quarta-feira, 24 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4573: Tabanca Grande (154): António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72

1. Mensagem de António Tavares, ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72, com data de 12 de Junho de 2009:

Caros amigos,

Acabei de ler vários escritos sobre a Guiné que desconhecia existir em blogue.
Parabéns aos autores pelas fotos, textos e suas memórias.
Obrigado por me terem lembrado e visto HOMENS, alguns já falecidos.

Em 1970/72 estive em Galomaro, dentro e fora do arame farpado tendo viajado por Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego, Saltinho e muitas tabancas.

Tive sorte de nunca ter dado um tiro apesar de ter estado sob fogo e tido muitos sustos!

Amiga G3 saíste da minha mão virgem e limpa conforme te recebi e com toda a certeza que me agradeceste o descanso que te dei durante 23 meses embora muitas vezes estivesses engatilhada para me ajudar!

Amiga G3 foi desumano o transporte para Bambadinca dos nossos amigos defuntos caídos na emboscada da noite de 01-10-1971... e no regresso trazer 6 urnas para reserva...
(*)

Amiga G3 vamos pertencer a uma Tabanca Grande, diferente das outras onde estiveste mas é bom recordar a História e Estórias dos ex-combatentes.

As histórias:

- Assisti no mercado de Bafatá à algazarra e disputa dos guineenses para comprar por 2$50 pesos uma iguaria que era uma enorme cabeça de macaco.

- O cão no Batalhão que uivava antes do hastear e do arriar da bandeira.

- Tratava todos pelo nome mas o Comandante do Batalhão reuniu os Oficiais e Sargentos para dar uma reprimenda porquanto os Soldados tratavam-se pelo número e não pelo nome.

- O Gen Spínola dizia que os nossos Soldados eram os melhores do mundo mas não tinham comandos à altura deles.

Enfim!… a guerra não era minha/nossa - milicianos - e infelizmente cheguei à triste conclusão de que os serviços prestados àquele bom Povo foram em vão.

Envio uma fotografia do nosso 16.º Convívio, na Covilhã em 06-06-2009, agradecendo a todos os meus ex-camaradas as alegrias e tristezas compartilhadas e passadas juntos.

Com um abraço do,
António C S Tavares
Fur Mil SAM
CCS/BCAÇ 2912
Galomaro
1970/72



2. Mensagem resposta enviada ao nosso camarada Tavares no dia 13:

Caro Camarada
Obrigado pelo teu contacto
Depois de lermos o que escreveste, só podemos convidar-te a aderires à nossa Tabanca Grande, assim se chama o nosso Blogue.

Como poderás verificar pela nossa apresentação, no lado esquerdo da nossa página, somos uma tertúlia de ex-combatentes da Guiné que mais não quer que deixar estórias, ou histórias, contadas na primeira pessoa, aos nossos vindouros, para que a nossa memória não seja esquecida. Não nos move sentimentos de saudosismo, mas não queremos ser esquecidos. O nosso sacrifício pode ter sido em vão, na realidade aquela terra não era nossa, mas não temos que nos envergonhar por termos respondido à chamada.

A prova de que não deixámos inimigos na Guiné, hoje Guiné-Bissau, é a maneira como somos recebidos, mesmo por aqueles que nos combatiam.

Caro camarada, se quiseres contribuir com as tuas histórias e as tuas fotografias, manda-nos uma foto do teu tempo de tropa e outra actual, tipo passe de preferência, em formato JPEG.

Vendo a fotografia de grupo que mandaste, julgo reconhecer um amigo que está à direita da foto, com calças claras e cabelo branco. Será o Francisco Figueiredo, ex-Fur Mil?

Caro Tavares, somos quase vizinhos, moro em Leça da Palmeira e devo ter sido teu contemporâneo nas Caldas da Rainha (Abril de 1969/6.ª Companhia do Cap Curado). Fui para a Guiné em Abril de 1970 e regressei em Março de 1972. Estive 22 meses em Mansabá.

Fico a aguardar as tuas notícias.
Um abraço
Carlos Vinhal
Co-editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


3. Mensagem de António Tavares com data de 17 de Junho:

Caro Carlos Vinhal,

Agradeço o convite, que desde já aceito!

O Francisco M L Figueiredo, ex-Cabo Escriturário, foi um dos camaradas do Porto que reuni dentro de uma tenda fechada - o depósito de bebidas - para festejar o meu aniversário… e saímos todos muito alegres e contentes que foi preciso levarem-me ao abrigo e deitarem-me... tal foi a festança!.

Apesar dos maus momentos passados gostei da Guiné pelo que vi, ouvi, senti e aprendi com os guineenses e todos os que não queriam aquela guerra mas foram obrigados a ir.

Tenho lido algumas coisas sobre a Guiné e sou associado da A.P.V.G. e da Liga dos Combatentes, respectivamente com os n.ºs 21 898 e 63 146… o que desconhecia era o vosso blogue e o que os seus diversos escritos fielmente descrevem.

Fui incorporado, no R.I. 5, Caldas da Rainha, na 4.ª Comp.ª, com o n.º 615/69, em 08JAN69.

Nasci em 13JUL48, sou reformado, casado, moro na Foz do Douro e trabalhei no Porto e em Matosinhos numa Companhia de Seguros.

Fui sócio do Leixões SC e no campo de Santana assisti a tiros num jogo entre o Leixões SC e o Sporting CP e à queda de neve noutro jogo com o Vitória Guimarães.

Estudei na Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, actual João Gonçalves Zarco.

Com este historial de pessoas, entidades e localidades é quase certo que já nos cruzamos aqui ou na Guiné onde estive, 23 meses e 22 dias, de 01-05-70 a 23-03-72.

