terça-feira, 16 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4534: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (2): António Camilo oferece 300 sacos de cimento e 150 litros de tinta


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cantanhez > Cabedu > CCAÇ 1427 (1965/67)> Capelinha do antigo destacamento de Cabedu ... O autor da foto, Tony Grilo, esteve em Cabedu ao tempo da CCAÇ 1427 que, em 30 de Maio de 1967, foi substituída pela CART 1614...

Segundo o António Camilo, parece que há um ex-militar nosso que quer também reconstruir esta capela, à semelhança do que se passa em Guileje, onde a ONG AD - Acção para o Desenvolvimento lidera o projecto de construção do Museu Memória de Guiledje e a reconstrução da capela... (LG)

Fotos: © Tony Grilo (2009). Direitos reservados.


1. Telefonou-me o António Camilo, de Lagoa (foto ao lado, lado esquerdo, na sua morança no Saltinho, no dia 1 de Março de 2008) e que todo o mundo conhece como um veterano das viagens à Guiné, em missões humanitárias...

Tinha acabado de chegar da Guiné-Bissau, aonde já foi este ano por duas vezes (*), e numa delas, não sei se na última ou na penúltima, permaneceu lá cerca de 3 meses (se bem percebi...). Se não me enganei nas contas, trata-se da sua 9ª viagem... Foi de carro, veio de avião. Deixou a viatura em Jugudul, ao cuidado de um português, amigo seu, que é proprietário da bomba de gasolina local.

Desta vez esteve com o Patrício Ribeiro e com o Pepito, no 10 de Junho, na embaixada portuguesa em Bissau. Esteve em Guileje e em Iemberém (onde ficou nos bungalows de apoio ao ecoturismo), esteve mais a sul, em Cabedú (que cahiu um sótio muit bonito)... Disse-me que as viagens para o sul estão muito difíceis. Está chover copiosamente. Esteve em Buba, mas não conseguiu chegar a Bedanda... Para ele, a melhor altura para se viajar na Guiné-Bissau é o mês de Janeiro.

A razão de ser do telefonema ? Queria saber qual era o nosso poste com as fotografias da capelinha de Guileje (**).

O António Camilo passa a integrar, formalmente, a nossa Tabanca Grande e, ao mesmo, a pertencer ao número, até à data restrito, do Grupos dos Amigos da Capela de Guiledje (de que já fazem parte o Patrício Ribeiro, o António Cunha e o Manuel Reis).

Ele tem um contentor em Buba, com materiais de contrução, incluindo cimento e tinta, à guarda de uma missão religiosa (falou-me de uma portuguesa, missionária, que é a responsável da missão, mas cujo nome não retive)... Construiu lá um centro de saúde e gostaria de fazer uma escola... Mas, ao que parece, as autoridades locais (o "presidente da Câmara") preferem dinheiro vivido do que doações em géneros... Ora, pela sua experiência, não se deve dar dinheiro...

Com tudo isto, há materiais que sobram e que estão a fazer falta em Guileje. Daí o seu gesto, generoso e solidário, prometendo ao Patrício Ribeiro, o pai dos tugas, e ao Pepito 300 sacos de cimento (já com mistura de areia, segundo percebi), de 50 kg cada, e uma meia dúzia de latas de tinta, branca, de 20 ou 25 litros cada... O único problema ligístico a resolver é o transprte... Mas a AD - Acção para o Desenvolvimento tem uma camioneta, operacional...

Segundo as contas do Camilo, o material deve chegar e sobrar. A capela é pequena (talvez 12/15 metros por 5/6 metros, perfazendo cerca de 60 a 90 metros quadrados, o suficiente para uma unidade de quadrícula com a CART 1613 que a construir entre 1967 e 1968 (`**)...

Aqui fica a boa notícia para o Grupo de Amigos da Capela de Guileje que vai passar a contar com mais um elemento. Aqui fica também uma especial saudação ao nosso andarilho de Lagoa, o António Camilo, que passa finalmente, e por direito próprio, a poder sentar-se à sombra do poilão (ou das mangueiras) da nossa Tabanca Grande...

O Camilo deu-me o contacto do seu estabelecimento comercial Electrolagoense, Lagoa, tel 282 353 451. Mail: electrolagoense@sapo.pt

O Camilo foi Fur Mil na CCAÇ 1565 (tal como o José Moreira, de Coimbra, outro rosto da solidariedade dos antigos combatentes portugueses oara com o povo da Guiné-Bissau) (***). Dados da ficha de unidade:

Unidade mobilizadora: RI 1. Partida para a Guiné: 20 de Abril de 1966. Regresso: 22 de Janeiro de 1968. Localidades por onde passou ou esteve: Bissau, Jumbembém, Canjambari, Bissau. Teve quatro comandantes: Cap Mil Rui António Nuno Romero, Cap Inf QP José Lopes, Cap Mil Inf Jão Alberto de Sá Barros e Silva.

Outro camarada nosso, e grande amigo da Guiné-Bissau, é o Carlos Silva que também esteve em Jumbembém, embora em época posterior (1969/71) (****). O Carlos tem a melhor página, na Net, sobre a região de Farim: Guerra na Guiné - BCAÇ 2879, Farim, 1969/71, Página de Carlos Silva... É também um dos fundadors e dirigentes, com o Carlos Fortunato, da ONGD Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento... Last but not the least, é o advogado dos guineenses, sobretudo dos mais pobres e desprotegidos. Reside em Massamá, Queluz.

