aos nossos vindouros. Cabe a nós, ex-combatentes, a responsabilidade desta tarefa e este Blogue é um meio excelente para o fazermos.
Para terminar, deixo-te um abraço em nome da tertúlia.
CV
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3831: Tabanca Grande (110): João Seabra, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Guileje, 1972/73

Guiné 63/74 - P3841: Convívios (95): Pessoal do BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71), no dia 7 de Março de 2009 em Arganil (César Dias)

Guião do BCAÇ 2885, Mansoa 1969/71 - Divisa: Nós Somos Capazes


Mansoa > Ponte sobre o Rio Mansoa.
Foto de J. Mexia Alves, editada por CV



1. Mensagem de César Dias, com data de 4 de Fevereiro de 2009

Boa noite Carlos

Espero que esteja tudo bem contigo.
Mais uma vez o BCAÇ 2885 vai confraternizar, e mais uma vez agradeciamos que publicasses, pois penso que tem aparecido mais camaradas alertados pela Tabanca Grande.

Dia 07 de Março de 2009 celebraremos as 38 primaveras do nosso regresso.

Será em ARGANIL no restaurante do Santuário Mont´Alto, e será precedido duma Missa às 11H30 em memória dos militares falecidos.

Para quem queira participar, o número de telemóvel do camarada Ventura da organização é 967 964 368


Camarada Ventura que faz parte da organização do Encontro

Carlos, já deves ter o Guião do nosso BCAÇ, se precisares de alguma foto é só dizeres, envio-te uma do Ventura da organização caso a queiras incluir.

Grato pela atenção
Um abraço
César
__________

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3821: Convívios (93): Ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 7 de Março de 2009 (Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P3840: Sítio Guerra Colonial (1961-1974), da A25A, em colaboração com a RTP (1): Intervenção do Maj Gen Pezarat Correia





Auditório da Academia Militar, Amadora, 4 de Fevereiro de 2009, 16h/18h > Sessão de apresentação do 'site' Guerra Colonial (1961-1974), da A25A - Associação 25 de Abril, em colaboração com a RTP > Intervenção do Major General na Reforma Pezarat Correia que vem defender uma tese, que não é nova mas é interessante, sobre a velha questão guerra ganha/guerra perdida: politicamente, a potência colonizadora (que era Portugal) não ganhou nem podia ganhar; militarmente, a situação no terreno estava longe de estar ganha pelos movimentos nacionalistas...(*).


Vídeo (7' 54'' ) alojado no
You Tube > Nhabijoes
Fonte: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2009). Direitos reservados.


Omtem, 4 de Fevereiro de 2009 - simbolicamente, quarenta e oito anos depois do início, em Angola, da guerra colonial - , foi apresentado oficialmente o 'site' Guerra Colonial (1961-1974), uma iniciativa conjunta da Associação 25 de Abril, e da RTP com o apoio do POC - Programa Operacional da Cultura. Na realidade trata-se de dois sites (ou sítios), embora articulados:

- Guerra Colonial (1961-1974), alojado em endereço próprio: http://www.guerracolonial.org/. (Já foi aqui sumariamente apresentado no nosso blogue) (*)


- Guerra Colonial (1961-1974), alojado no portal da RTP: disponibiliza dezenas de vídeos e documentários (actuais e da época), do Arquivo da RTP, sobre a guerra colonial e o seu contexto. Os comentários aos diferentes documentários, efectuados em colaboração com a Associação 25 de Abril, são da responsabilidade de vários especialistas militares : Cor Inf José Aparício; Cor Art Eduardo Abreu; Cor Pilav Villalobos Filipe; Capitão-de-mar-e-guerra Pedro Lauret.



Lista dos documentários da RTP títulos disponíveis:1970-01-01 • Missão na Guiné 1967 - Teixeira Pinto
1970-01-02 • Angola - Março 1967
1970-01-03 • Uma operação na Guiné
1970-01-04 • Um Ano de Revolução - 1974 e 1975
1970-01-05 • Actual Reportagem - Barata Feio - Vietname, Afeganistão, Guerra Colonial
1970-01-06 • Geração de 60 - Diana Andringa
1970-01-07 • Missão na Guiné
1970-01-08 • Liberdade de Expressão - Artº 37
1970-01-09 • Missão em Angola 1967
1970-01-10 • Angola, Dias De Morte - Joaquim Furtado (vol. I)
1970-01-11 • "Andar Rápido e em Força" - Joaquim Furtado (vol. II)
1970-01-12 • Massacres Contra Chacinas - Joaquim Furtado (vol. III)
1970-01-13 • Operação Nambuangongo Joaquim Furtado (vol. IV)
1970-01-14 • As Colónias E As Províncias Joaquim Furtado (vol. V)
1970-01-15 • As Guerras Antes Da Guerra - Joaquim Furtado (vol. VI)
1970-01-16 • O Ano Que Marca A História - Joaquim Furtado (vol. VII)
1970-01-17 • A Guiné Depois De Angola - Joaquim Furtado (vol. VIII)
1970-01-18 • Moçambique, Nova Frente - Joaquim Furtado (vol. IX)
1970-01-19 • Entrevista com Amilcar Cabral (Líder do PAIGC)
1970-01-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 1
1970-02-01 • Guiné - Autodefesa das Populações
1970-02-02 • O impacto da Guerra - Louça, entrevista 3 deficientes das Forças Armadas
1970-02-03 • Guiné - Março 67 - Por quem combatemos
1970-02-05 • Crónica do Século - Parte 1
1970-02-06 • PAIGC - Documentário Francês
1970-02-07 • Nambuangongo - A Grande Arrancada
1970-02-08 • Artigo 37 - Diana Andringa - Entrevista Matos Gomes
1970-02-09 • Nas 3 Frentes
1970-02-20 • As Duas Faces da Guerra - Parte 2
1970-03-01 • O Exército na Guiné - Bula
1970-03-03 • Guiné Março de 67 - Marinha - Água e Floresta
1970-03-05 • Independência Já! - Moçambique - Descolonização e Independência
1970-03-09 • Angola Março 67 - Asas no céu de Angola
1970-04-01 • Portugalmente - Canções de guerra
1970-04-03 • INDEPENDÊNCIA JÁ - Uma História a Pretos e Brancos
1970-04-08 • Guiné Março 67 - Autodefesa
1970-04-09 • Moçambique
1970-05-01 • Angola - Março de 1967
1970-05-03 • Guerra Colonial na Guiné - Louçã - Entrevista Carmo Vicente elemento Paigc
1970-05-09 • Missão em Angola 1967 - Gago Coutinho
1970-06-09 • A RTP Nas 3 Frentes
A sessão de lançamento dos dois sites teve a presença dos Ministros da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, e da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, bem como do presidente do Conselho de Administração da RTP, e do presidente da A25A, Vasco Lourenço, um conhecido capitão de Abril, hoje Cor Inf Ref. O anfitrião foi o director da Academia Militar.

Do pessoal da Tabanca Grande, com quem tive o prazer de estar (eu e a Maria Alice), aponto os seguintes:

- Miguel Pessoa (Cor Pilav Ref) e a esposa Giselda (Srgt Enfermeira Pára-quedista Ref) (tive hoje o prazer de os conhecer pessoalmente e logo os baptizei como o casal mais célebre da guerra da Guiné...);
- António Graça de Abreu (que ainda entusiasmadísismo a traduzir mais um dos clássicos da poesia chinesa);
- Zé Carioca e a esposa;
- Zé Martins, técnico oficial de contas, colaborador regular do nosso blogue;
- Carlos Silva, advogado, que parte dia 6 para a Guiné, para mais uam jornada de solidariedade;
- Coutinho e Lima;

e, claro, o Pedro Lauret (que fez publicamente um rasgado elogia ao nosso blogue). Tive ainda o prazer de cumprimentar (e de falar com) o Carlos Matos Gomes (Cor Cav Ref), co-autor com Aniceto Afonso do livro que forneceu o essencial dos conteúdos ao novo site. Também o Cor Pára-quedista Nuno Mira Vaz fez questão de me cumprimentar e manifestar o seu apreço pelo nosso blogue. O mesmo se passou com o jornalista Joaquim Furtado, que agradeceu a nossa colaboração pontual, em relação ao dossiê do Chão Manjaco (morte dos três majores).