Um abraço do,
António C S Tavares


4. Mensagem de CV para António Tavares no mesmo dia:

Caro camarada
Ao olhar a tua foto actual, pensei, conheço esta cara perfeitamente. De repente fez-se luz. Eras funcionário da Companhia de Seguros existente na esquina da Rua Brito Capelo com a Rua Tomás Ribeiro. Fui vosso segurado durante muitos anos. Conheço o vosso colega A. O. desde infância.
Somos contemporâneos da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, mas não tenho presente como eras então.
Eu era do Curso de Formação de Montador Electricista e entre outros tive como colegas, o João (bébé do Leixões), julgo que ex-combatente da Guiné; o Veiga Pereira que jogou hóquei no Leixões, ex-combatente na Guiné (CCAÇ 2405); Carlos Veiga, que morava em frente ao Campo de Santana, primo do outro Carlos Veiga que jogou no Leixões e no Sporting; António Maria, que mora agora em Leça da Palmeira, ex-combatente na Guiné (Esq Rec Fox 2640); Lima Ferreira, ex-combatente na Guiné (BENG 447) e o Soeiro, julgo que também ex-combatente na Guiné. E mais não lembro.

Sou da segunda incorporação de 1969 das Caldas, como já te disse e depois fui para Vendas Novas. Ainda fiz Minas e Armadilhas, fui parar à Madeira 4 meses e finalmente 23 na Guiné.

Caro Tavares, não prometo apresentar-te à tertúlia esta semana, porque tenho isto tudo numa barafunda por causa do encontro de sábado, mas para a semana ficas apresentado.

Um abraço e muito obrigado, mais uma vez, por te teres dirigido a nós
Carlos Vinhal


5. Mensagem do dia 20 de Junho de António Tavares:

Caro Vinhal,

Com tantas coincidências tinha a certeza que nos conhecíamos!

O A.O. foi meu colega de trabalho e de estudos, à noite no SPI, na Escola Comercial Oliveira Martins, na Rua do Sol, no Porto… como via mal ficava à frente e tapava a visão aos outros colegas! (1)

Eu tenho o Curso Comercial e frequentei uma turma mista, naquele tempo havia diferenciação nas escolas – femininas e masculinas!

Na Comercial as meninas ficavam nas carteiras da frente e só depois os rapazes.
A escola Industrial e Comercial estavam divididas pelo edifício da antiga Biblioteca Florbela Espanca, onde estava o Director Eng Machado Gouveia, e um palacete na Rua Conde Alto Mearim – Comercial - e posteriormente unificou-se no actual local.

O jornal Matosinhos Hoje n.º 617, de 29-06 a 05 de Julho de 2005, trazia um suplemento sobre os 50 Anos da Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, actual Escola Secundária João Gonçalves Zarco, onde constam várias histórias de alunos e o nome de conhecidos professores, contínuos e alunos.

Agradeço a substituição da foto da recruta por esta até porque foi tirada no dia do meu aniversário, conforme escrito no verso, antes da festança descrita no anterior e-mail.

Um abraço e um óptimo convívio,
António C S Tavares


6. Comentário de CV:

Caro Tavares, sê bem-vindo à nossa Tabanca.
Podes instalar-te à vontade. Poderás verificar que o Concelho de Matosinhos, em particular, e o Grande Porto, de modo mais abrangente, estão muito bem representados no nosso Blogue. Estás portanto em família. Não quero com isto dizer que os outros camaradas não mereçam a nossa especial amizade. Claro que sim. Não diferenciamos, sexos, postos militares, antigos e actuais, idade, habilitações literárias, posições na sociedade e tudo o mais que possa interferir numa saudável e franca camaradagem. Une-nos mais que qualquer outra coisa o termos pisado o chão da Guiné, de Norte a Sul, de Leste a Oeste. Ter sido grande operacional ou Escriturário não faz grande diferença. Cada um viu a Guiné e a Guerra conforme o local, época e especilaidade. Todas as experiências são válidas.

És nesta tertúlia, mais um camarada que conheço de longa data, curiosamente não me lembro de ti na Escola, porque como descreves, ela estava dividida em dois edifícios, tu num lado e eu noutro, mas lembro-me de te ver no teu local de trabalho, onde ia com alguma frequência.

Lembro-me perfeitamente do Director Eng.º Machado Gouveia, substituído, aquando da inauguração do edifício actual, pelo Dr. Fortes Lima, que curiosamente tinha ido de Director de uma escola secundária de Bissau para Director da Escola de Matosinhos. Ouvi muitas histórias da Guiné contadas por ele, sem imaginar que um dia iria lá parar.

Sobre o teu Batalhão há alguns postes já publicados por camaradas teus. Para procurares, basta que na janela de pesquisa escrevas "CAÇ 2912" e clicar em Pesquisar no Blogue.

Caro Tavares ficamos à espera das tuas histórias, mesmo sem tiros, eu também não disparei contra ninguém, felizmente.

Recebe, da tertúlia, o abraço fraterno de boas-vindas, do qual sou portador, para ti.
CV

(1) - O nosso comum amigo A.O. mede só 2,04 metros de altura. Eu e o Tavares pouco mais somos que pigmeus junto dele.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 12 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2529: PAIGC: Emboscada a forças do BCAÇ 2912, na estrada Galomaro-Bangacia (Duas Fontes), em 1 de Outubro de 1970 (Luís Graça)

Vd. último poste da série de 18 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

Guiné 63/74 - P4572: Convívios (150): 7º Encontro da CART 3521 - Piche, Bafatá e Safim (1971/74), em Santo Tirso (Henrique Castro)



1. Mensagem do Henrique Castro, Soldado Condutor da CART 3521:


Camaradas,


Mais uma vez, este ano, me coube organizar o convívio anual da minha companhia sendo este o 7º.

Devido à actual conjuntura do país, já era de esperar uma fraca adesão, mas mesmo assim, realizou-se no passado dia 10 do corrente mês (dia de Portugal, das Comunidades e de Camões), em Monte Córdova - Santo Tirso -, junto ao Mosteiro da Nossa Senhora da Assunção.

Por estar um dia bastante chuvoso não nos foi possível sair do restaurante, para ver a beleza exterior e interior do mosteiro, assim como o belíssimo e grandioso parque florestal que o rodeia.

Quero deixar aqui o meu sincero agradecimento á Câmara Municipal de Santo Tirso por ter disponibilizado umas t-shirts, bonés e esferográficas, podendo todos os convivas levar para casa uma lembrança de Santo Tirso, dispensando assim a aquisição do habitual brinde, cujo acrescento tornaria mais dispendiosa o pagamento final do convívio.