__________

Notas de L.G.:

(*) 16 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3900: Expedição Humanitária 2009 (1): Já se fez à estrada a expedição da Humanitarius, com o J. Almeida, o A. Camilo e outros

(**) Vd. poste de 6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

(***) Vd. poste de 17 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3906: Expedição Humanitária 2009 (4): 25 toneladas de ajuda, 897 caixotes, 22 expedicionários... E obrigado, povo meu (José Moreira)

(****) Vd. postes de:

8 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2417: Tabanca Grande (51): Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem 1969/71)

20 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1976: Tabanca Grande (27): Carlos Silva, mais um 'apanhado do clima' (CCAÇ 2548, Jumbembem)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4533: Controvérsias (24): A minha análise pessoal do desastre com a jangada no Cheche, na retirada de Madina do Boé (Armandino Alves)

1. O Armandino Alves foi 1º Cabo Enf da CCAÇ 1589 (1966/68), em Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, apresentou um comentário em 13 de Junho no poste: Guiné 63/74 - P2984: Op Mabecos Bravios: a retirada de Madina do Boé e o desastre de Cheche (Maj Gen Hélio Felgas † ), que merece ser poste:

Camaradas,

Eu já num poste disse como os guineenses ao serviço das nossas tropas conseguiam virar a jangada no CheChe, para ficarem com os garrafões do vinho.

Portanto é ponto assente que a jangada virava embora não se afundasse.

O Camarada Rui Felício tem toda a razão, para estar revoltado e basta um pouco de atenção à leitura do relato do falecido Coronel Hélio Felgas, para se constatar que essa teoria do disparo do IN cai por terra.

Então nesse momento não estava a pousar o héli-canhão?

Alguém de bom senso acha que o IN (se lá estivesse) ia revelar a sua posição sabendo que o héli-canhão logo os atacaria.

Não!

O nosso camarada não especifica a quantidade de homens que embarcaram nessa leva mas, para morrerem 47, tinham que ser quase o dobro, se não fossem mais.

Reparem que havia uma ordem de serviço que proibia a jangada de transportar mais de 50 homens de cada vez.

No meu tempo a jangada era movimentada a braços. Havia dois cabos, um de cada lado do rio, presos às margens e os milícias colocavam-se ao longo das laterais e puxavam, com os pés bem assentes no chão e a jangada lá se ia deslocando lentamente.

Posteriormente, parece que a jangada era puxada, ou empurrada, por um barco com o motor fora de borda.

Ora, para esse barco puxar/empurrar a jangada teria que forçar o motor conforme o peso suportado pela jangada. Ora, quanto mais força mais ondulação, o que, obviamente, mais desestabilizaria a estrutura da jangada.

À mencionada instabilidade, juntava-se o factor pessoal embarcado que, ao não estarem quietos nos seus sítios, contribuíram sobremodo para a jangada virar.

Quanto ao filme não o vi, porque já sabia que nada do que lá apresentam ia corresponder à verdade, e sinto-me no direito de pensar que são apenas estratégias para ganhar audiência e ampliar o lucro a obter com o mesmo.

Armandino Alves,
Ex-1º Cabo Enf CCAÇ 1589
_________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

14 de Junho de 2009 >
Guiné 63/74 - P4518: Controvérsias (19): Sob a evacuação das NT de Madina do Boé (Armandino Alves)

Guiné 63/74 - P4532: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (IV): Desertores

1. Mensagem do Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, com data de 14 de Junho de 2009:

Camarada Carlos Vinhal,
Envio texto que anexo que pretende analisar o tema desertores.

Um abraço amigo
Vasco da Gama


BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - IV

Também tive um (?) desertor na minha CCav 8351 – Os Tigres do Cumbijã

Sem querer entrar em qualquer polémica, até porque não possuo nem armas nem argumentos suficientes sobre o assunto lançado no post 4517 (**) pelo nosso camarada António G. Matos, gostaria de referir que considero este nosso camarada, que não conheço pessoalmente, um dos bloguistas de leitura obrigatória, não só pela qualidade da sua escrita e pelo encadear das suas ideias, mas fundamentalmente pela profundidade dos temas que nos apresenta e que são, tenho a certeza, fruto de uma reflexão prévia.

Não basta pois, dispararmos um quero que os desertores se lixem, ou os desertores que vão tocar tangos para a rua deles.

A guerra não foi pertença apenas dos combatentes, mas envolveu a sociedade em geral e as nossas famílias em particular e, porque não, também alguns desertores.

Haverá, creio, vários tipos de desertores na nossa guerra da Guiné.

Antes da sua classificação, dizer que temos no nosso Blogue combatentes que partiram para a Guiné para defender a integridade da pátria que, para eles, ia de Trás-Os-Montes a Timor e outros que eram pura e simplesmente obrigados a ir, embora não concordassem com a guerra como solução para o problema ultramarino. Eu, para que não paire qualquer dúvida, enquadrava-me nestes últimos. Curiosamente estas diferenças esbatiam-se, de imediato, entre nós. O sofrimento e a solidão eram o denominador comum entre todos. Conversávamos, colocávamos dúvidas, estávamos juntos!

Ajudávamo-nos

Estimulávamo-nos

Éramos unidos

Éramos amigos

Partilhávamos

Hoje somos Irmãos

Voltando à minha classificação dos desertores:

Os meninos bem de vida e filhos de papá que deram o salto quando souberam que a Guiné lhes havia saído em rifa e que foram para exílios dourados de Paris ou de Genebra ou de qualquer outra cidade europeia, onde prosseguiram os seus estudos e concluíram os seus cursos. Safaram-se, direi eu; o que não admito é que hoje mandem palpites sobre a guerra colonial e se armem e por vezes sejam considerados e tratados como heróis anti-fascistas e não tenham a coragem de dizer: fugi porque tive medo da Guiné e tive possibilidade de o fazer. O que farias tu no meu lugar?

Preferem o epíteto de lutadores pela liberdade vindos do bem-bom e chegados a Portugal de Sud-Expresso ou de avião… Se lhes tem saído na rifa Luanda, o galo cantaria de outra maneira e o seu discurso seria diferente.

Os anónimos que foram para França a salto e que se mantiveram calados, dizendo apenas: para a Guiné nunca! Tiveram a guerra deles nos arredores de Paris, vivendo de forma sub-humana nos bidons-ville mas mantiveram-se humildes e mantêm a sua máxima de Guiné, nunca. Tiveram medo e confessam-no, sem se armarem….

Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…

O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?

Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari.

Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…”

Obrigado pelos teus escritos, já reconhecidos publicamente, e um obrigado ainda maior pela lição, verdadeiro hino a uma das mais bonitas palavras – a solidariedade - que este teu fabuloso conto encerra.

Quem me dera que o furriel da minha Companhia se chamasse José Brás.

Temos os desertores que se passaram do nosso lado para o inimigo. Estes, que até são ouvidos e vistos em programas televisivos, além de desertores, aproveitaram os seus conhecimentos dos locais de onde desertaram, entregaram trunfos ao outro lado, permitindo que os seus ex-camaradas sofressem ainda mais. Os meus camaradas que os qualifiquem….

Há, pois, na minha perspectiva, tipos diversos de desertores…, e se calhar alguns deles mereciam uma oportunidade para se justificarem…, ou não!

Termino com um abraço de respeito a todos os meus queridos camaradas combatentes da Guiné e também com uma pergunta inocente: Como chamar aos nossos camaradas que embarcaram connosco tendo ido até ao mato profundo e dias após chegarem ao mato eram, fruto de cunha valente, transferidos em definitivo para o ar condicionado de Bissau?

Um abração
Vasco A.R.da Gama
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (1): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (18): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)

Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos

Guiné 63/74 - P4531: A Tabanca Grande no 10 de Junho (13): Tertulianos éramos mais de 30… (Hélder Sousa / Xico Allen)

1. Mensagem de Hélder Sousa, ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72, com data de 17 de Maio de 2009:

Camaradas,

No passado 10 de Junho foi possível verificar que mais de 3 dezenas de tertulianos passaram pela área do Forte do Bom Sucesso, próximo do Memorial aos Mortos do Ultramar e que, de uma forma ou de outra, mostraram o carinho e apreço pelo Luís Graça e, também, pela Alice (não é verdade que se diz que por detrás de um grande Homem há sempre uma grande Mulher?), como o cimento aglutinador de todo o universo que ele (inadvertidamente?) em tão boa hora gerou, com a criação do seu blogue até que o transformou no Nosso Blogue.

As fotos que já foram colocadas mostram bem o que quero dizer.

Também a rapaziada da Tabanca de Matosinhos esteve bem representada, por muitos dos seus ilustres membros, sendo até motivo de algumas lamentações dos comensais das 4ªs feiras que aparentemente (só aparentemente) se sentiram desamparados. Na realidade puderam comer mais descansados, puderam conversar mais sem serem interpelados pelo sempre em pé do Xico Allen e, porventura, até puderam ter rancho melhorado.

Esse pessoal da Tabanca de Matosinhos também produziu algumas fotos que se juntam, mostrando tanto os encontros e conversas ocorridas junto ao local da concentração como também as feitas no local onde a Tabanca resolveu abancar, em Lisboa, em pleno Bairro de Chelas, em plena Zona J, sem qualquer sombra de problema, no restaurante de um guineense, já anteriormente referido, de seu nome Joaquim Djassi, onde nos batemos, para além da imensa simpatia com que fomos recebidos, com um peixinho da bolanha que estava simplesmente delicioso, acompanhado de inhame e também de arrozinho para não nos esquecermos e depois com uma galinha de chabéu (foto 8), que também não desmerecia em nada em qualidade e sabor.

Disse nos batemos porque aqui este sulista que vos escreve teve o privilégio de ter sido cooptado pelo pessoal da Tabanca de Matosinhos, ao qual agradece publicamente a gentileza, e fez então parte do grupo que se banqueteou , conforme referi.































































Fotos: © Xico Allen & Benjamim Durães (2009). Direitos reservados

As fotos que vão anexas não têm legendas pois foi assim que as recebi do Xico Allen e como alguns dos elementos figurados não me são ainda familiares quanto ao nome, não quero salientar aqueles que conheço e reconheço e deixar os outros no anonimato. Não seria justo.


Um grande e forte abraço,
Hélder Sousa
__________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P4530: Tabanca Grande (152): José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas, CCAÇ 462 (1963/65

1. Mensagem de José Marques Ferreira, ex-Soldado Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Guiné 1963/65, com data de 13 de Junho de 2009, com a sua apresentação à Tertúlia:

Caro Vinhal:

Aí vai a nota de assentos, no essencial:

- Soldado, apontador de Armas Pesadas (Breda)

- CCaç 462 (do BCaç 10, Chaves)

- Dependência operacional e administrativa na Guiné: BCaç 507 (Cmdt Ten Cor Hélio Felgas), depois BCav 790 (Cmdt Ten Cor Henrique Calado)

- Zona operacional por onde passei:

De Bissau directamente para Ingoré, após uma semana de estadia na Escola de Teixeira Pinto, para aclimatar.

A Companhia dispersou-se desde Ingoré (Comando), por Sedengal, S. Domingos, Susana, Varela (durante dezasseis meses).

Passado este tempo, somos obrigados a substituir a Companhia Operacional do BCaç 507 (já não lembro o número, mas se for preciso arranjo, pois ficou reduzida a quase metade entre mortos, evacuados e outras situações) e saltamos para Bula.

Depois, a poucos meses de acabar a comissão, fomos os primeiros habitantes de (comando), ficando a Companhia a ocupar com os três pelotões restantes as localidades de Ponate, Jolmete e Pelundo (também os primeiros militares a chegar àquelas paragens) onde foi tudo feito a partir do nada...

-Como a excursão não estava completa, despediram-nos para Mansoa, donde saímos para o Niassa...

-Data de embarque em Lisboa: 14 de Julho de 1963. Desembarque em Bissau: 21 de Julho de 1963.

-Data de embarque em Bissau: 7 de Agosto de 1965. Desembarque em Lisboa: 14 de Agosto de 1965.

Há mais factos, mas vão ser guardados para melhor oportunidade e também para não entupir o blog e o vosso trabalho.