Coube, de resto, ao nosso camarada Pedro Lauret a tarefa de falar deste projecto da A25A e da RTP bem como dos conteúdos que estão disponíveis (por exemplo, mais de 5 horas de documentários).

Por falta de tempo, falaremos desta sessão com mais detalhe, em próximos postes.

_________

Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 2 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3829: Convite da A25A/RTP: Sessão de apresentação do sítio Guerra Colonial, Academia Militar, Amadora, 4ª feira, dia 4, às 16h

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3839: FAP (4): Drama, humor e... propaganda sob os céus de Tombali (Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref)



Guiné > Região de Tombali > Arredores de Guileje > 26 de Março de 1973 > Forças do BCP 12 (talvez da Companhia de Caçadores Pára-quedistas 122, estando a CCP 123 a montar segurança) e do grupo de operações especiais do Marcelino da Mata são fotografadas no momento em que recuperam o piloto do Fiat G-91 que tinha sido atingido na véspera por um Strella (*)... Apesar de ferido e fatigado (passou 22 horas, sozinho no mato), o Ten Pilav Miguel Pessoa conseguiu deixar-se fotografar para a posteridade com um sorriso amarelo e sobretudo com uma grande dignidade... A foto é do Srgt Pára-quedista Delgadinho Rodrigues, da CCP 123/BCP 12. O Marcelino da Mata aparece em primeiro plano, à direita do piloto, de óculos e de catana na mão.




Guiné > Bissau > Bissalanca > BA12 > A chegada do hospital, em maca, do Ten Pilav Miguel Pessoa. Do lado direito, a Enf Pára-quedista Giselda Antunes. Foto do Srgt Coelho, da secção fotográfica da BA12.


"Caro Luís: Olhando para as fotos que acabei de te enviar, lembrei-me que não te expliquei a razão de eu segurar uma garrafa de espumante na mão, enquanto era transportado na maca... Não, não fazia parte do meu kit de sobrevivência! E eu também não estava a soro! Na minha transição do local da evacuação para o hospital, o heli aterrou primeiro no aquartelamento do Guileje, onde alguém resolveu presentear-me com a referida garrafa. Devo dizer que nunca cheguei a bebê-la pois, tendo sido mais tarde evacuado para Lisboa, resolvi deixá-la à guarda das nossas enfermeiras pára-quedistas, as quais confirmaram a boa qualidade do produto e o gosto requintado do pessoal do Guileje. Um abraço, Miguel Pessoa".






Comunicado das Forças Armadas Portuguesas, publicado na impressa da época, em que se relatava, em versão cor de rosa, o "acidente" de que foi vítima o Pil Av Miguel Pessoa.



A máquina de propaganda do PAIGC: curioso, que os comunicados para o exterior eram publicados em francês (a Guiné estava numa zona francófona e a cúpula política do PAIGC vivia em Comacri). Trad. de L.G.:

" PAIGC - Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde.

"COMUNICADO - 4 Aviões colonialistas abatidos em menos de 48 horas

"No domingo, 25 de Março [de 1973], por volta das 15h, dois aviões colonialistas (um jacto Fiat G-91, tipo NATO, e um caça-bombardeiro Norte-americiano T-6 Texan/Harvard) foram abatidos pelos nossos combatentes perto do campo fortificado de Guileje, no sul do país. 

"Esta nova vitória da nossa DCA [Defesa Contra Aviões] que, em menos de 48 horas, abateu um total de 4 aparelhos inimigos (ver nosso comunicado de 25 de Março), foi obtida no curso de uma importante acção conduzida pela nossa artilharia pesada contra o campo fortificado de Guileje. Os dois aviões tinham vindo em socorro da guarnição de Guileje para tentar impedir a continuação da operação que causou pesadas perdas humanas e materiais às tropas inimigas"



"Por outro lado, a 22 de Março [de 1973], às 9h00, na secção de Cachamba, do sector libertado de Cubucaré, tropas colonialistas desembarcadas de helicópteros Alouette foram violentamente atacadas pelos nossos combatentes que lhes infligiram uma perda de pelo menos 5 mortos e um grande número de feridos. Apesar dos reforços desembarcados de 12 helicópteros, por volta das 16h30, os nossos combatentes do Exército Popular e das FAL (Forças Armadas Locais) rechaçaram os agressores colonialistas que sofreram outras perdas, incluindoa morte de um sargento.

"27 de Março de 1973. Pelo Comité Execuitivo da Luta, Aristides Pereira".

Fotos: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados (A pedido do autor, não se divulga no blogue o seu endereço de e-mail)


1. Mensagem do Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (**):

Caro Luís

Tendo conhecimento do texto do José Manuel Pinto Ferreira sobre o Strella, contactei-o para ele o disponibilizar para o blogue. Para isso tinha preparado uma introdução para ti, seguida do texto original, terminando com uns comentários meus. Como ele decidiu reenviá-lo directamente para ti, fico sem saber o que é que seguiu. Se achares que falta qualquer coisa, diz-me (***).

Para complemento do texto do ex-Cap Pinto Ferreira, então Comandante da Esq 121 (já agora, informo que ele saíu da Força Aérea com o posto de Tenente-Coronel), junto 4 fotos:

A primeira é cópia de um comunicado do PAIGC em que relata, em versão hardcore, os resultados obtidos no dia 25 de Março. Como se pode ver por este panfleto de propaganda do PAIGC, os resultados reportados eram muito superiores aos realmente obtidos, de tal modo que, a serem verdade, a Força Aérea teria ficado sem aviões... e ainda ficava a dever uns tantos!

Embora pareça pouco nítida, a foto suporta perfeitamente uma ampliação, sendo totalmente legível (para quem perceba francês...).

A segunda mostra a versão softcore do outro lado, que todos nós devemos ter sentido em muitas ocasiões. O regime suavizava toda a informação negativa que pudesse desmoralizar o cidadão comum. Por isso eu tive uma simples avaria e saí daquilo impecável...

A terceira foi tirada nas matas do Guileje enquanto me transportavam para a orla, onde estava o AL-III para me evacuar. Agradeço ao Sarg Pára-quedista Delgadinho Rodrigues ter-me proporcionado uma boa reportagem do acontecimento (que guardo com grande estima), bem como a oferta dos respectivos negativos, o que me dá à-vontade para te enviar esta foto sem lhe dar cavaco... Mas esta referência ao responsável pela foto é perfeitamente merecida.

A última tem o crédito do Sargento Coelho, da Secção Fotográfica da BA12, que, para além do trabalho operacional de revelação dos fimes tirados pelos Fiat G-91 nas missões de reconhecimento, também se dedicava às reportagens fotográficas dos eventos mais significativos da BA12, e que amavelmente me ofereceu este negativo. Foi tirada na placa da Base quando da minha vinda do hospital, a caminho da enfermaria da Base. Podes ver nela a enfermeira pára-quedista Giselda Antunes, que acompanhou toda a minha evacuação.