Quero também agradecer á filha do nosso camarada Esbrita e ao seu marido, por o excelente trabalho que fizeram, quer nas fotografias, quer no filme.

Quem quiser ver o filme, entra no site www.chaosdanossaterra.tv e clica de seguida na freguesia de Santo Tirso.

Este nosso convívio sofreu um intervalo de 4 anos, em relação ao anterior, que foi em Junho de 2005. Claro que foi muito tempo, pelo que, daqui para o futuro, os convívios serão anuais, independentemente dos locais e da importância monetária que os mesmos acarretem.

Tenho a certeza que há sempre alguém, que não deixará de comparecer dando-me assim bastante força e alegria para continuar.

Faço-o com muito gosto, já o disse no postal de entrada, para o blogue sem qualquer lucro pessoal. Não ganho um euro com isto, apesar de eventualmente alguém pensar que o possa ganhar (o que para mim me é completamente indiferente).

Posso garantir que, antes pelo contrário, pago do meu bolso alguns euros em fotocópias, selos, envelopes, telefonemas e deslocações, para organizar os nossos convívios, além do excessivo trabalho que os mesmos me dão.

Mas, como diz o ditado: Quem corre por gosto não cansa!














Foto 1 – Conjunto dos convivas da CART 3521, excluindo o alferes Sá Fernandes, primeiro tabanqueiro da CART 3521,que teve que se ausentar. Assim, a começar pelo Afonso (casaco branco e óculos), Albano, Leite, Marques, Magalhães, Castro, Esbrita, Capitão, Desidério, Vieira, Sousa, Silveira, Moura, Soares, Matos, Brás Moura, Josué Franco, Brito, Abreu, Caetano e Massarelos.
Foto 2 – As nossas esposas e familiares.















Foto 3 - Eu e minha esposa altamente bem dispostos já depois de comer bem e beber melhor.
Foto 4 - Massarelos e Josué Franco (agora quase vizinhos).













Foto 5 - O nosso capitão junto da minha esposa, a esposa do Albano e a esposa do Magalhães. Parecem preparar uma estratégia de “defesa” mediante um eventual ataque dos maridos. Ao fundo, o Vieira certamente a pensar na vida. O bolo da companhia sem a referência ao “7º convívio da CART 3521”, facto a que sou alheio.
Foto 6 - O capitão e o furriel Albano partem o bolo, eu atrás, e o furriel Magalhães ao lado, observámos o “trabalho” atentamente.

Fotos: © Henrique Castro (2009). Direitos reservados.

Os meus cordiais cumprimentos,

Henrique Castro,
Soldado Condutor da CART 3521
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

Guiné 63/74 - P4571: Dando a mão à palmatória (21): Irra é “AB” de Abraços, ou de Alfa Bravo e não de Almeida Bruno (Jorge Teixeira/Portojo)





1. Mensagem de Jorge Teixeira, ex-Fur Mil do Pelotão de Canhões s/recuo 2054 (Catió, 1968/70), esteve adido aos BARTs 1913 e 2845, com data de 19 de Junho de 2009:




Camaradas,

Há dias assim...

Deve ser da idade, como diz a minha médica, ou de outra coisa qualquer, digo eu.

Lendo os comentários que a malta generosamente deixou no meu "poste", sobre Desertores e Afins, interpretei errada e distraidamente o “AB”, ali empregue no fim da mensagem, que o António Matos deixou escrito.

E também a referencia ao pedido de desculpas. Até respondi que infelizmente não conhecia o homem e comentei que… talvez ele um dia apareça.

Hoje de manhã ao ler os "postes" da malta, lá vejo num deles uma referência a AB, que logo deduzi “Alfa Bravo”, iniciais da palavra ABRAÇOS.

Mas só depois de ler a sua célebre frase: "Toma nota Bruno" - que é verdadeira, pois um dia ouvi-a da boca do próprio -, é que a minha mona começou a girar ó pra trás e veio relembrar-me o AB do comentário do Matos… eheheheheheh…

Acreditem, acredita Matos, que o que escrevi em relação ao teu comentário foi com o pensamento bem longe do homem “AB” de quem tanto gostamos.

Foi uma autêntica ingenuidade.

Há dias assim...

A talhe de foice, deixo aqui uma boca que foi ouvida na Tabanca de Matosinhos na quarta-feira.

Um dos camaradas disse-me que ele, o AB, foi deixar flores no nosso monumento em Lisboa.

Pesquisei, já pedi ao camarada “Pira de Mansoa” para investigar, por aí no blogue, se alguém confirma.

Pura curiosidade...

Terá sido uma “piada” dele?

Um abraço para toda a Tabanca.

Um abraço especial para ti do,
Jorge/Portojo
___________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

Guiné 63/74 - P4570: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (13): Operação Ortigosa!... Obrigado Camaradas, Familiares e Amigos! (Magalhães Ribeiro)

Nome de código: OPERAÇÃO ORTIGOSA.

Local: Atabancamento na Quinta do Paúl/Monte Real/Leiria.

Data: 20 de Junho de 2009.

Coordenadas Geográficas: 39º 50' 27" Norte; 8º 50' 24" Oeste.


Comandantes Operacionais: Miguel Pessoa, Joaquim Mexia Alves, Luís Graça e Carlos Vinhal.

Tropa Operacional efectiva: Companhia Tertuliana.

Tropas Reforços: 2 Pelotões de Familiares e Amigos.

Objectivos da Missão: Conhecer pessoalmente o pessoal "Tertuliano", reforçar laços de amizade, confraternizar, matar a fome de intercâmbio de informação, saberes, conhecimentos e outras conversas mais banais.

O Jogre Canhão e o Gaspar da 3ª Cia do BCAÇ 4612/72

Camaradas,

Apesar de ter "apagado" e reescrito várias partes deste escrito, volto sempre ao princípio e às mesmas palavras, pelo que, lembrei-me de iniciá-lo com uma pergunta, a que não me consigo esquivar, que acho muito estúpida e irrespondível: - Quem é que estaria mais satisfeito e comovido com a nossa animada, concorrida, única, festiva, fraterna e incomparável "campanha" que decorreu na maravilhosa Quinta do Paúl, em Ortigosa: o Luís Graça, o Carlos Vinhal, o Mexia Alves, o Miguel Pessoa, o Virgínio Briote, o Amadu Jaló, o Pedro Neves, o Tomás Carneiro, o Jorge Canhão, o Jorge Picado, o Belarmino Sardinha, o Torcato Mendonça, o... (éramos tantos)?