Fomos para a Guiné, a partir de Chaves, como Companhia independente e só na Guiné é que nos deram a zona a ocupar pois Ingoré, quando chegamos, apenas tinha uma secção.

Mais tarde e na história que se há-de contar, passou aquela localidade a ter a estrutura de um Comando de Batalhão, onde estiveram alguns camaradas da minha localidade e por eles fiquei a saber desta evolução.

Já vai extenso este intróito.

Um abraço,
José Marques Ferreira



Fotos: © José Marques Ferreira (2009). Direitos reservados

2. Comentário de CV

Caro Camarada José Ferreira, bem aparecido na nossa Tabanca Grande.

Muito obrigado por aderires a esta grande família e por te propores a colaborar na feitura daquilo que queremos deixar para memória futura.

Quem melhor do que nós poderá contar como a guerra se travou? Quem sentiu as balas a assobiarem por cima da cabeça? Quem dormiu, mal, aos mosquitos, à chuva e ao cacimbo? Quem comeu o que calhou e quem bebeu água suja, retirada da bolanha?

Se não deixarmos tudo escrito, outros contarão, romanceando, ligarão os nossos momentos mais trágicos ao luar e ao estrelado dos céus de uma África misteriosa, etc, etc.

Sabemos que a realidade foi bem diferente. Caminhámos à luz de sucessivos relâmpagos em noites de chuva diluviana, tropeçando a cada passada, agarrados uns outros para que ninguém ficasse, irremediavelmente, para trás.

Cabe a ti e a todos nós contar a triste realidade dum local e época de sofrimento.

Contamos contigo.

Recebe camarada, um abraço de boas-vindas em nome da Tertúlia.
CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça

Guiné 63/74 - P4529: Em 6 Março de 66, o filme da primeira operação helitransportada no CTIG (Amadu Djaló / V. Briote)





Furriel Carlos Guedes com o guião CCmds, 6 de março de 66, 13h00, Bissalanca, Alf Mil Luís Rainha e elementos do seu grupo, "O sCenturiões", esquadrilha de Al - III, sobrevoo e travessia do Geba, lançamento, regresso à BA 12, saída dos helis, 2º srgt cmd Mário Valente, sold cmd Joaquim Esperto, cap Garcia Leandro, tenente oilav Velez Caldas, alf mil Virgínio Briote (Gr Cmds "Os Diabólicos"), especialistas da FAP, piloto (nome?), alf lil Luís Rainha, de costas com o chapéu chinês do Pansau Na Isna, festa em Bissau, imagens sobrepostas do aquartelamento de Brá. 

Trata-se de um filme feito em condições muito particulares. O então alf mil Luís Rainha era o dono da máquina e um dos cmdts de um dos Grupos, "Os Centurões"  encarregados do assalto. Filmou o que pôde, sem o conhecimento e treino indispensáveis para uma realização apresentável. Antes do assalto, desligou a máquina, o objectivo e as condições psicológicas falavam mais alto. Fez o que pôde.

Música extraída do filme Platoon e da Mayra Andrade. Com a devida vénia.

Vídeo (4' 58''): You Tube > Brá 65/67 (conta do VB)


1. Op Hermínia,

por Virgínio Briote

Em 6 de Março de 1966 realizou-se a 1ª heliportagem de assalto na Guiné. A zona, seleccionada através de reconhecimento aéreo, foi em Jabadá, Tite.

Seis Alouettes - III transportaram, até às portas do acampamento do PAIGC, 30 comandos do CTIG, 15 do Gr Centuriões (Alf Raínha) e 15 do Gr Diabólicos. (Alf Briote). 

Comandou a operação no terreno o então capitão Garcia Leandro, na altura cmdt da CCmds.

A tripulação dos All - III foi comandada pelo maj pilav Mendonça (se não estou errado) e dela fazia parte, entre outros excelentes pilotos, o tenente Velez Caldas, que levou o meu grupo a muitos outros locais.

Era um domingo. Às 13h00 descolaram da BA12 e às 13h20 estávamos no solo.



O acampamento estava dividido em duas partes. Uma albergava a população, a outra a guerrilha. Aos Centuriões tinha calhado, por moeda ao ar, atacar o acampamento da guerrilha, ao outro grupo cercar e recuperar a população. Como muitas vezes aconteceu, as coisas foram um pouco diferentes.

A guerrilha estava misturada com a população nos dois abarracamentos. Depois do lançamento o Grupo Diabólicos, com uma equipa lançada um ou dois minutos depois do grupo, viu-se envolvido por fogo cruzado. 

Às 13h25 morreu o Soldado António A. Maria da Silva, atingido por um único tiro.

A evacuação foi pedida com os helis ainda no ar. Imediatamente, um, protegido por uma parelha de T-6, aproximou-se da zona e pediu sinalização. Foi lançada uma granada de fumos laranja e o capim da pequena lala começou a arder.

De um momento para o outro, só havia uma saída para a equipa que estava a proceder à evacuação, o caminho para o Geba. Com o heli e o Silva no ar, a equipa progrediu em direcção à mata, ao encontro das outras duas que já lá se encontravam.

Foram transportadas para o aquartelamento de Jabadá as pessoas que se conseguiram subtrair ao PAIGC, enquanto durante parte do trajecto a guerrilha nos ia acompanhando com fogo  de morteiro mal ajustado.

Por volta das 16h00, os dois grupos reunidos, rumaram para o aquartelamento e, às 16h30, foram transportados de heli para Bissau.

vb


2. De helis para Jabadá,

por Amadu Bailo Djaló (*)

Preparámos um assalto de helicópteros em Jabadá Biafada. Era a primeira vez que se ia fazer uma operação com os helicópteros na Guiné. Tínhamos passado quase dois meses em treinos com os Alouettes.

Iam dois grupos [dos Comandos do CTIG], os Centuriões e os Diabólicos, quinze homens de cada, no total de seis helicópteros. Ia também o comandante da companhia de comandos, o capitão Garcia Leandro.