Compreendo que, para um texto generalista sobre o Strella, as fotos são demasiado ligadas a um único acontecimento, o que pode parecer um pouco chauvinista da minha parte. No entanto, como deves compreender trata-se do único material de que disponho. Farás o favor de utilizar aquele que achares melhor.

Um abraço

Miguel Pessoa
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Notas de L.G.:

Título do poste, da responsabilidade do editor

(*) Vd. poste de 29 de Janeiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3816: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (5): Strellado nos céus de Guileje, em 25 de Março de 1973 (Miguel Pessoa, ex-Ten Pilav)

(**) Vd. postes da série FAP:

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3783: FAP (1): A diferença entre o desastre e a segurança das tropas terrestres (António Martins de Matos, Ten Gen Pilav Res)

31 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3825: FAP (2): Em cerca de 60 Strellas disparados houve 5 baixas (António Martins de Matos)

1 de Fevereiro de 2009 >Guiné 63/74 - P3826: FAP (3): A entrada em acção dos Strella, vista do CAOP1, Mansoa, Março-Maio de 1973 (António Graça de Abreu)

(***) A publicar na próxima oportunidade, nesta série, com introdução e notas de Miguel Pessoa.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3838: Diário de Guerra, de Cristóvão de Aguiar (org. José Martins) (II): Mafra, Fevereiro/Março de 1964


Cristóvão de Aguiar, em 27 de Novembro de 2008, na Biblioteca-Museu República e Resistência – Espaço Grandella, na apresentação da nova edição do seu livro Braço Tatuado.

Continuação do Diário de Guerra, do Cristóvão de Aguiar, que nos foi enviado por intermédio do José Martins (ex-Fur Mil Trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70). Revisão e fixação do texto: vb.


1964


Fevereiro, 3 – Afinal, houve fim-de-semana.

Mas, aqui, nunca nada é dado como certo. Deve fazer parte da filosofia da instrução esta constante ex­pectativa em que nos fazem andar as altas patentes. Assim como o boato. Só no sá­bado de manhã, depois da ginástica de aplicação militar, mais dura do que nos dias prece­dentes, é que nos deram carta de alforria.

Não é em Mafra, é na Amadora, na Academia Militar, em 1963. Cadetes de saída para fim de semana.

Fui a Coim­bra passar parte da tarde e a noite de sábado e o domingo todo o dia, até às dez da noite, hora da camionete. Vi-a a uma janela do lar. Cumprimentei-a, mas não vi jei­tos de ela querer al­guma coisa co­migo. Agora estou arrependido de me ter derramado em duas fo­lhas de carta. Paciên­cia.

Tenho alguns mús­culos do corpo doloridos, mas já me vou sentindo besta. Não preguei olho durante a noite de domin­go noite de domin­go - a camionete che­gou a Mafra, três horas e pouco antes de princi­piar a ins­trução e ao contrário da maioria dos cama­radas não consigo dormir em transportes. Viajo por dentro de mim e chego sempre à Ilha, onde Ela ficou. Apesar de estar tresnoitado, aguentei bem a dureza militar do dia.

Fevereiro, 4 – Quando um homem aflito se abre a medo com al­guém e logo depois se acha falando a mesma linguagem, ilumina-se-lhe o íntimo do prazer que os primeiros cristãos deviam sentir quando um desenhava um peixe no chão e o outro lhe respondia com o mesmo gesto...

O Júlio Freches do meu pelotão, que tem a sua tarimba ao lado da minha, tornou-se meu amigo. Ele iluminou-se e eu acendi-me. O Júlio engraxava as botas ao pé de mim, o tempo e a tinta escorrendo pelos dedos. A caserna era, ao meio-dia e ao fim da tarde, após a instrução, uma enorme caixa e banco de engraxador profissional. As nossas conversas eram ciciadas como na penumbra de um confessionário. E quem poderá revelar o segredo da confis­são?

Fevereiro, 24 – Principiei o dia e a semana com um cross de cinco quiló­me­tros.

Já vou tendo resistência de atleta. Nenhum do pe­lotão arreou, o que sa­tisfez o alferes, que ia à frente marcando o ritmo. Depois, fomos para a ta­pada, para rece­ber­mos in­s­trução sobre gra­na­das e explosivos. Um alferes da 1ª com­panhia ficou sem um dedo. Rebentou-lhe um detonador nas mãos.

Fevereiro, 5 de Março – O meu fato-macaco cheira mal que se farta.

Não admi­ra. Estive quase toda a manhã a rastejar e a dar cam­balhotas na lama. Só não con­segui saltar a vala. Caí dentro dela e fiquei com as botas e as meias en­charca­das. Mas se­ca­ram. As meias e as botas e o fato zuarte. No próprio corpo. Faz parte do endure­ci­mento do corpo e da alma.


Março, 19 – Mudámos de comandante de pelotão.

O tercei­rense foi de novo mobilizado, desta vez para a Guiné. Houve jantar de despedida na Eri­ceira. Foi o pelotão em peso. Era um alferes maluco, mas no trato não era de­su­mano.

Uma segunda-feira, cheguei mais tarde a Mafra, por se ter avariado a ca­mionete. Pelo regu­lamento, tinha obrigação de ser castigado. Felizmente que me mandou à ca­serna vestir a farda de trabalho e disse-me que, por ele, não vira nada nem de nada sabia. Fe­chou os olhos. Alguns camaradas de outros pelotões não tive­ram a mesma sorte. Apa­nharam um fim-de-semana de castigo. Chama-se a isto so­lidarie­da­de entre ilhéus!

O novo coman­dante é um aspirante da Academia, que acabou de fazer o seu tirocínio aqui em Mafra. É um puto reguila, que nos vai fazer a vida ainda mais ne­gra. Traz todo o tesão de mijo da Academia.


Março, 20 – Dos novos aspirantes tirocinados que aqui fi­caram nesta unidade, há dois que foram meus colegas no Liceu.

O Luciano e o Rocha, de Ponta Delgada e de Água de Pau, respecti­vamente. A primeira vez que os vi, fiz-lhes a continência, não fosse o diabo tecê-las. Havia muitos mili­tares por perto. Ri­ram-se. Conver­saram comigo sem qualquer problema, mas disseram-me que, sem­pre que es­ti­vessem outros graduados à vista, devia bater-lhes a pala. Por causa das coisas.

Hoje de manhã, no render da guarda e do oficial de dia, a Banda do Regi­mento tocava a mar­cha Angola é Nossa. Toda a gente estava em sentido. Eu, que estava ao pé de um dos muros da parada, fui-me encostando vagarosamente a ele. Ainda não tinha aque­cido nem as costas nem o rabo ao en­costo, e o Rocha de longe fazendo-me um gesto muito delicado e sub-reptício para que me pusesse direito.

Mais tarde, quando teve oportuni­dade de falar comigo, disse-me que tinha sido o coman­dante da companhia que lhe ti­nha chamado a atenção a meu respeito. E como na tropa as ordens são dadas em ca­deia, ele teve de a transmitir. Pena não ter chamado um sargento. Tenho de to­mar cui­dado, que os estudantes de Coimbra são, aqui, considerados sub­versivos...

Março, 25 – Corre por aí que temos bufos por todo o lado.

Até no próprio pelotão os há. Disseram-me que ontem foi visto um cadete sen­tado a uma mesa, sozinho, num café da Vila, com um microfone disfarçado no quépi, es­trategi­ca­mente abandonado sobre o tampo. Hoje fiz versos...


Março, 27 – Há dois meses com uma farda e uma espin­garda, que, de tanto andar comigo, já me parece um membro do corpo.