Éramos tantos, como tantos foram os sinais espelhados nos rostos dos presentes de satisfação, alegria e camaradagem, que me leva a dizer que, caso as nossas vidas pessoais e o nosso poder de compra assim o permitissem, "isto" se devia repetir, pelo menos, uma vez por mês. E não digo uma vez por semana, porque alguns de nós para se deslocarem para estes inesquecíveis encontros, além dos inúmeros quilómetros enfrentam também estradas em estado muito pouco recomendáveis.

Mas não era só nas nossas caras que se viam os mencionados sinais, pois também os nossos familiares e amigos, que se nos juntaram, contribuíram sobremodo para um redobrado ambiente festivo e amistoso.

Entre eles vi numa menina ainda novinha, linda, muito simpática e com ar de bem-estar, cujo nome registei: Cyndia Valentim, é neta do Valentim Oliveira (que faria qualquer avô "babar-se" de orgulho e vaidade, e com razão digo eu), e se manteve ali, sempre junta do seu querido familiar. Achei muito interessante como ela devorava atenta e curiosamente as nossas mais simples palavras e gestos.


Também vi um belo busto, pleno de porte e postura, que denota ser uma Grande Senhora deste nosso contraditório país, sempre com um lindíssimo sorriso na face. Já não é a primeira vez que nos dá o prazer de conviver connosco, chama-se Irene Fleming e é sogra do nosso estimado Camarada Virgínio Briote. Atenção que agora esta frase corrente fica absolutamente entre nós, amigo leitor, peço absoluto segredo, pois a idade das senhoras não se deve divulgar, disseram-me alguns camaradas entre admirados e algo cépticos, que esta Senhora tem 97 anos de idade (leram bem noventa e sete anos). Parabéns pela sua presença, demonstração de beleza, frescura e lucidez que nos impõe Dª Irene. Deus permita que nos acompanhe por muitos e bons anos.

Também vi lá, e conversei com ele, o incrível sobrinho do Alf Mil Manuel Sobreiro da CART 1612 (1967/69), morto num lamentável acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968, o Nelson Domingues (advogado estagiário) nosso amigo Tertuliano, que assim, por direito "substituiu" o seu falecido tio. Um raríssimo exemplo da juventude sã e solidária que nós tanto queremos e defendemos, que saiba honrar, defender e preservar a memória dos seus entes queridos e, em especial, aqueles que, como o seu tio, tombaram um dia em África, na guerra.

Também estiveram lá o Tertuliano, 1º Ten da Armada Carlos Valentim & Esposa. Na foto, à conversa com o Carlos Vinhal e que, segundo as suas palavras, fez muito gosto pessoal em ter estado ali connosco.

Também vi lá mais um periquito da minha "classe", mobilizado para a Guiné, imagine-se no dia 24A74 e "mandado" para a Guiné no pós-25A74, o Carlos Neves. Imagine-se o que foi ser mobilizado para a Guiné (leia-se INFERNO) no dia 24A74 e ver acontecer o 25A74 no dia a seguir. Que prazer eu tive em conhecê-lo pessoalmente, ainda por cima meu conterrâneo, trocar conversa e... “fazer” mais um bom amigo!

Como se tudo isto não bastasse, junte-se devidamente enquadrado na boa disposição geral evidente, um excelente serviço de restauração, onde houve abundância e variedade, com muita qualidade à mistura, durante o dia todo.

Calma que ainda não acabei, pois ainda tivemos uma excelente sessão de canto pelo Grande (em todos os sentidos e na verdadeira acepção da palavra) Camarada Mexia Alves, que foi responsável e competentemente acompanhado à guitarra e viola, pelo David Guimarães e Álvaro Basto.

Bem "berrou" o Mexia com toda a sua pachorra para se fazer ouvir, no meio daquele "aborrecido" ruído da vozearia “converseira” do pessoal, mas a fome de conversa era tanta e o tempo tão pouquinho, que, salvo raras e dignas excepções, restou apenas um ouvido para as canções, e outro para a conversa do Camarada do lado.

É verdade:

Aquilo foi festa forte e danada
Com malta Lusa... de lés a lés
Eram p'ra cima duma centena
Maneis, Joaquins e Josés

Um até veio dos Açores
Coisa incrível de acontecer
Qu'enorme força de vontade
Um exemplo d'enaltecer

Deu-se ao dente bem e farto
Molhou-se o "bico" tanto que baste
Falou-se mil horas a fio, mas...
Ninguém acusou o desgaste

Houve caras novas e não só...
Reencontros, fotos e lágrimas
Discursos, abraços e risos
Gritos, palmas e cantigas

E coisa que vem sendo habitual
A toda a Tertúlia dedicado...
Oito RANGERS unidos gritaram
O seu grito de guerra afinado

Que festança esta meu Deus!
Qu'esta gente dá altas lições
De fraterna e sã camaradagem
De convivência e emoções

E se alguém tiver dúvidas
Pró ano está convidado
Apareça e testemunhe
Com'a Guiné foi nosso fado

Foto: © Magalhães Ribeiro (2009). Direitos reservados.

Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74
___________

Nota de M.R.:

(*) Vd. poste anterior, desta série em:

Guiné 63/74 - P4569: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (12): Há fotos que valem por mil palavras... (Luís Graça)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > De um lado, os 16 aninhos, que tem a Cyndia, a neta do Valentim Oliveira, que está, em Viseu, a frequentar o 10º Ano (Ensino Secundário)... Ela é um amor de miúda, e o Valentim tem todas as razões para ser um avô babado e feliz, agora que recuperou do seu problema de saúde (recorde-ae que ele esteve hospitalizado em Coimbra e em Viseu, em Fevereiro passado)...