6 de Março de 1966, cerca das 13h00. Estávamos no aeroporto desde o meio-dia, à espera dos oficiais. Neste espaço de tempo houve uma cena entre dois companheiros dos Diabólicos, o Silva, um europeu e um africano, o Adulai Djaló. O Silva disse ao Djaló:
- Djaló, tu vais morrer nesta operação!
- Filho da mãe, tu é que vais morrer! - respondeu o Adulai.

Estávamos todos a rir, com grande gozo e alarido, quando chegaram os oficiais.

Embarcámos e tomámos altura com destino a Jabadá, para a missão de assalto com apoio da aviação. Com o ruído dos T-6, curvámos para a mata e, na altura, os aviões estavam a bombardear.

Ficámos cara a cara com os T-6, eles tomaram altura e nós baixámos para o assalto. Saímos a disparar para a tabanca, as primeiras imagens que me ficaram foram a de uma máquina de costura e o corpo de um homem balanta.

No meio dos tiros e dos rebentamentos, ouvimos pelo rádio os Diabólicos pedirem uma evacuação. O tiroteio foi intenso, mas não demorou muito tempo. Estava muita gente, guerrilheiros e população, todos misturados, houve muitas baixas.

Eu estava preocupado com a informação que tínhamos ouvido no rádio, o pedido de uma evacuação. Se o Silva disse que tinha sonhado que o Djaló ia morrer no assalto…

Estava ansioso que os grupos se encontrassem para sabermos quem morreu. Quando acabaram os disparos e começámos a retirar em direcção a uma clareira, ao longe vi o grupo Diabólicos. Não, Djaló não morreu, ele vem ali ao fundo.

Quando os dois grupos se uniram, perguntei ao Djaló quem tinha morrido e ele disse:
- Foi o Silva!

Esta operação, Hermínia, foi a primeira que se fez na Guiné com os Allouettes.

__________

Notas de vb:

Tive conhecimento, pouco tempo depois, que não tinha havido nenhum voluntário do Foto-Cine para filmar a Op Hermínia. Muitos anos depois, em 2005, o Luís Raínha entregou-me uma bobine de um filme para ser passado para DVD. É deste filme que extraí a parte respeitante à operação. Apesar da má qualidade da filmagem e dos quarenta anos passados, arrisquei pô-lo no YouTube. Com os agradecimentos e a devida vénia ao Luís Rainha.

(*) Das Memórias de Amadu Bailo Djaló, na altura Soldado do Gr Cmds Centuriões

Guiné 63/74 - P4528: Um velho filme de 8 mm que agora nos surpreende e delicia (George Freire, ex-cap inf, CCAÇ 153, 3ª CCAÇ e 4ª CCAÇ, Bissau, Gabu e Bedanda, 1961/63; e desde então a viver nos EUA)




Jorge Freire, ex-cap inf, que esteve na Guiné, em 1961/63, e desde então a viver nos EUA (aqui com a sua esposa), e onde é conhecido por George Freire, engenheiro e empresário.

Foto: © George Freire (2009). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A propósito do seu velho filme de 8 mm que publicámos ontem no nosso blogue, sob a forma de 3 vídeos (*), o George Freire mandou hoje uma mensagem aos seus amigos americanos, com conhecimento aos editores do blogue. 

A mensagem é em inglês e eu pedi ao Miguel Pessoa, o nosso tradutor de serviço, para lhe dar um jeitinho, uma vez que eu, de manhã, não tinha qualquer disponibilidade... Mal sabia eu que o Miguel também não estava em boa forma... Mas, tropa é tropa, e ele lá fez das tripas coração, mandando-me o texto traduzido, na volta do correio, e com isso aumentando ainda mais a consideração que eu tenho por ele... Aqui vai a nossa troca de mimos... 

(i) Miguel: Se tiveres tempo e pachorra, faz aqui uma tradução do texto do nosso camarada Jorge Freire, antigo capitão do QP... Estou sem tempo, hoje. Também podes comentar o filme (a parte respeitante à FAP, Bissalanca...). Abraço. Luís 

 (ii) Luís: Ando um pouco em baixo e tenho uma série de exames e consultas esta semana, mas farei o que puder. Miguel 

(iii)  Luís: Lá consegui arranjar alguma paciência e traduzi o texto. Agora os comentários ao filme, só os poderei fazer depois de ler algo sobre a Força Aérea na Guiné, no início do conflito. Abraço. Miguel 

 2. Mensagem original do George Freire, em inglês (**), com data de ontem: 

  Subject - Portuguese Blog "Camaradas da Guine" 

 Some of you know that before Edith and I came to the States in October 1963, I served in the Portuguese Army in Africa (Portuguese Guine, now called Guine-Bissau), for two years. There is a very interesting Blog (in Portuguese), called "Camaradas da Guine", where thousands of Portuguese soldiers who fought there, write war stories, memories etc. 

Late last year I came across that Blog by accident, and as you can guess, I was very interested in reading all the stuff that was and still is being published in that Blog. So far they have had almost 1,100,000 hits to that Blog. I had a diary that covered the period between October 1962 and May 1963 which I sent them and was published. I also had an old 8mm movie made during the time I was there and decided to make an updated version with sound etc. with Windows Movie Maker. I sent them the DVD and guess what, they have posted it today in the Blog and also on U Tube. 

 The film is quite interesting, (Edith is there in a few passages), and I ask you all, if you have a chance and time, to go to the Blog and watch it. It is broken down in three parts because of the time limit for each section, mandated by U Tube. 

  The link to the Blog is: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ If you click on the above address you'll go to the Blog. Because they have already posted other stuff today, after they posted my films, you'll have to go down two or three pages to see the films. 