Quando a não te­nho, e raro é, fico com a impressão de que me falta qualquer coisa. É a besta, salvo seja, crescendo cada vez mais dentro de mim. Durmo como uma pe­dra e até engor­dei.

Hoje, à tarde, na Vila, com a dispensa de recolher e da ter­ceira refeição no bolso, eu e o Camargo fomos jantar num restaurante barato, para variar. A dada altura, disse-me que queria falar comigo. Mas ali, não, que havia muitos ouvidos. Fomos então passear para um descam­pado.
E disse-me longamente da sua justiça. No fim da par­lenga, per­guntou-me:
– Queres per­tencer à organi­za­ção? – Res­pondi-lhe que sim senhor, que não me im­por­tava nada. – De­pois serás con­tac­tado por alguém; temos muito traba­lho a fazer no quartel.

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Notas de vb:

Primeiro artigo da série em

Guiné 63/74 - P3837: Memória dos lugares (16): Cacheu, 1964 (António Paulo Bastos, Pel Caç 953, 1964/66)



Guiné > Região do Cacheu > Cacheu >Pel Caç Nat 953 (1964/66) > 1964 > O nosso camarada da Tabanca Grande e da Tabanca de Matosinhos passou por aqui... Ou melhor, esteve aqui oito meses, com o seu Pel Caç 953 (*)... Considera-se um apanhado do clima. Já voltou à Guiné 3 vezes, a última das quais em Fevereiro de 2008...

Guiné-Bissau > Regão de Cacheu >Cacheu > 3 de Março de 2008 > Antiga fortaleza portuguesa...

Lisboa > Avião da TAP > Viagem Lisboa-Bissau > 29 de Fevereiro de 2008 > O nosso editor Luís Graça e a esposa... O António Bastos foi no mesmo avião...

Fotos: © António Paulo Bastos (2009). Direitos reservados

1. Mensagem, de 18 de Janeiro últmo, enviada pelo António Paulo Bastos (**), ex-1º Cabo do Pel Caç 953 (Cacheu, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)


Amigos da Tabanca Grande.

Aqui vai umas fotos de Cacheu do Ano de 1964.

Uma era o forte com o respectivo farol dentro do mesmo,mas nesta altura não tinha as estátuas que estavam em Bissau.

A outra era o meu aquartelamento, aí estive oito meses, até que já estavamos fartos de estar bem, fizemos um levantamento de rancho para entalar o Alferes, e fomos todos entalados para Canjambari, para aprendermos a embrulhar e não foram poucas.

A outra do forte, mais recente, com as estátuas (3 de Março de 2008).

Por última, vai fazer um Ano que eu apanhei este casal de borrachos, talvez em viagem de núpcias? (não leves a mal, Luís Graça).

Para a próxima logo mando mais, e mais antigas.

Um abraço para todos os colegas da tabanca grande.

A. Paulo Bastos (***)
___________

Notas de L.G.

(*) Vd. poste de 12 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

Vd. também poste de 16 de Dezembro de 2008> Guiné 63/74 - P3637: Em busca de... (58): 2.º Sargento Coelho da 1.ª CCAÇ Africanos (Farim) (António Paulo Bastos)

(**) Vd. poste de 26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3524: O Nosso Livro de Visitas (46): A. Paulo, Pel Caç 953, Guiné, 1964/66

(...) Eu sou mais um dos milhares apanhados do clima, como tal passo horas junto do computador a ler a Net.

Tambem sou dos que já regressaram à Guiné (três vezes), na última ia no mesmo avião que o Luis Graça e esposa, no dia 29/2/2008. Não fui a Guileje pois a minha zona era o Norte: Cacheu, Farim, Canjambari e Jumbembem. Fui por duas semanas com o Carlos Silva.

Estive nos anos de 1964 a 1966. (...) O Carlos Silva está a publicar o meu diário no blog dele. Eu era do Pelotão de Caçadores 953 (...) .


Eu sou o que organiza os almoços anuais dos quatro pelotões (953, 954, 955, 956) e, portanto, dos companheiros do Joaquim António de Sousa Dias, Soldado nº464/64. Mais uma vez no próximo mês de Maio de 2009, vamos-nos encontrar para o almoço em Azeitão.

E eu e os colegas gostavámos de convidar o filho do Joaquim Dias para fazer parte dos apanhados do clima, no nosso almoço onde vão estar muitos colegas do Pel Caç 955 (...)..


(***) Vd. poste de 5 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3702: Memória dos lugares (15): Funchal, uma ponte entre Lisboa e Bissau (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P3836: Álbum das Glórias (51): Santo Tirso, 1963, o almirante (Teixeira da Mota) e o poeta (Ruy Cinatti) (Beja Santos)

Conferência Internacional de Etnografia > Santo Tirso > 1963 > No intervalos dos trabalhos, o Amirante Teixeira da Mota e o poeta Ruy Cinatti.

Foto: © Beja Santos (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Beja Santos, com data de 29 de Dezembro último:


Assunto - Almirante Teixeira da Mota e poeta Ruy Cinatti, em 1963 (*)


Malta, a remexer nos milhares de fotografias da heroína do meu próximo livro, Mindjer Garandi [, Mulher Grande], encontrei este inesperado encontro entre Teixeira da Mota e Cinatti, figuras constantes da minha correspondência, que circulou na "Operação Macaréu à Vista".

Lê-se na legenda: "Num intervalo durante a Conferência Internacional de Etnografia, Santo Tirso, 1963".

Foi graças ao Cinatti que conheci Teixeira da Mota, talvez em Abril de 1968. Neste tempo, o maior historiador da Guiné está no auge das suas faculdades, já escreveu a maior parte da sua bibliografia fundamental sobre a Guiné, o seu nome corre mundo como grande cartógrafo, depois das comemorações henriquinas.

Por seu turno, Cinatti é neste tempo um poeta irregular mas já um conceituado estudioso da etnografia timorense. Era tempo destes dois responsáveis por muito apoio que me deram na Guiné, terem fotografia no blogue. E por uma razão especial: o que eles vieram dizer nesta conferência internacional aparece em O Tigre Vadio (**).

Teixeira da Mota apresenta uma comunicação sobre os sonós, essas raríssimas esculturas em metal dos régulos biafadas, símbolo do seu poder. Teixeira da Mota possuía uma das maiores colecções, hoje em poder de coleccionadores estrangeiros. Pediu-me informações se havia sonós no Cuor e na região da Bambadinca, não só não encontrei nenhum como ninguém sabia da sua existência.

Cinatti apresenta uma comunicação sobre a criação da casa timorense. Escreveu um belo poema a tal propósito, enviou-mo e incluiu-o também em O Tigre Vadio.

Ambos faleceram na década de 80, o primeiro amargado com o que se passava na Guiné, o segundo amargado com o que se passava em Timor. Tenho muito orgulho em mostrar-vos como eles eram mais ou menos ao tempo em que me deram coragem e incentivo na guerra que vivi, foram expoentes culturais luminosos inesquecíveis.

___________

Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série Álbum das Glórias > 26 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3794: Álbum das Glórias (50): Jobo Baldé, o dedicado padeiro de Missirá depois de Julho de 1969 (Beja Santos)

(**) Vd. poste de 8 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3422: O Tigre Vadio, o novo livro do Beja Santos (2): O exemplar nº 1, autografado, dedicado à malta do blogue

Guiné 63/74 - P3835: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (2): Resposta aos comentários no P3788

Mensagem de Manuel Reis, com data de 2 de Fevereiro de 2008:

Apontamentos de Guileje e Gadamel, 1973 (P3788, Manuel Reis, Ex-Alf Mil CCAV 8350).