Do outro lado, a serenidade, a sabedoria e a graciosidade dos quase 98 anos, da Sra. Dona Irene Fleming, um presença constante nos nossos encontros anuais... (Tomem boa nota: faz 98 no próximo dia 4 de Novembro de 2009, o que quer dizer que nasceu em 1911, um ano depois da implantação da República). O Virgínio Briote trata-a, com a delicadeza e a nobreza com que ele trata toda a gente, por Mãe... Não é a sogra, mas a Mãe, a mãe da Maria Irene, outras das nossas companheiras que, segundo creio, ainda não falhou nenhum dos nossos encontros anuais... (Como sabem desta vez, a família engrossou, além dos três, veio mais um, o Amadu Djaló)...

À Dona Irene Fleming, de origem escocesa (os seus antepassados vieram para o Porto trabalhar, na 1ª metade do Séc. XIX no sector dos seguros, um ramo de actividade que então nascia, sob o liberalismo, com o desenvolvimento do capitalismo industrial), a Tabanca Grande deseja continuação de boa saúde e longa vida com a graça e a qualidade de vida que ela orgulhosamente ostenta...

Coincidência ou não, tanto o Valentim como o Virgínio têm outras coincidências: além de começarem por V (que é o V da Vitória, da Valentia, da Virtude e da Vida), têm um coração grande (que às vezes nem cabe bem lá no sítio...) e pertenceram originalmente à mesma unidade (um Soldado Condutor, o Valentim; o outro, o Virgínio, Alferes Miliciano): refiro-me à CCav 489/BCav 490 (1963/65).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

Guiné 63/74 - P4568: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (11): Um modelo de gestão de conflitos: Vasco da Gama, Luis Rainha, Rui Ferreira...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: Luís Rainha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho > Um dos passos importantes para a resolução construtiva de um conflito é evitar a fulanização e as situações em que é preciso "salvar a face", tipo "Com aquele gajo, só por cima do meu cadáver"...


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: António Carvalho, Rui Ferreira, Luís Rainha e Vasco da Gama... Ao fundo, do lado direito, o Francisco Godinho (que mora no Seixal) , ex-Fur Mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá... (Julgo que não se deu conta desta animada negociação de paz, da iniciativa do Vasco).

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: Luís Rainha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > Da esquerda para a direita: Luís Rainha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho > Diz o provérbio popular: "Os homens conhecem-se pelas palavras e os bois pelos cornos"...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 >Da esquerda para a direita: Luís Rainha, Vasco da Gama, Rui Ferreia e António Carvalho > Fnalmente, o bacalhau da reconciliação e da paz, acarinhado pelo Vasco, testemunhado pelo Carvalho e fotografado pelo Luís Graça...

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) Julgo que foi aqui, pela primeira vez, que se encontraram, face a face, o Luís Rainha e o Rui Ferreira, em tempos protagonistas de um conflito, que teve por origem uma troca de nomes no livro do último, Rumo a Fulacunda (2ª edição, Viseu, Palinage, 2003, pp. 106/107). O Luís publicou no nosso blogue uma carta de protesto, o Rui por sua vez reconheceu e procurou reparar o erro (*)... Conversaram então os dois, inclusive, ao telefone.

Isto passou-se em Agosto de 2008. O Carlos Vinhal, que estava nesse mês de serviço, como editor, lidou de maneira impecável e exemplar com esta situação difícil e potencialmente explosiva... O assunto ficou encerrado. Faltava, no entanto, o tête à tête, e o abraço de reconciliação...

O nosso IV Encontro Nacional foi o pretexto para o Vasco, amigo de infância do Luís, pôr os dois a falar e a esclarecer o que ainda havia a esclarecer e dar, por fim, o abraço (ou pelo menos o bacalhau) da paz...

Admirei, aplaudi e registei não só o gesto do Vasco da Gama, como a postura dos dois protagonistas, Luís Rainha e Rui Ferreira... (Na utilíssima presença, diga-se de passagem, do António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250, Os Unidos de Mampatá, Mampatá, 1972/74, hoje autarca em Gondomar, e habituado também ele a lidar com conflitos e suas sequelas).

Não é fácil, na vida real, gerir conflitos, não fácil a negociação, não é fácil arbitrar conflitos... Fica aqui o exemplo, vivo e didáctico, de que na nossa Tabanca Grande nós fomos capazes, quase sempre, de resolver de maneira construtiva e sem mágoas as nossas pequenas guerras, pessoais ou grupais...

Falo em bacalhau da paz por que tanto o Vasco como o Luís são da Figueira da Foz, cidade com gloriosas tradições na pesca e na conservação do bacalhau. Aém disso, o pai do Vasco era muito amigo do pai do Luís, o Dr. Rainha, médico de saúde pública e autoridade de saúde na Figueira... A amizade entre os dois estava muito para laém das suas posições públicas e políticas. O pai do Vasco era um homem da oposição democrática e republicana. O pai do Luís era um homem do sistema vigente.

É agora a boa altura para convidar o Luís Rainha a formalizar a sua entrada na nossa Tabanca Grande. Segundo elementos apurados pelo Carlos Vinhal que na altura lidou, com sabedoria, lisura e isençã, esta história, o ex-Alf Mil Luís Rainha teve o seguinte percurso militar:


(i) Além do Curso de Oficiais Milicianos, fez um estágio de Educação Física Militar e frequentou também com aproveitamento o Curso de Operações Especiais, em Lamego;


(ii) Foi colocado no Regimento de Cavalaria 7, em Lisboa;


(iii) Incorporado no BCAV 705/CCAV 704, foi mobilizado para a Guiné (1963/66);


(iv) Os primeiros meses passou-os na CCAV 704 e os restantes nos Comandos do CTIG, em Brá;


(v) Foi formado pelos então Major Monteiro Dinis, Cap Nuno Rubim, Alf Mil Justino Godinho, Pombo dos Santos e Maurício Saraiva, Sargento Mário Dias e Furriel Miranda (participantes na mítica Op Tridente, Ilha do Como, Jan/Mar 1964, com excepção dos dois primeiros);

(vi) Foi Comandante do Grupo de Comandos Centuriões, de que fez parte o nosso Amadu Djaló;

(vii) foi contemporâneo dos Alf Mil Cmd António Vilaça, Neves da Silva, Vítor Caldeira, Virgínio Briote e do então Cap Comd Garcia Leandro (hoje Maj Gen, reformado);