 George and Edith when we were young. Edith was there for three or four months before the fighting started, then she had to return to Portugal in a hurry. I hope you'll enjoy it. Thanks, George Freire 

3. Tradução do inglês para português, pelo nosso camarada Miguel Pessoa: 

 Assunto - Blogue português "Camaradas da Guiné" 

 Alguns de vocês sabem que, antes de a Edith e eu termos vindo para os Estados Unidos em Outubro de 1963, eu servi no Exército Português em África, na Guiné Portuguesa, (agora chamada Guiné-Bissau), por um período de dois anos. 

 Existe um blogue muito interessante, em português, chamado "Luís Graça & Camaradas da Guiné", onde milhares de soldados portugueses que ali combateram, escrevem histórias de guerra, memórias, etc. No final do ano passado deparei casualmente com este blogue e, como podem adivinhar, interessei-me bastante em ler todo o material que foi e ainda continua a ser publicado neste Blogue, onde, até agora, já foram registadas quase 1.100.000 visitas. 

 Na época eu tinha escrito um diário cobrindo o período compreendido entre Outubro de 1962 e Maio de 1963, que entretanto lhes enviei... e que já foi publicado. Tinha também um velho filme de 8 milímetros feito naquele período em que lá estive e decidi fazer uma versão atualizada, com som e legendas, com a ajuda do Windows Movie Maker. Resolvi enviar-lhes o DVD e... adivinhem!, publicaram-no hoje no Blog, e também no You Tube. 

 O filme é bastante interessante (a Edith aparece em várias passagens), e peço-vos a todos, se tiverem uma oportunidade e tempo disponível, que visitem o blogue e vejam o filme. Ele foi subdividido em três partes, devido ao tempo limite para cada secção, de acordo com as normas do You Tube. 

 O link para o blogue é: http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/ Se clicarem no endereço acima, entram logo para o Blogue. Porque diariamente são publicados novos Postes (já houve várias entradas depois de o meu filme ter sido publicado), vocês terão que descer duas ou três páginas para ver os filmes. 


George e Edith, quando éramos jovens. A Edith manteve-se por lá por três ou quatro meses, antes de os combates começarem, tendo depois regressado rapidamente a Portugal. Espero que gostem do filme. Obrigado, George Freire 

  4. Comentário do editor L.G.: 

 Para melhor contextualizar o surpreendente filme que o George Freire nos mandou e que o Virgínio Briote pôs no You Tube (*), vamos recuperar alguns dados biográficos (***) do nosso camarada, hoje cidadão americano, se não me engano: 

  (...) "A [CCaç 153] de que originalmente fiz parte quando partimos para a Guiné, no dia 26 de Maio de 1961, foi criada em Vila Real de Trás-os-Montes, onde eu ainda tenente, segundo comandante e o capitão Curto, comandante, (do curso um ano mais velho do que o meu), passámos semanas a organizar a companhia. 

"De Vila Real todo o pessoal viajou para Lisboa de comboio e passados talvez uma ou duas semanas, partimos de avião, (dois aviões de transportes da FA), do aeroporto de Lisboa para Bissau, onde chegámos no mesmo dia ao anoitecer. (...) 

"De Bissau, onde passámos a noite, seguimos logo para Fulacunda, onde permaneci à volta de dois meses, após os quais chegou a minha promoção a capitão. 

"De Fulacunda fui transferido para Bissau para comandar uma companhia de nativos e render o capitão Helder Reis. Passei 4 ou 5 meses em Bissau, daí para o Gabu (outros 6 meses) e daí para Bedanda onde passei o resto da minha comissão" (...). 

  (...) " Durante o Natal de 1961 a minha mulher [, Edite,] veio passar um mês a Bissau onde eu estava na altura a comandar uma companhia de nativos. 

 "Em Julho de 1962 a minha mulher voltou para a Guiné e passou quase 3 meses no Gabu (Nova Lamego), onde eu comandei uma companhia mista. [Vd. vídeo nº 2, ou parte 2/3] 

"Do Gabu fui transferido [, em Novembro de 1962,] para Bedanda [, no sul, Região de Tombali,] onde ela ainda passou quase um mês, mas nos fins de Dezembro tive que a mandar de volta a Portugal pois as coisas começaram a aquecer demais". [Vd. vídeo nº 2, ou parte 2/73] 

Notas do seu diário (***): 

  1/3/63: Hoje pela 09:30 e mais tarde pelas 14:30, pessoal do pelotão do Cabedú sofreu emboscadas respectivamente entre Cafal e Cafine e no cruzamento de Cabante. Na segunda emboscada sofremos [ a 4ª CCAç ] um morto e um ferido. Uma viatura Chaimite  foi destruída na primeira emboscada. Seguiram dois pelotões reforçados para os locais das emboscadas. Em Impungueda uma patrulha da CCaç 859 travou contacto com os terroristas e feriu alguns e os outros conseguiram fugir. 

 2/3/63: Durante parte do dia de ontem e durante todo o dia de hoje as nossas forças percorreram todo o terreno nas zonas das emboscadas. Encontraram vestígios dos atacantes, fizeram um prisioneiro que tinha tomado parte numa das emboscadas, mas nada mais. O soldado ferido seguiu de avião para Bissau e o morto foi enterrado no cemitério de Bedanda.O prisioneiro foi interrogado mas poucas informações conseguimos. Foi enviado para o Batalhão [BCAÇ 356] para ser interrogado. 6/3/63: Fizemos um reconhecimento à zona de Emberem [Iemberém]. O alferes Gonçalves encarregou-se de falar aos chefes Fulas de Emberem [Iemberém] e discutir a possível mudança das suas tabancas para Bedanda. Há toda a vantagem dessas mudanças para incrementar a protecção da população Fula. Poderemos também formar aqui e em Bedanda um pelotão de uns 40 Fulas, o que nos poderá ajudar substancialmente na segurança da área e aliviar as nossas forças. Os chefes Fulas aceitaram a nossa oferta de braços abertos. 