Caro Luís:
Sinto-me na obrigação de vir a terreno para fazer uns breves comentários aos comentários que foram feitos à minha mensagem (P 3788*), na sua maioria feitos por anónimos.


1. Manuel Peredo:
O teu comentário tem razão de ser, não fui devidamente preciso: A impossibilidade de saída refere-se à saída da vala, quando pretendiam efectuar qualquer missão. Partilhava a mesma vala. Foram muitas as vezes em que saíram da vala e foram de imediato alvejados, o que vos obrigava a voltar à vala. Após algumas tentativas frustradas acabavam por sair do aquartelamento e cumprir a missão.

Ao dizeres que se estava melhor na mata do que no aquartelamento, estás a referir-te à dificuldade de movimentação dentro do aquartelamento. Concordo contigo em parte, pois não esqueço os camaradas mortos na mata, a 500 metros do arame farpado. Aliás a vós se deveu a recuperação destes corpos, chegaram pouco tempo depois da emboscada se ter desencadeado. Eu sei lá, onde se estava melhor!


2. António da Graça Abreu
Não me parece importante dizer o nome do novo Comandante do COP 5 e não sou eu que irei colocar em causa a sua bravura e muito menos a sua competência profissional. Não me compete julgar ou emitir juízos de valor. O que eu disse e repito, são factos: A partir do dia 2 de Junho até meados de Julho, altura em que a C CAV 8350 saiu de Gadamael, nunca mais foi visto. Isto no momento mais crítico de Gadamael e em que mais precisávamos dele. Dizes que tinha terminado a Comissão e eu só posso dizer: Pura coincidência e azar nosso.

Respeito a tua opinião, mas em 1973 o PAIGC tinha uma força militar superior à nossa. Possuía armamento já bastante sofisticado, carros de combate e até aviões que aguardavam a preparação de pilotos na URSS (informação carecida de confirmação). E não era por acaso que existia um plano de contracção do dispositivo das NT!

Não sei se Nino era ou não um homem de más previsões. Era e é um militar de convicções, com virtudes e defeitos como todos nós. Não deixa de ser lógica a previsão que ele faz sobre uma hipotética retirada, aliás isto está devidamente explicada na minha mensagem. Outra vez, não!

A transformação da guerra de guerrilha noutro tipo de guerra, por parte do PAIGC, era uma ideia que quase todos os Oficiais do Quadro partilhavam e expuseram publicamente. Porquê tanto espanto?

Nesta guerra não se pode falar em vitórias e derrotas. Todas as guerras de libertação (e foram muitas) tiveram sucesso, independentemente dos seus opositores serem a França, Inglaterra, Alemanha, Holanda, Espanha e Itália. No nosso caso se alguém foi vencido, esse foi o regime político de Lisboa. Mas não é este o tema de debate do nosso Blogue!


3. Anónimo 1
Importa aqui clarificar os meios humanos utilizados nos reabastecimentos: Dois grupos de combate, um grupo de milícias, um pelotão de Artilharia e um grupo de combate de ajuda a cargas e descargas, tanto do lado de Guileje como de Gadamael. O grupo restante ficava de serviço ao aquartelamento e tinha como funções a limpeza do aquartelamento, o fornecimento de água, apoio à cozinha e a segurança nocturna.

Acresce um outro pormenor: Em Guileje ninguém se podia dar ao luxo de sair do aquartelamento sem sair com dois grupos de combate e meia dúzia de milícias, incluindo um guia.

Coutinho e Lima explica, no seu livro, a situação das obras e a necessidade de efectuar o reabastecimento. Na época das chuvas, que se estava a iniciar, Guilege ficava completamente isolado e tornava-se indispensável, para a nossa sobrevivência durante a referida época, efectuar com urgência o reabastecimento tanto em armamento como em géneros alimentícios.

Este foi o factor determinante para uma menor actividade operacional, no que aos patrulhamentos e vigilância diz respeito. Apesar disso ainda recordo um patrulhamento que fiz na picada de Gandembel e outros camaradas também se envolveram noutro tipo de vigilância e/ou patrulhamento.

De Novembro/Dezembro de 1972 até inícios de Maio de 1973 a actividade operacional era idêntica à das Companhias anteriores. Nesse período de tempo tivemos a colaboração, embora fugaz, dos grupos do Marcelino da Mata e do capitão Ramos, grupos meticulosamente preparados para a guerrilha.

Não tivemos qualquer emboscada no reabastecimento até 18 de Maio, tal como tu. A única, coincide com o início dos ataques a Guileje a 18 de Maio. Limitámo-nos a levantar e/ou rebentar umas minas anti-pessoal e anti-carro. Fazíamos o mesmo que tu: Armadilhar, reconhecer e emboscar e para que saibas até uma emboscada montámos no mítico corredor de Guileje. Infrutífera, é um facto, mas estivemos lá. Outra actividade, bastante arriscada foi o reconhecimento do local onde se projectava construir um novo aquartelamento (Quebo). A restante actividade de patrulhamento e segurança já a conheces, julgo que estiveste lá.

Durante a noite, quando o vento soprava de leste e se ouviam viaturas junto à fronteira, os obuses 11,4 despejavam sempre uma dúzia de granadas. Era um tiro no escuro, como dizia o Pinto dos Santos (Ex-Alf Mil Art), já falecido. De uma dessas flagelações fomos informados da destruição de duas viaturas e de dois mortos do PAIGC.


4. Anónimo 2
Guileje caiu porque não cumpriu a sua missão”, afirmas. Esta é a tua opinião e vale o que vale. Para todos nós, que lá vivemos, trabalhámos e sofremos, temos a consciência tranquila do dever cumprido. Todos nós estamos, como sempre estivemos ao lado do nosso Comandante Coutinho e Lima. Não é um homem só, como julgas. Deu sempre a cara, nunca se acobardou como tu no anonimato.

Deitaram-se a dormir e quando acordaram tinham o PAIGC a querer tomar o pequeno almoço”, dizes, no dizer do Comandante. Isto é provocatório, cheira a bafio, lembra outros tempos. Mais palavras para quê?

Não fiques por aí, vem, dá a cara.


5. Um abraço amigo para o Jorge Picado, Manuel Peredo, Colaço, José Dinis, Jorge Cabral, Joaquim Mexia Alves e António Graça Abreu. Todos com a sua opinião, sem se esconderem no anonimato, contribuíram para um melhor esclarecimento da situação de Guilege e Gadamael.

Para ti, amigo Luís, deixo a liberdade não publicares o que consideres menos próprio.

Um abraço
Manuel Reis
Ex-Alf Mil
CCAV 8350
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3788: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (1): Depoimento de Manuel Reis (ex-Alf Mil, CCav 8350)

Vd. primeiro poste da série de 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3818: Apontamentos sobre Guileje e Gadamael (Manuel Reis) (1): Gadamael, eu te amo, eu te odeio

Guiné 63/74 - P3834: História da CCAÇ 2679 (13): Imagens de Nova Lamego (José Manuel Dinis)

1. Mensagem de José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71, com data de 29 de Janeiro de 2009:

Caros editores,
Aí vai mais um pedaço da saga africana, na Guiné, que me proporcionou deambulagens exóticas, com os desafios de um backpacker armado, austero e mais atento aos trilhos, do que é costume para o vulgar mochileiro.
Um abraço.