(viii) foram-lhe atribuídos dois louvores, um ao serviço do BCAV 705 e outro ao serviço dos Comandos do CTIG atribuído pelo Comandante Militar da Guiné;


(ix) mais tarde foi condecorado com a Cruz de Guerra de 2.ª Classe, por feitos em combate.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

29 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3155: Ainda o "Rumo a Fulacunda" e o ex-Alf Mil Luís Rainha (Carlos Vinhal/Luís Rainha/Rui Ferreira)

22 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3144: Dando a mão à palmatória (15): Alf Mil Rainha era comandante do Gr Cmds Centuriões (Rui A. Ferreira)

Vd. também:

17 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1285: Bibliografia de uma guerra (14): Rumo a Fulacunda, um best seller, de Rui Alexandrino Ferreira (Luís Graça)

1 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1718: Lendo de um fôlego o livro do Rui Ferreira, Rumo a Fulacunda (Virgínio Briote)

Guine 63/74 - P4567: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (2): Cambajú, uma janela para mundo

Guiné > Zona Leste > Contuboel > Tabanca dos arredores > CCAÇ 2479 (1968/69) > Centro de Instrução Militar > Um instruendo, de etnia fula, cuja identificação se desconhece...

A placa rodoviária assinala alguns das povoações, mais importantes, mais próximas, a norte: Ginani (17 km), Talicó (22 km), Canhamina (27 km), Fajonquito (30 km), Saré Bacar (39 km), Farim (96 km)...


Foto: © Renato Monteiro (2007). Direitos reservados.




1. Publicação da segunda de cinco pequenas histórias que o Cherno Baldé, novo membro da nossa Tabanca Grande, nos enviou, com memórias da sua infância e adolescência (*):


CAMBAJU: O primeiro contacto com o mundo exterior

por Cherno Baldé


Em Cambajú, pequeno centro comercial, começou o despertar da minha infância, altura em que, saído da pequeníssima aldeia de Sintchã Samagaya, fundada por meus pais, aterrei-me numa aldeia de muito maior concentração de moranças e de gente.

Cambaju estava situada mesmo na linha da fronteira com o Senegal, o que lhe emprestava um certo ar cosmopolita onde se cruzavam pessoas de várias origens e destinos e um certo movimento de vaivém de pessoas e mercadorias com as suas três ou quatro casas comerciais, algumas pequenas boutiques e o contrabando pra cá e pra lá das duas fronteiras.

O meu pai era encarregado de uma das casas de comércio, e aquele movimento a que não estava habituado, fascinava-me e me prendia a atenção ao lado do meu pai ocupado a atender as pessoas que vinham comprar mercadoria diversa. Ele nunca tinha tempo para mim e as minhas inúmeras perguntas.

Junto ao balcão, havia um velho aparelho de rádio que ora passava músicas do Mali em língua Bambara ora transmitia discursos intermináveis em Surua (Olof). Eu não gostava nem de uma nem de outra, todavia queria saber como é que aquelas pessoas tinham conseguido entrar lá dentro daquela caixa pequena e ficar por lá durante todos esses dias a falar e a cantar sem precisar de água ou comida, era a questão que me intrigava.

Todavia o meu pai não respondia às minhas questões ou porque não tinha tempo a perder comigo ou porque também tinha lá as suas dúvidas não esclarecidas, normais, na altura, para um aldeão iletrado como ele, mesmo trabalhando para gente da cidade. Quando não negociava com os comerciantes ambulantes que traficavam para o Senegal, atendia as mulheres que pediam conselhos sobre a escolha de tecidos para as próximas festas, no meio de risos e galanteios banais.

Ele tinha um jeito especial de atender as mulheres e via-se mesmo que o fazia com muito prazer. As mulheres, também, ao que parece, não eram indiferentes à simpatia do meu pai que todos consideravam um homem bem parecido. Ele raras vezes ficava irritado o que só acontecia quando alguém, de forma inesperada, mudava a sintonia do rádio e sobretudo se calhava que fosse a rádio da Guiné-Conakri onde de repente explodia a voz imponente de Sékou Turé.

Não era segredo para ninguém que as autoridades coloniais portuguesas não apreciavam aqueles que ouviam esta rádio e o meu pai, certamente, fazia parte das pessoas de bom senso. Ele tinha consciência clara da importância da formação escolar, numa altura em que o analfabetismo e o obscurantismo eram dominantes e se fazia sentir a entrada em força da religião islâmica na sua forma mais primitiva e intolerante importada por homens semi-letrados de Futa Toro e Futa Djalon.

Uma vez, ouvi-o lamentar, numa conversa com a minha mãe, a sua condição de analfabeto, pois este facto aprofundava a sua dependência e impotência 'vis a vis' dos seus patrões que vinham executar balanços regulares e que, não raras vezes, elogiavam seu desempenho financeiro, sem qualquer contrapartida, certamente, devido aos enormes lucros acumulados, numa zona de fronteira aberta ao tráfico e contrabando de mercadorias e de câmbio de divisas dos dois lados.

Esta constatação não será alheia ao facto de o nosso pai, insistir mais tarde, apesar da adversidade do ambiente reinante, na nossa educação escolar, já em Fajonquito, para onde o meu pai foi transferido, precisamente para trabalhar numa loja ainda mais importante, em jeito de prenda pela sua dedicação, mas também porque o acesso à localidade de Cambaju estava cada vez mais perigosa devido aos ataques e minas colocadas pelos guerrilheiros na estrada que ligava Fajonquito a Cambajú.

Cherno Abdulai Baldé, Chico
Natural de Fajonquito,
Sector de Contuboel, Região de Bafatá

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

19 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4553: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (1): A primeira visão, aterradora, de um helicanhão

18 de Junho de 2009 >Guiné 63/74 - P4550: Tabanca Grande (153): Cherno Baldé (n. 1960), rafeiro de Fajonquito, hoje engenheiro em Bissau...

terça-feira, 23 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4566: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (10): Obrigado, camarigos!... Obrigado, António Bonito! (Joaquim Mexia Alves)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) O grito do ranger... No grupo, reconheço, da esquerda para a direita, o Luís Raínha, o Casimiro Carvalho, o J. Mexia Alves, o José Pedro Neves, o António Pimentel (de que só se vê a cabeça, entre o Mexia Alves e o Pedro Neves), o Santos Oliveira (de boina), o Benjamim Durães e o Eduardo Magalhães Ribeiro. Cada um da sua época e sítio: o mais antigo é o Santos Oliveira, e o mais pira dos piras, o Eduardo, o nosso pira de Mansoa (embarcou para a Guiné já depois do 25 de Abril de 1974)...