 7/3/63: Começámos o transporte da população Fula de Emberem [Iemberém]. Usámos 10 viaturas neste movimento. Calculamos que serão necessárias 3 mais viagens semelhantes. [ Vd. vídeo 2, ou parte 2/3]. Chega por fim o dia do regresso a Lisboa (vd. vídeo nº 3, ou parte 3/3, musicado com um belíssimo fado interpretado pelo Carmos do Carmo (Uma flor do verde pinho, letra de Manuel Alegre, música de José Niza) (****): 

  (...) "No dia 18 de Maio, o capitão Nelson (meu colega de curso) veio render-me. Durante os 4 dias seguintes fiz a entrega da 4ª CCaç ao Nelson e no dia 21 de Maio segui de avião para Bissau. Aí estive à espera de transporte e finalmente no dia 27 de Maio parti de volta a Portugal no navio da CUF Ana Mafalda. (...) 

"Nos fins de Agosto [de 1963] pedi a minha demissão e parti com a minha família - mulher e duas filhas de 3 e 2 anos [ uma delas, a Isabelinha, que aparece no filme, hoje com 49 anos - ] para os EUA onde me encontro faz este ano 45 anos. Desde então tirei um curso de engenharia mecânica, trabalhei para outras duas companhias e, em 1989, formei a minha própria companhia de consultaria de projectos relacionados com energia de gás, co-geração, etc." (...) 

___________ 

 Notas de L.G.: 



 Com 76 anos, está reformado, foi empresário na área da engenharia. Vive em Chapin, South Carolina, Estados Unidos... Vem frequentemente a Portugal. Gosta de conviver e de viajar, do golfe, da pesca e da vela. Tem um blogue relacionado com a informática e aelectrónica: http://whatisyourquestionblog.blogspot.com/ 

 Título do blogue: "COMPUTER AND ELECTRONICS WORLD SHARING AND LOTS OF OTHER GOOD STUFF NOT RELATED TO COMPUTERS"... 

 É um homem do seu tempo que se descreve-se a si próprio como "a retired engineer deeply interested and involved in the solving of problems and frustrations of the computer and electronics world that surround us all"... 

 (***) Vd. postes de: 




 (****) Vd. Uma flor de verde pinho (Música: José Niza) (Letra: Manuel Alegre) 

Eu podia chamar-te pátria minha,
dar-te o mais lindo nome português,
podia dar-te um nome de rainha
que este amor é de Pedro por Inês.

Mas não há forma não há verso não há leito
para este fogo amor para este rio.
Como dizer um coração fora do peito?
Meu amor transbordou. E eu sem navio.

Gostar de ti é um poema que não digo,
que não há taça amor para este vinho,
não há guitarra nem cantar de amigo,
não há flor, não há flor de verde pinho.

Não há barco nem trigo, não há trevo,
não há palavras para dizer esta canção.
Gostar de ti é um poema que não escrevo.
Que há um rio sem leito. E eu sem coração.

Guiné 63/74 - P4527: Convívios (147): BCAV 490, Bissau, Como e Farim (1963/65), em Viseu (Valentim Oliveira)



1. Do nosso Camarada Valentim Oliveira, que foi Soldado Condutor Auto 784/63 da CCAV 489, do BCAV 490, recebemos a seguinte mensagem, dando-nos conta da confraternização anual do seu batalhão:

Camaradas,

Envio este curto texto sobre os acontecimentos do Almoço/Convívio do BCAV 490, que se realizou no dia 30 de Maio, em Viseu.

Este ano a organização tocou-me a mim e ao nosso camarada-de-armas, Luís Coimbra.

Pouco faltou para atingir a casa de duas centenas de “tropas”, entre os meus Camaradas presentes, seus queridos Familiares e estimados Amigos.

Foi um almoço em grande forma e nós, já “velhotes” ainda conseguimos ser “bons garfos” no faustoso repasto, a que não faltou o bolo comemorativo, bem regado com um não menos melhor espumoso.

O convívio ficou marcado por “Manga de Ronco”, com baile à mistura e tudo o mais a que achamos que temos direito.

As fotos anexas são o melhor testemunho das minhas palavras.

Fotos: © Valentim Oliveira (2009). Direitos reservados.

No próximo dia 20, lá estarei convosco na Ortigosa.

Um Alfa Bravo para todos os Camaradas “Tabanqueiros”,

Valentim Oliveira
______________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

domingo, 14 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4526: Os Nossos Camaradas Guineenses (10): Bodo Jau, mais uma história de miséria, que nos revolta (Carlos Silva)

1. Mensagem de Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2584/BCAÇ 2879, Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga, com data de 12 de Junho de 2009:

Amigos,

Estou na Madeira há dias, gozando umas férias deliciosas.

Contudo, não consigo desligar-me do que se passa no nosso Blogue.

Assim, é com satisfação que vejo as notícias sobre o 10 de Junho e a confraternização dos camaradas, bem como, a alegria dos convivas, estampada nas fotos.

No entanto, registo uma pequena frase do Bodo Jau para com o Miguel Pessoa, que com ironia do destino, para mim diz muito, quando diz a que ele "estava mais magro quando foi recuperado".

É verdade, mas vocês no meio dessa alegria toda sabiam que o Bodo Jau, pertenceu aos "Roncos de Farim" comandados pelo Alferes Ribeiro?

E sabiam que o Bodo Jau sobrevive com dificuldades?

E sabiam que é a Liga dos Combatentes que está a dar uma ajuda?

E sabiam que é a Junta de Freguesia da Damaia ou da Amadora que lhe está a dar de comer?

E sabiam que a Conservatória dos Registos Centrais lhe recusou a nacionalidade?

Enfim, a alegria que vocês sentiam, por ironia do destino, corre na alma do Bodo Jau uma grande tristeza.
É preciso ajudá-lo.



Vejam o meu SITE.

Quando chegar a Lisboa irei fazer um artigo ou contactar alguns amigos.

Pois o Blogue também tem de ter uma par Humana e Social ou então vou pensando nesta mensagem para depois falarmos na Ortigosa.