Coluna - imagens de Nova Lamego

As deslocações a Nova Lamego, em serviço de escolta às colunas do BArt, eram, geralmente, bem quistas, porque o perigo era reduzido, a deslocação em viatura não causava esforço, e, naquela localidade, havia alguns estabelecimentos comerciais e bares-restaurantes, onde era possível satisfazer algumas necessidades.
De facto, as lojas eram verdadeiras cantinas africanas, com uma indescritível parafernália de artigos para venda, pilhas para rádios, rádios e gravadores, máquinas e rolos de fotografia, chinelos, sabonetes, cuecas, meias e outras vestimentas, mosquiteiros e repelentes, copos, tachos e panelas, drogarias, tabaco e isqueiros, canetas, papel e envelopes, mais artigos alimentares, panos e roupas diversas, bugigangas, mercadorias que tinham como público-alvo, o pessoal da tropa, mas, também, os residentes, os guineenses que ali depositavam as suas economias, em troca da satisfação que os produtos manufacturados proporcionavam, na tradição mercantil dos portugueses. Nas ruas deambulavam militares e civis, com vagares, trocando impressões, ou protegiam-se do calor por baixo dos alpendres coloniais. Todos os dias convergiam tropas de diversas proveniências, conferindo-lhe uma relativa importância no leste da provincia.

À entrada da terra, vindo de Piche, no primeiro cruzamento à direita, no gaveto, situava-se um bar restaurante, de aspecto mal cuidado, mas onde a tropa afogava a sede, garantindo a prosperidade do proprietário, homem metropolitano, trabalhador incansável, coadjuvado por duas filhas, em idade namoradeira, robustas e alegres, que se movimentavam com desenvoltura difícil de acreditar para os corpos tão adiposos com que Nosso Senhor as dotara. GMC e Unimog, foram assim baptizadas. Corria entre a malta, que o pai oferecia um mercedes a quem se alcandorasse à categoria de genro.

Nova Lamego dispunha-se por duas paralelas, a estrada para Bafatá, e a rua principal, ligadas por três ou quatro transversais, a noventa graus, onde se encontravam os serviços, o comércio e a tropa, circundada pelo tabancal. Pela mesma rua chegava-se à rua principal. No seu prolongamento, entrava-se na estrada para Bajocunda, quase em desuso. À direita, a partir do cruzamento, via-se o edificio da Administração, no termo da rua, o mais imponente, com dois pisos, de arquitectura colonial, simples e bonita, bem conservado, onde passei a primeira noite de mato, num colchão insuflável. Antes da Administração, pontificava o cinema local.
Se, no mesmo cruzamento, optássemos por virar à esquerda, entávamos na área mais buliçosa, onde ficavam os melhores estabelecimentos e os mais frequentados bares. Era o coração e o pulmão da terra.

De entre as lojas, destacava-se o libanês, onde se encontrava a mais variada mercadoria, ou podia-se adquiri-la por encomenda. O libanês não tinha mãos a medir, com a ajuda de um empregado guinéo, e, por vezes, da esposa. Jovem, bonita, elegante e de olhar tímido, passava a maior parte do tempo no reduto da casa, protegida dos olhares comilões, por isso, quando se dava a ver, parecia que chegávamos à porta do céu. Constituía a maior atracção local, e nunca me dei conta de qualquer falta de respeito.
Acolitavam o estabelecimento, um bar-restaurante, malaprontado como era tradição africana em ambientes rurais, e outra loja-bazar. Em frente ficavam instalações militares e o comando do sítio.
A rua saía da localidade, no sentido oeste, com direcção a Sonaco, Pirada e Bajocunda. Estas últimas, atingiam-se por um desvio a NE, e alongavam a distância para as atingir, mas a estrada era melhor e mais segura, em relação à que se dirigia directamente para Bajocunda. À saída do Gabu, do lado direito, situava-se um restaurante que frequentei, onde se comia coelho, uma ementa rara na Guiné, onde, provavelmete, não se criavam, e, dizia-se, seria gato por coelho.

Notícia incómoda

Chegámos do Gabu pelas catorze horas, e ainda atacava a sopa leofilizada e o esparguete requentado, mai-los estilhaços, quando me chamaram ao Major de Operações, que mandou seguirmos certa direcção, perto do Corubal, onde teriam sido detectados movimentos do IN. Reunido o Pelotão, estava a andar, alterando o passo de corrida, com a marcha acelerada, que nem tótós, não fossem os turras ser despachados e desandassem das coordenadas. Ouvia-se um toc-toc dos cantis que balanceavam, debaixo do sol da canícula, e durante a digestão, do que resultou, em pouco tempo, estarmos sem água.
Tornou-se penosa a progressão. No fim da época sêca, não se vislumbrava água em qualquer lado. Até que, tive a iniciativa de, com as mãos, cavar a superfície de uma bolanha, o que permitiu encontrar alguma água, sob a forma de lama. Mergulhei o cantil na aguadilha, coloquei o lenço no bocal para filtrar, e chupei a água maldita. Do IN não tivémos notícia, pelo que regressámos ao quartel, já com o pôr-do-sol, exaustos da correria e da secura.
Dirigi-me ao bar, onde pedi e emborquei uma lata de leite concentrado holandês, dois furinhos, e fazia pof quando caía no estômago. Para acalmar tanta doçura, assentei-lhe com um wisky duplo, acomodando-me à satisfação do alimento.
Depois sim, o desejado banho, a higienizar-me para o jantar, refeição intercalar até ao cabrito da seia, cuja estória já é conhecida. Podia, ainda, haver emissora, conversas com copos, jogatana, qualquer motivação para passar o tempo.

A suite 3

A suite três era a designação do quarto em Piche, onde pernoitei naquela localidade. Tinha cinco camas, uma delas para o Zé Tito, meu companheiro na saga militar, e amigo da juventude.
Era um quarto simpático, onde todos eram bem quistos, podia-se beber um copo, participar em conversas sobre qualquer assunto, ouvir uma musiquinha, ler um livro ou uma novela do Corin Tellado, ou alinhar numa petisqueira. Eram boas as ceias de cabrito. A acompanhar, cerveja, vinho branco do Reno, whisky, gin e conhaque, porque em Piche ninguém morria de sede.
A parede da cabeceira das camas estava preenchida com fotografias de meninas, extraídas dos playboys, que nos lembravam permanentemente haver mundos diferenres à nossa espera. Era o trivial, na Guiné.
À porta, colada, uma fotografia do popular Jerry Lewis, a piscar o olho, sobre a seguinte legenda: nem só de pão vive o homem, irmão, sobre um fundo de garrafas coloridas.

E esta frase continha duas premissas, uma, a de que nos tratávamos como irmãos, a outra, a de que no interior, sempre poderíamos achar uma pinguinha para as maleitas da alma.

As mesas, eram derivados de caixotes de bacalhau, ou secções de troncos grossos, com pés do mesmo material, envernizadas para embelezar. Um rusticismo antecipado relativamente ao mobiliário barato que proliferou nos anos setenta.

Também era ali que o pessoal se mascarava para representações chalaceiras, de que o barbeiro, lugar de amplo espectro para discutir, vai representado com fotografia. Cada um improvisava o seu papel, as coisas fluiam, do futebol à política, da padralhada à vida familiar. O único limite era a imaginação.
Foi, também, a sede e estúdio da RVFM.
Uma ocasião, o Drácula passava revista ao aquartelamento, e reagiu prepotentemente ao piscar de olho do J.Lewis, decretando que a fotografia fosse removida, e mantida a decência no estabelecimento militar.



O Faria

Oriundo de Câmara de Lobos, terra piscatória onde pontificava e pontifica "A Coral", estreita-se entre uma pequenina enseada e porto de abrigo, e a colina que, trepando, ou mais facilmente, de viatura, sobe até ao lugar do Estreito, também famoso pelas espetadas, mas, onde nunca comi com satisfação, e quase me despedia da dentadura, por via dos rijos nacos da carne, mas de onde se pode desfrutar de grande vista para a costa e o mar, balizada pelo imponente Cabo Girão.