Vídeo (12''), fotos e legendas: © Luís Graça (2009). Direitos reservados

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O homem da massa, graveto, grana, carcanhol, guita, patacão, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões (como é rica, ao menos, a língua da gente!)... Na hora da dolorosa, passaram-lhe pelas mãos, dele Joaquim e dos seus ajudantes, cerca de 4 mil aéreos... Não faltou um cêntimo...


O Nelson Domingues (Monte Real / Leiria), membro da nossa Tabanca Grande e hoje advogado estagiário, fez questão de se inscrever no nosso IV Encontro Nacional, homenagenando mais uma vez a memória do seu tio, Manuel Sobreiro, Alf Mil de Minas e Armadilhas, CART 1612 (1967/69), morto numa acidente com um granada defensiva, em Mampatá, em Fevereiro de 1968... Ele é um exemplo extraordinário de dedicação a uma causa, a da preservação da memória do seu tio, o Sobreirito, natural de Leiria.

O Joaquim Mexia Alves, recebendo o patacão de um Homem Grande, António J. Pereira da Costa, que mais uma vez veio ao nosso encontro, com a sua amável esposa, Isabel (esteve na Guiné, entre 1972/74, e nomeadamente em Mansoa: também já a desafiei a escrever sobre esse tempo e lugar...).

O meu querido amigo e camarada da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), o ex-Fur Mil Trms, José Fernando Almeida que veio com a sua Suzel (vivem em Óbidos e vão organizar para o ano o convívio da malta de Bambadinca 1968/71, CCS/BCAÇ 2852, CCAÇ 12 e outras subunidades).


O ex-Fur Mil António Sousa Bonito, do Pel Caç N 52, que esteve no Mato Cão, com o Joaquim Mexia Alves...(Aqui à conversa com o Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70, que o J. L. Vacas de Carvalho foi substituir...

O Bonito pertenceu originalmente à CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo (1971/74), companhia a que pertenceu ao nosso tertuliano nº 2, o Sousa de Castro, que infelizmente não pôde vir este ano ao nosso Encontro... O Bonito, que vive em Montemor-O-Velho, veio de propósito fazer uma surpresa ao Joaquim... Também falei com ele sobre a CCAÇ 12 do seu tempo... Gostaria de o convidar para ingressar no nosso blogue.

O sempre bem disposto J. Casimiro Carvalho, ex-Pirata de Guileje (CCAV 88350, 1972/74), com outro ranger de Lamego, o nosso Joaquim...


1. Mensagem do Joaquim Mexias, elemento da Comissão Organizadora do Nosso IV Encontro Nacional:

Meus caros camarigos

Já agradeci via mail, ao Carlos Vinhal, ao Miguel Pessoa e ao Luís Graça, a festa linda que tivemos no Sábado dia 20.

Dizia-lhes eu que recebi alguns elogios, mas que todos lhes eram devidos.

Vós, meus camarigos, não fazem ideia do trabalho que o Carlos Vinhal teve na organização e acerto das inscrições, dos nomes das dormidas! Quantos telefonemas e mails a marcar e desmarcar, a dar nomes só com nome próprio e por aí fora!

Vós não sabeis também da dedicação e trabalho do Miguel Pessoa, em não querer que nem um só ficasse sem cartão de identificação e preocupando-se se os nomes dos camarigos, mas também das camarigas, estavam certos!

E ainda foi fazer mais uns cartões para colocar nas portas da Pensão de modo a que cada um “não se enganasse” no seu quarto!

Vós não sabeis que o Luís Graça andou nestes últimos dias por esse Portugal fora, mas sempre deixando uma mensagem, uma lembrança, uma palavra, um estímulo, um elogio!
Sempre com uma calma impressionante, uma sensatez cativante, um apoio permanente!

Por isso lhes enviei a minha mensagem de agradecimento, mas quero, (se eles me permitirem), deixá-la aqui publicamente.

E a vós todos camarigos que responderam á chamada, com o vosso empenho, com a vossa boa vontade em achar tudo muito bem, com as vossas histórias, fazendo história, o meu obrigado também!

E às vossas camarigas, que arrostaram com o sol, que arrostaram com as histórias intermináveis e tantas vezes repetidas, mas que emprestaram a graça e a beleza ao nosso almoço, o meu agradecimento profundo!

E a vós também camarigos, que ficaram por lá, porque não puderam vir certamente, com grande pena vossa e nossa também, o meu obrigado porque estivestes connosco no pensamento, no coração, nas histórias contadas!

Pois é, estes encontros, têm muito de tudo, e sobretudo têm muito de emoção.

O Carlos Vinhal pregou-me uma surpresa como poucas vezes tenho tido! Escondeu-me sempre, colocando apenas parte do nome, a presença no almoço do meu Furriel António Bonito! Ia-me matando do coração!!!

Disse-o então e digo-o agora: Se alguma sanidade mental conseguia manter, devo-o à presença do Bonito, e à sua companhia no Mato Cão!

Não preciso de estar com ele muitas vezes, nem ele comigo, para ambos sabermos que em cada uma das nossas vidas há um quarto, há um espaço, que tem o nome de ambos gravado.

A guerra tem destas coisas, constrói amizades, que vão para além do tempo, do espaço, do encontro.

Obrigado Carlos Vinhal, obrigado António Bonito!

Como a Tabanca não deve ter outra fotografia do Fur Bonito aqui deixo esta no Mato Cão, ao fim da tarde, quando o sol se punha e a melancolia atacava... (Foto à esquerda, do JMA).


Já sei que devem estar a dizer ao lerem isto:
- E o gajo, que não lhe desse para o sentimento!!!

Abraço camarigo do tamanho do sentimento que nutrimos uns pelos outros, por Portugal e pela Guiné.