Até lá um grande abraço,
Carlos Silva
___________

Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4525: Um filme de George Freire (CCaç 153 e 4ª CCaç, 1962/63): Gabu, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... (V. Briote)

Parte 1/3 > Vídeo (9 ' 58'')



Parte 2/3 > Vídeo (9' 54'')



Parte 3/3 > Vídeo (9' 58'')

Filmagens feitas pelo então tenente e depois capitão Jorge Freire, da CCAÇ 153 e da 4ª CCaç, entre os anos de 62 e 63, com imagens do Gabu, Bissau, Cacine, Bedanda, Cumbijã, Bissau, Lisboa... Um conjunto de três vídeos (O nosso camarada George vive há mais de 40 anos nos EUA; na conta do Virgínio Briote, no You Tube, já estão disponíveis estes três vídeos).


Vídeos: Alojados no You Tube> bra6567>© George Freire (2009). Direitos reservados.


Recordando o que foi escrito em artigo anterior (*), Jorge Freire, entre Setembro de 1962 e finais de Maio de 1963, fez um filme da sua passagem pela Guiné, [em super 8 mm]. Embora algo deteriorado pelo tempo, podemos ver como era a Guiné naqueles anos.

O Gabu, Nova Lamego, a avenida principal, um domingo à tarde com as famílias, os esquilos amestrados, a mulher do Jorge com a filha do 1º sargento da companhia, mulheres à pesca de camarão, a operação de lavagem das roupas, ou como bater bem com as peças de roupa nas pedras, as bajudas e os meninos a brincar na água, a piscina, a fonte de água, o grande régulo Fula do Gabu, a mulher mais nova e a mais velha, aparentemente amigáveis uma com a outra, os netos, os trajes de cerimónia, o alfaiate da terra, o campo de aviação do Gabu e imagens do ar, na viagem para Bissau no Dornier.

Em Bissau, o render da guarda ao Palácio com a população a assistir e o regresso ao Gabu. A visita do Jorge aos pelotões destacados, no marco da fronteira com a Guiné-Conacri, na zona leste, em Buruntuma, a passagem em Mule (ponte) Blassi e o regresso a Bissau num barco comercial, com imagens do piloto da embarcação.

E depois, Bedanda, o aquartelamento [ainda em construção], as pirogas no Rio Cumbijã, a construção de instalações, os alferes da companhia (4ª CCaç, um dos quais viria a morrer em combate, dias depois), imagens filmadas antes da saída de uma patrulha, um prisioneiro amarrado que terá, durante uma emboscada, morto um dos soldados da companhia.

Patrulhas no Cumbijã, os tarrafos ao lado, os tarrafos dos nossos descontentamentos, soldados com Mausers, uma secção destacada em Chugué, a transferência da população Fula de Imberém, no Cantanhez, para Bedanda, as festas que se seguiram, bajudas com as belezas à mostra… O início da guerra...

Comissão terminada, o regresso a Bissau e depois “eu vou chamar-te Pátria minha”, na voz do Carlos do Carmo, enquanto os olhos se espraiam lá do alto pelos rios e ribeiros, as margens, as florestas, as lalas.

Imagens que era costume, alguns de nós, registarem, quem sabe com o receio de nunca mais nos lembrarmos… Em Bissalanca, um MG branco ou creme rodeado de especialistas da FAP, a torre de controlo, a visita à Guiné de dois adidos norte-americanos, o adido comercial e o adido militar, o coronel Jeffries, e as últimas vistas de Bissau no último fim de semana, antes do regresso à pátria, no Ana Mafalda.

A fortaleza da Amura, o porto de Bissau, o desembarque no cais e o desfile de um pelotão (Caçadores?) de nativos, o capitão Simões, tão falado pelo Amadu Bailo Djaló nos seus escritos e, no dia do embarque, no Ana Mafalda, em 26 de Maio de 1963, o movimento em dias de movimento de navios, o cais de embarque nº 2, o navio em manobras, a afastar-se, com a Amura e Bissau a recortarem-se, cada vez mais pequenos.

Depois, o Atlântico, as Canárias no horizonte, até, finalmente, começarem a ver a costa, com Lisboa cada vez maior, no Tejo de tantas entradas e saídas, a volta ao Bugio, o jovem capitão Jorge Matias Freire, à civil, de fato à anos 60 e Lisboa ali tão perto que já se via gente à espera deles, de lenços no ar, a Torre de Belém, o Monumento aos Descobrimentos, e, como um agradecimento, as últimas imagens são do capitão, do imediato e do médico do Ana Mafalda.

A guerra na Guiné ainda estava muito, mesmo muito, no princípio. Mas para os quatro soldados, um sargento e um alferes da companhia do capitão Jorge Freire, em Bedanda, a guerra tinha acabado. É, com a lembrança deles, que o Jorge Freire termina este pequeno filme.

_________

Notas de vb:

1.Artigos do Jorge Freire em 11 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3724: História de Vida (13): 2ª Parte do Diário do Cmdt da 4ª CCaç (Fulacunda, N. Lamego, Bedanda): Abril de 1963 (George Freire)

10 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3717: História de Vida (12): Completamento de dados (George Freire)

29 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3681: Tabanca Grande (106): George Freire, ex-Comandante da 4ª CCaç (Fulacunda, Bissau, N. Lamego, Bedanda). Maio 1961/Maio 1963)

2. A Companhia de Caçadores 153 foi mobilizada pelo RI 13 de Vila Real e comandada pelo Capitão de Infantaria José dos Santos Carreto Curto. Embarcou para Bissau em 27Mai61 (via aérea) e regressou em 24Jul63.

A 26Jul61 foi colocada em Fulacunda destacando forças para Empada, Cufar, Catió e Bolama, por periodos variáveis. A 7Fev62 foi rendida pela CCAÇ 274 e foi colocada em Bissau. A 11Fev62 rendeu a CCAÇ 74 em Bissau. A 21Jul63 foi substituida pela CCAÇ 510, ficando a aguardar embarque.

Informação de José Martins.