O António Avelino Faria cumpriu a vida militar, de modo tão discreto quanto possível. Não era pessoa para grandes coboiadas e exuberância, nem evidentes iniciativas. As coisas podiam estar como estavam, que ele não interferia. Se não fosse essa personalidade de reserva, dir-se-ia que teria adoptado uma postura para não dar nas vistas. Mas não era bicho-do-mato.
Foi ele, talvez, o mais crítico dos elementos do grupo, mesmo sem falar, conservando uma distância, e recordo-lhe o olhar de viés, como quem não concorda com alguma coisa. E resmungava, em atitude que também pode ser salutar, e nunca causou perturbação.
Fez o que todos fizeram, alinhou sempre, e cumpriu a sua missão com qualidade suficiente.

A última vez que o vi, há quatro ou cinco anos, estava junto do seu táxi, e foi como se o tempo não tivesse passado, como se estivéssemos próximo todos os dias, sem qualquer efusividade nos cumprimentos.
O Faria era educado, confiável, responsável e trabalhador, mas do género fleumático.
Hoje foi o primeiro retrato, dos que tentarei fazer dos nossos cabos. Não há qualquerb ordem para o efeito. Apenas não posso incluir todos no mesmo texto, e ainda há muito para digitar, pelo que, vão servir de ilustração aos diferentes episódios.

Mais adiante, quando chegarmos às páginas do Jagudi, jornalzinho publicado em Bajocunda, e depararmos com as "Figuras do Foxtrot", rubrica do Timóteo Andrade, melhor compreenderemos, a alegria, a energia, a generosidade e a solidariedade do pelotão.

A fotografia tirada a bordo do Uíge, a caminho de Bissau, retrata, da esquerda para a direita, o irmão gémeo do Mário, com destino a Cabuca, o Faria, o Valentim, o Mário e o Dinis. De pernas flectidas, o Virgílio Fernandes, estes, elementos do Foxtrot. Bem dispostos, pois claro!
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3746: História da CCAÇ 2679 (12): O Carregamento e a RVFM (José Manuel Dinis)

Guiné 63/74 - P3833: Em busca de... (64) Militares do BCAÇ 3872, Guiné 1971/73 (Luís Borrega)

1. Mensagem de Luís Borrega(*), ex-Fur Mil Cav MA da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72, com data de 27 de Janeiro de 2009:

Naquirda. Corpo di Bo, jametum?

Caro Amigo e Camarada Luís,
venho te pedir que através da solidariedade da nossa Tabanca se podes localizar dois ex-camaradas nossos dos quais perdi os contactos. Vou te contar a história completa:

Quando a minha CCav 2749 foi rendida em Piche, veio para Bissau, mas o GComb que estava destacado em Cambor foi nomeado para ir para Galomaro reforçar a guarnição do BCaç 3872 (isto em Maio de 1972). Como não tinham experiência operacional de combate, fui nomeado para comandar o referido GComb. Todos os pincéis vinham parar para cima de mim. Os outros no Cumeré a comer ostras e eu em Galomaro. Bem, mas a estadia foi gratificante pois conheci uns Furriéis Milicianos espectaculares. Passei bons momentos com os piras. Especialmente havia dois com quem me dava bem. Eram eles o António Albano Madeira Adão e o Catana (António ????). Fiquei padrinho de guerra do Adão e ficámo-nos a escrever até ao fim da Comissão deles. Tinha o contacto telefónico do Adão, mas com a reconversão dos indicativos dos telefones fixos e o aparecimento dos telemóveis fez-me ficar sem contactos. Não sei as especialidades, já esqueci, mas o SPM era 2188. Já tentei através do 12118 e também da Liga dos Combatentes (da qual sou sócio), mas todos os esforços foram vãos. Não há rasto deles na picada.

Como já localizaram camaradas através da Tabanca Grande, agradecia que visses o que puderes fazer. Era manga di ronco se os localizasses.

Djarama
Alfa Bravo
Luis Borrega

2. Comentário de CV

Vamos lá ver Luís, se te podemos ajudar.

Socorrendo-me da utilíssima página do nosso camarada Jorge Santos em http://guerracolonial.home.sapo.pt/, na sua secção Ponto de Encontro, encontrei estes pedidos de contacto:

BCAÇ 3872

Carlos Filipe Coelho da CCS - contacto: ct0408@sapo.pt
Ivo - contactos: 256 383 143 e 916 782 105
Alfredo - contacto: 234 182 186

OBS:
- O Carlos Filipe Coelho é tertuliano da nossa Tabanca Grande
- Ainda da nossa Tabanca e do BCAÇ 3872, temos o Luís Dias, o Juvenal Amado e o Joaquim Guimarães. Se houver mais algum camarada que me tenha escapado, peço desculpa.

CCAÇ 3490

Justino Sousa - contacto: 255 776 190

Deixamos também o habitual pedido à Tertúlia para quem souber de mais contactos de camaradas do BCAÇ 3872, o favor de os indicar ao Luís Borrega.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 4 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3699: Tabanca Grande (108): Luís Borrega, ex-Fur Mil Cav da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72

Vd. último poste da série de 30 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3819: Em busca de... (63): Camaradas e cadastro da CART 676 (Liberal Correia/José Martins)

Guiné 63/74 - P3832: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (7): Bula - Dias de calmaria

1. Mensagem de Luís Faria, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72, com data de 26 de Janeiro de 2009:

Cá vai mais um capitulo de Viagens... a relembrar mais um pouco das minhas vivências e da história da 2791-FORÇA.

Um abraço
Luis Faria


Bula – Dias de calmaria

Passada a Operação Doninha Parda os GComb da 2791 entraram numa espécie de rotina, se assim devo chamar, fazendo protecção às colunas de viaturas civis na estrada João Landim-S.Vicente, patrulhamentos seguidos de emboscadas diurnas e nocturnas, algumas acções de observação, policiamento e busca na Vila e também serviço ao aquartelamento (que me lembre nunca fiz um!). Os pontos base de emboscadas diárias eram os chamados km10 - km6 - km4 - km2, onde o grau de periculosidade era decrescente. Quando me calhava, processava-se assim: de manhã saíamos nos unimogues (404?) em direcção a S.Vicente, dávamos a volta no largo junto ao rio e no regresso deixávamos pessoal no K10, recolhíamos o que lá estava e assim sucessivamente.

Nestas andanças sempre ocupei o lugar do morto, semi-sentado nas costas do banco com a G3 apoiada no parabrisas e com o pé direito no guardalamas, pronto a fazer fogo e a saltar. Procedia assim, porque sentia que mais facilmente podia detectar uma emboscada (ângulo de visão periférico melhor) e reagir, para além de julgar dar mais confiança ao condutor que se podia concentrar na condução.

Numa das vezes estava na viatura pronto para a saída, e o Comandante Ten Cor Andrade (a quem demos a alcunha de cabeça torta ou dez para o meio-dia, por andar sempre com a cabeça inclinada sobre o ombro direito) ao ver-me obrigou-me a ir para o banco, com o velho argumento de que um graduado fazia mais falta. Claro que foi só até sair da vista! Creio aliás que outros graduados da Companhia procediam de modo idêntico. Era contra as normas? Pois era mas nós também éramos diferentes!!! Éramos uma Companhia de Tropa Macaca/Caga e Tosse, mas diferente. E por sermos diferentes fomos usados e abusados.