Joaquim Mexia Alves

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 23 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4565: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (9): Em busca de letras de fado, perdidas no restaurante da Quinta do Paúl (José Brás)

Guiné 63/74 - P4565: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (9): Em busca de letras de fado, perdidas no restaurante da Quinta do Paúl (José Brás)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > O José Brás (Montemor-O-Novo) e o José Rocha...

Tive muito gosto em reencontrar o José Rocha, ex-Alf Mil, CART 2410, Os Dráculas (unidade que esteve em Guileje, entre Junho de 1969 e Março de 1970). Conheci-o no Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008). É um homem do norte (Penafiel, creio eu). Presumo que se tenha inscrito no nosso IV Encontro à última hora, uma vez que não tinha visto o seu nome na lista dos participantes.

O Vasco da Gama (que veio da Figueira da Foz, que tem estado adoentado, e que perdeu entretanto ums bons 14 quilinhos) em amena conversa com o José Brás, autor da nova série Vindimas e Vindimados. Recorde-se que o José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, é autor de um premiado romance, de 1986, Vindimas no Capim (Lisboa, Europa-América). Pertenceu aos quadros da TAP, tal como outros camaradas nossos (por exemplo, Mário Fitas e Alberto Branquinho, dois outros escritores (autores com livros publicados...) que honram a nossa Tabanca Grande, a par do Beja Santos, do António Graça de Abreu, o Abel Rei, o Manuel Traquina, o Jorge Cabral, o Rui Ferreira, o Coutinho e Lima, o Manuel Basto, etc. - cito de cor, estou de certo a omitir alguém).


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados

1. Mensagem de ontem enviada pelo correio interno da nossa Tabanca Grande, pelo Carlos Vinhal:

Caros Camaradas e amigos que estiveram no IV Encontro (*)

Atentem por favor ao mail do nosso camarada José Brás e, se alguém tiver em sua posse os textos referidos, por favor façam-nos chegar a ele, pois são importantes.
Agradecemos a pois a vossa atenção.
Um abraço

Carlos Vinhal

2. Apelo, do José Brás

Carlos:

Anteontem em Ortigosa ofereci ao Vasco da Gama um grupo de textos em A4 sob o título genérico “Fado Contraditado”.

Ontem ele informou-me que haviam desaparecido no restaurante, julgando ele que alguém os terá guardado.

Desses 10 textos, 2 farão parte do próximo disco do Carlos do Carmo e outros (não todos) ficarão com uma fadista jovem.

Naturalmente que não tem qualquer problema o desaparecimento e, se foi alguém que gostou, até é bom. Eu mesmo terei muito gosto em oferecer exemplares a quem os pedir. Necessito é de ter a certeza de que não serão mal utilizados uma vez que envolvem terceiros por quem tenho enorme estima.

A esperança é que alguém diga que os tem e que, portanto, estão em boas mãos. Por isso te peço a gentileza de fazer sair isto, dentro das disponibilidades, o mais rápido possível.

Um abraço
José Brás

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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 23 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4564: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (8): Gente de Norte a Sul (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4564: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (8): Gente de Norte a Sul (Luís Graça)

Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > IV Encontro Nacional do nosso blogue > 20 de Junho de 2009 > (*) O casal Vinhal, Carlos e Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos) numa pose descontraída... O Carlos, bem como o Joaquim e o Miguel, da Comissão Organizadora, estão de parabéns, por que tudo correu sobre rodas, e a comida este ano melhorou, em termos de diversidade e qualidade, relativamente ao ano anterior (dizem os críticos, que eu pouco comi, atarefado como estive em fotografar e interagir com os participantes do evento)...

O António Baptista (o eterno morto-vivo do Quirafo) veio de Matosinhos... O Valentim Oliveira e a sua linda neta, de 16 anos, vieram de Viseu...( O Valentim estava felicíssimo, agora que recuperou do seu problema de saúde).

O Jorge Picado (Ílhavo) e o Idálio Reis (Cantanhede)... Dois engenheiros agrónomos, de profissão...

O Amadu Djaló (Lisboa), o Coutinho e Lima (Lisboa), o Virgínio Briote (Lisboa) e, de costas, o António Carvalho (que veio de Gondomar, com a sua Maria de Fátima.

O Álvaro Basto (Leça do Balio / Matosinhos) que veio de férias, do Algarve com a sua Fernanda, aqui à conversa com o Artur Soares (Figueira da Foz)... Ambos pertenceram à mesma companhia (CART 3492, Xitole, 1972/74)... O Álvaro é, além disso, o régulo da Tabanca de Matosinhos e, nas horas vagas, toca viola.
O Fernando Gouveia (ex-arquitecto na Câmara Municipal do Porto) e a esposa, Regina (Porto)... Desafiei a Regina, que viveu em Bafatá (1968/70) a escrever, para o nosso blogue, histórias desse tempo... O Fernando foi Alf Mil Pel Rec Inf, em Bafatá (1968/70).

O João Seabra (advogado em Lisboa, ex-Pirata de Guileje, 1972/74) em briefing com o tenente general na reserva António Martins de Matos (Lisboa)... (Se não erro, o António é algarvio, e esteve na mesma altura, na Guiné, Bisslanca, BA 12, 1972/74; prometeu voltar para o ano).

Dois homens do mesmo curso da Academia Militar, o Miguel Pessoa (Lisboa) e o Pereira da Costa (Mem Martins / Sintra)... Um foi para a Força Aérea, outro foi para o Exército... O Perereira da Costa, amigo do meu amigo Tony Levezinho, tem-se interessado pelo caso do nosso António Baptista, cujo processo de pensionista está encalhado agora no Ministério das Finanças, ao que me diz o Álvaro Basto, "pai e mãe do Baptista" (sic).

O António Dâmaso, o único representante, no nosso convívio, do prestigiado Batalhão de Caçadores Pára-quedistas, BCP 12... É um alentejano de Odemira... Infelizmente, mal tive tempo de falar com ele... Aproveito para o convidar a aderir, formalmente, ao nosso blogue, com o envio de uma foto de antigamente + 1 história, como mandam as regras...


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Direitos reservados
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Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 22 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4562: IV Encontro Nacional do Nosso Blogue (7): Tocámos certinho e dobrámos o Bojador...(David Guimarães)