Durante estas patrulhas e emboscadas que duravam 24/36 horas presenciei situações que de certo modo cortavam a monotonia pela negativa ou pela positiva. No K2, zona não minada, os terrenos laterais eram lavrados, com alguma vegetação arbustiva, algumas palmeiras e ajuntamentos de árvores de médio porte. Diariamente via–se população nas suas andanças e um dia reparo num nativo que do outro lado da estrada trepa a uma palmeira como um gato. Nunca tal tinha visto… fiquei maravilhado e não desviava os olhos dele. Chegou ao topo num ápice e passados uns minutos, vejo-o cair e estatelar-se no chão! É evacuado, não recordo a sorte dele. Pelos vistos tinha dado de caras com uma cobra cuspideira e segundo me informaram, quando isso acontecia, preferiam deixar-se cair a serem atacados pois teriam mais probabilidades de sobrevivencia!?

De outra vez no k6, zona perigosa de passagem IN, estou no lado Leste da estrada empoleirado numa cabaceira (embondeiro?) a vigiar a orla da mata. Ouço um restolhar, ponho-me à defesa e vejo um grupo de macacos, julgo que saguis, adultos e jovens brincalhões, avançar pelo capinzal fazendo aquela restolhada. Pena não ter máquina fotográfica à mão. Chegados à berma da estrada, o grupo parou e o que seria chefe espreitou para um e outro lado e atravessou a correr. Chegado ao outro lado voltou a espreitar e logo de seguida os que tinham ficado à espera, começando pelos pequenos, atravessaram também de corrida e em fila indiana. Também nunca tinha visto e achei uma delícia!

Por falar nestas cabaceiras, um dia talvez o mesmo dos macacos, resolvi partir um cabaço ao meio para ver como era o interior e para que serviria. Se bem pensei, melhor o fiz. Peguei nela e zás... na coxa com força! F… ia partindo o femur, era rija p´ra c… nunca mais experimentei e fiquei até hoje sem saber qual a utilidade daquela árvore para além de proporcionar um óptimo abrigo!!!

Estava no K2 ou 4, quando um soldado, Cancêlo de seu nome, me chama e diz que parece haver uma mina na zona em que iamos emboscar. Dirijo-me para o sítio, vejo a terra com aspecto disfarçado de ter sido remexida, mando afastar o pessoal, pego na minha faca e com os cuidados inerentes começo a picar como mandavam as regras. Encontro a dita mina que era… uma lata de coca-cola e ainda por cima vazia. Trabalho feito, não era mina, ainda bem! Só que pelos vistos o pessoal ria-se à socapa já que, só há pouco tempo o soube, tinham sido eles a plantar a mina! Deste episódio de há 37 anos, não me recordava e foi-me contado por ele, Cancelo à altura apontador de morteiro 60, valente e ainda hoje boa praça com quem me encontro várias vezes ao ano em cerimónias que juntam uma dúzia de Forças e a quem tambem já pedi contributos para a Historia da CCaç 2791 (Força), mas sem resultados até hoje.

Houve também situações tensas em que durante a noite pedíamos à rapaziada da Artilharia batimento de zona pelos obuses, já que não se via nada e pressentíamos a passagem de guerrilheiros. Dávamos as coordenadas e íamos para as bermas da estrada, com a certeza de que aí não nos cairia em cima nenhuma granada, pois os batimentos eram de proximidade. Poucos minutos depois, ouvia a saída, depois o silvo e o rebentamento com o seu clarão. Era espectacular e por vezes apetecia-me pedir mais tiros só para sentir o espectáculo!

Nas acções de vigilância e policiamento, digamos assim, a Bula, fui conhecendo melhor os meandros da povoação e sentindo os sítios de provável acolhimento do IN, com uma ou outra corrida e inspecção a moranças, mas sempre sem resultados. Estas acções fi-las a nível de GComb pois havia o risco de intercepção de grupos IN vindos das matas de P.Matar, Uasse. Às vezes emboscava na zona do cemitério, um dos trilhos de entrada e onde houve contactos, não com o meus rapazes.

E assim ia passando os dias, entremeados com umas voltas pela povoação, bebendo uns copos, comendo uns petiscos, dedilhando umas músicas e fazendo umas cerimónias com o pessoal.

Bula > Faria e baga-baga

Bula > Tasca do Silva(?) > Faria, Urbano e Barros

Bula > Tasca do Silva(?) > Fontinha, Faria e Chaves

Bula > Mercado

Bula > Faria no quarto

Bula > Quartel > Alexandre(?), Castro, Augusto e Faria

Fotos e legendas: © Luís Faria (2009). Direitos reservados.


Um abraço a todos
Luis Faria
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 3 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3694: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (6): Objectivo: Choquemone, 17NOV70

Guiné 63/74 - P3831: Tabanca Grande (110): João Seabra, ex-Alf Mil da CCAV 8350, Guileje, 1972/73


1. Mensagem de João Seabra (*), ex-Alf Mil da CCAV 8350,  Guileje, 1972/73, com data de 26 de Janeiro de 2009:

Luís,

Já respondi aos comentários que a minha mensagem suscitou.

É-me perfeitamente indiferente que me chamem cobarde, herói, ou nem tanto nem tão-pouco. A única coisa que me repugna é que me representem – ou eu próprio involuntariamente me apresente – como ex-coitadinho.

Não posso deixar de aceitar o amável convite para que integre a Tabanca. Mas também não posso prometer ser um participante muito assíduo. Limitarei as minhas próximas intervenções (as quais ocorrerão depois da publicação do pastelão) ao estritamente necessário para esclarecer a questão de Guileje/Gadamael.

Penso que, aliás, que o pastelão e o relato do Manuel Reis, são complementares, mais morteiro 120 mm, menos morteiro 82mm (que até poderá ter sido usado). Não sei se o regresso dele foi às 12h, 13h (ou às 12.22h ou às 12.59h): regressou quando acabou a grande flagelação de morteiro 120mm da manhã de dia 1/6/73, na sequência da qual a maior parte da guarnição fugiu efectivamente para o Tarrafo, e daí a maior parte foi para Cacine e alguns regressaram ao quartel.

Os dois capitães foram, mais precisamente, feridos no dia 1/6/73, pelas 11,00h. Os dois simultaneamente, porque estavam ambos no único abrigo que havia em Gadamael: o das Transmissões.

Procurarei usar da urbanidade desejável, o que poderá não excluir alguma nota de humor ou ironia.

Só tenho duas fotografias da Guiné – ambas no Cumbijã, gozando da hospitalidade do nosso amigo Vasco da Gama.

Também não tenho nenhuma fotografia actual tipo passe, vai então uma das últimas férias.

Não sei se as digitalizações em anexo ficam publicáveis.


João Seabra no Cumbijã

Abraço
João Seabra

2. Comentário de CV:

Caro camarada João Seabra, não te convido a entrar, porque já fazes parte da família. Desejo que ao contrário do que dizes, participes com regularidade no nosso Blogue, isto não prejudicando a tua actividade profissional, não só quando se fale de Guileje, mas também quando se fale de outros assuntos relacionados com a nossa passagem pela Guiné.

Em nome da Tertúlia da Tabanca Grande deixo-te os habituais, mas indispensáveis votos de boas-vindas.
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Nota de CV:

(*) Vd. postes de

23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3782: A retirada de Guileje, por Coutinho e Lima (18): Obrigou-se o PAIGC a combater em Gadamael... (João Seabra)

27 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3801: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (4): Cobarde num dia, herói no outro (João Seabra, ex-Alf Mil, CCav 8350)

Vd. último poste da série de23 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3784: Tabanca Grande (109): Manuel Rodrigues, ex-Fur Mil Mec Auto Rodas da CCAÇ 3491, Dulombi e Galomaro, 1971/74